Quando Josette Saltzman terminou de desempacotar a última caixa da mudança, se permitiu deitar no chão do seu mais novo apartamento e sentir todo o cansaço do dia em seu ser. Haviam sido dois dias insanos, mas, felizmente, tudo estava em ordem naquele momento. Perfeccionista que era, Josie jamais conseguiria habitar aquele apartamento se o mesmo estivesse desorganizado. Por isso, decidiu arrumar tudo sozinha e agora, quatorze horas e meia depois, tudo estava em seu devido lugar.
Como uma exemplar estudante no último ano de residência em psicologia, sabia que essa mania de organização não era lá uma boa coisa, porém, se o exterior não está bem organizado, como esperar que o interior esteja?
Após vários minutos deitada no chão gelado, Josie criou coragem e se direcionou até o banheiro, relaxando quando sentiu a água quente cair por seu corpo exausto. Como uma defensora do meio ambiente, não se demorou muito no chuveiro. Vestiu seu novo roupão e foi até a cozinha, na intenção de preparar um chá de camomila e finalmente, dormir.
Enquanto estava sentada em sua mesa observando o pacotinho do chá soltar sua cor na água, Josie pulou da cadeira quando uma música alta começou a tocar em algum dos apartamentos do prédio. Olhou o relógio e arqueou as sobrancelhas. Os ponteiros pretos marcavam 22h30. Quem, em sã consciência, ligava uma música tão alta essa hora da noite?
Josie ponderou suas opções: deveria fazer uma reclamação em seu primeiro dia naquele prédio? Ou ficaria na sua, rezando para que a pessoa desligasse o mais breve possível aquelas músicas horrendas? Pensou por alguns minutos e decidiu que não seria legal da sua parte arrumar problemas logo em seu primeiro dia ali. Não queria pegar a fama de chata. Ora, eram quase 23h, a pessoa não poderia manter essa música alta por muito tempo, poderia?
Quando terminou de passar seu creme corporal, Josie finalmente deitou em sua cama, cobriu-se até a cabeça e fechou os olhos, relaxando aos poucos. A música – o ritmo era reggae, Josie tinha quase certeza – continuava ecoando. A Saltzman respirou fundo, fechou os olhos e tentou bloquear sua mente de focar naquele som.
Não adiantou. Vinte minutos depois, a música ainda tocava, parecendo até mais alto do que antes, e Josie começou a se lamentar e questionar o que havia feito de errado na vida passada para merecer passar por isso. Ela estava exausta, seu corpo inteiro doía pelos dois dias insanos de mudança. Tudo que Josie queria era deitar a cabeça em seu travesseiro macio e dormir. Simples assim. Mas, aparentemente, uma pessoa totalmente sem educação, que não se importava com a hora de descanso alheio, tinha a intenção de passar a madrugada inteira ouvindo Bob Marley. A noite seria longa.
Quando o celular de Josie despertou, às 5h20, a morena resmungou e se revirou na cama, exausta. Não fazia ideia de que horas havia conseguido dormir na madrugada anterior, quando finalmente a música foi desligada. Mas sabia, pela canseira que ainda sentia, que era tarde. Juntou todas as forças que tinha e se levantou, a fim de se preparar para mais um dia de trabalho no Hospital de New Orleans.
De volta ao seu apartamento, Josie preparava um delicioso jantar enquanto desfrutava de uma taça de vinho. Apesar de cansativo, o dia havia sido bem produtivo. Ela realizou consultas rotineiras quase o dia todo, e se sentia importante quando algum paciente se lembrava dela e sorria. Emma, sua professora e chefe da ala de psicologia do hospital, havia deixado Josie atender sozinha três casos. Tinha sido um dia bom.
Quando terminou de comer na perfeita paz instaurada em seu apartamento, Josie sentou-se em seu sofá e pegou alguns prontuários para estudar alguns casos de pacientes. Emma sempre permitia que ela trouxesse material real para estudo em sua casa, com a autorização dos pacientes, é claro.
Concentrada nos papeis em sua frente, Josie mal notou o tempo passar. Quando os primeiros bocejos chegaram, ela arrumou os prontuários na mesinha do centro da sala e desligou o abajur, indo até o banheiro escovar os dentes e se preparar para dormir. Notou seu reflexo no espelho e quase se assustou. As olheiras estavam imensas. Passou um creme e foi até seu quarto, se deitando em seguida.
Minutos depois, Josie havia sido tomada por um sono profundo e necessário. Que não durou muito. Bob Marley começou a ecoar novamente pelas paredes do prédio, fazendo a Saltzman pular na cama de susto.
- Só pode ser brincadeira – Ela comentou e gritou, jogando uma de suas almofadas em direção à parede.
Novamente, as músicas altas duraram madrugada adentro e Josie dormiu quando a exaustão a venceu, em algum momento no meio de sua raiva e indignação. E essa foi sua rotina pelos nove primeiros dias no apartamento novo.
O celular despertou as 5h20 e Josie, cansada demais para resmungar, apenas se levantou e preparou-se para um novo dia. Mas hoje seria diferente dos outros nove dias anteriores, ela prometeu a si mesma. Chega de ser boazinha e ficar na minha. Se as pessoas não têm educação e respeito ao próximo, ela também não teria.
Josette Saltzman estava sentada em seu sofá, fitando a TV desligada. O relógio marcava 21h55. O silencio se fazia presente, mas ela sabia que não iria durar muito. A pessoa desrespeitosa, quem quer que fosse, ligava o som alto pontualmente as 22 horas, todos os dias. E naquele não foi diferente. Quando o relógio bateu às 22h, a voz de Bob Marley ecoou pelo prédio e Josie se permitiu sorrir.
Quando pisou no andar 25, achou que fosse ficar surda. A música era terrivelmente mais alta ali e Josie sentiu sua cabeça girar. Fitou a porta de número 311 e caminhou até à frente, os pés batendo forte no chão. Apertou a campainha uma, duas, três vezes, e quando estava pronta para apertar uma quarta, ouviu o volume da canção ser diminuído e um barulho de chaves ecoar atrás da porta.
Josette Saltzman estava preparada para tudo que poderia haver atrás daquela porta, menos para o que lhe recepcionou naquele momento. Atrás da porta estava uma mulher ruiva, um pouco mais baixa que Josie, simplesmente... linda? Maravilhosa? Perfeita? Divina? Celestial? Josie pensava que não existia adjetivo no mundo que chegasse aos pés para elogiar aquela mulher. Por um breve momento, ela ficou apenas encarando a ruiva, se esquecendo até como falava.
- Pois não? – A voz angelical soou, calma.
Josie pigarreou e recuperou sua compostura, arrumando seus óculos no rosto para ganhar tempo. A mulher poderia ser uma obra de arte esculpida pelos deuses, mas ainda era a responsável pelas noites mal dormidas, pelas músicas altas durante a madrugada e por aquele cheiro estranho que inundava o nariz de Josie naquele momento.
- Que cheiro é esse? – A Saltzman questionou, franzindo o nariz.
- Incenso – A ruiva arregalou os olhos e fechou a porta atrás de si, ficando com o corpo muito próximo ao de Josie.
Perto até demais. Perto o suficiente para Josie quase perder a compostura novamente. Quase. Dando um passo para trás, a morena analisou sua vizinha, sem se importar se parecia uma maníaca psicopata.
A ruiva vestia um vestido simples, com desenhos psicodélicos coloridos, e os pés estavam descalços.
- Você veio pedir sal emprestado? – A ruiva perguntou, um pouco constrangida com o olhar analítico daquela morena linda.
- O quê? – Josie perguntou, atônita.
- O clichê de vizinhas, sabe. Uma pedindo algo emprestado à outra – A ruiva sorriu de canto, seus olhos azuis como um mar paradisíaco não paravam de fitar a mulher em sua frente.
Quando Hope ouviu a campainha tocar pela primeira vez, decidiu ignorar, como sempre fazia. Não estava esperando ninguém, então não se importava. Quando tocou uma segunda vez, ela estranhou e foi até o olho mágico ver quem era. Quase engasgou quando viu aquela mulher linda a sua porta.
Hope teve um pequeno gay panic e se esqueceu como respirava, sendo retirada de seu surto pela campainha tocando uma terceira vez. Correu abaixar a música que tocava e apagou seu cigarro, torcendo para o cheiro sair logo pela porta da varanda escancarada.
A Mikaelson já havia visto aquela morena dias atrás no prédio. Desconfiou que fosse a nova moradora do apartamento debaixo do seu, e, no dia seguinte, se escondeu atrás de um dos imensos vasos de flores do corredor no horário que havia notado que a garota chegava e constatou que sim, era sua nova vizinha.
- Na verdade, eu vim perguntar se tem como você ligar suas músicas um pouco mais baixo durante a noite – Josie comentou, após retomar o controle de suas ações e pensamentos – Eu trabalho o dia todo no hospital e ainda trago casos para estudar a noite em casa. Sua poluição sonora atrapalha meus estudos e o meu sono – Ela finalizou, os braços cruzados em frente ao peito.
- Poluição sonora? – Hope indagou, incrédula. Aquela mulher era muito ousada em bater à sua porta e criticar suas músicas!
- Sim – Josie respondeu, arqueando uma sobrancelha em desafio.
- Sinto muito lhe decepcionar, amor, mas minhas músicas vão continuar – Hope respondeu, um sorriso de canto sem mostrar os dentes.
- Você sabia que é proibido, por lei, deixar música alta após as 22h? Você pode até ser multada, caso alguém denuncie.
- E você vai me denunciar para a polícia, nerd?
- Espero que sejamos civilizadas e não chegue a esse ponto, hippie.
Hope segurou para não sorrir. Tinha um fraco por mulheres desafiadoras e que entravam em seu jogo de provocação. Porque sim, era desse modo que Hope sabia flertar. Provocava a pessoa desejada ao máximo e torcia para que o ódio virasse desejo e amor.
- Você já tentou reclamar com o síndico? – Hope perguntou, curiosa.
- Falei e ele insiste em dizer que a música vem de fora do prédio – A morena revirou os olhos.
- Mas nós duas e ele sabemos que vem daqui, do apartamento 311 – Hope concluiu o raciocínio da vizinha, sorrindo sem mostrar os dentes.
- Sim. E mesmo assim, ele não faz nada. Aliás, ninguém faz. Como é possível que ninguém reclame? - Josie indagou, as mãos na cintura.
- Porque eu sou a dona desse prédio, amor. Eu posso fazer tudo – Hope piscou, um sorriso convencido brincando nos lábios enquanto via a expressão chocada mudar para raiva no rosto da morena misteriosa.
- Isso é um completo absurdo – Josie resmungou, incrédula.
- Nem tudo é como a gente quer, docinho.
- Você pode, pelo menos, deixar o volume um pouco mais baixo? Ou, sei lá, ligar durante o dia? Precisa ser as 22h?
- É o horário que eu chego em casa e gosto de relaxar ouvindo minhas músicas favoritas no volume mais alto possível.
- Inacreditável – Josie revirou os olhos, se virou e começou a caminhar em direção ao elevador.
- Ei, nerd! – Hope gritou, fazendo a morena, relutante, se virar e olhar em sua direção – Posso pelo menos saber o seu nome?
- Não – Ela respondeu e entrou no elevador, encarando a ruiva até as portas se fecharem e acabar com seu campo de visão.
Hope ria sozinha encostada no batente de sua porta, divertida. Que garota abusada! No fundo, a Mikaelson sentia que a interação de ambas não acabaria ali. Ela faria de tudo para ver sua nerd linda mais vezes.
Josie entrou em seu apartamento e bateu a porta atrás de si, se sentindo uma ridícula. Onde estava com a cabeça quando resolveu bater de frente com uma pessoa irresponsável e sem consideração ao próximo, e achou que a pessoa iria ouvi-la? Só na mente fantasiosa da Saltzman mesmo.
- Dona do prédio, Acerola! Você acredita nisso? – Josie questionou ao seu gato, que estava deitado no braço de um dos sofás, olhando para sua dona. – A doida é a dona desse prédio! A rainha em seu castelo! Que pode fazer o que quer! – Ela andava de um lado para o outro, incrédula – Tantos prédios para morar e eu tinha que vir justo nesse, Acerola? Pelo amor de Deus! – Ela se sentou no sofá ao lado do gato, que pulou em suas pernas, se aconchegando em seu colo – E tive que pagar três meses de aluguel adiantado. Terei que ficar presa nessa tortura por três meses!
Segundos depois, a voz de Bob Marley voltou a ecoar incrivelmente mais alta do que nunca, e Josie soltou um grito frustrado, fazendo Acerola pular de seu colo, assustado. Uma longa e fria madrugada esperava por Josette Saltzman.
- Bob Marley atacou novamente? – Emma perguntou assim que viu a amiga entrar na sala e se jogar no sofá, os olhos fechados de canseira e o dia ainda não havia começado.
- A desgraçada é linda e dona do prédio, Emma. Da porra do prédio! – Josie desabafou, seus dedos massageando lentamente as têmporas.
- O que?
- A minha vizinha doida, fã do Bob Marley – Josie ergueu os olhos cansados para a amiga, que a olhava com curiosidade – Ela é dona do prédio.
- E linda? – Emma arqueou as sobrancelhas, interessada.
- E sem educação. Sem respeito pelo próximo. E dona da merda do prédio! Deixou claro que pode fazer tudo que quiser e ninguém pode fazer nada para impedir.
- Espera – Emma se ajeitou na cadeira, interessada – Você falou com ela?
- É claro que falei. Fui até o apartamento dela ontem a noite e ela disse com a maior cara lavada que era dona do lugar e podia fazer o que quisesse – Josie fechou os olhos novamente e se derreteu no sofá macio da sala dos médicos – E ligou as músicas em um volume mais alto do que qualquer outro dia.
- Podemos focar na parte em que você disse que ela é linda? – Emma arrastou sua cadeira até o sofá e cutucou a coxa de Josie.
- Essa parte não interessa. Nem sei porque falei isso.
- Porque você a achou linda.
- E otária. E irritante. E ignorante – Josie enumerou, a cara emburrada – E além de tudo é uma hippie doida que sabe lá as coisas ilícitas que deve usar.
- Me fale mais da aparência dela – Emma perguntou enquanto comia alguns biscoitos.
- Emma, me erra, por favor – Josie resmungou e saiu da sala, deixando sua professora e amiga gargalhando lá dentro.
Josie chegou em seu apartamento pouco antes das 20h. O plantão havia sido exaustivo, mas ela sempre se sentia realizada. Sem forças para preparar o jantar, pegou apenas um pedaço de pão com requeijão e praticamente engoliu, e se deitou no sofá, na intenção apenas de relaxar as pernas.
Pegou no sono no mesmo instante e acordou assustada com seu celular tocando. Era uma ligação de Emma, que precisava repassar alguns detalhes sobre um paciente que atenderiam no dia seguinte.
Assim que Emma começou a falar pelo viva-voz e Josie anotar as informações, a campainha do apartamento tocou. Josie pediu para a amiga esperar na linha e foi até a porta, olhando pelo olho magico.
- Só pode ser brincadeira – Josie murmurou antes de abrir a porta e se deparar com a ruiva irritante com um sorriso irritante nos lábios – O que está fazendo aqui?
- Boa noite pra você também, nerd – A ruiva falou, debochada – Por acaso você tem um pouco de sal para me emprestar?
- Sério, hippie? – Josie perguntou, incrédula, mesmo sentindo uma vontade de rir, sem saber de onde vinha.
- Sim.
- Ok, vou pegar para você – Josie respondeu, receosa e foi em direção a cozinha – Emma, nos falamos amanhã, ok?
- É sua vizinha hippie gostosa que chegou aí?
- Emma! – Josie praticamente gritou e agradeceu pela ruiva estar do lado de fora, provavelmente não iria conseguir ouvir esse comentário péssimo de sua amiga – Tchau.
Antes que Emma pudesse dizer outra coisa constrangedora, Josie encerrou a ligação e quase deixou o potinho de sal cair no chão quando viu a ruiva parada em sua sala se segurando para não rir.
- Pronto, aqui está seu sal – Josie estendeu para a hippie, que pegou o potinho de sua mão, ainda sorrindo.
- Hippie gostosa? – Hope questionou, sem conseguir se conter.
Sentiu seu coração disparar quando notou as bochechas coradas da morena em sua frente.
- Minha amiga é sem noção assim mesmo, não liga – Josie desconversou, constrangida.
- Sabe, pra ela dizer isso, é porque você no mínimo falou de mim para ela – Hope provocou, o sorriso convencido em seus lábios – Sobre minha beleza fenomenal.
- Sonha, hippie – Josie revirou os olhos e foi em direção à porta, esperando que sua visita inesperada entendesse o recado.
- Adoraria sonhar com você, amor – A ruiva piscou enquanto passava por Josie em direção a saída – Ah, quase me esqueci! Trouxe isso para você – Ela mostrou um pequeno pen drive para Josie.
- O que é isso?
- Um pen drive? – A ruiva provocou, mas se conteve ao ver a expressão irritada no rosto da morena – Coloquei aí dentro minhas músicas favoritas. Assim você pode ouvir e se lembrar de mim quando não estiver ouvindo do meu apartamento.
Josie estava incrédula com aquela provocação. A ruiva irritante estava passando dos limites. Ela se recusou a estender a mão para pegar o pen drive, e apenas cruzou os braços no peito, desafiando a mais baixa. A ruiva sorriu sem mostrar os dentes, provavelmente gostando da provocação, e, num movimento rápido, jogou o pen drive pelo decote da blusa V de Josie, deixando a morena chocada parada em sua porta.
Hope teve que se segurar para não sair assoviando e saltitando pelo corredor, tamanha felicidade. A cara surpresa de sua morena misteriosa jamais sairia de sua mente.
- Boa noite, nerd – Ela disse sem olhar para trás, sabendo que a mais alta ainda estava parada atônita em frente a porta.
Quando Josie fechou a porta atrás de si, ela começou a gargalhar, ainda incrédula pela ousadia da ruiva irritante. Retirou o pen drive de dentro do seu sutiã e analisou o pequeno objeto preto, que tinha um H.M gravado em letras pratas. Provavelmente deveriam ser as iniciais da hippie, pensou Josie.
Quando saiu do banho enrolada em seu roupão, Josie até tentou lutar contra, mas inseriu o pen drive em seu rádio, apertou o play e Is This Love, do Bob Marley, começou a tocar. Josie não deixou de sorrir, secretamente sempre gostou muito dessa música e quando se deu conta, estava cantando a melodia.
Josie deitou em sua cama e caiu em um sono rápido e profundo, as músicas de reggae, habituais em sua vida agora ecoavam ao fundo, mas, dessa vez, apenas no volume baixo e tranquilo de seu rádio.
Na manhã seguinte, Josie apareceu com uma expressão contente no rosto e Emma provocou a amiga de todos os modos possíveis, mas a Saltzman apenas ignorava, feliz demais por ter uma noite perfeita de sono para se importar com qualquer outra coisa.
No final da tarde, Josie esperava o elevador chegar em seu andar enquanto entoava a melodia de uma das músicas do pen drive da ruiva irritante. Josie revirou os olhos quando se deu conta disso e caminhou pelo corredor, quase engasgando ao ver a vizinha ali sentada em frente a sua porta.
Dessa vez, ela estava vestida totalmente diferente das roupas hippies das duas vezes anteriores. Trajava uma blusa vermelha decotada de manga curta, uma jaqueta preta de couro, além de uma calça jeans preta rasgada nos joelhos e um coturno preto. Parecia uma vampira assassina de algum seriado de TV.
- E então nerd, gostou das músicas? – Ela questionou, um sorriso brincalhão nos lábios.
- Nem ouvi ainda – Josie deu de ombros, tentando soar indiferente.
- Sei – A ruiva respondeu e se levantou, passando as mãos pela calça para limpar – Achei que seria legal da minha parte te devolver isso – Ela mostrou o pote de sal para Josie.
- Certo – Josie pegou o potinho e jogou dentro de sua mochila, ainda um pouco hipnotizada pela ruiva-não tão hippie assim- em sua frente.
- Não precisa devolver o pen drive. Considere um presente meu para você – Ela sorriu e Josie apenas engoliu em seco, acenando com a cabeça. – Certo, era só isso mesmo. Nos vemos por aí, nerd.
- Nos vemos por aí, hippie – Josie conseguiu responder e mesmo sem querer, sorriu para sua vizinha.
Duas semanas haviam se passado e Josie e Hope interagiram poucas vezes, sempre quando se encontravam pelos elevadores ou no pátio do prédio. As interações não passavam de cumprimentos e, vez ou outra, alguma provocação da ruiva em relação às músicas, que sempre era respondida com outra provocação vindo de Josie. Essa era a rotina das duas em todos aqueles dias. Ainda não faziam ideia do nome de cada uma, mas quase se consideravam amigas àquela altura.
Hope estava deitada na rede em sua varanda, observando a forte chuva que caía. O barulho da água batendo no telhado transmitia uma sensação incrível de paz. Girava a taça de vinho na mão, perdida em pensamentos. Uma certa vizinha morena lhe vinha à mente a todo instante, mas a Mikaelson insistia em afastar esses pensamentos.
O barulho da campainha tirou a ruiva de seus pensamentos. Enquanto se levantava, tentava se lembrar se havia marcado algo com alguém, mas tinha quase certeza de que não tinha nenhum compromisso naquele dia. Quando abriu a porta, quase engasgou ao ver a mulher que não saía dos seus pensamentos nos últimos dias.
- Olá, hippie – Josie cumprimentou, sorrindo para tentar disfarçar seu nervosismo.
- Nerd, a que devo a honra? – Hope retribuiu o sorriso e arqueou as sobrancelhas quando notou um pequeno gato nos braços da morena – E quem é essa coisinha fofa aqui? – Perguntou, se segurando para não acariciar o animal.
- Esse é o Acerola – Josie sorriu ao notar a empolgação da vizinha – Pode acariciar, ele não é bravo.
Hope sorriu de orelha a orelha e passou a mão no gatinho, que ronronou em resposta. Ela sorriu ainda mais e devagar, o pegou em seu colo. O gatinho se aconchegou em seu peito, feliz pelo carinho recebido, e Josie sorria enquanto observava a cena.
- Você é muito fofinho, Acerola – Hope sussurrou para o gato, que miou em resposta – Acho que ele gostou de mim.
- Também acho – Josie respondeu, encantada. Mas tratou de se recompor rápido ao se lembrar o que veio fazer ali – Então, hippie, queria te perguntar uma coisa.
- Sim, eu sou solteira – Hope respondeu sorrindo de lado. Quando notou a expressão chocada da vizinha em sua frente, começou a gargalhar – Brincadeira. Quer dizer, eu realmente sou solteira, caso queira saber – A ruiva piscou, provocativa.
- Uh, certo – Josie estava um pouco desconcertada com o charme da mais baixa, mas respirou fundo para se recuperar – Na verdade, eu queria saber se sua internet está funcionando.
- Ah – A expressão da ruiva era de decepção? Josie não soube ao certo – Não sei, mas posso verificar.
Hope entrou em seu apartamento, ainda com Acerola em no colo, e percebeu que a morena continuou parada na porta, trocando o peso do corpo entre os pés, desconfortável. Hope controlou um risinho e a convidou para entrar. Pegou seu celular para conferir o sinal da internet, que estava funcionando perfeitamente.
- Até o momento, internet intacta – Ela sorriu para a morena – Porque?
- Com o tempo de chuva meu sinal caiu, para variar – Josie segurou a alça da sua mochila e apertou, nervosa – E eu tenho uma pesquisa muito importante para finalizar, o prazo de entrega é amanhã e preciso de internet para fazer.
- Oh, certo – Hope respondeu, tentando se segurar para não apertar as bochechas da vizinha, que estava muito fofa nervosa – Se você quiser, pode ficar aqui enquanto termina sua pesquisa – Ela ofereceu, dando de ombros.
- Apenas se eu não for atrapalhar – Josie respondeu, envergonhada.
- De maneira alguma, nerd – A ruiva respondeu, sorrindo amigavelmente.
Josie sentiu uma sensação estranha percorrer seu corpo com aquele sorriso, mas decidiu ignorar, assim como havia ignorado todos os pensamentos que teve pela ruiva nos últimos dias. Tudo que ela menos queria era se envolver com alguém naquele momento crucial em sua carreira.
Hope apresentou seu apartamento para Josie, e notou a expressão de espanto da mais alta, que com certeza não esperava que o imóvel fosse tão limpo e organizado. Finalizado a tour, Hope disse que Josie poderia usar a mesa da cozinha para os estudos e a morena organizou seu notebook, livros e papeis na grande mesa.
- Bom, não quero te atrapalhar, então vou ficar na sala vendo um filme com o Acerola – Hope comentou, acariciando o gato em seus braços – Se precisar de alguma coisa, é só me chamar. Prometo que deixarei o volume da TV baixo – A ruiva provocou e saiu caminhando em direção à sala.
- Ei, hippie – Josie chamou e a vizinha se virou em sua direção – Eu me chamo Josie.
- Muito prazer, Josie – A ruiva sorriu e Josie novamente sentiu borboletas no estomago. Gostou de como seu nome soou nos lábios da mais baixa.
- Geralmente é nessa hora que você me diz o seu nome – Josie comentou, prendendo o riso.
- Hope. Eu me chamo Hope – A mais velha respondeu, corando. Havia se distraído enquanto pensava em como seu nome e o de Josie ficavam bonitos juntos.
- Muito prazer, Hope – A morena sorriu, os olhos brilhando – Agora pode parar de me chamar de nerd.
- Sonha, nerd – Hope provocou e recebeu um olhar fulminante da vizinha, que tentava não sorrir – Agora eu e Acerola vamos deixar você estudar em paz. Dá tchau para a mamãe – A ruiva fez uma voz de criança e acenou com a patinha do gato, fazendo Josie gargalhar.
- Obrigada, Hope – Josie agradeceu e voltou sua atenção para a tela de seu notebook.
Hope seguiu para o sofá da sala sorrindo sozinha enquanto pensava em como gostou de ouvir seu nome saindo pelos lábios da morena.
Algumas horas depois, Hope ouviu seu nome soando baixo e pensou estar sonhando com um anjo a chamando.
- Hope, acorda – Josie balançou a ruiva que dormia no sofá cuidadosamente – Hope – Ouviu a vizinha resmungar algo e abraçar uma almofada e sorriu com a cena. A mais baixa estava muito fofa abraçando a almofada, algumas mechas de cabelos caídas no rosto. Se conteve para não tirar uma foto – Hope, acorda, por favor.
Hope percebeu que não estava sonhando com uma voz angelical. A voz era de sua vizinha, que estava ajoelhada em sua frente com uma expressão engraçada no rosto.
- Josie? O que aconteceu? – Ela perguntou, tentando se reestabelecer. Se sentou no sofá e se praguejou mentalmente por ter dormido – Desculpa, eu caí no sono – Sentiu suas bochechas corarem.
- Não tem problema – Josie sorriu, carinhosa – Desculpa te acordar. É que eu já terminei minha pesquisa, até iria embora e te deixar descansar, mas eu não consigo achar o Acerola.
- Oh, meu Deus – Hope pulou do sofá, sentindo um pânico a invadir pensando que havia deitado em cima do gatinho e suspirando aliviada quando não o viu ali – Ele estava no meu colo antes de eu pegar no sono – Ela comentou mordendo a bochecha, nervosamente.
- Tem algum lugar por onde ele poderia ter escapado por aqui? – Josie perguntou, nervosa.
- Não, está tudo fechado e tem grades em todas as janelas – Hope respondeu, mas começou a andar pelo apartamento apenas para verificar.
- Certo – A morena correu os olhos pela sala, estalando os dedos, nervosa – Onde ele deve ter ido? – Começou a procurar por todos os cantos da sala, concentrada.
Hope se sentiu aliviada quando constatou que não havia nenhum lugar por onde o gato pudesse escapar. Ele deveria estar escondido em algum canto de seu apartamento, e ela começou a ajudar Josie na busca.
- Ele tem medo de chuva. Deve ter se assustado com o barulho e se enfiado em algum lugar – A Saltzman comentou após alguns segundos de busca.
- Uh, Josie – Hope chamou, sorrindo – Acho que encontrei.
Josie arqueou as sobrancelhas e foi até o piano em que Hope estava. Acerola estava dentro do instrumento, um olhar assustado no rosto. Josie começou a chama-lo e atrai-lo para fora do piano, mas nada adiantou. Ele continuava lá intacto, olhando para a dona, sem nem se mexer.
- Acho que ele está assustado demais para sair agora – Hope comentou após diversas tentativas frustradas das duas em retirar o gatinho.
- E agora, Hope? – Josie tinha um olhar de desespero no rosto e Hope teve que se segurar para não apertar as bochechas da mais alta.
- Bem, podemos ficar aqui criando planos mirabolantes que provavelmente só poderão assusta-lo ainda mais – Hope ponderou, pensativa – Ou podemos nos sentar na sala, conversar e aguardar ele sair por vontade própria.
- Acho que vai ser bom deixa-lo quieto mesmo – Josie concordou.
- Ótimo! – Hope não conteve sua empolgação e corou – Pode se sentar na sala e escolher algo para a gente assistir. Vou preparar alguma coisa para comermos.
Josie assentiu timidamente e caminhou até a sala. Zapeou pelos canais e encontrou um em que estava passando Diário de Uma Paixão, um de seus filmes favoritos. Hope retornou alguns minutos depois, trazendo alguns lanches dos mais variados sabores e dois copos de suco de uva.
- Hm, então quer dizer que a nerd é uma mulher romântica – Provocou enquanto colocava a bandeja na mesa.
- Gosto de romances apenas na ficção – A mais alta respondeu e corou quando percebeu o olhar chocado de Hope – Eu tive meu coração quebrado uma vez. Não pretendo ter novamente – Comentou e pegou um pedaço do sanduiche para disfarçar suas bochechas coradas.
- E quem disse que você teria o coração quebrado de novo? – Hope perguntou, curiosa, enquanto se sentava ao lado de Josie e bebia um pouco de seu suco.
- E quem disse que não? – Josie perguntou de volta e viu Hope sorrir – Você já teve seu coração partido alguma vez?
- Não diria partido, mas já tive uma história de amor que não deu certo.
- E ainda acredita no amor? – A mais alta perguntou, curiosa.
- É claro que sim – Hope respondeu prontamente – Qual a graça da vida se não acreditarmos que iremos viver um amor épico?
Josie não conseguiu evitar o sorriso que surgiu em seus lábios com a pergunta de sua vizinha. Sentia algo diferente dentro de seu ser, mas lutava fortemente para conter essa sensação. Não queria, mas tinha que confessar que estava gostando de conhecer a ruiva daquela forma.
- Olha só, Hope Mikaelson é romântica – Provocou para esconder seu constrangimento por ter passado segundos encarando a ruiva, perdida em pensamentos.
- Nunca neguei, amor – Hope piscou e terminou de beber o seu suco – Você quer beber um pouco de vinho?
- Não sei se deveria. Tenho que estar cedo no hospital amanhã – Josie respondeu, mas ao notar a expressão triste no rosto da ruiva, emendou – Porém uma taça não faria mal.
Hope sorriu de orelha a orelha e correu até a cozinha para pegar a garrafa de vinho e duas taças. Voltou a sala e serviu uma generosa dose para cada uma.
- Aqui está, nerd – Ela entregou a taça para a morena, que sorriu em agradecimento e bebeu um gole.
- Você tem bom gosto para vinhos – Comentou, surpresa.
- E porque sinto um choque em sua voz? – Hope perguntou, incrédula.
- Bem, para ser sincera, não tinha a imagem de apreciadora de vinho vindo de você – A mais alta comentou, provocativa.
- E que tipo de imagem você tinha de mim, Saltzman?
- Uma apreciadora de chás, ervas e... incenso?! – Josie respondeu, se lembrando da primeira vez que esteve na porta do apartamento de Hope.
- Ok, eu mereci essa – Hope gargalhou, as bochechas levemente coradas – Mas sim, eu gosto de chás – A ruiva sorriu enquanto rodava o vinho em sua taça – Incenso é apenas quando tenho um dia extremamente exaustivo, do tipo quando você sente que vai explodir a qualquer momento, sabe? Mas eu pretendo parar – Hope não sabe porque disse a última frase, mas não deixava de ser verdade.
- E o que você faz, Hope? Além de ser dona desse prédio – Hope riu e Josie acompanhou. Ambas gostaram do som de suas risadas misturadas.
- Minha família e eu temos uma rede de hotéis e restaurantes espalhados pelo país – Deu de ombros, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
- Uau – Josie exclamou, incrédula. Hope Mikaelson, a garota hippie, era milionária.
- Você é médica? – Hope perguntou para mudar de assunto. Não gostava de ser o centro das atenções nem de fazer de sua condição financeira um fato.
- Psicóloga - Josie respondeu, sorrindo – Quer dizer, quase. Estou no último ano da residência.
- Isso sim é uau – A Mikaelson comentou, encantada, e Josie abaixou a cabeça timidamente, colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha – E você gosta do seu trabalho?
- Sou completamente apaixonada.
Os olhos de Josie brilharam de um jeito tão lindo que Hope sentiu como se seu coração fosse sair pela boca. A mais alta começou a falar, empolgada, sobre seu trabalho, sobre os pacientes, sobre os casos – tudo isso sem quebrar o sigilo médico-paciente, é claro – e Hope ouvia tudo atentamente, fazendo alguns comentários pontuais no meio da empolgação da mais nova.
Enquanto engatavam um assunto atrás do outro, empolgadas e entretidas demais para perceberem o mundo fora de sua bolha particular, Hope e Josie nem notaram quando Acerola saiu do piano e se deitou no sofá no meio das duas, que naquele momento comentavam sobre seus desenhos favoritos na infância.
Hope descobriu que Josie era muito fã de Bob Esponja e Três Espiãs Demais, além de saber toda a discografia da Taylor Swift, ter lido mais de 500 livros e que seu hobby favorito era tocar ukelele. Também descobriu que Josie tem uma voz linda cantando, que morde o lábio inferior quando está nervosa e tem mania de estalar os dedos em um curto intervalo de tempo.
Quando o assunto se aprofundou ainda mais, Hope descobriu que Josie passou a infância toda se sentindo abandonada pelos pais, já que sempre deram atenção maior à sua irmã gêmea que sofria de bipolaridade e que decidiu fazer psicologia para ajudar crianças a superar traumas e abandonos infantis. Incrivelmente, descobriu também que Josie teve uma fase dark no início de sua juventude, onde abusou do álcool, sexo com estranhos e usou algumas drogas ilícitas, tudo na intenção de amenizar a falta de amor e carinho dos pais.
Josie descobriu que o desenho favorito de Hope era Dragon Ball, que a ruiva sabia todas as falas do filme Crepúsculo e todas as coreografias dos filmes High School Musical. Hope compartilhou que foi graças ao primeiro filme da trilogia da Disney que se descobriu bissexual, já que teve um forte crush pelo Troy Bolton e pela Gabriella Montez.
Além disso, Josie também descobriu que Hope amava pintar quadros – sua verdadeira paixão – e que seu super-herói favorito era o Hulk. Indo mais afundo, Hope contou a Josie sobre o acidente que matou seus pais e seu tio, e como isso a destruiu de formas inimagináveis. Compartilhou que teve um breve período onde se envolveu com pessoas perigosas e que acabou presa uma vez por agressão.
A mais nova ouvia tudo atentamente, muitas vezes gargalhando tanto que sentia lágrimas escorrer pelo rosto. Hope tinha um jeito de contar as coisas, mesmo que sejam trágicas, de um modo cômico e não tinha como ficar de baixo astral perto da ruiva.
Quando perceberam, o sol estava nascendo do lado de fora da janela e elas ficaram chocadas em como as horas haviam passado rápido.
- A gente, literalmente, virou a noite inteira conversando sem nem perceber – Josie comentou, incrédula.
- Sim – Hope estava igualmente chocada. Não se lembrava da última vez que havia passado tanto tempo conversando com alguém assim, sem nem perceber os ponteiros do relógio dando voltas.
- Eu preciso ir agora. Daqui a menos de duas horas tenho que estar no hospital – Josie comentou enquanto ajudava Hope a organizar os pratos e taças.
- Gostei muito de conversar com você, Josie – Hope disse enquanto sorria para a morena.
- Eu também, Hope – Josie respondeu e sentiu seu coração acelerar com a proximidade da ruiva – Você é uma pessoa incrível.
- E solteira – Hope provocou enquanto dava um passo à frente, ficando a centímetros de distância de Josie.
- Sim, e solteira – A morena sorriu e abaixou a cabeça timidamente, mordendo o lábio inferior.
- Josie – Hope sussurrou, erguendo o queixo de Josie e perdendo o folego quando conectou seus olhos nos castanhos da mais nova.
- Hope – Josie murmurou, os olhos indo dos lábios de Hope para seus lindos olhos azuis.
Sem conseguir se controlar, Josie conectou seus lábios nos de Hope e sentiu uma corrente de eletricidade percorrer seu corpo.
Hope quase derreteu ao sentir os lábios macios de Josie tocando os seus. Delicadamente, colocou uma de suas mãos na nuca da mais nova e aprofundou o beijo, querendo um contato maior com a morena.
Josie passou os braços pela cintura de Hope e a puxou mais contra si, necessitando cada vez mais contato. Quando Hope mordeu seu lábio inferior, Josie soltou um gemido rouco e apertou a cintura da ruiva, que a empurrou contra a parede mais próxima.
A Saltzman arfou com o contato de suas costas com a parede e colocou uma mão na nuca de Hope, puxando seu cabelo. Hope gemeu na boca de Josie e a morena pensou querer ouvir aquele som para sempre.
Hope passou suas mãos pelas costas de Josie por baixo de sua blusa e arranhou levemente o local, sentindo a morena se apertar contra si e dar um puxão mais forte em seu cabelo. Josie quebrou o beijo e atacou o pescoço de Hope, dando leves chupões e mordidas no local, ouvindo o gemido rouco da ruiva em seu ouvido, as unhas da mais baixa cravando na pele de suas costas.
Quando Hope estava prestes a puxar Josie para seu quarto, o celular da Saltzman começou a tocar, tirando as duas daquele momento fervoroso. Tentando recuperar o folego e a sanidade, Josie correu os olhos pela sala em busca do celular e o achou jogado no canto do sofá. Sorriu em desculpa para Hope e desligou o despertador.
- Eu realmente preciso ir – Josie comentou e sentiu um aperto no peito ao notar a expressão decepcionada no rosto de Hope.
- Tudo bem – A ruiva sorriu tristemente e pegou a mochila de Josie que estava pendurada na cadeira da cozinha.
- Vem, Acerola – Josie chamou o gatinho e o pegou no colo, acariciando seu pelo macio – Obrigada, Hope – Agradeceu quando a ruiva entregou a mochila com suas coisas dentro e andou a passos lentos até a porta.
Hope abriu a porta devagar, querendo prolongar ao máximo seu momento com Josie, já sentindo falta dos olhos castanhos, do som da risada de Josie e do contato de seus lábios nos seus.
- Obrigada de novo, por tudo – Josie disse na soleira da porta, um sorriso no rosto – Até mais, Hope.
- Volte quando quiser, Josie – Hope disse e viu os olhos de Josie brilhar enquanto a mais nova assentia, sorrindo.
Após uma intensa troca de olhares, Josie se virou em direção ao elevador e Hope apenas observou a morena até as portas metálicas se fecharem. Suspirou e entrou em seu apartamento, com o sorriso mais leve e feliz em seu rosto.
Hope passou o dia todo deitada em sua rede, pensando em Josie. Inventou uma desculpa para suas tias e não foi trabalhar. Nem poderia. Como se concentrar em planilhas e gráficos se sua mente era tomada por Josette Saltzman? Impossível.
Sentia que elas criaram uma conexão que não se tem com alguém todos os dias. Era algo raro, quase vindo de outras vidas, talvez. Mas será que Josie havia sentido o mesmo? Hope achava que sim, afinal ela via nos olhos castanhos uma avalanche de emoções e sentimentos, igual os seus azuis demonstravam. Mas será que a morena iria, finalmente, deixar suas barreiras de lado e se entregar a este sentimento? Hope achava ser difícil, mas não impossível. Deixaria que o tempo e a vida mostrassem a resposta.
Josie sabia que as chances daquela relação virar um desastre descomunal eram absurdas, mas não conseguiu tirar o sorriso de seus lábios durante o dia todo. Emma a provocava constantemente, mas a morena achou melhor esconder da amiga a noite passada com Hope.
Afinal de contas, elas haviam tido apenas um momento, nada além disso. Ambas seguiriam com suas vidas normalmente, a noite sendo apenas uma lembrança distante. O beijo – o melhor beijo da vida de Josie, é preciso comentar – não significava nada. Elas apenas tiveram uma conexão momentânea, e não fariam daquilo um fato maior do que é. Se divertiram. Conversaram. Se conectaram. Sentiram uma atração e se entregaram ao desejo no momento, apenas isso. Nada demais.
Josie passou o dia todo tentando convencer seus pensamentos que ela e Hope eram apenas vizinhas que se beijaram após passarem a madrugada inteira conversando e desabafando sobre suas vidas. Ora, era algo normal a se fazer, não era? Nada poderia sair disso. Absolutamente nada. Josie não se permitiria sentir aquilo. Estava fechada para o amor e iria continuar assim. Não seria uma ruiva maravilhosa que quebraria todos os muros que construiu durante os anos. Estava decidida.
O dia havia passado em um borrão para Hope. Ela conseguiu cochilar um pouco durante a tarde, mas logo estava na cozinha preparando algumas receitas que havia encontrado na internet. Gostava muito de cozinhar, a ação ajudava a clarear sua mente. Pouco antes das 20h, a campainha do apartamento tocou e Hope sentiu um frio na barriga. Quando abriu a porta, não conteve o sorriso de orelha a orelha que se fez presente em seus lábios.
- Oi, hippie. Por acaso você teria um pouco de sal para me emprestar?
Ainda sorrindo, Hope puxou uma Josie sorridente pela cintura para dentro de seu apartamento. A noite as esperava. Assim como todas as próximas que viriam a partir daquele dia.
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