Ambar narrando:
Ele surgiu na porta.
Estava suado e com os cabelos loiros estupidamente desgrenhados, os olhos estavam cintilantes e ele carregava uma arma enorme nos braços. Seu olhar esverdeado foi dos meus pés à cabeça e parou exatamente na mala média.
Seus olhos verdes me encaram interrogativamente.
─ Pra onde vai? ─ questionou ele sério. ─ Não é da sua conta. Ele me olhou sério e com raiva, seu rosto se avermelhou e ele caminhou controladamente até mim, levantei minha cabeça e encarei aqueles olhos com firmeza.
Sua arma foi colocada no chão e suas mãos apertaram levemente meus ombros me fazendo o olhar, que intimidade é essa querido?!
─ Você não pode me impedir! ─ apontei o dedo na sua cara tentando remover aquelas mãos de meus ombros sem sucesso. Ele contraiu sua mandíbula e encarou meus olhos intensamente.
─ Você não vai sair daqui ─ disse suavemente, rolei os olhos bufando com ironia.
─ Quem você pensa que é pra me impedir? Além de ser um traficante, favelado, bandido, escroto e hipócrita? E pode fazer o favor de me soltar! Ele apertou meus ombros.
─ Traficante, favelado, bandido, escroto, hipócrita ─ ele repetiu imitando minha voz
─ E não esqueça de mencionar que eu sou o pai do nosso filho. Me soltei daquelas mãos fortes e o encarei desafiadoramente.
─ E você acha que eu quero ter essa coisa? ─ falei com raiva.
─ Acho que sua opinião não vale muito agora, você vai ficar aqui, nem pense em nenhuma loucura. Pisei fundo cruzando os braços e o fuzilei com o olhar. Ele caminhou até mim e agarrou meu queixo. ─ Me solta! ─ gritei.
─ Simon?! Ela tá grávida? ─ o menino loiro surgiu na sala e Simon virou-se coçando a cabeça. Gabriel andou até o irmão atônito e Simon agachou-se.
─ Tá sim, tampinha, só que ela é meio doida e tá pensando em fazer besteira. Quem ele pensa que é pra me chamar de doida? Eu faço o que quiser da minha vida, em primeiro lugar...
─ Ela vai ficar aqui com a gente? Eu vou ser tio de novo? Vou poder segurar quando nascer?
─ Eu pretendo. O Gabriel envolveu um abraço forte em Simon e sorriu, caminhou até mim suado e me abraçou juntando as mãos e beijou minha barriga...
Que sensação estranha. Eu me abaixei e abracei o menino, não agir por mim mesma, não sei porque fiz tal ato e depois o soltei rapidamente e me distanciei com um certo frio na barriga.
Ele sorriu e Simon arregalou os olhos nos olhando e não acreditando na cena vista. ─ Você ─ apontou pra Gabriel.
─ Vai pro banho. Gabriel sorridente, assentiu saindo.
─ E você ─ me olhou.
─ Vai desfazer essa mala! Estufei o peito e fiz uma carranca.
─ Você não me dá ordens seu... A porta foi aberta e a garota de cabelos escuros surgiu desajeitadamente. Luna sorriu puxando o uniforme da escola e entrando sem convites.
Ela havia me salvado daquele homenzarrão.
─ Desculpa aparecer assim, mas não consegui falar com você...
─ Meu celular tá descarregado e a vadia da minha mãe não jogou meu carregador pela janela.
─ Tá indo pra onde?
─ Pra lugar nenhum ─ o intrometido se intrometeu.
─ Pode me dar licença? ─ perguntei e ele saiu pegando sua arma, quando finalmente tinha deixado o cômodo me sentei aliviada. Estar na presença daquele idiota me fazia ficar tensa. Simon sentou-se ao meu lado e pegou seu celular me entregando, estava na caixa de mensagens. Sebastian Smith às 08:30AM
─ Luna? Eu não consegui falar com minha irmã, se você puder por favor, amostra essa mensagem pra ela. Ambar? Eu já tô no aeroporto, já tô indo embora, eu queria ver você mas não consegui, mamãe colocou um zé bundão do meu lado aqui e quando tentei ir aí no morro fui barrado na escadaria. Eu só queria te dizer que te amo muito, sua chata, você é minha irmã apesar de tudo e eu espero que você fique bem, vou tentar te ligar sempre que puder. O Simon é uma pessoa boa e confio nele pra ficar com você, cria juízo nessa cabeça e cresce mentalmente, o bebê que tá agora na sua barriga é sua família. Te amo muito, se cuida, beijos! Senti algo preso em minha garganta, entreguei o celular pra Luna e enxuguei a lágrima que tentava sair de meus olhos. ─ Eu acho que sua mãe te tirou lá da escola, hoje na hora da chamada, seu nome não foi chamado e eu perguntei o porque para a professora de Educação Física, ela disse que você está anulada, de tudo.
Cada vez que passava sentia mais ódio da minha mãe, de meus pais, da minha vida, ela me deu as costas e tirou tudo de mim, tudo que me restava, ela arruinou minha vida 50%, sentia vontade de ver ela morta, queria que acontecesse algum acidente com aquela vaca interesseira! ─ Como vou estudar agora?
─ Pede pra entrar em alguma escola daqui, são públicas mas são boas, estudei por muito tempo nelas e sempre tirei boas notas.
─ Nunca!
Preferia ficar sem estudar do que frequentar uma dessas escolas públicas. ─ Você que sabe.
─ Não quero que ninguém me veja no morro, e não quero que ninguém me veja com essa coisa aqui dentro de mim. Luna massageou as têmporas e sorriu amarelo. ─ Vamos em uma festa hoje? ─ ela sugeriu.
Luna e suas ideias sem nexo.
─ Aonde?
─ Baile, é uma festa aqui na comunidade. ─ Nunca que vou me misturar com esse pessoal daqui.
─ Vamos lá, eu vou com você e sempre vou ficar do seu lado, não vou me afastar e até mesmo não posso beber... ─ acariciou sua barriga.
─ Na última vez que me fez essa promessa eu fiquei grávida de um traficante. Ela rolou os olhos e cruzou os braços.
─ Vamos por favor! Você prefere ficar aqui olhando pra cara do Simon? Você vai lá pra casa e a gente se arruma lá, vou ficar perto de você, te juro ─ ela cruzou os dedos e os beijou em sinal de promessa.
─ Tem camarote?
─ Por favor né, você já quer demais. Eu não queria ir, não queria me misturar, nem morta, mas ficar sem a presença de Simon era algo que desejava muito, a última coisa que desejava era olhar na cara dele, bandido idiota, apenas um traficante...
Mas a vida nunca está ao nosso favor, acostume-se.
─ Eu vou ─ decidi-me após ponderar. ─ Já podemos ir pra sua casa?
─ Vamos, vou chamar o táxi, não posso andar esse morro todo. Luna saiu pegando o celular e suspirei levantando e contente por não ter que olhar a cara do imprestável do Simon.
─ Pra onde tu vai? Eis que a praga aparece-me.
─ Não é da sua conta.
─ Ela vai lá pra casa, hoje o MB vai dormir no asfalto com a mãe dele
─ Luna falou e Simon assentiu enxugando seu pescoço suado com uma toalha de rosto, fiquei ali parada igual uma otário o vendo enxugar o pescoço, até quando me toquei dos berros que Luna dava em cima de mim.
─ Vamos! ─ ela gritou me puxando e saí dali respirando liberdade, entramos no táxi e partimos para casa de Luna, eu levando minha mala comigo, é claro. ─ Oi Ambar!─ a mãe da Luna cumprimentou-me sorridente e me beijou no rosto.
─ Oi, dona Lily! A mãe da Luna era alta de cabelos lisos até no ombro e corpo apropriado para sua idade, nem parecia mãe da Luna mas sim irmã ou algo do tipo. Ela me sentou na mesa e me serviu. Dona Lily gostava muito de mim, e só já havia a visto umas quatro vezes. Ela serviu-me com carne cozida que cheirava muito bem, feijão preto temperado, arroz com legumes, salada, e suco de laranja. Beijou a cabeça de Luna e pegou sua bolsa saindo.
─ Desculpa não ficar pra almoçar com vocês, volto amanhã, deixei comida no congelador e se cuida, filha!
Senti uma pontada de inveja de Luna, ela sempre teve uma mãe simples e presente em sua vida, que sempre lhe apoiou e sempre esteve presente, que sempre a colocou na cama de noite e lhe deu um verdadeiro beijo de boa noite, que não foi só uma atriz como minha mãe era. Luna era feliz mesmo não tendo condição, como eu.
─ Beijo mamãe! ─ gritou e sentou-se atacando o almoço que exalava um cheiro ótimo, e assim como o cheiro o gosto também estava divino. Era um sabor que nunca havia sentindo na minha boca.
─ Tu já fez algum exame? Ultrassonografia? Neguei, era a última coisa que me importava.
─ Você precisa fazer, amiga. Essas coisas são essenciais em toda gravidez. ─ Eu não tenho roupa pra ir pra essa tal festa ─ resmunguei de boca cheia.
Se mamãe visse aquela cena, com certeza me colocaria de castigo. Mas ela não estava lá.
─ Eu tenho, você vai arrasar!
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