6 de Janeiro de 2016
Giovanna
Hoje não teremos gravação, então dispenso a aula de natação que meus filhos fazem a tarde para poder passar o dia com eles. Há muito tempo que não me sinto tão bem assim. Os únicos momentos de alegria que tenho é quando estou me divertindo com eles. Tenho saudades de quando reuníamos a família toda pra fazer brincadeiras e falar bobagens, mas ultimamente sinto meu marido meio distante. Ele parece estar me evitando, não sei exatamente o porquê, mas sei que nossos filhos também sentem sua falta.
– Mamãe, que horas o papai chega? – pergunta Sofia.
– Ah... Meu amor, papai chega no final da tarde, ele tá trabalhando. – Espero que hoje ele não prolongue mais por lá.
– Mas ontem você disse isso, e eu nem vi ele chegando – fala Pietro enquanto recebe olhares curiosos das gêmeas, ele está cada vez mais esperto.
– Ontem ele teve um imprevisto e, quando chegou, vocês já estavam dormindo – digo colocando a mão sobre a cabeça de Pietro.
–... – Pietro fica em silêncio, parece pensar em alguma coisa. Tenho até medo do que ele pode dizer a seguir.
– Ah... e se... você acordar a gente quanto ele chegar?! – pergunta ele.
– Meu filho, – me abaixo para poder olhar em seus olhos – eu não posso fazer isso, vocês precisam acordar cedo.
– Tá – diz parecendo estar magoado e sai andando em direção ao seu quarto e me deixando pensativa. Só volto a mim quando escuto um gritinho, as meninas estão brigando por um brinquedo e vou lá para separar.
Depois de algum tempo brincando, me lembro que Nero está sozinho, e penso em ligar para ver se ele já está melhor, ontem ele estava um caco.
Nero
Acordo com um barulho irritante martelando em meu ouvido. Ainda estou confuso e não sei de que direção vem o som, até reconhecer, pelo toque, que é o meu telefone chamando. Levanto assustado e busco entre as almofadas caídas no chão algum sinal dele. Assim que encontro e o pego do chão, ele para de tocar. “Uma chamada perdida de Gio”, mostra na sua tela. Quando estou prestes a retornar a ligação, o telefone volta a chamar.
– Ei, Gio, bom dia! – Tento parecer o mais entusiasmado possível.
– Ei, bom dia... Só tô ligando pra saber como você está...
– Estou bem... – Acho que ela espera que eu diga mais, pois fica em silêncio na linha. – Estou bem melhor.
– Ah... e.... você tá precisando de alguma coisa?
– Não, eu estou bem, é sério, pode ficar despreocupada.
– Sei não, você tá meio estranho.
– Gio, deixa de ser neurótica, estou ótimo – rimos ao mesmo tempo.
– Tá bom, mas se precisar de qualquer coisa pode ligar, tá? – Ela ainda ri.
– Tá! Gio, Obrigado por se preocupar comigo, de verdade.
– Por nada, amigos são pra isso... Fica bem. Beijos, beijos, beijos. Tchau.
– Tchau, beijos. – A casa, novamente, fica em silêncio.
Fico por um tempo pensando em nossa conversa. “Amigos são pra isso”. Leonardo é um cara de sorte, tem uma esposa linda, inteligente, ótima mãe, e o mais importante, apaixonadíssima. As vezes sinto uma invejinha dele, o que será que ele tem de tão especial pra merecer a Giovanna?
Enquanto estou aqui nessa fossa, com certeza, eles estão aproveitando a folga para brincar com os filhos, ou, talvez, estejam namorando um pouco. “Cara sortudo” - penso.
Giovanna
Já é fim de tarde quando Leonardo chega. As gêmeas correm para abraçá-lo e ele retribui todo o carinho. Pietro não vem para cumprimentá-lo e Leonardo parece nem se importar.
– Oi, amor – diz ele, dando-me o selinho rotineiro.
– Oi.
– Nossa, tô exausto, vou tomar um banho. – Ele sai deixando aquele cheiro forte de perfume feminino. Ele não sabe nem trair direito e isso me deixa furiosa. Enquanto ele toma seu banho eu vou para o nosso quarto e me sento na cama. “Será que nosso casamento ainda tem futuro?”, penso. Ao sair do banho ele me pergunta sobre coisas da casa, das meninas e de Pietro enquanto se arruma.
– Onde você vai, Léo? – pergunto tentando não parecer uma esposa chata.
– Vou num barzinho... – ele me olha pelo espelho -... com meus amigos – vasculha a gaveta de meias.
– E precisa ser tão arrumadinho assim?
– Tá com ciúmes, amor? – Ele sorri e se vira olhando nos meus olhos. – Só vai tá os meninos, você já conhece eles. São aqueles que veem sempre aqui em casa. – Segura meu rosto e me dá um beijo leve nos lábios.
Ele sai do quarto e o ouço brincando com as meninas na sala. Com o passar do tempo, me sinto tentada a mexer no seu celular que está em cima da cama. Nunca fiz a linha da esposa ciumenta, mas preciso ter uma prova que confirme minhas suspeitas.
Pego o celular com as mãos tremendo. Me sinto péssima, pois ele confia tanto em mim que não há nem senha em seu celular. Bloqueio o celular e coloco novamente em cima da cama. Levanto-me e o olho pela porta do quarto. Ele joga, uma de cada vez, as meninas para o alto, que dão gritinhos de alegria; parecem estar se divertindo. Ao me perceber o observando, ele sorri, e nesse momento ouço um barulho de mensagem recebida em seu celular.
Não quero viver um casamento infeliz como Nero vivia com sua esposa. Se for pra eu saber, tem que ser agora. Saio da porta e olho a tela do celular. “Cláudia”. Pronto, isso é o que eu precisava. Ao abrir a mensagem vejo que essa "Cláudia" estava perguntando que horas ele iria buscá-la para o encontro. Fico perplexa, mas quero ver mais. Começo a olhar as mensagens antigas, são várias obscenidades e encontros marcados com ela desde agosto de 2015, não entendo como ele foi capaz de me apunhalar pelas costas desse jeito. Ainda estou com o celular nas mãos quando escuto seus passos se aproximando. Bloqueio e largo o celular da mesma maneira que estava na cama. Ele parece nem perceber o quanto eu estou assustada e continua se arrumando.
– Bom, amor. – Se olha no espelho e dá uma última ajeitada no cabelo. – Já vou indo. – Ele se vira e me dá um beijo na testa. Eu não entendo com ele pode ser tão sínico.
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