"Pi… pi… pi… pi… pi!" — Que despertador horrível… — murmurei, tentando encontrar o botão para desligá-lo, no meio da escuridão do meu quarto, o que não era nada fácil.
Precisava sempre de uns cinco minutos sentada na cama para meu corpo processar que eu estava realmente acordada. Se pulasse essa etapa e fosse direto tomar banho, provavelmente desmaiaria.
— Filha! Hora do café da manhã! Desce logo e vai tomar banho! Você vai se atrasar para a escola! — gritou meu pai do pé da escada.
— Já tô indo! — respondi no mesmo tom.
Os gritos matinais do meu pai me faziam rir. Desde que minha mãe se foi, tivemos que nos adaptar. Ele aprendeu a cozinhar e a cuidar da casa, e eu, a ser útil. Foi complicado no início, especialmente porque minha menstruação desceu duas semanas depois do falecimento dela, e eu não sabia nada sobre o assunto. Tia Sophia me ajudou com isso.
Acredito que foi difícil para o meu pai se adaptar a uma nova rotina, que exigiu muito dele. Mas ele nunca demonstrou cansaço ao fazer as coisas para mim.
Depois de tomar meu banho, sentei-me à mesa para o café da manhã, embora eu só bebesse Nescau.
— Teve outro sonho? — perguntou meu pai, enquanto me servia.
— O mesmo de sempre, mas desta vez sonhei que a tia Sophia estalava os dedos e eu desmaiava — respondi, enfiando uma tapioca de queijo na boca (amo tapioca).
— Engraçado, filha. Já se passaram cinco anos desde aquele incidente, e você ainda sonha com isso. Será que devemos procurar outra psicóloga? — sugeriu meu pai, levando a xícara de café aos lábios.
— Gosto da Rejane, ela é ótima. Não quero mudar. Seria trabalhoso demais, e o senhor sabe que odeio mudanças.
— Está bem. Termine o Nescau, e vamos indo — disse ele, já se levantando para tirar a mesa.
Naquele dia, quando cheguei em casa, só lembro de ter entrado e acordado no hospital. Meu pai e tia Sophia disseram que foi o choque de não encontrar minha mãe. Sempre achei estranho não me lembrar de nada, mas fiquei "feliz" por ter desmaiado. Sempre achei chique. Quando contei isso ao meu pai, ele me mandou tomar vergonha na cara, dizendo: "Isso não tem nada de legal, Anna Fairy". Depois disso, passei a ter sonhos esquisitos, sempre sobre o mesmo dia, mas em versões diferentes.
Adiantando, meu pai decidiu me trocar de escola no segundo ano do Ensino Médio. Ele acreditava que mudar para uma escola melhor me garantiria boas notas para a faculdade. Foi horrível mudar de escola nessa época, principalmente porque já estava acostumada com a anterior, onde passei a maior parte da minha vida. Deixar meus amigos foi o mais doloroso — "amigos", no plural, embora só restassem dois: Pedro e Kezia. Ainda mantínhamos contato, mas, como era o último ano, todos estávamos focados nas provas finais.
A nova escola, Santa Luzia, não tinha nada de ensino religioso. As meninas eram egocêntricas e burras, e os meninos, imaturos e fechados em seus próprios grupos. Havia os gamers, que não eram muito inteligentes nas disciplinas comuns, mas eram verdadeiros otakus; e os galãs nerds, bonitos e chatos, mas também intelectuais. Heitor e Tomás eram uma dupla inseparável, filhos de famílias abastadas e bem estabelecidas na sociedade. Sempre me perguntei por que eles não estavam em escolas melhores. Eu odiava o Heitor; ele sempre implicava comigo, seja pelo meu cabelo quando o cortei curto, ou quando coloquei tranças, ou pelo meu jeito de me vestir. Ele era insuportável. Já o Tomás era um doce e sempre mandava o Heitor parar de me perturbar. Tomás e Heitor namoravam duas das meninas egocêntricas, Paula e Monalisa (que pouco se comparava à pintura). Eu e Mandy, a única pessoa com quem eu falava naquela chatice, chamávamos as duas de "as branquelas", em referência ao filme, embora sentíssemos pena de comparar pessoas grotescas com bons atores.
— Está na hora de sair, filha! — disse meu pai, abrindo a porta do carro para eu descer e ir logo para a escola.
— Você não vai comigo? — perguntei com os olhos de gatinho, tentando intimidá-lo para que ficasse com pena, mas não adiantou muito.
— Vai logo, Anna! Ou vou fazer você passar vergonha.
Lancei-lhe um olhar irritado e saí, batendo a porta com força, o que fez ele gritar:
— Isso não é porta de geladeira!
Fui andando sem olhar para trás, enquanto ele seguia para o trabalho.
— Bom dia, Anna! Dia ruim? — perguntou Mandy assim que me sentei na carteira.
Minha cara de poucos amigos era evidente.
— Estavam testando a minha paciência desde cedo. Eu não queria vir hoje, mas meu pai insistiu — respondi, bufando e cruzando os braços.
— Hoje é o primeiro dia do nosso último ano. Fica calma, isso é só o começo do pior — disse ela, me acariciando as costas. Quando nossos olhares se encontraram, começamos a rir.
Rir das nossas desgraças era a melhor coisa que podia acontecer.
— Bom dia, turma! — cumprimentou o professor ao entrar na sala. — Como este é o último ano letivo, teremos algumas mudanças para intensificar os estudos para as provas finais. Portanto, vamos reorganizar as salas e mudar suas posições nas cadeiras.
Naquele momento, só queria gritar. Meu dia já não tinha começado nada bem.
Por sorte, continuei na mesma sala que Mandy, mas tive que sentar ao lado do insuportável do Heitor.
— Fala aí, criatura das trevas — soltou ele assim que me sentei.
— Não estou com um pingo de paciência hoje, Heitor! Se continuar, eu vou arrebentar a sua cara! — falei no tom mais grosso e intimidador que consegui, mas ele apenas riu.
— Calma, nervosinha! Você precisa ter mais senso de humor — disse, tentando se acalmar entre risos.
Eu o ignorei. Preciso ignorá-lo.
Não via a hora de chegar em casa.
— Como foi a escola hoje? — gritou meu pai da cozinha, assim que bati a porta da sala.
— Um desastre, mas já estou acostumada — respondi, tentando ser sarcástica.
— Okay, irônica. Vai tomar banho para jantar.
O jantar estava maravilhoso. Meu pai fez minha comida preferida, caldo verde, e eu repeti três vezes. Aquela comida me dava um alívio.
Quando deitei para dormir, pensei em tudo que aconteceu no meu dia e nas possibilidades de ter que aturar o Heitor durante o ano letivo.
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