O último deles caiu no chão quando usei minha última bala. Meu último tiro também foi o último tiro daquela batalha. Eram muitos corpos, alguns empilhados, outros ainda ensanguentados. Aquela costumava a ser uma das partes mais bonitas da cidade, não costumava? Sentei-me na base do arco, limpei o suor do rosto e percebi que haviam algumas coisas escritas. Mas afinal para que construíram mesmo isso? Triunfamos em batalhas… algo sobre Napoleão. E quem podia imaginar, que no final de tudo, até mesmo o Arco do Triunfo estaria coberto de sangue, e sangue nosso.
Levantei-me e entrei, subi as escadas, cheguei ao topo. A visão dali costumava ser linda, não costumava? Agora tudo que vejo são corpos e destruição espalhados pela cidade, e tudo que escuto é um vazio ensurdecedor e alguns pas- espera, alguns passos? Olho para trás, e além do vermelho do entardecer o que vejo é ele, tão suado quanto eu, e tão abatido quanto eu.
E foi aí que não pensei duas vezes, não reprimiria nosso desejos novamente.
- O mundo agora é nosso! - eu disse. - Não há ninguém aqui! - E ele estava lá, mais lindo do que nunca. E eu o disse: tire as roupas! E seus lábios tocando os meus, era a primeira vez mas era como se fosse a última. Falaram que todos vamos morrer - ele dizia, e eu respondia que não estavam certos. Não estavam certos porque agora tínhamos paixão pela vida! E isso nos mantém vivos!
Ele tirou minha camisa, voltou a me beijar enquanto passava a mão pelo meu corpo. Era como se o frio tivesse ido embora, como se fosse Julho, e eu sentia que agora tudo sempre seria igual a Julho. Jogou-me no chão, tirava minha calça enquanto beijava meu peitoral, e só ouvia sua respiração ofegante, sentia sua vontade, sentia seu medo, sentia suas dores! E então me colocou de bruços no chão, e enquanto eu via a Champs Elysées do alto do Arco do Triunfo no auge da guerra, pude senti-lo entrar no meu corpo, e a dor, o prazer, a vontade, o medo, nós, era como se tudo fosse a mesma coisa, e o universo parasse. Sentia sua respiração ofegante, o suor de seu peito caindo em minhas costas, e aquele vai e vem, como se meu corpo já não mais me pertencesse, como se fossemos um apenas. Podia sentir seu prazer.
Não havia mais limites, sinais vermelhos, nem perigo. O universo era nosso ou estávamos o tornando nosso. E só gritávamos, a noite nunca mais chegaria. Gritávamos, e isso ia nos manter vivo. A paixão pela vida, e a paixão por nós!
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