Em um quarto bem decorado, estava uma garota extremamente cansada terminando de produzir e arrumar suas armas de proteção. Ao lado dela, havia uma xícara de café vazia que trazia uma mera mensagem sobre a ligação da vida com o amor, e do outro lado, diversos livros espalhados pelo chão. Baghera era a junção perfeita de dedicação e determinação.
A loira sempre manteve um foco sério, principalmente para ajudar seus pais, nunca deixou de trabalhar em plantações e sempre se dedicou o suficiente para deixar a pequena casa arrumada. A melhor filha que alguém poderia ter.
Seu sonho era ser livre e poder navegar como seu pai por diversos lugares da ilha. Talvez exigisse mais de si mesma do que o necessário, então não deixaria que outras pessoas tomassem seu sonho de forma devastosa.
Baghera fechou levemente os olhos, erguendo as mãos para o alto e esticando os braços para poder bocejar. Já estava quase dando o horário de seus pais chegarem da federação.
Isso era o que ela esperava.
Até ouvir um barulho de pegadas na sala.
— Mãe? - desceu as escadas a procura da mais velha, mas parou no penúltimo degrau quando avistou um garoto com uma touca acima da cabeça e uma cicatriz de corte no olho procurando por algo em seus armários. - hm?
Sua voz morreu ao notar uma espécie de urso parado em frente a porta da casa, vidrado no garoto de touca. A menina passou os olhos esbugalhados pelas outras "pessoas" sem rosto ao lado do urso. Baghera entrou em alerta. Em choque. Em um pavor imenso.
Sua primeira reação fora se esconder atrás do corrimão da escada, tapar a própria boca e respirar fundo três vezes, tentando não chamar a atenção deles.
Já que estava escuro o local, não seria fácil de ser encontrada ali.
— ElQuackity, o que você encontrou? - o Urso questionou com uma voz robótica.
E isso foi o motivo do pavor de Baghera. A menina não sabia se seus pais estavam bem e nem quem era aquele ser estranho em sua casa. Provavelmente alguém da federação, alguém do poder maior.
Ela não entendia.
Não conseguia compreender.
O que eles queriam ali?
— Provas de que eles trabalhavam contra a federação, Cucurucho. - O garoto sorriu um pouco macabro, carregando diversas folhas e imagens que Baghera não conseguiu identificar sobre o que era. - Aqui estão. - Entregou-as na mão do urso.
A loira estava tão assustada que em um movimento repentino derrubou sua pulseira no chão, fazendo o barulho pequeno - mas suficiente para ser escutado, - ecoar pela sala e ambos os estranhos olharem em direção a mesma.
Não....
— Eu... E-eu...eu não.. - A menina não conseguiu formar a frase, e assim que percebeu, o garoto medonho já estava a sua frente lhe encarando com um sorriso.
— Como é o seu nome, garota? - logo em seguida o urso apareceu ao lado de ElQuackity, com o mesmo sorriso assustador. - está tudo bem, calma.
Baghera estava se sentindo sufocada, com tanto medo que não conseguia se mover e nem proferir uma palavra. A única coisa que dava para se ouvir eram os batimentos cardíacos de Baghera e a respiração acelerada.
— E-eu... Eu não sei quem é você, nem o que você é... Mas se tentar fazer algo de ruim comigo ou com a minha família você vai pagar b-bem caro... - Ela apontou o dedo em direção ao rosto do urso, se calando por alguns minutos ao notar a mudança de feição do ser. Era assustador. - Por favor, me deixem em paz..
— Eu não entendo o motivo do seu medo, Baghera. - A menina arregalou os olhos, sem entender como o urso sabia o seu nome. - A ilha é perfeita. Sorria.
Baghera não se atreveu, ela não conseguia. Não conseguia entender o que eles eram e nem o que queriam.
— A ilha é maravilhosa, não é? - O garoto proferiu com um sorriso, passando a mão pelos cabelos loiros da garota sem se importar com a mesma recuando de seu contato. - Desfrute la isla, Baghera.
E assim que ela percebeu, ambos já haviam ido embora e havia uma imagem com uma carinha sorridente ao seu lado. Baghera se sentia aterrorizada.
A única coisa que precisava era de seus pais, pois seu medo corria por sua própria mente, ocasionando um bater de pernas excessivo e lágrimas sinceras.
Mas eles não voltaram.
E isso foi o bastante para fazê-la sofrer.
(....)
Em direção a Forever, a voz se cessou, a claridade havia acabado, apenas alguns postes no local iluminavam os dois garotos e tudo ao redor pareceu quieto e silencioso derrepente.
Bad estava assustado, mas não conseguia desgrudar os olhos do elfo.
Tudo o que menos desejava naquele exato momento era vê-lo chorar, por mas que no seu interior sentisse essa vontade dolorosa. Bad sempre teve um sentimento profundo em seu coração: engolir o choro para ajudar os outros que choravam, esse era o sentimento..
Mas o medo e a dor do momento foi capaz de derrotá-los.
Os olhos de ambos se encontraram e Bad conseguiu sentir em seu peito um aperto forte, uma dor absurda além da que sentia no momento, e o motivo da dor era vê-lo chorar. Era ver o estado do amigo.
Desde que Bad havia sido raptado pela federação, não havia visto além de si mesmo outra pessoa chorar, pois estava preso em um mundo sombrio onde monstros o rodeavam. Além de medo e pavor, havia um silêncio profundo, capaz de matá-lo aos poucos e retirar o resto de sua felicidade.
Sua mente pareceu relembrar de cada momento sozinho e doloroso ao ver Forever chorar e soluçar tanto.
— B-bad... - A única coisa que restou do elfo foram lágrimas feridas descendo em linha reta por suas bochechas, não sentia mas nada a não ser uma tristeza grande em seu coração.
Forever pediu por alívio, recebeu uma dor no peito e consequentemente um sentimento de culpa, se sentia culpado por não tentar procurá-la antes de receber aquela notícia.
A mente de Forever agia contra o seu próprio corpo, pensamentos terríveis e angustiantes mostravam imagens ruins e cruéis de sua tia.
Ela teria..
Ela teria ido atrás de si.
— Forever... - Badboy trouxe o corpo do amigo para perto de seu contato, abraçando-o com carinho e deixando aquelas lágrimas tão escondidas por si descerem de forma sutil, mas verdadeira. - Não se culpe por isso.
Bad sentia medo o bastante para se esconder de todos e principalmente da federação, mas enquanto estivesse ao lado de Forever ele o ajudaria...
Principalmente a deter a federação.
Estavam sendo usados por monstros que se achavam melhor que todos eles e que poderiam controlá-los como peças no tabuleiro. Bad sabia muito bem que a partir daquele momento, a federação havia acabado de criar uma guerra.
Uma guerra que duraria até tudo voltar ao normal.
— Forever! - Um grito despertou o Loiro e o demônio de seus pensamentos e ao longe Badboy pode ver claramente Cellbit correr junto dos outros três em suas direções. - Bad... O Forever!
Assim que notou, o corpo do Loiro havia deslizado por seus braços, como uma gelatina.
— Ei, forever! Forever, por favor! Acorda!
E na cabeça de Forever a voz foi ficando baixa, longe o suficiente dos pensamentos do elfo para não ser compreendida.
Forever se sentia tão... Triste.
Suas mãos estavam suadas.
O coração acelerado.
Os dentes batendo um contra o outro.
O corpo enfraquecido.
E a visão... Escurecida.
...
O cheiro de comida adentrou o olfato de Forever, o único cheiro que o elfo conseguiu distinguir em meio a tanta confusão em sua mente. A visão do garoto parecia embaçar a cada piscada e movimento brusco que ele dava conforme ia tomando consciência, sua cabeça girava lentamente, começando a sentir a maciez da cama em seus dedos, lembrava algodão doce.
Assim que sua consciência foi finalmente recobrada, e seu corpo levantou-se prontamente para se sentar, o loiro olhou em volta, atordoado e com memórias frescas do acontecimento da noite passada.
O elfo enxergou ao longe duas silhuetas conversando em um tom baixo enquanto carregavam algumas coisas para a cozinha. Forever piscou diversas vezes, até a visão voltar ao normal.
Sua cabeça doía e seu corpo parecia pálido. Além do esperado.
— O que aconteceu? - Sua voz saiu um pouco rouca, e o Loiro passou a destra pelos fios claros, trazendo a atenção dos outros para si. - Caramba... Que dor infernal.
Quando percebeu, já estava sendo agarrado fortemente.
— Forever! - Sorriu bem pequeno com o abraço quente vindo de Bad. A voz doce do demônio adentrando os seus pensamentos fez o elfo ficar mais tranquilo. - Você acordou!
— Uhum... Sim...
Pac estava todo sujo de comida, mas isso não foi capaz de deter a preocupação dele pelo amigo, então acabou por segurar fortemente o rosto de Forever e verificar se o estado físico do amigo estava melhor.
— Você tá bem? tá relaxado? - Tocou os ombros um poucos tencionados do loiro, olhando bem fundo em seus olhos. O elfo se afastou do toque repentino da mão gélida do garoto em seu rosto - não se afasta de mim assim não, garoto.
— Você sabe o que aconteceu para você ter desmaiado assim? - Cellbit apareceu em sua visão, mas teve a atenção do Loiro quebrada quando Pac tocou o rosto do amigo novamente.
— Pac! Suas mãos de Elsa tão me matando! - Os garotos sorriram de forma mútua. - Eu não sei o que aconteceu, mas sei qual foi o Motivo... - Bad sentou-se no sofá ao lado do mesmo, tocando com carinho sua palma.
— Forever, por favor...
O Loiro respirou fundo. Havia acontecido novamente, aquela crise de pânico que sua tia sempre o ajudava a superar, a se acalmar e a perceber que ela estaria ali para ajudá-lo.
Ela não estava ali.
E isso machucava..
— Só não mata gente do coração de novo, por favor. - Felps segurou o próprio peito, aliviado ao perceber que o amigo estava bem. - Eu sou cardíaco. - O Loiro sorriu, revirando os olhos para o drama do amigo.
— Foi mal... A quanto tempo eu estou desacordado? - Forever fechou brevemente os olhos, tentando se acalmar um pouco ao relembrar de sua tia.
— Você passou uma noite desacordado. - Pac murmurou, carregando uma panela vazia. Forever franziu as sobrancelhas ao escutá-lo. - Pelo menos você está bem agora.
Todos ali presentes encaravam forever com uma preocupação no olhar, e o elfo se sentiu feliz por saber que estava rodeado de pessoas fiéis e incríveis. Eles eram definitivamente seu porto seguro.
— Desculpa... Eu acabei esquecendo de me reerguer. - Murmurou com graça, levando os outros a sorrirem. - Prometo que não vai acontecer denovo.
— Hm.. O que importa é que você está melhor. - Mike sorriu do outro lado da arquibancada da cozinha, e só assim forever foi capaz de notar o cheiro gostoso de comida no ar.
— Desde quando vocês cozinham bem assim, moços? Estou surpreendido. - O elfo levantou-se do sofá, seguindo em direção ao amigo. - Isso tá cheirando muito bom.
— Poisé, eu tenho diversos dons. - Pac sorriu orgulhoso de si mesmo, acabando por levar um tapinha na nuca por parte de Mike. - Ei! - Os garotos sorriram, mas logo mudaram de feição quando Mike começou a falar.
— Tá faltando um pouco de água agora, e pra não correr o risco da gente fazer cosplay de Forever, é bom a gente se hidratar. - Os amigos do Loiro seguraram a risada - Tem como alguém pegar no rio?
Além de quase ter socado o rosto do garoto de óculos, o próprio Forever se propôs a pegar a água.
— Eu não acho que seja uma boa ideia. - Pac cruzou os braços e Cellbit acabou por concordar com o amigo.
Agora o Loiro se sentia rodeado de mães preocupadas.
— Está tudo bem, eu juro! O bad vai comigo. - Agarrou os ombros do demônio, o mesmo que encarou todos com uma certa confusão. - Qualquer coisa ele me ajuda. - O elfo sorriu amarelo.
Cellbit Respirou fundo, passando os olhos por Bad e por Forever.
— Tudo bem, forevinho... A gente não pode te prender aqui, mas qualquer coisa você volta correndo pra cá, viu? - Cellbit alertou com uma seriedade na voz, e isso foi capaz de fazer o loiro consentir rapidamente.
O menino pegou o balde oferecido por Mike em mãos e entregou outro para Bad.
— Tudo bem, nós voltamos já já. - Agarrou a mão de Halo e seguiu rumo a porta, o demônio ainda tentando assimilar o que acontecia.
O Sol estava quente e seria um dia seco, então seria muito importante se manter bastante hidratado.
A mudança de clima era bizarra.
— Ei, forever... Para onde nós vamos? - Bad perguntou assim que saíram do chalé, ainda sendo carregado pelo amigo para algum lugar.
— Vamos pegar água, não é muito longe daqui então vai ser rápido. - Os dois amigos caminharam em direção ao local, e logo avistaram o rio. - Espera. - apertou a mão de Bad.
— O quê? - O demônio entrou em alerta, procurando por todos os lados algo que seja referente a perigo. - O que aconteceu?!
— Shh!
Além da água, haviam baldes e calçados pelo local e Forever constatou a ideia de ter a presença de outras pessoas por ali.
— Tem alguém aqui. - Uma movimentação chamou a atenção de ambos, e agora havia uma figura de uma menina subindo as pequenas escadas em suas direções. - Merda!
— Language! M-mas... O que faremos..? - Bad sunsurrou em um tom elevado para o amigo, entrando em estado de choque ao vê-la se aproximar cada vez mais - Vamos se esconder!
— Calma, Bad! Eu acho que está tudo bem. - o demônio arregalou os olhos, sem entender a ação do amigo. O garoto estava quase soltando a mão de 4ever. - Confia em mim.
— Forever eu não acho quê... - Antes de terminar, eles já haviam sido pegos de vista pela estranha. Ela fitava ambos com um olhar desconfiado e assustador.
— H-hey! - Forever foi o primeiro a acenar para a estranha, e a garota começou a andar em direção aos dois. - Eu....
Ela parou por alguns minutos em sua frente com uma feição séria que depois de um minuto mudou-se para um sorriso animado.
— Prazer, sou a Baghera!- Seu sotaque era engraçado, e foi capaz de arrancar um sorriso de Forever depois de um desespero.
— É um prazer Baghera, eu sou o Forever e esse aqui é o Bad. - Apontou para o amigo ao seu lado, que retribuiu com um aceno e um sorriso amarelo. - É bom conhecer pessoas novas nessa ilha... Né?
— Eu concordo, desde que meus pais sumiram, eu procuro por mais amizades... Provavelmente ainda vão criar uma ordem contra a federação, e eu estarei disposta a participar. - Ela murmurou, observando os dois enquanto terminava de guarda algumas frutas nos bolsos do macacão.
Ela parecia ter a idade de ambos.
— Sim! Também acho que isso vai acontecer. - Forever largou a mão de Bad, seguindo com a nova amiga para perto do rio e aproveitando para conversar sobre o assunto da federação.
Bad ficou estático no lugar, observando a cena a sua frente com uma dor no coração.
Se sentia estranho.. ?
Provavelmente porque Forever esteve ao seu lado desde que fugiu da federação. Ver o garoto encontrando novo amigos fez Bad odiar essa ideia.
Mas bem... Isso era normal.
Era normal, não é?
— Bad, vem cá! - O Loiro acenou, chamando-o de longe.
Badboy acabou sacudindo a cabeça para afastar os pensamentos, andando em direção aos dois. A menina lançou um sorriso para o demônio, e o garoto acabou por retribuir como o ser bem educado que era.
(...)
O tempo se passava devagar, e agora todos eles se aprontavam para amanhã. Seria um dia misterioso, pois quando Bad e Forever estavam voltando com os baldes cheios, houve um anúncio que algo muito importante iria acontecer amanhã cedo.
Eles estavam preparados. Isso era óbvio.
Mas Forever sentia uma fúria adentrar sua cabeça, e provavelmente seria o primeiro a começar com o plano.
Em sua cabeça passavam cenários em que salvaria sua tia daquelas mãos cruéis, se tornaria um herói grande e forte e principalmente acabaria com a federação junto de seus amigos. Esse seria o seu plano mais fortificado e provavelmente o que teria mais defeitos, mas o elfo sentia na própria pele que funcionaria perfeitamente.
— Você não vem? - Bad murmurou com uma voz sonolenta, acabando por chamar a atenção do amigo vidrado na mesa da sala. - Está pensando muito, deveria descansar.
— Uhum, eu vou fazer isso... Afinal, tenho que está forte para derrotar aquela federação! - Ele sorriu, mas Bad apenas concordou com um semblante para baixo. - Vamos, Bad! Você sabe que nós somos capaz.
— Eu tenho dúvidas sobre isso. - Forever permaneceu em silêncio, apenas fitando o amigo. - Escuta, Forever... Estamos mexendo com adultos, com pessoas bem mais fortes e com um poder maior que nós, ao lado deles somos formigas, somos crianças, não acho que seri...- Forever havia tapado os ouvidos, se recusando a escutar mais uma palavra sequer. - Ei! Eu não terminei de fa...
— E nem precisa! Você só vai dizer que vamos acabar presos e morrendo em vez de conseguirmos salvar nossos pais!
— Eu não ia falar isso!
— Ia sim! Nós estamos em maior quantidade, se conseguirmos ficar preparados e agirmos mais rápidos que eles, nós vamos conseguir!
— Isso pode acontecer, não é impossível, mas me escuta primeiro!
— Não! Bad, a culpa não é minha se você não foi forte o suficiente para conseguir fugir deles! - Bad havia se calado. Havia ficado um silêncio desconfortável, e apenas um barulho de fungada foi capaz de fazer Forever abrir os olhos e notar o que havia falado. - B-bad, eu não..
— Okay, se você quer escutar a verdade eu vou dizer toda a verdade para você, tá bom?! - ele havia alterado o tom de voz, acabando por assustador o Loiro que ainda tentava de alguma forma concertar o seu erro.
Bad chorava tanto..
— Forever, abre os seus olhos! Aquele lugar é infestado de psicopatas que vão te torturar até você não aguentar mais! Eles me mantiveram em cativeiro por dias! Preso naquele lugar terrível escutando coisas perturbadoras e vendo crianças da minha idade m-morrerem! Você não tem noção do quando eu sofri naquele lugar e o quanto que isso me deixou com sequelas, com um medo e uma dor terrível no peito, Você não tem noção do que eu passei lá! - Suas lágrimas escapavam por seu olhos, e todo aquele sofrimento que ele havia escondido escorria pelas gotículas.
Forever estava travado, seu coração doía tanto ao ver Bad chorar.
— Meu pai! Meu pai.... Meu pai morreu por minha culpa! - Agora o Loiro havia travado completamente com aquela frase, lágrimas descendo de seus olhos.
Bad estava ajoelhado no chão, não conseguia mais ter forças para falar e nem para se manter em pé.
— Era isso o que eu queira dizer!
Não havia...
Não havia dor mais cruel que essa.
— Eu... Eu não... Eu sinto muito, eu não queria... - Forever não tinha voz para dizer algo. Não conseguia dizer nada sobre aquilo. Nada.
Havia errado.
Havia... Simplesmente errado com ele, e Bad estaria certo de não querer ouvi-lo.
Halo se sentia tão mal que não conseguia olhá-lo nos olhos, não depois do que ele havia falado. Se sentia tão triste por ter revelado algo que não queria, havia escondido isso de Forever por não querer relembrar de ver seu pai morrendo em sua frente, de vê-lo implorando para que fuja enquanto o corpo de Bad estava travado.
Não conseguia aguentar toda aquela dor e culpa que estavam presas em sua própria cabeça e coração.
— O que está acontecendo aqui? - Cellbit abriu a porta do quarto com o rosto amassado e uma careta de sono.
Forever iria começar a falar, mas Bad foi mais rápido e levantou-se do chão com palavras que fizeram o coração do Elfo quase desligar.
— Não é nada, só estava conversando com o Forever. - Bad limpou as lágrimas e direcionou o sorriso mais falso que conseguiu para Cellbit.
— Hm, tudo bem... Mas vamos dormir logo, está tarde. - Ele avisou, bocejando alto e dando ré para adentrar o quarto novamente.
A sala ficou em silêncio novamente, mas forever foi privado de falar qualquer coisa com o olhar quebrado do amigo em sua direção.
— Bad... Eu... - E novamente estava sozinho no local com apenas seus pensamentos de culpa e um nó na garganta.
Se sentia tão animado com a ideia de querer deter a federação que acabou ignorando o fato deles serem mais fortes e ter um controle maior em toda aquela ilha. Bad estava certo.
Forever havia ido dormir sozinho, porque provavelmente o amigo estaria deitado com outra pessoa. Isso fez Forever chorar baixinho em seu canto, relembrando-se de suas palavras afiadas como facas e acabou por dormir sendo consumido pelo sentimento de culpa.
...
A luz da lua adentrou uma brecha da janela do quarto de Forever, e os olhos abriram-se ao mesmo tempo depois de um sono profundo. Forever sentiu um peso sair da cama, e acabou cerrando os olhos um pouco para conseguir enxergar quem estava ali, mas nada além de escuro e um barulho estranho de passos. Forever passou as mãos pelo rosto marcado.
— Bad..?
O elfo impulsionou o corpo para se levantar, caminhando devagar em direção a porta que havia sido fechada um segundo atrás.
Sentia uma fome imensa, mas a curiosidade reinou novamente.
O garoto tocou a maçaneta, girando-a com remorso e devagar. Aquele medo marcante. Grunhiu de leve e abriu um pouco a porta, observando de canto o que acontecia ali fora, mas a única coisa que viu fora Bad segurando uma faca em mãos e apontando na direção de um garoto.
Forever arregalou os olhos para a cena, não entendendo ao certo o que acontecia. Ele reconhecia aquela pessoa.
Seria uma visão?
Um sonho?
Ou...
— Vamos, BadBoy... Você precisa vir conosco. - O garoto pediu com um sorriso perturbador, ele parecia feliz com o rosto assustado do demônio. - É uma ordem da federação.
— Se afaste de mim! - Bad se tremia completamente, mas não soltava a faca de maneira alguma, mantendo a postura. - Eu vou te machucar, se afasta! - O desconhecido ergueu os braços se rendendo, mas o sorriso não saía de seus lábios.
— Eu só estou mandando você vir comigo, relaxa demoniozinho.
O quê...
Eles não iriam levar Bad.
Não depois de sua tia ter sido levada.
Forever não pensou duas vezes antes de decidir ajudá-lo, mas outra pessoa fora mais rápida e agarrou o pescoço do Loiro por trás.
— Bad, você sabe bem do que eu sou capaz, não sabe? - o desconhecido se aproximava mais de Bad e o demônio andava para trás, recuando do contato.
— Elquackity... - Bad estava sendo pressionado contra a parede, e agora aquele garoto agarrava seu pescoço com força. - Ahrg!
— Sabe aquele seu amiguinho? - ElQuackity voltou a falar, sem desfazer o aperto forte em que fazia no pescoço de Bad. O garoto tentava se soltar, esperneando e batendo o punho contra o braço do garoto de touca. - Ele tá correndo perigo, sabia? - A única coisa que Bad foi capaz de ouvir fora um grito esganiçado e a visão de Forever sendo perfurado na coxa por uma faca. Atrocidade feita pelo outro gêmeo.
O outro garoto parecia assustado e incerto de suas ações, mas não recuou um segundo da situação.
— Não! Não! Solta ele! - Bad voltou a se espernear, tentando a todo custo se soltar daquelas mãos. Lágrimas escorriam de seus olhos. - Solta ele, fudge!
— Se você não vier, seu amiguinho morre. - O garoto fora breve, não deixando de sorrir. - Vamos, Bad, só mais algumas facadas e ele já era...
Bad voltou a olhá-lo, e agora forever estava com os olhos entre-abertos e com o sangue escorrendo por sua calça e batendo contra o tapete do chão.
— Eu vou! Só, por favor... Não mata ele! - Murmurou com a voz quebradiça, conseguindo ver o sorriso orgulhoso do menino e o urso maldito adentrando a casa.
—Olá, Badboy. É um prazer revê-lo. - Ele sorriu em sua direção, e o demônio tentava recuperar todo o ar que havia perdido, sua visão estava embaçada e tudo o que conseguia enxergar era apenas Forever desmaiado no chão e sendo segurado pelo irmão de Elquackity.
— Parabéns, Bad... Você merece uma salva de palmas por ter sido inteligente! - O garoto gargalhava alto, mas Bad não conseguia ouvi-lo.
Tudo estava ficando escuro, sua visão turva, as vozes ficando fundas e quase sem som.
Eu vou desmaiar...
Não...
Não pode ser..
Seu corpo havia ido de encontro ao chão, e a única coisa que Bad enxergou antes de apagar fora todos os amigos de Forever sendo carregados por diversas cópias do cucurucho e principalmente o seu melhor amigo.
— Forever..
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