O Hyundai Sonata branco foi estacionado antes da faixa de pedestres, enquanto o semáforo ainda sinalizava verde. A avenida era larga o suficiente para que não fosse um problema que o carro ficasse ali.
— Ah, não! Vocês disseram que iríamos nos divertir! — Ele desafivelou o cinto de segurança para aproximar-se dos assentos dianteiros. — Jongin, o que estamos fazendo no seu trabalho?!
— Sehun, pare de reclamar e deixe o rapaz visitar a namorada dele.
Taemin sorria para o ruivo pelo retrovisor interno. Mais cedo, o amigo havia pedido para fazer uma breve parada no local e como Lee sabia que as coisas não estavam sendo apenas flores, não fez oposição.
— Então isso significa que eu acordei às oito da manhã para ficar de vela?
Jongin estava ignorando os dois, sua atenção girava em torno de tentar ficar um pouco menos nervoso e ser otimista. Ele vinha desencontrando-se com Soojung há cerca de dois dias e esperava vê-la, no mínimo, por cinco minutos, reduzindo um pouco a saudade que tomava conta de si cada vez que se lembrava da amada.
Sentia falta de cada momento que viveram juntos, cada ligação durante a madrugada, sem embargo de quando ela caia no sono durante uma longa pausa na conversa. Ele sabia que Jung era muito ocupada, então gostava de saber que ela descansando. Em contrapartida, aqueles episódios provacavam-no uma vontade gigantesca de teletransportar-se para perto dela, onde poderia observar melhor aquele anjo que entrou na sua vida sem pedir permissão. Soojung bagunçou tudo dentro dele. Não era muito chegado em ouvir música, majoritariamente porque fones de ouvido o incomodavam, mas ela sempre estava realizando alguma recomendação e quando se deu conta, estava com quase duzentas músicas em seu celular. Além de incontáveis fotos dela distraída, contente, comendo, fazendo compras, fotos deles juntos… Ela parecia gostar de tudo aquilo tanto quanto ele, ao menos, era levemente reconfortante pensar dessa maneira.
Na janela do quarto andar, um vulto desaparecia por trás das janelas espelhadas. Atravessou a sala correndo para rapidamente pegar o telefone e discar o número que tão bem conhecia.
— LCT Entertainment, recep-
— Jongin está indo até aí, se perguntar por mim, eu não est-
— Amber, bom dia!
Com o crachá ainda em mãos, após usá-lo para passar pela segurança, o moreno sorria. A jovem na recepção teria prontamente retribuído se houvesse visto, mas ainda permanecia estática, ouvindo o bipe de chamada encerrada. Vagarosamente, ela colocou o telefone sem fio de volta no suporte e girou em seus calcanhares com o melhor sorriso não-espontâneo que conseguiu esbanjar. Durante o seu turno, não era comum que Kim parasse ali, então se esforçou em parecer sinceramente surpresa.
— Oi, Jongin!
— Você sabe dizer se Krystal está ocupada em uma reunião ou escondida em algum canto escrevendo? — ele riu desta última hipótese. Era bastante provável.
Ela também soltou um singelo riso, mas de nervosismo pela ironia da situação.
— Vocês não costumam chegar juntos?
O questionamento o pegou desprevenido. Ele sempre saia tarde de casa e ela constantemente estava atrasada. Não demorou muito para que parecesse bastante conveniente deslocarem-se juntos. “Quando deixou de ser?”, ele não sabia dizer. Piscou, agora menos animado e, dando de ombros, disse:
— Às vezes.
Amber sentiu um leve desconforto querendo crescer nos poucos metros que os separavam e optou por abreviar aquele encontro.
— Na verdade, não a vi por aqui hoje — pensou que deveria inscrever-se na audição para elenco da próxima novela da matriz. Não gostava da ideia de aumentar sua lista de pecados, contudo, a amiga era uma boa pessoa e a situação não lhe aparentava ser de todo mau.
— Entendo… — Jongin assentiu, porém seus olhos vacilaram e o fizeram mirar o elevador, por cima do ombro de Amber. Se ela não estava ali, não havia nada que ele pudesse fazer.
Taemin constatou o insucesso pelo semblante tristonho que Kim carregava ao retornar. Pior que o anterior. Sehun somente deu um aperto amigável no ombro dele; como o mais velho, ficou determinado a encher aquele dia de gargalhadas e boas memórias.
Jongin pegou o celular do bolso para encarar a aba de notificações. Vazia. E ele também. Onde estava a pessoa mais importante de sua vida? Trocaram algumas mensagens na manhã anterior, mas ela parecia estar cheia de afazeres, logo, ele não quis incomodar mais. Sequer estava ciente de já ter feito alguma coisa, acordando todo dia com a mesma interrogação em cima da cabeça. Kim não necessitava de muitas respostas; seria suficiente apenas tê-la de volta para que fixasse domicílio na casa que montou em seu peito. Somente não esperava que esquecesse de si por tanto tempo.
Apreensiva, ela encarava o automóvel tentando reconhecer os rostos daqueles que ainda estavam dentro. Jongin parecia ter amizade com toda a cidade porque ela sempre o via com alguém que não conhecia, no entanto, identificou rapidamente o melhor amigo dele no banco de motorista assim que o loiro virou o rosto para a esquerda. Não conhecia muito de Taemin, todavia, percebera que ele mantinha, com certa frequência, um semblante sorridente. Os metros de distância tornavam difícil uma boa visualização, portanto, ela se esforçava para constatar se ele também estava assim naquele momento. A morena sabia que Kim não era o homem mais reservado e insensível do mundo, e mesmo sem avistá-lo há alguns dias, pensava que poderia estar um pouco frustrado. Ela estava insegura demais para encontrar com ele, por isso buscava mínimas pistas de respostas ali.
— Tsc, tsc… O que você está aprontando?!
Soojung, com maior velocidade do que poucos minutos atrás, voltou-se para a entrada da sala.
— Você me assustou — suspirou.
— Pode me explicar por que precisei mandar embora o seu namorado? — Amber enfatizou o final, semicerrando os olhos. — Ainda por cima, com uma grande cara de cachorro abandonado!
— Devo-te desculpas por isso, mas as coisas entre nós estão ficando bem estranhas.
A outra cruzou os braços, sem desviar o olhar, então ela continuou:
— Eu recebi uma proposta para ser transferida, mas não há nada certo até agora. É como um período de teste e como essa oportunidade é única, preciso mostrar que mereço o cargo. Só que o Nini… — escapou de seus lábios o apelido que o mais velho recebera da sobrinha pequena — Kai… Ele quer estar junto o tempo todo, um tempo do qual não disponho.
— E por que não abre o jogo com ele?
"Por quê?", ecoava em sua mente. Eles trabalhavam na mesma empresa há dois anos, porém, somente sete meses atrás Soojung criou coragem para saber se havia mesmo algo de tão especial nele. Algo que a atraía como aqueles livros de suspense em que não se sabe quem é o assassino e não seria interessante simplesmente pular as páginas, porque a trama é tão boa que você precisa acompanhar tudo, até o final. Soojung leu o prefácio, os agradecimentos, inclusive o prólogo, quando enfim, no quarto mês, ela disse: “sim”, e optou por conhecer inteiramente a história.
— Por que ele não pergunta? — indagou consigo. — Eu não sei o que espera de mim.
Tais dúvidas aumentavam um centímetro de raiz no peito de Jung a cada dia que passava. Apesar das preocupações no tocante a ter o mínimo de estabilidade em seu novo cargo, ajudar a cuidar das contas do apartamento que agora dividia com Jessica, sua irmã, Soojung não era capaz de controlar as lembranças que a acometiam quando se deparava com qualquer coisa que a fizesse pensar nele. Coisas que ele gostava, os lugares que visitaram… Por vezes, conseguia sobreviver ao dia sem tê-lo associado a qualquer evento. Até que Jongin invadia seus sonhos como um desejo inalcançável e ulteriormente ela se perdia em saudade e uma curiosidade quase letal de querer saber se tudo aquilo era recíproco.
Em uma terça-feira de dezembro, ela pensou que poderia ser, porquanto, ao abrir o Instagram, um evento criou um pouco de esperança em si: Jongin havia postado uma foto. Na parte inferior da imagem, aparecia somente seus olhos, pequenos e meio retangulares; um deles coberto pela franja, fazendo-a se imaginar afastando aquelas mechas somente para enroscar os dedos nos fios macios. Na parte superior, não havia nada além de um fundo vermelho com algumas ondulações. A princípio, não possuía nenhum significado. Entretanto, havia uma legenda que assim dizia: “de vez em quando, penso nos momentos em que estávamos juntos”.
Tratava-se de uma imagem temporária, desaparecia ao completar vinte e quatro horas de postada, mas ele não era o tipo fotogênico. Soojung sabia, pela pura experiência que acumulara ao longo desses meses, que Kim gostava de publicar apenas três tipos de fotos: com seus sobrinhos, com seus amigos e do seu trabalho. Por que ela sentia que essa não se encaixava em nenhum dos padrões? Apertou o botão lateral para bloquear a tela e suspirou, olhando de soslaio ao redor para confirmar que nenhum dos presentes no ônibus estava prestando atenção nos minutos que gastou apenas encarando a imagem dele. O interesse em saber a quê aquilo fazia referência a consumia e antes que pudesse tentar impedir, sua cabeça pensou em uma explicação.
Na primeira vez que saíram para jantar formalmente, isto é, já como um casal, Jung trajava um vestido tão vermelho quanto suas bochechas ficaram depois de receber vários elogios a noite inteira. Ele mencionou a escolha da cor, o corte da roupa, o seu penteado… Jongin a fazia sentir-se a pessoa mais importante do mundo. Não sabia ao certo se era devido ao olhar petrificante, ao sorriso acolhedor, aos lábios que selavam com os seus ósculos de ternos a urgentes, sempre como se nada fosse mais importante.
Desse modo, faria todo sentido que aquilo fosse direcionado a ela, não? Talvez Kim guardasse a memória daquele dia tanto quanto a jovem, portanto essa seria a simbologia daquela fotografia. Que outra coisa poderia ser? Eles não se encontravam há tanto tempo que ela não estava mais contando.
Parecia-lhe uma oportunidade de finalmente religar os fios que os conectavam. Retomar aquele livro que havia despertado sua atenção, mas que em razão da correria da vida, restou esquecido em um canto do seu quarto. Como o vestido que fora da sua irmã, mas ela o deu mais cedo no mesmo dia.
— É seu agora — afirmou Jessica, sorrindo. — Ficou lindo.
— Sério? — perguntou a outra, sem tirar os olhos do espelho.
— Sim! O vinho é o meu novo queridinho, de qualquer maneira.
Mesmo com todo o carinho recebido, o traje não foi usado novamente desde então. E Soojung não suportava mais guardar para si tudo aquilo, todos aqueles sentimentos.
Sexta-feira, pela manhã, fez o que pôde para sanar todos os deveres do trabalho, que incluíam principalmente acompanhar de perto as produções de filmes e dramas e reunir-se com outros colegas para escrever os roteiros nos quais essas produções se baseavam. Após conseguir que ficasse faltando só assuntos não urgentes, ela pediu para ter a tarde de folga. Retirou o vestido, um pouco amassado, da bolsa e pediu um carro, no aplicativo que viagens, que seguisse caminho em direção ao edifício tão familiar.
Ela estava ansiosa, poderia encontrar com ele em qualquer corredor. Na verdade, não sabia nem se ele estava ali. Considerar que talvez ele já houvesse ido para casa ou nem saído dela, fazia sua esperança diminuir um tanto. Parada no saguão, saiu dos seus devaneios quando algo esbarrou contra suas costas.
Ou alguém.
— Desculp… — sua fala foi interrompida pela expressão de surpresa que surgiu em seu rosto. — Soojung!
Sim, era ela. Esta não conseguiu controlar o sorriso ao ver Kim Jongin em sua frente. Teve a sensação de que ele parecia muito mais bonito e alguns dedos mais alto, contudo, ainda possuía o sorriso que aquecia seu coração. Bem como os braços que prontamente envolveram o seu corpo, correndo uma das mãos pelos fios soltos. Soojung fechou os olhos por um instante para inalar o cheiro dele que há tanto estivera impregnado em seu travesseiro, como prova das vezes em que apareceu em seus sonhos. Mas agora eles eram de carne e osso, dividiam o mesmo metro de assoalho e nada parecia ter mudado.
— Já faz um tempo — ele comentou, ainda agitado, olhando-a da cabeça aos pés ligeiramente. — Você está bem?
— Sim! — exclamou de imediato. — E você?
— Também…
Soojung não sabia por onde começar a falar com tantas coisas para colocar em dia e confessar. Estava determinada a pôr todas as cartas na mesa. Queria narrar como foi esse tempo distante (em vários sentidos) e como agora, mais do que qualquer outra vez, ela estava pronta de verdade. Para amar cada pedaço dele com tudo de si, para ser feliz.
— Kai!
Uma mulher de cabelo metade loiro, metade preto, surgiu por trás dele, correndo alegre na direção dos dois.
— Jongin-ssi — disse devagar, tentando recuperar o fôlego. —, vamos! A gravação começa em meia hora!
Ele balançou a cabeça em confirmação e virou para Soojung, já alguns passos afastados.
— Foi bom te ver! — sorriu.
De vez em quando penso nos momentos em que estávamos juntos
Como quando você disse que se sentia tão feliz que podia morrer
Disse a mim mesmo que você era certa para mim
Mas eu me sentia tão solitário na sua companhia
Mas aquilo era amor e isso é uma dor que eu ainda me lembro
Você pode ficar viciado em um certo tipo de tristeza
Como resignação até o final, sempre o final
Então, quando descobrimos que não poderíamos fazer sentido juntos
Bem, você disse que ainda seríamos amigos
Mas vou admitir que fiquei feliz que tudo acabouAgora você é apenas alguém que eu costumava conhecer
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