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História As Bruxas da Noite - O terceiro irmão - História escrita por maevebell - Spirit Fanfics e Histórias
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História As Bruxas da Noite - O terceiro irmão


Escrita por: maevebell

Notas do Autor


1. Este capítulo contém gatilhos que envolvem mutilação e violência. As descrições podem ser gráficas e perturbadoras para algumas pessoas.

2. Quando às bruxas usam o nome "irmã" para se referir a outra, não é no sentido biológico, mas sim pelo senso de irmandade que existe em um coven ou clã.

3. Devido à ausência de nomes e detalhes das famílias do sagrado 28, tomei a liberdade de criar alguns personagens que compõem os membros dessas castas de "sangue puro". Em breve irei atualizar a lista de personagens originais.

Capítulo 30 - O terceiro irmão


 

[...] "ele olhou para as paredes como se falassem para elas também: — Não há nada que possa me matar, bruxinha. Eu consigo atravessar o Véu." As Bruxas da Noite,  cap 22.

 

"O terceiro irmão, procurado por anos pela Morte, sobreviveu até a velhice, quando finalmente tirou a Capa da Invisibilidade para entregá-la a seu filho, acolhendo assim a Morte como uma velha amiga." Relíquias da Morte, Cap 21.

A primeira professora a notar que o café da manhã era uma enorme distração foi Sibila Trelawney. Ela relatou ouvir sussurros de espíritos malignos dentro do castelo. Como de praxe, suas palavras foram recebidas com descrédito, delírios de uma bruxa louca que vomitava inconvenientes. Hagrid também tinha um mau pressentimento. Ao confrontar Minerva, a vice-diretora se recusou a dar informações e pediu que todos confiassem nela. Os demais docentes esconderam as feições preocupadas, conversando entre si.

Corujas voavam aqui e ali, esticando as asas, fazendo rasantes entre os alunos e as mesas de cada casa. Começavam a ficar agitadas, impedidas de retornar ao seus ninhos. Pouco a pouco os estudantes entendiam que nada parecia certo. 

Harry olhou volta. Encarou o espaço vago onde Elizabeth se sentava. Ele viu quando os Bellators escaparam ao lado de Malfoy. O que poderiam estar tramando? 

Ao lado dele, Hermione se remexeu quando um calafrio a atingiu. Granger suspirou e olhou para a comida fria. Tudo era perfeito e apetitoso, mas não se sentia bem. 

— O que você tem? — Rony estudou as feições dela, o pequeno traço de dor em seu rosto. 

Granger ficou tensa, a mão massageando a própria nuca. 

— Acho que não dormi direito. 

O ruivo não fez nenhuma piada ou comentário sarcástico. Estranhamente comeu mais quieto que o costume, preocupado com seus irmãos. O que Filch havia dito sobre Fred e George não poderia ser verdade. 

— Filch só disse aquilo para te amedrontar. — Hermione puxou assunto depois de um silêncio estranho entre eles. 

Weasley fez um barulho de compreensão com a boca. A garota se remexeu em seu lugar novamente, algo claramente a incomodava no banco. Aquilo também chamou atenção de Harry que parou para observá-la. 

— Quer que a gente fale com a Sra Mcgonagall? Você vai para a enfermaria e..

Não! — Hermione quase gritou. 

Os garotos se assustaram. Granger se recompunha, contorcendo-se e pedindo para que a deixassem em paz. Mais uma pra coleção de bizarrices daquele dia. 

────── •●• ──────

— Não irá me prender por muito mais tempo, diretor. 

O poltergeist acompanhava Dumbledore com olhos amarelos desafiantes. Estava preso em uma jaula de ferro, pequena o suficiente para caber o demônio apenas se ele ficasse agachado. As grades eram tão grossas quanto inquebráveis e o monstro agarrou-se nelas, revelando dedos ossudos e lívidos. Continuava a exibir os dentes em um sorriso macabro que prometia muita violência. 

— Enquanto eu for criatura deste castelo, nada pode fazer contra mim.

O poltergeist viu uma face do diretor que ele havia se esquecido ou jamais testemunhado em tanto tempo em Hogwarts. Com um comando de Dumbledore, as grades se tornaram mais grossas. A jaula, ainda mais claustrofóbica. 

— Me tire desta caixa, velho asqueroso. — o demônio rosnava, se debatendo inutilmente.

—Intrusos! Há intrusos no castelo! 

Gritos. Uma brisa fria soprou quando Nick-sem-cabeça rodopiou para perto do diretor. O corpo translúcido mal dava para ser percebido em sua forma fantasmagórica. Pirraça se calou. 

— O que houve? — Dumbledore olhou para cima. 

— Mortos — o fantasma revelou — E bruxas da morte. Com o professor Snape. 

O poltergeist sorriu de dentro da caixa. 

— Está difícil manter o morcego das masmorras na coleira, diretor? — as unhas da criatura raspavam no ferro da jaula, criando um ruído insuportável. 

— O que eles fizeram, Pirraça?

O poltergeist sabia que o diretor falava dos gêmeos Bellator. Fez suspense e continuou o arrastar das unhas, causando arrepios de agonia em Dumbledore. 

— Me tire daqui e conto tudo. 

— Conte agora. 

— Você quer barganhar?

— Já estamos barganhando. Pela sua liberdade. Tenho poder para fazê-lo viver na solitária por toda eternidade. Se não jogá-lo no véu antes.

Se pirraça fosse humano, estaria lívido de medo. Com sua presença que se moldava ao ar, ele apenas soltou um grunhido, deixando escapar  todo o seu ódio. 

— Você não ousaria... —  sibilou — Eu sou valioso para você...

— É isso que pensa?

Por trás do rosto benevolente e paciente de Dumbledore, havia um bruxo que também flertava com as artes sombrias e as ciladas das trevas. A jaula se fechou em barreiras de ferro como paredes sem janelas. Pirraça urrou. 

— Tire os alunos do castelo, diretor. Eles estão cheios de mortos. 

Alvo finalizou o feitiço e ouviu o grito distante do demônio. Ao comando dele, o cubo se encolheu ao ponto de caber na palma da mão. Dumbledore o enfiou no fundo do bolso e cruzou o Salão Principal, para dar a notícia aos alunos. 

────── •●• ──────

A atenção de todos foi capturada pela presença mais esperada daquela manhã: Dumbledore surgiu dos fundos, seus trajes formais de bruxo com a túnica púrpura e o chapéu pontudo. A presença dele fez todos automaticamente se calarem.

O diretor caminhou até o púlpito, sem cumprimentar os professores. A peça de ouro maciço, entalhada com as asas abertas de uma grande coruja, adornava o tronco do mago. Alvo parou diante dos rostos curiosos. 

— Bom dia a todos. Quero que prestem atenção no que direi agora. 

Silêncio absoluto. O diretor fez uma pausa antes de continuar: 

— Devem estar se perguntando o que estão fazendo aqui, incapazes de seguir a rotina normal neste dia de lazer. Tenho notícias preocupantes para dar a vocês: Uma peça antiga de poder mortal foi acidentalmente aberta em Hogwarts. 

Burburinhos. Uma onda alarmante percorreu todo o lugar, garantindo mais arrepios na coluna de Granger. 

— Já localizei os responsáveis. — a voz forte de Dumbledore sobrepôs às muitas outras em conversas paralelas — Esclareço que não estão presos, embora recomende fortemente que não ultrapassem os portões do salão por enquanto.

— Não..— de onde estava, Hermione deixou escapar o lamento. 

Rony rapidamente pensou em seus irmãos.  Harry esticou o pescoço, o receio em seus olhos aumentava a cada palavra do diretor. Elizabeth também havia desaparecido. Com Malfoy. 

— O acesso ao corujal foi impossibilitado. Por essa razão,  suas corujas estão aqui. Distraiam-nas para que não fiquem entediadas. Devem ficar aqui por mais ou menos duas horas até que tudo seja resolvido. Há assentos e leitos nos arredores, livros e comida. O acesso às comunais também está fora de questão. 

Os alunos ainda absorviam a notícia quando o mais velho dos Nott levantou a mão e Dumbledore o encarou, dando permissão para o aluno falar. 

— A regra serve para a Grifinória? 

Troy* era um aluno do quinto ano, conhecido por uma rebeldia que preocupava os professores há anos. E lá estava ele, em pé e desafiando o diretor de Hogwarts. A mesa da sonserina ficou atenta. Dumbledore o encarou: 

— O que disse, Sr Nott? 

— Os Weasleys estão fora do salão. Se a grifinória pode sair, as outras casas também podem. 

Deboche adolescente cheio de arrogância. Outros sonserinos e corvinos riram. Os lufanos estavam sérios e o grifanos parecia respirar. 

— DRACO TAMBÉM SAIU! VOCÊ É SÓ UM PERDEDOR, NOTT. 

A voz veio de Cedrico, na mesa dos lufanos. Em pouco tempo a casa inteira berrou, batendo palmas. O estopim foi quando os grifanos se juntaram ao coro, ovacionando. Nott avançou contra o time de quadribol inteiro que havia se posicionado à frente dos outros alunos da Grifinória. Confusão instalada tão rapidamente que as cores verde, amarela e vermelha se misturaram entre gritos e xingamentos. Diante daquilo, o trio também se levantou. Hermione se virou e levou as mãos ao ventre. Sentiu algo estranho estranho e pegajoso molhar sua calcinha. Ninguém notou quando ela se abaixou e olhou por baixo da saia. Havia sangue ali. 

Granger sabia o que era aquilo. Porém, era a primeira vez que acontecia. O terror e a vergonha a invadiram. Com o coração batendo forte, olhou para os lados e se encolheu, forçando-se a pensar em uma solução. Era um milagre ninguém ter notado. Como ela sairia dali para se trocar? 

Um estalo ressoou sobre eles. Todos se abaixaram por instinto, esperando o raio que não caiu. 

— Voltem para os seus lugares, agora. — Minerva não precisou gritar — Escutem o diretor e depois iremos ouví-los. Não somos animais selvagens, senhores. Mantenham a ordem.  

De fato, o silêncio era cristalino e profundo, mesmo que angustiante. Hermione já estava sentada, pernas juntas demais e congelada no banco. Granger tinha certeza que todos sabiam sobre seu mais recente segredo. E se sujasse o assento...

Entretanto, absolutamente todos olhavam apenas Dumbledore. Ele examinava Nott com tranquilidade. O garoto já havia perdido parte da postura arrogante. O diretor fez um último anúncio: 

— Os alunos que estão perambulando pelo castelo sem permissão fizeram uma escolha terrível, Troy. Qualquer tentativa de descumprir minhas ordens serão punidas. E certamente não preciso que fiscalizem o meu trabalho. Irei me reunir com alguns professores agora. 

Dumbledore mal se virou e o salão veio abaixo. Os alunos protestaram, todos juntos em buscas de respostas. Os professores se levantaram, prontos para o que quer que estivesse acontecendo. 

Remus surgiu da lateral. Ele era alto e seu terno, apesar de antigo e puído, lhe caía perfeitamente bem. O cabelo estava despenteado de forma natural e a cicatriz delicada na face passavam um ar despojado e rebelde. Lupin era observado com admiração pelos bruxos curiosos com o novo professor de D.C.A.T do ano de 1993. Hermione levantou um pouco depois. 

— Ei, aonde você vai? 

Potter e Rony viram a amiga atravessar o salão com cautela, rumo à mesa dos professores, a aproveitando a atenção que davam a Lupin. Harry conseguiu alcançá-la: 

— O que vai fazer? 

— Vou resolver algo, não me siga. — Hermione mal olhou para ele. 

Harry franziu a testa. 

— Ei..podemos te ajudar. 

— Deixa. Ela é doida. — Rony murmurou. 

A professora Mcgonagall estava no meio de roda de alunos que se debatiam para falar com ela. A vice-diretora respondia as perguntas e tirava dúvidas, negando qualquer pedido ou desculpa para sair do salão. Granger quase empurrou alguns colegas e praticamente mendigou por um segundo da atenção da professora. 

— Agora não, Granger. Sente-se. Todos. Agora! SENTADOS! 

Mais burburinhos. Protestos. Granger escondeu a frustração e sentiu os olhos arderem, limpando rapidamente as lágrimas enquanto voltava para o seu lugar sem dizer uma palavra aos amigos. 

────── •●• ──────

Arabella estava em seu quarto, na casa dos gritos. A quietude era uma prisão confortável que a impedia de sentir os terrores que aconteciam em Hogwarts. Estava diante de uma mesa, coberta com um tecido de veludo vermelho. Traçou um perfeito círculo de obsidiana negras no meio. 


Dentro do círculo foi colocada uma taça de prata, incrustada com obsidiana e rubis. A bruxa tirou um frasco da pequena bolsa e fitou o conteúdo carmesim. O sangue de sua irmã.


"Anassa Eneroi*, pela caverna do meu coração, me ajude a encontrar Regulus Arcturus Black.

Ela tinha muito sangue de Elise pois tentou salvá-la por dias. Prometera a si mesma jamais profanar a memória da irmã que não fosse em situações de desespero. As palavras tinham tanto poder que sua voz saiu cavernosa:

"Anassa Eneroi, pela caverna do coração, me ajude a encontrar Arcturus Regulus Black."

Regulus morreu amando Elise Bellator. Talvez sua alma ecoasse parte da paixão platônica que sentiu por ela. Amor. A mais poderosa das forças. 

"Anassa Eneroi, pela caverna do coração, me ajude a encontrar Arcturus Regulus Black."

O frio arrepiou sua pele quando algo se moveu no ar. Regulus estava na frente dela. 

"O arauto."

A melancolia em seu rosto era um contraponto interessante em seu semblante sério, o maxilar quadrado e o queixo bonito erguido para a bruxa. Mechas cacheadas desciam em sua testa e ele não tinha um olhar amigável.

— Precisa fazer uma escolha, nobre Black. — Arabella falou. 

Sentiu a curiosidade dele a devorar. Regulus era alto e elegante em vestes de bruxo. Nada indicava agressividade, exceto pelos olhos fixos nela. Tristes e enfurecidos. 

— Porque você me convocou? 

— Os filhos dela estão em perigo.

Regulus não se moveu. Parte da tristeza no olhar do fantasma se tornou gelo. 

— Eles atravessaram o véu. Preciso encontrá-los. — a bruxa falou. 

— E porque eu seria o seu mensageiro? 

— Porque será o fim do mundo, Regulus. Um mundo que você jurou salvar.

— Um mundo odioso que adoraria ser perfeitamente destruído. 

— Não quer se vingar? O Lord das Trevas deve pagar pelo que fez a você. 

As narinas de Regulus dilataram-se. 

— Não pretendo enfrentar outra vez o mar de mortos que virão, bruxa. A minha vida acabou com eles. 

— Não deixe acontecer. Me ajude.— Arabella rogou. Olhou para a taça, o sangue de sua irmã borbulhando com todas as intenções da bruxa sobre ele.

— Irá me dar algo em troca. 

Lambert ergueu os olhos no mesmo instante. 

— Qualquer coisa. 

────── •●• ──────

Quando Dumbledore saiu para conversar com o corpo docente, as quatro casas de Hogwarts se misturaram em grandes grupos de alunos curiosos e alarmados. As mesas desapareceram e o vasto salão se tornou um pátio escolar coberto. O céu no teto mostrava um dia levemente nublado, bonito, sem sinal de tempestade. Andorinhas coloridas voavam e pequenas fadas brilhavam, pousando nas tranças de algumas lufanas, para distraí-las. Mas nada funcionou: todos os grupinhos de alunos de todas as casas cochichavam teorias conspiratórias. Hermione, Rony e Harry estavam em um canto, encostados em uma parede e faziam o mesmo. 

Ninguém conseguia imaginar o que poderia estar acontecendo atrás das paredes do salão principal. Falava-se dos cães de três cabeças e até mesmo da câmara secreta. Granger por fim fez um barulho de lamento com os lábios. Seu cabelo estava diferente naquela manhã e ela se sentia um lixo. De fato, uma espinha doía em seu queixo. 

— O que houve com você? — foi Rony quem perguntou, notando o pavor nos olhos dela. 

 Hermione apertou os lábios e hesitou. 

— Urgência feminina. — fez uma pausa — Se é que vocês entendem. 

— Precisa ir ao banheiro? — Weasley encarou Hermione como se ela fosse um ser exótico do Lago Negro. A grifana apenas revirou os olhos.

— Você é um idiota. — bufou.  

Rony ficou em silêncio. Harry estava ao lado deles, completamente pensativo. Foi assim que a ideia gritou em sua mente. 

— Talvez eu possa ajudar. 

A capa da invisibilidade estava guardada em sua mochila desde o dia que fugiu da casa dos Dursleys. Por sorte decidiu levá-la consigo, planejando ir até as masmorras para visitar Elizabeth depois do café. Harry apertou a alça em suas costas. Os garotos entenderam.

────── •●• ──────

— Ele precisa de cuidados. — a anciã surpreendeu por fazer aquela sugestão. 

— Cuidamos dele depois. 

Nyneve parou na frente de Damien. O garoto tinha o olhar vago como se não estivesse mesmo ali. Eva, Snape e Van Grohger estavam atrás, lado a lado e atentos aos perigos que o castelo exalava. Lorien fazia a guarda dos outros andares do castelo. 

— Há quanto tempo sabe sobre o filho dele?  — a anciã perguntou a Eva.

Saunders ficou quieta, apenas olhando para frente. 

— Eu não sabia. — admitiu. 

Snape estava entre as bruxas, mas sua expressão permanecia inalterada. Pararam quando Damien indicou uma extensa parede. Não havia nenhuma porta oculta. 

— Quem disse a você que existe tal sala? — Snape deixou evidente o ceticismo naquela pergunta ao se aproximar da passagem. A parede não se moveu em nenhum momento. 

— Pirraça. — Damien sussurrou com receio.

— Isso foi antes ou depois de vocês fugirem do salão com a ajuda dele? 

— Antes. 

— O que sua irmã barganhou? — Snape tinha os olhos presos em cada linha entalhada na pedra, nenhuma marcando uma passagem ou abertura. 

— Eu não sei. 

Nyneve também observava. 

— Acreditamos em você, Damien. Agora deve nos mostrar exatamente tudo que fizeram para abrir a passagem. Elizabeth e Draco precisam da nossa ajuda. 

O garoto contou tudo que sabia. Exceto o que aconteceu quando atravessaram. O Lord das Trevas pediu segredo. Ele não confiava nelas. Deixaram que ficassem presos por tanto tempo....

Houve um silêncio, segundos de concentração. Nyneve ficou apenas parada, encarando a parede sólida que não se abriu em nenhum momento. 

— Algo o prende, Guardião. Porque ainda está evitando o inevitável? 

— Enigmas. — a voz imponente pesou entre todos — Eu não sei exatamente o que esperam que eu faça. 

Eva parou. 

— Ele está no castelo. 

Todos se viraram para a bruxa. Snape percebeu a mudança de expressão dela. Medo e pavor se misturavam em suas feições. Eva olhou para Snape, suplicante. 

— Lucius Malfoy. 

────── •●• ──────

Hermione criou o plano. Usar o vira-tempo estava fora de questão. Ela não descumpriria as ordens de Mcgonagall com algo que poderia lhe causar sérios riscos, piores que a expulsão. Mesmo que sentisse raiva da vice-diretora sequer parar para ouvi-la naquele momento delicado.  

Eles iriam se esgueirar até o fundo do salão, aproveitando que podiam transitar livremente pelo espaço. Os monitores estavam ocupados executando ordens extras e não sentiriam a falta deles. Com a mesa dos professores vazia, sairiam antes que  o professor Dumbledore retornasse da sala em anexo onde acontecia a reunião. O portão do salão estaria apenas fechado, mas sem as várias fechaduras mágicas que o protegiam. 

— Como tem certeza que não estará trancado? — Rony questionou. 

— O portão tem mais de mil tranças e fechaduras em um único feitiço de proteção. Apenas o diretor pode trancar e destrancá-las. Saberiam disso se tivessem lido "Hogwarts: A fortaleza da Magia", e "Hogwarts, Uma História." — disse presunçosa — Ou seja, Dumbledore abriu o portão há pouco tempo. Provavelmente irá trancá-lo novamente, ao sair. Temos esse intervalo. Mas posso ir sozinha enquanto vocês..

— Nem pensar. — o ruivo  se precipitou — Fred e George estão lá. Eu vou também. E se for algo sério lá fora? Quem vai te ajudar? 

Hermione revirou os olhos mais uma vez. 

— Vamos juntos.— Harry olhou de um para o outro — Ou ninguém vai. 

Não houveram objeções. 

— Se nos virem, estamos expulsos. — Granger quebrou o silêncio e  apertou os lábios para se certificar — Vocês dois entendem isso? 

Harry e Rony assentiram. 

────── •●• ──────

Lucius Malfoy. Walden Mcnair. Avery. Angus Nott. Severus Snape

Os nomes saíram da boca de Damien sem que ele pudesse controlar. Bellator murmurou cada um novamente, repetidas vezes. 

Van Grohger e Nyneve se entreolharam. 

— O que está acontecendo com ele? 

— Foi tocado pelo Lord das Trevas. Ele está perto... — Eva respondeu — Severo...Ele nunca descobriu o feitiço que Voldemort usou em Elise. E que a deusa de três rostos nos ajude se isso acontecer. 

Snape a encarou. Ele  permanecia com a expressão inalterada e era impossível invadir seus pensamentos. Encarava o menino Bellator em transe. 

— Me deixe ir. — ela pediu. 

— Já contou a ele o que Lucius faz? — Odilia interrompeu. 

Saunders se encolheu. 

— Mostre a ele, Eva. — Nyneve encarava Damien quando deu a ordem, acalmando-o. 

Saunders fechou os olhos e suspirou.  Tocou o ombro do pocionista. Snape retesou-se pelo toque inesperado e tão rápido quanto um piscar de olhos, viu-se num dos salões do Serpentia. No reflexo do piso de mármore escuro, reconheceu o cabelo longo e prateado de Malfoy. Estava em frente a uma desconhecida que não tinha mais que 18 anos e uma senhora ao lado. A mais nova se vestia para um ritual com uma longa capa branca cobrindo o corpo nu. Uma fita violeta foi amarrada em sua cintura, acima da púbis. Atrás dela, Eva retirava delicadamente o capuz  e expunha o cabelo castanho e o rosto excitado que encarava o bruxo. Eva se aproximou e sussurrou algo no ouvido da garota. Ela entreabriu os lábios e Lucius se aproximou. Parou a centímetros, uma pequena distância que fazia ambos respirarem o mesmo ar. Ele segurou o queixo delicado, massageando com o polegar os lábios rosados, deslizando-o para dentro. 

"Abra a boca. Sugue." 

A visão foi interrompida. 

— Isso não é...

— São usadas em rituais e sacrifícios. Já estão no mapa do tráfico sexual de trouxas, é assim que são escolhidas. Ele se alimenta da energia sexual delas. 

Nyneve sussurou um feitiço no ouvido do garoto. As pupilas verdes se tornaram brancas e ele se calou. Ela continuou a sussurrar palavras em uma língua desconhecida. 

— Me parece que você as entrega para ele. — Snape disse ainda observando a líder. 

— O meu papel é lançar uma semente do meu poder sobre cada uma. Se houver o que é necessário para se tornar uma Guardiã, a alma responde. — Eva disse impaciente, olhando para os lados como Malfoy pudesse chegar a qualquer momento. 

— E quando não? 

A bruxa comprimiu os lábios com raiva. 

— Nem sempre conseguimos salvá-las. Demônios do sexo são perigosos, Severo. — Nyneve interrompeu, mas ainda dando atenção total ao garoto, dando continuidade ao feitiço. 

— Vá para onde Potter está. Leve Damien com você. Proteja Harry como se ele fosse o garoto Bellator. 

Algo na forma como Severus falou o nome de Potter fez Eva assentir imediatamente. A ordem foi o bastante. 

— Não conte a ele. — Eva se despediu e pegou Damien pelo braço. Atordoado, Bellator não protestou. Os dois foram sugados para dentro de uma fumaça densa, desaparecendo. 

────── •●• ──────

No exato momento em que pularam para fora do Salão Principal, o trio sentiu um odor estranho e metálico. Estavam sob a capa da invisibilidade. E havia sangue no chão. 

— Puta merda.  — Rony via seu próprio reflexo em uma poça viscosa. Seus sapatos estavam literalmente mergulhados nela. 

Hermione congelou. A dor no baixo-ventre foi esquecida. Tanto sangue... ao redor, tudo estava muito quieto. O castelo parecia abandonado e escuro. Quase pularam com o barulho de um corvo que crocitou. Ele pousou na frente deles.

— Não mexam em nada. — Granger alertou com a voz baixa. 

Eles se apertaram dentro da capa, andando devagar para longe do sangue e do animal. Os sapatos já estavam sujos e o cheiro era insuportável. 

— Foi uma péssima ideia. — Hermione já tinha se arrependido — Vamos morrer. 

— Vamos para a comunal e nos escondemos lá. — Harry encarou as escadas, quase arrastando-os dali — Tudo vai ficar bem...eu acho. — finalizou, a voz trêmula e muita descrença. 

────── •●• ──────

Após o comando de Snape, Eva procurou Harry por mais tempo que podia. Aquilo a intrigava pois a cada aparatação, crescia a certeza de que o garoto não estava em lugar nenhum. Impossível


Era a terceira vez seguida que ela aparatava ao lado de Damien em busca de Potter. Parou em um corredor diferente, em um andar qualquer  do castelo e nenhum sinal do garoto. Na quarta vez, Damien vomitou sob uma poça de sangue escuro com as mãos nos joelhos e ofegou: 


— Pare com isso, filha da puta. — o garoto cuspiu no chão, sentindo o gosto amargo da bile na boca — O que está fazendo? 


Damien tão furioso que não percebeu os grunhidos de dor que vinham de dois inferis se arrastando no chão, atrás de uma coluna de pedra. Eva recitou o feitiço e foram incinerados de dentro para fora. 


— Aguente firme, garoto. 


Potter não estava em nenhum lugar. Mas não poderia estar morto, a bruxa tinha certeza que não. No entanto...escondido. 


— Interessante... — murmurou. 


Segurou o braço de Bellator pela quinta vez antes de sumir novamente. 


────── •●• ──────

Hermione observou pela pequena abertura da capa como os quadros e tapeçarias estavam vazios. Os bruxos que moravam ali haviam fugido, deixando os cenários solitários e remexidos. Um balanço se movia sozinho em um  jardim florido. A praça francesa da grande tela do terceiro andar estava deserta. Toalhas postas serviam frutas, tortas e bolos deixados para trás. A solidão tomou conta de tudo.

Filch surgiu ali.  A escada parou exatamente a tempo de vê-lo de costas pela minúscula abertura da capa. Harry também viu que madame Nora dar voltas no zelador. O velho deu um passo para trás, cambaleando como um bêbado.  

— Ele tá bem? — Rony cochichou. 

Se aproximaram movidos por uma curiosidade mórbida. Então Filch se virou. Hermione soltou um gritinho ao perceber que parte do rosto do zelador fora arrancada. Ele moveu a cabeça, perdido. Madame Nora permanecia próxima, mostrando os dentes em um silvo alto. Harry achou que pudessem ser vistos por ele, mas a capa não falhou. O velho se aproximou dos três, sem percebê-los. Hermione levou a mão à boca. 

O couro cabeludo dele era apenas bolo de carne e cabelo, molhados com sangue coagulado. Não tinha bochechas ou córneas. O lado esquerdo da face foi completamente destruído. Ou pior, mastigado. 

O clarão veio atrás e sangue pútrido jorrou. A cabeça de Filch caiu com um som surdo, parando ao lado dos garotos que congelaram. Nora miou algo, um grito quase humano de dor. Os três viram quando Lucius Malfoy surgiu logo depois. Ele mantinha a varinha apontada e então mirou no chão. Rony prendeu a respiração quando o bruxo passou bem ao lado dele, quase raspando na capa. 

Lucius se abaixou ao lado da cabeça e examinou os pontos terrivelmente feridos e a arcada dentária. Harry empalideceu. Nora se recusou a sair de perto, andando de um lado para o outro, miando e lambendo o braço do zelador. 

Assistiram o bruxo se levantar, a elegância de um aristocrata. Ela limpou a lapela do casaco e olhou ao redor, a caminho do sétimo andar. Potter pensou ter ouvido a frase "Estou chegando" sair dos lábios dele.

— Eu vou vomitar. — Rony avisou antes de despejar quase todo o café da manhã no chão, ao lado da cabeça cujo maxilar ainda se movia. 

────── •●• ──────


Poucos segundos depois que Eva e Damien se foram, Malfoy surgiu. O cabo da serpente de olhos esmeralda brilhou em sua mão. Estava abatido mas ainda se vestia como um lord inglês. Assim que viu Snape, a marca de ambos formigou levemente. Havia um elo entre comensais da morte. Malfoy deu um passo à frente, o olhar sério porém indulgente: uma cobra traiçoeiramente gentil. 


— O castelo está cheio de monstros. Quero apenas tirar o meu filho daqui. 


Um fio de prata brilhou na mão da anciã. O cordão rapidamente envolveu-se no pescoço de Malfoy e o acorrentou. Lucius sentiu uma pressão na nuca e  começou a sufocar. Olhou para Snape. 


—  Essa é a linha do seu destino. — a líder o saudou — O fio da vida que o impede de encontrar a morte. 


Malfoy ainda conseguiu lançar um feitiço que Snape rebateu rapidamente. O barulho ressoou na parede lateral, cujas lascas de rocha voaram. Poeira nublou como névoa em volta deles. 


—  Pare — o mestre de poções pediu. 


— Snape. — Lucius o chamou com a voz baixa.


Não demorou para o cordão deslizar pelo pescoço do bruxo e diminuir o aperto.


— Draco está em perigo. — o pocionista confirmou. 


A expressão de superioridade aristocrática de Lucius vacilou. 


— Onde ele está? 


Todos ficaram repentinamente em alerta quando ouviram alguém se aproximando. Snape apontou a varinha para o escuro. O som era de algo sendo arrastado, passadas incertas e compassadas. De longe viram uma mulher. A cada passo, notava-se com nitidez que havia uma abertura de orelha a orelha no rosto dela. 


Com um feitiço silencioso, Snape separou a cabeça do corpo do inferi. Antes que caísse no chão, virou cinzas.


— Draco e Elizabeth estão em um lugar oculto no castelo, além dessas paredes, deste mundo.  — Severo respondeu — Precisamos chegar até eles. 


A anciã permaneceu inabalada, controlando o fio da vida que estava em sua posse. Não deixou o escrutínio em Malfoy nem ao ouvir mais mortos se aproximarem, cegos e famintos.


— Eu não posso perdê-lo, Snape. — Malfoy posicionou a varinha no espaço onde os mortos surgiam, o fim do corredor — Eu não vou perdê-lo. 


Mais dois apareceram, atraídos pelos barulhos. Os corpos foram mumificados e era possível ver os ossos se movendo ao se aproximarem. As arcadas revelavam dentes longos que estavam prontos para rasgar carne. Nyneve mirou neles: 


RIGOR MORTIS! 


Os cadáveres ainda emitiam ruídos quando viraram pedra e depois poeira. Foram varridos pela brisa gelada que soprou em seguida. 


— Nyneve. — a anciã pediu por uma permissão — Uma horda. 


Nyvene ergueu o queixo, inspirando. Todos testemunharam atentamente a pequena multidão se formar nos dois lados do corredor, vindo até eles, sem chance de escapatória. O som cortou a quietude com gritos sussurrados de agonia se completando aos passos macabros que davam. As mãos dos cadáveres eram guias de um caminho cego, agarrando-se uns aos outros, cambaleando.


— Snape. Agora. — a líder falou rispidamente, uma ordem clara e impaciente. 


Nyneve queria que ele lançasse o seu patrono. Ela deu um grito forte e o mundo ficou parcialmente escuro quando os inferi se aproximaram. O ar denso e pútrido enjoou o estômago e Lucius conjurou chamas, o fogo poderoso incinerou dezenas. Foi tão rápido e agora se amontoavam mais e mais, pisoteando uns nos outros para chegar até eles. Severo não conseguiu ver a anciã e apenas vislumbrou Nyneve lutando com rapidez à frente, reduzindo tudo que via em cinzas. Os inferis apenas se multiplicavam, se aproximando, vindo de todos os lugares. 


— SNAPE! 


A luz branca inundou a visão. Um vento forte empurrou todos para longe. Os rosnados aumentaram e depois silenciaram. Quando foi possível ver, nada havia restado dos mortos.


Na passagem para a sala precisa, o mestre de poções viu os grandes tijolos se moverem. Piscou ao perceber que na verdade já havia passado, o portal se fechou em sua frente. 


E ele foi deixado para trás.   


────── •●• ──────

Harry, Rony e Hermione se encolheram atrás de uma estátua gigante de uma esfinge. Os mortos davam a impressão de passarem tão perto que eles prendiam a respiração a cada minuto. Por baixo do manto, ouviam os rosnados inumanos. Não tinham coragem ainda para olhar totalmente. 

No começo foram poucos, andando de forma estranha. Alguns pareciam guerreiros de outra era, mumificados. Ouviam o som das espadas e das pisadas no chão. Estavam tomando o castelo inteiro. Iriam matar todos.


Notas Finais


Anassa Eneroi: Epíteto de Hekate significa "Rainha dos Mortos".


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