– CAPÍTULO TRÊS –
Rufar dos Tambores da Guerra
Tanjiro e Sanemi aguardavam fora do escritório do mestre Gyomei, o segundo membro mais antigo da Ordem dos Corvos Negros, ao lado de Sakonji Urokodaki. A manhã recém-nascida refletia a imagem da desintegração de uma figura demoníaca sob os primeiros raios de sol.
Sakonji saiu da sala de mestre Gyomei, se aproximando para dialogar com eles.
– A história que vocês contaram ainda é difícil de absorver, mas eu convenci Gyomei a reservar um pouco de seu tempo para atender vocês – disse Urokodaki.
– Eu sei que isso pode parecer ilógico, mas o que testemunhamos é a pura realidade – explicou Tanjiro.
– Nunca vi esses tais onis, mas se Sanemi está convencido e afirma que a história é verdadeira, então vou dar um voto de confiança para se explicarem – respondeu Urokodaki, dando-lhes passagem para entrar.
Dentro, a sala era um pouco escura, repleta de estantes cheias de livros, sob o piso havia um enorme tapete preto com o símbolo dos Corvos da Noite desenhado em cinza, é um corvo em voo noturno onde atrás de si está a fortaleza e entrelaçado nas penas do corvo há as letras "C" e "N", representando vigilância na escuridão. Há também uma mesa centralizada com vários documentos e uma única janela atrás do assento de mestre Gyomei, a única fonte de luz.
– Sejam bem-vindos – saudou Himejima, convidando-os para se sentarem.
– Nos desculpe por incomodá-lo tão cedo, mas é um assunto muito urgente – disse Sanemi.
– Sim, Urokodaki me contou sobre o que vocês relataram – disse Himejima.
– Parece loucura, eu sei, mas é a verdade. Onis realmente existem – insistiu Tanjiro.
– E que provas vocês têm para sustentar essa alegação? – questionou Sakonji.
– Nós... – Tanjiro hesitou, sem saber como responder.
A reação inicial foi de descrença, exigindo provas. Contudo, a criatura enfrentada no último confronto havia sido desintegrada pela luz do amanhecer, tornando impossível apresentar evidências tangíveis.
– Infelizmente, não conheço bem a sua pessoa, Tanjiro Kamado. Portanto, não posso confiar totalmente em você – disse Himejima.
– Entendo – murmurou Tanjiro.
– Espere um momento. Kamado?! Você é membro daquela família de lordes do castelo de Glicínia? – exclamou Sanemi, surpreso.
– S-Sim, pedi ao mestre Urokodaki que não contasse a ninguém sobre isso – admitiu Tanjiro.
– Você é mesmo imprevisível – comentou Sanemi.
– Por outro lado, eu o conheço bem, Sanemi Shinazugawa. Presenciei sua chegada quando era apenas um garoto, até se tornar um membro insubstituível dos Corvos Negros – acrescentou Himejima.
– Posso garantir que não estou ficando louco. Estamos lidando com algo sobrenatural – afirmou Sanemi com seriedade.
– Por favor, acredite em nós – suplicou Tanjiro.
– Essa história toda parece totalmente insana – ponderou Gyomei.
– Como eu disse, não faz sentido – concordou Urokodaki.
– Mas acontece que eu mesmo vi um oni de perto, uma vez – revelou Himejima, surpreendendo a todos.
– O que disse ? – perguntou Urokodaki.
– Quando mais jovem, eu morava em um templo com algumas crianças órfãs e um monge bondoso que nos acolheu. Havia uma regra: não sair durante a noite. Em uma certa noite, um dos órfãos desobedeceu, e uma criatura chamada oni o seguiu até o templo, resultando na morte de todos, incluindo o monge. Fui o único que escapou, mas perdi a visão e ganhei essa cicatriz. Acusaram-me de causar a tragédia naquela noite, e por isso estou aqui – concluiu Himejima.
A revelação deixou todos atônitos, conferindo uma credibilidade inesperada à narrativa de Tanjiro e Sanemi. A empatia nascida do sofrimento compartilhado aproximou o Mestre Gyomei da compreensão. Tanjiro sentiu alívio por saber que Himejima acreditava na história deles.
– Quando perguntei sobre como veio parar aqui, você contou outra história – lembrou Urokodaki.
– Vocês jamais acreditariam em mim. Não queria ser rotulado de louco novamente – explicou Gyomei. – Vamos manter isso entre nós.
– Fico feliz que acredite em nós – disse Tanjiro.
– Espero que você seja um homem tão bom quanto seu pai em vida – acrescentou Himejima, indicando uma aceitação relutante.
– Acredite, eu tento ser – respondeu Tanjiro.
– Aliás, Tanjiro Kamado, tenho um chamado para você – anunciou Gyomei.
– E qual seria? – indagou Tanjiro.
– Você será enviado em sua primeira missão como membro oficial dos Corvos Negros. Esta missão será no Oeste, no Reino Mugen – revelou Himejima.
O nome "Mugen" para o reino foi inspirado na ideia de "infinito" ou "eternidade" em uma antiga língua, refletindo a crença de que sua prosperidade, cultura e história são intermináveis.
– Eu não entendo, por que enviá-lo tão longe? O que está acontecendo no Oeste? – perguntou Sanemi.
– O rei Muzan recebeu uma carta do rei Shinjuro, informando que seu filho mais novo, Senjuro Rengoku, foi sequestrado por um grupo que se diz apoiador do antigo rei Muzan. Shinjuro quer verificar se Muzan tem alguma ligação com esse grupo e pediu ajuda. Muzan prometeu cooperar, enviando um pequeno grupo para provar sua inocência e resgatar o príncipe – explicou Himejima.
– Tudo bem, mas por que nós, dos Corvos Negros, e por que ele? – questionou Sanemi.
– Com a iminente guerra se aproximando, Muzan manteve todos os guardas na cidade em alerta. Cabe a nós representá-los. Escolhi Tanjiro porque quero testar a eficiência dele. Como é um grupo pequeno e não representa uma grande ameaça, enviarei você, com, no máximo, mais quatro acompanhantes de rank baixo, para executar essa missão – disse Himejima.
Tanjiro levantou-se rapidamente, tentando simular uma expressão séria e firme, embora a ansiedade e aflição transparecessem em seu rosto.
– Pode deixar comigo – afirmou Tanjiro antes de sair da sala.
– Será mesmo seguro enviá-lo para lá? – questionou Urokodaki.
– Vamos confiar no garoto – disse Himejima, sorrindo.
Yashiro desferiu um golpe potente contra o estômago de Nezuko, arremessando-a com brutalidade para trás. Caída, ela abraçava seu corpo, tossindo e lutando para recuperar o fôlego.
– Levante-se, precisamos treinar seu corpo para que possa herdar os poderes e a vontade da Senhorita Tamayo – disse Yushiro com determinação.
– E-Eu estou bem... – murmurou Nezuko entre respirações entrecortadas.
Yushiro não se deixou comover. Afirmou que além dos treinos físicos intensos, seria crucial testar a força mental de Nezuko.
Nezuko, esforçando-se para se manter de pé, caía de joelhos exausta a cada tentativa.
– Pode desistir a qualquer momento. Você está sacrificando mais do que sua vida, está abrindo mão de sua própria humanidade – disse Yushiro, desafiando-a.
A resposta de Nezuko surpreendeu, revelando sua obstinação:
– Eu sei muito bem disso – disse Nezuko – Se esse é o preço para proteger quem amo, estou disposta a pagar, mesmo que signifique abrir mão da minha humanidade – disse Nezuko obstinada
O olhar de Yushiro refletia um misto de desdém e lembranças. Aquele olhar cheio de determinação e humanidade que Nezuko possuía, o faziam lembrar da época em que ainda era um humano. Ele era um jovem que sofria de uma doença terminal, estava prestes a terminar o ciclo da sua vida mesmo sendo tão cedo. Os médicos de seu vilarejo o diziam que não seriam capazes de curá-lo naquela situação, não haviam recursos naquela época para tratar sua enfermidade.
Então, foi quando ela apareceu para ele, Tamayo surgiu como um raio de esperança que brilhava intensamente. Ela lhe fizera uma proposta de se tornar um oni e ele logo a acolheu, decidindo segui-la por toda sua vida.
Mesmo que nunca mais pudesse andar livremente durante o dia por conta do sol, ele não se abalou por isso, pois Tamayo agora era seu sol.
– Quanta tolice. O treino está encerrado – disse Yushiro, virando-se para trás.
Nezuko viu nesse momento uma oportunidade de atingir um golpe em Yushiro pela primeira vez. Correu em direção a Yushiro, cerrando os punhos para atingir suas costas.
Entretanto, Yushiro antecipou seus movimentos, olhando-a nos olhos enquanto permanecia imóvel. Nezuko, subitamente, sentiu uma força sobrenatural repelindo-a com violência para longe, como se a própria gravidade a arremessasse para longe.
– Patética – ridicularizou Yushiro.
– I-Isso foi magia? – indagou Nezuko, sentindo a dor da queda.
– É Kekkijutsu. Uma arte demoníaca de sangue, algo exclusivo dos onis – explicou Yushiro.
– Eu também conseguiria fazer isso? – perguntou Nezuko, curiosa.
– Somente se você se tornasse uma oni. Essa é uma habilidade restrita a nossa espécie – respondeu Yushiro – Ah, antes que eu me esqueça… –.
Yushiro morde seu dedo, causando um pequeno ferimento fazendo seu sangue gotejar no chão. Nezuko fica intrigada sobre o porquê dele fazer isso. Até que Yushiro ergue seu dedo ensanguentado em direção a garota.
– Beba – ordenou ele, com uma expressão de superioridade.
– Sem chance – recusou Nezuko, fazendo uma careta.
– Esse é o único meio de se tornar uma oni. Você ingerirá uma gota do meu sangue diariamente, preparando seu corpo para a transformação. Quando julgarmos que está pronta, a Senhorita Tamayo concederá uma quantia generosa de seu sangue, completando a transformação – explicou Yushiro.
Receosa, Nezuko esticou a mão sob o dedo ensanguentado de Yushiro. Algumas gotas caíram em sua pele, Nezuko levou o líquido vermelho até sua boca, passando sua língua suavemente pelo local, ingerindo um pouco de seu sangue. Ela fez novamente uma careta enjoada com aquilo, não sentia nada após ingerir sangue de oni, deduzindo ser por causa da mísera quantia que consumiu.
De repente, uma aura pesada surgiu sobre o ambiente, pairando no ar e fazendo Nezuko se sentir pressionada ao chão, se questionando se era devido ao efeito de ter ingerido o sangue de Yushiro, causando essa reação intensa sobre si.– A Senhorita Tamayo está conduzindo experimentos novamente – informou Yushiro, notando o estado de Nezuko. – Agora entende por que não permitimos que viva conosco? Quando ela utiliza seus poderes, toda a floresta sente a pressão. Se estivesse conosco, provavelmente não sobreviveria.
A pressão no ambiente se dissipou, permitindo que Nezuko se recompusesse.
– Pode partir agora – disse Yushiro virando-se para trás e sumindo subitamente.
– Obrigada – susurrou Nezuko.
Nezuko tornou ao castelo pelo buraco em um tronco que usou para chegar a este mesmo local outra vez, se esgueirando pelo mesmo, através de um túnel que se formou no subsolo até o castelo. Chegando no castelo, Nezuko caminhava pelos corredores até seu quarto, pretendia tomar um longo banho para se livrar da sujeira acumulada do treinamento.
– Ora, ora, ora. Por onde você tem andado, cunhadinha? – provocou Ashitaka, irmão de Rui, ao vê-la.
– Ah, é você... – respondeu Nezuko, fingindo desinteresse.
Incomodado com a indiferença, Ashitaka a agrediu, esbofeteando-a e fazendo-a cuspir sangue. Em seguida, ele a puxou pelos cabelos, sussurrando ameaças.
– Reconheça seu lugar neste castelo. É apenas uma peça para entretenimento do meu irmão.
– S-Sim... – murmurou Nezuko, chorando.
Ashitaka a soltou por um momento, mas logo envolveu seu braço ao redor do ombro dela, levando-a até a janela.
– Veja isso. Tive uma ideia para decorar nosso castelo. O que acha? – perguntou, apontando para fora.
Nezuko, tentando enxergar através das lágrimas, viu algo que a deixou horrorizada. Em estacas compridas, as cabeças de sua família estavam empaladas, com a cabeça de Kie Kamado centralizada entre elas. Uma macabra exibição de troféus.
– Isso será um aviso aos nossos inimigos – declarou Ashitaka, saindo rindo.
Enquanto isso, Nezuko permanecia estagnada e encarando aquela visão perturbadora. Caindo de joelhos, pondo sua mão sob sua boca para conter os gritos que estavam entalados em si.
Nas águas agitadas do Mar de Sereias, a frota imponente refletia a autoridade do Rei Junichiro Kocho, soberano do Reino Morada dos Insetos. Seus navios, ornados com emblemas reais que brilhavam como jóias à luz da lua, delineavam a força e o poder do monarca do Sul.
O líder da família Kanroji leal braço direito do Rei Kocho, comandava a investida, seus olhos fixos no horizonte distante onde Glicínia aguardava, desafiadora. Os mastros ostentavam estandartes decorados com as insígnias da casa real, enquanto as velas tremulavam, impulsionadas pela vontade determinada do rei.
Junichiro fitava aquele reino, que outrora já pertencera seu pai. Glicínia, agora uma silhueta distante, era o alvo da ambição do rei. Seu plano era matar Muzan, assumir o reino e ter a posse do artefato que o antigo rei Muzan detinha,para que se tornasse mais poderoso. O Castelo Real, ponto focal de resistência, permanecia imponente, enquanto os olhos do Rei Kocho, mesmo à distância, pareciam perfurar as muralhas da cidade.
– Não esperava que viria a batalhar conosco, pensei que passaria a admirar a guerra de longe, com a bunda sentada no trono, lá no sul– disse Giyu, seu filho.
– Filho, há momentos em que um rei deve liderar pelo exemplo, não apenas pelos decretos. Esta batalha não é só minha; é de todo o reino – declarou o rei, com a firmeza de quem compreende o ônus da liderança.
– Que seja, qual é o plano ? – indagou Giyu – Creio que tenha um –.
– Enviaremos alguns navios para servir de isca. Eles pensarão que a batalha começou enquanto, na verdade, estamos indo atrás do reino, utilizando a passagem secreta que meu pai, quando comandava o reino, criou para situações como essa – explicou Junichiro.
Giyu arqueou uma sobrancelha, impressionado com a astúcia do plano, mas também ciente dos riscos envolvidos.
– A passagem secreta nos permitirá surpreendê-los. Enquanto a atenção deles estiver voltada para a falsa batalha, entraremos no coração do reino e cortaremos a fonte de seu poder – explicou o rei.
– E eu, o que devo fazer? – questionou Giyu, reconhecendo a necessidade de sua participação ativa.
– Você liderará uma unidade de elite, infiltrando-se nas linhas inimigas. Sua missão é desativar os canhões das muralhas inimigos. Sem essas armas, suas forças serão substancialmente enfraquecidas – disse Junichiro.
Giyu assentiu, concordando com a tarefa que lhe foi designada. Giyu secretamente coloca sua mão no bolso e retira um broche em forma de borboleta que fora dado pela própria Shinobu.
“ Garota, boba “ sorriu fraco, Giyu. Mas agora com mais um motivo para tentar voltar com vida ao reino
O cenário estava montado para uma batalha épica, onde a estratégia se entrelaçaria com a coragem, e o destino do reino seria decidido nos mares agitados de Glicínia.
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