— CAPÍTULO DEZ —
O eco do medo
A noite caíra sobre o reino de Mugen, trazendo consigo uma escuridão pesada e opressiva. O ar estava carregado de tensão, e o silêncio era quebrado apenas pelo som ritmado das botas dos guardas que patrulhavam as muralhas e os arredores do castelo. Todos sabiam que aquela não seria uma noite comum. A invasão de Glicínia, o temido exército de Muzan, estava prestes a acontecer, e cada soldado estava em alerta máximo.
Um dos guardas, um homem jovem e de expressão determinada, fazia sua ronda em volta do castelo, mantendo os olhos atentos a qualquer sinal de perigo. O brilho fraco das tochas lançava sombras dançantes ao longo das paredes de pedra, e ele apertava a empunhadura de sua espada, tentando acalmar os nervos.
Enquanto caminhava, algo chamou sua atenção: um vaso, ornamentado com um padrão intricado, estava no chão ao lado de uma das colunas. O guarda franziu a testa. Aquilo não deveria estar ali. Ele se aproximou, cauteloso, sentindo um arrepio subir por sua espinha.
— O que é isso...? — murmurou para si mesmo, olhando ao redor para ver se havia algum sinal de como o vaso poderia ter chegado ali.
Ao se abaixar para examinar o objeto mais de perto, o vaso começou a vibrar levemente, como se algo dentro dele estivesse vivo. O guarda recuou um passo, sentindo o coração acelerar. Antes que pudesse reagir, uma força invisível o puxou para dentro do vaso com uma rapidez assustadora. Seu grito foi abafado, e em um instante, ele desapareceu completamente.
O vaso, agora sem nenhuma anomalia visível, se contorceu e, de dentro dele, emergiu uma figura alta e esguia, coberta de escamas cintilantes. Gyokko, com seus olhos frios e cruéis, olhou para o imponente castelo à sua frente. Ele deu um sorriso distorcido, satisfeito com o início do caos que estava por vir.
— A guerra começou — murmurou ele, sua voz carregada de malícia.
Ele começou a se mover em direção ao castelo, sabendo que o exército de Muzan não estava longe. A noite de Mugen estava prestes a ser tomada pela escuridão e pelo terror, e Gyokko estava ansioso para desempenhar seu papel nesse massacre.
A lua cheia iluminava suavemente o quarto de Mitsuri, projetando sombras suaves nas paredes enquanto o vento noturno soprava gentilmente pelas janelas abertas. Ela estava sentada no tatame, os cabelos rosados e verdes caindo em ondas desarrumadas ao redor de seu rosto melancólico. Os últimos dias haviam sido difíceis, com o peso da guerra iminente e a incerteza do futuro esmagando seu coração.
Mitsuri suspirou, os olhos perdidos na luz da lua que banhava seu quarto. Ela mal tocara na comida que Shinobu trouxera para ela mais cedo, a fome substituída por uma sensação vazia e inquietante. Os ecos das conversas, das risadas e das preocupações dos outros guerreiros ainda ressoavam em sua mente, mas ela não conseguia se concentrar em nada que a tirasse daquela tristeza.
De repente, algo capturou sua atenção. Uma sombra sinuosa se movia pela janela aberta, lenta e silenciosa. Mitsuri piscou, tentando ajustar a visão à escuridão da noite, até que finalmente reconheceu o que estava vendo: Kaburamaru, a fiel cobra de estimação de Obanai.
A serpente deslizou pela borda da janela, avançando suavemente para dentro do quarto de Mitsuri, com seus olhos atentos e curiosos. Mitsuri se endireitou, surpresa pela presença inesperada.
— Kaburamaru...? — ela murmurou, observando a cobra se mover tranquilamente pelo chão, como se soubesse exatamente onde estava indo.
— O que você está fazendo aqui?
Mitsuri estendeu a mão com cuidado, e Kaburamaru se aproximou, enroscando-se suavemente ao redor de seus dedos. Ela sorriu levemente, sentindo a textura fria e suave das escamas da cobra em sua pele. No entanto, sua mente não pôde deixar de vagar para uma questão inevitável.
— Obanai... você está por perto? — sussurrou para si mesma, os olhos voltando-se para a escuridão além da janela.
A presença de Kaburamaru só poderia significar que Obanai estava por perto. Mitsuri sentiu o coração acelerar um pouco, uma mistura de esperança e preocupação se entrelaçando em seu peito.
Mitsuri abraçou Kaburamaru com delicadeza, como se a proximidade da cobra fosse um consolo silencioso, uma conexão indireta com Obanai que ela tanto estimava.
— Será que ele mandou você?
Mitsuri continuou a olhar pela janela, esperando por um sinal, uma presença na escuridão que lhe trouxesse algum conforto. Ela não sabia se Obanai estava por perto ou se Kaburamaru havia vindo por conta própria, mas naquele momento, a presença da pequena cobra foi o suficiente para acalmar um pouco a solidão que ela sentia.
Aqui está a cena ajustada, com o grupo conversando em um quarto do castelo:
---
A noite se desenrolava silenciosa nos corredores do castelo de Mugen. Dentro de um dos quartos iluminados por lamparinas suaves, Tanjiro, Nezuko, Zenitsu e Kanao estavam reunidos. O ambiente era aconchegante, com tatames dispostos pelo chão e janelas abertas deixando entrar a brisa fresca da noite. Nezuko estava sentada ao lado de Kanao, enquanto Zenitsu, mais animado, contava histórias de seus treinos, tentando manter o clima leve.
— Eu juro, Nezuko-chan, dessa vez eu consegui desviar de todos os golpes! — Zenitsu exclamou, gesticulando animadamente. — Estou ficando cada vez mais rápido, você não vai acreditar quando me ver lutando!
Nezuko sorriu de volta, seus olhos brilhando com admiração pelo entusiasmo de Zenitsu. Kanao assentiu silenciosamente, enquanto Tanjiro, sentado de pernas cruzadas, ouvia atentamente, feliz por ver seus amigos se distraírem, mesmo que por um breve momento.
— Você está indo muito bem, Zenitsu. Mas lembre-se, manter a calma é essencial — aconselhou Tanjiro, com um sorriso encorajador.
A tranquilidade do quarto era quase terapêutica, um raro refúgio em meio aos dias cheios de tensão que antecediam a invasão. No entanto, o clima leve foi interrompido pela chegada repentina de Muichiro Tokito, que abriu a porta sem aviso, sua expressão habitual de apatia marcando seu rosto jovem.
— Tanjiro, você viu o ferreiro Haganezuka? — perguntou Muichiro, indo direto ao ponto, com um tom que misturava impaciência e preocupação.
Tanjiro levantou-se de imediato, surpreso pela aparição de Muichiro e pela urgência em sua voz. Ele sabia que Haganezuka era um dos melhores ferreiros e essencial para manter as lâminas Nichirin em condições ideais, especialmente em tempos de guerra.
— Muichiro, o que aconteceu? Sua espada precisa de reparos? — Tanjiro perguntou, a preocupação nítida em seu olhar.
Muichiro fez um breve aceno afirmativo, mantendo seu olhar distante, mas havia uma ponta de inquietação que ele não conseguia esconder.
— Minha lâmina está precisando de ajustes, e ninguém viu Haganezuka recentemente. Não posso perder tempo esperando — respondeu Muichiro, impassível.
Tanjiro refletiu por um momento, pronto para ajudar.
— Claro, deixe que eu o acompanhe —.
— Não deveria estar fazendo algo mais importante agora, Tanjiro? — Muichiro o encarou, os olhos frios, mas com um toque de curiosidade. — Cuidar de um ferreiro desaparecido parece... irrelevante.
Tanjiro ficou em silêncio por um instante, ponderando as palavras de Muichiro. Então, ele sorriu, com a sinceridade e o otimismo que eram sua marca.
— Entendo sua preocupação, Muichiro, mas... quero ajudar você. Quero ser seu amigo — respondeu Tanjiro, olhando diretamente nos olhos de Muichiro. — Acredito que, ao ajudar os outros, nós também crescemos. E, mesmo que pareça algo pequeno, a bondade sempre retorna para nós, de alguma forma.
Muichiro ficou surpreso ao ouvir as palavras de Tanjiro. Uma lembrança distante pairou sobre sua mente: um homem de olhos gentis, com uma expressão serena, dizendo exatamente as mesmas palavras. A lembrança era vaga e envolta em névoa, mas ainda assim, o calor daquela memória fez algo mexer dentro de Muichiro. Ele se lembrou de um tempo em que acreditava na bondade dos outros, antes que as cicatrizes do passado endurecessem seu coração. Muichiro piscou, confuso com a onda repentina de nostalgia e emoção. Ele não sabia exatamente por que, mas as palavras de Tanjiro ressoaram profundamente.
— Você é estranho, Tanjiro. — Muichiro finalmente respondeu, sem mudar sua expressão, mas com um tom levemente mais suave. — Mas... obrigado, eu acho.
Tanjiro assentiu, satisfeito por ter plantado uma semente de confiança entre eles. O quarto, antes apenas um lugar de descanso, agora era testemunha de uma nova conexão sendo forjada, mesmo que silenciosa.
— Por que não se junta a nós, Tokito? — convidou Nezuko, gentilmente, apontando para o espaço ao lado deles.
Muichiro hesitou por um instante, considerando a oferta, mas antes que pudesse responder, Zenitsu, franziu o cenho. Ele ergueu a cabeça, enquanto tentava captar melhor o som que invadiu sua mente.
— Esperem... vocês ouviram isso? — Zenitsu perguntou, sua voz tingida de confusão.
Todos no quarto o encararam, confusos. Tanjiro, Kanao, Nezuko e Muichiro trocaram olhares, mas nenhum deles parecia perceber o que Zenitsu captava.
— Não ouvi nada, Zenitsu — respondeu Tanjiro, tentando acalmá-lo. — O que você ouviu?
Zenitsu não respondeu de imediato; seus sentidos estavam focados no som que só ele podia captar. Era como um zumbido, algo que se intensificava, trazendo uma sensação de perigo iminente. Antes que pudesse explicar melhor, uma sombra projetou-se contra a luz da janela. Todos os olhares se voltaram para o canto do quarto, onde uma figura grotesca se materializou, espreitando pela janela aberta.
A criatura era um oni de aparência aterrorizante: tinha pés de pássaro com garras afiadas e asas que se estendiam em um arco ameaçador. Seu corpo era esguio, com escamas que refletiam a luz da lua, e olhos vermelhos que brilhavam com uma fome insaciável. O oni soltou um grito estridente, um som ensurdecedor que perfurou o ar, como se mil lâminas de vidro se quebrassem ao mesmo tempo.
— Cuidado! — gritou Tanjiro, instintivamente puxando Nezuko para trás.
O som devastador atingiu todos como uma onda de choque, destruindo as paredes do quarto. A força do grito do oni foi suficiente para rachar o chão de madeira e estilhaçar as janelas, lançando cacos de vidro e destroços em todas as direções. Kanao cobriu os ouvidos, tentando bloquear o som ensurdecedor, enquanto Zenitsu, apesar do terror estampado em seu rosto, conseguiu se colocar na frente dos outros, os dentes cerrados em concentração.
Muichiro, mesmo surpreso, foi rápido em se colocar na defensiva. Ele puxou Tanjiro para longe dos escombros que caíam, os dois caindo no chão com o impacto.
— O que é isso?! — exclamou Kanao, levantando-se com dificuldade, seus olhos fixos na criatura alada que continuava a emitir seu som destrutivo.
Nezuko, mesmo atordoada, se posicionou ao lado de Tanjiro, seus olhos flamejando em um misto de coragem e fúria. Era a primeira vez que viam um oni com aquela aparência, uma criatura cuja presença não apenas ameaçava suas vidas, mas também o próprio castelo.
Zenitsu se levantou rapidamente, apesar de tremendo. Ele sabia que precisava agir antes que o oni lançasse outro ataque.
— Preparem-se... ele vai atacar de novo! — avisou Zenitsu, o desespero em sua voz não apagando a coragem que se manifestava em seus movimentos.
O oni lançou outro ataque agudo, desta vez ainda mais feroz, destruindo quase tudo naquele quarto que fora reduzido a escombros.
A atmosfera no quarto devastado do castelo de Mugen era opressiva, marcada pelo som dos escombros caindo e pelo riso sinistro do oni Urogi, cujas asas cortavam o ar como lâminas afiadas. Ele caminhava lentamente entre os corpos caídos de Nezuko, Tanjiro, Kanao e Zenitsu, cada um deles inconsciente após o brutal ataque que os havia lançado contra as paredes e o chão. Urogi exalava uma satisfação perversa, seus olhos predadores brilhando na penumbra.
— Tsc... e eu que pensei que encontraria resistência aqui — Urogi debochou, sua voz um misto de desprezo e diversão. — Se todos são fracos como vocês, essa invasão vai ser fácil demais. Muzan-sama ficará satisfeito.
Ele se aproximou de Zenitsu, chutando levemente o corpo inerte do jovem caçador, enquanto seu riso ecoava pelo espaço destruído. Urogi se deleitava com o caos que havia causado, suas asas batendo suavemente, espalhando uma nuvem de poeira e fumaça que tornava tudo ainda mais sufocante.
No entanto, no meio da fumaça densa, um som suave, mas determinado, se destacou: o som de uma respiração profunda, que cortava o ar como uma lâmina invisível. Urogi parou, seus olhos se estreitando enquanto tentava localizar a origem daquele som. A fumaça lentamente começou a se dissipar, revelando uma figura de pé no meio da destruição: Muichiro Tokito, empunhando sua espada com firmeza.
Muichiro estava ferido, sua respiração era pesada, mas seus olhos mantinham um foco letal. Ele se levantou, a luz da lua refletindo em sua lâmina Nichirin, como se ela fosse feita das águas mais cristalinas. Sem hesitar, ele apontou sua espada na direção de Urogi, uma determinação fria emanando de cada movimento seu.
— Kasumi no Kokyu: Shi no Kata: Iryūgiri! — bradou Muichiro, sua voz ressoando como um trovão no silêncio que se seguiu.
Antes que Urogi pudesse reagir, Muichiro avançou com uma velocidade assombrosa, cortando o ar em um arco preciso. A técnica de respiração foi executada com uma precisão implacável, a espada cortando o vento com tanta intensidade que parecia dividir o próprio espaço ao seu redor. Urogi, pego completamente de surpresa, mal teve tempo de entender o que estava acontecendo antes de sentir o fio da lâmina atravessar sua carne e ossos.
O golpe foi certeiro, cortando a cabeça de Urogi em um único movimento. A expressão de choque do oni se congelou enquanto sua cabeça voava, separada do corpo. Seu sorriso debochado foi substituído por uma expressão vazia enquanto o corpo decapitado desmoronava no chão, as asas batendo uma última vez antes de cederem, inertes.
Muichiro ficou de pé, ofegante, enquanto observava a cabeça do oni rolar pelo chão, seus olhos ainda fixos no inimigo derrotado. Ele respirou fundo, acalmando seu coração acelerado. Ao redor dele, o caos havia se silenciado momentaneamente, mas o som da guerra ao longe ainda ecoava.
— Não vamos deixar vocês tomarem este reino... — sussurrou Muichiro para o oni decapitado, a determinação em sua voz imutável.
Enquanto a poeira se assentava, Tanjiro e os outros começaram a se levantar, ainda atordoados e feridos pelo ataque anterior. Tanjiro mal podia acreditar no que havia testemunhado. Os olhos dele estavam fixos em Muichiro, impressionado pela força e agilidade do amigo, que, mesmo em meio ao caos, conseguiu enfrentar Urogi e sair vitorioso.
— Tokito... você é incrível... — murmurou Tanjiro, com um sorriso admirado, sentindo um misto de alívio e respeito.
Muichiro, ainda ofegante, virou-se para ele com a testa franzida, tentando se certificar de que todos estavam bem.
No entanto, antes que qualquer um deles pudesse relaxar, algo perturbador começou a acontecer.
A cabeça decapitada de Urogi, que todos acreditavam estar fora de combate, começou a se contorcer no chão. Em uma visão horrenda, a cabeça começou a se regenerar, mas não como Urogi. Em vez disso, o que surgiu foi um oni completamente diferente, sua aparência distorcida e ameaçadora. Ao mesmo tempo, o corpo decapitado de Urogi regenerou uma nova cabeça, devolvendo a forma original ao oni.
Muichiro percebeu o perigo antes dos outros. Com uma expressão séria, ele se posicionou rapidamente, pronto para acabar de vez com a ameaça que ressurgia diante de seus olhos.
— Eles se multiplicaram... — sussurrou Kanao, incrédula, vendo o inimigo se transformar diante deles.
O novo oni que emergiu da cabeça de Urogi segurava uma arma incomum: um leque com a aparência de uma grande folha de bordo, brilhante e afiado como uma lâmina. O oni ergueu o leque com um sorriso sádico, pronto para mostrar o verdadeiro poder da sua nova forma.
— Parece que a diversão mal começou... — zombou o oni, balançando o leque em um movimento rápido e poderoso.
Muichiro avançou, decidido a não dar espaço para os inimigos, mas foi surpreendido pela força devastadora do golpe. Quando o leque foi balançado, um poderoso vendaval se formou, um ciclone de energia que se expandiu pelo quarto. A rajada de vento foi tão violenta que Muichiro foi lançado para trás com uma força brutal, seu corpo atravessando as paredes como se fossem de papel, despedaçando o que restava do quarto.
— Tokito! — gritou Tanjiro, desesperado, vendo o amigo ser arremessado como uma folha ao vento.
Os caçadores restantes tentaram se recompor rapidamente, mas a aparição do novo oni trouxe uma ameaça que eles não esperavam. A cada passo, os dois onis se mostravam mais cruéis e perigosos, suas presenças dominando o ambiente com um terror palpável.
Nezuko e Kanao se colocaram em posição de combate, tentando calcular a melhor forma de enfrentar os inimigos regenerados, enquanto Zenitsu, ainda tremendo, se posicionava ao lado de Tanjiro, pronto para qualquer coisa que viesse a seguir. A batalha havia se tornado ainda mais feroz, e o reino de Mugen estava prestes a enfrentar um caos ainda maior.
A tensão no quarto devastado só aumentava. Enquanto os dois onis, Urogi e Karaku, se deleitavam com sua força e crueldade, algo inesperado começou a acontecer. Nezuko, sentindo a pressão da batalha, liberou uma nova forma que nunca havia manifestado antes. Seu corpo cresceu, alcançando a aparência de uma mulher adulta, com músculos tonificados e uma aura ameaçadora. Marcas semelhantes a flores surgiram em sua pele, iluminando-se com um brilho intenso. Um chifre longo e afiado emergiu de sua testa, tornando-a ainda mais imponente.
Tanjiro observou sua irmã com um misto de surpresa e preocupação. Nezuko estava diferente, sua presença agora irradiava um poder avassalador. Ela se levantou, seus olhos brilhando com uma fúria contida, enquanto encarava os onis com determinação. Karaku, o novo oni com o leque, parecia alheio ao que estava acontecendo com Nezuko, concentrado em sua conversa animada com Urogi.
— Essa invasão vai ser um massacre! — disse Karaku, rindo enquanto girava o leque em suas mãos. — Muzan-sama vai nos recompensar muito bem!
— Sem dúvida! — respondeu Urogi, animado, suas asas se agitando de excitação. — Esses caçadores não têm chance contra nós!
No entanto, antes que pudessem continuar sua conversa, dois disparos ecoaram pelo quarto destruído, cortando o ar com um estrondo ensurdecedor. As cabeças de Urogi e Karaku explodiram quase simultaneamente, fragmentos de ossos e carne demoníaca voando para todos os lados. Os onis nem tiveram tempo de reagir, suas expressões de surpresa congeladas enquanto caíam ao chão, as feridas abertas emitindo um vapor negro.
Todos se viraram rapidamente para a origem dos disparos, e lá, no telhado do quarto, estava Genya. Sua silhueta se destacava contra o céu noturno, segurando sua espingarda ainda fumegante. O olhar determinado de Genya revelava que ele estava preparado para lutar até o fim.
— Vocês demoraram pra perceber — disse Genya, com um sorriso selvagem, recarregando sua arma com precisão. — Achei que iam deixar esses desgraçados deitarem e rolarem por aqui.
Tanjiro sentiu uma onda de alívio e admiração ao ver Genya. Ele sempre aparecia nos momentos mais críticos, pronto para agir sem hesitação. Nezuko, agora em sua nova forma, olhou para Genya e deu um leve aceno, reconhecendo a ajuda crucial.
Tanjiro observava atentamente, o coração disparado e a respiração ofegante. Ele sabia que a batalha estava longe de acabar.
Enquanto Karaku e Urogi se regeneravam, dois novos onis surgiram das suas feridas, como se fossem uma extensão maligna dos corpos mutilados.
Um deles, Sekido, emergiu com uma expressão de raiva incontrolável. Sua presença emanava uma aura de pura fúria, e em suas mãos segurava um bastão pesado, adornado com anéis de metal que tilintavam a cada movimento. Seu olhar transmitia uma agressividade feroz, como se estivesse prestes a explodir a qualquer momento.
O outro oni, Aizetsu, tinha uma postura mais contida, mas não menos ameaçadora. Em suas mãos, ele segurava uma lança longa e afiada, chamada Yuri, cuja lâmina reluzia com um brilho mortal. Aizetsu tinha um olhar melancólico, quase lamentando a própria existência, mas seus movimentos eram precisos e calculados, como um predador pronto para atacar sem misericórdia.
Tanjiro sentiu o suor escorrer por sua testa, a gravidade da situação se intensificando.
— Eles se multiplicam... — murmurou Tanjiro, apertando a empunhadura de sua espada com mais força. — Não importa quantas vezes os derrubemos, eles continuam surgindo...
Nezuko, ainda em sua forma avançada, rosnou baixinho, ciente do perigo que aumentava a cada segundo. Zenitsu e Kanao se preparavam, apesar dos ferimentos, determinados a continuar lutando.
Sekido ergueu seu bastão, apontando-o para Tanjiro e os outros, um sorriso de escárnio em seus lábios.
— Acham que podem nos deter? — ele provocou, girando o bastão que tilintava com um som ameaçador.
Aizetsu, por sua vez, posicionou sua lança com uma habilidade assustadora, movendo-se com a graça de um guerreiro experiente.
— É patético... — murmurou Aizetsu, sua voz fria e sem emoção. — Vocês lutam mesmo sabendo que não têm chance. Que triste.
Tanjiro sentiu a adrenalina correr em suas veias. Ele sabia que precisavam mudar de estratégia, ou a luta seria interminável.
— Precisamos encontrar uma maneira de detê-los definitivamente! — disse Tanjiro, os olhos determinados, dirigindo-se a Genya e Nezuko. — Não podemos continuar assim, ou o reino de Mugen cairá!
Porém, como um raio que rasgava o céu a sua volta, Zenitsu foi arrancado da batalha com uma violência brutal, seu corpo sendo envolvido por um raio negro que o puxou para longe, como um vulto que rasgava o ar ao seu redor. Ele foi arremessado para fora do campo de luta, rolando pelo chão até bater contra uma parede distante, gemendo de dor. Nezuko gritou desesperadamente, chamando por seu nome, mas ele estava muito longe para ouvir.
Zenitsu se levantou com dificuldade, seus músculos tremendo de exaustão e medo. O local onde ele havia caído era sombrio e desolado, distante dos ecos de batalha que ainda soavam ao longe. Seus olhos buscavam uma saída, mas antes que pudesse se mover, uma voz gélida e arrogante cortou o ar, ecoando ao seu redor.
— Que patético — disse a voz, carregada de desprezo. — Sempre soube que você era fraco, mas isso é pior do que eu imaginava.
Zenitsu congelou no lugar, seus olhos arregalados ao reconhecer aquele tom cruel e familiar. Ele se virou lentamente, cada fibra de seu ser tomada pelo medo, e ali, à sua frente, estava Kaigaku, seu antigo rival do tempo de treinamento com o mestre Kuwajima. Mas agora, Kaigaku era algo muito mais aterrorizante — um oni de feições assustadoras, com olhos negros como a noite e um sorriso sádico que parecia se deliciar com a angústia de Zenitsu.
— Há quanto tempo, bebê chorão — provocou Kaigaku, avançando alguns passos enquanto a escuridão ao seu redor parecia vibrar com energia maligna. — Nunca imaginei que seria tão fácil te encontrar... e mais fácil ainda te esmagar.
Zenitsu sentiu o coração acelerar descontroladamente. O choque de ver Kaigaku ali, transformado em um oni, era devastador. As lembranças de quando era humilhado e menosprezado por ele no dojo invadiram sua mente como um pesadelo que se repetia. Kaigaku sempre fora a sombra que o fazia duvidar de si mesmo, e agora, diante dele, essa sombra havia se tornado um monstro real.
— K-Kaigaku... — Zenitsu gaguejou, tentando firmar sua postura, mas o medo era avassalador. — Por que...?
Kaigaku o observava com desprezo, seu sorriso só se alargando ao ver o estado vulnerável de Zenitsu.
— Por que eu me tornei um oni? — Kaigaku zombou, cruzando os braços. — Porque eu quis poder, e me recusei a ser fraco como você. Muzan me deu essa força, algo que você jamais teria. Sempre esteve abaixo de mim, Zenitsu, e agora isso é mais verdade do que nunca.
Zenitsu tentou engolir o nó na garganta, mas a imagem de Kaigaku, agora com a aparência monstruosa e as cicatrizes de seu passado, o paralisava. Ele sabia que precisava lutar, mas todo o medo, as inseguranças e o desprezo que Kaigaku plantara em seu coração durante anos pareciam engolir sua coragem.
— Você não passa de um covarde, Zenitsu — Kaigaku continuou, sua voz fria e cortante. — E eu vou acabar com você aqui e agora. Vai ser divertido te ver implorar pela sua vida.
Zenitsu fechou os punhos, as lágrimas começando a se formar em seus olhos. O velho pavor o envolvia, mas ele sabia que não podia se dar ao luxo de ceder àqueles sentimentos agora. Não com o reino de Mugen em jogo, não com todos os seus amigos lutando por suas vidas.
A batalha entre eles estava prestes a começar, e Zenitsu precisaria enfrentar não só Kaigaku, mas também o próprio medo que sempre o perseguiu.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.