— CAPÍTULO DEZESSEIS —
Irmãos
Com a chegada de Giyu, Sanemi e Shinobu, uma chama de esperança se acendeu no âmago dos guerreiros que enfrentavam os temíveis demônios das emoções.
Sanemi e Giyu, ambos espadachins de habilidade incomparável, carregavam estilos de luta distintos — o vento impetuoso de Sanemi contrastava com a fluidez calculada de Giyu. Apesar das diferenças, seus golpes se entrelaçavam de maneira quase natural, como se fossem duas forças complementares de um mesmo fluxo mortal.
— A cara dele é bem medonha, resmungou Sanemi, apontando com desprezo para Zohakuten.
O chão estremeceu quando uma parte do corpo dos dragões de madeira invocados por Zohakuten se ergueu, colocando o oni em uma posição elevada e ainda mais protegida.
— Você, cabeça de algodão... — Zohakuten provocou, o ódio escorrendo em cada palavra.
— Do que você me chamou?! — A veia na testa de Sanemi saltou, prestes a explodir de raiva.
— Não se deixe levar por provocações, idiota. — Giyu lançou-lhe um olhar de advertência.
Zohakuten, contudo, continuou seu jogo psicológico, ignorando a tensão entre os caçadores.
— Pelos trajes, vejo que é um dos corvos negros da Glicínia, não é?
— E se eu for? — Sanemi respondeu, o olhar feroz.
Zohakuten inclinou a cabeça, como se a lembrança o consumisse.
— Tenho uma pergunta para você. Foi um dos seus que matou meu irmão, Urami, não foi?
Tanjiro, que observava a conversa à distância, sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Ele sabia a verdade — ele mesmo havia derrotado Urami. As memórias pesavam em seu peito.
Sanemi, percebendo a hesitação de Tanjiro, abriu um sorriso sádico.
— Esse é seu dia de sorte... Fui eu quem matou aquele merda.
Giyu soltou um suspiro discreto. Ele entendeu imediatamente: Sanemi estava jogando com a fúria de Zohakuten, atiçando o ódio do oni para desestabilizá-lo.
Com uma expressão de pura raiva, Zohakuten ergueu seus tambores e os golpeou com força, ecoando um som que parecia vibrar nas entranhas da terra. Descargas elétricas, semelhantes às de Sekido, rasgaram o ar, avançando na direção de Giyu e Sanemi em um turbilhão de destruição.
Os dois espadachins reagiram no último segundo, desviando com precisão e graça. Agora estavam prontos para o duelo. As respirações se sincronizavam, o ar ao redor deles pesado com tensão, enquanto cada movimento seguinte poderia ser a diferença entre a vida e a morte.
A batalha foi travada como uma dança violenta e implacável. Sanemi avançava como um vendaval de fúria, cada golpe da sua espada buscando não apenas ferir, mas dilacerar, como se sua lâmina fosse a personificação do ódio. Seus movimentos eram brutais e impetuosos, enquanto sua técnica de Respiração do Vento explodia em rajadas poderosas que arrancavam lascas dos dragões de madeira.
— Vou arrancar a cabeça desse desgraçado com minhas próprias mãos! — gritou Sanemi, desferindo uma sequência frenética de ataques.
Giyu, por outro lado, era um contraste absoluto. Seus golpes eram precisos, como se cada movimento tivesse sido pensado com antecedência. Ele usava a Respiração da Água com fluidez e elegância, desviando dos ataques como uma correnteza que encontra o caminho mais fácil entre as pedras.
Mesmo com suas personalidades opostas, os estilos dos dois se complementavam perfeitamente. Sanemi forçava os dragões a se exporem com sua agressividade selvagem, enquanto Giyu aproveitava cada brecha criada para golpear de forma certeira. Em questão de minutos, dois dos dragões de madeira foram derrotados, suas cabeças decepadas e seus corpos imensos despedaçados.
Por um momento, parecia que a batalha estava inclinando-se a favor dos dois. Mas Zohakuten, observando calmamente enquanto suas criações eram destruídas, moveu seus braços.
— Formigas persistentes.
Ele bateu seus tambores com mais força, e uma rajada violenta de vento semelhante às de Karaku se formou, avançando com a fúria de um tornado. Giyu e Sanemi tentaram resistir, mas foram pegos de surpresa. O chão sob seus pés tremeu e ambos foram empurrados para trás, perdendo o equilíbrio.
Sanemi rolou pelo chão, seus dentes cerrados em fúria. Ele bateu o punho contra a terra, frustrado por ter sido derrubado.
— Maldito! Eu vou acabar com ele!
— Calma, idiota — murmurou Giyu, se levantando e limpando um filete de sangue que escorria do canto da boca. Seus olhos estavam calmos, mas determinados.
— Se você continuar assim, não vai durar muito tempo.
Sanemi bufou, mas não recuou. As provocações de Zohakuten só alimentavam sua ira, e ele estava determinado a mostrar que não seria domado tão facilmente.
Zohakuten, ainda em cima de um dos dois dragões restantes, brandiu em direção a eles.
— Vocês morrerão antes do sol nascer.
Sanemi e Giyu trocaram um rápido olhar. Eles sabiam que precisavam coordenar seus ataques com mais precisão.
— Dessa vez, eu vou na frente — disse Giyu, assumindo a liderança.
Sanemi deu um sorriso enviesado.
— Só não me atrapalhe.
E então, eles avançaram novamente, lado a lado. Giyu liderava com uma ofensiva fluida, desviando dos ventos devastadores e encontrando brechas com ataques precisos. Sanemi o seguia como uma tempestade, esmagando tudo o que estivesse no caminho e forçando Zohakuten a recuar.
Genya, ensanguentado e com o corpo em frangalhos, se arrastava lentamente pelo chão, determinado a não sucumbir. Seus braços tremiam, e cada movimento parecia uma agonia, mas ele não parava. Seus olhos famintos encontraram a cabeça decepada de um dos dragões de madeira de Zohakuten. Com esforço, ele se aproximou, estendendo a mão trêmula até a carcaça.
— Preciso continuar... Não posso morrer aqui. — sussurrou para si mesmo.
Com dentes rangendo, ele começou a devorar a carne da criatura. A textura áspera e amarga queimava sua garganta, mas ele ignorou o gosto e a dor, focado apenas em sobreviver. Cada mordida parecia reacender uma chama dentro dele, e, aos poucos, ele sentia seu corpo começar a se regenerar. As feridas abertas começaram a fechar, e a força voltava a seus músculos enfraquecidos.
Além da cura, Genya sentia-se mais forte, talvez fosse o efeito de ingerir a carne de um oni poderoso, pensou ele.
— Isso é... ainda mais forte do que eu imaginei.
Com a regeneração completa e seus olhos agora brilhando com determinação renovada, Genya se levantou.
Uma enxoval de ataques são lançados em direção a Giyu, que calmamente se postura para defender.
— Mizu no Kokyu: Jū Ichi no kata: Nagi — todos os ataques foram friamente interceptados por sua lâmina, com uma força e precisão incrível.
Tanjiro assistia o confronto de longe, admirado pela aquela forma que ele nunca havia visto antes.
— Pensei que a respiração da água tivesse apenas dez formas — disse Sanemi.
— Eu mesmo a desenvolvi — respondeu Giyu indiferente e logo voltou para a batalha.
— Convencido — murmurou Sanemi.
Sanemi e Giyu avançaram contra os dois dragões restantes de Zohakuten, cada um encarando seu adversário com intensidade. O campo de batalha tremia com o peso das criaturas, e o ar estava carregado com a tensão de cada golpe que se aproximava.
Sanemi, como um vendaval impetuoso, partiu para cima com sua espada reluzente, a Respiração do Vento elevando-o a um furacão mortal. Ele se movia com violência, seus golpes eram rápidos e ferozes, cortando as grossas camadas de madeira do dragão.
— Ichi no kata: Jin Senpū・Sogi
As garras de ar comprimido arrancaram pedaços inteiros do dragão, derrubando-o com força no chão.
Enquanto isso, Giyu enfrentava o outro dragão com calma e precisão, seus olhos serenos, mas atentos. Sua espada dançava suavemente com a Respiração da Água, cada movimento fluindo como um rio inevitável. Ele deslizou sob as investidas do dragão e, com um movimento controlado, usou a Sexta Forma: Nejire Uzu, girando sua lâmina em um círculo perfeito. A espada se tornou uma corrente de água cortante, partindo as camadas externas da criatura com elegância mortal.
Enquanto Sanemi e Giyu ofegavam após destruir os dois últimos dragões de madeira, seus corpos flutuavam no ar, indefesos. Zohakuten se preparava para lançar um novo ataque, seus tambores ecoando como trovões ameaçadores. A eletricidade começou a dançar nas pontas de seus dedos, prestes a desabar sobre os dois.
— Acabou. — murmurou o oni com um sorriso de escárnio, seus olhos cheios de desprezo.
Porém, antes que ele pudesse lançar os raios, um disparo atravessou o ar, vindo da posição de Genya. O oni percebeu o ataque no último segundo e desviou por reflexo, mas algo estava estranho. A bala que Genya disparou não era comum — era feita com a carne de um oni.
Zohakuten lançou um olhar perplexo para a bala que havia passado rente ao seu corpo. Antes que pudesse reagir, os troncos de madeira começaram a brotar do projétil, crescendo rapidamente e se entrelaçando como serpentes vivas. Os troncos o envolveram, apertando-o com força e impedindo que ele movesse os braços para tocar seus tambores.
— Mas que feitiçaria é essa!? — Zohakuten gritou, se debatendo.
Genya, ainda ajoelhado, limpou o sangue da boca com o antebraço e se levantou lentamente. Seu corpo, antes mutilado, agora estava regenerado, e ele exalava uma aura brutal. Devorar a carne do dragão o havia fortalecido, tornando-o mais resistente e poderoso.
— Você não vai encostar um dedo neles. — murmurou Genya com uma voz firme, segurando sua arma com determinação.
Sanemi observou seu irmão com uma mistura de orgulho e surpresa.
— Genya… que bom!
Giyu, por sua vez, mantinha a expressão séria, mas seu olhar indicava alívio. Com Zohakuten preso, eles tinham uma abertura preciosa.
— Sanemi, é agora ou nunca — disse Giyu, reposicionando sua espada.
— Heh, tô bem ciente disso. — respondeu Sanemi com um sorriso selvagem, segurando sua espada com firmeza.
Enquanto Zohakuten lutava contra os troncos que o imobilizavam, Sanemi e Giyu avançaram juntos, coordenando seus ataques como uma tempestade perfeita. Suas lâminas brilharam sob a luz dos trovões distantes, cada golpe um reflexo da determinação dos dois.
Quando Sanemi e Giyu se aproximaram de Zohakuten, prontos para desferir o golpe final, o oni preso entre os troncos começou a contorcer-se em fúria. Seu corpo pulsava de ódio, e de sua boca semiaberta, um brilho amarelado intenso começou a emergir. A atmosfera ao redor deles pareceu estremecer, como se cada partícula do ar estivesse à beira de explodir.
— Isso... termina agora! — rosnou Zohakuten.
Antes que Giyu e Sanemi pudessem reagir, um som agudo e estridente explodiu da garganta do oni. Era mais do que um grito comum; era uma onda sônica devastadora, ressoando como o bater dos tambores mais altos e violentos. O ar tremeu, o chão se rachou, e as árvores ao redor se dobraram com a pressão.
Sanemi foi arremessado para trás como uma folha ao vento, batendo no solo com violência. Sua espada escapou de sua mão enquanto ele gemia, o sangue escorrendo de seus ouvidos. Giyu tentou resistir, firmando os pés no chão, mas a força implacável do grito o empurrou também, fazendo-o cair de joelhos e então tombar, inerte. Ambos estavam aparentemente inconscientes, seus corpos imóveis e a respiração fraca, enquanto filetes de sangue desciam de seus ouvidos e narizes.
Zohakuten gargalhava, ainda preso entre os troncos, mas triunfante.
— Fracos... todos vocês... — murmurou, com o eco de sua voz reverberando no ar parado e denso.
Por um instante, o campo de batalha mergulhou em silêncio, exceto pelo som das folhas balançando ao vento. A vitória parecia ao alcance do oni... ou assim ele acreditava.
— Irmão! — chamou Genya, preocupado.
— Droga ! — disse Kanao.
Zohakuten rugia, contorcendo-se em meio aos troncos que o aprisionavam, sua força monstruosa fazendo a madeira se partir pouco a pouco. Os estalos ressoaram pelo campo, até que ele, com um movimento explosivo, quebrou completamente o kekkijutsu de Genya, libertando-se da prisão de madeira.
— Acham que podem me subjugar tão facilmente?! — ele gritou, furioso, com os olhos flamejando de ódio.
Zohakuten mal teve tempo de se recompor quando sentiu uma presença rápida e furtiva atrás dele. Era como um sopro leve, silencioso, mas letal. Antes que pudesse reagir completamente, uma figura ágil surgiu das sombras: Shinobu Kocho.
Ele virou a cabeça no último instante, mas não foi rápido o bastante. A lâmina fina da garota brilhou na luz do luar enquanto ela cravava sua espada direto no olho direito de Zohakuten, perfurando seu crânio e avançando profundamente.
— Isso é pelo meu reino — sussurrou Shinobu, com uma frieza implacável nos olhos.
Zohakuten urrou de dor e fúria, a agonia devastando sua mente como uma chama voraz. Ele cambaleou para trás, segurando o rosto ensanguentado, mas o ódio em seu coração superava qualquer dor física. Num acesso de ira incontrolável, o oni libertou todo o seu poder ao mesmo tempo.
Relâmpagos como os de Sekido cortaram os céus, caindo com violência por toda a área. Rajadas de vento ferozes, iguais às de Karaku, varreram tudo ao redor, arrancando árvores e pedras do chão. Ondas cortantes e invisíveis passaram zunindo pelo ar, destruindo o que tocavam. E então, ele liberou o grito sônico, mais alto e poderoso do que antes, fazendo o chão vibrar e os corpos caídos sangrarem ainda mais pelos ouvidos.
Dragões de madeira emergiram novamente, ferozes e implacáveis, serpenteando pelo campo de batalha como bestas famintas. A escuridão parecia tomar conta do ambiente, à medida que o poder de Zohakuten se espalhava em uma tempestade de caos e destruição.
O campo de batalha estava tomado pela destruição, com os dragões de madeira rugindo e os relâmpagos estourando ao redor como uma tempestade furiosa. Enquanto Sanemi tentava se recuperar, um dos cortes invisíveis, similares aos de Aizetsu, disparou em direção a ele com uma velocidade mortal.
O tempo parecia desacelerar enquanto Sanemi se preparava para o impacto, mas antes que pudesse reagir, uma sombra se lançou à sua frente.
— Sanemi, não! — a voz de Genya ecoou em um grito desesperado.
Genya se interpôs entre o ataque e seu irmão, seu corpo se movendo em um instinto protetor. O corte atingiu em cheio, partindo seu corpo ao meio em um estalo horripilante, e a cena foi um golpe devastador para todos que presenciaram.
Quando Zohakuten finalmente pousou no chão, um arrepio percorreu seu corpo. A princípio, ele tentou ignorar a sensação, mas logo percebeu que algo estava muito errado. Os efeitos do veneno de Shinobu começaram a se manifestar, como uma onda fria que invadia cada fibra de seu ser.
O brilho ameaçador em seus olhos foi substituído por um vislumbre de desespero. Ele começou a derramar sangue, as gotas vermelhas manchando o chão sob seus pés, enquanto seu corpo tremia em resposta ao veneno que se espalhava por suas veias. Zohakuten lutava para manter o controle, mas cada respiração se tornava mais difícil, como se seu corpo estivesse sendo lentamente corroído de dentro para fora.
— O que... o que está acontecendo? — ele murmurou, a voz tremendo. A força de um oni, que antes era inabalável, agora se tornava uma sombra do que era. Ele tentou invocar seus poderes, mas sentiu a conexão se romper, como se um véu sombrio o separasse de sua essência demoníaca.
O que era uma batalha de vida ou morte agora se transformava em uma luta desesperada por sobrevivência. Zohakuten mal conseguia se manter em pé, seus membros vacilando, enquanto ele lutava contra a fraqueza que o envolvia como uma névoa sufocante. A fúria que antes dominava seu ser agora se misturava com a confusão e o medo.
— Não pode acabar assim! — gritou, tentando recuperar um pouco do poder que lhe restava, mas era em vão. O veneno de Shinobu o havia enfraquecido completamente, transformando-o em um mero reflexo de sua forma anterior.
Tanjiro acordou confuso, sua mente turva e seu corpo pesado. Ele piscou algumas vezes, tentando focar em seu entorno. As imagens do combate ainda dançavam em sua cabeça, mas havia uma dor profunda que o impedia de raciocinar com clareza.
— Tanjiro! — chamou uma voz familiar. Ele virou a cabeça e viu Nezuko ao seu lado, sua expressão preocupada e determinada.
— Nezuko... — murmurou ele, tentando se levantar. Apenas a ideia de se mover causava uma explosão de dor em seus músculos. — Eu... não consigo lutar... estou tendo dificuldade para ficar de pé.
Nezuko, percebendo a gravidade da situação, olhou para o campo de batalha. Então, seus olhos se arregalaram e seu tom mudou rapidamente.
— Olhe! Zohakuten está fugindo!
Tanjiro virou a cabeça para seguir o olhar de Nezuko e viu a figura de Zohakuten se afastando rapidamente, sua aura de poder ainda presente, mesmo debilitada. Um impulso de determinação cresceu dentro dele, mas a realidade de sua condição era esmagadora.
— Nezuko... não vou conseguir alcançá-lo... — Tanjiro disse, a frustração transparecendo em sua voz. Ele se sentiu impotente, mesmo diante da urgência da situação.
Então, como um relâmpago que corta a escuridão, uma lembrança surgiu em sua mente. Era uma conversa que tivera com Zenitsu, um momento em que seu amigo havia explicado entusiasticamente o funcionamento da Respiração do Trovão.
“ Se você canalizar toda sua força em uma parte do corpo, como as pernas por exemplo, e liberá-la como uma explosão, você se moverá rapidamente como um raio, mas é muito cansativo, por isso é uma técnica arriscada “ — as palavras de Zenitsu ecoavam em sua mente.
Uma nova determinação começou a tomar forma dentro de Tanjiro. Ele não precisava alcançá-lo da forma tradicional; poderia usar o que aprendeu. Com um esforço colossal, ele começou a concentrar sua energia, focando em cada respiração, tentando recriar a técnica que Zenitsu lhe ensinara.
— Nezuko, me ajude! — ele gritou, sua voz mais firme — Se eu conseguir reunir a força necessária, talvez ainda possamos pará-lo.
— Certo! — respondeu ela com prontidão.
No momento em que Tanjiro se preparava para usar a Respiração do Trovão, algo inesperado aconteceu. Os primeiros raios de sol começaram a emergir atrás das montanhas, iluminando parcialmente o campo de batalha. A luz dourada se espalhou rapidamente, criando um contraste vívido com a escuridão da luta.
Tanjiro, perdido em sua concentração, não percebeu imediatamente o que estava acontecendo, mas Nezuko, ao seu lado, começou a sentir os efeitos da luz. Ela olhou para o sol, e uma expressão de dor tomou conta de seu rosto. A luz vivida a atingiu em cheio, e ela imediatamente começou a gritar.
— Tanjiro! — Nezuko exclamou, seu corpo tremendo. — Está queimando! Eu... eu não consigo...!
Os olhos de Tanjiro se arregalaram em desespero ao perceber a situação. Nezuko, sua amada irmã, estava sendo consumida pela luz do sol, a única coisa que poderia ferir uma oni. Ele se virou para ela, horrorizado, enquanto a luz se intensificava.
— Nezuko, não! — gritou Tanjiro, sua voz ecoando com desespero. Você precisa se afastar!
Ele tentou se mover em direção a ela, mas seus músculos estavam exaustos, e a dor o atingiu como um golpe físico. Cada respiração era uma batalha, mas a ideia de perder Nezuko o impulsionava ainda mais.
Nezuko caiu de joelhos, as chamas do sol queimando sua pele. Ela olhou para Tanjiro com olhos cheios de dor.
As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Tanjiro enquanto ele a observava sofrer. Ele se sentiu impotente, lutando contra a inevitabilidade daquela situação. O sol estava nascendo e, com ele, a realidade de que Nezuko estava em perigo.
Desesperado, Tanjiro gritou para o céu:
— Eu não posso perder você! — Ele sabia que a batalha não poderia ser vencida se Nezuko sucumbisse à luz do sol. Ele precisava encontrar uma solução, e rápido.
Zohakuten olhou ao redor, em busca de um abrigo da luz do sol que já começava a se espalhar pelo campo de batalha. A luminosidade que antes parecia distante agora queimava suas costas, forçando-o a se mover. O calor se intensificava, e a dor tornava-se insuportável à medida que a luz expunha sua verdadeira forma, revelando a decomposição de seu corpo demoníaco.
Ele sentiu seus braços se desconectando de seu corpo, sua carne de tornava podre, efeito do veneno injetado por Shinobu
Um grito de frustração e desespero escapou de seus lábios, ecoando pela clareira enquanto tentava desesperadamente se afastar da luz.
Então, seus olhos caíram sobre algo que fez seu coração maligno acelerar: o corpo inconsciente de Kanao, caída no chão, sua respiração leve e serena, como se estivesse em paz. Zohakuten sorriu, um sorriso distorcido pela raiva e pela oportunidade. Ali estava uma chance de se regenerar.
— Ah, você é perfeita... — murmurou ele, se aproximando, os movimentos pesados e desarticulados.
Ele se agachou ao lado de Kanao, sentindo a atração pelo seu sangue e pela força que emanava de sua carne.
Tanjiro lutava contra a dor que pulsava em seu corpo enquanto tentava ao máximo proteger Nezuko da luz do sol que a queimava. Cada segundo que passava era uma batalha interna, a angústia se intensificava à medida que o calor do sol aumentava.
Então, Nezuko, com os olhos cheios de dor, virou-se para seu irmão e gritou:
— Tanjiro!
O coração de Tanjiro parou por um instante. Ele virou-se rapidamente, os olhos se arregalando ao ver a cena: Zohakuten se agachava sobre o corpo inconsciente de Kanao, as presas afiadas brilhando sob a luz do sol enquanto ele se preparava para devorar a jovem caçadora.
O desespero tomou conta de Tanjiro. Ele sentiu uma pressão crescente em seu peito, uma luta feroz entre a proteção que queria oferecer à sua irmã e a necessidade urgente de salvar Kanao, a que sempre acreditou nele e se tornou uma parte fundamental de sua vida. A cena se desenrolava diante de seus olhos como um pesadelo, e a cada segundo que passava, Zohakuten se aproximava mais de Kanao.
— Tanjiro! — gritou Nezuko, sua voz trêmula, como se pudesse sentir a luta interna de seu irmão. — Você precisa fazer algo! Não podemos deixá-lo fazer isso!
O dilema era cruel. Tanjiro olhou para Nezuko, vendo a dor em seu rosto, e então voltou seus olhos para Zohakuten. Ele sabia que, se deixasse Nezuko sozinha sob a luz do sol, poderia perdê-la para sempre. Mas Kanao estava em perigo, e a ideia de não agir enquanto Zohakuten se preparava para devorar a garota que tanto amava o atormentava.
— Eu... eu não sei o que fazer! — Tanjiro murmurou, a voz embargada pela emoção.
Ele fechou os olhos, respirando fundo. A imagem de Kanao prestes a ser devorada por Zohakuten queimou em sua mente. Ele não podia deixar que isso acontecesse.
Nezuko, com um olhar determinado e cheio de dor, chutou Tanjiro para longe para que ele se afastasse dela. O impacto do golpe o fez cambalear, mas, enquanto lágrimas escorriam de seus olhos, Tanjiro compreendeu a verdade por trás daquela ação. Sua irmã não estava se afastando por medo ou desespero; ela estava fazendo isso para que ele tivesse a chance de salvar Kanao. A luz do sol queimava seu corpo, e a dor de vê-la sofrer cortava seu coração.
— Nezuko! — gritou Tanjiro, mas sua voz foi engolida pelo desespero.
Mesmo com seu corpo ruindo pelas chamas, Nezuko ainda foi capaz de sorrir pela última vez por seu irmão, enquanto as lágrimas caíam de seus olhos.
— Deixo o resto em suas mãos — murmurou Nezuko.
Ele olhou para a cena devastadora: sua irmã, a única família que lhe restava, ardendo sob a luz do sol, seu corpo se contorcendo em agonia. Mas a última decisão de Nezuko não poderia ser em vão. Tanjiro se ergueu, a determinação preenchendo seu ser, lembrando-se das palavras de Zenitsu sobre como a respiração do trovão funcionava.
Tomando uma postura semelhante à do amigo, Tanjiro sentiu a energia vital fluir através dele. Com um rugido de raiva e dor, ele explodiu em direção a Zohakuten, utilizando a Respiração do Trovão, invocando toda a força e velocidade que lhe era possível. O desespero o impulsionava, e ele estava determinado a fazer justiça, não apenas por Nezuko, mas por todos que sofreram nas mãos do demônio.
Tanjiro avançou como um relâmpago, sua mente unida à lembrança de Nezuko e sua determinação ardendo como uma chama inextinguível. O campo de batalha estava em caos, mas ele tinha um único objetivo: derrotar Zohakuten e vingar a dor que causou à sua família.
Ao se aproximar do oni, Tanjiro respirou profundamente, canalizando sua energia e focando sua mente.
— Respiração do Trovão…— murmurou Tanjiro, seus músculos se movendo em perfeita sincronia, como se os relâmpagos dançassem ao seu redor.
A explosão de energia o lançou em direção a Zohakuten, que, sentindo o perigo, tentou desviar. Mas Tanjiro era rápido demais. Com um movimento ágil, ele cortou o ar, sua katana cortando a escuridão como um raio que rasga o céu. O brilho da lâmina refletia a luz do sol, criando uma aura quase mística ao seu redor.
Zohakuten, percebendo o ataque iminente, abriu a boca para gritar, mas Tanjiro não hesitou. Em um movimento fluido, ele se inclinou e desferiu um golpe poderoso contra o pescoço do oni. o som do aço cortando o ar ecoando como um trovão.
— AAAAAAAAAHH— gritou Tanjiro, a adrenalina pulsando em suas veias.
Zohakuten gritou de dor, sua carne podre se rasgando, mas ele não estava pronto para desistir. O oni convulsionou e tentou se regenerar, liberando uma onda de poder desesperado. Raios e ventos cortantes se espalharam ao seu redor, tentando afastar o caçador de demônios.
Mas Tanjiro não parou. Ele sabia que cada segundo contava. Fechando os olhos por um momento, lembrou-se de todos os momentos que viveu com sua irmã, de todas as lutas que enfrentaram juntos, do amor que sentia por ela. Ele sentiu sua presença ao seu lado, encorajando-o a continuar.
— HINOKAMI KAGURA: ENBU! — ele gritou novamente, seu corpo se movendo como uma tempestade. A katana brilhou intensamente em vermelho, envolto em chamas enquanto ele se lançava para a frente.
Tanjiro sentia sua lâmina afundar-se no pescoço de Zohakuten, sentindo a resistência da carne do demônio enquanto penetrava profundamente. O oni gritou, um som de fúria e desespero, enquanto os raios de energia elétrica dançavam ao redor deles, iluminando o campo de batalha em um espetáculo de luz e escuridão.
— ENBU ISSEN!!! — Com um movimento final, Tanjiro girou a lâmina, fazendo um arco de chamas, cortando a vida de Zohakuten de uma vez por todas. O oni estremeceu, seus olhos se arregalando enquanto a luz do sol penetrava sua essência, queimando sua carne e dissipando-o no ar.
Zohakuten caiu, e Tanjiro, exausto e ferido, se ajoelhou ao lado do corpo do oni. Ele olhou para o céu, onde os raios de sol finalmente emergiam, banhando a cena em uma luz dourada. O peso da luta se dissolveu, e o silêncio seguiu.
Sanemi despertou em um sobressalto, o mundo ao seu redor parecia turvo e distante. A dor pulsava em sua cabeça, mas foi um grito silencioso que cortou o ar e o fez olhar ao seu redor. Ele rapidamente se levantou, e seu coração parou ao testemunhar a cena diante de si.
Genya, seu irmão, estava ali, partido ao meio, o sangue jorrando e o corpo se contorcendo em agonia. Sanemi sentiu seu coração despedaçar, uma onda de desespero invadindo-o. Ele gritou o nome de Genya, mas a palavra saiu como um sussurro, sufocada pela dor que o consumia. O desespero se transformou em um clamor silencioso, um grito que implorava por um milagre.
— Genya! Não, não, não! — Sanemi caiu de joelhos, os olhos fixos no corpo mutilado de seu irmão. Ele queria gritar, queria lutar contra a inevitabilidade daquela cena, mas tudo o que podia fazer era observar enquanto a vida de Genya escorria entre suas mãos.
— Deus, não! Não me leve meu irmão! — Sanemi gritou, as lágrimas escorrendo por seu rosto enquanto ele se arrastava até Genya. — Por favor, não deixe que ele se vá!
Genya, com um esforço monumental, conseguiu levantar a cabeça. Ele sorriu, um sorriso fraco, mas cheio de amor.
— Sanemi... — sua voz era um sussurro, mas tinha um peso que atravessava o caos ao seu redor. — Eu sempre estarei ao seu lado. Você sempre foi mais forte do que eu. Lute, irmão. Lute por nós. Não se deixe abater...
A voz de Genya tremia, e Sanemi, com o coração pesado, percebeu que a força que antes iluminava o olhar de seu irmão agora estava se dissipando.
— Não, Genya! Não faça isso! Você não pode me deixar! — Sanemi implorou, a dor em sua voz cortando o ar como uma lâmina afiada.
— Eu... eu sou grato, Sanemi. Grato por tudo. Por ter você como irmão. — Genya respirou com dificuldade, suas palavras se tornando cada vez mais fracas. — Proteja os que ainda estão vivos. Você é o nosso único... a nossa única esperança.
Sanemi sentiu seu coração se despedaçar, uma tempestade de emoções o dominando. Ele segurou a mão de Genya, tentando dar-lhe força, mas o toque se tornou cada vez mais fraco, quase imperceptível.
— Genya, não! Não! — ele gritou, as palavras se transformando em um lamento agonizante.
Genya olhou para o céu, e então, como se finalmente entendesse, sorriu mais uma vez. — Eu sempre estarei com você, mesmo que não possa mais estar. Lembre-se de mim, Sanemi... e lute.
Com essas palavras, o corpo de Genya começou a se desintegrar, sua forma se desfazendo como poeira ao vento. Sanemi gritou, uma mistura de dor e raiva preenchendo seu ser, enquanto via seu irmão desaparecer diante de seus olhos.
— Não! Genya! — Sanemi gritou, caindo de joelhos, o desespero tomando conta de sua alma.
E assim, enquanto as últimas partículas de Genya se dissipavam no ar, Sanemi fez uma promessa silenciosa. Ele lutaria. Lutaria com toda a força que tinha, não apenas por ele, mas por Genya e por todos que não podiam mais lutar.
Kanao despertou lentamente, sua mente ainda embaçada pela luta e pelo cansaço. Quando seus olhos se ajustaram, ela viu Tanjiro em pé diante dela, uma imagem familiar que trouxe um alívio momentâneo. Mas algo na expressão dele a deixou inquieta. Ele parecia distante, como se estivesse em outra realidade.
— Tanjiro? — ela chamou, mas ele não respondeu. Em vez disso, ele se virou lentamente, seu olhar fixo em algo atrás dela.
Kanao acompanhou o olhar de Tanjiro e seu coração parou. Largadas ao chão, as vestes de Nezuko estavam ali, desfeitas e silenciosas, testemunhas de uma tragédia insuportável. O choque a atingiu como um soco no estômago, e seu mundo girou em torno de si mesma enquanto as lágrimas começaram a encher seus olhos.
Tanjiro, como se estivesse em um transe, se aproximou das roupas de sua irmã. Ele largou sua lâmina no chão com um clangor que ecoou na desolação do campo de batalha. Em um gesto de desespero, caiu de joelhos, pegando as vestes de Nezuko e as trazendo até seu rosto. As memórias de tudo o que viveram juntos — risos, lutas, momentos de alegria e dor — invadiram sua mente como uma torrente incontrolável.
O luto se transformou em um grito silencioso enquanto as lágrimas começaram a escorregar pelo seu rosto. Ele desabou, a dor em seu coração explodindo em uma onda de tristeza profunda. A sensação de perda o envolveu como uma névoa densa, e ele não conseguiu se controlar. Cada soluço era um reflexo da dor insuportável de perder a irmã que sempre esteve ao seu lado.
Kanao se aproximou dele, o coração pesado pela tristeza que via em seu amigo. Sem pensar duas vezes, ela o abraçou, envolvendo-o em um gesto de consolo. Tanjiro se deixou levar, encontrando um pouco de conforto na presença dela enquanto suas lágrimas molhavam os ombros de Kanao.
— Tanjiro... — ela sussurrou, a dor em sua própria voz misturada à dele. — Eu sinto tanto...
Tanjiro não conseguiu responder, a dor de perder Nezuko o sufocava. Mas no abraço de Kanao, ele encontrou um fio de força. Eles estavam juntos na dor, e isso, de alguma forma, fazia com que tudo parecesse um pouco mais suportável.
O Reino de Mugen havia vencido.
Mas, enquanto Tanjiro apertava as vestes de Nezuko contra o peito, com Kanao ao seu lado, a pergunta silenciosa pairava sobre o ar: valia a pena apreciar a vitória, agora que aqueles que amavam não estavam mais ali para compartilhá-la?
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