História As crônicas de Chen - O mundo é cruel.

Devo falar algo? Será melhor eu ficar calado? Devo dizer quem sou? Devo explicar? Eu não sei o que fazer. Não esperava que isso fosse acontecer.

Merda! Maldita hora que fui ser descuidado! Os meus instintos felinos falharam e não percebi que ele havia chegado.

Pior ainda, estou nu!

Tenho até medo do que esteja passando pela mente do Junmyeon, mas tenho certeza que a minha nudez é a última coisa delas.

— Ah...

Tentei falar algo, mas nada saiu. Droga!

— Q-quem é você? Por que está aqui? Explique ou chamarei a polícia!

Engoli a saliva e respirei fundo. Sentei-me com as pernas cruzadas e tentei demonstrar que não irei atacar ou fazer alguma coisa.

— Junmyeon, por favor, se acalme.

— Co-como sabe o meu nome?

— Porque convivo com você há vários anos.

— O quê? Nunca o vi antes! Pare de enrolar e diga logo quem você é!

— Tudo bem. Acalme-se, por favor! Primeiro, para você entender, preciso que se acalme e abra a sua mente para novas informações sobre o seu gato.

— O meu gato? Chen? — olhou para os lados, me procurando. — Onde está o Chen? O que você fez com ele?

— Não fiz nada com ele.

— Onde ele está?

— Você está olhando para ele.

— Quê? Pare de palhaçada! Irei chamar a polícia!

— Acredite em mim! Eu sou o Chen! Olhe para mim, não sou parecido com ele? — ele franziu as sobrancelhas e jogou as coisas no chão antes de começar a recuar. — O seu gato é preto e de olhos verdes, certo? Agora, olhe para mim! Meu cabelo é preto, meus olhos são verdes... — passei a mão pela garganta e senti a coleira que Yifan havia me dado. — Olhe! Essa coleira foi o seu atual namorado que me deu, Yifan.

— Você é um stalker? Algum cliente insatisfeito? Um... um... matador de aluguel? Está aqui para vingar alguém?

Argh! Que humano lerdo!

— Não sou nada disso! Preste atenção no que estou dizendo! Meu nome é Chen! Você deu esse nome para mim quando o Sehun me deu a você! Faz alguns meses que você se separou daquele cara de porta porque EU te ajudei a ver que ele estava lhe traindo com o Jongin! Pergunte ao Yixing! Ele irá confirmar tudo o que estou dizendo!

Junmyeon estava pálido e olhava para todo canto tentando me achar... bem, o meu eu gato, no caso.

Só há uma maneira de fazê-lo ver a verdade... e tenho medo do efeito que ela causará no humano.

Antes que Junmyeon fizesse seja lá o que for que ele ia fazer ao pegar o celular, me transformei em gato. No gato dele. No gato que ele tanto ama. Mas, ao me ver transformar de humano nu no gato preto e fabuloso — não que eu não seja na forma humana— dele, ele desmaiou.

Bufei e andei pelo sofá até vê-lo espatifado no chão.

Bem... acho que ele não vai acordar tão cedo. Certo? Certo. Ninguém resiste ao meu charme.

Estou fazendo piada, mas estou super tenso com a situação.

Alguém me socorre!

Voltei na forma humana e cruzei os braços enquanto pensava no que fazer.

Não posso simplesmente ignorar o que houve e fingir que nada aconteceu, ele irá se lembrar de mim e, infelizmente, não tenho poderes para fazê-lo esquecer.

Bem... só tenho uma salvação, e ela se chama: Zhang Yixing.

Peguei o celular da mão do humano, torcendo para ele não acordar, e rapidamente desbloqueei o aparelho — eu sabia a senha por causa dos meus momentos sendo o gato fofo pedindo carinho —, procurei pelo número do chinês e liguei.

Yixing atendeu e pensou que fosse meu dono, mas logo me pronunciei.

— Sou eu, Chen. Preciso de você aqui na casa do Jun, estou com problemas. — ele perguntou o que aconteceu. — Ele... me viu. Digo, ele me viu na forma humana e... para que ele não chamasse a polícia e entendesse que eu sou o gato dele, me transformei na frente dele e... bem... ele desmaiou. Estou com medo do que possa acontecer na hora que ele acordar. Por favor, venha pra cá o mais rápido que puder!

Suspirei ao desligar o celular. Yixing só vai fechar a clínica e vem pra cá.

Deixei o celular em cima do sofá e encarei o humano no chão. Se eu tentar pegá-lo para colocar no sofá, ele vai acordar? Bem, melhor não arriscar.

Comecei a andar pela sala e paralisei ao pensar que Yifan poderia chegar a qualquer momento. Ele vai ter um treco ao ver Junmyeon no chão.

Por favor, Yixing, chegue logo!

Para tentar me acalmar, fui até o quintal e sentei na beirada da piscina e fiquei olhando a água.

Quando senti o cheiro de Yixing, minutos mais tarde, levantei e corri até a porta. Ele entrou e parou ao ver o meu dono no chão.

— Eu falei que ele tinha desmaiado. — falei baixinho.

— Por que não o colocou no sofá ou na cama?

— E correr o risco dele acordar? Não sou louco... só um pouquinho.

Vi que ele revirou os olhos e se aproximou do meu dono.

— Junmyeon... Jun... — ele começou a chamar e olhou pra mim. Bem, na verdade ele me analisou da cabeça aos pés. — Acho melhor você ir colocar alguma roupa.

Ah!... verdade.

Bufei e fui pro quarto. Peguei uma camiseta que Junmyeon pouco usava e um short cinza que ele mais usa como pijama em dia de calor.

Assim que voltei pra sala, Junmyeon estava sentado no sofá e falava algo pro chinês ao seu lado.

— É... então... o que você viu é verdade. — Yixing respondeu. — Aquele rapaz é o Chen.

— Onde ele está?

Yixing apontou para mim e me senti mais tenso do que antes. Junmyeon olhou para mim e me analisou. Claro que reconheceu as roupas que eu usava.

— O seu gato, Chen, na verdade é um metamorfo.

Junmyeon o encarou.

— “Meta” o que?

— Metamorfo. Ele pode virar um gato ou humano.

— Mas... isso só existe em filmes!

— Na verdade, não. É raro de encontrar um, mas eles existem.

— Você já sabia que ele era um... isso?

— Já faz um tempo. Mais ou menos desde que adotei o Xiumin.

— O Xiumin é um metamorfo?

— Creio que não.

Por que o assunto desviou ao Xiumin?

Arrepiei ao ver Junmyeon me olhar.

— Por que não me contou antes?

Ele estava perguntando pra mim? É, ele estava.

— Porque... fiquei com medo da sua reação.

Junmyeon pareceu estar pensando em algo, então fiquei quieto e não me movi até ele voltar a olhar pra mim.

— Agora entendo. — inclinei a cabeça pro lado para demonstrar que não tinha entendido. — Agora entendo como as comidas somem quando não estou em casa, e outras coisas. Todo esse tempo, era você?

Sério que ele está preocupado com isso?

— Ah... sim. Desculpe, sou meio esfomeado.

— Hum...

Assim que ouvi o barulho de chave na porta, me arrepiei. Quando a porta abriu, Zitao entrou e logo atrás veio Yifan, que parou ao nos ver.

— Oi? Ah, Yixing, olá.

— Oi.

Yifan entrou e fechou a porta.

Zitao veio na minha direção e começou a me escalar para que eu o pegasse no colo. Ele deve ter percebido pelo cheiro que eu era o Chen.

— Jun, devia ter me avisado que íamos ter visita, eu podia passar no mercado e fazer o jantar.

— Fan, não é nada disso. — Yifan se aproximou dele e o beijou antes de sentar-se no sofá. — Que bom que você sentou, tenho algo para contar.

Yifan percebeu que Junmyeon estava estranho e olhou para Yixing e pra mim.

— Aconteceu algo? Você é? — perguntou para mim. Droga, já basta eu estar super tenso! — Ah! Zitao, deixe o rapaz em paz!

— Não tem problema. — falei. Mas, quando fui dizer meu nome, Junmyeon interrompeu.

— Então. — pigarreou. — Tenho uma coisa pra contar. Na verdade, nem eu estou conseguindo acreditar ainda.

— O que houve? Você está me deixando preocupado. Por acaso está me traindo?

O tom dele foi de brincadeira, mas me senti muito tenso. Ele realmente pode acreditar nisso, já que sou um “estranho” aqui e o clima está pesado, além de que ele é protetor — Yifan não chega a ser ciumento, só se preocupa com o Junmyeon.

— Hein? Traindo? Não, não! O Chen...

— O que tem o Chen? — olhou em volta para ver se me encontrava. E lá vamos nós... — Cadê ele? O que houve com ele?

— Não aconteceu nada, mas... descobri uma coisa.

Ok. Sinto que o Junmyeon não vai conseguir contar.

Dei um passo à frente e respirei fundo.

— Eu sou o Chen. — os três humanos olharam pra mim. — Bem, sim, literalmente o Chen gato preto. Olhe! Meus olhos são verdes, meu cabelo é preto e uso a coleira que você me deu, Yifan. — respirei fundo novamente e cai de joelhos. — Eu sou um metamorfo. Desculpe por não ter contado isso antes, mas tive medo. Não era pro Junmyeon ter descoberto. Eu queria viver com vocês sendo apenas o gato Chen, mas... aconteceu de o Junmyeon me descobrir ao chegar do trabalho. — suspirei. — Era isso o que ele queria contar.

Olhei para Yifan e ele parecia sério enquanto me encarava. Para a surpresa de todos, Yifan relaxou no sofá e soltou um “Aah!” e logo em seguida começou a gargalhar.

— Sério que você é um metamorfo? — assenti com medo. — Que daora! Já ouvi falar de vocês, mas nunca tinha visto um! Pode se transformar para eu ver? Estou curioso!

Hein?

— Está tudo bem pra você, Wu? — Yixing perguntou, surpreso.

— Mas é claro! Estou feliz de ter conhecido um metaformo. Mas, Chen, devia ter contado antes! — ele olhou para Junmyeon. — Por um momento achei que você estivesse me traindo.

Junmyeon fez cara de emburrado.

— Acho que você está me confundindo com outra pessoa. — murmurou, e a indireta foi entendida por todos.

Yifan pigarreou.

— Mas... É legal do Chen ser um metamorfo, não acha?

— Não.

Oi?

— Junmyeon, ele é o seu gato. — Yixing disse. — Nada mudou.

— Só o fato de ele poder se transformar em humano.

— Mas, Jun...

Junmyeon me encarou. Coisa boa não vem.

— Quero você fora da minha casa.

Eu perdi o ar.

Ele... está me expulsando?

— Junmyeon, você não acha que está sendo precipitado? — Yifan perguntou.

— Eu já dei a minha sentença.

Junmyeon levantou-se e foi para o quarto.

Yixing e Yifan discutiram alguma coisa, mas não ouvi por causa do choque.

Só voltei a prestar atenção no que acontecia quando Zhang colocou a mão em meu ombro e deu um pequeno sorriso.

— Não se preocupe, Chen. Você não vai ficar desabrigado, irei te levar pra casa.

— Eu não quero ir embora. Por favor, façam o Jun me deixar ficar! Eu não quero ir!

Nem percebi quando comecei a chorar.

Yixing passou as mãos em meu rosto para secar as lágrimas, mas logo novas escorreram.

Yifan se aproximou e ajoelhou ao meu lado.

— Chen, por mim você pode ficar, mas quem manda nessa casa é o Jun. Prometo que irei tentar fazê-lo mudar de ideia. Por favor, vá com o Yixing, fique com ele por enquanto, senão será pior.

— Você promete?

— Sim. Não irei descansar enquanto não conseguir fazê-lo mudar de ideia. Eu prometo, gatinho!

Assenti, concordando com aquilo.

Soltei Zitao, que ainda estava em meus braços, e levantei. Yixing passou um braço por meus ombros e me guiou até a porta.

Zhang teve de passar na clínica para deixar comida e água para os meus amigos antes de irmos para a casa dele. Nem voltei para a forma de gato enquanto estávamos na clínica, mas contei rapidamente ao Chany e ao Baek o que tinha acontecido, eu sabia que eles iriam entender.

Nós, cães ou gatos, entendemos o que os humanos falam, só fingimos não entender para poupar estresse.

Quando chegamos na casa, Yixing disse que eu podia ficar à vontade. Preferi nem retrucar dizendo que fico à vontade sem mandarem, não estou com humor para isso.

Xiumin logo veio correndo nos receber e o peguei para acariciá-lo, mas logo o coloquei no chão.

Zhang disse que ia preparar o jantar e Xiumin o seguiu.

Respirei fundo e olhei em volta para ver se aquele bicho horrendo dele estava fora do terrário.

— Ele está no terrário. — Yixing avisou ao me ver em alerta.

Sentei-me no sofá, mas logo tive de procurar alguma coisa para fazer para não começar a chorar.

Xiumin veio correndo segurando uma bolinha na boca e a soltou perto de mim, a peguei e joguei para que ele pudesse ir buscá-la.

Fiquei brincando com o filhote até a hora do jantar; em nenhum momento voltei à forma de gato.

Depois do jantar, Yixing me entregou uma toalha e uma muda de roupa para que eu pudesse ir tomar banho; e assim o fiz.

Na hora de dormir, Zhang disse que eu poderia dormir no quarto da filha dele, mas recusei logo que ele começou a falar. Por um momento ele havia esquecido que eu odiava aquela pirralha.

Falando nela, ela optou por morar com a mãe.

Bem, Yixing havia ficado chateado na época, mas por outro lado ficou aliviado porque mal tinha tempo para cuidar dela por causa da clínica. Ele preferiu deixar o quarto da filha do jeito que estava para caso algum dia ela quisesse ir visitá-lo; mas a pirralha demonstrava não gostar da Coréia, com isso o chinês já estava pensando em transformar o cômodo em outra coisa.

Seria legal se ele transformasse o quarto em um cômodo de brinquedos pro Xiumin, tenho certeza de que ele irá amar.

Falando no filhote, descobrimos no inverno que ele odeia roupinha. Eu até concordo com ele sobre isso, roupinhas só atrapalham, mas no caso dele foi cômico. Quando estávamos no inverno, em um dos dias que saímos pra passear com nossos donos, Yixing colocou uma roupinha de leãozinho nele, mas a toquinha era pesada e Xiumin ficava caindo pra frente toda hora, então ele pegou raiva de roupinhas e morde Zhang toda vez que tenta vesti-lo.

Escolhi dormir no sofá. Yixing arrumou o lugar para eu dormir e me desejou boa noite. Enquanto esperava o sono chegar, comecei a chorar.

Como Junmyeon pôde me mandar sair de casa? Eu continuo sendo o gato dele, não mudei em nada, agora ele só sabe a verdade.

Ele não me ama mais?

Xiumin percebeu que eu não estava bem e subiu no sofá, escalou as minhas costas e caiu todo atrapalhado ao tentar descer na minha frente. O peguei e o acariciei.

Ele dormiu comigo.

No dia seguinte, ao acordar, tive uma surpresa. Baekhyun e Chanyeol estavam na casa. Yixing explicou que era para eu não me sentir sozinho durante o dia e que no final da tarde os levaria de volta à clínica.

Antes de sair, Zhang pediu, quase implorou, para que Chanyeol não destruísse os móveis como havia feito com uma cadeira da clínica e, por segurança, fechou as portas dos cômodos para impedir que ele entrasse.

Claro que a responsabilidade de vigiá-los ficou por minha conta.

Passei a tarde conversando e brincando com eles, o que foi bom para que eu esquecesse um pouco o que havia acontecido no dia anterior.

Foi engraçado quando Chanyeol e Xiumin estavam brincando de caçar um ao outro, e o filhote deu uma mordida forte —sem querer— no rabo do labrador e começou a persegui-lo pela sala. Chany realmente havia ficado assustado com o filhote.

Como já disse várias vezes, só tem tamanho nesse labrador.

Yixing realmente os levou de volta à clínica no final da tarde, cuidou deles e voltou pra casa.

Como não tinha nada para fazer na casa, Yixing deixou que eu o acompanhasse na clínica, mas eu tinha que ficar na forma de gato. Claro que não reclamei disso, era bem melhor do que ficar no tédio e sozinho. Dependendo do dia, o chinês levava Xiumin pra lá.

Passei a ver Yifan quando ele levava Zitao para tomar banho ou pra fazer exame de rotina.

Antes que pergunte, a minha saúde está perfeita, como eu.

Yifan me disse que havia tentado convencer Junmyeon de me aceitar, mas ele continuava firme na decisão.

Conforme os dias foram passando, a clínica também passou a ser um tédio para mim por mais que eu fosse livre para entrar e sair quando quisesse.

Yixing deixava que eu, Baek e Chany saíssemos para dar uma volta quando ele não levava Xiumin pra clínica, senão o filhote ficaria tentado em nos seguir.

Bem, tudo virou um tédio.

Certa manhã, Yifan levou Zitao para tomar banho e saiu para o trabalho após entregá-lo ao amigo.

Achei que seria Wu quem iria buscá-lo, mas me assustei ao chegar no balcão para atender — sim, passei a ajudar Yixing, mas meu trabalho é só entregar os animais ao dono. — e ver Junmyeon esperando, e acho que ele também não esperava em me ver.

Acariciei Zitao e o coloquei no balcão para que o humano pudesse pegá-lo. Sem falar nada, Jun deixou o dinheiro em cima do balcão, pegou o gato, e apenas agradeceu antes de sair.

Ele estava tentando me evitar.

Chanyeol viu Junmyeon saindo da clínica e conseguiu escapar do cercado onde ele ficava interagindo com outros cães durante o dia. Junmyeon parou ao ouvir o latido e pareceu aliviado ao ver que era o labrador. Ele o acariciou meio receoso e continuou a ir para o carro.

Bufei.

Pulei o balcão com facilidade e chamei o labrador, mas ele apenas deu uma breve olhada pra mim e começou a correr atrás do carro.

Gritei para Yixing avisando que Chanyeol havia escapado e que eu iria buscá-lo.

Ainda em forma humana, comecei a correr para onde o labrador ia e o chamei, mas Chany estava focado no carro e me ignorava.

Eu não ligo dele ter escapado, ele já é acostumado com as ruas, mas Baekhyun não está junto para guiá-lo e impedi-lo de correr sem cuidado, então eu tenho medo de que ele possa se machucar.

O mundo é cruel.

Depois de dois quarteirões, Chanyeol ainda corria e eu já não aguentava mais. Correr na forma humana é cansativo.

Não sei exatamente como aconteceu, mas foi em um cruzamento. Quando vi, Chanyeol estava estirado no chão.

Transformei-me em gato, deixando as roupas pra trás, e corri até ele.

O motorista do carro que o atropelou, fugiu.

— Chany! Chany! — ele ainda estava acordado e chorava. — Vai ficar tudo bem.

Um carro deu ré até perto de nós e o homem que saiu foi Junmyeon. Ele agachou ao lado do labrador e analisou a situação antes de tirar o celular do bolso e ligar para Yixing. Jun contou a ele o que havia acontecido e desligou.

— Chen, preciso da sua ajuda para colocá-lo no carro. — ele me olhava nos olhos. — Rápido, Chen! — transformei-me e ele me olhou. Eu estava nu, mas essa era a minha última preocupação no momento. — Vamos ser rápidos antes que alguém te veja assim. 

Eu preferi não falar nada.

Ajudei-o a colocar o cachorro no carro e entrei. Voltei na forma de gato assim que o humano fechou a porta.

Junmyeon dirigiu rapidamente até a clínica, e Yixing com uma assistente correram para pegar Chanyeol, e o levaram para dentro.

Tudo aconteceu tão rápido que nem tive tempo de sair do carro. Jun voltou a dirigir comigo ainda dentro do veículo e, quando parou novamente, saiu do carro, pegou algo na rua e voltou.

Ele inclinou para o banco de trás, onde eu estava, e colocou as roupas, que eu usava antes de me transformar, em cima do banco.

— Acho que você precisa delas, hum?

Me transformei e ele se virou para frente, e comecei a vesti-las.

— Obrigado.

O vi me olhar pelo retrovisor, mas fingi não ter percebido.

Zitao pulou para onde eu estava e se esfregou em mim.

Junmyeon voltou à clínica e saímos do carro. Vi Baekhyun arranhando, desesperado, a porta da sala de cirurgia, querendo entrar, e o peguei no colo, e o acariciei para acalmá-lo.

Fiquei andando de um lado ao outro com o meu amigo nos braços enquanto esperávamos alguma notícia de Chany.

Os minutos passavam e nenhuma notícia chegava. Eu já não sei quem está tentando acalmar quem, eu ou Baekhyun.

— Desculpe. — ouvi a voz de Junmyeon. Parei de andar e me virei para vê-lo. Ao ver que tinha a minha atenção, ele respirou fundo. — Desculpe por não ter te aceitado e mandado você sair de casa. Yifan conseguiu me fazer ver que eu estava errado e tentei falar com você antes, mas recuei em todas as tentativas.

— Por que você me expulsou? Eu era o gato que você tanto adorava! Eu te amava, Jun!

— A-amava?

Ele ficou assustado? Quê?

— Não desse jeito, idiota! Todo animal de estimação ama o seu dono, e eu te amava mais que tudo! Até te fiz ver que Sehun o traía!

— Como você soube que ele me traía?

— O vi entrar no carro de alguém num dia que eu estava voltando de um passeio com Xiumin e depois Yixing me ajudou a identificar o Jongin.

— Zhang sabia?

Ops!

Bufei.

— Sabia. Ele também sabia sobre o meu segredo.

Junmyeon respirou fundo.

— Argh! Por que o idiota não me disse nada?

— Pedi para que não falasse nada sobre o Sehun porque eu não tinha certeza. Tentei pegar uma prova pra te mostrar, mas você é muito lerdo e a entregou para o Jongin!

— Prova?

Bufei. Bufei mesmo!

— Lembra que o Jongin corria atrás de mim porque eu tinha pegado um papel dele? Era um bilhete do Sehun pra ele. Pelo menos a dica do celular você entendeu, mas tive que quase quebrar o celular pra você ver.

— Desculpe se eu não entro na privacidade das pessoas!

— Problema seu! Mas foi graças a mim que você não precisou mais ficar com a galhada!

Ele demorou um pouco para perceber; mas quando percebeu, abriu a boca, indignado, e se preparou para me xingar, mas alguém saiu da sala de cirurgia e pigarreou.

Zhang nos olhava com uma sobrancelha arqueada.

— Chanyeol vai ficar bem, ele teve sorte de só quebrar uma pata e trincou duas costelas.

— Eu posso vê-lo?

— A cirurgia ainda não acabou, mas de noite eu já posso permitir que vocês o vejam.

— Por que não posso vê-lo antes? Baekhyun está quase tendo um treco!

Não só ele, mas eu também.

— Chen, não vai adiantar nada querer vê-lo antes, ele vai estar sedado.

— Mas... ele é meu amigo.

Yixing ia dizer algo, mas parou. Senti uma mão em meu ombro e olhei para ver quem era.

— Chen, é melhor esperarmos. — Junmyeon disse. — Vamos para casa, depois eu te trago de volta.

— Pra... casa?

— Sim. Também quero conversar com você. — ele olhou para Baekhyun em meus braços. — Pode levá-lo também.

Zitao miou e se esfregou nas pernas de Jun, provavelmente para lembrá-lo que estava ali, e foi pego no colo.

Olhei para Yixing e ele meneou a cabeça em positivo.

Concordei com Junmyeon e ele me levou até o carro.

No caminho, Kim ligou para Yifan e o avisou que estávamos indo pra casa. Ao chegarmos, Yifan havia acabado de chegar e estranhou de me ver com Baekhyun no colo.

— Aconteceu alguma coisa?

Junmyeon suspirou e o beijou na bochecha.

— Chanyeol foi atropelado. Os trouxe pra cá para se acalmarem e para conversar.

— Chany está bem?

— Yixing disse que ele teve sorte de só ter quebrado uma pata e trincado duas costelas.

— Tadinho! — olhou pra mim. — Ele vai ficar bem, Chen! — ele se aproximou e acariciou a cabeça de Baek, e o pegou. — Ele vai ficar bem, Baekhyun. Você deve estar preocupado, não é? Vamos fazer alguma coisa para comer, isso ajuda a distrair. — Zitao miou e andou na frente dele. Yifan parou e se abaixou para que ele pudesse pular em seu ombro. — Olá, parceiro! Está com fome? — Zitao esfregou a cabeça na dele em resposta.

Yifan... não sei como você não é gordo.

— Yifan vai cuidar bem do seu amigo. Você conhece a casa, fique à vontade. — Junmyeon fechou a porta e eu fui para o sofá. Olhei em volta e vi que as minhas coisas ainda permaneciam onde eu tinha deixado. — Confesso que sinto a sua falta. Chen... — ele sentou-se ao meu lado e me olhou enquanto falava. — Por favor, me desculpe. Fui um completo idiota por ter mandado você sair. Tenho uma dívida enorme com Yixing por ter cuidado de você nesse tempo. Por favor, volte pra casa, Chen.

— V-você quer que eu volte?

— Sim.

— Mas... agora você sabe a verdade...

— E estou te aceitando. Sei que será estranho no começo, mas vamos nos acostumar. Então, quer voltar?

MAS É CLARO QUE EU QUERO! Mas não vamos deixar ele saber que quero tanto assim.

— Sim! Eu quero voltar!

— Fico feliz que tenha aceitado. Mas... — CLARO QUE TINHA QUE TER UM PORÉM. — Teremos regras.

Bufei.

— Que tipo de regras?

— Ainda não sei. Irei pensar nelas e depois te falo.

— Tá. Eu posso te pedir uma coisa?

— Claro.

Bem... eu preciso tentar.

— Podemos adotar o Chanyeol e o Baekhyun? Eles não gostam muito de ficar na clínica, só ficam porque pedi e lá eles têm proteção, cuidados e comida. Sei que será melhor pra eles terem um lar.

— Não sei se será uma boa coisa ter um cachorro em casa, Chen.

— Chanyeol não faz mal a ninguém. Ele te adora e também adora o Yifan. Sei que você tem medo de cães, mas também sei que você já percebeu que ele não irá te atacar, caso contrário, você fugiria dele. Você adora o Baekhyun, mas não pode adotar apenas ele, os dois não ficam separados e nem quero isso. Por favor, Jun! Eles são meus amigos e já fizeram tanto por mim!

Junmyeon respirou fundo e pensou um pouco.

— Irei falar com Yifan primeiro, depois dou uma resposta.

— Está bem.

Ele se levantou e bagunçou o meu cabelo.

— Tente dormir um pouco. Eu te chamo para almoçar.

Concordei com ele e deitei no sofá.

Tentei dormir por vários minutos, mas tudo me perturbava. Porém, ao me transformar em gato, consegui dormir logo.

Não sei o motivo, mas já percebi que tenho mais facilidade de dormir em forma de gato.

Apesar de Junmyeon ter dito que me acordaria para almoçar, ele só me acordou ao final da tarde. Quando acordei com o chamado dele, vi Baekhyun dormindo ao meu lado. Zitao estava no colo de Yifan, que estava sentado na poltrona.

— Desculpe por acordá-lo só agora, você parecia bem dormindo.

Transformei-me e rapidamente vesti a roupa.

— Tudo bem.

— Então... falei com Yifan e concordamos em adotar os seus amigos.

— Sério?

Ele riu da minha felicidade.

— Sim, mas acalme-se. Teremos regras quanto a isso também.

— Regras, regras, por que os humanos adoram regras? Tem regra pra tudo!

— Ah... Regras servem para que tudo funcione sem bagunça.

— Não adianta muita coisa. — cruzei os braços e bufei. Para que regras se elas não funcionam? — Estou com fome.

— Quer ração ou comida? — arqueei uma sobrancelha e fiz uma cara óbvia. — Claro que é comida. Sempre preferiu comida. Mas agora tem de comer na mesa.

Bufei e levantei.

Sentei à mesa e ele me deu um prato de comida e um copo cheio de leite.

Baekhyun acordou e veio para o meu colo. Ofereci comida pra ele, mas não quis comer.

Como prometido, de noite, Yifan e Junmyeon nos levaram à clínica e esperamos um pouco até que Yixing permitisse que fôssemos ver Chanyeol. Ele avisou que o labrador tinha acordado há pouco tempo e havia tomado remédio.

Ao entrarmos, Baekhyun pulou de meus braços e correu até o Chany e deitou ao seu lado. Eu me transformei e aproximei.

Os humanos — Jun e Yifan — não ficaram por muito tempo e foram falar com Zhang.

— Yixing disse que você teve sorte. — falei. — O que deu em você de sair correndo?

— Eu queria falar com o seu dono. Queria dizer pra ele te aceitar de volta.

Quê?

— Chany... eu agradeço, mas... você é idiota, por acaso? Você é um cachorro, ele é um humano! — ele fez uma carinha triste. — Tá! Desculpe! Mas nunca mais faça isso, ouviu?

— Sim.

— Aliás, tenho uma notícia para dar, ou melhor, duas notícias. Primeiro, Junmyeon me aceitou; segunda, Junmyeon irá adotá-los. — Chanyeol fez um movimento brusco que até assustou Baekhyun. O que ele está tentando fazer? — Idiota, sossegue! Vai se machucar ainda mais! — o retardado começou a latir e logo os humanos chegaram correndo para ver o que estava acontecendo. Eu me transformei para poder falar com eles. — Juro que não fiz nada!

— Por que ele está latindo desse jeito? — Yixing perguntou.

— Só contei que eu ia voltar pra casa e que eles tinham sido adotados, só isso! Ele está chamando por você, Jun.

Junmyeon estranhou e aproximou, ajoelhando ao lado da cabeça do labrador. Chanyeol colocou a cabeça em suas pernas e começou a abanar o rabo todo feliz e a choramingar. Jun começou a acariciá-lo e a rir da felicidade dele.

Ainda defendo a ideia de que Chanyeol tem apenas tamanho.

Junmyeon e Yifan ficaram por mais uns minutos para acalmarem o labrador e, enquanto isso, ajudei Yixing a arrumar a papelada — carteirinha de vacinação e afins — para a adoção.

Na hora de ir embora, preferi passar a noite com os meus amigos e Junmyeon deixou.

Yixing avisou que teria de ir pra casa para cuidar do Xiumin e daquele bicho horrendo que ele tem, mas que voltaria para passar a noite de olho no labrador.

Chanyeol teve de ficar na clínica por uns dias e Yifan foi buscá-los (Baekhyun não saiu do lado do labrador por nenhum dia) quando foi liberado, já que meu dono estava trabalhando.

Uma das regras que Junmyeon impôs foi: serei responsável pela bagunça dos meus amigos.

Ou seja, estou ferrado.

Mas tudo bem, tenho certeza de que eles irão colaborar... assim espero.

A primeira coisa que Chanyeol fez ao chegar em casa foi marcar território... EU NÃO MEREÇO ISSO!

CÃES, POR QUE FAZEM ISSO? AAARGH!

Yifan riu da minha cara e foi pegar as coisas pra limpar a sujeira que o idiota fez. O chinês foi bonzinho comigo e limpou para me mostrar como fazia, mas alertou que eu seria responsável da próxima vez... que não demorou pra acontecer.

Posso voltar atrás no meu pedido de adotá-los?

Estou brincando.

Bem... Adeus sossego.

Uma semana depois dos meus amigos virem pra casa, Junmyeon estranhou dela  estar cheirando a desinfetante e... e... não sei o nome dos outros produtos que andei usando. Chanyeol havia resolvido marcar território novamente e sujou quase todos os cômodos da casa.

Eu realmente não mereço isso.

Yifan estava de saída quando Junmyeon chegou e o beijou ao se despedirem, e saiu rindo de mim.

Humanos... não se esqueçam que eu ainda sou um gato. Irei dominar o mundo!

— No que está pensando?

Olhei assustado para Junmyeon.

— Por que eu estaria pensando?

— A sua cara dizia que você estava pensando em algo.

— Eu não estava pensando em nada.

Eu é que não vou revelar os meus planos de dominar o mundo.

Brincadeira, não quero dominar o mundo, dá muito trabalho. Irei dominar somente a casa que já está bom.

— Hum... irei sair para fazer compra, quer ir?

Me joguei no sofá e suspirei.

— Não, estou cansado.

— Hum... Vá tomar banho para relaxar. Irei deixar as coisas no quarto e irei sair.

— Tá.

Morrendo de preguiça, levantei do sofá e caminhei até o banheiro enquanto tirava as roupas. Junmyeon saiu do quarto e chamou a minha atenção.

— Chen, qual era a outra regra?

Fiz um bico enquanto pensava nas mil regras que ele fez.

— Ah! Desculpa! — ele cruzou os braços. — Desculpa, desculpa, desculpa!

Junmyeon bufou e continuou o trajeto até a porta de saída.

A regra era: não andar nu pela casa e em nenhum outro lugar enquanto estiver na forma humana.

Que culpa tenho? As coisas bonitas devem ser mostradas ao mundo, e eu sou maravilhoso!

Ao entrar no banheiro, liguei a torneira da banheira e esperei ela encher... e ouvi um barulho de algo quebrar. Respirei fundo antes de gritar.

— CHANYEOL!

Ouvi o latido dele em resposta e soube pelo tom que não foi ele quem quebrou algo.

— BAEKHYUN!

Ouvi o miado em resposta e também soube que não foi ele o causador.

Mas que desgraça!

— ZITAO! ATÉ VOCÊ RESOLVEU BAGUNÇAR AGORA?

Ora, ora! Ele não respondeu e sei que está na casa.

Que merda ele andou aprontando?

Argh!

Peguei a toalha e a enrolei na cintura para poder sair do banheiro.

Fui até a sala e vi Chanyeol todo eriçado olhando em direção de Baekhyun, que se aproximava eriçado e em alerta da entrada da cozinha. Ao passar do lado do gato, ele deu um pulo assustado.

Dei uma risadinha do susto dele e fiquei paralisado ao ver que tinha um estranho na cozinha.

Fiquei em silêncio e pensando no que fazer.

Devo chamar quem? Polícia? Junmyeon? Yifan? Yixing? Os protetores de animais?  

Socorro?

O estranho — que olhava o que tinha na geladeira. — percebeu a minha presença e se virou; logo sorriu.

Eu, hein! Por que ele está sorrindo pra mim? Nunca o vi antes.

Devo ficar com medo? Eu já estou com medo!

Como irei fugir com um gato e um labrador pesado e todo quebrado? Além de ter de procurar a peste do Zitao.

— Ah! Chen! Ei, como faz pra abrir esse negócio que está com leite? Sem querer acabei quebrando o outro. Desculpe.

Que? Como ele sabe o meu nome?

— Q-quem é você? Como entrou?

— Eu sempre estive aqui, ué. Ah, não está me reconhecendo? Sou eu, Zitao.

Pisquei várias vezes enquanto absorvia a informação. Olhei melhor pra ele e percebi que seu cabelo se assemelhava aos pêlos de Zitao.

— COMO É QUE É?

Desde quando Zitao é metamorfo? Por que eu não soube disso antes?

Como irei dar essa notícia aos humanos? Yifan ficará feliz, ele é sempre feliz, mas Junmyeon vai ter outro treco.

Ou melhor, eu estou quase tendo um treco!