Akali esforçou-se para não estapear o garoto parado em sua varanda com um sorriso, no mínimo, irritante. De cabelos ainda úmidos por recém sair de um banho quente, a japonesa mantinha o cenho rígido para o atrevimento de alguém perturbá-la em seu lar.
— O que você quer, moleque? — Ela cruzou os braços em um gesto adicional de sua impaciência.
Ah... Como Kayn a achava linda naquela postura rude de sempre.
— Vim ver como a futura mãe de meus filhos está. — Provocou dando um passo para mais perto da garota.
Em uma frieza calculada, Akali ainda manteve a pose vendo a aproximação ousada do rapaz.
— Mais um passo e nem filhos você terá. — Alertou curvando os lábios desafiadoramente.
Kayn sorriu de volta logo após limpar a garganta em um goto rápido. Parou o corpo, decidindo que era melhor continuar onde estava pelo bem de seus descendentes. Então pela milésima vez só naquele tempo, ele passou a mão em sua longa cabeleira. Hora de uma abordagem mais direta.
— Tenho dois ingressos para o clássico de basebol — mostrou os papéis retirados do bolso — Eu e você, você e eu... Juntinhos — Insinuou confiante com a proposta oferecida.
No geral, Akali adorava esportes e com o basebol não era diferente. Entretanto, só de imaginar uma tarde inteira na companhia daquele garoto, a sua cabeça girava em desconforto.
— E por que não chama um de seus amigos?
“Porque eu não quero dormir com nenhum deles”, o rapaz refletiu consigo mesmo.
— Vamos lá, Kali. Eu sei que você quer ir — Kayn mudou de assunto, omitindo os seus prévios e inapropriados pensamentos. — E além do mais, eu estou me sentindo sozinho, sabe... — esboçou uma feição penosa, porém nada convincente — A casa anda meio vazia desde que meu irmãozinho está internado...
A japonesa rolou as pupilas para aquele drama descabido do turco.
— Eu sinto muito pelo seu irmão, ainda mais por ser filho de um babaca daqueles — Rebateu usando as mais profundas e sinceras palavras que encontrou naquele momento. — Mas a resposta é não. Agora se me der licença...
Em um movimento ágil, Akali tentou fechar a porta, no entanto o turco levou a palma da mão contra a estrutura de madeira e a impediu de se despedir dele. Bufando em derrota, ela finalmente cedeu à força do garoto.
— Façamos o seguinte — o rapaz continuou disposto a usar uma última cartada para convencê-la — Apostamos uma partida de videogame. Se eu ganhar, você vai comigo e garanto que vai adorar.
Apostas, videogame e elevação de ego eram três coisas que a japonesa se interessava... E como uma apreciadora de desafios nata, Akali cruzou os braços após ponderar brevemente.
— Certo. Mas se eu ganhar, você vai me dar os dois ingressos — Contrapôs sagazmente.
Com certeza era uma proposta ousada e arriscada, e que Kayn tinha total ciência dos perigos em jogar contra a habilidosa garota. Todavia — e ganhando ou não —, o desafio também seria uma bela desculpa para estarem juntos no quarto do rapaz.
— Feito.
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Uma prolongada quietude pairava na ampla sala de refeições sendo somente quebrado pelo contato de talheres encostando na porcelana dos pratos. Havia somente os três sentados à mesa enquanto uma cozinheira contratada passeava entre a mesa de jantar e a cozinha, servindo-lhes com elegantes e caprichadas refeições.
Porém, a jovem ainda preferia o silêncio a ter que ouvir a voz do pai e do irmão.
Quieta e reflexiva, Katarina vagava em lembranças de seu recente rompimento com Garen. “Francês imbecil”, ela xingava o ex-namorado pelo inesperado término e, mais ainda, por estar sentindo falta dele.
— Me passe o molho.
A jovem despertou ao ouvir a voz firme do progenitor lhe ordenar algo. Pegou o recipiente preenchido com um espesso líquido alaranjado e esticou o braço para o homem alcançar o objeto.
— Você anda distraída ultimamente — ele constatou, pincelando morosamente o molho sobre o assado em seu prato — O que houve?
— Nada, pai. É só cólica. — Mentiu aproveitando-se de uma justificativa feminina.
— Mulheres.
Katarina pôde ouvir o murmúrio debochado de Marcus. Ela respirou fundo, voltando a atenção ao almoço. O homem então buscou papo com o mais jovem.
— E você, filho? Também está calado. — Comentava cortando um pedaço da carne em seu prato — Não vai me dizer que também está com cólica... — brincou mesmo com a expressão fria de sempre.
Negando com a cabeça, Talon sorriu para a piadinha do mais velho.
— É que eu conheci uma garota e eu queria muito impressioná-la, mas... — o rapaz insinuava o que realmente desejava: dinheiro.
— Te transfiro antes de sair. — O patriarca entendeu o recado. — E use preservativo.
Assentindo com a cabeça, o sírio prontamente concordou.
— Agradecido, pai.
Katarina suspirou profundamente, logo se recompondo quando percebeu o olhar de Marcus novamente pousar sobre ela.
— E você está precisando de algo? — Questionou deixando Katarina perplexa com a atitude do homem.
Ele raramente perguntava isso a ela.
— Não, obrigada.
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Katarina adentrou ao ginásio, chamando para si a atenção de todas as jogadoras em treinamento. E ao notar a ilustre e rara presença da austríaca naqueles dias, Quinn cruzou os braços observando a outra europeia se aproximar a passos despreocupados.
— Quem é viva sempre aparece. — A belga afirmou nada satisfeita — Por que andou faltando os treinos?
— Porque eu quis. — Curvando um sorriso, ela rebateu atrevidamente.
Desaprovando o comportamento provocador de sempre da ruiva, a de cabelos castanhos bufou. E ao massagear pacientemente o próprio cenho, Quinn continuou com o seu raciocínio.
— Katarina, estamos na semifinal e todo treino agora é ainda mais importante.
— Falou a capitã do time que está fora da partida por punição. — Insinuou ácida.
Quinn engoliu em seco, pois a ruiva tinha razão. Irritar-se — em defesa da namorada — com uma rival que a provocara no último jogo, custou caro para a líder da equipe.
— Olha, Katarina, eu sei que você e o Gare-
— Nem ouse terminar essa frase, otária. — Antecipou-se apontando o indicador para a outra ao prever as irritantes palavras da mais nova.
Nem um pouco intimidada, Quinn arqueou uma de suas sobrancelhas castanhas e deu de ombros.
— Eu só ia dizer que estou aqui caso queira conversar sobre o assunto... — continuou alheia à ameaça prévia da ruiva.
Um riso desdenhoso escapou dos lábios austríacos.
— Puff... Até parece que eu ia querer conversar logo com a amiguinha daquele panaca — rebateu azeda, pousando as mãos em sua própria cintura.
A belga suspirou cansada; não adiantava ser legal com aquele poço de deboche e rispidez que Katarina fazia questão de ser.
— Certo. — Assentiu — Pelo menos me promete que vai aparecer na partida de amanhã?
— Eu não sou de prometer nada. — Deu de ombros em uma postura despreocupada e provocadora. Contudo, cedeu relaxando em seguida os próprios músculos e deu às costas para se afastar da capitã do time — Mas prometo.
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Lendo uma revista específica em sua cama, Miss Fortune notava a movimentação de Ahri pelo quarto. Ultimamente quando estavam na inevitável presença uma da outra, a amizade das duas jovens se resumia a perguntas pontuais e respostas secas e curtas. Eram tempos difíceis para o vínculo afetivo delas...
Tira o cabide, coloca de volta; veste uma roupa, depois troca; brincos prateados, logo os dourados; por fim, vestimenta escolhida, cabelo escovado, maquiagem feita, e um perfume borrifado... A fragrância da asiática então invadiu o olfato da latino-americana.
— Faz tempo que você não usa esse perfume. — Sarah afirmou fingindo indiferença. — Ocasião especial?
— É... — Ahri concordou levemente admirada da pergunta da outra. E conhecendo a amiga caribenha, a sul-coreana imaginou que ela estava curiosa — Mais ou menos isso.
— Eu o conheço? Ou a conheço? — completou supondo que era um encontro.
E realmente era.
— Não. — Negou simples, segurando uma satisfação interna ao sentir o interesse disfarçado da ruiva sobre o assunto — Ele mora na cidade vizinha.
Sarah emudeceu-se, preferindo finalizar o questionário antes de parecer que se importava com a vida da outra — mas ela se importava —. Voltou a folhear a revista de navegação marítima pousada na cama enquanto ainda observava de relance a outra terminar de se arrumar.
Ahri achava engraçado — e fofo — a amiga gostar de ver magazines de navios e derivados; e vê-la ali deitada de bruços aparentemente focada naquelas páginas, fez a sul-coreana sorrir nostálgica ao lembrar-se da empolgação da ruiva em cobiçar fundar uma empresa de cruzeiros internacionais.
Ela então imaginou que aquele momento seria uma ótima oportunidade de conversar melhor com Sarah... Porém, recuou engolindo as palavras que embolaram em sua garganta. Não estava totalmente arrependida de suas atitudes, mas também não podia negar que sentia falta de sua amiga.
No fim, Ahri suspirou contida fechando as portas do armário e as gavetas da penteadeira antes de sair do quarto. É, não seria dessa vez que o poder da amizade atropelaria o ego dela.
Sarah ouviu — e viu — a porta do lugar se fechar, indicando que estava sozinha no recinto e, provavelmente, até o dia seguinte. Respirou profundamente, em seguida rolando o corpo para descansar o dorso no colchão e fitar os azuis de seus olhos no teto. Sentiu-se estranha como se algo não estivesse certo... Inquieta, a porto-riquenha desbloqueou o celular a fim de enviar mensagens para a namorada em uma tentativa de se distrair naquele eterno e esquisito finalzinho de dia.
“Estou entediada, amorcito”, digitou. “Me manda um nudes?”
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Talon levou sua atual acompanhante para um jantar em um restaurante conhecido e elegante. Há tempos se correspondiam virtualmente, deixando-o cada vez mais ansioso para um encontro íntimo com a jovem. Ao descerem da caminhonete do rapaz, Ahri ficou boquiaberta com a escolha do lugar.
— Mas aqui precisa de reserva...
— E quem disse que não temos? — Ele sorriu galanteador.
“Ponto para você, gostoso”, Ahri pensou retribuindo ao sorrido do sírio.
E como se os funcionários já conhecessem o Du Couteau de outros encontros naquele recinto, os jovens foram bem recepcionados e logo guiados para uma mesa com somente duas requintadas cadeiras.
— A dama e o cavalheiro já gostariam de pedir algo? — O garçom perguntou cordialmente.
— O melhor vinho branco da casa, por favor — Talon pediu sem nem tocar no menu de opções.
O funcionário assentiu, retirando-se de perto do casal.
— Mas você está dirigindo. — Ahri o lembrou erguendo uma de suas definidas sobrancelhas.
— É para você. — Ele retrucou educadamente.
“Nossa, até fiquei com calor”, ela voltou a refletir consigo mesma enquanto trocavam lascivos olhares.
— Como conseguiu esse corte na mão? — Ele finalmente perguntou o que havia reparado desde o dia que se conheceram.
— Foi um acidente... Cortando uma fruta, sabe — explicou-se mordendo o lábio inferior em timidez com a sua falta de atenção no dia que soube do relacionamento oficial de Sarah — E desde então a ferida volta a abrir toda vez que esforço a mão no treino de cambalhotas.
Talon curvou o canto da boca.
— Entendo — ele assentiu em compreensão — Posso ver?
Ahri concordou, logo esticando o braço para o rapaz poder analisar o ferimento que tentava cicatrizar protegida por uma bandagem. Ele então desenrolou a faixa branca mal envolvida no membro da jovem e voltou a refazê-la com mais precisão e cuidado.
— Nossa, você leva jeito com isso — afirmou admirada.
— Já fiz muitos... Digo — pigarreou — minha irmã era muito levada e se machucava frequentemente brincando. — Alterou a verdadeira versão da história para não assustar a sua paquera.
— Deve ser bom ter uma irmã — ela supôs ingenuamente. Como filha única, não sabia qual era a sensação de um relacionamento fraternal.
— Tenho duas, na verdade. E não, não é bom... — Confessou em um sorriso divertido.
Ahri mostrou os dentes perfeitos ao acompanhar o sorriso brincalhão do rapaz. Mesmo com um ar misterioso, ele parecia, na medida do possível, ser um cara legal.
A noite prometia para eles.
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Sussurros e risadas baixas denunciavam a chegada de Talon e mais alguém na casa. O eco de suas vozes em diversão e excitação reverberava pela sala, logo alcançando os ouvidos da ruiva apoiada distraidamente no granito frio da bancada na cozinha.
Katarina apurou a própria audição, fazendo uma careta enojada ao imaginar como alguém se prestaria a ficar com o idiota do irmão. O perfume feminino então foi levado até os receptores químicos de seu nariz, inalando inevitavelmente o aroma daquela visita totalmente descartável para ela. “Pelo menos tem bom gosto para perfume, já para rapazes...”, a austríaca julgou a convidada em deboche.
Terminando de comer a maçã em sua mão, livrou-se do talo da fruta para logo buscar uma caixa de leite na geladeira, e cereais no armário. Desde que ficara solteira, Katarina repetia sempre a mesma refeição naquele horário enquanto se trancava em seu quarto. Naquela noite, não seria diferente para ela...
E foi despejando o conteúdo sólido sobre o leite em uma tigela que a ruiva ouviu o primeiro de vários gemidinhos subsequentes ecoando sutilmente até onde ela estava. A jovem então massageou o próprio cenho em indignação — e asco.
Talon apalpava com afinco as estruturas de sua ficante, sentindo por cima da roupa as gentis curvas de Ahri. Os lábios de ambos se movimentavam em luxúria, um tentando acompanhar os movimentos linguais do outro, quando o rapaz ousou o toque por dentro da saia feminina. Ela estremeceu, arfando levemente ao senti-lo cada vez mais perto de sua intimidade. Contudo, mesmo após receber agradáveis estímulos por cima da sua calcinha, Ahri hesitou.
— Vamos para o seu quarto — Sussurrou, aproveitando para retomar o fôlego entre os próprios gemidos. — Alguém pode aparecer.
— Relaxa, meu pai não está e minha irmã a essa hora fica trancafiada no quarto — Ele explicou entre sedentos beijos no pescoço asiático.
— Mas eu vou me sentir mais confortável lá. — Insistiu.
O rapaz suspirou e acenou a cabeça, cedendo ao desejo de não a tomar para si ali mesmo. Puxou a mão feminina para que ela o acompanhasse na trajetória até o dormitório dele, parando sempre que podiam para se esquentarem em qualquer parede que houvesse no caminho.
— Tenho que ir rapidinho no banheiro — Ela pediu e ele indicou o cômodo mais próximo do corredor.
Apesar das boas condições e sua família, Ahri nunca havia visto um banheiro tão luxuoso de perto, complementando ainda mais o que vira desde o momento no qual pisou naquela casa. Um sorriso bobo surgiu na face da jovem que com certeza estava tendo o melhor encontro de sua vida... Pena que seus sentimentos não eram com o rapaz daquela noite. Então o sorriso gradativamente se desfez ao ser tomada por lembranças que só confundiam ainda mais o coração da jovem.
“Passado é passado, Ahri. Foco.”, suspirou para o espelho no qual refletia a sua bela imagem.
Determinada e pronta para o próximo passo do encontro, ela abriu a porta do banheiro após modestos minutos no lugar, quase se esbarrando com uma silhueta que tentara cruzar aquele mesmo corredor. A sul-coreana ergueu o olhar já preparada para desculpar-se de sua desatenção, contudo e em um repentino espanto, os orbes dourados de Ahri arregalaram-se ao reconhecer aquela ruiva filhinha da puta surgir na sua frente.
Katarina, por sua vez, deteve-se em reflexo para não derrubar a refeição que segurava e encarou despretensiosamente a sua rival predileta estatelada no meio do corredor, fitando-a em surpresa.
— O que você está fazendo aqui?! — Ahri introduziu em tom incrédulo.
— Eu é quem pergunto! — Rebateu firme após piscar várias vezes as próprias pálpebras, irritando-se ao se dar de que aquela garota estava em seu território. — Como você entrou aqui?!
— Ora, como! — Exaltou-se — Eu fui convidada pelo Ta-
— Talon?! — Completou, finalmente se dando conta do porquê aquela desgraça de líder de torcida estava em sua casa: ela era a ficante do rapaz — Porra, que nojo! Você não vai dar para o meu irmão, não!
— Irmão?! — Ahri subitamente nauseou-se com a informação. Como o cara responsável pelo encontro mais elegante de sua vida pertencia à mesma família daquela miserável?! Aquilo só poderia ser um pesadelo! — Quem está enojada agora sou eu!
Em um passo lento e determinado, Katarina se aproximou confrontando as írises douradas de Ahri.
— Se manda agora da minha casa, putinha. — Impôs estoicamente.
Encarando-se, os olhos de ambas se moviam em uma guerra ocular à medida que controlavam os seus nervos já à flor da pele.
— Não dê ouvidos a ela. — Talon se fez presente após notar vozes alteradas ecoando no corredor. O rapaz então se colocou ao lado de sua convidada, ignorando a ordem dada pela mais velha — A minha irmã só está meio... — procurou uma palavra para caracterizar a ruiva, aproveitando a ocasião para provocá-la — ...solitária, sabe.
— Entendo o motivo — Ahri assentiu — Aliás, já tem um monte de garotas atrás do seu ex... — Insinuou, dando de ombros — E em breve, alguém o fará te esquecer rapidinho.
Ah... Como aquele protótipo de vagabunda ousava citar o Garen contra ela?! O sangue da austríaca então ferveu.
E ainda segurando a tigela carregada de cereais e leite, Katarina não pensou duas vezes antes de erguer o objeto acima de sua altura e emborcá-lo sobre Ahri, despejando impiedosamente o conteúdo em sua rival. O líquido gelado se alastrou nas madeixas escuras e rosto maquiado, eriçando a coluna da sul-coreana após um desagradável e intenso arrepio.
Não, logo o seu lindo cabelo e roupa cara, não!
— Katarina! — Talon a repreendeu, empurrando o ombro da irmã que o correspondeu com a mesma atitude.
Humilhada e totalmente brochada, Ahri indignou-se com toda a situação. Se fosse para dar de cara com aquela praga de cabelos vermelhos, antes não houvesse nem saído de sua casa! Tomada por uma crescente ira, e já sem dignidade alguma, ela avançou em um pulo surpresa, derrubando Katarina no chão junto do recipiente que se espatifou no piso duro.
— Sai de cima, puta! — A austríaca ordenou enquanto seus antebraços se defendiam dos vertiginosos tapas provindos da sul-coreana. As unhas pontudas da garota irritada rasgavam levemente a pele dos membros superiores de Katarina.
Talon suspirou friamente ao analisar a bagunça que aquelas duas estavam fazendo... Era melhor acabar com aquilo antes de seu pai chegar em casa.
Agarrando-a por detrás, o sírio retirou a sul-coreana de cima da sua irmã, apartando as jovens enfurecidas.
— Me solta! — Inquieta, Ahri reclamou ainda nos braços do rapaz.
— Eu não acredito que você trouxe logo essa putinha para dentro de casa! — A ruiva vociferou ao levantar-se do piso onde suas costas roçaram desconfortavelmente.
— E eu não acredito que você é irmão logo disso! — Rebateu em rispidez, fitando a austríaca em desdém — Se eu soubesse que você tinha qualquer parentesco com ela, eu nunca teria nem te dado bola, garoto! Olha só o que ela fez!
— Chega! — Talon vozeou, levando os seus castanhos aos verdes da irmã — Vai pro seu quarto agora e nos deixe em paz! — Ordenou.
Contrariada, Katarina franziu o cenho.
— Eu vou para o meu quarto quando ela sair dessa casa. — Contrapôs firmemente.
— Não se preocupe, eu vou embora. — Ahri afirmou sem paciência, cogitando que era melhor se afastar de um território inimigo o quanto antes.
A jovem asiática buscou o próprio celular em sua bolsinha, pronta em chamar um transporte particular para tirá-la daquele repentino inferno. E ao perceber que o seu encontro estava indo por água abaixo, Talon se desesperou.
— Gata, não-
— Não me chame assim que eu já brochei. — Cortou-o ríspida, teclando rapidamente os seus dígitos na tela do aparelho à medida que caminhava pelo extenso corredor.
— Espera, Ahri — Chamou, ultrapassando-a ao alcançá-la — Não deixe que a presença da minha irmã estrague o que tivemos hoje!
A sul-coreana voltou a encará-lo sentindo a brisa fria que cruzava o corredor colidir contra a sua pele alva e cabelos negros. Balançada, ela fitou as esferas castanhas do rapaz nas quais a olhavam em desgosto.
— Olha, eu realmente adorei o jantar e tudo, mas... — confessou baixo, desarmando por um momento a postura de antes. Puxando o ar, ela então continuou — não dá para ficar com o irmão de alguém que tentou me socar no primeiro dia de aula, além de me sujar toda agora! — Voltou a esbravejar à medida que sua fúria retornava.
Aproveitando a distração do casalzinho arruinado, a ruiva aproximou-se novamente de sua rival no final do passadiço.
— Espera, você está se esquecendo de uma coisinha...
— O quê?! — Zangada, Ahri virou-se para fitá-la uma última vez.
E como no primeiro dia que se conheceram no colégio, Katarina cerrou o punho, avançando-o contra o belo rostinho daquela vadia. Dessa vez, a líder de torcida não lhe escaparia... Certo?!
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Suja, dolorida, humilhada e magoada... Era assim que Ahri se encontrava já em seu lar. Sentada humildemente no sofá da sala, a jovem mais uma vez tateou delicadamente o seu rosto ferido. As intensas expressões faciais ao sentir o próprio contato de suas digitais denunciavam a dor que sentia tanto física quanto emocional. Mas que grande fiasco de noite!
— Está muito feio, né?! — Supôs com a voz embargada.
Ocultando a própria boca com a mão fechada, Xayah franziu o cenho tentando suprimir as suas indelicadezas de sempre; contudo, o olho esquerdo de sua amiga com certeza não estava em seus melhores dias — não mesmo.
— Não... — a argentina respondeu cautelosamente, aproximando a própria face para analisar melhor a região arroxeada na sul-coreana — Só parece a metade de um panda. — Concluiu afastando-se e voltando à postura inicial — Sem ofensa aos pandas, é claro.
— Argh! Sai daqui! — Ahri não hesitou em jogar a almofada repousada em seu colo na outra jovem que desviou sem grandes dificuldades. Logo, a garota marcada virou-se buscando o olhar de alguém com mais compaixão naquela casa — Sera, e agora?!
— Vamos dar um jeito, amiga — a de madeixas rosas falou em otimismo, sentando-se ao lado da amiga no sofá. — Toma esse analgésico para aliviar sua dor.
Seraphine pousou um comprimido na palma de Ahri, em seguida lhe entregando um copo com água. Agradecida, a sul-coreana voltou a pressionar o gelo envolvido em um pano contra a maçã de seu rosto antes de ouvir uma peculiar voz atrás de si.
— O que houve?
O sotaque caribenho se fez presente, chamando a atenção das amigas. Com um ombro apoiado na parede do corredor, Sarah questionou em curiosidade ao perceber a estranha movimentação acontecendo na casa... Mas do ângulo em que estava, a porto-riquenha só conseguia ver as costas de Ahri que parecia segurar algo contra o próprio rosto.
Uma quietude se formou no ambiente como se todas houvessem optado por permitir que a vítima contasse a novidade; porém, não foi o que aconteceu. A mudez de Ahri fez a ruiva contornar o sofá para se aproximar dela, permitindo uma visão melhor da situação: um caprichado hematoma na região ocular de sua amiga.
Os orbes dourados da sul-coreana penderam-se em vergonha, seguido de um goto marcado em sua garganta. Em contrapartida, as mandíbulas da porto-riquenha tensionaram em consequência de uma crescente raiva dentro de si.
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Apesar de todos os altos e baixos que acompanharam o time desde a conturbada estreia em quadra, as Eagles encontravam-se — milagrosamente — a poucos minutos da semifinal.
Quinn olhou para o relógio esportivo de pulso, em seguida passeando com os âmbares pelo ginásio lotado. Em pouco tempo a partida começaria e nada de Katarina por perto... Bufou decepcionada em acreditar na palavra em vão da outra europeia, recompondo-se em seguida e chamando as demais companheiras de equipe para próximo de si.
— Certo, vamos ter que alterar a estratégia inicial — relatou rabiscando a prancheta com desenhos estratégicos — Akali, você será a única pivô de princípio. Mas alternará a posição com a Zeri se te marcarem duro.
— E quando não marcam? — A menor deu de ombros enquanto acomodava a caneleira em sua perna.
— Ela está certa. — Sivir interveio — Sem Katarina que infelizmente é a atual artilheira do time, as adversárias com certeza vão colocar a melhor marcadora para a baixinha aí — Provocou recebendo uma rápida fuzilada visual da caçula do time.
— Atual artilheira até hoje — Ciumenta pelas habilidades da austríaca, Akali se desafiou em murmúrios à medida que subia suas meias.
— Por isso precisamos ir alternando as estratégias para confundi-las. — Quinn voltou a tomar a palavra, ignorando os resmungos baixos da japonesa — E quem ficar livre, chuta para o gol.
Com o número defasado de jogadoras para aquela partida, as demais assentiram em concordância; afinal, não havia muitas opções além de habilidades individuais e trabalho em equipe. Agruparam suas mãos umas sobre as outras antes de esbravejarem o grito de guerra do time.
Hora de entrarem em quadra para representar, mais uma vez, o azul de seus uniformes com o emblema de águia em suas camisas.
— Sivir — Quinn chamou a amiga, levando até ela o bracelete de capitã — Foi mal não estar contigo nessa... De novo. — Completou sem graça ao se lembrar de sua inevitável ausência em uma partida contra aquelas que lhes tiraram o último título.
Quinn então acomodou o símbolo de liderança no braço daquela que sempre esteve ao seu lado no time, mesmo reclamando que não recebia dinheiro para aquilo. E ao perceber o olhar perdido da belga, a egípcia tocou em seu ombro.
— Você sabe que não precisa se desculpar, né? — Buscou os âmbares da europeia, confortando-a e imaginando que tudo aquilo não se tratava somente de uma partida, mas sim de uma situação que se associava às dolorosas lembranças de uma trágica noite para a amiga — E está tudo sob controle.
Incrédula, Quinn ergueu uma sobrancelha. Não, com certeza tudo estava fora do controle! Sivir se divertiu com a expressão pessimista da amiga, logo reformulando suas próprias palavras.
— ‘Tá, considerando que você não pode jogar, que a Katarina nem apareceu, e que nossas rivais são as atuais campeãs... — a egípcia pontuava despreocupadamente — ...É, estamos bem ferradas. — Concordou esboçando um sorriso maroto.
— Agora sim, essa é a Sivir realista que eu conheço. — Brincou, lançando uma piscadela. — Boa partida, amiga.
— Pode deixar, querida.
A egípcia uniu-se às jogadoras já dispersas na quadra, cada uma tomando suas posições iniciais. Quinn voltou a buscar por algum sinal de Katarina em sua volta, qualquer esperança de que na verdade a ruiva só estava atrasada... Doce engano.
“Cadê você, Katarina? A partida vai começar... Você prometeu.”, Quinn enviou a mensagem que nem sequer chegou à destinatária.
Estranho.
Então uma voz familiar atrás de si chamou a atenção da belga.
— Onde está aquela desgraçada?!
— Ela quem, meu bem? — Quinn indagou confusa ao perceber Sarah carregando um semblante nada contente.
Em contraste com o diálogo e a troca de olhares ambíguos entre as namoradas, o árbitro finalmente soou o apito. A semifinal do campeonato havia começado.
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