Sarada Uchiha
Ver Boruto parado na janela do alto da mansão Uzumaki, correspondente ao (dele) meu quarto com os olhos azuis vidrados em mim, enquanto eu entrava no carro, fez meu baixo ventre se contorcer e a minha boca secar, como se o ar de repente fosse me faltar.
Mesmo contra a minha vontade, desviei o olhar do loiro, sentindo um calafrio ruim percorrer toda a minha espinha, de repente com saudades do calor gostoso que estava acostumada a sentir perto dele.
“Merda! Isso não podia ser bom sinal…”
Havia sido menos de quinze dias de convívio direto, mas pareciam ter passado meses ou até anos, pela maneira como eu estava profundamente ligada a esse garoto loiro que nem pertencia ao grupo de pessoas encarnadas.
Embora eu já tenha começado a desconfiar sobre a suposta morte de Boruto naquele incêndio.
Era ridículo, patético na verdade.
Justo eu, que estava habituada a não me apegar a nada nem a ninguém, tinha me afeiçoado de certa forma a um fantasma que não pertencia ao meu mundo, o dos vivos. Pelo menos era o que parecia aparentemente.
Boruto Uzumaki tinha seus méritos, era inegável.
Por mais que eu me esforçasse para negar, o espírito do garoto dono dos olhos azuis, era simplesmente irritante demais para ser ignorado.
Tudo em Boruto era irritante demais.
Seu sorriso cheio de deboche ao mesmo tempo repleto de confiança me irritava por me fazer sorrir inevitavelmente também.
A maneira como seu corpo fluídico era perfeitamente definido me irritava, por atrair o toque dos meus dedos naqueles músculos esculpidos em forma de tentação.
Seus cabelos dourados, sempre bagunçados, me irritava, por deixarem Boruto com um jeitinho ainda mais charmoso
E principalmente a vivacidade com que o azul de seus olhos brilhavam por vezes, ao me encarar, me irritava demais, por me obrigar a disfarçar o tanto que esse espírito mexia comigo.
Alheio à presença de Boruto na casa, e meu conflito emocional interno, Sasuke Uchiha não escondia o quanto estava satisfeito por estarmos morando de volta em Konoha e pelo meu primeiro dia no Colégio Folha Verde.
– Você ficou tão bonita com esse uniforme. Igualzinha a Sakura.
Ele murmurou reflexivo, enquanto dava a partida no carro, na intenção de puxar assunto comigo e quebrar o silêncio.
– Você acha? – perguntei displicente, ajeitando a gravata azul marinho que havia deixado propositadamente largada em volta do pescoço.
– Sua mãe ficaria muito orgulhosa de você agora, princesa… seguindo os mesmos passos dela. – disse num esforço de parecer afetuoso, acariciando meus cabelos com a mão livre ao mesmo tempo que dirigia.
– Uma pena que ela não está aqui pra me ver… e tudo por culpa daquele desgraçado!
Acabei soltando sem querer, de forma raivosa, notando seu olhar repressor sobre mim.
Era doloroso esse assunto, tanto para o meu pai quanto para mim.
Quando mamãe se foi, o sorriso genuíno de Sasuke Uchiha morreu junto no mesmo dia. Para evitar sofrer, as fotos dela foram todas guardadas, restando apenas uma que eu escondi no meio de um velho diário. E as raras vezes em que ele se esforçou para sorrir, depois disso, foram apenas para me agradar.
– Sarada!
Não foram necessárias mais palavras. Somente o jeito como o meu nome foi pronunciado, fez com que eu me encolhesse no banco do passageiro um tanto arrependida.
Merda. Mil vezes merda. Não deveria ter mencionado aquilo.
– Desculpa… mas poxa! Você sabe que um dia eu ainda vou me…
– Por que não está usando a mochila que comprei? E onde arranjou essa coisa velha?
Rapidamente o seu Uchiha me interrompeu, mudando de assunto, como se falar da tal mochila de couro preta fosse mais agradável, me fazendo apertar os lábios contrariada.
Eu sabia o que ele estava tentando fazer, sabia o quanto odiava falar sobre os meus planos obscuros.
– Vou usar aquela coisa rosa somente em ocasiões especiais.
Respondi mais sarcástica do que gostaria, voltando a prestar atenção nas enormes casas do bairro de bacana, conforme o carro avançava devagar pelo trânsito, exatamente como havia aprendido fazer com ele.
– Certo… faça isso então.
Ele bufou resignado, desistindo de discutir comigo, rebatendo na mesma moeda.
– Mas você não respondeu onde pegou essa outra! Já disse que não quero que fique fuçando nas coisas do filho do Naruto! – emendou num tom sério, quase autoritário, sem desviar o olhar da pista à frente.
– Se as coisas do filho do seu amigo são tão importantes assim… porque é que a família Uzumaki não encaixotou tudo e levou embora? Por que aquele quarto é o único preservado? Feito um maldito museu?
Contra-argumentei incapaz de esconder tanto a curiosidade em saber mais sobre a história de Boruto, como a indignação pelo descaso com que eu julgava que os Uzumaki tinham com a memória dele.
– É… complicado demais, Sarada.
Ele deu de ombros, antes de continuar a falar.
– Esqueça isso. E me prometa que não vai mais tocar nas coisas do menino. Vou pedir para a senhora Senju recolher tudo o que houver de item pessoal de Boruto naquele quarto e colocar no sótão.
“HaHa… duvido que o loirinho vá deixar que você ou a senhora Senju subam lá, papai! Nem eu, que sou amiga dele, aquele fantasma birrento permite frequentar o sótão.”
Foi o que pensei em dizer, sorrindo sozinha, mas logo me arrependi ao constatar o óbvio, engolindo em seco e controlando a vontade de ser malcriada, odiando a ideia de ficar sem as coisas de Boruto por perto.
Gostava dos livros dele de romance açucarado, dos cd’s de indie rock e até havia aprendido a jogar videogame para satisfazer um desejo do loiro que se comprazia ao me assistir derrotando chefões usando a skin de Kagemasa.
Dizia Boruto, ser capaz de sentir as mesmas emoções que eu sentia, enquanto apertava freneticamente os botões do controle do videogame, empenhada em passar de fase.
– Pode deixar que eu mesma irei retirar as coisas do garoto Uzumaki do quarto e guardar em algum canto.
Me peguei respondendo de repente de forma mentirosa, apenas para agradar meu pai temporariamente, enquanto pensava num jeito de me apropriar dos itens pessoais de Boruto.
– Ótimo! Sabia que eu poderia contar com você, princesa.
Voltando a atenção para o caminho, Sasuke Uchiha falou como de costume, dando por encerrado aquele assunto e permitindo que o silêncio reinasse novamente entre nós pelo restante do trajeto.
(...)
O famoso colégio Folha Verde não tinha nada de especial, apesar de ser um colégio de elite.
Exatamente como as demais escolas que eu havia frequentado, era composto em sua maioria por estudantes da alta sociedade de Konoha e por alguns poucos bolsistas como eu.
O diretor do lugar, Kakashi Sensei, me recepcionou excepcionalmente muito bem, em partes por eu ser filha de dois ex alunos e em partes por ser a mais nova residente junto do meu pai da mansão Uzumaki, como se isso fosse algo surpreendente ou interessante demais aos olhos dele.
– Você acertou quase todas as questões das tarefas que enviamos para serem feitas em domicílio. Parabéns, Sarada Uchiha. Parece que herdou a genialidade de seus pais. – comentou o diretor, na intenção de me elogiar, porém com a minha atenção voltada para outra coisa, me limitei em sorrir amarelo.
– Huh.
Tendo em sua sala o aguardando pacientemente, um aluno do segundo ano que havia invadido o sistema de segurança dos computadores da escola na intenção de copiar as provas, Kakashi tratou de se despedir brevemente, me largando sozinha, antes das aulas começarem para explorar o espaço.
– … E não se esqueça, senhorita Uchiha, qualquer problema pode me procurar, somos todos praticamente como uma família por aqui.
Ele sorriu por baixo de uma máscara, que aparentemente tinha o hábito de usar. E eu apenas assenti em silêncio, com o olhar fixo na figura de um espírito parecido com ele, só que de aparência mais velha, envolto numa forte luz branca e de expressão tranquila que transmitia uma paz enorme.
Conhecia esse “pessoal da luz forte”.
Apesar de bem raros e difíceis de serem encontrados, eu já tinha visto alguns. Era o tipo de ser incorpóreo que se auto intitulava mais evoluído do que os demais espíritos, uma espécie de anjo de guarda, fada madrinha ou algo assim. Costumavam ficar perto de seus protegidos, os auxiliando através da intuição de pensamento e geralmente ignoravam a minha presença.
Coisa que o espírito protetor de Kakashi Sensei estranhamente não o fez, para minha surpresa.
Me encarando diretamente, o fantasma sorriu gentil, acenando educado, porém eu fingi que não havia visto nada, esforçando-me para controlar um bocejo ao mesmo tempo que esfregava os braços morrendo de frio.
– Olá Sarada, filha da querida Sakura Haruno Uchiha. Você cresceu. – disse ele, mentalmente, sem precisar mexer os lábios me fazendo arrepiar dos pés a cabeça ao escutar o nome da minha mãe ser pronunciado com ternura.
“Como? Como ele sabia?”
Incrédula, um tanto desconcertada, me recompus rapidamente, não querendo parecer uma maluca logo no meu primeiro dia de aula, ao notar o olhar afiado repleto de curiosidade de Kakashi sobre mim.
– Está tudo bem? Você empalideceu… até parece que viu uma assombração. – brincou.
“Nem te conto, diretor… o que tem aí atrás de você.”
Pensei, ao revirar os olhos, antes de sair dali apressada.
Conforme caminhava a passos duros pelo local, como se fosse uma aberração ambulante ou alguma atração de circo, eu atraía inevitavelmente diversos olhares, risadinhas e comentários dos estudantes, fazendo meu estômago embrulhar.
– Bando de bobocas…
Me limitei a murmurar, já prevendo o inferno que seria estudar nesse lugar. Felizmente, cursava o último ano do ensino médio e logo estaria livre desse pesadelo.
O prédio principal era enorme, composto de corredores lotados de armários metálicos dos dois lados, e adolescentes perambulando para lá e para cá com a atenção toda voltada para os respectivos celulares em mãos. Ginásio esportivo, um campo, biblioteca, e anfiteatro, tudo o que uma escola habitual tem.
Salas de aulas modernas, bem equipadas com ar condicionado, mobiliário conservado, computadores de última geração, e por fim um grande gramado repleto de bancos e gente sentada conversando em roda. O que não fez do Folha Verde um lugar que me inspirasse qualquer interesse.
Minha primeira impressão havia sido tediosa, de mais um colégio como tantos outros que eu já havia frequentado.
O refeitório, com uma lanchonete na lateral cheia de guloseimas caras, parecia ter saído de um cenário de filme da sessão da tarde.
De um lado notei estarem reunidos a turma dos alunos que julguei serem os populares, as famosas líderes de torcida, o tal time de lacrosse e outros tipos considerados importantes. Do outro permaneciam os deslocados, excluídos e desajustados socialmente.
E estranhamente no fundo, meio isolados dos demais, havia um terceiro grupo composto de um tipo variado de adolescentes que chamou a minha atenção justamente pela diversidade, me fazendo querer conhecer, porém como forma de autopreservação, naquele momento decidi apenas observar.
Por sorte o sinal não demorou muito a tocar avisando do início das aulas e como uma manada desorientada, todos os estudantes seguiram para as suas respectivas classes, assim como eu, até ser derrubada por alguém no meio do caminho.
– Eiii olhe por anda babaca…
Rosnei enfurecida, ainda no chão sem notar uma mão gentil estendida na direção do meu rosto.
– Mil desculpas! Nunca foi a minha intenção trombar com você, gatinha.
Um garoto alto, vestindo uma jaqueta esportiva do Folha Verde, com uma tatuagem no rosto, e cabelo avermelhado, falou ao me ajudar a levantar com um puxão só, bem forte.
Sua mão tinha o dobro da minha, era quente, cheia de calos e por algum motivo inexplicável me fez tremelicar.
– Tá… beleza!
Me livrei depressa do garoto, odiando ser tocada daquela maneira que me causava sensações estranhas.
– Ahh desculpa por isso… – ele recolheu a mão um tanto acanhado. – É por conta do taco de lacrosse. – se justificou, como se o problema tivesse sido os calos em palma.
Emendando logo em seguida, perante o meu silêncio.
– Você é aluna nova? Acho que nunca te vi por aqui… E eu definitivamente me lembraria de você.
Ele sorriu insinuante e eu apenas revirei os olhos diante de sua tentativa de flerte barato, começando a caminhar novamente, ignorando a sua presença.
– Eiii… gatinha! Espera! – o garoto me segurou pelo braço atrevidamente. – Você não me falou o seu nome. Sou o Code. – se apresentou, ainda me contendo.
– Dá pra soltar o meu braço?! – pedi sem a mínima paciência, de novo sentindo meu corpo reagir ao seu toque e o garoto me obedeceu no ato, todo sem graça, chegando até a ser fofo – Obrigado. – falei, virando as costas, na intenção de me afastar.
– E o seu nome?!
Code gritou insistente.
– Outro dia eu te conto…
Resmunguei, sem me dar o trabalho de olhar para trás, preocupada em achar logo a minha sala de aula e fugir daquela situação embaraçosa, recordando-me do único conselho que Boruto havia me dado.
“Fique longe da galera do time de lacrosse”
– Que diabos ele quis dizer com isso? Que perigo Code poderia representar?
Murmurei pensativa.
(...)
Como havia previsto, o lugar já estava lotado quando cheguei, não restando quase nenhuma carteira vazia, a não ser por uma no fundo da sala e outra bem no meio.
Obviamente optei pela da última fileira, prezando pela privacidade.
Sentei ao lado de um garoto moreno de cabelos espetados, expressão preguiçosa e olhos verdes questionadores, que me fitou assim que me viu, por longos segundos, voltando o olhar para a minha mochila de couro preta com a bandana azulada amarrada, que eu carregava.
Estava quase perguntando se tinha perdido alguma coisa ali, quando ele resmungou junto de um bocejo.
– Essa mochila não era sua…Onde arranjou? Comprou em algum brechó? Ou pegou em outro lugar?. – perguntou ele, descaradamente, parecendo poder ler a minha mente.
– Acho que isso não é da sua conta.
Respondi abraçando a mochila de Boruto, me sentindo de certa forma ameaçada.
– Larga de ser implicante com a novata, Shikadai. Coisa usada tá na moda, seu desavisado. – falou uma garota absurdamente bonita de cabelos ruivos e olhos cor de mel que se aproximou demonstrando bastante intimidade com o meu colega, vizinho de carteira.
– Não enche ChoCho! Você sabe do que eu tava falando… essa mochila era do…
Todavia, antes que o tal Shikadai pudesse terminar a sua fala, o professor da primeira aula entrou na sala, cumprimentando toda a classe, de forma entusiasmada, fazendo com que a garota retornasse para o seu lugar e o moreno se endireitasse na carteira.
– Bom dia turma?! Quem aí está preparado para descobrir os segredos das propriedades do benzeno?
Sibilou feito uma cobra o homem de meia idade, cabelos negros longos e sorriso sinistro, atraindo atenção de todos.
– Bom dia Professor Orochimaru, eu estou.
Uma menina de tranças púrpura e olhos da mesma cor, dona de uma beleza angelical, respondeu sorrindo, parecendo estar no jardim de infância, me encarando na sequência com o semblante fechado, como se eu fosse um inseto a ser esmagado.
“Qual o problema dela, comigo? Que besta”
– Prestativa como sempre, senhorita Kakei.
O docente respondeu sem muito ânimo.
– Psiu! Eiii novata… fique sabendo que eu bem sei de quem era essa mochila e vou querer saber como você a pegou. – sussurrou o moreno feito um detetive fuxiqueiro, me dando vontade de querer responder na lata.
“Foi um fantasma bem gato, loiro de olhos azuis quem me deu, seu xereta!”
Apesar do jeito intrometido desse Shikadai, ficou nítido que ele e Boruto eram conhecidos, talvez até amigos próximos, o que me encheu de esperanças em poder conseguir mais informações sobre o espírito do loiro.
Se esse garoto com cara de preguiçoso era amigo de Boruto… então eu iria fazer de tudo para ganhar sua amizade também, conclui com um sorrisinho de canto, anotando o nome dele e da garota estilosa que me defendeu numa folha de caderno, logo abaixo do de Code, o jogador de lacrosse galanteador que coincidentemente era dessa mesma classe e não parava de me secar um minuto sequer.
– … Mas antes de iniciarmos nossa aventura diária pelo fascinante universo da química orgânica, quero que todos conheçam nossa aluna nova, Sarada Uchiha. – ouvi o professor dizer, me fazendo congelar no lugar.
“FERROU. FERROU. FERROU.”
– Sarada? Sarada Uchiha? Poderia por favor ficar de pé, se apresentar para os seus colegas e dizer uma coisa que gosta e uma que não gosta e qual o seu sonho?. – disse ele com sorrisinho desafiador, parecendo se divertir com o meu constrangimento.
– Isso é mesmo necessário?
Perguntei numa última tentativa de escapar daquela humilhação social.
– Sim é, acredito que todos aqui querem conhecer mais da nova moradora da residência Uzumaki. – soltou o professor, a meu ver, de propósito.
– Ela tá morando na casa que era do Boruto?!
– Que absurdo! Por que essa menina tá morando lá?!
– Credo! Que coisa mais macabra.
Imediatamente os alunos se alvoroçaram pela sala, cochichando entre si, tecendo comentários e me encarando ávidos por ouvir o que eu tinha para falar.
“Droga!”
Sem opção, me vi obrigada a fazer o que era solicitado, mesmo contrariada, com o coração batendo a milhão e as mãos suando frio de nervoso.
–Tá… Sarada Uchiha, dezessete anos, odeio um monte de coisas e particularmente não gosto de nada. E meu sonho é acabar com a raça do desgraçado que causou o acidente que tirou a vida da minha mãe.
Vomitei as palavras de forma rápida, só me dando conta efetivamente do que havia dito, após reparar nas expressões atônicas da maioria dos estudantes e a forma satisfeita como o professor estranhamente me observava.
A garota de tranças roxas parecia horrorizada e se antes já me detestava gratuitamente, agora parecia me enojar. Shikadai me fitava com curiosidade, enquanto ChoCho sorria achando tudo muito interessante, como se assistisse a uma novela de dramalhão mexicano.
“FERROU DE VEZ “.
Extremamente nervosa, odiando os olhares julgadores, sentindo um gosto amargo na boca e náuseas, peguei minhas coisas e saí de lá disparada.
(...)
Agoniada, corri pelos corredores vazios do colégio sem um rumo certo, até sair por uma porta metálica pesada, indo parar por fim, num grande campo esportivo a céu aberto, cercado por arquibancadas de madeira.
Tudo o que eu queria era correr, correr e correr até conseguir chegar em casa, até conseguir chegar na mansão Uzumaki, onde incrivelmente era onde eu me sentia protegida, acolhida, onde eu tinha a companhia do meu único amigo.
Subi rapidamente os degraus de forma desajeitada e quase caindo, sentando-se no último lance, na intenção de me isolar e respirar um pouco de ar.
– Boruto…
Sussurrei ao vento com o pensamento fixo nele, concentrada em seus olhos azuis, e seu sorriso fácil, me esforçando para que o loiro fosse capaz de me “ouvir” de alguma forma mágica, mesmo estando distante.
Inocentemente, assim como eu tinha ciência que os espíritos evoluídos, aqueles da “luz forte”, conseguiam fazer para se comunicar via telepatia com seus protegidos, eu desejava ter o mesmo tipo de capacidade de comunicação com o meu fantasma loiro.
Concentrada, de olhos fechados, focando na imagem dele, realmente acreditando com muita fé que eu seria capaz, foquei em chamá-lo mentalmente.
E quando parecia que estava prestes a conseguir me unir a ele em pensamento, começando a sentir um pouquinho daquele calor que Boruto sempre emanava perto de mim, uma voz interrompeu o processo, cortando a nossa suposta conexão.
– Eii… tá tudo bem, gatinha? – disse o garoto com a jaqueta do time de lacrosse, num tom calmo, tentando não me assustar, ao se aproximar lentamente e sentar ao meu lado.
– Tá me seguindo por acaso?
Perguntei retórica e Code abriu um sorriso convidativo.
– Que isso! Eu vim porque fiquei preocupado com você, Sarada.
Ele deu de ombros, ajeitando os cabelos avermelhados que balançavam com o vento.
– Huh
– Aliás seu nome é lindo, assim como você.
– É um costume seu, flertar com toda garota que acaba de conhecer, Code? – a pergunta acabou saindo de uma forma mais grosseira do que eu gostaria.
– Não! Só com as que eu tenho interesse real de conhecer melhor.
Suspirei virando o rosto para o lado, desacostumada com esse tipo de abordagem.
Não era comum um garoto ter interesse romântico por mim. Não que eu me achasse desprovida de certa beleza, porém minha carranca habitual geralmente afastava o sexo oposto, impedindo-os de se aproximar.
Afinal, tinha coisas mais importantes para me preocupar.
– Code…confia em mim, você não vai querer se envolver com uma pessoa problemática como eu.
– Gatinha! Não diga isso… além do mais, tenho certeza que posso ser a solução para os seus problemas. – sorriu de um jeito que novamente, me causou arrepios.
– Tá! Se quer mesmo me ajudar… poderia então me dizer qual ônibus eu posso pegar para ir até o bairro da mansão Uzumaki ?!
Code estalou a língua levantou-se estendendo a mão calejada na minha direção.
– Vou fazer melhor que isso, vou te levar de carro até lá. Vamos?
Seria hipocrisia se eu dissesse que a companhia do jogador de lacrosse não era agradável. Logo, sem hesitar, aceitei a proposta dele, desejando voltar rapidamente para casa.
(...)
Por bem ou por mal, Code tagarelou praticamente o caminho todo, o que foi interessante de certa, pois acabei sabendo de várias informações um tanto inusitadas sobre o espírito habitante da minha residência.
Obviamente tive que me esforçar em esconder por diversas vezes o desconforto sentido ao escutar algumas histórias sobre a vida escolar de Boruto.
Como uma pateta, eu desviava o olhar para a janela, com o estômago embrulhado, enquanto o Code narrava detalhes das variadas conquistas amorosas do loiro na época em que ele era capitão do time de lacrosse.
Ok! Boruto era o garoto sensação do colégio e um puta de um galinha cafajeste. Talvez fosse esse o real motivo dele me querer longe de seus ex companheiros de lime.
E eu iludida, achando que o espírito bonitão pudesse estar preocupado comigo.
"Sarada! Sua trouxa..."
– Mas daí…um tempo atrás , um pouco antes do incêndio, Boruto começou a sair com a representante da nossa classe.
– Boruto tinha namorada então? – me peguei perguntando em voz alta sem querer, com vontade de me atirar daquele carro em movimento.
– Namorada?! A Sumire? Ahh sei lá… Mas ela era um pé no saco. Não desgrudava mais dele… acho que ficou apaixonadinha.
“Não a julgo…”
Sorri por instinto, mas logo voltando a ficar de cara fechada.
– … Boruto tinha todas as minas ao seus pés. Parecia o príncipe do Folha Verde…
– Huh…
“E você parece um invejoso…”
De saco cheio, sem entender o porquê ele não parava de falar sobre esse assunto, a minha vontade era mandar Code calar a boca e simplesmente dirigir aquela porcaria de carro importado.
– Enfim… mas agora eu sou o capitão do time de lacrosse. – declarou ele cheio de pompa, como se fosse algo super importante.
– E é você agora, quem tem todas as garotas aos seus pés? Parabéns.
E eu emendei num tom sarcástico, gostando de ver ele quase se engasgar com a própria saliva, constrangido.
– Que isso! Jamais … eu não sou um fanfarrão igual o Uzumaki era.
– Ahh claro…
Murmurei sem vontade, mas logo abrindo um sorriso gigante ao avistar os portões da mansão.
Céus! Havíamos chegado finalmente.
Com a intenção de me impressionar, Code tratou de saltar do carro assim que estacionou na frente da casa, abrindo a porta para mim descer feito um cavalheiro, e me envolvendo em um abraço caloroso, sussurrando com os lábios bem próximos ao meu ouvido, me deixando sem reação por um instante.
– Eu realmente adorei te conhecer, Sarada, espero que possamos ser bons amigos e… O QUE FOI? ESSE BARULHO DE COISA ESTOURANDO?
Code deu um berro, me soltando e dando um pulo para trás assustado, ao escutar o som das duas lamparinas existentes nos pilares do portão principal estourarem “sozinhas” espalhando cacos de vidro por todos os lados.
“Ahh Boruto… quando eu entrar, precisar conversar sobre essa sua traquinagem e várias outras coisas!”
Ignorando o garoto histérico que se despediu apressado, levei o olhar até a pequena janela existente no sótão, mirando na figura do loiro que me encarava com os olhos azuis repletos de fúria e saudade.
Continua...
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