Mas quanto mais você me machuca, menos eu choro
E a cada vez que você me deixa, mais rápido estas lágrimas secam
E a cada vez que você vai embora, menos eu te amo
Meu bem, não temos chance, é triste, mas é verdade
Eu sou bom até demais em despedidas
Sam Smith - Too good at goodbyes
RAPUNZEL
Elsa não veio para o baile. Graças a Deus, ela não precisava ver o show de horrores entre meu irmão e a bruxa da Úrsula. Qual era o maldito problema dele? Jack era um babaca. Enchi mais um copo de ponche e me recostei em uma das pilastras do ginásio.
- Você parece irritada - aquela voz. Me arrepiei toda, meus joelhos fraquejaram pela surpresa e minha pulsação rugiu nos ouvidos.
Ergui os olhos para o homem parado a minha frente.
- Professor Ryder - minha voz falhou miseravelmente ao dizer seu nome.
Ele estava lindo: os cabelos escuros bagunçados, a barba um pouco grande demais realçava o azul piscina dos olhos, e a boca. Deus, a boca. O terno azul claro brilhava de leve debaixo das luzes do globo espelhado, a camisa branca por baixo tinha os dois primeiros botões abertos, deixando a mostra um pouco dos pêlos do peito e que se danasse. Mas eu só queria saber se era tão macios quanto pareciam.
- Aproveitando o baile, professor? - Perguntei antes que aquele silêncio todo ficasse mais constrangedor.
Professor. Ele é seu professor, lembrei a mim mesma com veemência. Se ele é seu professor, não faria mal nenhum ele ensinar uma coisinha ou outra como tarefa extracurricular, aquela vozinha maligna disse no fundo da minha mente. Tomei um gole do ponche, eu precisava me acalmar. Toda.
Ryder me olhou de um jeito pouco... comum. Quase com atenção demais. Mas talvez fosse coisa da minha cabeça. Claro que era.
- Ainda não, a festa mal começou - e ele deu o sorriso mais lindo.
Reprimi um suspiro de desejo que queria escapar. Tão lindo, tão perto.
-... E eu lembro de já ter pedido para me chamar de Flynn, Rapunzel - ele disse com a voz rouca.
Santa Maria Mãe de Deus.
- Não parecia certo antes... Flynn - o nome dele saiu enrolado da minha língua e com um leve pregar no final.
Eu tinha me formado semana passada. Flynn não era mais meu professor. Pelo menos eu achava que não. E nem Flynn achava isso, já que tempos depois eu estava sentada na mesa da sala de inglês, com ele entre minhas pernas, me beijando com um desejo assassino. Ah, eu poderia morrer com aqueles beijos.
- Você é tão linda...- Ele murmurou contra meu pescoço enquanto ia descendo mais e mais, até parar com os lábios entre meus seios.
Fiquei paralisada, entre a expectativa e a curiosidade hesitante pelo desconhecido. Como seria se ele tocasse meus seios? Não demorei a descobrir e mesmo por cima do tecido fino do vestido vermelho, entrei em um estado de êxtase profundo, hipnotizada pela massagem que Flynn fazia.
- Sem sutiã, que delícia. - Flynn mordiscou meu pescoço, o lóbulo da minha orelha, meus lábios, sem parar de massagear, com um pouco mais de força que o início.
E eu não queria que ele parasse. Mérida irrompeu pela porta e não exitou em me puxar dos braços do professor.
- Vamos, Ells entrou em trabalho de parto, sua safada maldita.
Saímos da escola rindo, eu não sabia se ria pela situação ou se chorava pelo o que não tinha acontecido.
MÉGARA
- Se explica, Hércules. Eu tô te dando a chance de se explicar - minha voz saiu furiosa, implorando.
Por favor, estrela do futebol, me explica, expliquei com o olhar. Não podia ser verdade. Não ele. Por favor, ele não. De todas as pessoas. Não ele. Mas ele não me olhava. O patético canalha imbecil e covarde não tinha coragem nem de me olhar.
- Garotão - usei o apelido que guardava quando estávamos sozinhos, quando éramos só nós dois. - Você me usou por uma aposta, Hércules? Qual foi o prêmio? Dinheiro? Popularidade? Você não precisa de nenhuma dessas coisas.
Ele continuava olhando para longe de mim, para um ponto cego acima e atrás da minha cabeça. Nunca mais, eu nunca mais...
- QUE PORRA VOCÊ IA GANHAR POR ME FODER, CARALHO? - Berrei e fui até a mini-câmera escondida entre a TV e um vaso de flores de plástico de um hotel próximo da escola. Joguei a câmera no peito dele é quando ela quicou no chão, pisei nela até não sobra nada além de plástico e lente estilhaçados.
Me aproximei de Hércules, do Capitão do time de futebol da escola, do rei daquele lugar podre e imundo, o babaca que ele era, que eu fingia não ver; e o beijei. Beijei como nunca tinha beijado antes. E horas depois, quando o sol despontava entre as cortinas do quarto, o ódio surdo que eu sentia por ele no lugar do que antes era amor, vesti minhas roupas e deixei um bilhete e minha calcinha no travesseiro onde eu tinha me deitado.
"Espero que o preço tenha valido a pena. Não me procure.
NÃO ME PROCURE."
Nunca mais, nenhuma maldita chance de isso acontecer outra vez.
ELSA
- Mais uma contração vindo, Ells - Meri sussurrou para mim.
Meu corpo ficou todo tenso e quando a dor veio, eu gritei.
- Empurra! - A médica, a enfermeira, Meri, Rapunzel, todas gritaram juntas.
E eu empurrei e com um pop, a cabeça e depois o corpo escorregou para fora de mim. Exalei de alívio e minha cabeça caiu contra o travesseiro. Não demorou muito para ouvir um choro estridente e zangado. Meu bebê, meu primeiro bebêzinho. Chorei junto com ele.
- É um menino! - A enfermeira gritou exultante.
Um menino, meu menininho. Antes que eu pudesse pedir para pegá-lo no colo, mais um contração chegou.
- Eu não aguento mais - sussurrei apertando as mãos de Meri e Punzie.
Rapunzel acariciou meus cabelos suados e abriu um sorriso doce.
- Você consegue. Você tirou um, vai tirar o outro. - Ela disse animada.
Respirei fundo.
- Na próxima, você empurra com tudo que tem. Eu estou cansada de ouvir seus gritos, Ells. - Meri apertou minha mão de leve, me apoiando apesar das palavras de aparência dura. - Estamos aqui a mais de 20 horas. Por favor, por favor, coloca essa criança preguiçosa pra fora.
Dei uma risada cansada.
- Mais uma vindo - a enfermeira informou.
Respirei fundo.
- EMPURRA!
Eu gritei, e gritei. Gritei tanto e fiz tanta força que senti o gosto de sangue no fundo da boca. Quando me calei, ouvi o choro de outro bebê.
Com os dois embrulhos nos braços, um amarelo e um verde claros, eu sorri.
- Olá, meu Floco e minha Nevasca.
O garotinho franziu as sobrancelhas pequeninas e a garotinha fez um barulhinho com a boquinha em botão. Lindos, eles eram tão lindos e tão meus. Olhando para a paz que os dois bebês tinham, eu chorei. Chorei pela quantidade de amor que não cabia no peito. Era tanto, tanto amor, um amor tão diferente que meu coração se partiu e se curou e se partiu de novo num ciclo infinito até que eu pudesse senti-lo no ar. Dos pés a cabeça. Não existiam palavras para aquele tipo de amor.
- Você já escolheu os nomes? - Meri perguntou horas depois.
- Sim - ela e Punzie me olharam curiosas.
ADAM
Abri a porta de casa e encarei a mesa cheia daqueles babacas gordos e inúteis, a fumaça era como uma névoa naquela merda. Eu não ficaria mais ali nem por uma maldita noite.
"Vou dormir no carro, passo na sua casa amanhã", mandei a mensagem para o telefone da Ariel. Não devia ter deixado ela cuidando do idiota aproveitador. A ruiva precisava aprender sozinha para quem estender a mão, algumas pessoas simplesmente não valiam a pena.
Olhei para a foto na mesa no canto do quarto, minha mãe me abraçava e velho abraçava nós dois. Mas quando ela morreu, ele foi com ela. E eu estava cheio de viver ali, onde não tinha mais nada dela. Fechei a mala com a foto dentro e pulei a janela. Se ele não me via sair, não poderia me impedir.
MOANA
Respirei fundo. Ai, que porra. Meus pais me esperavam no pé da escada, com Maui atrás deles. Os dois traidores deveriam ter contado que eu ia embora hoje. Chutei as malas pesadas escada a baixo, elas desceram escorregando e pousaram com um estrondo. Não me importei. Eles tampouco. Minha avó só abriu um sorrisinho enrugado. Ela entendia. E graças aos deuses por isso. Desci as escadas como se eles não estivessem ali e me agachei na frente da cadeira que balançava da minha avó. Sentiria falta dela.
- Vai esperar por mim? - Minha voz saiu mais alta que eu esperava. Não era uma pergunta só para ela, e todos ali sabiam disso.
Mesmo que Maui tivesse mentido junto com meus pais, eu não suportava a ideia de perdê-lo para sempre. Pelo menos por enquanto, talvez um dia aquilo fosse passar. Não olhei por cima do ombro para obter uma resposta, mas minha avó assentiu e eu soube que a resposta tinha sido sim.
- Não morra. Amo você. - Um pedido, uma exigência. Uma promessa. Para os dois.
MÉRIDA
Doía ter que deixar tudo para trás, a minha vida estava ali. Mas eu não podia, não com Vanellope naquela casa. Sendo tanto um presente quanto uma maldição. Ela era nova demais. Eu não faria aquilo. Ela era minha irmãzinha, caramba! Mesmo que adotiva. Nell era família, eu não ia destruir a minha. Arrumei as malas e deixei a casa durante a madrugada.
Mesmo sem vê-la, eu sabia que ela estava na janela do quarto, espiando através da cortina. Acendi um adeus. Eu voltaria. Não por mim. Por ela.
ARIEL
Olhei para os dois riscos no teste de gravidez. Grávida. Eu. Grávida de alguém. Mãe de alguém. Merda. Merda. Ai meu Deus. Tem um bebê dentro de mim. Porra. Ouvi batidas na porta do banheiro do novo apartamento. O que eu fui fazer? Como pude ser tão burra?
- Ruiva? Tá tudo bem aí? - Adam perguntou do outro lado da porta.
- Tá aberta, entra. - Nem minha voz parecia que era minha.
Vazia, inexpressiva, de outra pessoa. Caralho. Faculdade, apartamento novo, emprego de meio período. Merda. Mil vezes merda maldita.
Adam abriu a porta, se sentou na tampa do vaso, e segurou minhas mãos entre as dele.
- Ei, o que aconteceu?
Não falei nada. E depois de entregar o teste na mão dele, não precisei.
- Eu tô afundada até o joelho em merda, Linguado. Quê que eu faço?
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