Quando eu comecei a trabalhar para a indústria da Kurama' s Beer, eu não imaginava que me tornaria tamanha apreciadora do produto. Fala sério, quando a gente é adolescente acredita que cerveja é amarga e ruim, mas depois de adulto, o amargor da cerveja é o de menos na vida.
Eu diria que eu sou uma pessoa um tanto desacreditada do amor e por vezes até do ser humano. As constantes decepções que já sofri na vida foram suficientes para que eu formasse essa opinião. E me julguem, mas esse é meu pensamento. Do jeito que as coisas vão com o mundo, ele não vai mudar.
Meu chefe é uma das pessoas que fazem com que eu continue com esse pensamento. Por falar nisso, o assunto chegou.
— Sakura, o levantamento dos bares para reposição já está pronto?
Minha vontade imediata foi dar o dedo do meio pra ele e mandar que vá se foder. Ele mandou essa demanda pra mim ontem, porque o incompetente do Hidan não serve pra fazer uma simples planilha no Excel. Por que esse filho da puta trabalha no administrativo mesmo?
— Estou finalizando, senhor Itachi. Até às 15h estará pronto no seu email. – não fiz questão de manter contato visual, não tem necessidade nenhuma visto que eu já respondi o que esse chato quer saber.
Okay, talvez ele não seja uma pessoa tão ruim assim, mas ele sempre faz questão de pegar no meu pé. Ino, minha melhor amiga, diz que isso tem nome: atração. Eu não concordo com ela. Tudo bem que ele é bem bonito, principalmente os olhos de um preto tão profundo, quase que não dá pra identificar a íris da pupila. Mas enfim, esse não é o ponto. A questão é que ele sempre exige muito do pessoal do administrativo e como eu sou a única que entrega resultado nessa bosta de escritório, adivinhem quem ele perturba mais? A escrava aqui, claro.
Mas nem tudo é ruim. Toda vez que temos o fechamento de um novo contrato ou lançamos um novo produto, o escritório sempre é o primeiro a degustar e comemorar o feito. E foi assim que eu aprendi a curtir uma boa breja.
No mais, meus dias aqui são tranquilos, mas eu não reclamaria por exemplo de ganhar na loteria. A Ino diz que eu deveria trabalhar como acompanhante, quem sabe sendo fodida, eu ganharia mais e reclamaria menos. Eu acho ela uma cuzona por sugerir isso, mas não nego que já pensei sobre. Não sobre trabalhar, mas sobre meu mal ser falta de sexo.
Mas transar envolve socializar com o sexo oposto – ou com o mesmo, por que não – e eu não sei se quero tanto assim interagir com outro ser humano. E ela diz tudo isso sem nem me ver o dia todo. Apesar de trabalharmos na mesma empresa, não é o mesmo setor. Ela trabalha na parte humana da empresa, pra ser mais precisa, na Segurança do Trabalho. Nos vemos apenas nos almoços e às vezes nem isso, eu não tenho horário fixo pra almoçar e só isso me faz odiar o senhor Itachi um pouco mais.
Agora, graças ao bom Deus, já deu meu horário. Já bati meu ponto e já estou indo ao tão temido ponto de ônibus. O horário de pico é o terror do trabalhador. A gente já está exausto de ter trabalhado o dia todo, às vezes de pé em período integral e na hora de ir embora tem que sentir o cecê de outras pessoas e ficar em pé também.
Que inferno!
O ponto de ônibus está lotado e se o ponto está, o ônibus estará.... Lotadíssimo. Deus me ajuda que até chegar em casa tem chão.
Eu acredito que o pobre como trabalhador deveria ser mais visto por Deus, principalmente na hora de ir embora. Esse ônibus que chegou está tão lotado que mal cabem mais pessoas dentro, mas o motorista por algum motivo que eu desconheço, está pedindo pro último passageiro em pé dar mais um passo pra trás. Eu me pergunto onde esse passo vai ser. Deveria ser na cabeça desse filho da puta.
Outra coisa que me estressa além da medida são os idosos que pegam ônibus nessa hora. Sim, me julguem. Na hora de ir pra forro e baile da terceira idade eles estão ótimos de saúde, mas na hora de pegar ônibus é um tal de "não aguento ficar em pé". Tirando que vamos ser sinceros: a menos que o idoso trabalhe no horário de pico, por que sair de casa nessa hora?
Agora cá estou eu em pé porque não tem banco disponível e quase não tem espaço pra ficar em pé também.
Só pra constar: eu odeio ser pobre.
(...)
1h15 em pé, depois de uma baldeação, estou finalmente em casa. Isso deveria ser um bom sinal, né? Quase é.
Eu preciso agora fazer janta pra mim, arrumar marmita pra amanhã e ainda assistir às aulas do EaD. Quem amou? Meu psicológico que não, tô tão cansada que não faço ideia de como vou conseguir absorver alguma coisa. Mas é isso, não nasci rica, infelizmente. Espero até hoje meus pais me contarem que tudo isso foi um trote, que é pra me ensinar a ser humilde e a dar valor no dinheiro. Sonhar é de graça, ainda bem.
Fiz uma comida tão sem vontade e fome, mas eu não poderia me dar ao luxo de não fazer marmita pra amanhã. Imagino eu trabalhando como uma filha da puta e luxando almoçando fora todo dia. A conta não bate. Mas fiz a comida e deixei a marmita pronta. Ainda tinha que tomar banho e estar minimamente decente para as aulas. Nunca se sabe quando um professor vai pedir pra ligar a câmera.
Se tem uma coisa que eu não abro mão é do meu pijama. Já não bastam as humilhações do dia a dia, na hora de estudar eu mereço estar pelo menos confortável.
Mantive a câmera fechada o tempo todo e foi isso. Graças ao bom Deus, nenhum deles pediu pra abri-la e tampouco eu quis fazer. Quando a última aula acabou, finalmente eu pude relaxar. Agradeci ainda mentalmente que meu curso não seja presencial ou só Deus sabe em que momento eu conseguiria fazer isso.
23h40 e eu estou morta.
Bem vindos a minha vida!
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