Shiro Yui
Quando nasci, meus pais estavam muito longe do Japão. Eu sempre fui a menina estrangeira que tinha olhos muito pequenos e uma personalidade muito forte para ser atrante. Meu QI era mediano, nunca fui nenhum tipo de gênio, e não fiquei mais popular quando voltamos para Tóquio. Me formei no mesmo ano que consegui um emprego que pagava mal e exigia o dobro, como editora assistente de um jornal falido e sem credenciais.
Em seis meses ele estava de novo no mercado.
Não fiz tudo sozinha, claro que não. Mas sem mim, eles ainda estariam tentando vender seções de anúncio para se manter em funcionamento. O que queria dizer é que as coisas que caem nas minhas mãos encontram seu rumo. Inclusive Takashima.
Naquela manhã em particular, tinha um tubo de soro enfiado no meu braço esquerdo e um e-mail perigoso na mão. Tinham acabado de me entupir de gelatina sem sabor e um chá pavoroso sem açúcar, então meu humor não estava dos melhores. A médica do plantão tinha conversado comigo numa voz maternal e tentara me preparar psicologicamente para saber que estava grávida.
E que um filho da puta tentara me matar.
Ela ainda estava sorrindo, tentando me animar com a perspectiva de ser mãe, e tudo que podia pensar era que nunca, jamais, o idiota do provável pai saberia disso. Absolutamente.
-Ah... e você tem visita – decretou quando minha distração fui suficiente para arrasar com seu entusiasmo.
-Obrigada – disse sem pensar muito a respeito. Deuses, tinha uma pequena vida dentro de mim. Em breve, uma pequena vida correndo pelo meu apartamento pequeno e com péssima circulação de ar. Precisava encontrar um imóvel melhor ou meus pais tentariam me convencer a morar com eles. Com a promessa de comida caseira quentinha sempre que precisasse, era bem provável que acabasse cedendo e isso era caminho para uma derrota apavorante.
Um tufo de cabelos amassados entrou correndo pela porta e Takashima parou num rompante, os olhos arregalados, fundos em um par de olheiras que não combinava com ele.
-Você está terrível.
-E você está grávida – riu de nervoso e então lembrou da porta. Recuou de costas e fechou com movimentos cuidadosos, meio trêmulo. Parecia que se passara uma eternidade desde que tinha lhe visto pela última vez – Como se sente?
-Como se algum imbecil tivesse metido o para-choque do seu carro importado em mim – rebati com um sorriso prático – Senta aqui, não consigo olhar você ai, perto da porta como se fosse me defender de alguma coisa. Mesmo de cama, consigo derrubar dois de você, magricela.
Ele riu e isso fez seus ombros também relaxarem. Provavelmente estava se culpando pelo que me aconteceu. Takashima sempre se fez de durão. Era o estagiário mais desgraçado que alguém poderia querer contratar, mas cumpria ordens, obedecia horários e batia metas como ninguém.
Sentou-se aos pés da cama e reparei na camiseta de gola larga que usava sob o casaco acinturado. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo e as bochechas fundas pareciam rosadas... não... marcadas.
-Takashima, olha para mim – ordenei com uma incredulidade estampada na voz de tal forma que ele nem ponderou antes de obedecer – Isso é blush?!
As bochechas dele ficaram então completamente vermelhas e confirmei a diferença entre o natural e o artificial. Comecei a rir e deixei-o ainda mais constrangido, enquanto tentava encontrar uma forma de me explicar. Um pensamento interceptou os demais e fiquei séria, quase chocada demais para conseguir estender o braço e beliscar o seu.
-Ai!
-Seu viado vendido! – rosnei da maneira mais magoada possível. Takashima abriu a boca e ficou me encarando como uma estátua estúpida de arte moderna – Não acredito nisso! – tirei o travesseiro das costas e arremessei nele, mas Takashima desviou e voltou a esperar um motivo para o ataque – Não acredito que fiquei preocupada com você! “Uma amiga”? Uma amiga, você disse, seu mentiroso! Disse que estava com uma amiga mas está dando para algum maluco que gosta de maquiagem!
Já estava com vontade de rir da cara triste e surpresa dele, então diminuí as acusações. Não estava magoada de verdade, mas queria fazê-lo perceber que tinha mesmo ficado preocupada com ele.
-Não é isso! Não estou dando para ninguém!
-Onde você está, então? E não me venha com desculpas que eu arranco esse lábios carnudos cheios de gloss com as mãos!
Takashima bufou e se sentou mais perto, cruzando os braços. Ele podia ficar muito afetado quando estava sob pressão, então apertei os maxilares para não rir e estragar minha farsa.
-Estou com aquele garoto. Aquele que me ajudou duas vezes.
-Ah – lembrei da maneira distraída com que falara dele – Então devia acrescentar um “ainda” antes desse “não estou dando”.
-Será que pode esquecer por um momento minha inclinação a transar com todos os caras atraentes que cruzam meu caminho?
-Então ele é mesmo atraente?
-Shiro-san!
Eu ri, finalmente, e sua expressão suavizou. Era tão ingênuo que esperava mesmo que estivesse com raiva dele. Takashima era uma graça.
-Ok, não faço mais piadas. Mas quero saber o que aconteceu com você e o que tem a ver com isso – lhe estendi o e-mail que uma das garotas mandara do jornal. Takashima foi empalidecendo a medida que lia e senti meu receio aumentar – Starish está morto. A polícia não sabe quem fez isso, mas sabe que as chances de encontrar a base da quadrilha desapareceu. E eu sei, assim como você também sabe, que as coisas acabam de tomar proporções mais perigosas.
Takashima concordou com um aceno lento, a folha tremulando entre os dedos esquálidos.
-Reita é neto de um dos chefes de território – deu um suspiro – Céus, você sabe mais sobre a família dele do que eu.
-Shima...
-Ele me ajudou, me manteve a salvo. E tem cuidado de você – explicou com um nervosismo crescente, e eu sabia que estava tentando obter minha aprovação – Tem um homem de confiança dele no corredor. Ele ficou aqui todo tempo que eu não pude. Você está certa. Tentaram matar você. E invadiram meu apartamento e levaram tudo. Pensei que estava pegando um peixe pequeno, mas agora me sinto um Jonas estúpido, lutando contra Moby Dick.*
Dei um suspiro – Você sabe que são personagens de histórias diferentes, não sabe?
Rimos os dois, porque principalmente, não havia nada a fazer – Bem, e o que o senhor Incrível sugeriu que façamos? Você não pode ficar escondido no quarto dele para sempre, não é?
Ai Takashima corou novamente.
-O que?
-Bem... teoricamente... nós estamos namorando.
Arqueei as sobrancelhas e esperei, mas ele não parecia ter coragem de falar. Dei um suspiro e tentei parecer animada – Ok, então. Vocês estão namorando. E suponho que a família dele seja bem liberal, porque... bem... japoneses são tão tradicionais e vocês...
-Eles não sabem... – a interrupção foi quase um pedido de socorro. Takashima desviou os olhos para o teto e tentou sorrir, mas não deu muito certo - ... que eu sou um homem.
-Como...
-Reita me apresentou como sua namorada.
-Ele é retardado? – comecei a gargalhar como nunca antes na vida.
Takashima, com aquele tanto de altura, uma voz grossa e um pescoço completamente masculino, com aquele olhar que fazia as garotinhas da recepção sentarem para não desmaiar... E queriam que uma família inteira acreditasse que era uma mulher?!
Era o plano mais ridículo que eu já ouvira!
-Não foi minha ideia! – defendeu-se um pouco ofendido e ainda não tinha parado de rir quando resolveu insistir nisso – As pessoas acreditam. Eles me chamam de onee-sama e ficam me paparicando. Eu disfarço a voz e fico no quarto a maior parte do tempo. É sério! Para de rir, droga!
Respirei fundo e aos poucos a histeria foi se acalmando. Mas deuses, podia voltar a rir a qualquer momento. Takashima... uma mulher... era uma piada perfeita demais para ser ignorada.
-Ok, onee-sama – suspirei – E quanto tempo essa história ainda vai durar? Hum? Reita está investigando ou só tem prazer em manter você sob o mesmo teto?
-Ele está... investigando – a certeza dele deu uma oscilada e percebi que o fizera pensar – De toda forma, está se mostrando um bom amigo.
-Claro que sim.
-Está sendo irônica.
-É mesmo?
-Shiro-san.
-Takashima?
Arqueei as sobrancelhas de novo e ele suspirou, revirando os olhos – Certo. E você deveria me chamar de Kou. Se somos amigas, temos que parecer mais íntimas.
-Claro que temos – ri de novo, sem poder me controlar – Kou-chan. Nunca vou esquecer desse momento memorável da minha vida.
-Você é impossível – reclamou quase manhoso e estendi-lhe as mãos. Seu rosto ficou mais tranquilo e eu me senti melhor quando suas mãos parecerem quentes nas minhas – Estou feliz que você e o bebê estejam bem.
-E eu que você está inteiro – sorri com mais simpatia – Não vou implicar com o seu namoradinho, mas quero conhecê-lo. Ou acha que pode namorar qualquer um e eu vou ficar calada?
-Não sei se devia se envolver com eles...
-Não somos amigas? Me traga esse tarado do blush aqui, mocinha.
Takashima se levantou com um suspiro cansado – Só prometa que não vai chama-lo assim, está bem?
Kouyou
Reita estava perto da cafeteria interna do hospital quando me aproximei. Assim que me viu, sorriu e veio caminhando com seus passos firmes e um movimento nos quadris arrebatadoramente sexy. Engoli em seco e tentei pensar em outra coisa. Como por exemplo o cansaço mental em que Shiro-san me colocara. Deuses, ela podia ser mais perigosa que Aoi e sua mania de querer atirar nas coisas.
Deixara o protótipo de segurança na porta e ele não parecia nem um pouco aborrecido. O tipo estranho de pessoa que nunca vou conseguir compreender.
-Como ela está?
Suspirei e estendi a mão para seu copo de café – Quer conhecer você – tomei um gole e fiz uma careta. Reita não usava açúcar ou creme – E bem. Com a língua tão afiada que quase saí chorando de lá.
Reita franziu a sobrancelha e isso acentuou as marcas rochas ao redor dos olhos – Acho que gosto indiretamente dela.
-Espere até poder gostar pessoalmente – revirei os olhos e lhe devolvi o café. Tinha tanta coisa na cabeça que não conseguia pensar em nada com clareza.
-Kou?
-Hmm?
-Quero fazer sexo com você.
Meu coração deu um tranco, minhas pernas bambearam ligeiramente e uma parte muito interessante de mim ascendeu.
-Estamos em um hospital, Reita.
-Único motivo para você ainda estar usando roupas.
Mordi o interior da boca e lhe dei as costas, começando a andar na direção do elevador. Ele me seguiu, claro, e tentei não pensar no que ele estaria olhando.
-Starish está morto – disse no tom mais categórico que consegui, como se só isso pudesse destruir a tensão sexual quase palpável que nos envolvia desde o primeiro encontro, naquela rua.
-Eu sei. Recebi uma ligação hoje de manhã – explicou sem nenhuma alteração na voz. Será que apenas eu estava preocupado? Estendi o braço, mas ele apertou o botão do elevador antes de mim – Fizeram parecer um acidente de trânsito, mas nem mesmo a polícia acreditou nisso.
-E você? Acredita em que?
-Que ele se tornou um problema maior do que sua importância – as portas se abriram e infelizmente não havia ninguém. Apertei o botão do térreo e respirei fundo.
As portas se fecharam e não tinham espelhos, então mais senti do que vi Reita se aproximar das minhas costas e colar seu corpo no meu. Perto o bastante para arrepiar, não perto o suficiente para satisfazer.
-Quero fazer sexo com você desde o primeiro dia que o vi – sussurrou contra a pele do meu pescoço e de repente não conseguia mais inspirar ar suficiente. Um arrepio desceu pelas minhas costas e me peguei pensando em quão bom seria sentir que Reita me pertencia.
Nem que fosse por umas poucas horas de agonizante devoção, quão prazeroso seria?
As portas voltaram a se abrir e saí para o ar frio da manhã. Era um dia gelado e limpo, e meu sangue estava fervendo de várias maneiras. Estava aliviado e isso me deixava exausto. Shiro-san estava bem. Starish estava morto e isso significava problemas, mas não agora. Não nesse momento.
Ouvi Reita jogar fora o copo descartável e lembrei que o carro tinha voltado para casa. Me virei para perguntar se devíamos ligar para Lan, mas Reita fez sinal para segui-lo. Acho que caminhamos por uns quinze minutos sem dizer palavra. As ruas ali eram estreitas e me pareciam todas iguais, com lojas pequenas de comida tradicional, lembrancinhas de bambu, estátuas de deuses Shinto, alguns altares coloridos, guirlandas de flores secas. Havia muito de tudo e acabei distraído, observando, absorvendo aquele lugar.
Quando as lojas abertas deram lugar a lugares fechados com cadeados e grades de correr, me aproximei instintivamente de Reita. Não sei se ele percebeu.
-A pessoa que comandava Starish deve estar agora planejando a melhor maneira de silenciar todas as outras fontes de problema. Provavelmente esse foi o passo em falso que esperavam para acabar com Starish, não precisa pensar que foi culpa sua – fiquei surpreso ao perceber que Reita já conseguia antecipar até meus pensamentos – Essas pessoas normalmente causam tantos problemas aos seus líderes que estão sempre com a cabeça ameaçada – parou de repente – Chegamos.
A fachada era de uma loja em estilo tradicional, com uma janela de correr um pouco desgastada e uma porta estreita. O andar de cima estava todo fechado, mas seguia o mesmo estilo da Era Meiji**. Reita tirou uma chave do bolso e abriu a porta, me dando passagem. Entrei sem pensar duas vezes e vi, diretamente, que a frente na verdade era apenas uma sala antes de um grande jardim. As laterais do jardim eram corredores que levavam a uma escada dupla nos fundos e então ao segundo andar. Havia alguns quartos fechados ali embaixo e nos fundos uma cozinha em estilo antigo, com fogões de pedra a uma horta desleixada. Ele me mostrou tudo isso sem dizer nada e fiz minhas próprias observações mentais.
Subimos a escada com cuidado, mas todos os degraus estavam firmes. Imaginei quão bonito aquele lugar ficaria se fosse bem cuidado, mas não comentei. Podia sentir a presença silenciosa de Reita às minhas costas, mas não me incomodava mais. Na verdade, me sentia quase seguro. O andar de cima tinha quatro quartos amplos, alguns com móveis velhos esquecidos, quase desfeitos pelo tempo.
-Era um bordel.
Me virei de repente, surpreso pela quebra no silêncio. Reita apontou o biombo envelhecido pelo tempo e tentei imaginar as cores em creme e os detalhes dourados em todo seu esplendor.
-Quando meu avô comprou esse lugar, vinha aqui me imaginar como um grande general, cansado de lutar. E imaginava qual doce e linda garota viria me atender – limpou um pouco o chão com o pé, afastando uns pedaços de madeira que não pareciam pertencer a lugar nenhum. Desistiu. Tirou a jaqueta e a usou para se sentar em cima. E eu estava feliz em imaginar um pequeno Reita ali, brincando de ser adulto.
-E como elas eram na sua imaginação? – toquei o biombo e quase vi uma dezena de garotas passando por ele, usando suas risadas cristalinas e o contorno dos corpos contra a luz para satisfazer velhos bêbados. Pobres escravas de uma era.
-Todas mais ou menos parecidas com Tsukino Usagi – confessou com uma risada alta.
-Não! Sailor Moon não! Reita... estou chocado – consegui dizer entre risos. Não podia imaginá-lo apaixonado por uma personagem tão comum – Assim você me decepciona.
-Ela não faz mais o meu tipo.
Parei de rir. Dei-lhe as costas, interessado no biombo, interessado nas coisas que aquele maldito moleque me fazia sentir.
-Devia continuar fazendo. Garotas daquele jeito são doces, são fortes. São tudo que você devia querer – murmurei sem vontade de esconder o que pensava. Reita se levantou e parou do outro lado do biombo, quase podia vê-lo pelo tecido desgastado.
-Não estou brincando, Kouyou. Quero você.
-Não sabe o que quer – insisti sem força de vontade.
Deu a volta tão furiosamente que o biombo se desequilibrou e caiu no chão, desprendendo uma das partes dobráveis. Estava triste pelo objeto e as mãos dele estavam ao meu redor, segurando minha cintura por baixo do casaco aberto.
-Não me diga o que eu sei ou não. Não pode ler meus pensamentos.
-Nem você aos meus.
-Então me fale claramente. Por que não me quer?
Engoli em seco e percebi que não adiantaria mentir mais para ele. Se pelo menos visse que estava sendo sincero, talvez desistiria.
-Eu quero – antes que me beijasse, voltei a falar – Mas não podemos. Você mesmo disse, sonhava com uma garota que eu nunca serei.
-Sonhos de criança!
-Mas também é verdade. Nunca esteve com uma garota de verdade, foi arrastado por responsabilidades que não deveria ter... Deus, nem sei que idade tem! - e isso era verdade, percebi com horror.
-Isso importa? – concordei com a cabeça e ele suspirou, irritado. Meneou a cabeça e parecia mesmo chateado por ter de falar nisso – Você vai achar ruim.
-Então me fala!
-Tenho dezenove.
Como se tivesse levado um choque, tentei me afastar dele, mas segurou-me pelos braços, e a despeito da idade, era muito mais forte do que eu.
-Eu disse que você não ia gostar!
-Porque você é menor de idade! – comecei falando alto, mas o pavor de ser ouvido, mesmo sabendo estar quase isolado do mundo, fez com que terminasse num sussurro – Se alguém me denunciar, vão me levar para a cadeia!
-Se eu me envolver com a polícia, nem vou chegar até lá! – rebateu com uma ferocidade apavorada e isso me deixou mudo. Nós dois relaxamos ao mesmo tempo, mas não nos afastamos – Não me importo que seja mais velho e me ache um pirralho de merda. Não me importo que não seja uma garota. Eu gosto do seu jeito, dos palavrões e do jeito que sorri, ou como estreita os olhos. Gosto de como é sexy sem tentar e me da tesão sentir o cheiro do meu creme de barbear em você.
Outro arrepio desceu pelas minhas costas e ele estava tão perto que deve ter percebido.
-Menores de idade não deveriam falar em tesão – murmurei sem forças, quase fechando os olhos. Ele estava perto demais para conseguir soar coerente.
A uma resposta muda, tirou meu casaco dos ombros e se aproximou mais. Respirei tão fundo que pensei em nunca mais soltar o ar. Apoiei os braços nos seus ombros e suas mãos desceram até o meu cinto, um acessório unissex insosso que estava adorando cada vez mais.
-Nunca poderão saber sobre nós, ou vamos estar encrencados – abri os olhos, de repente apavorado – Você vai estar muito encrencado. Reita, eles podem... Eles podem...
-Shh – calou meus temores com um beijo rápido, depois outro – Eles nunca vão saber. Eu não vou contar. Você também não. Não vou deixar ninguém encostar em você.
Durante quase todos os meus vinte e seis anos, havia cuidado de mim mesmo e me orgulhava disso. Mas ali, quando ele dizia aquilo de maneira tão decidida, podia vender minha alma pela sua proteção.
-Quer mesmo ter a sua primeira vez em um bordel? – perguntei quase sem esperanças e ambos rimos entre um beijo e outro, nossos corpos ficando tão colados quanto poderiam. Arranhei suas costas e puxei a camiseta para cima. Ele fez o mesmo e ficou me encarando enquanto descia os dedos pelas minhas costelas, parando nas depressões entre os ossos.
-Esse foi um motivo ridículo, Kouyou.
-Estou ficando sem desculpas – suspirei e voltei a lhe beijar, agarrado ao seu pescoço.
Meus dedos sentiam os músculos das suas costas se contraírem conforme arranhava e acabamos contra uma parede, minhas costas arqueando com o contato frio. Podia senti-lo começando a ficar excitado, e eu ficava excitado por consequência. Parte da minha mente tentava lembrar que estava literalmente desvirtuando um garoto inocente, a outra parte, a maior e mais firme, queria que ele tirasse logo a droga da calça jeans
-Então aceite de uma vez que você não pode resistir ao meu charme – empurrei-o como resposta e ele sorria de canto, tão vermelho e constrangido que mal pude associar aquele rosto à frase descarada – Ok, só não fique me olhando assim. Eu só não quero fazer nada que o irrite. Pode me dizer quando parar...
-Rei...
-Eu...
-Rei, você está tremendo - sorri com o coração aos pulos. Vê-lo vermelho me deixava nervoso e com uma vontade insana de devorar cada pedacinho dele. Empurrei-o até que estivesse ele com as costas contra a parede e o beijei. Fiz aprofundar o beijo, as línguas se enroscarem e a saliva virar uma coisa só. O beijei da forma mais lasciva que conhecia e apertei meu corpo contra o dele, friccionando o joelho entre suas pernas.
Ouvi sua respiração ficar suspensa um instante, então tirei minhas mãos dele e abri seu cinto, sem parar de beijá-lo. Reita ofegava e segurava meus cabelos, sugava minha língua e raspava os dentes nos meus lábios. Ele era muito melhor no que fazia do que podia imaginar. Abri o zíper da calça e empurrei pelos quadris, suficiente para tocar seu membro coberto pela cueca justa. Ele tremeu e pareceu querer se afastar, mas não deixei. Meus dedos subiram e desceram pela sua extensão coberta e ele relaxou, quase hiperventilando.
-Kou... o que você quer que eu faça?
Ri baixo e lhe dei espaço para tirar a calça – Tira isso.
Ele me olhou um momento, um pouco nervoso, compreendo, e então obedeceu.
Um dos pequenos prazeres na vida é ver alguém que você sente atração tirar a roupa com uma ordem sua.
Na verdade, é um grande prazer.
O membro semi rígido começava a apontar para cima e ele tinha as bochechas coradas. Sorri comigo mesmo e abri minha própria calça, tirando tudo de uma vez. Podia sentir seus olhos em mim e fraquejei com a ideia de ser rejeitado.
Ser tocado, beijado, é uma coisa. Encarar outra pessoa e aceitar ela, seja igual ou diferente, é uma coisa completamente maior.
E eu tive medo que ele mudasse de ideia.
Seus olhos foram subindo devagar até meu rosto e não pude evitar a pergunta cruel – Decepcionado?
Reita abriu a boca devagar, o rosto ainda mais corado – Você é tão bonito que eu quero me esconder.
Meu coração acelerou um pouco, não posso negar. Voltei a ele em dois passos e deixei nossos corpos se tocarem devagar. Calor com calor, pele com pele, ereção com ereção. Ele emanava desejo e eu respondia em cada nível celular.
-Não há onde se esconder agora.
Quero pensar que ele estava muito ciente de tudo, mas a verdade é que parecia tão estarrecido, tão arrebatado por cada novo sentimento que era como se transasse com uma pessoa em transe. O jogo de palavras ficou péssimo, eu sei.
Escorregamos contra a parede, até o chão, e nossas roupas serviram de leito, meio sentados, eu quase no colo dele, e nada mais fazia sentido. Nos beijávamos como se pudéssemos sugar um a alma do outro e o masturbava ao mesmo tempo que ele tentava fazer isso para mim, ainda atordoado demais com tudo. Sempre fui bom com as mãos. Ele gemia e me mordia os ombros, voltava a me beijar e me arranhava como um filhote de gato. E eu respondia a tudo, indo e voltando com as carícias, aumentando o ritmo até os olhos dele virarem e despejar seu sêmen nas minhas mãos. Continuei tocando-o e meus dedos lambuzados então passaram para mim mesmo e assumi quando estava perdido demais para se lembrar de mim.
Era fácil ficar excitado com aquele garoto. Por todos os deuses, faria todos os dias com ele. No último momento senti suas mãos se juntarem às minhas e fechei os olhos com força, desejando que aquele momento durasse para sempre.
Estava suado, sujo, coberto de pó e sêmen, e ele me olhava como se fosse a oitava maravilha perdida. Ele era tão estúpido. E eu ainda mais, porque queria que ele continuasse me olhando daquele jeito para sempre.
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