Me joguei exausta no tapete da sala, sentindo cada músculo do meu corpo doer, minhas pernas estavam cansadas, meus braços pareciam duas amoebas de tão moles.
Mas a pessoa ao meu lado ainda parecia ter muita energia.
— Mama! — Fairy exclamou, batendo as mãozinhas em minha barriga — Corre, mama.
— Naaao, vamos brincar de dormir, que tal? — sugeri, tentando a puxar para que ela se deitasse em meu peito.
— Não! — sua voz soou um pouco mais alta e eu suspirei.
Era a frase preferida dela na última semana.
— Mas Fairy a mama tá cansada — murmurei, me sentando no tapete e encarando minha filha.
Era quase inacreditável como ela crescia rápido. Ela não seria baixinha como eu, mas duvido que seria tão alta como a outra mãe. Fairy já conseguia andar sem apoio, e por vezes teimava em tentar sair correndo e isso sempre acabava com ela caindo. Ela também já se achava grande o suficiente para ousar reclamar do que eu escolhia para ela vestir.
Tentei colocar um macacão nela hoje e ela só parou de resmungar e ameaçar chorar quando a enfiei em um vestidinho.
— Mama — ela soou agora mais manhosa, tentando subir no meu colo.
— Mas que bebê manhosa a minha fadinha — beijei seu rostinho, sentindo a sensação de plenitude quando ouvi sua risada gostosa.
— Brincar? — me olhou sorrindo.
A garota era manipuladora igualzinha a mim, por Zeus.
— Ok ok, cadê a bola? — perguntei enquanto já procurava o brinquedo, a vendo comemorar, principalmente quando peguei e joguei levemente em sua direção.
Não evitei a risada quando ela quis chutar e quase caiu para trás, mas mesmo assim conseguiu.
— Mas que artilheira incrível! — exclamei, a pegando no colo enquanto me levantava — Você fez um gol!! — comemorei, a vendo rir quando a joguei no ar.
Deixei uma risada escapar dos meus lábios também, antes de a colocar no chão. Me senti observada e ergui o olhar, sorrindo levemente ao ver minha namorada escorada na entrada da sala.
— Hey — a cumprimentei com um sorriso — Achei que estivesse na biblioteca então não quis te incomodar quando cheguei — expliquei, me aproximando e selando nossos lábios rapidamente.
— Agradeço por isso — Lauren sussurrou, ainda com o sorriso nos lábios — Elizabeth já foi? — perguntou, se referindo a babá da minha filha.
Que estava sendo alguém constante agora. Hailee a havia contratado há alguns meses e eu não estava me sentindo confortável com a ideia de uma babá, porém mesmo quando eu podia levar Fairy comigo para qualquer lugar, ainda precisava de alguém para tomar conta dela. Então Elizabeth estava praticamente sempre por perto.
Exceto as noites que eu estava em casa, mesmo que seu contrato dizendo que era ela a babá de Fairy 24hrs por dia.
— Sim, eu a liberei assim que cheguei — respondi, me virando para trás assim que ouvi o som da bola.
— Como foi hoje? — Lauren perguntou curiosa, andando até o sofá e se sentando próxima a Fairy.
— Lo!
Sorri pela animação de minha filha ao ver minha namorada.
— Foi meio interessante, Simon tem bons grupos, ele fez ótimas escolhas. Amanhã é a minha vez no six chair challenger — respondi enquanto observava Lauren entreter Fairy com um dos brinquedos de peças para encaixar — Você vai amanhã né?
— O que acha Fairy? Deveríamos ver a mama escolhendo seus participantes? — Lauren incluiu minha filha, a pegando no colo.
— Não tinha essa etapa na minha temporada, então eu me sentiria mais sortuda com minhas garotas lá — avisei, me sentando perto das duas.
— Hm, sim! — Fairy concordou, antes de já pular para sair dali.
— Então é um sim — Lauren afirmou, se virando para mim — Demi está com qual categoria?
— Garotas — respondi, sentindo uma súbita vontade de rir.
Sentia um pouco de pena da minha amiga.
— Ah eu vou conhecer sua ex — Lauren disse e o sorrisinho em seu rosto me dizia que ela estava se divertindo.
— Ela não é minha ex — avisei, me levantando do sofá e impedindo que Fairy entrasse dentro da lareira.
— Você só fez aquilo, que não deve ser pronunciado na frente de uma criança, com ela — Lauren retrucou e eu rolei meus olhos, a encarando.
— Algumas vezes, sim — admiti dando ombros.
— E com a Demi Lovato também, isso ainda me surpreende sabia? — Lauren comentou, jogando as pernas em cima do sofá — Tipo, como isso pode...
— Eu as peguei juntas sem querer e meio que rolou — respondi despreocupada, mais concentrada em tirar coisas que quebrem de perto da minha filha.
O silêncio que reinou nos próximos segundos me fez franzir o cenho e erguer a cabeça, encontrando o olhar incrédulo de Lauren.
— A primeira vez e vocês já...
— Sim sim, fizemos um ménage, mas não...
— Ménage
Arregalei meus olhos quando a palavra saiu em uma voz fofa e em seguida ouvi a risada da Lauren.
— Quero ver você tentando explicar para Hailee e Elizabeth como Fairy aprendeu essa palavra — Lauren disse sem conseguir parar de rir.
— Eei meu bebê, não diga mais essa...
— Ménage ménage ménage!!
— Oh porra — xinguei frustada, mas assim que Lauren parou de rir para me encarar quase irritada, eu sabia que tinha piorado a situação.
— Ménage porra! — Fairy exclamou, o tom de voz fofo deixando um pouco engraçado.
— Camila! — Lauren repreendeu, negando com a cabeça e se levantando — Vai fazer o jantar vai, antes que ensine mais alguma palavra para sua filha — me empurrou para cozinha.
Não evitei a risada ao ouvir Lauren falando outras coisas para Fairy, a distraindo do que eu havia dito sem querer. Tirei uma massa do congelador, colocando no microondas e deixando ali enquanto eu preparava a comida de Fairy a parte. Voltei para sala apenas quando terminei, mas me mantive no lugar notando como minha namorada acalmou minha filha. As duas estavam sentadas no chão, Fairy estava entre as pernas de Lauren e prestava atenção em um livro colorido que estava a sua frente, o qual Lauren passava as páginas, contando alguma história.
Suspirei baixinho. Eu gostava daquela visão. Gostava de como meu coração acelerava vendo aquilo. De como minha namorada cuidava da minha filha, mesmo que não fosse filha dela também. Parte de mim queria que fosse. Queria que Fairy chamasse Lauren de "mãe", queria que fôssemos uma família.
De certa forma, já éramos.
— Ei — chamei baixo, ganhando atenção somente de Lauren — Tá pronto — avisei, a vendo assentir levemente.
Voltei para cozinha e em poucos minutos Lauren entrou com Fairy nos braços, a colocando na cadeirinha próxima a mim.
— Por sinal, você não vai conhecer ninguém — comentei, tendo o olhar confuso de Lauren enquanto eu tentava alimentar minha filha — A categoria de Demi foi a primeira, antes de ontem — lembrei despreocupada — Eu te falei, lembra?
— Ah sim, você estava reclamando que ela passou CeCe para a próxima etapa — Lauren se recordou e eu assenti — Você sabe que eu acho um tanto quanto engraçado essa situação, né?
— Sei — lembrando de como ela ria enquanto eu me sentia frustrada.
Achei que a iria incomodar muito mais, contando com sua reação em Brasil, até entender que eram apenas outros assuntos a incomodam. E que conseguimos resolver em poucos dias. Lauren ainda teve uns dias ruins quando voltamos para casa, mas após um tempo ela começou a se sentir melhor, sendo a pessoa que eu conhecia.
— Mas provavelmente você a irá conhecer nos Live Shows — avisei, relembrando as participantes de Demi e odiando pensar que CeCe era uma forte candidata.
— Tudo bem — Lauren deu ombros, sem se importar muito com aquilo — Está nervosa com amanhã?
— Sim — confessei, fazendo uma careta tanto de nervosismo como pelo fato de Fairy ter deixado cair molho em minha calça — São muitos bons cantores — expliquei, limpando a mim e a minha filha — É uma sensação nova, não tive essa etapa quando participei do programa e agora eu sou quem decide quem vai e quem fica — murmurei já sentindo a ansiedade por aquilo.
— Camz — minha namorada me chamou gentilmente e eu a encarei, a vendo entrelaçar nossas mãos em cima da mesa — Você irá se sair muito bem — garantiu, se inclinando para beijar meus lábios em um selinho demorado.
Me senti subitamente confiante após isso.
(...)
As luzes do palco estavam baixas, focando em James TW que estava no centro dele, o violão ainda em mãos, apoiando seu braco. O sorriso um tanto quanto apreensivo. Eu sabia que casa reação minha estava sendo gravada e isso me deixa a ainda mais nervosa.
— Isso é tanta pressão — reclamei, ouvindo os gritos da plateia atrás de mim, vendo minhas seis cadeiras ocupadas e o rapaz que canta tão bem parado no palco, me encarando com expectativa.
Mordi o lábio por alguns segundos antes de suspirar.
— Ok James, você tem uma cadeira — contei, o vendo sorrir largo antes de comemorar.
Ao mesmo tempo que ele comemorava, todos que já estavam sentados me olhavam apreensivos. Alguém iria sair.
Me levantei da cadeira, porque já não aguentava a ansiedade correndo meu corpo me deixando nervosa. Olhei para a plateia, como que pedindo a opinião deles. Mas na verdade apenas procurei Lauren e Fairy com o olhar.
Minha namorada sorria levemente em minha direção, como se confiasse que eu faria a melhor escolha ali. E para completar, Fairy estava sentada em seu colo e tentou se mover ao me avistar. Sorri com a cena.
E me virei novamente para o palco, notando como Simon parecia frustrado pelo o que eu estava fazendo. Mesmo assim eu sabia que estava certa. Isso era um jogo no fim das contas, e as peças eram seres humanos. Eu tinha que usar a estratégia e ainda levar em consideração os sentimentos dos meus participantes.
— James, você irá se sentar e eu quero ver um sing off entre Josh Levi e Stone Martin — avisei, apontando para os mais novos da minha categoria.
— O quê!? — consegui ouvir até Kelly soar incrédula, mas ainda sim vi os garotos cumprimentarem James antes de irem para o palco.
— Me surpreendam — pedi, me sentando novamente e prestando atenção nos dois.
Tinha algo que eu aprendi quando ainda estava em minha temporada. The X Factor não era o The Voice. Nosso foco não eram apenas boas vozes. Qualquer um poderia cantar bem com algumas aulas e um esforço e era melhor se você nascesse com o dom e apenas pudesse o aperfeiçoar. Mas, eu demorei um pouco para entender o que era o Fator X que tanto buscavam.
Precisávamos de um artista completo que fosse bom o suficiente que fizesse as pessoas votarem por ele. E então, comprassem sua música quando saísse daqui.
Eu não ganhei o programa, mas conquistei uma legião de fãs. E isso, o próprio vencedor da minha temporada não conseguiu. Tate Stevens tem uma voz única e maravilhosa, é um ótimo cantor de country. Mas não conquistou fãs o suficiente para o apoiar após o programa.
Tive isso em mente enquanto assistia os garotos e prestava atenção a plateia. Stone era fofo, tinha uns 14 anos e tentava usar a sua fofura para ganhar. Sua voz não era excepcional mas era agradável, ele sabia cantar. Ergui minha sobrancelha ao pensar que minha irmã era um pouco mais velha e não iria gostar de ver um clipe dele. Por outro lado Josh Levi tinha a mesma idade, mas tinha estilo, se movia pelo palco e fazia uma música se tornar sua. Tinha um sorriso que podia conquistar e era simpático e engraçado.
Não foi uma decisão difícil.
— Stone — chamei o mais novo o vendo me olhar com expectativa — Eu sinto muito, mas você vai para casa hoje — avisei, sentindo meu coração apertar ao vê-lo tentar segurar as lágrimas — Ei vem cá — chamei o garoto, saindo da bancada e o vendo se aproximar.
— Eu só, eu não...
— Ei, respira ok? — pedi baixo, o encarando e o vendo fazer o que falei — Isso não significa que você não tem talento ou que não saiba ser um artista, só significa que você tem que treinar mais, se esforçar mais, se dedicar mais e então voltar aqui e mostrar quem você é — expliquei, o abraçando — Você canta bem, Stone. Não desista, tudo bem? Treine mais e volte aqui — praticamente mandei, me afastando para o ver assentir e emxugar uma lágrima — Agora, acho que sua mãe também quer um abraço — murmurei, apontando para a plateia onde eu já via a mãe dele se afastar para o encontrar nos bastidores.
Senti meu coração apertar mais uma vez ao o ver abraçar Josh o parabenizando antes de sair sendo aplaudido por todos.
Voltei a me sentar, parabenizando Josh e o pedindo para ir até sua cadeira. Encarei o seis que já estavam sentados e fiz uma careta, ainda haviam três cantores para se apresentar, mas eu não queria tirar ninguém dali.
O que eu consegui, as apresentações não foram tão boas então os mandei para casa. Rindo de alívio quando tudo acabou e eu pude abraçar os participantes que iriam para a judge house na próxima semana.
Esperei a gravação acabar, respirando fundo e me levantando, ouvindo Simon dizer que fiz um ótimo trabalho.
— Finalmente acabou — Demi disse cansativa, balançando a cabeça — Essa fase é a pior — completou, soltando um bocejo.
— Então, você escolheu CeCe e Jennel para passarem — comentei casualmente.
— E também escolhi outras quatro incríveis cantoras — completou, me acompanhando para os bastidores.
— Você sabe o que eu quis dizer, Dems — a encarei com a sobrancelha erguida, a vendo suspirar alto.
— Ainda não sei o que pode acontecer, não tive muito contato com nenhuma das duas para saber se há algo a mais que queiram — respondeu cansada e eu não evitei o sorriso malicioso — Não nesse sentido, idiota — me empurrou, me fazendo soltar uma risada.
— Ok, me desculpe — pedi, ainda rindo — Boa sorte na próxima etapa — desejei, sabendo o quanto ela iria precisar.
— Obrigada, te aviso se CeCe ainda quiser xingar a nós duas — avisou, me arrancando mais uma risada antes de eu me despedir dela.
Não precisei caminhar muito até encontrar minha namorada. Ela estava sentada na minha cadeira, no camarim, e mesmo com pessoas ao redor, ela estava concentrada em filmar minha filha que tentava dançar ao som de uma música minha que tocava nas caixas de som do teatro.
Sorri com a cena.
— Mama — Fairy me viu primeiro e eu parei, a deixando andar até mim.
— Heey meu bebê — a peguei no colo por alguns segundos antes a deixar voltar para o chão — E Oi meu amor — beijei o rosto da minha namorada, tendo seu sorriso em minha direção em instantes — Ela deu trabalho? — perguntei, me sentando ao seu lado.
— Só ficava agitada quando demorava demais ou te via melhor no palco — deu ombros, me olhando com a feição suave — Como está?
— Cansada — admiti, deitando minha cabeça em seu ombro, meus olhos seguindo minha filha para não a perder de vista — Hoje foi difícil — murmurei, ainda me sentindo nervosa e um pouco culpada por mandar bons talentos para casa.
— Eu acho que você se saiu bem — Lauren me confortou, e eu sorri sentindo sua mão se entrelaçar a minha — E, você abraçava cada um quando os mandava para casa, achei isso fofo — contou e eu ergui minha cabeça, a olhando — Mostrou que se importa e isso revela quem você é, gosto disso — declarou, me deixando com um sorriso bobo por alguns instantes.
— Tenho dois amuletos da sorte, como não me sair bem né? — respondi, gostando do sorriso que vi em seguida em seus lábios.
(...)
A casa era no centro de Nova York. Escolhi a casa e a produção alugou o local onde meus candidatos pudessem se sentir confortáveis antes de se apresentarem mais uma vez para mim. E eu também fiz o possível para que aquilo soasse normal e eles se sentissem confortáveis com a minha presença. Eu seria a mentora de três ali nos Live Shows.
Então cheguei casualmente na casa, jeans e uma camiseta leve. Tinha deixado Fairy na casa de Hailee antes de ir até a casa alugada. Lauren estava em nossa casa, me beijou demoradamente, me desejando boa sorte, antes que eu saísse.
Prometeu que viria comigo amanhã, quando eu desse os resultados.
Então eu estava sozinha esperando o meu ajudante nisso aqui. Precisava de uma segunda opinião musical, então chamei um velho amigo, e eu não o via há anos, nossas agendas estavam lotadas e não tínhamos mais a intimidade de quando o conheci.
Em minutos pude ver o carro chegando. Notei algumas câmeras focarem na cena.
— Camila — Shawn me cumprimentou assim que saiu do carro, me fazendo sorrir.
— Hey Shawn — o abracei forte — Obrigada por ter vindo — agradeci sinceramente.
— Qualquer coisa por uma velha amiga — ele sorriu de leve.
Shawn e eu começamos na indústria musical por volta da mesma época. Ele conhecia Hailee, e abrimos uma turnê da Taylor Swift. Chegamos a fazer músicas juntos e em certo momento ele estava sempre presente, mas de uns anos para cá não estávamos tão próximos. Ele sempre fora mais amigo de Hailee, e acabamos nos tornando um tipo de conhecidos. Ainda tinha muito afeto e carinho por ele, apenas não tínhamos mais tantos interesses em comum. Nada ruim havia acontecido, apenas nos afastamos.
— Então, quem eu irei ouvir hoje? — Shawn perguntou, se sentando em uma das poltronas na sala, cruzando as pernas.
— Os que eu lhe enviei o vídeo da audição — respondi, me sentando ao seu lado e vendo as fotos que a equipe havia colocado na mesa — Tem os mais novos, Reed Daiming de 13 anos, Josh Levi de 14, e Willie Jones de 17 anos. Então temos Jacob Whitesides e James TW de 21 e George Shelley de 25 — contei, apontando para as fotos dos garotos.
— Eu assisti a audição de todos, você terá trabalho — Shawn comentou, me olhando rapidamente.
— E é por isso que te trouxe aqui — brinquei, o empurrando levemente e o fazendo rir — Vamos ao trabalho — o chamei, me levantando.
Falamos brevemente com os participantes individualmente e só estão seguimos para onde os garotos fariam a apresentação.
Era outra sala, um pequeno espaço para o som foi colocado e um lugar onde eles pudessem cantar de frente para Shawn e eu, que estávamos sentados em duas poltronas confortáveis.
O primeiro a cantar foi Josh, e eu ri quando Shawn soltou um som de surpresa pela apresentação. James preferiu algo acústico, cantando uma música romântica. Jacob escolheu o mesmo caminho, mas ele parecia um pouco desengonçado. Olhei para Shawn por um momento e ele parecia pensar o mesmo que eu. Willie cantou um clássico country. George cantou uma música pop e Reed escolheu uma mais antiga, que parecia algo que seu pai escutava.
Eu quase queria abraçar cada um toda vez que terminavam e me olhavam apreensivos tentando sorrir. Exceto Josh e George que sempre sorriam largo e um tanto quanto charmosos.
— E então? — me virei para Shawn quando todas as apresentações acabaram.
— Vai ser difícil — ele avisou e eu soltei um suspiro.
— Achei que diria uma novidade — resmunguei.
Passamos algumas horas ali, tentando assimilar o que vimos. Fazendo anotações e mesmo quando eu estava indo para casa, ainda estava trocando mensagens com Shawn, querendo suas opiniões finais antes de fazer minha decisão definitiva.
— Hey, você chegou — Lauren disse sorridente do sofá, as pernas nuas em cima do encosto e um livro em mãos.
Olhei o relógio. Já era tarde da noite.
— Desculpe demorar — pedi, me aproximando e beijando seus lábios com carinho, lhe fazendo sorrir.
— Como foi? — perguntou genuinamente curiosa.
— São todos bons — reclamei, começando a deitar meu corpo sob o dela, a fazendo rir baixinho e deixar o livro de lado — Odeio ter que dispensar artistas tão bons — reclamei, deitando a cabeça em seu peito e logo sentido seus dedos passearem pelos meus cabelos.
— São as consequências de um bom trabalho — Lauren sussurrou, sem se importar que eu deitei todo meu corpo em cima do seu — Você tem bons instintos, Camz. Tenho certeza que vai fazer as melhores decisões — ela garantiu com tanta firmeza que me fazia crer em suas palavras.
— Eu não conseguiria ter aceitado essa proposta se não tivesse você — murmurei um tanto quanto manhosa, gostando quando ela abraçou minha cintura.
— Que bom então que estou aqui né? — Lauren riu baixinho, me deixando permanecer ali.
Vi quando ela esticou o braço, pegando o livro novamente e senti quando o apoiou em mim. Apenas sorri, erguendo um pouco o olhar e a vendo tão concentrada em sua leitura. Decidi permanecer ali por mais algum tempo, apreciando o conforto e a paz que ela transmitia, sem precisar dizer uma única palavra.
(...)
Caminhei de um lado para o outro da casa alugada, sentindo Lauren me observar a cada passo. Eu já havia tomado minha decisão. Tinha feito isso ontem a noite, na cama, sentindo Lauren deitada sobre meu ombro, assistindo as mesmas apresentações que eu, pelo notebook. Ela não opinou, mas sorriu quando eu falei o que havia escolhido.
E estava hoje aqui. "Apoio moral" - ela disse.
Eu tinha passado toda a manhã lembrando da minha própria judge house, em um apartamento de Demi Lovato. Eu me lembrava no nervosismo de achar que não conseguiria passar, das conversas com Jennel enquanto estávamos deitadas no tapete, sonhando com o que poderíamos ser um dia.
Balançava a cabeça sempre que me lembrava das provocações de CeCe e da pequena confusão entre Demi, ela e eu que se iniciou no bootcamp.
— Cabello? Podemos começar a os mandar entrar? — um produtor pediu e eu fiz uma careta, olhando rapidamente para minha namorada.
— Dê cinco minutos à ela e já pode pedir pra entrarem — Lauren respondeu por mim, o que foi suficiente para o produtor assentir e se retirar.
Ela se levantou calmamente, parando em minha frente.
— É um programa, você sabe disso, alguém tem que deixar a competição. Eu sei que é difícil, mas você consegue — ela disse baixo, seriamente, como se necessitasse que eu entendesse aquelas palavras.
E eu entendi.
— Ok — concordei, adquirido uma postura mais firme.
— Eu estarei no cômodo do lado, qualquer coisa é só gritar — ela riu, beijando minha bochecha antes de deixar o recinto.
Respirei fundo algumas vezes antes de me sentar no comprido sofá e me lembrar novamente das palavras de Lauren. Eu teria que dar as notícias boas e ruins intercaladas já que os garotos estariam no mesmo recinto quando saíssem daqui e poderiam entender rapidamente quem fica e quem vai.
E para o bem do programa isso não poderia acontecer.
Sorri levemente ao ver quem seria o primeiro a entrar. As calças jeans e os tênis de cano alto além do cabelo característico me faziam gostar dele e da personalidade que ele mostrava aos outros.
— Hey — Willie cumprimentou, se sentando a minha frente, no mesmo sofá.
Ele estava nervoso. Então não demorei a falar. Lembrando de o elogiar primeiramente por ontem e lembrar que ele ainda tinha coisas para treinar, o que o deixou mais apreensivo.
— Relaxa Jones, você vai para o Live Shows — declarei sorridente, rindo surpresa quando ele arregalou os olhos e me abraçou — Parabéns Willie!
Ele me agradeceu algumas vezes, prometendo não decepcionar antes de sair da sala. Não se passou um minuto antes do cosplay de Harry Styles - segundo Lauren e Shawn - entrar na sala e se sentar.
— Como está George? — perguntei gentilmente, o ouvindo murmurar que estava nervoso, elogiei sua performance de ontem, destacando alguns portes fortes e fracos antes de lhe dar a notícia — Eu sinto muito George, mas não é dessa vez. Eu tenho...
— O quê? Não, eu posso cantar outra e...
— George! — o interrompi, vendo seu olhar frustrado e triste.
Lembrei que ele havia terminado a faculdade mas não era o que ele queria. Essa era a chance dele algo assim.
— Eu realmente sinto muito, mas tenho que te mandar para casa — repeti, o vendo suspirar e negar com a cabeça antes de assentir levemente.
Ele me agradeceu pela oportunidade antes de sair da sala. Tive que respirar fundo mais uma vez, mas quando olhei para trás Lauren estava com a cabeça para fora da porta levantando o polegar em minha direção em incentivo. Sorri por isso antes de ter a atenção desviada para o próximo participante.
Alarguei o sorriso para esse.
— Isso é meio assustador — ele comentou meio nervoso.
— Acredite, eu sei bem disso — respondi com bom humor — Devo dizer que ontem sua performance foi linda James, você sabe transmitir sentimentos com a música, só que ainda precisa melhorar na parte vocal , Mas não prolongue seu sofrimento, porque quero te chamar para ir aos Live Shows!
James me encarou surpreso, antes de me abraçar forte, o que eu correspondi. O parabenizando e aceitando os agradecimentos porque sabia que o próximo seria mais difícil.
— Não foi dessa vez Jacob — sussurrei para o rapaz depois de lhe falar sobre a apresentação de ontem — Mas adoraria te ver em um outro ano — completei, me sentindo péssima quando ele segurou as lágrimas para se despedir.
Por sorte o próximo entrou com o sorriso característico dele. Que o fazia parecer despreocupado. Era uma boa qualidade nesse programa.
— Hey Josh, eu tenho que te pedir para fazer as malas — murmurei, vendo sua feição cair, segurei o sorriso — Porque você vai para os Live Shows! — completei animadamente.
Ele demorou para processar a informação e acabou rindo, antes de me agradecer emocionado e sair dali.
Dessa vez respirei ainda mais fundo, me sentindo nervosa quando o garoto mais novo entrou. Eu podia notar seu nervosismo mesmo atrás do sorriso confiante que ele tentava deixar no rosto.
— Oi — ele sorriu e eu pensei como era fofo.
— Eu tenho que te dizer que ontem você me surpreendeu, Reed — contei, o vendo me encarar surpresa — Você tem talento e escolheu uma ótima música, mas — vi rapidamente sua feição cair — você ainda tem muito o que treinar, tanto na respiração como em algumas notas. Precisa de mais treinamento para aperfeiçoar — avisei mais como um conselho que uma repreensão — E é por isso, que eu não acho que esteja pronto para essa competição, eu tenho que te mandar para casa — contei e me senti péssima no instante que o vi assentir, sem retrucar e apenas tentar segurar as lágrimas que pareciam prontas para cair.
— Obrigado mesmo assim — ele sussurrou, mostrando mais do esforço para se manter firme e quando eu o puxava e o abraçava.
— Treine, treine treine mais e volte aqui ok? — pedi, ganhando um aceno como resposta antes de o ver sair da sala.
Senti algumas lágrimas em meus próprios olhos. Crianças eram difíceis. Sofia iria fazer 16 anos mas eu ainda me lembrava dela chorando em casa quando não passou em uma peça da escola. E Fairy era praticamente um bebê ainda, mas eu sabia que um dia ela teria 13 anos e alguém poderia destruir o seu sonho.
— Oi — ouvi a voz de Lauren e ergui a cabeça, vendo que os produtores começavam a desmontar as câmeras.
— Oi — respondi baixo, me sentindo mentalmente exausta.
— Ouvi todos, você foi gentil com cada um — elogiou, se sentando ao meu lado.
— Ainda não me sinto bem — admiti com o cenho franzido — O último tinha só treze anos, ele é só é três anos mais novo que minha irmã — murmurei, deitando minha cabeça em seu ombro e suspirando — Era só uma criança.
— E você sabia que ele não teria o que é necessário para os Live Shows, é muita pressão — Lauren argumentou calmamente — Você é uma ótima jurada e mentora e sabe como se comunicar com crianças e adolescentes — continuou, passando o braço ao redor do meu corpo — Você se importou com os sentimentos de cada um deles — afirmou, como se aquilo tivesse sido extremamente importante aos seus olhos — Por isso eu sei que continuará sendo uma mãe excelente para sua filha, e para os nossos também — completou carinhosa e eu não consegui evitar de sentir meu coração se acelerar.
Me afastei devagar, encontrando seus olhos brilhando e um leve sorriso nos lábios.
— Nossos? — perguntei devagar, sorrindo por como suas bochechas coraram.
— Sim, digo, um dia né? Fairy iria gostar de ter irmãos e irmãs, não é? — me encarou, quase apreensiva por uma confirmação de minha parte.
— Eu mal posso esperar para ter uma bebê com seus olhos e seu sorriso — falei baixo, aproveitando com o seu sorriso nasceu, me deixando apaixonada mais uma vez.
Olhei rapidamente ao redor, tendo certeza que já estávamos sozinhas antes de a beijar devagar, aproveitando a sensação de ter seus lábios nos meus, pensando que eu teria aquilo para sempre. Que aquela mulher em meus braços um dia seria minha noiva, e então minha esposa, e teríamos filhos.
O pensamento de ter nossa casa com Fairy e uma mini Lauren correndo pela casa aqueceu meu coração enquanto eu me afastava da minha namorada, sem tirar meu sorriso do rosto.
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