Desabei no sofá, as lágrimas que eu segurei em todo o percurso, descendo como cascatas pelos meus olhos. Eu sentia todo meu corpo tremer, enquanto eu puxava minhas pernas, as abraçando, escondendo meu rosto, deixando as lágrimas caírem, começando a soluçar pelo choro.
— Camila! Pelo amor de qualquer coisa sagrada, o que houve? Fala alguma coisa — ouvi a voz desesperada de Sofia.
Eu não poderia falar. Eu tinha que esperar a Ally e Dinah. Eu não iria conseguir dizer aquilo mais de uma vez. Não com aquela dor dilacerante em meu peito. Nem em todas as brigas que eu já tive com Hailee na nossa história, nada me fez sentir essa dor. Eu não sabia que uma dor emocional poderia ser tão física assim.
— Kaki, você está me assustando, e me deixando preocupada — Sofia murmurou, se sentando ao meu lado.
Mas tudo que fiz, foi me agarrar ao corpo da minha irmã caçula, ainda chorando em seu colo. Nem sei como eu consegui segurar meus sentimentos enquanto eu dirigia até o apartamento que eu tinha em Nova York antes de começar a namorar com Hailee.
Hailee.
Merda.
Como ela pôde!? Como ela teve coragem de me...
De me trair?
Meus pensamentos foram cortados por ouvir a porta sendo aberta. E as vozes das minhas amigas soarem no ambiente.
— Camila!? O que aconteceu? — Ally perguntou preocupada, provavelmente ao ver meu estado.
— Chancho? O que houve!? Sofia, o que aconteceu?? — Dinah soou um pouco mais desesperada, e a senti se sentando em meu lado.
Suspirei, me afastando de Sofia, só pra abraçar minha melhor amiga, o choro mais baixo. Só algumas lágrimas escorrendo.
— Eu não sei! Estávamos no jogo, com a família da Haiz, nós fomos pegar comida, Kaki foi no banheiro e voltou assim — a voz de Sofia soou um pouco assustada, e eu me senti até um pouco culpada.
Sem nem um pingo de delicadeza, Dinah buscou por todos os meus bolsos até achar meu celular.
Droga, esqueci desse aparelho.
— Camila? Dá pra voltar à Terra e dizer o que aconteceu? — Ally disse mais calma e carinhosa, e eu a encarei, suspirando.
— Tem 23 mensagens da Hailee aqui, 9 ligações. E várias mensagens do teu cunhado e dos seus sogros. Caramba Camila, o que aconteceu!? — Dinah disse um pouco mais alto, o tom preocupado.
Odiava preocupar minhas amigas, mas eu simplesmente não conseguia falar.
— Sua esposa está preocupada — Dinah disse baixo, me encarando cuidadosamente, antes de suspirar — Espera, você está assim por causa dela. — deduziu e eu me limitei a assentir.
— O que a Hailz fez? — Sofia questionou, confusa.
Merda, ela adorava Hailee.
Bom, eu amava ela, não é?
Deve ser por isso que dói tanto.
— Eu encontrei com Savannah no banheiro — contei, quase em um sussurro, tendo todos os olhares em mim — E, ela me contou. Hailee e ela estavam tendo um caso há seis meses.
O silêncio reinou no cômodo. E eu não as culpava. Nem eu sabia o que dizer, ou o que fazer. Elas também eram amigas de Hailee, elas sempre apoiaram nosso relacionamento. Era óbvio que elas também estariam em choque.
— Dinah, não — ouvi a voz firme de Ally, e franzi o cenho.
Só então reparei que Dinah havia se levantado, os punhos fechados e a expressão de raiva no rosto.
— Eu vou matar essa desgraçada — minha amiga praticamente rosnou.
— China, não, só, fica aqui — pedi baixo, vendo minha melhor amiga respirar fundo, antes de voltar a se sentar e puxar meu corpo para que eu me deitasse em seu peito.
— O quê? Não, ela não faria isso! — Sofia disse, após uns minutos, incrédula. — Ela nunca faria isso!
— Sofi, se acalma — Ally pediu para minha irmã, mas ela apenas se levantou irritada.
— Você falou com ela, Kaki!? Aquela Savannah pode ter mentido! — Sofia tentou defender a cunhada, e eu fechei meus olhos com força.
Eu poderia achar minha irmã madura, e inteligente, mas ela só tinha 14 anos, era uma pré adolescente, e conhecia Hailee por metade da sua vida. Eu não podia me irritar só porque ela estava defendendo minha esposa.
— É verdade, Sofia, eu sei que é — falei, o mais calma que pude.
— Não, não pode ser! — minha irmã disse um pouco mais alto, antes de se virar para sair.
— Ei, Sofia, volte aqui, sua irmã...
— Deixa ela — interrompi Ally entre um suspiro, vendo minha irmã caçula sair do apartamento — Ela sabe andar sozinha e só está confusa.
— Confusa!? Ela deveria ter ficado, Camila. Você tem noção do que acabou e nos contar? — Dinah disse, se irritando um pouco com minha irmã.
— Eu só estou cansada, Dinah, quebrada, arrasada. Eu desconfiei tanto, desconfiei por meses, mas acabei acreditando em cada palavra que Hailee me dizia, eu fui tão tola.
Senti mais algumas lágrimas e suspirei. Eu sentia meu coração ser arrancado do meu peito aos poucos. Sentia cada pedacinho dele se quebrando. Tudo estava bem na minha frente, eu via, mas não enxergava. Isso faz sentido? Eu não queria enxergar. Eu estava com tanto medo de estar certa, que não me prendia aos sinais, a todas as saídas, a todas as mentiras. Eu simplesmente acreditava, porque eu queria acreditar.
Porque eu amava aquela desgraçada.
Me levantei do sofá, ainda sentindo algumas lágrimas escorrerem do meu rosto, sentindo mais um aperto em meu peito ao ver a foto da minha esposa piscando na tela do meu celular em uma chamada. Não precisei dizer nada, Dinah desligou a ligação sem atender.
— Onde vai? — Ally perguntou preocupada.
— Quarto, eu preciso ficar sozinha — respondi, dando as costas as minhas amigas.
Mesmo dizendo que queria ficar sozinha, eu sabia que elas permaneceriam ali. E eu agradecia internamente por isso. Eu precisava delas.
Segui para meu antigo quarto. Já fazia um tempo que eu não vinha para cá. Por meses esse apartamento era apenas para que eu não ficasse em hotéis quando estivesse em Nova York, já que eu morava em Miami. Depois que me casei, me mudei para outro apartamento com Hailee, e esse ficou sendo apenas um refúgio seguro. E agora, estava muito aliviada de nunca ter vendido esse lugar. Entrei no quarto, respirando fundo.
Eu precisava escrever, só isso iria aliviar ao menos um pouco a dor que sentia em meu coração. Peguei meu violão, era uma das vantagens daquele apartamento, sempre tinha meu violão, minha guitarra e um teclado. Achei um caderno qualquer e uma caneta e me joguei na cama.
Cada palavra escrita naquela folha, cada acorde no violão, era um sentimento diferente.
Dor.
Raiva.
Amor.
Ódio.
Decepção.
Vergonha.
Desespero.
Tristeza.
Confusão.
Foram horas, eu sei disso porque vi o dia escurecer pela janela. Mas quando me dei por satisfeita, sentia meus olhos mais secos. Olhei ao redor da cama, vendo vários papéis espalhados, cada um com uma letra diferente. Me levantei, deixando tudo ali e saindo do quarto, sorrindo levemente ao ver minhas amigas jogadas em meu sofá.
— Hey — Dinah foi a primeira a me notar — Estamos assistindo Friends, e comendo sorvete, quer se juntar a nós?
Nem respondi, apenas me ajeitei no meio das minhas melhores amigas, pegando a colher que elas já haviam separado para mim, sabendo que eu apareceria, comendo um pouco do sorvete e tentando me distrair com um dos episódios da minha série favorita. Foram apenas dois episódios, até eu escutar a campanhia. Ally já estava se levantando quando eu a impedi.
— É a Sofi, deixa que eu abro, preciso falar com ela — expliquei, me levantando.
Andei até a porta, e respirei fundo antes de abrir. Me arrependendo no segundo seguinte ao ver minha esposa do outro lado, junto com a minha irmã. Franzi o cenho ao ver o lado do rosto de Hailee vermelho, e Sofia aparentemente irritada.
— Eu só vim trazer Sofia em segurança, imaginei que estivesse aqui — Hailee disse baixo, contida e eu cruzei os braços, claramente na defensiva.
— Eu sei muito bem me virar sozinha e essa marca da minha mão na tua cara é a prova disso! — Sofia disse irritada, entrando no apartamento e se colocando na minha frente — Então que tal você sair daqui e deixar minha irmã em paz?
Ergui minha sobrancelha um pouco confusa. Mas, levemente orgulhosa por minha irmã caçula está me defendendo.
— Sofi, entra um pouco tudo bem? Fica com as meninas, eu precido conversar com a Hailee — pedi gentilmente para minha irmã, que me encarou incrédula, antes de bufar alto e sair dali.
Encarei minha esposa. Só de usar esse termo, eu já me sinto enjoada. Só de pensar que enquanto ela se dizia minha esposa, estava tocando em outra mulher, eu tenho nojo, eu me sinto mal.
— Eu sei que você sabe, sei que ela te contou. — Hailee disse séria, antes de respirar fundo — E, eu não quis que sua irmã ficasse ao meu lado, então, eu admiti para ela também. — explicou, e suspirou ao ver o meu silêncio — Camila, eu queria te contar, desde a primeira vez que eu me deixei cair em tentação, e eu poderia te dizer como eu estava bêbada, como estávamos brigadas, como eu estava triste e do outro lado do mundo, longe de você, mas sei que nada mudaria o fato que eu te traí, que eu agi como uma vadia. Mas, eu preciso que você entenda que eu te...
— Não ouse terminar essa frase — cuspi as palavras, fechando minhas mãos em punho, por raiva — Você não tem o direito de dizer isso depois de admitir olhando em meus olhos, que me traiu, Hailee. Você me enganou, você mentiu, e eu questionei, eu desconfiei, eu perguntei e você negou todas as vezes, me fazendo parecer uma louca ciumenta!
— Eu estava com medo de te perder, Mila, acredite, eu nunca quis...
— Cala a boca Hailee! — exclamei irritada, acertando um tapa certeiro em seu rosto, a vendo suspirar surpresa, me encarando incrédula, tocando a região machucada — Você merecia que eu acabasse com a sua cara, você destruiu todo um relacionamento de anos, por uma transa qualquer. Caralho, Hailee, você queria filhos! Nós estávamos planejando! Nós estávamos planejando filhos e uma família, enquanto você trancava com outra mulher. Eu não acredito que você tinha crises de ciúmes, enquanto você mesma estava fodendo sua empresária!
— Camila, por favor, me escuta, nós podemos conversar e tentar resolver e chegar em um...
— Saí daqui Hailee, não fale mais nada, só saía daqui — falei, o ódio ainda mais claro em minha voz.
— Eu posso até sair, mas saiba que eu não desisti de nós — ela sussurrou e eu quase ri da ironia.
— Você desistiu de nós no momento que se relacionou com outra mulher — retruquei, séria, sem dar chances para ela responder, fechando a porta na sua cara.
Não me segurei, me encostei na porta fechada, sentindo mais lágrimas, e desabando no chão, chorando. Ela admitiu. Ela olhou em meus olhos. Ela me traiu.
— Kaki — ouvi a voz de Sofi, e logo senti ela se sentando ao meu lado, me abraçando — Desculpe, eu não deveria ter duvidado, eu deveria saber também. Eu estou aqui, tá? — Ela murmurou com um tom choroso e eu me senti ainda pior.
Ela não só machucou a mim, ela machucou até a minha irmazinha.
E isso me deixava com tanta raiva.
Me agarrei mais a minha irmã, me permitindo chorar. Não sei por quanto tempo ficamos ali, no chão da porta, até que eu vi Dinah escorada na parede.
— Quer que eu leve ela pro quarto? — pediu baixo, e só então notei que minha irmã dormia.
— Por favor — falei, vendo minha amiga, se abaixar e com facilidade pegar minha irmã — O segundo quarto é dela — avisei e minha amiga assentiu.
Me levantei, me sentindo um pouco mole por mal ter comido o dia inteiro. Andei devagar até a sala, vendo Ally já de pé, com a bolsa no ombro.
— Eu preciso ir, Mila, vou desmarcar todos seus compromissos de amanhã e alguns ensaio, Ok? Mas qualquer coisa, é só me chamar — Ally disse, claramente tentando se desculpar por não ficar, mas eu concordei.
Ainda mais porque eu sabia que um desses ensaios, era para uma revista em que eu e Hailee seríamos a capa.
— Tudo bem, até mais — me despedi dela com um abraço.
— Vai ficar tudo bem — ela sussurrou, me apertando forte em seus braços, e eu sorri de leve.
— Obrigada Ally.
Minha amiga saiu do apartamento, bem no instante em que Dinah voltou.
— Ei, se quiser ir, eu entendo, de verdade — falei calma, ao ver minha melhor amiga bocejar.
— Não mesmo, eu fico aqui — ela disse, se jogando no sofá, colocando play em outro episódio de Friends.
Me sentei em seu lado, feliz por ela não ir. Não queria ter que ficar sozinha. Porém, não deu meia hora, e eu já ouvia o ressonar baixinho de Dinah. Suspirei, pegando meu celular, acabando por ver todas as mensagens não lidas. Ainda as de Hailee, algumas do meu cunhado, várias da minha sogra, e até uma do meu sogro perguntando se algo havia acontecido.
Será que eles sabiam a vagabunda que a filha se tornou?
Tomei um pequeno susto ao ver a tela se acender rapidamente com uma nova mensagem, mas deixei um sorriso leve escapar ao ver que era apenas Lauren.
Lauren: Boa noite, como a estrela mundial está nessa noite maravilhosa?
Eu suspirei, decidindo se respondia ou não, mas antes que percebesse, já estava escrevendo e enviando uma mensagem.
"Nada bem..."
Lauren: Oh! Eu posso ajudar?
"Não quero te atrapalhar e muito menos te preocupar, Lauren."
Lauren: Deixe de besteira, Mila, somos amigas, não somos? Me diga, onde está? Estou indo para aí.
Não evitei o sorriso, eu tinha boas amigas. Enviei o endereço para Lauren e em poucos minutos ouvi a campanhia tocar. E com muito cuidado para não acordar Dinah, levantei e fui atender a porta.
Lauren estava com um pote de sorvete em mãos, e uma caixa de bombons na outra mão. Não evitei o riso leve que escapou dos meus lábios. Ela era um amor.
— Oi Lauren — a cumprimentei com um abraço meio desajeitado e ela sorriu.
— Trouxe sorvete e chocolate, sempre úteis em dias ruins — sorriu docemente.
— E sempre bem vindos — a puxei para dentro, correto rápido até a cozinha para pegar duas colheres e voltando logo — Vem — chamei, a guiando até o quarto, para não acordar nem Dinah, nem Sofia.
— Quarto legal — elogiou, olhando ao redor, antes de se sentar em um dos únicos lugares da cama que não estavam cheios de papel.
— É o meu cantinho do refúgio, aqui — expliquei, enquanto ela abria o pote de sorvetes.
— Então, vai me contar porque está aqui e não em seu apartamento? — perguntou baixo, enquanto eu comia um pouco do sorvete.
Respirei fundo. E contei. Contei tudo. Desde as desconfianças até a verdade no dia de hoje. E Lauren ouviu, não esboçou muitas reações, apenas me deixou falar, e falar, e xingar Hailee de todos os nomes possíveis. Ela me deixou falar, e isso foi bom, eu me senti um pouco melhor depois disso.
— O que vai fazer? — Lauren perguntou calma, assim que terminei de falar.
— Por enquanto? Descontar todos meus sentimentos nas palavras — respondi, apontando para as folhas ao nosso redor.
— Eu sou boa com palavras, quer ajuda? — Se ofereceu, gentilmente, e eu sorri.
Ela não xingou Hailee, ela não disse 'sinto muito', ela não disse que Hailee não me merecia. Mas ela estava ali, tentando me ajudar, me fazendo me sentir melhor. E isso, era o que realmente significava uma amizade, não era o tempo que nos conhecíamos, mas o que fazíamos uma pela outra.
Peguei meu violão, e una folha de papel em branco, e comecei a tocar alguns acordes, murmurando alguns pensamentos que ainda rondavam minha mente. E Lauren esteve ali, me ajudando a encontrar as palavras certas, me estendendo um bombom no momento certo.
Ficamos ali por toda a madrugada. Eu sei disso. As folhas em minha cama duplicaram, eu acho que tinha música suficiente para uns três álbuns. Encarei o relógio, vendo que já eram 6:15 da manhã. Lauren já dormia em meio aos papéis, e me senti um pouco culpada ao vê-la toda torta na cama, a jeans no corpo, os cabelos bagunçados. Peguei um coberta e a cobri um pouco, antes de sair do quarto.
Verifiquei Sofia e a encontrei ainda dormindo na cama. Do mesmo jeito que Dinah estava no sofá. Procurei meu celular e digitei o número que eu já conhecia muito bem de cor. E logo ouvi a voz da minha amiga e empresária na linha.
— Hey Ally, desculpe o horário, mas eu só tenho duas coisas para te pedir. Liga para os produtores, não quero que revelem a data de estréia do álbum, tenho músicas novas e as quero no álbum, nem que para isso eu precise dormir no estúdio. Segundo, liga para minha advogada, por favor, eu quero abrir o processo de divórcio e, quero definitivamente tirar o Steinfeld do meu nome.
Hailee pode ter destruído nosso casamento, acabado com todo nosso relacionamento. Mas agora, eu tinha que me desprender de tudo que era relacionado a ela, começando pelo nosso casamento.
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