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História Aulas Amaldiçoadas - Wenclair - Capítulo Cinco -- Sob a Lua Cheia - História escrita por jungaomaconhera - Spirit Fanfics e Histórias
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História Aulas Amaldiçoadas - Wenclair - Capítulo Cinco -- Sob a Lua Cheia


Escrita por: jungaomaconhera

Notas do Autor


Eu tava muito ansioso pra que chegássemos nesse momento, pois a partir daqui a história toma um rumo especial. Ansioso pra saber a reação de vocês, tô ainda mais pra prever como vocês vão reagir a boiolagem desse capítulo.

Não atoa, a última narração é um pouco diferente, dessa vez.

Acho que os instintos sempre falarão mais altos do que sentimentos mundanos como a vergonha e o medo...


-- !Boa Leitura! --

Capítulo 6 - Capítulo Cinco -- Sob a Lua Cheia


Fanfic / Fanfiction Aulas Amaldiçoadas - Wenclair - Capítulo Cinco -- Sob a Lua Cheia


Bianca Barclay, Yoko Tanaka e eu erámos o trio que representaria Never More no campeonato de esgrima contra outras escolas. Com os títulos de mais segura, antiga e renomada escola para excluídos, não atoa ela não era a única do país, muito menos pelo mundo. Nos arredores bucólicos de Never More, grupos de escolas determinadas vinham se isolar para uma competição anual, a escola vencedora sediaria o evento no ano seguinte – os esgrimistas de Never More nunca perderam.


– Espero que use seu desejo mórbido por sangue para nos garantir a vitória, Addams. – Bianca surgiu ao meu lado, já em seu uniforme e com a espada em mãos.

– Cuidado para não ficar atrás, Barclay – girei a minha espada na mão.

Se não o trabalho em conjunto, o desafio imposto em nosso meio nos levaria a ganhar, não havia dúvidas. Porém, eu esperava me divertir enfrentando oponentes variados de técnicas dignas de um bom duelo. Talvez, se eu mantivesse o foco de meus pensamentos. Algo que parecia impossível ultimamente.


– Não exagerem, meninas, meu nariz é sensível. – Yoko se pôs entre nós. – E não queremos sabotar nosso próprio time.

Desviando minha atenção das provocações de Bianca, olhei ao meu redor. Uma floresta densa e barulhenta, fosse pelo som dos animais que ali viviam ou as pessoas amontoando-se ao redor para assistir aos duelos. Inúmeras áreas haviam sido construídas para as partidas, nelas cada escola tinha um professor dando instruções a seus alunos. O nosso parecia ocupado em acalmar a si mesmo em sussurros de incentivo ridículos.

Suspirei, dando-me conta de que pensava nela novamente. Desde a noite passada era a única coisa que eu fazia. Depois da notícia de seu término, minha teoria parecia mais certa que nunca. Conhecendo Enid e ciente de sua situação, não havia outro motivo para ela se afastar de Ajax se não seu senso de proteção sobre aqueles que ela gosta. E isso também me incluía, aparentemente. Ou ela apenas achava que Yoko poderia reconfortá-la melhor do que eu, e não a julgo por isso.


– Iremos abrir a competição contra a escola Spooky Winter. Eles são bons, mas todos sabem que vão perder, porque nós somos mais do que ótimos, somos superiores! – a voz do professor interrompeu minha linha de raciocínio, a nossa segurança dessa primeira vitória parecia incomodar os outros competidores ao redor. – Três duelos; Bianca, Yoko e Wandinha. Se ganharmos duas, é o bastante.

– Ganharemos as três. – nossa líder de equipe estava confiante.

– Assim que se fala!

– Agora ergam suas espadas, eles vão anunciar os duelos!

Ficamos diante do palanque, uma linha reta entre nossa equipe e a adversária. Weems, tão energética e forte quanto antes do ataque de Thornhill, parecia inabalável.


– Eles até que são charmosos. – Bianca sussurrou.

– Um morto vivo que parece rastejar sobre os pés, uma cria de morcego com o tamanho de uma criança e uma sereia que não para de encarar Yoko. – queria poder criar expectativas sobre aquilo, mas era impossível.

– Não subestime as pessoas, é feio.

– Não seja hipócrita.

– Por um momento pensei que talvez tivéssemos de adiar a competição, ou nos ausentar desse ritual tão excitante e sanguinário dos nossos jovens excluídos. Entretanto, cá estamos nós, mais uma vez tendo a honra de anunciar o começo de mais um Campeonato Intercontinental de Esgrima! E abrindo as competições, claro, teremos Never More, contra Spooky Winter, a maior escola de excluídos da Ásia Central! – ela ergueu sua pistola prateada de cano longo e disparou. – Em posição!

Cada um em seu quadrado, ficamos posicionados em nossas áreas de duelo.


– Bianca Barclay. – eles se apresentaram.

 – Arman Aybek, – disse o zumbi de poucas palavras. Eu não precisava pensar muito para prever o resultado.

– Yoko Tanaka. – a vampira maior sorriu com as presas lustrosas.

– Elmira Madina, – o jovem respondeu, vampiro contra vampiro, eu gostaria de poder assistir.

– Wandinha Addams. – fora a minha vez.

– Amber Temir.

A sereia finalmente tirou os olhos de Yoko, sem um mínimo do mesmo apreço em minha direção. Se Divina estava em uma daquelas arquibancadas, tenho certeza de que estaria planejando algo cruel e especial para minha rival. Entretanto, eu cuidaria de dar a ela um desafio a altura para que não tivesse de olhar para onde não devia novamente.

Olhei para aqueles que nos assistiam, buscando não só a raivosa namorada de Yoko, como Eugene, Xavier e, claro, a Sinclair. Quase todos estavam ali, até mesmo Ajax e seu olhar profundo e deprimente, mas não ela. Eu não tinha lhe visto desde a noite anterior. Ela definitivamente não estava bem, o término havia sido cruel com seu sensível coração. Por um momento senti o cabo da espada se afrouxar em minha mão e algo apertar em meu peito, eu queria vê-la. Mesmo prestes a apunhalar alguém, aquilo não parecia tão reconfortante.


– Comecem! – o juiz apitou.

Desviando o olhar, vi o vulto da sereia vir em minha direção. Impetuosa e revolta, ela não parecia ter piedade nos ataques. Rápida o bastante para me fazer suspirar, Amber era melhor do que presumi. Bianca estava certa, não é bom subestimar um oponente.


– Não se distraia, Addams.

Por algum motivo, aquilo me irritou. Partindo para a ofensiva, apontei minha espada para ela.

Era a segunda vez que alguém me chamava atenção em uma partida. A segunda vez que Enid me era uma distração. As coisas pareciam sair do eixo, longe do meu controle, se embolando em linhas das quais eu não podia escrever. O que eu devia fazer para que tudo voltasse ao seu devido lugar? Para que Enid fosse feliz de novo, para que ela parasse de fugir dos próprios sentimentos, não se machucasse enquanto tenta não machucar aos outros. Se Ajax era mesmo a chave, juntá-los de novo seria a solução? A ideia me desagradava ao dobro.


– Argh! – a sereia grunhiu quando a ponta da espada afundou em seu braço.

– Ponto. – disse o instrutor e voltamos as posições. Ela se movia furiosa, e não estava muito atrás de mim, por isso a ataquei como se arrancar sangue de sereia fosse responder as minhas dúvidas. Sentindo o suor pingar do meu rosto, comecei a girar ao seu redor, desviando de seus golpes, metal contra metal.

– Ponto. – todavia – Ponto. – apenas uma poderia ganhar. – Ponto!

Não percebi quando tudo se tornou silencioso ao meu redor e deixei de captar o que acontecia no ambiente. Round após round vi o uniforme alheio ir se rasgando mais e mais, sangue sujando o chão, espadas, o que havia adiante e aos meus dedos. Ardia na minha pele, mas havia sido muito pior para a sereia. Ela parecia lenta, sua mão não era forte como antes e seu mexer parecia ter se tornado doloroso. Foi apenas uma questão de tempo até que o juiz anunciasse o resultado.


– Vitória de Never More, por Wandinha Addams! – afoita, me libertei do capacete. A franja cobria meu rosto unida àquela camada húmida de suor, atrapalhando minha visão e escurecendo o que eu enxergava adiante. Tudo havia se tornado barulhento de novo, o instrutor ergueu meu braço sem aviso e olhei para o lado, Temir estava sendo atendida por um médico.

– Conseguimos! Eu disse! – ele não parava de repetir. Correndo até nós, Bianca e Yoko também comemoraram vitoriosas, se juntando em um abraço em conjunto; eles haviam me deixado de lado, respeitando meu espaço.

– Estamos nas finais.

– Você foi sensacional, acho que todos olhavam pra você! – a vampira exclamou. Intacta, ela não parecia ter demorado muito em seu duelo. – Uma pena Enid não estar aqui pra ver... Tsk, você deveria ir buscar sua namoradinha do meu quarto, ela parece um cachorro abandonado longe de você.

Surpresa, ergui os olhos para ela e a brisa dividiu minha franja.


– Namorada? – aquela palavra boba em diminutivo parecia ter ecoado em minha mente.

– É uma brincadeira. Vocês combinam, sabe, e agora ela não tá mais com o cabelo de cobra. – a morena explicou. Eu e Enid éramos o contrário de algo coeso, não combinávamos, éramos opostos, eu e ela era algo que nunca se passou na minha cabeça nem em meus piores sonhos. Amizade, nada – mas cá estamos. Ainda assim, não existia explicação lógica para a afirmação de Yoko quando sei que jamais poderia suprir as necessidades de alguém como Enid em uma relação tão enigmática como um namoro. Ainda assim, para minha surpresa, aquela loucura não me revirou o estômago ou soou realmente ruim. Namorar Enid não devia ser ruim, e Ajax deveria se sentir honrado por fazer isso, mesmo que por pouco tempo. Mesmo idiota, a lobisomem era uma boa pessoa. Muito mais do que boa... – Porque você não vai falar como ela? Ela vai adorar saber que vencemos nossa primeira rodada.

– Eu... – engoli em seco, sentindo certa hesitação. – Pretendo.

– Isso aí!

Exceto pelo fato de que ela não parecia muito interessada em falar comigo no momento, e sim com a Tanaka.

Perturbada o bastante por hoje, eu precisava de mais quietude e menos atenção. Quanto mais as pessoas se aproximavam, prestes a nos parabenizar, mais meus passos me levavam para longe. A verdade era que, pela primeira vez, eu não sabia muito bem o que fazer.


[...]


Já era tarde, e com o livro sobre a mesa e Mãozinha ao lado, decidi aproveitar a privacidade do quarto para continuar minha leitura. Mais do que antes, eu precisava compreender porquê Enid agia assim, porquê aquela loba parecia tão caótica ultimamente – mais que o normal.


– “É comum nesse período de integração ao bando e com a convivência com outros lobos de sua idade, que o lobisomem crie laços, amizades profundas, parcerias que o ajudam a se desenvolver enquanto lobisomem, e, claro, achem logo cedo também um parceiro sexual. Os cios não se demoram a surgir, e enquanto uma espécie territorialista e leal é comum que eles permaneçam com o mesmo parceiro por toda a vida. Depois que um laço afetivo é formado, os instintos do lobisomem podem fazê-lo ‘marcar’ o parceiro involuntariamente, ao deduzi-lo como um companheiro ideal de matilha; quando seus sentimentos passam de paixão, para algo único dessa espécie, algo que não pode ser quebrado ou arrancado de seu coração, nem mesmo com a morte. Mas não se preocupe, eles não machucam utilizando-se de mordidas para isso, como algumas lendas de padrões dizem. O termo ‘marca’ se refere a uma conexão mais sobrenatural do que física, e por isso mais intensa e prejudicial se houver problemas na relação; períodos longos longe do parceiro, por exemplo, podem acarretar em uma melancolia perigosa e até enfermidades a saúde de um lobisomem. A complexidade de suas relações é um dos motivos de, em sua maioria, lobisomens se envolverem apenas com outro de sua espécie. Protetores e fiéis, casos de infidelidade são raríssimos entre eles”.

Completo e extenso, o texto sobre eles era bastante revelador. Eu e Mãozinha nos encaramos – mesmo que ele não tivesse olhos de fato. Ainda assim, não houve tempo para conclusões, a porta do quarto foi aberta e o livro fechado.


– Wandinha. – falando no demônio – mais pra cachorrinho – cor de rosa.

– Enid.

A olhei de cima a baixo. Seus olhos ainda pareciam vermelhos, abaixo deles orelhas se formavam.


– Fiquei sabendo que venceram. – ela caminhou até nós, a voz mansa e um sorriso fechado, mesmo que largo, no rosto. – Me disseram que você arrasou, parabéns.

– Obrigada. – eu tinha minha palma sobre a capa do livro, não queria que ela suspeitasse que eu estava pesquisando até sua anatomia por aí. – Porquê não estava lá?

– Eu não ‘tava muito bem, Ajax ia estar lá sabe. Desculpa não te assistir.

– Está doente? – me atentei a suas palavras.

– Não, não é assim. Eu só não estou pronta para encará-lo ainda, ter uma conversa que eu sei que ele quer, e merece, mas não comigo desse jeito. – não parecendo se importar em pedir minha permissão, ela apenas se sentou em minha cama. Aquilo já não parecia me incomodar mais, me acostumei com seu modo desajeitado de involuntariamente invadir meu espaço. – Sinto que devo explicações pra você também.

– Você não me deve nada. – mas eu ainda gostaria.

– Você não parece gostar muito quando vou dormir com Yoko.

– Porquê presume isso?

– Da última vez você ficou bem chateada.

– Você está delirando.

– Wandinha, você passava isso na minha cara sempre que eu reclamava sobre algo. “Vai ficar com a Yoko então.”, “e que tal o quarto da vampira, não é melhor?”! – ela exclamou, convicta, e cruzei os braços sem palavras. Mesmo ofendida, o fato de ela estar certa havia me deixado fora do eixo. Que irritante. Me ergui da cadeira, de costas, evitando uma resposta direta. – Desculpa, não fica com raiva!

– Não desvie o assunto.

– Bom, certo, você tem razão. Eu... – a loira suspirou, eu podia sentir seu nervosismo. – Esse lance entre eu e Ajax vinha me deixando meio mal, confusa, e eu queria uns conselhos da Yoko, sobre coisas em que você não pode ajudar. Sinto muito.

Essa vinha sendo minha atual frustração. Eu não podia lhe ajudar, não importa o quanto lesse sobre as intimidades lupinas, era uma área que não me incluía. Minhas próprias experiências amorosas se resumiam a beijar o causador de uma carnificina.

Eu não entendia de assuntos do coração.


– E ela ajudou?

– Sim. Acho que eu meio que nunca gostei dele de verdade daquele jeito. Me confundi, e por isso magoei ele. – me virei para ela, enxergando o par de oliva brilhante encarar-me com aquela tristeza inacabável. Era como encarar um espelho.

– Não entendi. Vocês estavam juntos, tinham uma conexão. – desviei meu olhar dela. – Estavam tão grudados que achei que estivesse “marcando” ele.

– O que?! Não! – Enid pareceu assustada. – Talvez eu tenha tentado, e-eu não sei. Mas a verdade é que Ajax não é a causa de meus problemas. Eu não o amo, Wandinha, me enlaçar com ele então, puff.

Fiquei em silêncio. As informações tão recentes se misturando na minha cabeça antes mesmo que eu pudesse raciocina-las.

Ajax não era a causa dos problemas?


– E quem pode ser? – indaguei, mais séria e perturbada. Afinal, eles ainda estavam lá. A distância, sua constante e aparente dor de cabeça. Desde que voltamos para Never More parecia haver um obstáculo entre nós, justo quando achei que Enid havia conseguido o feito de me tocar, nos inúmeros sentidos figurados e mais inesperados possíveis.

– O que? – mais uma vez, encarei seu par de olhos, iluminados pelo crepúsculo da noite. Era tarde, a lua subia sobre nossas cabeças. Eu não havia feito nada além de escrever e estudar desde o fim dos primeiros duelos.

– A causa.

– Não. Não há mais ni-ninguém. – ela se agitou, negando impulsivamente. Era mentira.

– Enid, já que somos amigas, porque não me conta a verdade? – descruzei os braços, sentindo-me um tanto chateada, um sentimento difícil de confessar até a mim mesma.

– Wa-Wandinha, eu não- – andei em sua direção, ela ergueu as mãos assustada, e vi suas garras surgirem. Por um momento pensei que talvez eu tivesse a pressionado demais, porém as íris também se tornaram douradas, a cauda e orelhas cresceram. Desesperada, ela olhou em direção a janela. Logo pude imaginar a situação. – Merda, merda!

– Enid. – ela correu para longe de mim, um vulto peludo atravessando a porta. Eu pude ouvir seu uivo ecoar pelos corredores. Ela se foi, deixando-me ali, curiosa, irritada, em confusão.

Mãozinha veio até mim, batucando seus dedos em ritmo.


– Acho que estou surtando, talvez depois de Never More eu devesse ir para uma clínica psiquiátrica. – não seria uma má ideia, eu saberia lidar melhor com esquizofrênicos sociopatas do que com aquela bola de pelos ambulante.

Arrastando minha cadeira, comecei a arrumar meu violoncelo e as partituras na varanda, aquela era a forma mais efetiva de me acalmar. Mãozinha se pôs sobre as partituras e eu com o instrumento em mãos. Suspirando, dei início ao terceiro movimento da Sonata do Luar, de Beethoven.


[...]


Terceira Pessoa


Aquele dia agitado parecia se estender de forma demasiada aos ouvidos. Cedo gritarias, hora uivos nada melódicos de lobisomens na mata ou o soar eficaz dos acordes de Wandinha Addams se espalhavam por toda a escola. Quem tivesse boa audição o suficiente e uma janela aberta teria um verdadeiro show. Violenta e brutal, Wandinha chocava a crina contra as cordas de maneira frenética, tão rápida quanto os ritmos dos passos de uma fera. O som que acompanhava Enid em sua jornada selvagem parecia a trilha sonora perfeita para a sua segunda transformação.

Não havia vermelho cor de sangue na lua, mas ela brilhava gigante no céu o bastante para arrancar-lhe para fora a essência indomável de sua espécie. Sem aviso ou preparação, não era nada agradável ou bonito o processo como os lobos orgulhosos faziam parecer. Era doloroso, avassalador e desagradável. Mesmo consciente, Enid não era a mesma, seus instintos falavam por ela e cada rastro de sua humanidade se perdia junto a suas roupas em meio a floresta. Suas presas gigantes não a permitiam outra coisa que não fosse rugir, as quatro patas estremeciam as árvores e o solo a cada impacto, e os pelos dourados com detalhes em rosa e azul já não pareciam mais tão bonitos e brilhantes em meio a escuridão.

Bufando, ela se lembrou da primeira vez. Mãozinha estava lá, ao seu lado, e com Wandinha em perigo tudo isso pareceu nada. Ela não se importou com o desconforto, não hesitou em correr pela floresta para afundar suas garras em Tyler, e a Addams muito menos pareceu lhe temer ao encará-la. Com chamas no olhar e sangue banhando o uniforme, Wandinha tinha coisas mais sérias a se importar do que sua aparência monstruosa. Mas ainda assim, ela lhe reconheceu, e Enid a ela.

Não era comum lobisomens serem completamente conscientes a partir de sua primeira transformação, como filhotes dando o primeiro passo, seus instintos de caça e sobrevivência falavam primeiro e a trajetória até uma mansidão era longa. Porém, surpreendendo a si mesma e seus pais, Enid sabia e lembrava muito bem daquela noite, do momento em que ouviu a Addams dizer seu nome ou de quando lutou pela vida delas.

Naquela noite, Wandinha Addams havia lhe despertado e, sem que soubesse, se tornado dona de seu coração. Ela era a sua lua.

Sentada e com o focinho em direção ao alto, a loba gigante uivou para o céu. Alto o suficiente para que alcançasse toda Never More. Havia algo nela, o ímpeto incontrolável de seus instintos naquela forma, aquele ardor feroz em seu peito, o olhar escuro tatuado em seus pensamentos, ela não podia mais guardar aquilo para ela. Aqueles sentimentos que a estavam consumindo pareciam transbordar. Para o azar de Enid, ela não era uma loba boa em mentir, não naquela forma.

Não sabe quanto tempo se passou desde então, os minutos ou hora, até que um som rasteiro sobre as folhas chegasse até suas orelhas atentas. Tão pequeno e claro, ela se virou em direção a algumas das árvores densas ao seu redor. Poderia ser algum animal, uma presa para a longa noite. De orelhas altas e posição alerta, a lobisomem sentiu a outra presença no lugar. Porém, fungando o ar, tudo soou diferente.

Definitivamente não era um animal selvagem, muito menos algo, mas sim alguém que Enid jamais se atreveria a machucar. Percebendo que já havia sido pega, a figura pequena andou em sua direção.


– Eu não deveria estar aqui. – disse a Addams. – Mas quando escutei aquele uivo tão específico era como se estivesse me chamando. – ela parecia surpresa com suas próprias ações. Inquieta, a loba rosnou. Mas ela não parecia arisca, Wandinha tinha certeza. Enid jamais a machucaria. – Tenho parecido louca ultimamente, e isso não é tão bom quanto imaginei. Mas nós temos assuntos pendentes e não vou deixar que fuja de mim, de novo.

Oh sim, elas tinham. Havia tanto sobre o que falar, tanto a confessar. Com a cauda enorme se remexendo de um lado a outro, Enid amaldiçoava aos Deuses e ao inferno por não poder falar. Justo naquela forma, quando nem mesmo seus maiores medos poderiam a impedir de obedecer aos palpites de seu coração, ela não podia dar uma resposta a Wandinha. Não podia revelar quem era a verdadeira origem de seus problemas sentimentais, não poderia ser ousada e dizer a pessoa mais aversa a sentimentos do mundo que na verdade estava apaixonada. Era apenas tão injusto. Enid uivou de novo, inconformada.


– Você não pode falar, não é? – a morena se aproximou. Coberta por um casaco preto tão espesso, era adorável como ela quase sumia em meio ao breu. – Estou sendo egoísta com você.

Em seu tom suave parecia haver culpa. Hesitando em encarar aqueles olhos dourados gigantes, Enid não parecia a única a querer fazer confissões. Quem sabe, luas cheias afetassem os Addams também.

A morena ergueu sua palma, calma e sem medo, ela não parecia se intimidar diante do tamanho de sua companheira de quarto. Um tanto surpresa, Enid fez o mesmo com uma das patas, quase cinco das mãos de Wandinha, a diferença de altura era engraçada. Mesmo não tão adepta ao toque, havia algo na Addams que a fazia se questionar como seria tocar em Enid daquela forma, senti-la sob aqueles pelos – e pele quente, como dizia a fama dos lobos. Assim, elas colaram as palmas, Wandinha então fechou os olhos tudo apenas pareceu estar bem de novo.

Pegando-a desprevenida, a lobisomem se jogou sobre ela. Um abraço desajeitado que as derrubou no chão. Pequena como um filhote, Wandinha se viu presa por Enid e seu afeto desmedido.


– Enid! – ela se remexeu, mas fora em vão.

Cuidando para não machucá-la, a Sinclair a segurou forte, no mais importante de seus abraços. Com o peito apertado, ela desejou que por ele Wandinha pudesse sentir o que ela não era capaz de dizer. Desejou com todas as forças que ela entendesse o “eu te amo” que não pôde rosnar. Aquela confissão silenciosa que irradiava seu corpo. Que ela descobrisse a resposta que tanto queria; Wandinha Addams era a causadora dos seus problemas de coração. E se pudesse ser um pouco mais egoísta... que ela não lhe deixasse sozinha no dia seguinte.

Se ela pudesse lhe sentir, queria que Wandinha não a abandonasse. Enid não suportaria ser uma loba solitária mais uma vez.

Talvez por isso, a garota de tranças não tenha protestado na hora de ficar. Parecia haver um ímã entre as duas, uma sensação indecifrável que a puxava contra a Sinclair. E quanto mais ela tentasse pensar sobre isso a única causa em sua mente era algo sobrenatural. Não havia explicação para os batimentos acelerados do seu coração. Ela não tinha medo, nervosismo ou hesitação com Enid, era apenas calor. Algo que se arrastava no peito até a ponta dos dedos e dos pés, ela apenas queria estar com Enid, ela queria algo que seu vocabulário ainda não poderia definir.

Horas pareceram minutos, e minutos segundos. Elas não se soltaram em nenhum instante, enquanto Enid se entregava ao sono com Wandinha em seus braços, e quando a lua foi embora e o sol se ergueu elas permaneceram entrelaçadas uma a outra.



Notas Finais


Esse final me pega muito. E só espero que todos vocês estejam preparados pro capítulo seguinte, porque Brasil estará acordando!

Mimem-me com seus surtos, por favor~

🐺🤌🏻🎻


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