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História Auribus teneo lupum - Can can - História escrita por Yuuki-manu - Spirit Fanfics e Histórias
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História Auribus teneo lupum - Can can


Escrita por: Yuuki-manu

Notas do Autor


Pois é, levei um ano para atualizar essa história por aqui, entretanto, aqui estou eu ressurgindo das cinzas com um novo capítulo.

Primeiramente, quero agradecer por todos os lindos comentários, favoritos e o apoio que recebi ao longo desse texto. Vocês são uns amores apesar de eu ser uma autora fantasma que demora eras para aparecer. Responderei tudo o mais breve que puder.

Em segundo lugar, darei uns updates.
A parte boa é que tenho mais uns oito capítulos escritos, os quais pretendo postar tão logo tiver tempo. A parte ruim é que tive um bug no aplicativo que usava para escrever e perdi todos os meus rascunhos do capítulo 17 em diante, o que foi uma das principais causas para o meu desaparecimento.
A história empacou porque tive de refazer meus planejamentos e roteiros, mas enfim.
Pretendo retomar as postagens e espero que até chegar no 16 aqui eu já tenha me reestruturado e escrito os seguintes.

No mais, agradeço novamente e torço para que gostem do capítulo.

Capítulo 8 - Can can


 

Conforme o mês de outubro encaminhava-se para o seu fim, as cores das folhas que cobriam as árvores das ruas e avenidas de Karakura mudavam, atingindo o laranja e o vermelho fortes, típicos do outono, ao passo que aguardavam o tempo em que o inverno poderia retirá-las das árvores com suas temperaturas negativas.

Encobertos pela obscuridade da noite, em contraste com as luzes vívidas da cidade, os ramos dançavam ao ritmo de um vento gelado, retorcendo-se diante do frio, tal qual as pessoas caminhando pelas calçadas.

 

— Hinamori-chan, assim só chegaremos amanhã... Deixe que eu faça isso pra você, un? – Pedia Matsumoto com sua voz preguiçosa, tomando um frasquinho de delineador das mãos de Momo e passando a desenhar traços precisos sobre as pálpebras da amiga.

 

— Obrigada – Falava baixinho, tentando manter os olhos fechados apenas levemente durante o processo – Eu sempre acabo errando... – Soltava, apoiando as mãos na cama enquanto a loira permanecia ajoelhada à sua frente, de modo a alcançar-lhe o rosto facilmente.

 

— Nada – Respondia num sorriso, continuando o trabalho – É por isso que nos arrumamos juntas. – Observava ao terminar, levantando-se e consertando o vestido preto que usava bem justo ao corpo. O formato apertado, terminando no meio das coxas combinava perfeitamente com os scarpinbastante altos e a meia-calça que usava. Adicionando informalidade ao visual, um casaco bege bem marcado na cintura e um longo cachecol cor de rosa complementavam tudo.

 

— Acha que essa roupa está boa? – Perguntava a morena, dando uma volta para que a maior lhe avaliasse o visual. O algodão do vestido cor de pêssego balançava de leve com o movimento, contido pelo longo casaco de lã vermelha que a jovem trazia no corpo, acompanhado por meias pretas grossas e botas de cano médio.

 

— Ainda acho que aquela blusa decotada que eu lhe dei de presente cairia bem hoje – Respondeu Rangiku num sorriso – Mas já que a noite está fria, você ficou ótima assim – Complementou, puxando a bolsa que deixara sobre a cômoda do quarto e indicando que a amiga também pegasse a própria – Agora vamos, porque hoje eu quero beber pela semana toda e nós ainda temos de passar na casa da Nanao! ­– Terminava em tom de empolgação, já ansiosa por aproveitar o tempo que teria naquela sexta-feira.

 

..........................................................................................................

 

— Yo!

 

O cumprimento de Grimmjow para os amigos fora o mais sucinto possível, acompanhado apenas por um levantar de punho, permitindo que fosse notado em meio ao burburinho do bar já bastante cheio e à escuridão propositada do local.

Sentados em cadeiras de aço leve, dispostas ao longo das mesas de vidro e metal do estabelecimento, Kira, Hisagi, Yumichika e Ikkaku conversavam empolgados, já servidos por bastante sakê e uma série de petiscos.

 

— Ué, cadê o Renji? – Perguntava Izuru, movendo a cabeça como se esperasse ver o ruivo surgindo de algum ponto detrás do homem de cabelos azuis.

 

— E eu sou babá dele, agora? – Retrucou, ríspido, passando as pernas pelo assento ao lado de Hisagi e ajeitando-se ali

 

— Parece que alguém acordou com o pé esquerdo – Ironizou Ayasegawa, sentado no extremo mais distante de Grimmjow e, portanto, seguro o suficiente para o gracejo.

 

— Tua sorte é que eu não bato em mulher ­– A réplica foi cuspida em tom agressivo pelo recém-chegado, enquanto os orbes azuis já passeavam por um cardápio. Além do mais, se arrumasse uma briga com algum amigo logo depois de entrar no recinto estragaria todas as perspectivas de fazer daquele encontro um programa relaxante.

 

— As meninas também não vieram ainda – Cortou Shuuhei, evitando o que poderia se tornar um conflito assim que o pavio curto do professor de matemática terminasse. – Achei que elas estariam aqui às 22 horas...

 

— Mas falando no diabo... – Observou o Madarame, ao passo que as três mulheres cruzavam o local, estando Matsumoto amparada por Ise e Hinamori, os pés vacilantes tropeçando pelo caminho.

 

— Vocês beberam antes de novo? – Questionou Yumichika, arqueando as sobrancelhas bem delineadas, o rosto adornado por enfeites, no mínio, peculiares.

 

— A Rangiku-san quis esquentar quando elas vieram me buscar, então, de alguma forma, as coisas acabaram assim... – Nanao explicava, ajudando a loira a sentar-se junto aos demais.

 

— Isso nem foi nada – Rebatia Matsumoto, apoiando-se em Kira, além de Momo, que permanecia de pé ao seu lado – Eu não vou ter que trabalhar amanhã, então só estou começando a noite. – Dizia empolgada, balançando os dois amigos com os braços e, num solavanco, puxando Izuru para uma espécie de abraço vacilante, com direito a alguma dose de sufocamento entre os seios volumosos antes que o rapaz conseguisse desvencilhar-se, já com os cabelos bastante arrepiados.

 

— Você sabe que é a única que não tem compromisso amanhã, né? – Lembrava Hisagi, estendendo uma bandeja de aperitivos para a moça.

 

— Ah, como vocês são chatos – Soltou num suspiro manhoso, escorando-se melhor entre o cadeira e a mesa para que os amigos pudessem deixar seus postos amparando-a.

 

Os minutos seguintes passaram no típico entrosamento do grupo, contando com brincadeiras por parte dos mais soltinhos, as reclamações de Kira sobre a dor de cabeça que teria no dia seguinte e a voz dengosa de Rangiku ecoando mais do que as respostas brutas de Grimmjow para qualquer coisa que o irritasse ou as risadas um tanto psicopatas que deixava escapar de vez em quando.

Com exceção de Izuru, que só entrara para o círculo de amigos mais tarde, devido ao trabalho na empresa Kuchiki, junto à Matsumoto e Renji, todos ali se conheciam por terem estudado juntos na faculdade em algum momento. Ainda que Hinamori fosse alguns anos mais nova que os demais e, em especial, apegada à Matsumoto, todos ali davam-se muito bem e há tempos reuniam-se regularmente para beber, jogar conversa fora ou fazer qualquer programa que lhes parecesse interessante.

Naquela noite especificamente haveria, no bar onde estavam, a inauguração de uma nova pista de dança, a qual combinaram de estrear – E no que dependesse de Rangiku, que já recomeçava a beber,  todos ali teriam de mostrar os passos mais cedo ou mais tarde.

Quase meia hora depois da chegada das meninas, quando todos escutavam a narração empolgada de Ikakku sobre o sindicato Yakuza com o qual se envolvera e como oShateigashira Zaraki Kenpachi, seu chefe, era um homem destemido ao qual ele estava orgulhoso de servir, o Abarai finalmente aproximou-se do grupo, soltando, esbaforido, os seus cumprimentos.

 

— Chegou cedo, ruivinho – Brincou Matsumoto, sorrindo diante da visão do homem ofegante, já abrindo a jaqueta de couro marrom que trazia no corpo, por cima de uma camisa preta.

 

— Eu precisei ficar até mais tarde na empresa hoje, então tive pouco tempo pra chegar aqui – Contava, enfiando-se entre os lugares em que Grimmjow e Hisagi estavam sentados – Como estão? Já estrearam a pista?

 

— Nada, estávamos te esperando – Respondeu Ikkaku, virando em um único gole o conteúdo de seu copo antes de continuar – Mas agora já está na hora de irmos, né?

 

Sem aguardar muito mais, o grupo atravessou o local repleto de móveis de metal bem polido, refletindo as luzes coloridas responsáveis pela maior parte da parca iluminação do ambiente. Nos fundos, seguindo por onde uma profusão de pessoas entrava e saía a todo instante, chegava-se às grandes portas a prova de som, detrás das quais, após um pequeno corredor onde também encontravam-se as portas dos banheiros, se situava a pista de dança, com direito a um DJ tocando seleções variadas em volume altíssimo, doses cavalares de fumaça artificial e luzes estroboscópicas a gosto. Pufes arroxeados, acompanhados por mesas retangulares, ficavam em uma área à direita da pista, à qual se tinha acesso por um pequeno conjunto de degraus e onde também se encontrava um segundo balcão fornecendo bebidas.

Movendo-se de acordo com o ritmo acelerado do ambiente, Matsumoto puxou Shuuhei pela mão e, de bom-grado, o homem a acompanhou até o centro da multidão. Os demais foram aprofundando-se também, embrenhando-se em meio aos corpos, dançando conforme lhes parecesse adequado. A batida alta ia alcançando as mentes, acompanhando o calor do cômodo e fazendo-os esquecer da noite gelada estendida ao lado de fora.

Todavia, antes que pudesse alcançar os amigos em meio ao enxame de corpos, Renji sentiu as mãos fortes de Grimmjow segurando-o pelos ombros, puxando-o em direção á uma das paredes, distante do epicentro do movimento. Ele aproximava o rosto de seu ouvido, buscando fazer-se escutar:

 

— Me diz que você ainda não se resolveu com o Kuchiki – Pediu, a expressão um pouco fechada.

 

Ainda sem entender bem o sentido daquilo, mas contente por poder compartilhar as novidades com o melhor amigo, o tatuado respondeu no tom mais alto que poderia usar sem ser escutado por alguém além de seu interlocutor. Precisava contar pelo menos pra ele que as coisas haviam se encaminhado, e ainda tinha de agradecer-lhe pelas dicas dadas naquela conversa dias atrás.

 

— Na verdade, deu tudo certo, sim. Tenho que te agradecer, Grimmy! – Puxava-lhe uma das mãos para um aperto, o sorriso bobo estampado de orelha a orelha – Ainda estamos engatinhando, mas agora tudo entrou nos trilhos.

 

— Merda. – Exclamou, os olhos azuis contemplando a confusão na expressão de seu ouvinte – Eu estava precisando de uma transa muito boa pra melhorar essa semana. Se você está ocupado agora eu vou ter que procurar por fora.

 

— Até parece que eu sou tua puta, babaca... – Reclamou, mas sorriu em seguida, sem querer repreendê-lo – Fala aí, que foi que aconteceu contigo?

 

— Vem lá pra fora comigo, que a gente conversa direito. Não tô em clima pra isso aqui por enquanto – Pediu em seu tom nada sutil, arrastando o ruivo pelo pulso. E daí que tinham ido pra lá pensando em dançar na porra daquela pista? Ia alugar o ouvido do Abarai, sim, e se reclamasse ainda levaria o dobro do tempo. Hora de retribuir aquela sessão de psicólogo no domingo anterior, afinal.

 

Andando na contramão do fluxo de pessoas, a dupla foi em direção a uma mesa mais afastada, dentro de uma área reservada para fumantes, onde Grimmjow poderia estar mais à vontade. Precisava urgentemente de um cigarro.

Puxou com a perna uma das cadeiras, facilmente afastando-a o suficiente para sentar-se e indicando que o ruivo fizesse o mesmo. Antes de tudo, tirou dos bolsos a carteira de cigarros, acompanhada pelo fiel isqueiro com sua pantera metálica. Na caixinha azul, saltavam as letras da palavraPeace, e aos olhos de Renji sempre parecia irônico que o amigo fumasse aquela marca.

Puxou com força a fumaça quente do cigarro sem filtro, numa tragada de alguns segundos, mantendo-a na boca fechada antes de inala-la demoradamente, deixando que chegasse bem fundo. Só depois de expelir um longo cone de fumaça, exalando o relaxamento causado pela ação da nicotina, começou de sua maneira peculiar o relato até então preso na garganta:

 

— Como você fez pra não se apaixonar por mim, hein? – Perguntou em tom casual, já batendo as cinzas em um cinzeiro no canto da mesa.

 

— Não estou te entendendo. – Tentava esquivar-se, já um tanto preocupado com os possíveis rumos daquela conversa. Primeiro a brincadeira sobre transarem, e agora aquilo? – A gente já deu o que tinha que dar. Sabe que estamos melhor como amigos, e agora eu tenho...

 

— Eu sei – Cortou, balançando a mão livre num trejeito de impaciência – Tô precisando que você ensine isso pros meus alunos. – Explicava, recebendo uma expressão completamente confusa de seu ouvinte – Sei lá, escreve um “Guia fácil de como não amar o Grimmjow” ou qualquer coisa assim. – Pedia, mudando um pouco o tom da voz, como se lesse o título de um livro real – Mas arruma uma forma de mostrar que é possível não se apaixonar por mim mesmo convivendo de perto.

 

Dessa vez, a resposta veio na forma de uma gargalhada sonora por parte do tatuado, mas o dono dos cabelos azuis prosseguiu no timbre habitual, como se o pedido fosse de verdade.

 

— Sério – Dizia, aproximando-se um pouco mais por sobre a mesa – Eu já recusei uma aluna minha umas três vezes essa semana, mas não adianta – Prosseguia num suspiro – A filha da puta continua vindo pra cima de mim, me catando nos corredores... – Terminava, parando para uma nova tragada, ao passo que o sorriso sumia do rosto de Renji e dava lugar a uma expressão preocupada.

 

— Espera, quantos anos a menina tem? – Questionou, alarmado – Você não pretende fazer nada com ela, né? – Tentava confirmar.

 

— É óbvio que não, idiota. Tá pensando que eu sou o quê? – Retrucava, virando-se para chamar um garçom e pedir algo para os dois. – O problema é que a garota está sendo insistente, entendeu? – Continuou tão logo o funcionário do bar afastou-se para providenciar os pedidos – Fica no meu pé, e não importa o que eu faça, posso me foder de alguma forma depois.

 

— Acha que se for muito rude com ela pode piorar a situação de alguma forma? Ou a preocupação é com os sentimentos dela?

 

— Sentimentos uma ova – Falava já com alguma irritação na voz – É uma filhinha de papai que me olha como se eu fosse o brinquedo novo – Contava, deixando certo asco transparecer – O problema é que eu sou o professor e ela a aluna. Se ela decidir me acusar de algo eu fico sem defesa, porque convenhamos que o comum não seja uma garota de 16 anos inventar algo assim.

 

— Realmente é uma situação que te deixa de mãos atadas – Começava, um bocado apreensivo com o que poderia ocorrer ao amigo – Mesmo que não toque nela, se falar grosso na hora de dispensar já abre margem pra algo.

 

— Exato – Soltou, calando-se novamente quando um garçom chegou trazendo cervejas.

 

— Eu sei que não é exatamente fácil pra você encontrar meios-termos, ainda mais em uma situação dessas – Começou, ao passo que o homem revirava os olhos em uma careta desgostosa – Mas acho que o mais seguro é se manter tão distante dessa garota quanto possível. Já que lidar com ela pode ser meio perigoso, ficar longe e ignorar provavelmente funcionará melhor.

 

— É o que eu vou tentar fazer. – Concordava, abaixando o queixo para mais uma tragada enquanto o ruivo puxava uma garrafa de vidro escuro, servindo o próprio copo com o líquido amarelado. – Ainda tem mais um garoto dessa mesma sala que parece estar a fim de mim, mas esse é bobinho, nem me preocupa. – Adicionava após expelir a fumaça – Até gosto de pegar no pé dele.

 

— Qualquer coisa me liga que eu vou lá dar uma palestra sobre como você foi a pior experiência amorosa da minha vida. – Dizia sorrindo.

 

— Não era isso que você falava quando estava dando pra mim – Respondeu num falso tom ofendido – Estava mais pra "Você é o cara mais gostoso que eu conheço" – Brincava, mostrando os dentes num sorriso sacana.

 

— E o mais modesto também, né?

 

— Claro. – confirmava num gesto debochado, já aparentando um pouco mais de descontração – Mas na boa, eu só precisava falar disso com alguém antes que qualquer coisa estoure.

 

— Eu imagino – Assentia com a cabeça ao falar, observando-o colocar no cinzeiro o cigarro já no fim. – Tem sua testemunha de que não é culpado de nada – Esticava-se melhor no assento, tomando um gole de cerveja antes de prosseguir – Mas porque não aproveita a noite pra relaxar um pouco? – Perguntava, olhando ao redor como uma indicação – Eu te conheço. Sei que se ficar só pensando nesses problemas vai surtar e tentar bater na primeira pessoa que aparecer.

 

— Pretendo aproveitar, sim. Mas como eu disse antes, terei que procurar alguém de fora pra me divertir hoje já que você anda ocupado – Deixava as palavras soarem lascivas enquanto observava a pele bronzeada, marcada por tatuagens, que aparecia graças aos botões iniciais abertos na camisa do ruivo. – A não ser que você não se importe em ter uma despedida adequada antes que o compromisso fique sério com o chefinho. – Sugeria, olhando-o devassamente, como se estivesse prestes a ataca-lo ali mesmo.

 

— Já está sério. – Cortou, recuando um pouco na cadeira antes que acabasse sendo a presa da noite. – Quer dizer, estamos saindo mesmo agora.

 

— E a demora hoje foi porque estava fazendo hora extra com o rabo do patrão ou ele ainda está de cu doce?

 

— Vai à merda, Grimmjow. – Xingou, revirando os olhos enquanto terminava de responder – Estava trabalhando, mesmo. Estamos no meio de um projeto e acho que continuaremos com serviço extra por um bom tempo.

 

— Sei...  – Falava, puxando da carteira o próximo cigarro – Então vê se não fica de corpo mole e faz logo alguma coisa, porque se deixar por conta não vai comer o cara nunca.

 

— Eu não quero ele só por sexo. – Replicou numa expressão emburrada. – Eu o amo de verdade. Isso é muito sério pra mim, entende?

 

Não havia deixado claro até onde fora com o Kuchiki, então era meio natural que o amigo achasse que nada físico ocorrera – Ponderava, observando a chama amarelada sair do isqueiro que o homem de cabelos azuis segurava – Contudo, talvez fosse melhor deixar por isso, mesmo. Seria constrangedor demais ter que revelar os detalhes daquela noite.

De toda forma, quase colocara tudo a perder por conta da pressa, então agora queria ser o mais calmo possível com Byakuya. Ainda que ardesse de desejo toda vez que se encontrava mais próximo a ele, saberia controlar os impulsos da carne e comportar-se devidamente dali em diante. Teriam todo o tempo do mundo para sentir um ao outro depois que a relação estivesse mais sólida.

 

— Se continuar me olhando assim eu vou achar que mudou de ideia e está querendo uma transa – Gracejou o professor após uma tragada bastante longa, observando o olhar perdido que o tatuado ostentava em sua direção.

 

— Não era em você que eu estava pensando. – Respondeu rápido, entornando o resto do conteúdo do copo.

 

— Já sei. – Replicou, cortando o ar em um gesto amplo com uma das mãos, em uma negativa – Me poupe da pieguice – Continuou, fazendo menção de levantar-se – A conversa foi boa, mas é melhor reencontramos o pessoal, porque eu ainda tenho que caçar hoje. – Terminava, girando os olhos pelo salão, buscando algum corpo que lhe chamasse a atenção.

 

— Ok, ok – Soltou ao levantar-se da cadeira – Eu não quero demorar demais por causa do trabalho, então vou ficar com o pessoal mais um pouco e depois sigo pra casa.

 

De volta para a pista, os dois conseguiram reencontrar os amigos sem muitas dificuldades, ainda a tempo de conferir Kira, completamente bêbado, dando um show com o estilo de dança mais estranho já exposto ao público. Em geral, ele tinha as melhores pérolas quando abusava do álcool, o que transformava aquelas cenas em espetáculos memoráveis durante as saídas do grupo.

Já no extremo oposto de habilidade, Matsumoto e Hisagi mostravam uma dança lasciva, esbanjando sensualidade em cada movimento e encantando os que paravam os olhos sobre eles. O Moreno movia-se detrás da loira, deixando que as curvas do corpo feminino se encaixassem com maestria no seu, os braços delicados à mostra enquanto o casaco que usava antes descansava sobre alguma mesa distante.

Furtivo, Grimmjow aproximou-se da mulher pela frente, entrando na mesma sintonia da dupla enquanto mostrava os dentes em um sorriso rasgado. As mãos delineavam o corpo curvilíneo, criando um clima excitante entre os três.

 

Já Renji, como bom rapaz apaixonado que era, permaneceu junto aos demais amigos, dançando solto, rindo da performance de alguns e conversando aos gritos, devido ao som alto, sobre qualquer banalidade até que estivesse tarde demais para permanecer ali.

Despediu-se dos que encontrou, partindo rumo ao apartamento, após conferir que Grimmjow já saira do bar acompanhado por alguém. Com certeza uma noite divertida ajudaria a manter o homem mais relaxado durante a semana, no entanto, a situação em que se encontrava era certamente muito preocupante.

Infelizmente, não havia muito a fazer além de torcer para que ele mantivesse a calma e não deixasse o temperamento explosivo causar-lhe qualquer prejuízo.

....................................................................................................

 

— Grimmjooow!

 

A voz feminina soava irritante, retirando-o com certa dificuldade do sono profundo. Apertava os olhos, tentando discernir o cenário à sua volta.

 

— Teu despertador está tocando. Tem trabalho hoje? – Continuava a mulher, parecendo não muito menos sonolenta do que o seu interlocutor – Eu desligo?

 

— Puta merda – Exclamava, sentando-se no carpete.

 

Sim, o carpete.

Já mais consciente, percebia estar no chão da sala da própria casa – menos mal – vendo uma mão feminina estender-lhe o aparelho celular, o qual desligou imediatamente, dando fim à canção da banda Pantera, que o despertava todas as manhas ultimamente.

A moça virou-se de costas para ele e voltou a cobrir-se com a manta do sofá tão logo o aparelho foi pego, entretanto, pelos cabelos verdes acompanhando o físico escultural, reconheceu tratar-se de Nelliel, uma amiga de longa data que – lembrava-se agora – encontrara no bar na noite anterior.

Mais incomum do que isso foi notar que algo lhe pesava sobre as pernas e, bem, esse algo era um homem de pele clara e cabelos negros caindo à altura dos ombros. Dormia pesadamente, o corpo nu à mostra enquanto o rosto descansava bem próximo à pélvis do homem de cabelos azuis.

 

— Quem é esse, Nell? – Perguntou, levantando com cuidado o rapaz esguio e deitando-o de costas no carpete. O corpo magro não chamava atenção, mas era um tipo bastante atraente, de alguma forma.

 

— Ulquiorra – Sibilou, já quase voltando a dormir – É um amigo meu. Estava com ele ontem quando a gente se encontrou, esqueceu?

 

— Hm – Respondeu enquanto os flashes lhe voltavam à mente.

 

Lembrou que achara o homem um tanto intrigante, com maneiras sérias e apáticas de um modo incomum. A ideia Inicial era sair apenas com a amiga, mas ficara bastante instigado e, talvez, desafiado a fazer o rosto daquele moreno mostrar alguma expressão.

E vira muitas delas naquela sala durante as horas de sexo à três. Apesar do trabalho para convencer o semidesconhecido a entrar na empreitada, valera totalmente a pena – Concluía, relembrando os momentos de prazer, explorando os dois parceiros até a exaustão – Precisavam repetir aquilo qualquer dia, inclusive.

Passou os dedos suavemente pelo tronco do homem adormecido, contemplando com satisfação a marca avermelhada que fizera em seu peito enquanto a libido os dominava, bem como as outras marcas vermelhas e arroxeadas que a pele alva evidenciava.

Finalmente, levantou-se rumo ao quarto, tomando um banho para que pudesse começar o dia. Apesar de ter aproveitado bem a noite anterior, ainda lembrava que teria aulas para ministrar naquele sábado.

 

— Hey, deixe a chave na portaria do prédio quando for embora, ok? – Avisava para a mulher, já pronto para sair, abaixando-se de modo a manter o rosto próximo ao dela enquanto falava.

 

— Ok, ok – Suspirava ao responder, coçando os olhos com uma das mãos.

 

— E vê se lembra de levar esse cara embora caso ele não acorde sozinho. – Advertiu por fim, rumando em direção à saída.

 

— Pode deixar – Concordava, rolando mais para o lado – Eu ainda tenho assuntos pra resolver essa manhã, então vamos embora logo. – Bocejou, fazendo o tronco do amigo de travesseiro – Só preciso de mais uns minutinhos.

 

Provavelmente aquele cochilo ainda iria demorar um bocado, mas como só pretendia voltar para a casa ao fim do expediente, seria tempo mais do que suficiente. Nelliel tinha uma personalidade estranha, transitando entre a maturidade severa de uma mulher envolvida com negócios escusos e a ingenuidade do comportamento infantil que mostrava junto aos amigos, no entanto, era alguém em quem confiava sem ressalvas.

Ao menos, apesar do cansaço gerado pelo esforço somado às poucas horas de sono, poderia começar a semana revigorado, de alguma forma.

 

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— Grimmjow-Sensei, já está indo almoçar? – Chamava Sayuri, interceptando o professor antes que alcançasse o fim de um corredor.

 

— Sim – Respondeu seco, entretanto, mantendo a cabeça fria. Estava de bom humor, afinal. Ao menos por enquanto.

 

— Então, por favor, aceite este presente para a sobremesa – Pedia, estendendo-lhe um saquinho plástico transparente, fechado por um longo laço vermelho, dentro do qual biscoitinhos caseiros podiam ser vistos.

 

— Não precisa. Mas obrigado – Forçou-se a ser educado na recusa, mas a garota foi persistente.

 

— Eu insisto, Sensei. Eu mesma os fiz especialmente para o senhor – Dizia, empurrando o pequeno embrulho para o homem. – Além disso, será que o senhor se importaria de ter a minha companhia agora? – Perguntava em tom inocente, aproximando-se um pouco mais. – Eu gostaria de esclarecer algumas dúvidas sobre o último conteúdo.

 

Desgraçada – Pensava consigo mesmo, já a amaldiçoando mentalmente. – Ela demonstrara facilidade demais com a matéria durante a aula para precisar de um tira-dúvidas tão urgente, todavia, o colocara em uma situação em que ambos, recusar ou aceitar o pedido, seriam igualmente ruins. Mas que pestinha engenhosa!

Sabia que declinar naquele momento só o salvaria por pouco tempo de, pois ela poderia repetir a solicitação em qualquer outra ocasião em que o interceptasse fora do horário de aulas. Não obstante, já formulava mentalmente a desculpa para recusar, quando viu a sua salvação passando por aquele corredor. Uma solução surgindo numa fração de segundos.

 

— Kurosaki, vem cá – Chamou Grimmjow, fazendo um gesto de mãos para impedi-lo de prosseguir até a saída.

 

Um pouco confuso, o garoto dirigiu-se até onde o homem e a colega permaneciam parados, perguntando ao professor o que ele desejava consigo.

 

— Você tem algum compromisso agora? – Respondeu com outra pergunta, desviando momentaneamente o olhar para o semblante incrédulo de Sayuri.

 

— Er... Eu só ia almoçar – Falava meio vacilante, as mãos sendo enfiadas nos bolsos, ainda sem entender o motivo daquilo.

 

— Ótimo – Comentou o homem, sorrindo enquanto continuava – A sua colega aqui acabou de me dizer que gostaria de tirar umas dúvidas – Explicou, apontando para a morena – Eu creio que vocês dois estão no mesmo nível, portanto achei produtivo chamar você pra discutir o conteúdo da última aula conosco também. Assim almoçamos os três juntos. – Acrescentou, já andando em direção à uma das mesas do pátio – Vamos?

 

Ichigo absolutamente não imaginava porque diabos o professor cismou de arrastá-lo para um tira dúvidas forçado, mas o modo como os olhos azuis o atravessavam, acompanhando as expressões, não dava margem a uma recusa. Se não tivesse perguntas, teria de arrumar alguma o mais rápido possível.

Poucos minutos depois, os três almoçavam enquanto folheavam um livro de matemática de Grimmjow e o caderno repleto de apontamentos trazido por Sayuri. Sentado ao lado da menina, ambos de frente para o professor, o morango não tinha sequer uma caneta consigo, todavia, debatia de maneira inteligente as questões que a garota lançava.

Em termos de conteúdo, a conversa estava mesmo sendo bastante produtiva, contudo, podia sentir um clima extremamente estranho, com a jovem ostentando uma expressão de criança contrariada ao passo que Grimmjow respondia às questões com um sorriso vitorioso.

Como era irritante não saber os detalhes daquela situação! – Pensava, passeando os olhos pelos dois – No entanto, não daria margem para qualquer sentimento de ciúmes ou algo assim. Seria ridículo da sua parte se sentir sobrando ali, como se estivesse com um casal, mas ao mesmo tempo, lembrando-se da conversa que tivera com Rukia dias atrás, a mente começava a clarear. Será que o professor o chamara para não ter de ficar sozinho com a menina? – Observava atentamente a situação enquanto formulava sua hipótese, julgando-a bastante plausível.

Tentaria confirmar a suposição quando contasse à Rukia sobre o incidente, entretanto, seguiria sua intuição e permaneceria na companhia do professor até que a colega fosse embora, só por precaução.

 

Quando os obentôs dos três já estavam vazios, o mais velho jogou sobre a mesa o saquinho de biscoitos que ganhara, oferecendo-o aos três diante da fúria velada da menina.

Que solução maravilhosa tinha encontrado – Concluía ao observar Ichigo provando inocentemente as guloseimas, sob o olhar fuzilante da garota ao lado – Depois daquilo ela não poderia intercepta-lo com a mesma desculpa tão cedo, portanto estaria livre desse tipo de situação. Ou assim esperava.

 

Ao fim do horário de almoço, os três finalizaram a sessão de estudos, caminhando lado-a-lado para o prédio principal. Chegando ao corredor no qual deveria virar, a jovem despediu-se delicadamente, agradecendo aos dois pelo trabalho duro e saindo a passos firmes. Parecia bastante contrariada, o que talvez fosse um sinal de que desistiria daquilo – Pensava o professor, sorrindo internamente.

 

— Hn, Grimmjow-san – Chamava o Kurosaki, que até então permanecera caminhando em silêncio – Eu vou indo – Continuou, movendo a mão em despedida. – Até segunda – Comentou, sabendo que o homem já não tinha mais aulas naquele dia.

 

— Ok. Tenha um bom final de semana, garoto – Deu-lhe um tapinha nas costas enquanto falava – E vê se dorme dessa vez ao invés de ficar vendo pornô até de madrugada – Aconselhou com o típico sorriso sacana repuxando-lhe os cantos dos lábios.

 

— O senhor não vai esquecer essa história tão cedo, né? – Replicava, virando o rosto na tentativa de esconder o rubor nas bochechas.

 

— Claro que não – Confirmou, piscando um olho para o rapaz – Até segunda, Kurosaki – Disse por fim, pensando no quanto aquele garoto era bobinho pra ficar vermelho só com isso.

 

Imagina se tivesse dito qualquer coisa pervertida de verdade? – Perguntava-se,  caminhando até o estacionamento com o sorriso cintilando no rosto. – Ao que parece, o alarde todo fora desnecessário, afinal, com alguma sorte, a mocinha não demoraria a desistir, ainda mais depois do fracasso que tivera na tentativa daquela tarde.

Depois de colocar o som do carro para tocar um CD qualquer, deu a partida bastante tranquilo, torcendo para os bons presságios se concretizarem e aquela situação terminar sem que acabasse com um processo por assédio ou agressão sob as costas.

 


Notas Finais


A música do título é de Offenbach, remetendo ao ambiente das danças francesas. Deixarei um link:
https://www.youtube.com/watch?v=4Diu2N8TGKA

Relembrando as notas do cap 6:
Shatteigashira é o chefe local de uma ramificação de determinado grupo Yakuza e Sindicato é uma forma de referir-se aos grupos em específico.

Peace é mesmo uma marca de cigarros japonesa, sendo que o grupo também produz os cigarros Hope lol

Obentôs são as bandejas de almoço individual comuns no japão. Caseiros ou mesmo os que vêm prontos no mercado.

Abraços e até logo!


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