Preenchendo o quarto escuro com uma profusão de pensamentos desordenados, Rukia rolava de um lado para o outro na cama, o sono custando a chegar.
Aquele fora um dia horrível, e se ainda tinha alguma esperança de falar com o irmão sobre o castigo que este lhe impusera, ela desaparecera ao notar que o homem não voltara para casa. Na verdade, se preocupara um pouco ao perceber que as doze badaladas do relógio já ecoavam há tempos, sem que ele retornasse, mas o que poderia fazer? Não telefonaria para ele em uma situação tão tensa, então seria mais sensato simplesmente comportar-se da melhor forma possível e aguardar.
Em meio aos receios, o olhar firme que o grande empresário lhe dirigira mais cedo, enquanto falava sobre educação e honra, dominou seus pensamentos. É... Não seria nada fácil dali em diante... Ok, ela tinha feito merda, admitia isso, mas precisava mesmo dessa reação toda? Amava o irmão, apesar da distância que ele sempre mantinha, e estava consciente de que só desejava o melhor para ela, à sua maneira rigorosa, ainda assim, era tão difícil lidar com ele! Ele tinha mesmo que ser sempre tão rígido? Sinceramente, aquela frieza toda só podia ser falta de sexo - Concluía a garota, rindo para si mesma.
Byakuya a adotara como irmã e a tinha sob seus cuidados desde que Hisana, sua esposa e verdadeira irmã de Rukia, falecera. A menina o vira caindo em um profundo poço de amargura, descendo mais e mais ao longo dos anos. Absolutamente não entendia o porquê de ele não seguir em frente. Apesar de ser pequena durante o curto período em que conviveram os três naquela casa, sabia bem que ele amava a mulher e era feliz com ela. Sendo assim, entendia muito bem que ele não a esquecesse, mas acorrentar-se ao passado era algo completamente diferente! O Kuchiki era muito firme na hora de falar sobre honra e princípios, mas sua força desaparecia quando o assunto eram seus próprios sentimentos. Por mais que o moreno pensasse que sua frieza era sinal de força, ela sabia que significava o contrário. Aquela muralha impenetrável erguida pelo homem e as regras impostas a si mesmo eram a representação de seu medo. Medo de ir adiante, de sofrer de novo, de se decepcionar, de perder... Medo de amar.
Era mais nova e menos experiente, entretanto, já sabia de coisas que aquele homem inteligente nem sonhava. Sabia que lembrar não é sofrer e que seguir em frente não significa esquecer. Se ao menos tivesse um meio de abrir-lhe os olhos. Ah, como se fosse possível... Quando tentava imaginar-se tratando desses assuntos com ele, só conseguia visualizá-lo reagindo com ira ou olhares gélidos. Se bem que depois desse castigo nem tinha muito mais a perder...
Tomou o cuidado de afastar-se dessas reflexões perigosas. Se ela tentasse algo e o mais velho decidisse castiga-la proibindo-a de comer doces, por exemplo, seria o seu fim. Nunca se sabe, né?
Resignada, virou-se de frente para a parede, cerrando os olhos violeta e passando a imaginar pequeninos coelhinhos coloridos, contados às centenas na esperança de conseguir descansar um pouco. Finalmente, a artimanha foi dando algum resultado, permitindo-a mergulhar em um estado de semiconsciência, antecedendo o sono profundo.
A certa altura, os coelhos já se misturavam e ela os via pulando, livres e distantes, através de grandes colinas verdejantes, brincando e chamando-a para usar o computador. Já não estava de castigo. Estava livre, comendo um sundae de morango enquanto assistia ao último episódio de seu animê favorito... Imagens coloridas flutuavam e seu irmão rodopiava entre elas com um belo sorriso, dizendo-lhe que estava feliz depois de ter encontrado uma linda princesa com quem faria amor. Nossa... Que maravilha.
Entretanto, as imagens foram escurecendo aos poucos, transformando-se em manchas borradas enquanto a menina retomava a consciência. Algum barulho vindo de fora a despertara, expulsando as doces ilusões.
Moveu o tronco, sentando-se na cama e passeando os olhos pelo local, na tentativa de discernir as sombras em meio à escuridão do cômodo. Nada ali fizera barulho, constatou. Já puxava as cobertas novamente, quando escutou a voz de Byakuya, parecendo soar um tanto diferente do timbre habitual. Todavia, não poderia dizer se a impressão não era apenas obra do sono, lhe pregando peças. Levantou-se, caminhando devagar até a porta do quarto, na intenção de confirmar as suspeitas, e colando uma orelha na mesma.
Qual não foi seu espanto ao constatar que outra pessoa falava com ele! Aquela voz forte, porém alegre, não poderia pertencer a nenhum dos empregados da casa Kuchiki. Não... Aquela voz só poderia ser de uma pessoa...
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— Quantas vezes precisarei lhe dizer que estou bem? Foi apenas um tropeço, Renji! – Bradava com certo descontrole, cobrindo com a mão os ferimentos superficiais no braço esquerdo.
— Byakuya... Seu braço está machucado. Não seja teimoso e me deixe cuidar disso – Exclamava, já cansado das negativas do outro. – Eu avisei do degrau. Se você tivesse me esperado descer do carro para te trazer isso não teria acontecido.
— Ora, esperá-lo? Não sou obrigado. – A resposta veio acompanhada por uma indignação exacerbada, incomum ao comportamento controlado do chefe.
Incapaz de se segurar, o ruivo deixou escapar um riso contido, o rosto iluminando-se como de costume pelo sorriso descontraído. “Não sou obrigado”... O Kuchiki sob o efeito de álcool ficava mesmo uma gracinha, de certa forma – Pensava consigo mesmo, contendo-se ao observar as reações do menor.
— Com o que se diverte? – Vociferou, irritando-se.
— Nada, Kuchiki-san – Apelou para o chamamento formal, numa tentativa de acalmá-lo – O senhor tem uma bela casa – Mudou de assunto – A decoração combina muito bem com o senhor.
— Agradeço. – Murmurou em desconfiada polidez, respirando fundo na intenção de acalmar a mente. Sentou-se, retirando o terno e a gravata enquanto estimulava seu convidado a fazer o mesmo – Sinta-se à vontade. Vou trazer-lhe um chá.
— Não precisa se incomodar. – Adiantou-se o tatuado, colocando uma mão em seu ombro para mantê-lo no lugar – Ou melhor, – Adicionou, uma ideia passando por sua mente – Deixa que eu preparo para o senhor. A cozinha é ali? – Terminou, apontando para uma grande porta dupla.
— Sim... – Byakuya cogitou recusar a oferta, todavia, o funcionário não lhe deu oportunidade, seguindo rapidamente para o outro cômodo.
Que seja – Consentiu mentalmente, resignando-se e voltando a atenção a si mesmo. – Devagar, os botões da camisa social foram abertos pelos dedos suaves, para que então a peça cuidadosamente dobrada pudesse ser depositada junto às outras retiradas pelo moreno. Nu da cintura para cima, avaliava as escoriações no braço. Nada relevante, confirmava, certo de que o Abarai fizera mesmo alarde em demasia. Sangrava um pouco em um ou outro ponto, mas nada que pudesse prejudica-lo seriamente.
O tempo que passara dormindo durante o caminho até ali já o ajudara a recuperar-se um bocado do abatimento gerado pelo álcool, entretanto, sentiu a necessidade de algo mais. Caminhando a passos lentos, dirigiu-se ao banheiro da sala, lavando demoradamente o rosto até que se sentisse desperto o suficiente para retornar.
No cômodo ao lado, Renji vasculhava as prateleiras dos grandes armários de madeira enquanto preparava o chá. Deveria haver um kit de primeiros socorros à mão em algum lugar por ali, supunha.
Não precisou de muito esforço para encontrar a maleta branca, encimada por uma chamativa cruz vermelha. Dentre seu variado conteúdo, escolheu as bandagens e medicamentos necessários, agradecendo mentalmente ao fato de o patrão ser cuidadoso a ponto de permiti-lo prever que encontraria uma caixa de primeiros socorros na cozinha. Ótimo. Assim o chefe não teria como fugir de seus cuidados. Preparativos terminados, organizou tudo e levou até a sala junto da bandeja com o chá verde, sem açúcar. Certamente ele preferiria assim.
— Aqui. – Falou enquanto estendia ao dono da casa o copo recém-servido. – E trouxe os medicamentos também. – Adicionou com um grande sorriso, agachando-se em frente ao outro e observando-o revirar os olhos.
— Ao que parece, não terei paz até permitir-lhe fazer esses curativos. – Observou, dando-se por vencido e estirando o braço para o seu novo enfermeiro.
O mais novo manteve o sorriso, tocando-o com delicadeza fora do usual, numa cuidadosa assepsia. Vez ou outra, levantava levemente os olhos, observando o abdômen bem feito à sua frente, os músculos pouco definidos, mas em perfeita e elegante simetria com todas as outras formas ressaltadas pela pele alva. Sendo um homem de negócios e workaholic inveterado, lhe parecia surpreendente que o Kuchiki tivesse um físico tão impecável. Renji tinha um estilo selvagem e agressivo, mas o moreno sem dúvidas era tão ou mais forte que ele. Pensando nisso, poderia visualizá-lo como uma onda, devastando o caminho com força aterradora, a despeito de sua suavidade.
O azul acinzentado dos olhos do mais velho também parava sobre o corpo tatuado, apreendendo-lhe a atenção e cuidado. Por que era sempre tão devotado? Tão fiel? Era difícil imaginar. Mas, indubitavelmente, Byakuya sentia que aquele homem sempre conseguia faze-lo sentir-se bem.
Em dado momento, os olhares se cruzaram, conferindo a ambos a impressão momentânea de ter lidos os seus pensamentos, como se cada um visse no outro o sentimento que nutria dentro de si. O moreno foi o primeiro a desviar, mas longe de desestimulá-lo, isso incentivou o ruivo. Sabia que o outro não era de se constranger ou esquivar-se de olhares, portanto aquilo só podia ter algum significado... Talvez um muito bom.
Enfim, o Abarai terminou de cuidar-lhe do braço, garantindo que todos os arranhões recebessem a devida medicação, colocando band-aids nos pontos dos quais o sangue ainda insistisse em sair. Realmente, não era nada grave, entretanto precisava de alguma desculpa para estar ali e manter contato, não é mesmo? Renji até podia ser um idiota ingênuo, todavia, sabia ser engenhoso quando o assunto lhe era importante. Notara os olhares tão atentos sobre seu corpo e, apesar de ser repentino tomar uma iniciativa séria naquele momento, outra oportunidade de tentar algo com o mais velho não cairia do céu tão facilmente.
— Pronto, Kuchiki-san – Informou, soltando-lhe e organizando novamente as caixinhas, junto à louça usada para o chá, na bandeja que deixara sobre a mesa de centro, atrás de si.
— Obrigado, Renji. – Disse em tom baixo, já extremamente lúcido em comparação à quando saíram do bar, observando o atencioso enfermeiro virar-se novamente para si.
— Não há de quê – aproximou-se um pouco mais do outro, fitando-o enquanto falava – Eu disse que podia sempre contar comigo. Não se esqueça.
— Não vou. – Deixava escapar, quase num sussurro. Essa lealdade do ruivo era realmente admirável. Surpreendia-se com o modo como ele estava sempre disposto e, pensando bem, nunca agradecia devidamente por tudo isso. Não era de seu feitio, na verdade. Entretanto, talvez fosse necessário, ao menos naquela ocasião. Considerava, voltando a falar em seguida – E realmente quero agradece-lo. Não só por isso, mas pelos bons serviços que sempre me tem prestado.
Ao ouvi-lhe as palavras, o tatuado sentiu que aquela era sua deixa.
— Se é assim, vou te pedir algo como agradecimento. Pode ser? – Perguntou, começando a levantar, de modo a encará-lo melhor.
— Certo. Peça-me o que desejar. – Não foi sem surpresa que o moreno respondeu, estreitando levemente o olhar; os cílios grossos caindo um pouco mais sobre os olhos profundos. Aquilo era inesperado vindo de Renji, porém, a sua vontade de demonstrar gratidão era verdadeira, então seria mais fácil assim.
— Meu pedido é que não se assuste muito. – Soltou o ruivo com uma expressão decidida, deixando Byakuya completamente atônito ao aproximar o corpo do dele, sem dar-lhe tempo para conjecturas.
Avançou, rápido e certeiro, vencendo a distância em um único movimento e colocando uma das mãos na nuca do mais velho. Os lábios se tocaram, suavemente, permitindo ao tatuado desfrutar daquele perfume maravilhoso, tão familiar, desprendendo-se do corpo paralisado à sua frente. Roçou de leve, provocando-o, puxando-lhe somente o lábio inferior, aproveitando-se da abertura criada para mover a língua devagar. Deixou a outra mão aberta em sua bochecha, mantendo-o consigo enquanto explorava-lhe a cavidade quente.
Inicialmente, temeu não obter sucesso em sua investida, no entanto, sentiu o outro tremer ao provar-lhe o gosto. Aproveitou, acariciando-lhe a nuca e trazendo-o mais para si enquanto sua mente ia perdendo-se naquela sensação deliciosa de tê-lo consigo, mesmo que fosse apenas um beijo. Fechou os olhos quando finalmente sentiu o Kuchiki corresponder propriamente. Os longos dedos do mais velho enterraram-se nos fios ruivos, arrancando a fita que os prendia e desalinhando-os enquanto o Abarai era puxado de modo exigente. Em pouco tempo, já estavam tão ávidos que era difícil manter o beijo corretamente. As línguas iam e vinham, tocando-se em uma disputa sôfrega. Um filete de saliva escorria pelo canto da boca do moreno e sua mão esquerda mantinha-se firme no ombro alheio, segurando-o consigo em uma manifestação da necessidade até então reprimida.
Finalmente, separaram-se um pouco, puxando o ar com dificuldade enquanto encaravam-se.
Céus! Aquilo fora tão bom... – Constatava Byakuya, surpreso consigo mesmo, enquanto recuperava o fôlego – Há quanto tempo não desejava alguém assim ou beijava de modo tão sincero? Quando poderia cogitar sentir-se tão atraído por Renji, como jamais imaginara sentir-se novamente? E pensando sobre isso, só poderia ter deixado cair o bom-senso em algum lugar para agir de tal forma!
Afastou bruscamente o corpo que lhe inspirava ações tão descabidas, recuando em direção ao braço do sofá e pronunciando-se do modo mais contrariado que pôde deixar transparecer:
— O que pensa estar fazendo?
— Te beijando. Esqueceu como é? – A réplica do ruivo veio rápida, acompanhada por certa ironia. Como aquele filho da puta queria fingir que não gostara?
— Não me venha com isso! – Rebateu em tom ríspido – Nunca lhe dei essa liberdade. Quem acha que sou? – A voz soava ofendida, como não poderia deixar de ser. Ninguém que o atacasse daquela forma deveria esperar que ele concordasse!
Renji tentou manter a calma. Consciente de que, caso respondesse sem pensar, começaria uma briga e colocaria tudo a perder. Provavelmente o Kuchiki só agia assim por não saber o que fazer diante de algo tão novo. Estava claro que ele havia gostado e desejava o mesmo, não importa o que dissesse, então seria melhor mostrar-lhe isso de alguma forma positiva ao invés de discutir.
— Acho que é o homem mais incrível que conheço. – Respondeu em tom sereno à pergunta feita pelo outro, surpreendendo-o por tempo suficiente para que pudesse investir novamente.
Cuidadosamente, jogou o peso sobre ele, deitando-o no sofá enquanto explorava a lateral de seu corpo com uma das mãos. Extinguiu toda a distância, colando o tronco ao dele enquanto afundava o rosto em seu pescoço, roçando lascivamente os lábios por ali. Byakuya tentou esboçar alguma reação, movendo a mão direita para empurrá-lo, todavia, o ruivo segurou-lhe pelo pulso, esticando-lhe o braço acima da cabeça e dando continuidade ao trabalho de sugar-lhe a pele sem muita força, acompanhando os movimentos por beijos e lambidas da clavícula até o queixo.
O moreno arfava, a mão livre buscando apoio nas costas do funcionário, prendendo os dedos ao tecido da camisa em um aperto necessitado. Afastando-se o suficiente para fita-lo, Renji soltou-lhe o braço, levando a própria mão a seu rosto, acariciando-o ternamente, roçando os nós dos dedos na pele macia.
— Desculpe por ter feito tudo tão repentinamente – Sussurrou, retornando os lábios ao pescoço do mais velho, deixando que se movessem contra a pele macia a cada palavra – Mas você não vai conseguir me enganar e fingir que não quer o mesmo que eu.
O Kuchiki tentou novamente levantar-se, mas o tatuado manteve-se firme sobre ele, impedindo-o. Estava certo de que a vontade real do homem era bem distinta de suas ações.
— Você não está tentando de verdade – Continuou. – Já teria me parado se realmente quisesse... Além disso, eu não faria nada de que você não gostasse. Continuo te respeitando como sempre – Tentava tranquiliza-lo, selando-lhe o pescoço lentamente, envolvendo-o em sequencia num abraço aconchegante, sentindo-o por um momento com gosto de infinito – O que estou fazendo de tão ruim, se nós dois estamos felizes? – Moveu-se finalmente enquanto perguntava, deixando que ele se sentasse. Encaixou as pernas sobre as do outro, posicionando-se em seu colo e repousando uma das mãos sobre o rosto do chefe, apoiando-se em seu ombro com a outra. Um sorriso bobo surgiu ao encará-lo. – Só... Pare de reprimir sua vontade, vai?
O patrão franziu o cenho. Teria milhões de respostas negativas para aquele pedido; milhares de reclamações sobre os recentes acontecimentos; e uma interminável gama de indagações sobre os motivos do outro. Passara os últimos segundos calado, pensando na melhor forma de deixar claro o fato de não desejar nada daquilo e que suas reações eram puro instinto. Planejara um discurso perfeito, mas agora, diante dos olhos castanhos transbordando expectativa, era incapaz de pronunciar qualquer palavra.
O que esse homem tinha para fazê-lo perder a razão? É claro que a bebida incentivara ambos, mas não podia ser só isso... Por que não conseguia manda-lo sumir dali imediatamente? Ou pior, por que não queria que ele sumisse? Sentia o gosto da boca atrevida do tatuado como se ainda estivesse preso àquele beijo e, tendo-o em seu colo, sussurrando contra a sua pele, como poderia repeli-lo? Imaginava cada curva de seu corpo. Imaginava-se beijando-o, tocando-o. Ansiava por ele. Passara tempo demais esforçando-se para não manifestar qualquer desejo e, sinceramente, não poderia aguentar mais. Não ali. Não naquele momento. Não com Renji...
Depois...
No outro dia pensaria no que fazer e mediria as consequências daquela bebedeira. Naquele momento iria simplesmente “deixar rolar”. Pelo menos por uma noite, abriria as portas de sua muralha para Renji.
— Kuchiki-san... – Chamou num fio de voz, já preocupado com o silêncio alheio. Para não protestar, ele devia estar com muita raiva.
Parabéns, Renji, você se apressou e fodeu a porra toda, pra variar. O que faria agora? Perguntava-se o ruivo, já temendo que o houvesse perdido graças à sua impaciência.
— Chega. – Soltou o dono das mechas escuras num suspiro demorado, cerrando suavemente os olhos e deixando a fala cair sobre o outro.
Um tanto confuso, o tatuado considerou levantar-se, imaginando ter extrapolado algum limite. Não obstante, parou ao sentir o indicador do outro encostando de leve em sua boca, traçando-lhe o desenho dos lábios em uma exploração curiosa.
— Faça como quiser. – Disse baixinho, envolvendo-o com os braços e escondendo o rosto na curva de seu pescoço – Conversaremos depois, quando todos os efeitos do álcool passarem e eu não tiver seu pênis roçando em mim. Sinceramente, Renji – Finalizou em tom de deboche – Só isso já lhe deixou tão excitado?
O subordinado abaixou o olhar para a semi-ereção, evidente sob o tecido da calça social, corando com o comentário. Mas que golpe baixo... Constatava, sorrindo largo para, em seguida, distribuir-lhe selos rápidos pela lateral do rosto, traçando com os lábios o caminho dali até a base do pescoço enquanto dizia contra sua pele:
— Entendo que estranhe... Acho que o seu não sobe há muito tempo, né? – Devolvia a provocação, passeando as mãos pelas costas alheias. – Vou te lembrar de como é. – Adicionou, sugando-lhe a base do pescoço com vontade, deixando ali uma marca avermelhada.
O ato foi recompensado por um pesado suspiro do moreno, que lhe segurou o rosto de modo a poder capturar-lhe os lábios, afoito. As línguas dançavam sincronizadas, cada um saboreando com mais avidez a carne do parceiro. Byakuya impôs o ritmo puxando-o pela cintura e garantindo que não houvesse distância entra eles.
O tatuado correspondeu como o outro exigia, movendo-se contra seu corpo e sentindo-se ferver, dominado pelo desejo imensurável de unir-se a ele. O perfume de sakuras parecia agora mais forte do que nunca e aquele cheiro inebriante o dominava, o enlouquecia... Ajudou o mais velho a retirar-lhe a parte de cima da roupa, expondo a pele coberta pelas tatuagens que desciam sabe-se lá até onde. Os olhos acinzentados o observavam, desejosos, e antes que se desse conta, os dois ofegavam, deitados sobre o esplendoroso sofá, já completamente nus.
O Abarai observava a pele suada em contato com a sua, a excitação de ambos crescendo a cada beijo, a cada novo toque. Desceu a mão até o membro do outro, iniciando uma masturbação lenta que o fez soltar um gemido alto e rouco.
Entretanto, ouvir sua própria voz ecoando lembrou ao Kuchiki de que estavam no sofá da sala, de onde poderiam ser ouvidos por toda a casa e, além de tudo, em frente a uma grande porta de vidro que dava acesso aos jardins laterais e para a casa onde os empregados ficavam. No que ele estava pensando? E se algum subordinado aparecesse? E se Rukia os ouvisse?
Quebrou um beijo e segurou a mão do outro, fazendo com que cessasse os toques para então começar a falar, com certa dificuldade:
— Aqui... Podem nos ver... – Respirou fundo, tentando não gaguejar – Meu quarto fica nessa porta à sua esquerda.
O mais novo olhou em volta, dando-se conta do que ele falava. Realmente, seria um problema se fizessem muito barulho ali... Imaginou as cenas vexatórias que poderiam vir a ocorrer e afastou-se um pouco, selando-lhe os lábios novamente antes de levantar-se para pegar as roupas jogadas sobre o sofá. O moreno fez o mesmo, movendo-se apressado e tentando não refletir sobre o que estava acontecendo. Acabaria desistindo caso raciocinasse por algum instante.
Adivinhando a situação, o dono das mechas vermelhas o puxou pela cintura, sem querer correr o risco de que ele saísse do transe que a libido criara. Beijava-o nos lábios enquanto andavam apressados, deixando-se guiar pelo outro ao adentrar o cômodo de costas.
Lá dentro, foram recebidos por um ambiente confortável, de luzes quentes e tons de marrom e branco mesclados com sutileza. Sofás e cômodas bem distribuídos dividiam espaço com os armários embutidos e pesadas cortinas, deixando que a atenção fosse fixada na cama aconchegante ocupando o centro do aposento.
O funcionário esperava um futon, no entanto, até achou melhor assim. – Seria divertido tê-lo ali – Pensava enquanto o jogava sobre a cama, estancando por alguns instantes ao observar-lhe o corpo perfeito.
Analisando cada curva e retirando de algum ponto esquecido da mente as fantasias que até então não revelara sequer para si mesmo, fitava a pele clara, imaginando os pontos nos quais deixaria marcas e sorrindo em pura luxúria ao aproximar-se. Abaixou-se sobre ele, dispondo-lhe uma série de beijos sobre o abdômen bem-proporcionado, mordiscando-o e lambendo-o vez ou outra enquanto subia e descia por seu tronco.
O empresário jogou a cabeça para trás ao senti-lo aproximar-se de sua virilha. Respirou profundamente, apoiando-se nos cotovelos em seguida, a fim de visualizar melhor o ruivo que exalava sensualidade, levando as mãos ao seu membro e tocando-lhe devagar, inicialmente.
Ao senti-lo retesar, Renji foi dando ritmo aos movimentos, alterando a velocidade de acordo com as reações do parceiro. As mãos moviam-se rápidas, acariciando-lhe em toda a extensão e parando por fim na base do pênis, em uma massagem cuidadosa, preparando-o para o porvir. Aproximou, finalmente, o rosto, deslizando lentamente a língua por sua glande, em movimentos circulares que faziam o moreno estremecer. Selou-lhe suavemente, passando então a lamber-lhe a extensão do falo, provocando arrepios que o outro jamais sentira e faziam-no mover o quadril, ansiando por mais contato.
Um gemido rouco ecoou pelo quarto, entretanto, foi abafado quando Byakuya cerrou os dentes num esforço para manter o controle. Não importa o que acontecesse, não poderia perder a compostura diante do outro, agindo tal qual uma cadela no cio por qualquer coisa que aquele homem lhe fizesse! Tentava manter-se parado, pensando em meios de não sentir-se tão exposto, tão entregue ao funcionário. Todavia, as tentativas já risíveis cessaram ao sentir-se sendo abocanhado pelo ruivo, em uma felação bem mais intensa.
A boca habilidosa ia e vinha, arrancando-lhe suspiros enquanto o maior estimulava-lhe com as mãos onde não conseguia alcançar com os lábios. Sentindo a própria excitação aumentar com os gemidos tensos do outro, o Abarai passou a brincar, soltando-lhe o membro e abocanhando-lhe os testículos, um de cada vez, provocando-lhe com toques na parte interna das coxas ao voltar a sugar-lhe vigorosamente a ereção.
O dono da casa já não tinha mais qualquer chance de vencer aquela batalha contra seu desejo. Era um adversário implacável e muito mais forte do que a razão que tentava usar para combatê-lo. Aceitando com prazer a derrota, ergueu o tronco, prendendo firmemente os dedos nos cabelos longos do outro, olhando-o enquanto se movia. Onde ele aprendera a fazer coisas assim? Questionava-se, voltando a soltar o corpo sobre a cama, ensandecido.
Por fim, quando Renji já não era mais capaz de conter-se, desceu um pouco, movendo os lábios de modo a alcançar a entrada do outro, tocando-a com a língua. Contudo, sentiu-o tendo um espasmo imediatamente e por pouco desviou de um chute que vinha certeiro em sua direção.
— Hey! Que foi? – Gritou, surpreendendo-se com a reação alheia.
O Kuchiki resfolegava, afastando um pouco o corpo e fitando-o, ainda incrédulo.
— Não. – Começou, as sobrancelhas franzidas, enfatizando a negativa – Nem cogite essa hipótese. – Adicionava, fechando as pernas enquanto observava o tatuado subir na cama e sentar-se ao seu lado.
— Byakuya... – Tentou negociar, rindo internamente da reação alheia. Aquilo era bem típico dele. Transar com outro cara tudo bem, mas ficar por baixo pelo jeito era pedir demais. – Vai ser bom. Você... – Ainda tentou continuar, mas parou ao ver a expressão do outro tornando-se cada vez mais negativa.
— Não interessa. – Bradou o menor, respirando fundo.
— Tudo bem. Relaxa – Tranquilizou-o, aproximando-se novamente antes que os dois broxassem. Considerando a inexperiência do outro, a preparação talvez fosse complicada, entretanto, mesmo que não transasse como passivo há um bom tempo, o ruivo saía com homens desde os tempos de faculdade e nunca se importara com a posição. Sobretudo naquele momento, tudo o que queria era poder sentir-se completo unindo-se ao homem que amava, fosse como fosse. Queria tê-lo consigo, dentro de si, que seja. Só desejava dar e receber amor. Era tudo o que lhe importava.
Sentou-se sobre as pernas do outro, envolvendo-o com as próprias e beijando-o devagar, mas apaixonadamente. Passeava a mão pelos fios negros afastando-se em sequencia, para tomar-lhe a mão, lambendo devagar alguns dos dedos. Não sabia se isso sairia como planejava ou se Byakuya faria o que lhe pedisse, mas a ideia de ensinar ao outro esse tipo de preliminar, mostrando-lhe o passo-a-passo de algo tão novo, pareceu-lhe repentinamente tão excitante que o tatuado resolveu tentar.
O mais velho o olhava, mordendo o lábio inferior enquanto os movimentos sensuais eram executados com maestria pelo outro. O ruivo moveu-se, deitando-se a frente dele e abrindo um pouco as pernas enquanto guiava-lhe a mão até a entrada e pronunciava-se:
— Coloque um dedo – Pediu em tom baixo, como um professor que ensina uma lição – E vá movendo devagar. – Completou, aguardando a execução de seu pedido com o desejo expresso na face.
O moreno o encarava, perguntando-se o que diabos aquele homem tinha na cabeça para coloca-lo em uma situação tão embaraçosa. Normalmente jamais imaginaria algo desse tipo, mas normalmente não é sempre, e naquele momento, observando-o tão entregue, aguardando seu toque, tudo o que ele queria era dar prazer àquele homem. Queria fazê-lo seu, atingi-lo em seu intimo e mantê-lo consigo como o que tinha de mais precioso. Já não se importava com o que as vozes em sua cabeça gritassem sobre honra ou nome. Às favas a honra! Era seu momento de felicidade, um momento que pensara que nunca mais teria. A partir dali, desfrutaria dessas sensações de corpo e alma enquanto pudesse.
Vendo o outro fita-lo imóvel, o ruivo já se preparava para seguir sem a brincadeira, mas surpreendeu-se com o amante aproximando-se lentamente de si. O chefe levou as mãos ao membro do outro, fazendo-lhe uma carícia antes de movê-las e finalmente alcançar-lhe a entrada com o indicador. Insinuou-o, tocando-o suavemente e ouvindo a respiração pesada do ruivo. Por fim, foi introduzindo o primeiro dedo, devagar, como lhe fora indicado, separando-lhe mais as pernas com a outra mão. Ao notar que parecia acostumar-se com o toque, foi movendo-o cadenciadamente, arrancando suspiros do parceiro.
— O outro! – Exclamou ofegante, tomado por deliciosos arrepios ao ver o moreno executar-lhe prontamente o pedido.
Enquanto o tocava, Byakuya lambeu-lhe lentamente a coxa musculosa, fazendo-o segurar firme no lençol ao senti-lo empurrando os dedos dentro de si. O Abarai foi passando a lição, pedindo ao homem que movesse a mão dessa ou daquela forma e, sobretudo, excitando-se com o modo lascivo com que o patrão obedecia, sempre atento a cada movimento seu, gemendo a cada grito mais descontrolado que saía da boca do mais novo.
— Já chega... – Gemeu, puxando-o para si – Se saiu melhor do que a encomenda, Kuchiki-san – Continuou baixinho, exibindo um sorriso zombeteiro ao posicionar-se melhor na cama, com o outro entre suas pernas – Por acaso eu não sou seu primeiro?
O moreno franziu o cenho em um semblante de desaprovação. Isso lá era pergunta que se fizesse? É claro que ele nunca teria nada com outro homem! Pensou por um instante, mas voltou atrás ao observar o corpo nu à sua frente, o falo rijo encarando-o sem deixar-lhe fugir da realidade. Ora, as coisas talvez tivessem mudado para ele, entretanto, no fim das contas, o que haveria de tão ruim em deitar-se com alguém do mesmo sexo? Não podia pensar em nada além da reprovação social... É claro que sua imagem publica não era algo a se ignorar, mas ali, entre quatro paredes, não é como se pudessem julgá-lo.
Ávido, Byakuya deixou as brincadeiras e conjecturas de lado, tomando os lábios do outro com veemência enquanto experimentava-lhe com as mãos o tronco, as palmas conhecendo o calor inebriante da pele bronzeada, percorrendo os músculos definidos em absoluto contentamento. Buscou por um olhar de aprovação antes de posicionar-se, penetrando-lhe vagarosamente enquanto sentia arrepios apossarem-se do próprio corpo. Puxou o ar com esforço, sentindo-se preencher o amante e observando-lhe os olhos fortemente cerrados.
A mente foi entrando em suspensão enquanto ele começava a investir, ganhando confiança conforme ia sentindo o ritmo alheio. Renji moveu as pernas, facilitando-lhe o trabalho e fazendo com que o mais velho mordesse o lábio inferior em um grunhido abafado. Os dedos embrenharam-se nos fios ruivos, a mão movendo-se em uma carícia enquanto os gemidos de ambos preenchiam o cômodo.
Os olhos castanhos do tatuado estavam agora fixos no outro. Observava suas expressões de prazer, o modo como seus lábios moviam-se e deixavam escapar sons que nunca pensara realmente ouvir vindos do chefe.
E ele queria ainda mais.
O Abarai empurrou devagar o amante, deixando-o um pouco desnorteado ao fazê-lo retirar-se para que mudassem de posição, colocando-o sentado e envolvendo-lhe com os joelhos. Segurou-lhe o rosto com as duas mãos, apossando-se dos lábios macios, fazendo-os seus num beijo profundo e repleto de vontade. As mãos grandes foram descendo, uma em cada lado do tronco do moreno, deflorando o que encontravam pelo caminho, sentindo as formas delineadas em cada centímetro até que marcas vermelhas indicassem seu trajeto. Repleto por uma sofreguidão inédita, o Kuchiki mantinha lábios e olhos entreabertos; soltando ruidosamente o ar através dos dentes cerrados e espiando, deliciado, o ruivo sentar-se sobre ele, recebendo-o fundo dentro de si.
A partir dali, as coisas estavam no comando do ruivo, o que tornaria tudo bem mais frenético. Ele apoiava as mãos nos ombros alheios, descendo vorazmente, sem dar-lhe tempo para conjecturas. Puxava-o para si, cobrindo-lhe de carícias famintas, as línguas encontrando-se dentro ou fora das bocas o quanto conseguiam, acompanhando o ritmo vigoroso do mais novo, cavalgando em movimentos arrebatadores.
Extasiado pelo cheiro almiscarado do parceiro, misturado à fragrância salgada do suor e o odor de sexo reverberando em notas fortes, Byakuya atiçava-se ainda mais, sentindo a observação atenta sobre si enquanto jogava a cabeça para trás, mergulhando nas sensações estonteantes de cada estocada. Aproveitando-se da posição, o maior alcançou-lhe o pescoço, lambendo, mordendo, beijando e deixando ali grandes marcas que seriam difíceis de disfarçar.
Os corpos moviam-se com intensidade avassaladora e Renji foi ao delírio ao notar a incapacidade do outro para manter os modos suaves de sempre enquanto uniam-se plenamente. Ainda que tentasse barrar os gritos, eles forçavam passagem, denunciando-lhe o vertiginoso deleite.
O homem abraçou com força o subordinado, apertando os olhos enquanto soltava-lhe a língua, antes imperiosamente sugada. Involuntariamente, deixava escorrer um filete de saliva, junto ao gemido longo escapando-lhe do fundo da garganta. Afundou os dedos na pele alheia, arranhando-a enquanto o corpo todo entrava em ebulição, mergulhando-o em um êxtase indescritível.
Diante daquilo, o Abarai segurou-o firme, movendo-se mais rápido nas últimas estocadas. Aproveitava bem o calor do membro dentro de si, movendo-se a fim de maximizar a satisfação e soltando gemidos enlouquecidos enquanto lambia-lhe sofregamente o lóbulo da orelha e descia uma última vez.
Tombaram lado a lado, exaustos, suados e ainda incapazes de dominar a própria respiração. O ruivo passou os braços em volta do outro, trazendo-o para si, aconchegando-o enquanto absorvia-lhe o conhecido perfume. Mantiveram-se em silêncio, ambos tentando a custo controlar o corpo e a mente diante das circunstancias. Um pouco relutante, o mais velho correspondeu ao toque carinhoso, colocando uma das pernas entre as do outro e afagando-lhe suavemente os cabelos.
Renji sabia que não poderia amanhecer ali, ao lado dele, mas isso não importava. Independentemente das circunstâncias, imaginava de modo positivo o que viria depois. É claro que não esperava que o Kuchiki o apresentasse à família ou sequer ouvir dele um “eu te amo” tão cedo... Ainda assim, seria o homem mais feliz mundo se pudessem permanecer juntos, de alguma forma. E é claro que iriam. Sabia que aquilo não fora só o melhor sexo que já teve. Era bem mais que isso para ambos. Eles haviam dado um enorme primeiro passo, e dali não teria volta.
Ao menos, foi o que pensou antes de entregar-se ao curto sono do qual poderia desfrutar.
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