"Eu não preciso de nada mais pro Natal do que isto aqui: minha família." — disse o Grinch na TV.
Natasha tomou a fala do personagem e olhou em volta. May estava esparramada no sofá ao lado com uma garrafa térmica cheia de chocolate quente, bebendo como se fosse uma mamadeira. De relance, era possível ver Maria andando de um lado para o outro ajudando a mãe de May preparar a comida para ceia.
Romanoff tinha que admitir, ela nunca imaginou que sua vida chegaria ao estágio que está no momento. Estar deitada no sofá da casa da família May, assistindo filmes natalinos com uma asiática, enquanto Maria está temperando um peru de Natal na cozinha... esse é o tipo de vida que Natasha nunca imaginou que teria. Todos na KGB lhe disseram: "Amor é para crianças. Lembre-se: sua casa é onde foi criada, sua família é quem te aperfeiçoa e seu emprego é a missão. Sem laços, sem conexão, sem passado. Nunca se importe.", hoje Natasha tem um emprego que é sua casa e amigos que são sua família. Ela conhece seu passado e se importa em repara-lo. E melhor, ela tem um laço, uma conexão; ela tem Maria.
O que ela conquistou seria o suficiente para fazer a KGB e a Sala Vermelha reiniciar seu cérebro dezenas de vezes apenas para ter certeza que ela esqueceria. De repente um pensamento, que deveria ser algo apenas pertencente a sua reflexão, se tornou um medo, um pavor repentino que lhe atingiu em cheio. Como o gatilho de um rifle, uma memória bloqueada foi atingida pelo "tiro". Natasha escorregou do sofá, caindo no chão, quase batendo a cabeça na mesa de centro — e se não fosse pela agilidade de May em empurra-la rapidamente para o lado, a russa poderia ter se machucado feio. Além do tombo, Natasha gritou como se uma corrente elétrica atravessasse todo seu corpo e se concentrasse em seu cérebro. Pressionando as têmporas com força e fechando os olhos, Natasha continuou tentando espantar aquela memória dolorosa.
— MARIA! — Melinda gritou e correu para tentar ajudar Natasha.
— Fica longe dela! — Hill alertou e saltou pela cabeceira do sofá para chegar mais rápido. — Se ela te ferir irá se culpar por isso depois. Eu cuido disso.
— Oстановись, отпусти меня! Иожалуйста остановись!* — Natasha se debateu, chutando a mesa de centro e derrubando o vaso de flor no chão.
— <Natasha.> — Maria se ajoelhou ao lado da ruiva e segurou seus pulsos com força.
Natasha tentou se afastar, repelir o toque de Maria, mas ela apertou mais. Ao perceber que a ruiva iria usar as pernas para se defender, Maria se sentou sobre a cintura dela e lhe prendeu no chão. O problema era que se Natasha a empurrasse com muita força, ela bateria a costela na quina da mesa e isso não seria nenhum pouco agradável.
— <Natasha, abra os olhos.>
— <Me solta!>
— <Não posso, Nat.> — Natasha se debateu de novo tentando empurrar Maria, mas ela se apoiou como pode no sofá ao lado. — <Nat, é só uma memória ruim. Abre os olhos.>
— <Está doendo! Está me machucando!>
— <Não estou. Natasha, para de se debater.>
Lilian May apareceu atrás do sofá segurando a faca com a qual cortara a cebola. Ela olhou para a filha e depois para as duas convidadas no chão. Melinda não fazia ideia do que estava acontecendo, mas estava a ponto de ir buscar morfina ou um balde de pipoca.
— Lilian, leva essa faca para longe daqui. — Maria pediu. — Ela desbloqueou alguma coisa na mente dela e está presa lá dentro. Se ela me imobilizar, ver essa faca e fazer algo, não será porque ela quis, mas irá se responsabilizar por isso. Leva essa faca para longe.
— Ok. — a mulher obedeceu rapidamente.
— O que eu posso fazer? Trago um calmante? — perguntou May.
— Não! — Maria arregalou os olhos. — Vai deixar tudo pior. Só fica aí, eu posso precisar de apoio.
Maria tentava de tudo. Seu russo não era o suficiente, o que limitava ela a escolher as palavras certas para dizer. Esse atraso de comunicação estava irritando cada parte de seu corpo e ver Romanoff naquele estado estava lhe trazendo um sentimento de inutilidade. Nada parecia ser o suficiente. Natasha não a ouvia, não sentia ela. Sentia e ouvia apenas a maldita memória.
Uma vez, Natasha pediu que, caso algum dia ela desbloqueasse uma memória e ficasse instável, era para tranca-la em algum lugar ou dopa-la com uma dose muito alta de calmante. Se possível morfina, pois ela tinha resistência à muitas drogas. Maria não queria chegar a esse ponto. Ela sabia que quando Natasha acordasse, ela se veria como algo instável, um monstro sem controle, e isso era de longe a última coisa que Hill queria que Natasha pensasse sobre si mesma. Ela prometeu a Natasha que a protegeria, nem que fosse dela mesmo, e ela iria acordar Natasha nem que precisasse passar o dia tentando fazer aquilo.
— <NÃO! ME SOLTA!> — ela elevou o quadril tentando empurrar Maria.
— <Natasha, me ouve! Baby, para de se mover e me escuta: eles não têm mais você. Você não está em perigo mais, Nat, eu vou cuidar de você. Eu prometo, Nat. Abre os olhos, por favor.> — por mais desesperada que a voz de Maria soava, ela mantinha o tom calmo e cuidadoso.
Qualquer palavra mau dita poderia piorar tudo.
Natasha parou de se debater embaixo de Maria e tentou controlar a respiração.
— <Masha?> — Natasha abriu o olhos vermelhos e com lágrimas formando.
— <Isso.> — sorriu aliviada por ver que ela estava voltando a si. — <Fica calma, okay?>
Romanoff assentiu e passou as mãos no rosto para limpar o suor.
— Não fala russo mais. — pediu e cobriu o rosto com o dorso do braço.
— Por que? — franziu a testa.
— Sua voz fica rouca... é excitante e eu não acho que sentir isso pela sua chefe seja ético.
Pela primeira vez ao ouvir um flerte descarado de Natasha, não deixou Maria vermelha, mas sim aliviada. A morena gargalhou jogando a cabeça para trás e depois soltou um suspiro aliviada.
— Sua filha da mãe. — Hill negou com a cabeça e se levantou.
Ela ofereceu a mão para Natasha se levantar e a russa aceitou. Ao estar em pé, ela abraçou Maria como forma de agradecimento.
— Você está bem? — segurou o rosto da ruiva com ambas as mãos e observou cuidadosamente.
— Sim. — assentiu com a cabeça. — Machuquei alguém?
Olhou em volta apreensiva. May sorriu para ela e negou com a cabeça.
— Não. — Maria se afastou consideravelmente da russa.
— Eu poderia ter te machucado, você sabe disso. Deveria ter me apagado.
— Discutimos isso depois. Mas eu fiz o que fui treinada para fazer, eu não iria perder cinco meses do meu trabalho por uma memória. — disse séria, mas seu olhos demonstravam que ela estava ainda preocupada com Natasha e que os cinco meses de trabalho pouco lhe importava; o que importava era o bem estar de Natasha. — Sobe, toma um banho e relaxa. Vou fazer alguma coisa leve para você comer e um chá para te acalmar. Me espera lá.
— Sim, senhora. — bateu uma continência debochada. — Eu sei que te assustei.
Disse virando de costas e caminhando até a escada.
— Morreria de saudades da minha pessoa. Eu sou a luz da sua vida, Hill!
— Vai sonhando.
Natasha piscou e subiu correndo as escadas. Melinda limpou a garganta chamando a atenção da amiga, que se virou e colocou as mãos na cintura.
— O que aconteceu aqui?
— Um gatilho de memória.
— Tô ligada, mas sobre o que?
— Eu não tenho ideia. — deu de ombros.
— Ela estava gritando em russo e você é a única aqui que fala russo.
— Eu não falo russo, eu entendo e repito algumas coisas em russo. É bem diferente.
May olhou para Maria com tédio, fazendo a morena continuar:
— Eu não sei do que se trata, mas sei que é alguma coisa ruim. Por isso mandei ela subir e esfriar a cabeça. Pode ficar pior. Ela pode ficar violenta, nervosa e/ou desbloquear mais memórias e eu não quero isso. — se sentou no sofá e cobriu o rosto com as mãos.
— Está se culpando, não é?
— O que?
— Você quase não consegui trazer ela de volta sem a ajuda de alguma droga. Tenho certeza que pensou em apagar ela. Está se culpando por só pensar na possibilidade.
— Quando você ofereceu o calmamente, eu realmente pensei em usar, mesmo sabendo que poderia deixar ela pior quando acordasse... Eu nunca presenciei nenhum episódio como esse, no máximo pesadelos. Clint sabe o que fazer, não eu. Eu fui quase inútil.
— Hey, não pensa isso. Você trouxe a "Anastasia" de volta e ela está bem. Até flertou contigo. — Melinda acariciou o ombro de Maria.
— Ela flerta com todo mundo o tempo todo e só fez isso porque está assustada.
— E tenho certeza que você é a única que pode acalma-la agora. Prepara alguma coisa para ela, sobe e toma o tempo necessário para acalmar ela. Eu vou ajudar a mamãe.
— Você não cozinha, May. — olhou para a amiga com a sobrancelha arqueada.
— Se você pode se importar tanto por alguém assim, eu posso cozinhar.
— A gente sabe que não.
— Calada!
(...)
Maria abriu a porta cuidadosamente e entrou no quarto. Natasha estava sentada na cama secando os cabelos. Ao ver Maria segurando uma bandeja de comida, a ruiva sorriu e largou a toalha de lado.
— Ah! Eu estou morrendo de fome! — se arrastou para longe da cabeceira da cama e deu dois tapinhas com a mão para Maria se sentar atrás dela.
— Eu imaginei.
A morena deixou a bandeja no colo de Natasha e fez o que a ruiva lhe pediu. Logo em seguida sentiu o peso do corpo de Natasha contra seu corpo e fechou os olhos, apoiando a cabeça na cabeceira. Natasha admirou antes de comer a bandeja de comida que Maria lhe trouxera. Tudo posicionado com cuidado e escolhido com cuidado. Involuntariamente a russa sorriu ao imaginar Maria selecionando sua alimentação.
Na bandeja havia uma xícara de chá e um copo com chocolate quente e canela — algo que Natasha descobriu recentemente ser sua paixão de vida. Para comer, Maria pôs dois pedaços de bolo, musse de morango e uma torrada. Para Maria aquilo era comida demais para um lanche leve, mas ela sabia que o organismo da russa funcionava de maneira diferente.
— Você está bem, Nat? — Hill afastou o cabelo de Romanoff para o lado e depositou um beijo em sua nuca.
— Uhum. — resmungou com a boca cheia de bolo.
— Lilian está achando que May lhe disse algo que não deveria ter dito. É isso?
Natasha negou com a cabeça, apoiando-a no ombro de Maria logo em seguida.
— Você não precisa me contar, Nat, mas eu preciso saber se eu ou alguém aqui fez algo que agiu como um gatilho.
— Vocês não fizeram nada. — depositou um beijo na curva do pescoço de Maria e depois voltou a comer.
Hill deixou que ela comesse em silêncio. Apoiou seu queixo no ombro de Natasha e lhe abraçou ela cintura. Ela daria o espaço necessário para Romanoff, não iria pressionar, pois sabia como aquilo funcionava. Quando Nick insistia para ela dizer o motivo só trazia o pânico de volta e ela não estava afim de enfrentar aquilo de novo. Pelo menos não em um período de tempo tão curto.
A agente sentiu uma colher fria contra seus lábios e franziu a testa.
— Abre. — pediu Natasha.
Maria obedeceu prontamente e sentiu o sabor doce do musse de morango.
— Obrigada.
— Uhum.
Natasha voltou a comer em silêncio. Maria aprendeu que o silêncio de Natasha podia significar muitas coisas, uma delas era que, às vezes, seu silêncio indicava um pensamento o qual ela não podia perder. A mente de Natasha era um local complexo, que só ela tinha acesso e conhecimento, e quando ela se calava assim era preciso calma e paciência. Ela estava pensando, possivelmente, em um milhão de coisas ao mesmo tempo, e ofereceu comida para Maria apenas para mostrar que ainda estava ali.
Hill obedeceu ao pedido silencioso de Natasha por paciência e aguardou. De repente a russa afasta a bandeja para o lado e abraça Maria pelo pescoço.
— Está melhor?
— Quer saber o que aconteceu? — sua voz saiu mais baixa do que pretendera.
— Você está pronta para me contar?
— Não.
— Então eu não quero saber. — deu um beijo no topo da cabeça da ruiva.
— Tem certeza?
— Natasha, eu nunca vou te forçar a nada. Quando estiver pronta, nós falamos sobre isso.
Romanoff sorriu. Maria, na opinião dela, não existia. Ela lhe compreendia, não julgava e nem a forçava a nada — apenas a ler arquivos inúteis de casos antigos da SHIELD, mas esse era o trabalho dela, afinal.
Natasha a pegou de surpresa lhe dando um beijo apaixonado, tentando passar por meio dele a gratidão que sentia pela morena. Uma lagrima solitária escorreu pela bochecha de Natasha ao imaginar que um deslize dela poderia acabar com aquilo, porém a lagrima também indicava felicidade. Felicidade por finalmente estar tendo a chance de viver uma vida melhor e digna, por poder cuidar de alguém e ser cuidada, poder am... Ela se afastou bruscamente e Hill franziu a sobrancelha.
— O que foi?
— Eu... nada, só um pensamento.
— Você anda pensando demais, Romanoff. Quando flertava comigo dizia que iria tirar minha habilidade de pensar. Você realmente tirou, mas a pegou para você? — o deboche de Maria fez Natasha formar uma carranca.
— Eu só não lhe respondo à altura porque te respeito muito.
— Aram... acredito.
— Vai se-
Duas batidas na porta foram ouvidas. Ambas se viraram para a entrada e esperaram a mesma se abrir. Melinda colocou a cabeça para dentro do quarto e sorriu.
— Oi... Atrapalho?
— Sim. — disse Natasha, com um sorriso debochado no rosto.
— Não. — Maria desceu da cama e apanhou a bandeja. — Ela estava pronta para me xingar e você impediu que ela fosse demitida. Deveria agradece-la, Romanoff.
— Дочь матери!* — Natasha praticamente rosnou e Maria gargalhou.
— Amém. — sorriu para a russa, adorando ver sua expressão irritada. — Eu irei descer e terminar de preparar a comida para ceia de hoje à noite. Descansa. Quando estiver melhor, desça. Eu faço algo para você comer.
— Posso usar seu computador para ler algo?
— Na mochila, embaixo da cama. — Maria fechou a porta e desceu as escadas ao lado de Melinda May.
— Estou curiosa...
— Sobre?
— O que ela gritou em russo para você?
— Deus seja louvado. — disse sarcástica e desceu as escadas mais rápido.
— HAHAHA! Piadista agora, é? — revirou os olhos. — Eu te odeio.
— Você é minha fã número um, Melinda. Todos nós sabemos disso.
— Ridícula.
(...)
— Onde está a ruivinha? Eu tô com fome! — Melinda resmungou como uma criança e Maria mordeu o lábio para reprimir uma risada.
— Melinda. — Lilian repreendeu a filha, que com um revirar de olhos encheu sua taça de vinho.
— Vai chamar ela logo, Hill.
— Ela é sempre assim? — questiona Romanoff entrando na sala de jantar.
Ao ver Romanoff, May não só soube o porquê da demora, mas o motivo pelo qual Natasha tinha o título que tinha. Ela trajava um vestido preto com o comprimento um pouco acima dos joelhos e nos pés um par tênis, da mesma cor do vestido, de cano longo. Os cabelos ruivos amarrados de maneira bagunçada e a maquiagem sem extravagancia davam à ela um ar mais jovial e inofensivo. Qualquer um que a visse na rua agora lhe daria apenas como uma jovem curtindo o feriado natalino, mesmo que ela estivesse armada até os dentes.
Maria entendeu perfeitamente o que Natasha lhe prometera mais cedo. Ela podia não provocar com as palavras, porém ela sabia perfeitamente torturar o psicológico de alguém com sua imagem. Ela parecia um anjo, mas não um angelical. Anjos angelicais não andavam da forma que Natasha andava, não dão aquele minimo sorriso que Romanoff lhe dava que parecia ser apenas perceptível para ela, não possuiam aquele olha no rosto. Natasha podia ser um anjo, mas não era um o qual agradaria sua avó devota. A morena encheu o copo com vinho e bebeu em um único gole. Willian May franziu a testa para Maria e se assustou com a alta gargalhada de sua filha.
— Você está bem, Maria?
Hill ignorou a amiga e se levantou. Puxou a cadeira para ela ao seu lado e recebeu em agradecimento um sorriso de canto de lábio.
— Obrigada, senhora. — seu tom era doce e suave para os demais, porém não para os ouvidos de Maria. Aquele com certeza seria o som que a secretária do diabo lhe diria quando ela finalmente chegasse ao seu destino pós vida.
— Eu já mandei não me chamar assim. — Hill se sentou e serviu para si mais uma taça de vinho.
Romanoff olhou para Maria de cantou de olho a observando beber outra taça de vinho em um período de tempo tão curto. Ela estava adorando aquilo.
— Podemos comer ou vocês irão continuar a soltar faíscas? — a voz de May quebrou qualquer que fosse a coisa das duas, mas ambas se fingiram de esfinge egípcia e franziram a testa. — Duas idiotas.
— Feliz Natal, Melinda. — Maria debochou.
O jantar foi calmo e envolto em uma conversa agradável. Ocupada em satisfazer sua fome, Natasha pareceu esquecer de seu objetivo inicial ao trajar aquela roupa. Porém, quando Maria foi à cozinha buscar as sobremesas, Natasha se ofereceu para ajudar, com a desculpa que era o minimo que ela podia fazer para agradecer a hospitalidade da família May com ela.
— Não acho que deveria comer essa sobremesa de vinho, você já bebeu demais.
— Eu me pergunto o porquê.
— Se me dizer um nome eu juro que paro.
— Não.
— Ok. — deu de ombros, no entanto, não deixou apenas por aquilo.
Assim que Hill virou as costas para pegar os talheres, Romanoff mordeu o lóbulo da orelha esquerda de Maria, o que a fez ficar na ponta dos pés, como uma bailarina — algo que ela sequer recordava poder fazer. Mas ela sequer percebeu isso, pois o salto de surpresa de Maria a fez gargalhar alto pela reação da morena.
— Natasha!
A russa, ainda na ponta dos pés, depositou um beijo na bochecha de Maria para acalma-la, mas apenas a deixou mais nervosa e vermelha.
— Você é um demônio!
— Eu sei, Masha... e você adora isso. — a rouquidão na voz de Romanoff fez Maria desejar que toda a neve lá fora caísse sobre seu corpo nesse momento. — Podemos ir?
— Eu deveria lhe fazer essa pergunta. Não faz mais isso!
— Com medo de algo?
— Depende do seu ponto de vista.
Ela serviram os anfitriões da casa e depois de sentaram, servindo a si mesma. Antes que pudesse levar o doce a boca, seu celular vibrou em seu bolso. Romanoff arqueou a sobrancelha para Maria, mas pela cara que a morena fez ao ler a mensagem, ela sabia que não deveria se meter.
— Com licença. — pediu educadamente e se levantou.
Minutos depois ela retorna calada, como se nada tivesse acontecido. Natasha estava curiosa, porém só perguntaria depois, no entanto, May não queria saber de esperar. Melinda chutou Maria por debaixo da mesa, quando percebeu que a morena estava presa por tempo demais no próprio cérebro. Isso fez Hill bater o joelho no topo da mesa, balançando tudo o que havia em cima.
— Qual é o seu problema? — Maria largou a colher de sobremesa.
— Está pensando tanto que estou quase sendo capaz de ouvir.
— E?
— E que quando você pensa demais, significa que está escondendo algo. Desembucha.
— Melinda, estamos à mesa ainda. — a voz de Lilian pareceu a de uma mãe corrigindo uma adolescente travessa.
Natasha arqueou a sobrancelha e olhou para Maria. Hill acabou cedendo e soltou um longo suspiro.
— Meu pai está doente, quase nos últimos dias de vida. Megan, minha irmã, quer que eu vá vê-lo. Disse que eu não preciso perdoa-lo, nem nada do tipo, porém quer que eu vá até Chicago para me despedir.
Se fosse fisicamente possível os olhos de Willian May sairiam de sua órbita por conta da força com que ele os revirou.
— Ah, aquele bastardo! Mil perdões, Maria, mas ele já vai tarde! O que ele fez com sua mãe está longe de ser perdoado! E como se não bastasse ainda nega cuidados à própria filha. Que o diabo o carregue.
— Willian! — Lilian fitou o marido com um olhar repressivo.
— Não, ele está certo. Eu não devo nada ao meu pa-... Ed.
— Você vai? — Natasha pergunta.
— Onde?
— Ver o imbecil pelo qual você compartilha o DNA. Se você for, quero ir com você. Não vai passar por isso sozinha.
— Se ela matar ele, eu testemunho em defesa. — disse Melinda piscando para Natasha. A ruiva sorriu como agradecimento.
— Ninguém vai matar ninguém e eu estava pensando antes de você me chutar.
May revira os olhos e solta um grunhido de desgosto.
— Oh pelo amor! Não é questão para pensar e sim de lógica!
— Mas-
— Mas uma ova. Se você for, a russa ou eu vai com contigo. Sua decisão.
— Eu sou adulta!
— Tem certeza?
— Melinda. — Lilian olhou para a filha e depois para Maria. — Maria, você é uma mulher inteligente, sabe quando agir e quando não agir. Por isso chegou onde chegou. Sei que tomará a melhor decisão. Mas não vá fazer algo pelo qual não deseja apenas para satisfazer a vontade de sua irmã. Você não será errada por isso é muito menos cobrada, e caso seja, saiba que sua irmã não possui direito algum sobre você.
Após ouvir o conselho de Lilian e de terminar sua sobremesa, Maria subiu para o seu quarto, vestiu um casaco e botas e desceu. Natasha estava sentada no sofá jogando videogame (por incrível que pareça) com Melinda quando viu Maria caminhar até a porta.
— Onde você vai?
— Preciso respirar e pensar um pouco.
— Vou com você. — se levantou rapidamente e apanhou o casaco de May que estava atrás da porta.
— Não precisa, Nat.
— Tarde demais. May, salva meu jogo!
— Ok. Vejo vocês mais tarde.
A neve não estava tão expeça como no dia anterior, porém ela era contínua e não deu sequer uma pausa no tempo que ambas ficaram lá fora. Maria caminhou pelo jardim, que antes fora verde, e adentrou em uma floresta de mata dença, sendo sempre seguida em silêncio por Romanoff. A ruiva olha atentamente tudo a sua volta, desde a escura paisagem ao comportamento de Maria.
Natasha pareceu notar que Hill conhecia bem aquele bosque, pois, por mais que a houvesse falta de visibilidade, ela ainda sabia onde ir e pisar. Natasha seguiu todos os passos de Maria como se fossem seus, não queria se machucar e por mais problemas na cabeça da morena.
Após 10 minutos andando em pleno silêncio, Maria parou. Natasha fez o mesmo, no entanto, sem entender o porquê. Até que levantou o olhar e percebeu que se tratava de uma casa na árvore. A árvore ela a mais larga e alta de todas as árvores a sua volta, parecia ser a mais velha também (mesmo que aparentasse ser tão saudável quanto às outras). Em seus grossos e longos troncos havia uma pequena casinha de madeira e vidros, quase igual à casa dos May. Uma escada pregada no tronco da árvore as levaria para cima, mas Maria não fez menção de que iria subir. Ela parecia presa admirando a casa.
— Era da Melinda. Ela contou que o pai dela fez quando ela completou dez anos. Ele passou semanas procurando a maior árvore daqui para o cuidado da filha. — fez uma pausa e caminhou até a árvore. — Ela me trouxe aqui na nossa primeira missão juntas. Tivemos um belo problema e precisamos nos esconder por um tempo. Fiquei abrigada aqui com ela, até que Lilian veio limpar a casa e nos encontrou. A pobre mulher quase caiu lá de cima pelo susto.
— Foi quando você a conheceu?
— Sim.
— Ela é boa com você.
— Sim, ela é. — Maria começou a subir os degraus. — Vem.
Já dentro da casa, Maria acendeu as luzes e olhou em volta. Nada mudara desde sua última passagem ali. Hill gostava de ir àquela casa para pensar. O isolamento e o silêncio a ajudavam muito em dias que estava sobrecarregada.
Natasha andou de um lado para o outro reconhecendo o lugar. Não havia muita coisa. Havia dois colchões no chão, cobertores e um baú, o qual ela descobriu conter as coisas da pequena Melinda May.
Maria tirou as botas e se deitou no colchão. Natasha franziu a testa e lhe olhou confusa.
— Vamos dormir aqui?
— Por que não?
— Nada... Eu só... Você está bem?
— Eu vou ficar. — sorriu para Natasha e a chamou para se deitar ao seu lado. — Apaga a luz.
Romanoff assim fez antes de se deitar ao lado de Maria. O lugar não possuía aquecedor, então precisavam ficar próximas uma da outra para se esquentar, o que não foi um problema para nenhuma das duas. Natasha não queria dormir, na verdade, nunca estivera tão acordada na vida, então ocupou seu tempo desenho formas aleatórias no abdômen de Maria enquanto murmurava uma canção qualquer russa. Já Maria estava pensando no pedido de sua irmã. Ela sabia que não deveria ir, que Ed lhe fez mau e que não devia nada a ele, mas ela queria ir. Ela queria enfrenta-lo como nunca havia feito quando era mais jovem, queria olhar para ele sem medo e sem arrependimento por ter nascido e ganhado o ódio gratuito do pai, ela queria mostrar a ele que nunca precisou dele para chegar onde chegou. Ed não merecia nada de Maria, nem mesmo o ódio que ela sentia por ele e ela queria enterrar isso junto com ele em seu caixão. Natasha ouviu o coração de Maria bater mais forte por aquele pensamento e levantou a cabeça para olhar para a morena, mesmo que a claridade fosse tão pouca.
— Você vai ir, não é?
— Vai me julgar?
— Não. — deitou a cabeça no ombro de Maria. — Mas eu irei com você.
— Obrigada.
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