"Número desconhecido"
DÉCIMO SÉTIMO CAPÍTULO
Listening: I Did Something Bad - Taylor Swift
Consigo sentir o fogo na minha pele
Vermelho ardente nos meus lábios
Se um homem fala merda, então não devo nada a ele
Não me arrependo de nada, porque ele fez por merecer
Meu humor na manhã seguinte não era o melhor que eu já tive... Enquanto Andrew dirigia o carro, ele até tentava puxar assunto, mas eu não estava conseguindo concentrar minha atenção nele. A melhor coisa que me aconteceu até agora depois que acordei foi ter recebido uma carona... Mas nem sei se deveria dizer isso, afinal, com certeza não se pode chamar aquilo de noite de sono... Eu perdi as contas de quantas vezes me revirei na cama e quantas vezes fui ao banheiro para lavar o rosto.
Assim que chegamos à BHP, Andrew e eu descemos do carro e seguimos para o elevador após cumprimentar o atendente. Eu sinto os olhos azuis dele me encarando durante toda a subida, bastante curioso para saber o motivo do meu péssimo humor. Se ele me perguntasse se eu levantei com o pé esquerdo eu juro que daria um tapa na cara dele.
- Que horas é a entrevista de emprego? – Pergunto após o elevador parar e abrir as portas. Eu olho para Andrew enquanto saímos da cabine, esperando por sua resposta.
- Eles já estão aqui. – O mesmo faz um movimento com a cabeça, indicando para onde eu deveria olhar e vejo que nas cadeiras de espera do corredor, estavam cinco pessoas sentadas. Todos eram jovens e isso me deu flashback de quando eu estava no lugar deles... Que para mim, parece que foi ano passado.
Forço um sorriso para todos eles enquanto passo, que retribuem. Não falo mais nada com Andrew e então entro na minha sala. Levo um susto ao ver um buquê de flores na minha mesa. Não só isso, mas assim como toda a decoração... Quadros com pinturas da natureza enfeitavam as paredes, tinha um sofá cor de creme e aparentemente muito confortável próximo da porta de entrada, um pouco mais ao canto havia uma mesa média, redonda e de vidro com duas poltronas nela. Isso era o básico. Tinha muitas outras coisas na sala, pequenos detalhes decorativos que eu percebi que duraria muito tempo para eu conseguir absorver. Se essa é mesmo a minha sala... Quem pôs tudo isso aqui?!
Eu vou até o buquê de flores com rosas brancas e pego um bilhete enfiado entre elas. Eu abro, e leio "Boa sorte no seu novo emprego". Eu reconhecia aquela letra. Viro o cartão e não me surpreendo ao ver "Com amor, seu pai".
Fico parada ali no meio da sala por mais alguns minutos... Pensando em como eu era uma pessoa terrível. Havia esquecido o meu pai pelo puro rancor daquela briga boba que tivemos. Eu suspiro, pensando que ir à casa dele hoje seria a primeira coisa que eu faria depois de sair do trabalho. Também não vejo Josh há um bom tempo... Ou Simon.
Solto um suspiro bem alto, colocando as mãos no rosto enquanto tento me nortear: Preciso me sentar, pegar as perguntas que eu preparei para os candidatos, me acalmar e começar as entrevistas.
Eu faço o que planejei, e assim que arrumo meu cabelo, caso estivesse bagunçado, ligo para a sala número 1, para que assim Andrew viesse para cá e começássemos.
Em 10 minutos, com meu superior já na minha sala, vou chamar quem chegou primeiro para entrar. Era um rapaz de aproximadamente 24 anos, com uma roupa social e óculos.
Assim que me sento na cadeira, eu e Andrew começamos a fazer as perguntas. As minhas eram um pouco diferente das de Drew - esse era o apelido dele na Universidade - mas eu apenas sigo com elas.
Assim que aquele rapaz vai embora, eu já estava decidida que não era a pessoa por quem eu procurava. Apenas com uma troca de olhares, Andrew e eu concordamos que era melhor descartar de uma vez o currículo dele.
Em seguida uma mulher entra, aparentemente de 30 anos, com um vestido extremamente apertado, que eu acho que consegui ver sua calcinha. Ela era bonita... Por isso mesmo Andrew arranhou a garganta e se esticou sobre a mesa sem necessidade alguma. Eu reviro meus olhos.
Nós conversamos, fazemos as perguntas... Ou seria melhor dizer eu fiz as perguntas, já que o maldito Andrew estava paquerando a moça. Ela também não tinha o que eu precisava... Além de que eu estaria a livrando de Drew. Assim que ela sai da sala, eu coloco o currículo dela junto com o do rapaz e Andrew reclama, mas eu apenas dou meu olhar mais sério a ele, fazendo-o se calar.
O próximo que entra é um rapaz chamado Arthur, gentil e inteligente. Eu fico satisfeita com as respostas dele para minhas perguntas, além de que seu currículo foi o melhor até agora.
Após ele sair, uma garota muito nova entra, parecia realmente ter 16. Andrew sussurra um "Quê?" no meu ouvido e eu abro um sorriso. Ela estava assustadoramente nervosa. Não respondeu nenhuma pergunta de Andrew, até porque ele não estava colaborando ao jogar o charme dele. Ofereço um copo com água, mas a mesma recusa e diz que precisava ir... Eu concordo com a cabeça e a deixo levar o currículo, já que insistiu em pegar de volta.
Eu suspiro, e me levanto da cadeira depois dessa.
- Eu preciso de um café. Você quer? – Pergunto, indo até a porta da sala. Andrew balança a cabeça, enquanto mexia nos currículos. Eu nem pergunto o que ele estava fazendo e saio.
A última pessoa a ser entrevistada era uma garota, que estava sentada numa das cadeiras e lia uma revista. Ela levanta a cabeça enquanto eu passo, e eu dou um sorriso gentil para a mesma. A garota retribui e continuo meus passos até a cozinha minúscula do andar.
Ao colocar o café na cafeteira, eu me lembro de como foi que aquela noite com Sebastian começou... Eu preparando um café. Suspiro, esperando ficar pronto enquanto fico me martirizando com o que aconteceu entre nós dois.
Alguns minutos mais tarde eu faço o caminho de volta e me irrito ao ver que a garota no corredor não estava mais lá. Provavelmente Andrew a havia chamado para entrar sem eu estar na sala.
Abro a porta bruscamente e o vejo sorrindo e com uma expressão de indecência. A menina sentada à sua frente me olha claramente sem saber o que fazer.
- Bom dia.
- Bom dia. – Ela sorri timidamente e eu encaro Andrew com uma cara feia.
- Como você se chama?
- Meu nome é Penelope Lewis.
Eu começo as perguntas sem muitas delongas. Desejava estar com um humor melhor para as pessoas não acharem que sou uma megera, mas ninguém estava colaborando.
Penelope responde prontamente, até parecia que havia ensaiado... Mas pela sua expressão ela estava certamente insegura, o que me tirou a desconfiança. Eu tomo um gole generoso do café e sigo com os questionamentos.
No fim, Penelope era muito boa. De fato eu estava em dúvida entre ela e Arthur. Eu analiso minuciosamente o currículo de ambos, e então aviso que ela poderia ir.
Assim que a mesma atravessa a porta, eu me viro para Andrew com uma cara nada boa.
- Você vai ficar assediando todo ser do sexo feminino que você encontrar? Controle-se, homem. Até parece que tem vício em sexo. – Eu bato na minha mesa ao terminar de falar e coloco os currículos que dispensei numa pasta que estava em uma gaveta.
- Elas eram muito bonitas para não serem elogiadas. – Queria jogar o café quente na cara dele.
- Adivinha só: Talvez elas só quisessem fazer uma entrevista de emprego em paz. Isso não é apropriado e nem é o ambiente para se fazer isso... Quem sabe em uma saída com o pessoal do emprego você possa paquerar elas, não é? E ainda não seria menos inapropriado, você é casado.
Andrew cruza os braços e faz um biquinho, olhando para um outro lugar que não era meu rosto.
Eu estava certa, mas ele não queria admitir. Tomo o resto do meu café e me levanto para pegar mais, afinal, eu não estou conseguindo lidar com tudo isso ainda por cima com sono.
Caminho para a cozinha de novo à passos ágeis e esquento o café na cafeteira.
Alguns minutos depois ele fica quente do jeito que gosto e pego o recipiente. Começo a derramar o café na xícara quando meu celular no bolso do meu vestido começa a tocar. Reviro meus olhos tentando imaginar quem merda seria...
"Número desconhecido"
Franzo o cenho e então atendo.
- Alô?
- Srta. Whittman? Brooklyn Whittman? -- A voz era desconhecida. Se fosse ligação comercial eu iria enfiar o celular no café quente.
- Sou eu sim.
- Aqui é da Escola Fundamental de Madison... Essa é uma chamada de emergência. Seu filho, Phelipe Whittman Bloom foi mandando para o local designado no plano de saúde dele. Hospital Infantil de Seattle. O Sr. Bloom já foi informado.
Não consigo responder à mulher no celular. Eu sequer clico em finalizar a chamada. Ponho meu celular no bolso e vou correndo até a sala de Andrew. Ele fica sem entender simplesmente nada quando pego a chave do carro dele.
Passo rapidamente na minha sala e cato a minha bolsa. Saio da Black Heron Press em menos de 5 minutos... E levei menos tempo do que o normal para chegar ao Hospital.
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