Em novembro de 1982, quando Thriller – o aclamado álbum de Michael Jackson – foi lançado, Sano Manjiro e Ryuguji Ken tinham quinze anos. O álbum foi bem recebido e se tornou um sucesso gigantesco. Michael chegou ao topo das paradas musicais e suas músicas tocavam nas rádios de todo o mundo. Todos se apaixonaram profundamente por Jackson, por sua personalidade, por seu talento, ele era o momento, o protagonista do mundo, uma lenda.
Mesmo depois de quase três anos de lançamento, em 1985, Thriller permanecia no topo, ainda tocando na maioria das rádios, nas televisões e, consequentemente, na cabeça de Sano Manjiro. Ken poderia considerar seu melhor amigo como o maior fã de Michael Jackson do mundo inteiro porque Manjiro, além de decorar seu quarto com pôsteres, começou a se chamar de "Mikey" – uma abreviação de "Michael" – em homenagem ao seu ídolo, obviamente, Michael Jackson. Mais do que criar um apelido para si mesmo, as pessoas da vizinhança começaram, de fato, a chamá-lo de Mikey para qualquer coisa e as únicas duas pessoas que ainda usavam o nome verdadeiro dele eram seu avô e seu irmão mais velho, Shinichiro. Até mesmo Ken – melhor amigo de Manjiro – começou a chamá-lo por seu novo nome estrangeiro.
Ken também adorava as músicas de Michael, particularmente "Rock With You". Na verdade, Ken gostava e conhecia Michael antes de Thriller ser lançado. Sua costumava colocá-lo na frente da televisão para assistir as apresentações dos The Jackson 5 e, mesmo depois de anos, ele ainda escutava as músicas da época. Ele também era viciado em quase todas as canções de Thriller e as ouvia praticamente todos os dias porque ele saía com Mikey, literalmente, todos os dias. Se o Sano ficasse um mísero minuto sem escutar uma das músicas da discografia de Jackson, era um sinal que o apocalipse estava perto de acontecer porque Mikey não existia sem Michael, ou seja, isso era quase impossível de acontecer.
E Ken nunca gostou de criticar o gosto musical dos outros; gosto por filmes ou qualquer outra coisa que criasse um conflito de opinião, – claro que ele não é tão fã de Michael quanto Mikey – porém, algo estava lhe tirando do sério.
Ele não sentia raiva. A coisa certa a se dizer era que aquilo estava deixando-o muito envergonhado e com uma imensa vontade de se jogar em um buraco e nunca mais sair de lá. O motivo disso era que Ken não era nada bom em lidar com seus sentimentos mais profundos e, especialmente, em lidar com a pessoa que o afetava tanto.
Toda vez que ele e seu melhor amigo saíam juntos, Mikey costumava cantar "Baby, you gotta be mine" diretamente para ele, fazendo o rosto de Ken queimar como o inferno até mesmo em dias de neve ou dias de muita chuva porque Mikey não tinha uma hora certa, ou "apropriada", para flertar descaradamente com Ken usando a música favorita deles do álbum. Ele fazia isso a qualquer hora do dia e, inicialmente, Ken foi tão inocente que nem percebeu o que seu amigo estava fazendo quando o encarou profundamente e cantou: "Darlin', let me hold you!".
Agora, ambos pareciam estar recriando o videoclipe de Thriller no meio da rua porque, enquanto os dois caminhavam de volta para casa depois de uma noite no cinema de Tóquio, Mikey começou a cantar "Baby Be Mine" para Ken, como sempre fazia, e ignorou os olhares indiscretos e curiosos que alguns cidadãos lançavam para eles.
— I don't need no dreams when I'm by your side! Every moment takes me to paradise! — Ken diminuiu seus próprios passos e, instintivamente, colocou uma mecha solta de seu longo cabelo escuro atrás de sua orelha direita, sentindo suas bochechas esquentarem. Ao lado dele, Mikey saltava como se estivesse em um musical da Broadway. Seu cabelo preto e curto estava um pouco bagunçado devido ao vento e os movimentos que ele fazia, mas isso o deixava ainda mais atraente na humilde opinião de Ken. — Darlin', let me hold you, warm you in my arms and melt your fears away. Show you all the magic that a perfect love can make! I need you night and day, so baby, be mine! Baby you gotta be mine! — ele riu levemente ao escutar Mikey tentando imitar os famosos grunhidos de Jackson. — And boy I'll give you all I got to give! — A mudança de pronomes no refrão da música deixou Ken mais envergonhado do que antes. Felizmente, era noite porque senão ele não conseguiria esconder o rubor em seu rosto. Não era a primeira vez que Mikey trocava "girl" por "boy", mas Ken tinha plena certeza de que nunca se acostumaria com aquela frase vindo da boca de seu melhor amigo, em alto e bom som. — Baby, be my boy! And we can share this ecstasy as long as we believe in love!
Ken respirou fundo, tentando controlar as mil emoções em seu corpo e, mais precisamente, as borboletas em seu estômago causando formigamentos e arrepios em sua pele. A voz de Mikey era realmente muito bonita e agradável de ouvir, Ken gostava de admirá-la, mas o que o deixava incrivelmente nervoso era que Mikey estava sempre cantando para ele, ninguém mais. O Sano não era do tipo de cantar na frente de ninguém além de Ken e, de alguma forma, tal detalhe fez seu coração acelerar e um sentimento de orgulho e alegria o preencheu pois ele sabia que esses momentos seriam eternamente deles dois, sem outra pessoa envolvida.
— You're everything this world could be! The reason that I live! So, baby... — o Ryuguji foi forçado a parar de andar enquanto Mikey se posicionava na frente dele, enrolando seus braços em torno da cintura larga do mais alto e com um sorriso amoroso em seu rostinho fofo. Daquele momento em diante, Ken esqueceu-se do resto do mundo e de qualquer outro ser humano que estivesse na rua vendo os dois se abraçando publicamente porque a expressão carinhosa que Mikey lhe deu o fez perceber o que era tão óbvio desde que se conheceram: ele sempre pertenceu a Mikey. — Por favor, Kenchin, seja meu!
— Idiota! — o Ryuguji sorriu, acariciando levemente as bochechas do menor. — Eu já sou seu!
Ele não sabia dizer quando ou como aconteceu, mas tinha certeza de que estava loucamente apaixonado por seu melhor amigo muito antes de Baby Be Mine ser lançada.
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