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História Bad Boy . JJK - Fünf ; Tatuagem de dragão - História escrita por tigerlilynoona - Spirit Fanfics e Histórias
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História Bad Boy . JJK - Fünf ; Tatuagem de dragão


Escrita por: tigerlilynoona

Capítulo 5 - Fünf ; Tatuagem de dragão


Fanfic / Fanfiction Bad Boy . JJK - Fünf ; Tatuagem de dragão

[Somebody Else – The 1975.mp3]

Perspectiva de Moon Aeri.

 

Apodyopsis: (n.) o ato de despir alguém mentalmente.

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Contra a minha vontade o arrepiar da pele dele, que em relevo escuro traçava o dragão que serpenteava seu pescoço, ficou impresso na minha mente. Assim como todos os outros desenhos e rabiscos, antes desconhecidos ao meu olhar, agora fixos na lembrança do alcance na ponta dos dedos, junto com seu arfar que insistia em fazer seu peitoral subir e descer violentamente e me enfeitiçava com seus gemidos de prazer. A linha foi ultrapassada. Agora dividimos intimidades que até semanas atrás eu jurei nunca ter com ele.
E pensar que fui eu que comecei isso, me jogando em queda livre no abismo desse buraco sem fim. Suspiro fundo enquanto desenho dispersa, quase inconscientemente, no meu caderno de rascunhos e o som do lápis contra o papel grosso me distrai. Escamas de dragão.

Mal escuto quando Sora me chama atenção.

– Aeri... Aeri! – Ela deixa a faca em cima do balcão da minha mini cozinha, parando de cortar o tablete de chocolate e me encara. Sora adora se aventurar na cozinha e eu adoro ser sua cobaia.

– Oi, desculpa. Me distraí aqui tentando rabiscar algo que preste.

– Eu ainda tô tentando entender como “aconteceu”. Eu achei que você detestava o Jungkook.

– E detesto! Não esqueça. Nada mudou. – Respondo direta, mas Sora entorta a boca e arqueia uma sobrancelha antes de continuar com sua receita. – É só que... Não sei, ele estava com o rosto machucado quando ele veio aqui e eu achei que ele e o--- – Sou interrompida pela garota de cabelos caramelo.

– O que ele tava fazendo aqui pelos dormitórios? Vou falar sério, assim fica parecendo que tem algo rolando entre vocês. – Sora fala concentrada em despejar o conteúdo devidamente misturado dentro de um refratário.

Respiro fundo e fecho os olhos, jogando a cabeça para trás.

– Continuando, já te expliquei que ele apareceu aqui na rua e quando disse que queria conversar comigo, eu pedi pra que ele fosse breve. Ele queria falar do Tae e eu fiquei muito puta, mas quando percebi que ele tava com o rosto machucado e ainda sangrando, me bateu uma... Culpa? Achei que ele e Taehyung tivessem brigado por uma idiotice que eu inventei naquela festa. Aí parece que eu fui possuída, eu me aproximei e peguei a caixa de primeiros socorros e--- – Sou interrompida por Sora novamente.

– E de repente vocês estavam na sua cama. – Ela está tirando uma com a minha cara. Bufo e deixo os lápis que eu usava e o caderno em cima da bancada, me levantando.

– Vou para a biblioteca estudar.

– Aeeeeri-ah! – Sora gargalha com minha reação e me puxa pelo pulso, me posicionando na cadeira alta novamente. – Tá, dá pra gente ir pro ponto que interessa?! Como foi? Como ele... É? Ele é um gostoso que manda bem como parece ser? – Seu sorriso safado denunciava todo o teor de suas perguntas ditas e das que ainda estavam em sua mente e não consigo não rir da minha amiga descarada. Que ódio, quero manter minha faceta séria para ela entender que isso não muda nada.

– Talvez tenha sido bom. – Respondo com desinteresse.

– Fala sério, eu sou curiosa! Ele tem mais alguma tatuagem escondida em algum lugar comprometedor? Me impressiona você não ter recebido uma notificação de barulho da garota do dormitório 17, aquela chata. Você e o demônio lá... Devem ter quase quebrado a cama. – Ela diz levantando as sobrancelhas e lambendo o que sobrou da massa achocolatada que fez.

Sora-ie! – Tomo ar depois de gargalhar, nervosa, e respiro fundo. – O que ele tem de irritante tem de... – Solto a respiração.

Sora me olha ansiosa, seus olhos ficando mais arregalados a medida que os segundos passam, esperando minha resposta.

– TEM DE QUÊ?

– Três vezes. – Digo resoluta, arrumando os lápis e canetas que estavam espalhados.

– Três vezes?

– É.

– Três vezes o quê, Aeri?

– Sora. – A encaro.

Quando ela finalmente entende, quase engasga com o líquido em sua boca e baba tudo, deixando a massa marrom escorrer pelo seu queixo sem querer.

– Bem, três vezes pra mim, né. Foi onde chegamos dessa vez. – Digo e Sora recupera o fôlego, deixando a tigela na pia antes de fazer uma cena dramática colocando a mão em seu peito.

– Garota... Uau! Então não foi só uma rapidinha, aquele erro rápido e tico tico no fubá! Olha... É assim que eu gosto, homens empenhados! Inclusive, isso tá em falta, viu? Agora entendi porque tem garota fazendo fila pra ficar com o Jungkook. E pera, como assim dessa vez?

Reviro os olhos e meu humor se perde, dando lugar à uma irritação quando lembro que virei mais um nome riscado em sua lista de conquistas. 

– Não, não emociona. Pena que a boca dele não faz só o trabalho bem, também fala muito desaforo e presunção. Odeio isso. – Digo e Sora me fita com o cenho franzido adornado de um sorriso desacreditado e pude entender que ela queria dizer que eu estava exagerado. Antes eu estivesse.

– Ele curte falar sacanagem? – Ela pergunta agora ansiosa pela resposta, ignorando piamente minha fala.

E não consigo me segurar, volto a rir, recolhendo meu material em cima da bancada e antes de deixá-los em meu quarto, me viro para Sora e lhe dou um olhar confirmador, levantando as sobrancelhas, só para provocar e instigá-la.

– AH! EU SABIA! – Ela mira a janela, sonhadora, mordendo agora um macarrão cru. – Tão bonito e safado... Pena que é o coelho de Satã.

– É, nem se empolga com essa história porque eu não pretendo nem quero que isso role de novo. Digamos que eu que tenha levado as coisas para outro patamar e não estou disposta a isso de novo.

Aparentemente ele me faz perder a razão e eu não gosto dessa minha nova versão que se revelou sem controle dos meus instintos quando estou ao seu redor. O vinco retorna entre as sobrancelhas de Sora e ela abaixa seus ombros, como se uma interrogação pairasse agora em sua testa.

– Vocês começaram e parece que se dão bem na cama, qual o problema? É sexo.

– Minha dose do coelho de Satã já foi. – Rio, mas sem muito humor. – Não vale a pena.

Ela inclina a cabeça e olha para um canto aleatório como se pensasse que eu tenho um ponto, mas depois dá de ombros, indo observar a massa no forno.

– Ainda acho que vocês deviam fazer pelo menos mais uma vez, só para você ter certeza se ele é bom mesmo ou se ele só estava querendo te impressionar.

Meneio a cabeça rindo abertamente. E me impressionar?

– Sem essa.

 

Sora me segue até o quarto e bagunça a minha escrivaninha, procurando algo para mexer, curiosa e inquieta como sempre é, até pegar meu caderno de rascunhos largado ali em cima. Ela passa as folhas das páginas devagar e para no desenho que eu estava rabiscando na cozinha, seus olhos cor de café observam as escamas do dragão. Então ela me olha, um sorriso fechado surge um seu rosto delicado e ela deixa o caderno de lado.

– Eu só não fico com mais “inveja” de você com o coelho gostoso porque... Talvez eu também tenha me divertido noite passada.

– Quê?! – Me viro completamente para ela e me jogo na cama.

– Advinha. – Sora diz animada.

Jimin?!

Han?! Aeri? Não! – Logo suas bochechas coram em um tom violento de carmim e ela desvia o olhar, se jogando na cama também e rolando até ficar de bruços. – Hyunjin. 

Sorrio ao saber disso, porque ansiava para que os "contratempos" deles acabassem logo. Hyunjin é louco por ela e depois que o conheci e os vi juntos, torci para que os dois dessem certo. Os opostos que se atraem.

– Só ele para aguentar como você o odeia em um dia e no seguinte o ama.

Olha quem fala. – Entendo sua referência e a fuzilo com o olhar, mas ela só ri de forma que a faz parecer uma criancinha.

São situações completamente diferentes.

– Ele gosta do meu jeitinho. – Ela completa, com um sorrisinho travesso.

– Ele é muito bobo, isso sim. Vai ver ele que tem dedo podre.

EI! – Sora exclama jogando uma almofada na minha direção e que me acerta em cheio. – Ah! Eu já ia esquecendo! – Ela se levanta rápido na cama, sentando em suas pernas, mudando o rumo da conversa e ignorando o fato de ter acertado a minha cara. – Adivinha o que eu consegui para nós duas. 

– Para nós duas? O quê? – Finjo pensar por um segundo quando vejo sua animação e me sento também. – Já sei! Aquela garrafa de vinho rosé que você gosta.

– Melhor que isso.

– Melhor?! Gin? O cheesecake daquela loja que a gente sonha em comer? Não? – Levanto uma sobrancelha. – Hum... Estou ouvindo. – Ela ganha minha atenção.

– Podem rolar várias garrafas de vinho rosé e aqueles gins de gosto ruim que deixam a gente nas alturas. E, quer dizer, não fui eu que consegui, foi o Hyunjin, mas o que importa é... Temos nome na lista para irmos à Höllisch semana que vem! – Ela diz batendo palmas empolgada.

– Na... Na Höllisch?

– Uhum! Aquela boate aonde os playboys mauricinhos e famosos vão, lá em Daechi-dong. Ouvi dizer que não podemos nem tirar fotos e fazer vídeos lá nem publicar nada se aparecer algum famosinho. – Ela meneia a cabeça e entorta a boca quando termina a fala.

– Ah, So... Não sei não, hein...

– Ah vai, Aeri! Vamos, por favor! – Sora fala juntando as mãos em frente ao seu rosto. – Só pode entrar lá quem faz parte de algum clube seleto ou tem nome na lista. Sabe quando isso vai acontecer de novo?!

– Agora sei, é só pedir pro Hyunjin. – Rio de sua cara emburrada e ela cruza os braços bufando. – Eu tenho que ver se não vou ter nenhum trabalho ou projeto para entregar nessa semana... Inclusive, a senhorita devia pensar o mesmo! E vem cá, como ele conseguiu esses nomes na lista se esse lugar é tão seleto?

– Sei lá, foi pelo trabalho ou os pais dele, eu acho... Você sabe que eles são influentes... Ah, pelo amor, é só uma sexta-feira! – Sora se joga na minha cama de novo, olhando para o teto frustrada e exagerando em seus atos porque sabe bem como me convencer. 

– Eu nem tenho roupa para um lugar desses em Daechi-dong, Sora.

– Não tem problema, você estará linda de qualquer forma. E se isso for um empecilho, eu te empresto um vestido... Ah, qual é! – Então respiro fundo e penso que talvez ir em uma balada diferente das festas em repúblicas e happy hours universitários com bebida barata seria no mínimo interessante.

– Tá, tá bem... Pode falar pro Hyunjin que nós vamos... – Falo entediada.

– Sério?! – Ela se levanta bruscamente e eu concordo com a cabeça. – YES! – Ela comemora com os punhos fechados, tomada de pura animação e não consigo não rir.

 

O tempo passou quase rápido demais enquanto eu e Sora trocamos confidências e detalhes sobre a nossa noite inesperada e regada de suspiros lascivos. Mas uma irritação não deixa minha cabeça relaxar, me inquieta quando penso no que Sora sugeriu, afinal, seria só sexo. É... Seria fácil se eu não tivesse a ideia fixa de que nós não vamos fazer bem um para o outro nem se um envolvimento de verdade não estivesse em jogo. Não, não com ele.

Não vale a pena.

 

 

• ━────── ☾ ──────━ •

 

 

Nove dias depois.

Sexta-feira.

 

Chego no Cheonsa Coffee após minha última aula do dia de Semiótica e Cognição. Deixo minha mochila e a pasta de desenhos que trouxe na dispensa e Yeonjun destranca a porta atrás de mim.

– Aeri-noona! – Ele abre o melhor sorriso do dia e não me contenho em bagunçar seus fios azulados.

– Oi, Jun. Chegou agora também? Por que não me esperou lá na faculdade para gente vir junto?

Ele ruboriza imediatamente e ajusta os óculos no rosto, logo se ocupando em deixar a mochila dele ao lado da minha e também vestir seu avental.

– Ah, eu não sabia que a noona estava saindo de alguma aula... Mas eu te acompanho segunda. Eu iria gostar muito... Pode ser? – Yeonjun é mais novo que eu e também cursa Desenho Industrial. E o que eu posso dizer? Ele é um garoto que definitivamente se destaca e deve dar um bom trabalho com as garotas. 
Vejo pelas que vem ao café com certeza apenas para observá-lo cumprindo seus afazeres distraído, sem ao menos notar ou se importar com o sucesso que faz.

Concordo com a cabeça e sorrimos, prontos para irmos até o salão do café e começarmos nosso turno.

 

 

 

 

Estou limpando as mesas de frente para cafeteria e enxugo o suor que descia da minha testa com o pulso. O dia está quente e abafado, fazendo com que eu me sentisse sem ar; mal havia pisado aqui fora e já queria voltar para o estabelecimento e ficar debaixo do ar condicionado tomando um iced macchiato. As despesas aqui em Seul estão ficando cada vez mais caras e tenho pensado seriamente nos últimos dias em falar com a Sra. Oh para que me deixe cumprir horas extras ou pegar mais dias de trabalho, se possível. Vou ter que fazer malabarismo para que isso aconteça e ainda consiga cumprir todas as matérias da faculdade.
Merda. Sempre que reflito sobre isso me encontro em uma espiral ansiosa, preocupada com o que preciso resolver e sobre o desenrolar do futuro à frente.

Sou distraída dos meus pensamentos quando pela periférica percebo um vulto escuro do outro lado da rua do campus dentre o breu que aquele horário trazia e quase levo um susto... Jeon Jungkook.
Acompanhado de Jimin, outro garoto que não conheço e uma garota.

Fazia dias que eu não o via pela universidade e que não trocava uma palavra com o garoto desde a última vez que nos vimos no meu dormitório; inclusive conversei no grupo que temos em comum e com a maioria dos meninos ao longo da semana, mas não com ele. Estava o evitando praticamente.
Essa semana até fui ao C.A.¹ da faculdade de música encontrar Yoongi junto com Taehyung, e soube que Jungkook havia saído momentos antes, então acabamos não nos esbarrando e achei melhor assim. Involuntariamente, esfrego o pano na mesa um pouco mais devagar, como se assim eu pudesse o observar melhor, totalmente alheio à minha presença ao longe. Ele está usando suas típicas calças escuras, botas de combate e uma t-shirt larga preta que deixa à mostra suas tatuagens... De preto de cima a baixo em um calor dos infernos desse.

Em um ombro, a mochila pendia pelas suas costas enquanto o outro braço rodeava a garota alta e loira de franjinha, ambos conversando empolgados com Jimin e o outro menino, todos andando em direção ao prédio das faculdades de Engenharia. Solto um suspiro que eu nem sabia que segurava e me viro para a cafeteria antes que o grupo, e mais especificamente o garoto, me veja. Não, a última coisa que eu quero é que ele me veja. 
Não quero que ele me veja aqui. “E é bem melhor assim”, digo para mim mesma e acredito fielmente nisso. Até que escuto uma voz masculina que me tira do raciocínio e observação em anonimato.

Jeon! – Um garoto que passa em frente ao Cheonsa grita para Jungkook, atraindo o olhar dos quatro que passavam do outro lado da rua e acaba denunciando minha presença ali também.

Fala sério, maldição.

Paraliso onde estou por alguns segundos e quando penso em me retirar o mais rápido que posso de volta para a loja, escuto a voz de Jimin. Massa. Não posso mais fingir que não estou ali e então me viro para o outro lado da rua em que eles estavam.

– Ah, Aeri-ah! – Seu sorriso largo e os olhos em duas semi luas me encontram, acenando entusiasmado; e tão logo aceno de volta, sorrindo para o loiro, mas meu sorriso se desfaz quando meu olhar encontra com o de Jungkook, que me fita por alguns momentos, e uma curva parece arranhar seus lábios. Porém, prontamente segue seu caminho com a garota ao seu lado sem trocar mais olhares, apenas voltando a conversar com o desconhecido que agora havia cruzado a rua para acompanhá-los. Dou um último aceno para Jimin e recolho o material que estava usando.

Calor de merda.

Entro na cafeteria e depois jogo os itens de limpeza e o paninho em cima da bancada, me apoiando com as duas mãos e sinto o ar gelado atingir meu pescoço.
Passo uma das minhas palmas suadas por baixo do avental, no tecido da minha calça, e penso no jeans escuro que Jungkook estava usando; suas coxas delineadas de uma forma que se eu tivesse um papel e lápis agora, poderia desenhá-las com precisão, ainda mais depois da visão privilegiada delas despidas para mim, roçando no meu corpo.

Meneio a cabeça com o pensamento patético.

– Noona? O que foi? – Yeonjun me pergunta, se aproximando com três pedidos de clientes. – Tudo bem?

– Tudo sim, Jun. Minha pressão caiu por conta do calor, mas não se preocupe, vou levar esses pedidos para as mesas. – Digo rápido e sorrio para ele, querendo ocupar minha mente e pegando os pedidos da mão do garoto, que me olha ainda com a testa vincada por trás dos óculos de grau.

 

 

• ━────── ☾ ──────━ •

 

 

Höllisch.

 

A noite chega e Sora já está do lado de fora dos dormitórios me aguardando, atracada ao pescoço de Hyunjin, todos prontos para irmos ao tão famoso local exclusivo para a elite sul coreana e pessoas seletas. Me olho uma última vez no espelho e puxo a barra do mini vestido preto de marca que Sora me emprestou um pouco para baixo e checando depois a fina camada de batom e delineado que me atrevi a passar por conta da ocasião. Corro de volta para o quarto e pego um casaco de tweed oversized preto com fios brancos e prateados, que minha mãe havia me presenteado no natal passado, e é a peça mais próxima de "elegante" que eu poderia ter no armário do dormitório agora; e mesmo com o calor dessa época, essas boates costumam ser climatizadas então não quero arriscar. Confiro uma última vez os acessórios que uso, tanto os aneis, colar e brincos e suspiro.

 

Tranco minha porta e ouço um assobio vindo de Sora.

– Uau, Aeri... Você está incrível! Juro, esse vestido ficou melhor em você do que em mim, parece que acentuou todas as partes certas. – Ela diz fazendo um movimento curvilíneo com as mãos e volta a falar um pouco mais baixo para que só eu ouça. – Sortudo vai ser quem conseguir voltar pra casa com você hoje, hein! – Sora pisca um olho para mim e isso só me faz abaixar a barra do vestido de novo automaticamente.

– Sora, por favor... Que voltar com alguém o quê. – Rio constrangida e me curvo em direção ao garoto, o cumprimentando. – Olá, Hyunjin-ssi! – O garoto alto se curva igualmente e sorri, educado. – Até parece que vou querer voltar pra casa com algum almofadinha que eu conhecer nessa boate, você sabe bem o tipo que deve frequentar lá. Sem ofensas, Hyunjin.

– Tudo bem, tudo bem; não me ofendo, quase não vou lá mesmo. – O garoto gargalha e acena com a mão para que entremos em seu carro, que parecia quase uma nave com tecnologia de ponta. – Falando em “almofadinhas”... – Ele me olha quando diz isso e eu sorrio sem graça por ter insinuado isso. – Acho que o Hoseok-hyung vai estar lá.

– O Hobi? Sério?! – Me animo mais em saber que meu amigo poderá ser uma companhia a mais nesse rolê careta e coloco o cinto de segurança.

– Uhum, passei por ele no campus hoje mais cedo, e quando conversamos ele me disse que estava pensando em ir. Essa boate é bem perto daqui na real, podíamos até ter ido andando, mas preferi que fôssemos de carro, caso essa mocinha aceite o pedido de dormir na minha casa essa noite. – Hyunjin fala enquanto dirige, agora olhando Sora de esgueira e apertando sua coxa com a mão que estava mais perto dela. Pelo menos alguém vai se dar muito bem hoje, sorrio de lado.

 

 

 

 

Hyunjin tinha razão, em menos de 7 minutos chegamos na Höllisch e a fila do lado de fora estava gigantesca.

– Caramba, se eu soubesse que tinha essa fila teria dito para gente vir pelo menos uma hora mais cedo! – Sora diz saindo do carro e ajustando seu salto de sola vermelha, cujo par eu tenho certeza que até o fim da noite estará sendo levado por ela em mãos.

– Relaxa, pequena, essa fila é para quem vai tentar a sorte. Nós não vamos passar por ela. – Escuto Hyunjin dizer e ele pisca para a Kwon, enquanto eu apenas acompanho o casal até a porta preta aveludada e enorme.

Ele fala nossos nomes para um dos seguranças, que depois de conferir em uma lista no iPad que ele tinha em mãos, assente positivo e faz um aceno para que outro segurança abra a porta para nós.

 

C a r a m b a.

O lugar era definitivamente Höllisch, infernal. As luzes vermelhas eram as únicas que iluminavam o local, tirando as mais amareladas que se movimentavam perto do bar gigantesco, com vários bartenders mascarados vestidos de preto, mexendo as coqueteleiras no beat da música e quase me assustando quando rajadas de fumaça emergiram dos cantos das bancadas de mármore. Olho para cima e vejo mais dois andares diferentes, e pelo que Sora me explicou, cada andar tinha um tipo diferente de estilo de música tocando.
Paetês, solados vermelhos, brilhos, etiquetas com nomes de grandes maisons e perfumes com aromas fortes nos rodeiam e eu me sinto deslocada. Ajusto meu casaco no corpo, me aproximando dos meus amigos e olhando embasbacada para rostos de atores, atrizes, cantores e outras personalidades famosas dentre gargalhadas altas e o tilintar de taças... 

Mas nada que um drink servido por algum desses mascarados não resolva.

 

 

 

 

O ritmo da música me alucina e me movimento contra o corpo de alguém que não conheço, sentindo a bebida descer gelada pela minha garganta. Sorrio satisfeita. A parte boa dos drinks feitos com bebidas caras é que o gosto pungente de álcool é quase que imperceptível e rapidamente você se sente leve e flutuante. E era assim que eu me sentia, flutuando em meio à vermelhidão das luzes que piscavam em efeito strobe, intermitente.

Sora e Hyunjin já são uma bagunça única de beijos e mordidas, encostados em uma das pilastras, e ninguém se importa porque muitos outros estão fazendo o mesmo que eles. Me distancio do cara com quem estive dançando até agora pouco e me dirijo ao bar, me sentando em uma das cadeiras altas.

– Eu vou querer um... Moscow Mule, por favor.

– Hummmm... Boa escolha, é um dos meus favoritos. – Um dos bartenders mascarados fala, descontraído, e pisca para mim por trás da máscara, sem perder tempo em pegar os ingredientes e a caneca acobreada para começar a bebida. – Acho que você vai curtir o meu, se gosta do toque de gengibre um pouco mais acentuado! Pode me passar seu cartão de consumação, por favor? – Sorrio para ele e entrego meu cartão. Minutos depois ele ainda está preparando meu drink e me viro na cadeira, observando a pista novamente.

Rajadas de vermelho brincam diante dos meus olhos e a euforia deixa tudo em câmera lenta e vivaz, em cores saturadas que apareciam nos flashes da iluminação.

 

Então vejo vultos escuros pela segunda vez no dia.

Percebo uma movimentação ao fundo mais lúgubre, e saindo de uma porta reclusa e privativa, quatro homens altos cumprimentam o segurança ao se retirarem e ele se curva para eles de forma quase exagerada.

Não acredito.

Jung Hoseok, Kim Namjoon, Min Yoongi e Jeon Jungkook saem do local privado, sendo cumprimentados pelas pessoas ao redor e trajando vestimentas escuras extremamente elegantes. Eles pareciam até... Importantes.

– Aqui está seu drink. – O mascarado me avisa e sorrio desconcertada por estar encarando os garotos ao longe.

– Obrigada... – Tomo um gole generoso do drink e ajeito o decote do vestido nos meus ombros. De repente, sinto vontade de ir embora por já ter ficado aqui por horas o suficiente e já não estar tão sóbria assim.

Dou mais goles generosos do líquido ácido e percebo que eles se aproximam do bar também. Argh, que merda. Quero falar com os meninos, mas não quero falar com Jungkook.

Não queria nem vê-lo. O garoto mexe a cabeça, estalando o pescoço e percebo sua tatuagem de dragão se movimentar em sua pele dourada abaixo da luz rubra. Me pego absorta, imersa na visão das escamas, e não percebo que os olhos negros e perigosos já estão me olhando como duas frestas impassíveis.

Um pouco tarde para desejar que não nos víssemos quando já estamos presos na mira um do outro.

Hoseok está sentado ao lado dele, distraído, conversando com Yoongi e já não vejo mais Namjoon por perto. Ambos não me notam, entretidos. Ao contrário de Jungkook que bebe o shot dele em um gole, ainda me encarando sem vergonha alguma de ser descarado e sinto que ele me despe com os olhos. Me sinto nua sob seu olhar ferino. Ele me analisa, permeando seu foco pelo meu vestido colado, minhas pernas, meu quadril, meu colo e finalmente meu rosto.

Tomo mais um gole e não deixo por menos, porque faço o mesmo, inconsciente ou não. Eu sei de toda a pele quente escondida por baixo desse blazer de risca de giz e vestes pretas. Quem diria? Agora eu conheço cada centímetro. Lambo os lábios e o confiro de baixo a cima, sob a luz vermelha, que agora se torna extremamente excitante nesse escuro preenchido pela música que envolvia minha mente embriagada.

Até que a sou desligada do momento. 
A mesma garota de hoje cedo se aproxima; loira, alta e em vestido de paetês prateado. Ela passa a mão pelo peitoral de Jungkook e desce beijos pelo pescoço dele, tão logo voltando ao rosto do garoto e passando os dedos longos pelo machucado que ele tinha no alto da bochecha, já cicatrizando. O machucado que eu mesma cuidei há pouco mais de uma semana.
E o desgraçado não rompe a troca de olhares comigo. Simplesmente aperta a cintura da garota a puxando para mais perto dele quase a sentando em seu colo, tamanha proximidade, e mesmo assim, os olhos estão em mim.

Levanto uma sobrancelha para ele e solto um riso sarcástico, e sem demora giro minha cadeira, ficando de lado e encerrando nosso contato.

– Aceita mais um drink? – O mascarado me pergunta sorrindo. O sorriso dele é bonito.

– Aceito. Saquê, por favor. – Pisco para ele e o entrego meu cartão de consumação. Puta merda, eu tenho que parar com isso, aqui não é como nas festinhas baratas da faculdade.

Botas maneiras. – Escuto um sussurrar grave no meu ouvido, junto com o lufar de sua respiração em meu ombro e não preciso me virar pra saber quem é. Sei exatamente quem é o dono dessa voz provocativa e deveras irritante, mesmo quando sinto que ele se distancia para o lado oposto do meu.

– Obrigada. – Agradeço ao bartender, que pousa meu copo sob a bancada, e viro o shot. Quando desço da cadeira, arrumando a barra do meu vestido, vejo que Sora e Hyunjin ainda estão em seu mundinho privado e não quero interrompê-los, enquanto Jungkook estava do outro lado da pista e me avista novamente, mas logo é recobrado da presença da garota em sua frente quando ela o beija. 

Rio soprado da cena. Penso se devo ir até Hobi e Yoongi para me juntar à eles e cumprimentá-los finalmente ou se devo voltar a dançar, e só quando o garoto atrevido me encara perverso enquanto sela beijos no pescoço exposto da loira, minha ira inflama.

Abusado.

Cretino. 

Jungkook aparece e desaparece da minha visão, de acordo com o piscar intermitente das luzes vermelhas e ele está infernalmente bonito. Seu cabelo levemente molhado caía pelos olhos e exibia os piercings de suas orelhas.

Não perco tempo em me envolver novamente pelo ritmo sensual da música, fecho os olhos e me deixo levar. É inebriante, ainda mais com o álcool fluindo em minhas veias, quente e leviano, então o resto se torna mero coadjuvante do meu momento.
Finjo que sou só eu aqui e passo minhas mãos pelo meu quadril coberto e agarrado perfeitamente pelo vestido preto, logo puxando os fios de cabelo que teimavam em cair pelos meus olhos. E sinto dedos gelados deslizando pelo meu braço, convidando-me para mais um enlace, é o garoto que dançava comigo mais cedo.
Sorrio para ele e aproveito alguns passos em par antes de o declinar novamente para voltar ao meu ensejo solo, e me mexo um pouco mais na melodia até encontrar o olhar predador do playboy Jeon. A garota loira já não estava no meu campo de visão, mas percebo que ele inspira fundo antes de ser puxado por Yoongi, que parecia irritado com alguma coisa e tentava ganhar a atenção de Jungkook.

Foda-se.

 

 

 

 

Devo passar muito mais de cinquenta minutos dançando, agora junto com Sora, enquanto ríamos bobas e cantávamos juntas. Mas meus pés doem e uma de minhas botas favoritas já não aguentam mais me sustentar na pista depois de horas dançando e bebendo essa noite.

– Sora-ie... Eu vou voltar pra casa. – A puxo para perto de mim e digo em seu ouvido.

– Quer ir embora? Então vou chamar o Hyunjin, só um mi--- – A interrompo e aproximo de mim novamente.

Não, vocês querem ficar mais, aproveitem aqui e volte pra casa com ele, se quiser. – Arqueio as sobrancelhas para ela, rindo. – Sei que vocês pretendem ir para casa dele depois daqui, então não se preocupem comigo. Vou pegar um uber e chego rapidinho!

– Argh, Aeri... – Minha amiga pondera o que acabei de sugerir.  – Não, é tão pertinho daqui, a gente te leva. Vou cham---

– Amiga, justamente por isso eu vou chegar rápido! Os dorms são aqui do lado! Só aproveitem. Sério. Eu mesma só vou embora porque meus pés estão me matando! – E porque não quero mais sequer cruzar com o Jungkook, mas deixo essa parte de fora.

– Tá... Tá bem, mas pegue um uber mesmo, não vá andando a essa hora e me mande mensagem quando chegar, ok? Tô falando sério. Vou ficar esperando. – Sora fala segurando meus ombros e pelo seus olhos esbugalhados e preocupados, sei que ela está alta. Concordo com ela para não contrariá-la nessa situação e me despeço do casal, depois de me certificar de que Hyunjin não havia bebido realmente nada e estava apto para levá-los para casa.

Vasculho o local à procura dos meninos, para finalmente conseguir falar com eles antes de sair, mas não vejo nenhum pela área da pista agora ou nesse andar.
Quando chega a minha vez na fila do caixa para pagar minha consumação, quase caio para trás com o valor cobrado, pisco languidamente para os números na tela e entrego meu cartão com o coração na mão. Por que me empolguei com as bebidas gostosas e chiques desse lugar? 

– Senhorita Moon, aqui consta que sua conta já foi paga.

– Como assim? – Pergunto confusa e me apoio no balcão, me debruçando, querendo enxergar melhor o computador dela.

– Ela foi fechada e paga há quase uma hora atrás.

– Mas eu não fechei nem paguei nada, acho que tem algo errado, senhorita.

A garota do caixa, que se assemelha muito às modelos do Instagram, impecavelmente vestida e maquiada; dá de ombros, entediada.

– Está tudo correto. Pode entregar seu cartão ao segurança para ele registrar sua saída do local. Obrigada e volte sempre, sonnim.

Observo o cartão preto, com o nome da boate em vermelho metalizado, entre meus dedos e me pergunto o que aconteceu. Seja lá o que for, deve ter sido uma confusão e amanhã ligarei para o gerente do estabelecimento antes do horário de abertura para vir aqui resolver essa questão.

Quando cruzo as portas da boate, recoloco meu casaco percebendo que o vento mais gelado da madrugada fustiga o meu rosto. Olho para os lados antes de abrir o aplicativo no celular e espero que ele ache um carro para me levar para casa. Dois, cinco, sete, dez, doze minutos.
Mais de vinte minutos depois, nada de ter carros disponíveis e começo a me sentir insegura de estar aqui. Se demorou por volta de sete minutos de carro, provavelmente não há de demorar tanto para chegar em casa andando... É.

– Que se dane o uber, vou andando mesmo.

 

 

• ━────── ☾ ──────━ •

 

 

Estou andando em direção a rua em que viemos, tentando sempre estar permeando os setores residenciais e iluminados. Me agarro ao meu casaco e coloco meu celular no bolso de dentro do tweed, atenta aos movimentos ao meu redor.
Passo por um residencial famoso por morar pessoas importantes e as árvores do paisagismo do condomínio exalam agora um cheiro característico, que me fazem inspirar profundamente e sorrir. Eu amo Seul.
O segurança do lado de fora me cumprimenta com um aceno e retribuo, admirada agora com a estética do prédio envidraçado e monumental. Não faltam muitos semestres agora para acabar a faculdade e não poderei mais morar nos dorms... E isso quer dizer que preciso arrumar um emprego para continuar morando onde me sinto pertencente, senão terei que voltar para Ulsan certamente.

Que merda. Estou agora distraída enquanto passo por uma rua residencial menos iluminada, é uma subida e minhas pernas estão quase desistindo e parando por aqui mesmo para que eu tente um uber novamente. Mas estou quase perto do bairro universitário... Falta pouco. É, continuarei andando. Respiro fundo e passo os dedos pelo cabelo, começando a sentir calor mesmo no frio da madrugada, por estar andando há algum tempo.

Subidas, subidas, subidas.

Um passo após o outro.

Então sou aturdida ao escutar gemidos de dor e barulhos que ressoam surdos ao atingirem um alvo vindo de algum lugar próximo de onde eu estou. Um grito que foi interrompido faz meu coração pular e paraliso, me encostando no muro ao meu lado e tampo minha própria boca para que eu não denuncie minha presença. Cacete! Tenho certeza de que ouço socos agora. Vozes masculinas discutindo... Olho para os lados, mas não vejo onde essas pessoas estão, só o beco pelo qual eu precisava passar e fugir dessa situação de pavor.

– Você achou que ia escapar assim? Que otário. – Escuto, seguido de um barulho de chute em algum objeto. Merda, merda, merda.

– Vocês vão ver só quando o Han e Mingyu forem atrás de vocês. – Uma voz masculina diz esganiçada e zombeteira, e então um gargalhar endemoniado ressona seguido de uma fala cheia de fel.

– Você é burro?! Mingyu não quer estar com vocês, ele quer entrar para o Sieben. E são eles quem estão com medo, eles quem estão nos devendo e à muitos outros, seu merda. – Outro chute e agora ouço mais outras duas vozes rindo sem humor algum.

Meus olhos vasculham o lugar, ansiosa, preocupada, temorosa.

– É?! E vocês viraram o quê? Justiceiros?! Nós devíamos ter ganho, só pegamos o que tínhamos dir---

– O que ia dizer, hum? Direito? Direito?! Mande esse recado para o seu grupo: parem ou irão d e s a p a r e c e r. Acham que são quem, hum? Acabaram esses golpezinhos de iniciante, palhaço, e se voltarem a colocar algum de nós ou de outro grupo veterano em perigo na pista, a partir de agora a gente vai resolver do nosso jeito.

Eles parecem não ir embora nem estar perto disso. Minha mente só processa em como escapar sem ser vista, eu só preciso atravessar o beco para chegar ao meu dormitório sã e salva. Pondero se corro ou se já chamo a polícia, então tento tirar meu celular do bolso interno com as mãos trêmulas.

– Perdi a paciência. – Ouço outro garoto falar e logo uma sequência de socos e gemidos.

Espera, essas vozes...

Não. Meus olhos marejam involuntariamente e meu coração parece querer sair pela boca da pior forma possível.

Jungkook, chega. Vamos tirar esse otário daqui para que ele passe o aviso.

Não, não acredito. O que eles...?

Quando percebo a movimentação na direção em que estou, corro o máximo que posso e tento passar pela viela em direção à rua residencial adjacente, mais longe do meu dormitório, mas um pouco mais iluminada, então apenas corro o mais rápido que meus pés permitem.

O quê é isso?! – Ouço a voz de Namjoon e logo me deparo com ele, Yoongi e Jungkook, que estava com as mãos no colarinho de outro cara, de joelhos, que tinha o rosto muito machucado. Meus olhos permanecem arregalados e minha respiração já é entrecortada e gélida quando eles me veem. O que diabos está acontecendo?! Por um lado sinto alívio porque são eles, mas por outro, o medo de estar vendo ou interferindo em algo que não posso me atinge por inteira e em estado de alerta volto a correr. Sem saber mais o porquê, mas corro.

Merda! – Jeon se desvencilha do colarinho do outro, o jogando. – Cuidem desse imbecil, eu já volto!

– Porra... – Escuto Namjoon.

– Pera! Jungkook! Como assim? Volta aqui! – A voz de Yoongi diz ao longe.

Parece que não alcanço nunca a rua mais iluminada, não importa o quanto eu corra, a estrada parece não ter fim, como se eu não saísse do lugar. Por que eles estavam batendo naquele cara? Ele fez algo para eles? Eles fizeram algo para ele? Meus passos são estridentes e largos, desesperados. Eu quero fugir, mas quanto mais eu corro para longe, mais perto eu fico dos passos dele que estão logo atrás de mim. 

– Aeri!

Não, não quero te ver.

Minha respiração se torna fraca e consigo ouvir o fragor da falta de ar enquanto meus pés ainda correm cansados, tornando-se apenas dois borrões diante da minha visão embaçada pelas lágrimas que caíram involuntariamente pelo susto repentino. Só paro quando tropeço no paralelepípedo mal alocado no cimento e meus joelhos e mãos alcançam o chão.

Puta merda, o ardor.

– Aeri... – Jungkook me alcança e me puxa pelo braço, tentando me levantar do chão.

– Me solta!

– O que estava fazendo aqui?

– O que vocês estavam fazendo?!

– Você tá machucada? – Seus olhos não são mais ferinos, são amendoados e parecem preocupados, brilhando contra a pouca luz da rua.

Olho para minhas mãos raladas pelo cimento, sujas de poeira da cidade e sangue, assim como meus joelhos que foram ainda mais açoitados pelo impacto. Claro que doem e ardem, mas só quero ir para casa.

– Não, não me machuquei. Preciso ir pra casa agora.

– Por que não foi com Sora?! – Ele pergunta nervoso com a situação.

– Jungkook, me deixa! – Falo trêmula e ele dá um passo para trás, o rosto consternado, mas com uma mão ainda sustentando meu braço.

– Eu vou te acompanhar até o seu dormitório.

– Não, não vai, eu vou sozinha.

– É perigoso você ir sozinha a essa hora, Aeri!

– Será que é menos perigoso mesmo ir com você?!

Cuspo as palavras que passam pela minha cabeça. Ele, na escuridão, foi a única sensação de apuro que encontrei essa noite. Mesmo que não para mim. Mesmo sentindo alívio que eram eles quem estavam ali e não outras pessoas que poderiam sim ser uma ameaça para mim. Engulo seco quando vejo que ele apenas me encara com a testa vincada e solta meu braço lentamente, sua língua molhando os lábios antes de irem direto para a bochecha.
Ajusto meu casaco no corpo e me viro, vou embora dando passos largos e limpando as lágrimas que insistiam em molhar minha bochecha, sem sentido algum. Talvez ainda estivesse assustada.

 

 

Quando finalmente chego na rua das habitações da universidade solto um suspiro pesado de alívio e uso das minhas últimas forças para correr até o dorm 19. Passo a chave na porta e me jogo no meu sofá verde escuro com o coração ainda acelerado. Fecho os olhos e respiro fundo; uma, duas, três, quatro vezes, tentando acalmar minhas batidas e aproveito para retirar lentamente as minhas botas.
Merda, vou precisar da caixa de primeiros socorros de novo e band-aids.

Levanto do sofá, pisando com cuidado com meus pés exaustos e joelhos feridos, no momento em que ouço o ruído de uma moto do lado de fora. Me aproximo da minha janela, afasto a fina cortina, e avisto ele. Jungkook, em sua moto, com o visor do capacete levantado. Quando finalmente me vê, ele me encara por alguns segundos, nos fitando, até que ele abaixa o visor e vai embora.

 

 

• ━────── ☾ ──────━ •

 

 

Dia seguinte.

 

A outra parte boa de beber drinks feitos com bebidas caras é não ter ressaca no dia seguinte.
Saio do banho depois de limpar os machucados nas mãos e joelhos que fiz ontem e me encaro no espelho por mais tempo que o normal, quando flashbacks da noite passada perpassam minhas lembranças. Balanço a cabeça, pegando minhas roupas sujas e decido preparar um chá gelado de limão para acalentar minha tarde e meus pensamentos.

Certamente Sora ainda não voltou da casa de Hyunjin porque ainda não apareceu pelos dormitórios nem tocou minha campainha, como de costume. Confiro meu celular e tem algumas mensagens no grupo com os meninos e outras privadas de Taehyung, mas deixo para ver depois. Aproveito para ler o livro de Cultura e Sociedade que ainda não consegui terminar, então me sento na escrivaninha perto da janela e beberico do chá enquanto sublinho as partes importantes para o seminário.

Mal se passam trinta minutos e ouço batidas na minha porta. Sora chegou?

Mas eu devia ter desconfiado quando ouvi o barulho denunciante na rua.

 

Coelho.

Abro a porta e Jungkook está parado do lado de fora parecendo apenas uma visão em escamas de dragão e outros rabiscos. Seu cheiro mentolado e frutado me invade e me inebria de forma injusta e que eu não gostaria de permitir. Mal abro a boca, mas antes mesmo que eu consiga dizer algo, ele me estende seu braço tatuado.

– O quê é isso?

– Meu pedido de desculpas. – Ele diz direto e não tira os olhos dos meus.

Ergo uma sobrancelha questionadora, ainda sem entender.

– Por ter te assustado, te causando esses arranhões nos joelhos e nas suas mãos. Eu não queria que você visse aquilo...

Desço o olhar e vejo que ele segura uma sacola azul esverdeada luxuosa, já levemente amassada, e eu conheço essa marca. É cara. Caríssima.

Não pestanejo.

– Não posso aceitar.

– Por que? – A incredulidade se torna visível nas feições do garoto.

– Não quero seu dinheiro.

– Eu comprei para você!

– Eu sinto muito, Jungkook, mas meu perdão e meu silêncio não estão à venda. Eu não estou à venda. – Ele olha para o lado e solta uma risada, se aproximando mais da porta e de mim. Seus dentes sobressaltados e quase infantis estão visíveis no sorriso e faz meu estômago revirar. Me pergunto se realmente não estou com ressaca.

– Garota, isso aqui não é pra garantir que você não vá dizer nada. Não é essa a intenção. – Ele diz, mas simplesmente o ignoro.

– Beleza, eu aceito suas desculpas e nem vou contar nada para ninguém. Não quero ser testemunha das suas encrencas! Mas também não quero seu... Presente.

Ele me olha com a boca rosada levemente aberta, sem reação. Acho que foi assim que Jungkook aprendeu a interagir e remediar seus erros. Não comigo. Não com essa garota aqui.
Olho para a sacola novamente e só me dá mais vontade de enfiar a cabeça dentro dos livros para conseguir um dia comprar eu mesma, com meu dinheiro, seja lá o que tenha dentro dessa sacola.

Ele me tira dos meus pensamentos quando escuto sua voz novamente, mas agora quase como um sussurro entredentes.

– Eu comprei pra você, Aeri...

– Jungkook, dê para outra pessoa. Tenho certeza que você vai achar outro alguém para dar esse presente. – Consigo pensar em pelo menos uma lista de pessoas que fariam de tudo para recebê-lo dele. – Eu já te desculpei, ok? Só... Pare de se meter em confusão e vá.

Ele ainda me encarava, sem se mover e isso me deixa inquieta. Mudo o peso de um pé para o outro e volto a falar.

– Olha, não estou com raiva... Agora preciso voltar para o meu quarto e...

Estou com a mão na maçaneta, pronta para fechá-la e deixar o garoto, que parece que criou raízes na minha soleira, do outro lado. Mas em um movimento rápido, ele larga a sacola no chão da sala e me puxa pela nuca.

Eu não sei o que você tem, mas me deixa louco. – Ele praticamente rosna perto de mim, os olhos dançando entre os meus e o maxilar travado.

Nos encaramos com cenhos franzidos e orbes presas por uma magia indômita por meros segundos antes de eu o empurrar com força e fechar minha porta na sua cara. Ouço seus passos se afastando e logo depois o engatar de sua moto e me encosto na madeira da porta, fechando os olhos, tentando fazer minha respiração voltar ao normal.

“Garoto playboy idiota”, bato na minha porta com a mão esquerda e logo me arrependo quando sinto o arder dos arranhões de ontem.

 

Ah, só me faltava essa.
Vejo a sacola luxuosa no chão da sala, meio amassada.

– É a cara dele ter feito essa cena toda só para deixar isso aqui de propósito, idiota! – Falo comigo mesmo e me levanto, chutando a sacola pra longe, perto da parede oposta ao meu sofá. Se ele acha que eu vou ficar com isso, ele tá muito enganado porque devolverei tão logo para o dono. Não sei quem deixa o outro mais louco, mas estou disposta a tirar sua sanidade para colocá-lo em seu devido lugar.

 

Esse garoto cheio de mistérios.

 

 

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“I don't want your body

But I hate to think about you

with somebody else”

 

¹ C.A.: Sigla para Centro Acadêmico, cada faculdade possui uma entidade que representa os estudantes e todos tem uma sede onde os universitários se encontram e utilizam o espaço para relaxar e se divertir.

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Notas Finais


Boo!
Olha quem apareceu com atualização às 4h00 da manhã para vocês? Hahahahaha ♡

Vou aproveitar esse momento no fim do capítulo para salientar que, apesar da minha história não ser um "imagine" por assim dizer, eu não trarei nenhuma característica física da personagem principal, Moon Aeri. Apenas sua personalidade e estilo, então sintam-se livres para imaginá-la da forma que quiserem, inclusive, sendo vocês mesmas ⚡️

Beijo gostoso,

- Noona


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