[Better – Kahlid.mp3]
Perspectiva de Moon Aeri.
❝You say we're just friends, but I swear when nobody's around
you keep my hand around your neck,
we connect, are you feeling it now?❞
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A brisa noturna que se alastra pelo quarto me arrepia, me afaga e me desperta em uma rajada gélida que pinça a pele nua das minhas pernas. Estico o pescoço e tento me mexer languidamente, em uma espreguiçada que meu corpo parece necessitar devido aos músculos exaustos.
Mas o (a)braço dele me impede.
Jungkook resmunga, no momento que sente que remexo, perto o suficiente para que eu o ouça em meu ouvido. Um resmungo teimoso, que por pouco não me faz girar os olhos; caso estivesse de olhos abertos, mais consciente e menos adormecida. Solto o ar e tento apenas acompanhar o ritmo de sua respiração e voltar ao sonho que estava tendo.
Um sonho bom ao menos, uma pausa oportuna dos pesadelos.
Oportuna.
Inescusável.
Convenien...
Isso até os dedos dele pressionarem minha cintura, talvez inconscientemente.
Ótimo. Agora minhas pálpebras desatam e me sinto mais desadormecida que há segundos atrás, captando e talvez registrando em algum lugar distante da mente cada curva e aresta da cena demasiadamente próxima que meu quarto testemunha, tentando girar o rosto o mais devagar possível para não acordar o garoto resmungão ao meu lado. Como se ele tivesse tal direito.
Então o vejo.
Aqui está ele.
Dormindo profundamente com sua respiração pesada - e até roncos -, a boca rosada costumeiramente entreaberta, olhos antes ferinos agora cerrados e angelicais. Angelicais? Um termo deveras inadequado, mas me perdoarei pela ressalva por ser apenas enquanto dorme. O pulso latejando em seu pescoço dando vida ao dragão que mora ali e o braço cínico que me enjaula em seu abraço sonolento.
O calor do corpo dele me invade em uma sensação esquisita por ser reconfortante. E começo a ponderar se talvez seja essa a razão pela qual eu estava dormindo tão bem, enroscada em Jungkook e seu corpo estranhamente quente.
Cara, a futura namorada desse idiota vai ser uma desgraçada de sorte.
E vai ter um lugar reservado no céu também, porque puta merda.
Solto o ar, impaciente pelo meu próprio pensamento.
Faço mais uma tentativa de mexer-me e mudar de posição, mas dessa vez ele resmunga novamente e a mão que estava em minha cintura sobe, talvez até sem perceber, porque ele parece ainda estar em um sono profundo.
Ou talvez não tão profundo, porque o resmungo dele vem seguido de um “Moon” arrastado e o enrugar contrariado entre as sobrancelhas. Então lá está Jeon de novo, vagando sua mão por baixo do meu blusão - também conhecido como “a camisa que ele estava usando quando chegou” -, e a pousando em meu peito. Ele realmente gosta de dormir assim.
Ainda está escuro, mas consigo ver o rosto dele, graças às luzes e à lua que fazem seu papel de iluminar a rua e as frestas da janela. E mais uma vez, me pego refletindo sobre a situação. A situação em que eu e um dos meus (ex) amigos mais antigos de infância criamos essa interação de (ex) amigos que secretamente tem benefícios, agora na vida adulta.
Suspiro, ainda vendo seu rosto sereno, e parte da minha raiva realmente dissipa. Porque, pensando racionalmente, somos apenas duas pessoas livres.
E isso é a pura verdade.
– Para de me olhar e volta a dormir. – A voz dele, grossa e rouca, me faz saltar os olhos pelo flagra que eu não sabia que ele estava presenciando.
Pega no pulo.
Queria retrucar, dizer que não estava o observando e mandar ele se fod... Mas se eu emitir qualquer som agora e estimular ainda mais meu consciente, eu vou definitivamente perder o sono. Então escuto o barulho do edredom, ele se aproxima um pouco mais e roça os lábios nos meus, mas parece tão, ou até mais, sonolento quanto eu. Meus olhos saltam pelo súbito movimento.
– Princesa, não me ouviu?
E quando me dou conta, nossas línguas se tocam pela primeira vez nesta manhã e, mesmo que não tenha passado muito tempo desde a última vez (algumas horas, na verdade), parece que sim.
Se eu for sincera, nesse instante entre sono e euforia, diria que Jungkook é inebriante. Arruinando-me sem rodeios e sem escrúpulos para os outros, hah... Como se eu já não tivesse notado. Mas honestamente, desde que eu consiga aproveitar esse momento agora, isso não é um problema para mim. Agora.
E então, ele suspira e solta uma risada provocativa, ainda de olhos fechados, adentrando seu sono novamente. E não deixo de notar seus dedos que vagueiam para cima e para baixo, do meu ombro até minha cintura, para me fazer voltar a dormir. A verdade é que talvez eu queira aproveitar desse sono acompanhado, um sono em utopia.
Amanhã, ou daqui algumas horas... É, amanhã eu me deixo envolver pela espiral de pensamentos.
Não agora.
Me acomodo novamente em seu enlace e volto para a terra dos sonhos que desenho atrás de pupilas dilatadas.
♆
Acordo exasperada.
A um triz de um pesadelo.
A um triz de atravessar o lugar obscuro que reside em alguma parte da minha mente.
Levo minha mão até o peito e suspiro ainda de olhos fechados.
Escapei.
Inspirar e expirar. Inspirar e expirar. Inspirar e expirar. Inspirar e expi...
Então, languidamente descerrando meu olhar, percebo. Pela manhã não tem mais a brisa gélida que se alastra pelo quarto e que me arrepia.
A lua se foi e o sol tomou seu lugar em brasa. Seus raios me recebem enfurecidos e se aproveitam do fato d’eu não ter fechado as cortinas e uma fresta da janela na noite anterior.
Não. Não tem brisa gélida, mas o meu lado não se torna menos frio quando a fonte de calor infindável não se faz presente ao meu redor e percebo que acordo sozinha na cama.
Claro.
Levo os dedos até meus fios desgrenhados para tirá-los do rosto e tento raciocinar enquanto esfrego os olhos e minha tez. Bocejo uma, duas, três vezes, até o oxigênio começar a fazer meu cérebro voltar a funcionar propriamente e assimilar o novo dia, o real e não o que eu mergulhava.
Estico meus braços e já consigo sentir o cheiro de café da manhã, que provavelmente vem de alguma das habitações vizinhas (logicamente não a de Sora que deve estar ainda no décimo quinto sono), e depois de mais algumas espreguiçadas e estraladas no corpo, decido começar a viver.
A parte boa desse sábado não é nem o fato de ser um fim de semana, mas que segunda será feriado e só terei que ir para universidade a partir de terça, então o descanso será prolongado. Boa, mais tempo para tramar uma vingança contra mim mesma depois disso, rio comigo mesma e me jogo nos travesseiros novamente.
E um flashback da noite anterior me recebe com um tapa, porque nenhuma lógica me acometeu quando cedi ao êxtase inegável; não quando empurrei seu peito e envolvi minha mão em seu queixo para que eu pudesse inclinar a cabeça para trás apenas o suficiente para fazer contato visual com ele. E porra, o olhar que ele me deu foi quase... Obediente. E foram poucas as vezes em que eu vi Jungkook recuar por qualquer coisa na vida, ele sempre agarrou qualquer chance palpável de afirmar seu domínio. Ganhar. Mas lá estavam seus olhos negros, amendoados e arregalados, quase inocentes, com os lábios levemente entreabertos e as sobrancelhas franzidas.
Se este fosse outro desafio, outro jogo, então eu posso dizer que eu estava ganhando.
“Hah... Porra, Aeri. Parece que curto entrar em cilada”, penso. No momento só encontro essa explicação para ir tão contra ao que eu havia pregado em minha mente de forma religiosa e depois seguir exatamente tudo ao contrário.
Pego o celular em cima da mesinha para conferir o horário e então me vejo em meu espelho usando apenas uma calcinha e a blusa d e l e.
Rio sarcasticamente para minha própria imagem.
Pior que essa merda está infestada com o cheiro de Jungkook.
E quando estou no meio do processo de tirar umas das mangas da peça, desbloqueio o aparelho e percebo que tenho mensagens novas de poucas horas atrás.
Falando (ou pensando) no diabo...
Mensagem de Texto
De: Coelho
“Então
Eu não dei um perdido ou sei lá o quê.
Preciso ir para a empresa agora de manhã
e pegar umas atas que meu pai não levou pra casa ontem.
Deixei um pouco de gaeran tost-u¹ e suco pra você.
Coma.”
Levanto uma sobrancelha.
Então era esse o cheiro de café da manhã.
E mais duas mensagens chegaram minutos depois dessa última e continuo lendo o relato em monólogo do coelho enviado obviamente por Satã para foder minha mente.
Mensagem de Texto
De: Coelho
“Ah
Eu peguei de volta aquela blusa minha
que você ainda tinha no armário.
Uma troca por outra. Justo hahahaha.”
Mensagem de Texto
De: Coelho
“E se eu não deixei claro ontem:
Foda-se a proposta do Tae.”
Hah.
A proposta de Taehyung.
– Vai se foder, Jeon Jungkook.
Rio e sento-me em um solavanco na cadeira em frente à escrivaninha, ainda com um braço fora da blusa enquanto a outra metade ainda estava vestida e deixo minha cabeça pesar em minha mão, ao passo que uma parte da minha mente diz que foi até legal ele ter se “justificado” enquanto a outra diz que ele nem deveria ter tido o descaramento de ter aparecido aqui ontem e essa mesma parte ainda me alfineta com o fato de que eu devia ter dado um basta de uma vez.
Mas os olhos negros, amendoados e proibidos me cegam.
Mas não, a atração fodida e vontade de transar me persuadem.
Mas porra, Jungkook sabe muito bem apimentar as coisas. E sabe o quê mais, eu ainda me pergunto, eu ainda me desafio; quando e onde diabos encontrarei alguém igual a ele, com aquela merda de habilidade perfeita e um caralho de estamina, ou dopamina ou seja lá o que for? Jungkook instiga um furor de curiosidade, interesse e... Argh. Talvez seja exatamente por isso que ele seja tão estupidamente irresistível, talvez seja por isso que eu estou tão toscamente disposta a entrar nesse jogo, se isso significa ter uma vida sexual alucinante.
Tem algo sobre ele me desejar tanto, que me estimula e me deixa quente (não como se eu não pudesse achar isso em outros lugares, mas aí que está). E aí eu me sinto melhor que nunca sendo crua. Porque essa é a diferença do que eu encontraria em qualquer outro cara. Hah... Olho novamente para as mensagens no celular.
Me preocupar com isso agora só traz pensamentos desnecessários. E eu não vou me adiantar, eu sei que terei que lidar com todos eles algum dia, em algum momento, eu terei que encarar a realidade de qualquer forma. Mas... Eu não posso negar que só quero aproveitar enquanto isso durar. Sejam dias, semanas ou meses... Até um de nós resolver que já foi o bastante.
Isso. Raiva controlada. Fim de discussão.
Passo os dedos pelos cabelos e solto um suspiro sonoro.
E para melhorar, o cheiro do idiota parece complicar ainda mais meus devaneios. Definitivamente injusto e tendencioso, influenciando a parte de mim que parece adorar se jogar em histórias tortas aonde eu entranho a toca do coelho em queda livre só pela a d r e n a l i n a.
Como se entra em uma guerra desarmado?
Acho que eu sou boa em mirabolar e inventar desculpas para mim mesma afim de me redimir das minhas próprias ações.
Exaspero em meio a um riso.
– Claro, claro, claro...
Tsc.
Visto a parte que estava para fora da camisa novamente, escovo os dentes e vou até a mini cozinha, dando de cara com o gaeran tost-u que ele havia se referido na mensagem.
Encaro a comida e ela me encara de volta.
– Maldito.
E quando dou uma mordida despretensiosa no pão, xingo Jeon pela vigésima vez em apenas algumas horas porque está tão b o m. Desgraçado.
Coloco o que ele preparou em um prato e copo e volto para o quarto, sentando-me na cadeira da escrivaninha, de frente para a janela que ilumina quase que sarcasticamente o ambiente, em oposição à nebulosa em minha cabeça.
Olho para o computador e os desenhos inacabados, projetos e rabiscos no programa aberto. Ainda visto apenas minha calcinha e a blusa dele, mas não me sinto menos arrumada, só confortável na bolha que criei dentro dessa história e dentro do meu próprio corpo, e me aproveito da sensação de me sentir assim, levantando uma perna na cadeira e trazendo os fones para os ouvidos.
Pela janela vejo algumas pessoas saírem de seus dorms e até flagro um garoto da universidade escapando por alguma porta como se a vida dele dependesse disso e rio. Não sou a única quebrando regras aqui, claro que não. "Corre, garoto, por azar seu você só pode contar com as suas pernas para fugir".
Trago meu caderno de croquis para mais perto, junto com o lápis, e levo o copo com suco até a boca.
O shuffle me coloca direto em “Mess It Up”².
Engulo o suco que ele fez, ou comprou de sei lá onde antes de sair, e continuo mirando a janela com o lápis entre os dedos.
É. Essa é uma guerra injusta.
Então escuto a porta da frente destrancar.
Meu coração para por um segundo.
E vejo a garota de cabelos cor de caramelo.
– So?!
– Você transou.
– Quê?! – A olho embasbacada, deixando o lápis na mesa. – Do quê você está falando? – Começo a rir nervosa e arrumo o cabelo, até jogar a cabeça no encosto da cadeira bruscamente. – Aigoo. Você tem algum super poder ou minha casa realmente está cheirando a sexo até agora?!
– Nah... – Ela se joga na cama rindo depois de largar as chaves reserva dela ao lado, mas me olha com uma sobrancelha erguida e um sorriso provocador. – Eu vi o Jungkook saindo daqui cedinho.
– O que você estava fazendo acordada ainda de manhã, Srta. Kwon? Não levantou cedo, disso eu sei.
E ela ri.
– Aish, eu só acordei com o barulho da moto e fui ver quem era. E você é mestra em desviar do assunto, mas eu sou capitã em descobrir tudo.
– Estava esperando alguém?
– Não disse? Desviando. Mas até parece.
Então nos olhamos por alguns segundos e rimos uma da cara da outra.
– Eu só acho engraçado que...
– Lá vem.
– Você insiste em dizer que blá-blá-blá, vocês não têm nada e mais outros mil blá-blá-blás, mas fala sério. Ou caga ou sai da moita.
– Bom dia? Você veio até aqui só para jogar na cara que viu o Jeon saindo da minha casa, Kwon?
– Sim e não. Também vim pegar um pouco de comida porque eu esqueci de ir ao mercado essa semana e tô morrendo de fome. – Ela solta um riso infantil e travesso antes de se jogar de novo na cama. – Qual é! Não tem nada de errado em achar o garoto que você jurava odiar um gostoso que te fode bem.
– KWON! – Clamo e em meio a um riso, tento formular uma frase coerente, a qual ela espera atrevida. Mas suspiro e solto como quem não quer nada. – Eu só acho que não curto a ideia de não ser a... Protagonista? Sabe, dividir.
Ela me lança um olhar confuso por alguns segundos e entorta a cabeça. Até realizar suas ideias e sua expressão se torna mais complacente e balança a cabeça em afirmativa devagar.
– Agora pronto. Bem... É como eles dizem, odeie o jogo, não o jogador. – Então ela franze a sobrancelha. – Ou o contrário. Enfim! Se você quer que vocês sejam exclusivos, cara, conversa com el---
– Não! Não. Não é isso.
– Então...? Argh, eu tô com fome. – Ela se compadece de mim e do meu embaraço quando tenta mudar um pouco o assunto e seu olhar morfa para os olhos do gatos de botas. – Aeri-ah, não recebeu minha indireta?
– Sora, você foi bem direta. – Eu rio e passo meu pão para ela. – Vai comendo esse, mas vem comigo pra cozinha. – Digo, me levantando e dando dois tapinhas na bunda dela.
Ela ri satisfeita e animada, mas antes de dar a primeira mordida, ela parece pensar e continua.
– Tsc, nah, mas você estava se deliciando, eu faço um outro sandubinha pra mim. – Ela me vê saindo do quarto. – Beleza então né, vamos nos retirar do ninho do amor.
– Eu ouvi isso!
– Mas hein, não tem nada de errado com isso, sabe? Você tem todo direito de se divertir, cara. E outra, vocês são adultos e espertos. Certo?
– Você quem diz. – Rio e pego uma mini panela que anteriormente era de minha mãe, mesmo não tendo ideia do que eu vou fazer. – E não é como se fôssemos ficar nessa por muito tempo... E come isso aí, garota! – Ordeno rindo e então pigarreio. – So...
– O quê? – Ela se acomoda na cadeira alta.
– Você acha que a Jennie e o Jungkook estão ficando ainda?
– Quê? Pffff! – Ela sopra entre os lábios e sacode a mão. – Não mesmo. Um mês atrás ou dois, eu até concordaria que sim, mas agora? Eu acho que não. Não que eu coloque minha mão no fogo por ninguém, tá? Mas... Por que? Você vi---
– Sei lá, parece. – Ligo o cooktop. – E olha, só pra constar, eu e ele não estamos transando tipo... Todos os dias nem nada do tipo.
Eu conheço esse olhar dela. O tipo de olhar “estou tentando ler a sua mente, então vou analisar cada gesto e som que você fizer para descobrir o que você está pensando”. Especialidade de Sora. É quase assustador.
– Humm. Tá? Mas vocês ainda fazem sempre que querem.
– Vou ignorar isso.
– Tu queria mais, né? – Ela ri alto. – Sabe, talveeeeez, só talvez, eu tenha escutado algo no silêncio da noite e porra, Aeri, você é uma safada sortuda por não ter sido dedurada ainda! – Ela ri mais ainda, se é que é possível, jogando a cabeça para trás.
– Como assim?!
– Ele deve ser bom pra caralho na cama se te fazer soar daquele jeito.
– KWON SORA! – Meu rosto queima como fogo e eu começo a rir muito, de nervoso, e ao mesmo tempo porque é verdade. – Você tá jogando verde agora!
– Eu só trago verdades, sempre digo. – Ela não resiste e dá uma mordida no pão, finalmente, continuando a falar de boca cheia. – Aliás, você diz que vai ignorar, mas todo mundo sabe que quanto mais tentamos ignorar algo, mais pensamos nisso. Aaah, porra! Você tá melhorando pacas na cozinha, viu, isso tá tipo, muito bom!
Olho pra ela e solto uma risada.
– Hah... É.
– E agora para de desviar do assunto. – Ela engole outra mordida e me olha mais séria, pronta para matar alguém. – O que você descobriu e está comendo sua mente?
“Cause everytime I get too close, I just go mess it up”
• ━────── ☾ ──────━ •
Perspectiva de Jeon Jungkook.
Cruzo as portas metálicas do elevador que dá de frente para a entrada da casa de Namjoon junto com todos os membros do Bangtan e solto um grunhido. Porra, meu pescoço podia ter sido um pouco mais descontado hoje. Passo a mão pela minha pele, sentindo os músculos tensionados e ouvindo os murmúrios, ou melhor, as falas exaltadas dos outros seis.
– Não, ou, bora para cobertura. Yoongi! HYUNG! Cobertura! – Namjoon acena com a cabeça para as escadas na parte de trás do salão e todos assentimos de alguma forma, acabados, antes de andar exaustivamente até os degraus de porcelanato em meio a resmungos. – Cacete, o Do-yun podia ter pego mais leve hoje, o cara tava afim de sangue, mano! Idiota pé-no-saco. Preciso colocar um gelo nisso antes que fique um roxo. – Ele reclama passando a mão pela boca.
– É, é, e não deixa nenhum pingo cair no chão, não vou te ajudar a limpar. – Ouço a voz de Hoseok impaciente passos atrás de mim.
Um minuto depois e já começamos a nos livrar de nossas camisas, as jogando em qualquer canto, dando liberdade às tatuagens e ao suor; então vejo Nam ir direto até o freezer da cobertura retirar alguns gelos e os colocando diretamente no corte fino que ele fez no lábio inferior.
– Argh... Filho da puta. Ô, Jimin! Toma. – Ele joga um cubo de gelo em direção ao Park.
– Porra, Nam, tu me dá um?! E coloca em um saco ou em uma toalha, né cacete!
– Cala a boca e só põe isso na sua cara.
– Namjoon ainda tá puto porque deixou o novato acertar ele. – Hoseok diz, jogando-se em uma das cadeiras de sol.
Depois de uma reunião da GD e um treino de mais de duas horas com outros membros, não sei dizer se estamos sedentos por mais por conta da adrenalina que obviamente ainda exala ou cansados a ponto de tirar o feriado de folga, como deveria ser.
– A gente devia ter feito uma trocaçãozinha hoje, hein Jungkook... Te fazer beijar o chão, o que tu acha? – Taehyung diz em voz alta, do outro lado da cobertura.
– Ih, qual é, perdeu a cabeça?
– O quê? O chão não é tão macio quanto os lábios da Hanu---?
– Menos, Tae.
– Bora, eu e tu. Na próxima. – Ele arqueia uma sobrancelha e dá um de seus sorrisos endiabrados.
– Hah, pra valer ou soltinha? – Termino de me livrar da minha camisa e sorrio de volta para Tae, o desafiando, só para tirá-lo do sério. – Ah, Tae... Você sabe que não aguentaria.
– Quer apostar? – Seu rosto brilha em meio ao desafio.
– Ei, vocês. Guardem essa agitação pra quem vai merecer um cruzado no queixo. Não façam como Namjoon que deixou levar esse corte de graça. – Yoongi ri e levanta o copo de água que estava bebendo, apontando para Nam. – Moscou e se fodeu.
– É, pô, tem que bater como um doragon, idiota, corre sangue gōruden aí ou não?! – Seokjin aparece por trás de Namjoon e coloca as mãos nos ombros dele, dando uma apertada proposital e gargalhando.
– Sai daqui, Jin.
Imediatamente ouço o pigarro de Jimin, o riso cessa e ficamos em um silêncio esquisito.
Até eu me tocar e... Claro. Argh.
Eu nunca lembro porque não faz diferença.
Mas acho que também nunca esquecemos. Ou ele não esquece.
– Ser um membro da GD que nos faz os maiores, porra. – Yoongi diz em meio a mais um gole de água. – Somos o Bangtan. – Ele completa, dando um soquinho em Jin (que certamente dói pela cara dele).
– Exato. Nós 7 e só funciona assim. – Hoseok reafirma.
– Isso aí. – Nam diz, se aproximando de Tae e dá dois tapinhas fracos na cara dele que o olha no fundo dos olhos e eu conheço esse olhar, desde criança.
– Vai tomar um banho, Jungkook, você tá fedendo. – Hobi diz, saindo do clima, quando chego perto dele e passo meu braço em volta de seu ombro.
– Ah, hyung, esse é apenas meu cheiro viril exalando, desculpa se te importuna.
– Me poupa e vai se lavar, porra, vai logo.
– Aah, te importuna então, Hobi-hyung? – Aperto mais meu abraço.
– Saaai daqui.
– Tem quem goste... – Levanto as sobrancelhas pra ele, de zoeira.
– Tá, mas ninguém vai falar como que aquele grupinho lixo, daqueles patéticos que roubam descarado nas corridas, vão participar da All Stars Run desse ano? Hah...
– Aaah, baixo astral. – Jimin diz, girando os olhos.
– Pff, a piada. – Nam completa enquanto coloca mais gelo em seu corte.
Então um som nos interrompe quando o celular de Tae toca e nos faz olhar em sua direção por instinto, ele verifica o display e sem dizer nada, sai de perto para atender.
– Ih ó lá, todo cheio de segredo.
– Hah, e tu tem que levantar esse assunto mesmo, Min? Eu sei que nós não temos lá muitos escrúpulos na vida... – Hoseok pondera e esbugalha os olhos só para enfatizar a frase. – Mas eles participarem aí já são outros quinhentos! – E então ele saca um isqueiro do bolso da bermuda.
– É, mas agora imagina a gente dando uma lição neles. – Yoongi dá o sorriso dele que diz mais do que ele quer contar, deixando a mostra suas gengivas.
– Yoongi. Não. Combinamos de nunca participar da A.S.R, esse evento ultrapassa os limites das corridas ilegais, é gigante. Isso pode vazar... Você sabe disso. Mesmo ainda sendo tecnicamente clandestina do mesmo jeito, não é nada mocado, só fazem vista grossa. – Hoseok exaspera e se mexe em sua cadeira impaciente. – Infelizmente isso vai ficar na imaginação. Pelo menos na A.S.R.
– Sem contar que o Kookie não poderia aparecer. De todos nós, seria o primeiro a dar as caras nos tabloides, certeiro. – Jimin pondera, descascando uma tangerina e a passando para Yoongi. – Seria um escândalo o herdeiro, o filho de Jeon Jun-Woo, participando de corridas clandestinas. Um prato cheio pra mídia ficar de olho e, sabe-se lá, começar a investigar e cair em um buraco onde não queremos que ninguém entre.
– Seria ruim para todos nós, isso é óbvio. – É a vez de Jin falar em um tom sério.
Reapareço por trás de Hoseok de novo, pegando uma maçã da bancada em frente a ele que preparava um lámen para colocar na máquina que fervilhava.
– Imagina... – Rio sarcástico. – Descobrirem que corridas clandestinas não são o que de pior tem por trás da família Jeon. – Jogo a toalha que peguei em um dos armários da cobertura em meu ombro e dou uma mordida na maçã.
– Jungkook, véi... Você ainda não foi tomar banho? – Hoseok suspira e me olha devagar, dramático, largando o garfo na bancada e se virando para mim, que logo levanto meus dois braços alto em rendição.
– Seria um efeito dominó, antes fosse só a família Jeon a única com um porão de segredos. – Namjoon fala enquanto pega os preparos que Hoseok não deu continuidade. – Essa corrida está fora de questão. Deixem o Sieben buscarem a humilhação deles, é isso que sempre os espera na linha de chegada... E afinal, a polícia os acobertará, como sempre, ao contrário de nós.
– Hah, mas ver aqueles desgraçados se fodendo mais uma vez seria impagável. – Profiro entredentes.
– Gukkaaaa. – Yoongi, a quem havia também sugerido a “lição neles”, agora me repreende, terminando o último pedaço da tangerina e se esgueirando em um dos armários mais altos para pegar algo.
– O quê? Você quem estava sugerindo, hyung. Não vai me dizer que você já esqueceu o que eles aprontaram pra cima de nós dois?!
– Lógico que não. – Ele diz impaciente e finalmente se encosta na bancada agora com um palito entre os caninos. – Mas eles estão certos, isso aí a gente resolve de outra forma... Sacou?
– Hah... – Jogo o que sobrou da fruta em direção à Seokjin, que por reflexo a pega no ar. – Olha, as juntas dos meus dedos já cicatrizaram, já posso surrar a cara de um daqueles filhos da puta de novo. Eu tô até com... Saudade disso. – Solto um riso sem humor.
– Claro, saudade não sei do quê. Vive socando qualquer energúmeno azarado todo fim de semana. Já já essas feridas abrem de novo, sorte sua que não sangraram no treino de hoje.
– E cada um deles mereceu. – Respondo, segurando as duas pontas da toalha agora ao redor do meu pescoço.
– Pera, a corrida não é no fim do ano? Depois da conferência, no dia que o Jungkook vai ter o famigerado encontro do chá com o cuzão do Nomura? Nem pensar, Kookie! – Taehyung surge novamente, nos pegando de surpresa. – Teremos ainda mais a perder, todos nós, imbecil. Jungkook até lá já será oficialmente Ryū do Bangtan.
– Tae, olha só... Apareceu, hum? Diz aí, tava a tarde toda só recebendo e respondendo uma caralhada de mensagens, foi atender ligação longe da gente, levou uma rasteira do Jin no treino porque ficou distraído demais... – Hoseok provoca.
– Tá de segredinho, Tae? – Namjoon ri, apoiando-se na bancada com os cotovelos e mordiscando o que parece ser um pedaço de salmão cru.
– Ah, me deem um tempo, vai.
– Deixem o Tae, hah. – Yoongi intervém rindo. – E ele não deixa de estar certo também.
– Ou, vocês conseguiram dobrar as apostas na Höllisch? – Jimin pergunta.
– Yep. E devo dizer que o Jungkook realmente representa bem o sangue gōruden, hah, mal tinha acontecido a merda e ele já estava pronto para a próxima. Tá louco... – Yoongi ri.
– Tá, mas não é por isso que ele deve negligenciar esses machucados. Nem abaixar a guarda. – Jimin adverte e eu giro os olhos. – Jungkook!
– Eu sei, eu sei.
– Não é porque ganhamos tantas vezes que devemos entrar como se já estivesse garantido, ô golden boy. – Ele continua. – Ego enfraquece.
– Hah... Mas quantas revanches são permitidas até a pessoa se tocar que ela perdeu?
Eles riem e Yoongi e Taehyung balançam a cabeça.
– Perder tantas vezes pro Jeon deve ter dado um gosto amargo pro infeliz. – Taehyung continua rindo.
Jin suspira alto.
– Tsc. Não corremos nem lutamos só para vencer o outro, mas sim a nós mesmos, tá ligado? Nós estamos vencendo nossos próprios demônios, o que vier disso, é lucro. Sejam as apostas ou territórios. – Ele levanta o olhar e as sobrancelhas, enrugando o cenho. – Não importa contra quem você corre ou confronta, porque no fim das contas, sempre luta com si mesmo todas as vezes. Essa é a real.
Estou apenas parcialmente prestando atenção no discurso motivacional do Kim, o tipo de "vamos lutar pela paz mundial”, mas ouço alguns membros concordando e quase as engrenagens da mente de alguns se movendo, e depois, a voz de Jimin refletindo as palavras de Seokjin. E tudo bem, devo admitir que o que ele diz me dá uma sensação de vertigem. Escuto o murmúrio de Tae ciciar um “não podemos esquecer nossos propósitos, sendo escolhas ou não” como se falasse consigo mesmo, e só sou trago de volta para o momento por Nam, quando se vira para mim, ainda mastigando.
– Ô Gukka, não esquece que tem reunião da GD em Tóquio quando você estiver lá, parece que vai ser no mesmo sentō³ de sempre e você não pode inventar nada dessa vez. E pelo menos finja que sabe lidar com os figurões babões das companhias, isso inclui usar esses seus olhos gigantes para os líderes do sindicato. Já temos problemas demais.
– Tô ligado. – Suspiro e brinco com a caixinha de palitos que Yoongi largou. – Não precisa nem me lembrar, hyung, eu sei exatamente o quê fazer e quando fazer. Já falhei com vocês antes?
– Eu sei, Gukka. – Ele dá um tapinha na minha coxa.
– Aproveite enquanto ainda pode me dar ordens, hyung. – Provoco, dando uma olhadela de lado.
– Quem se atreve a te dar ordens, criatura? E corta essa, eu sempre vou ser seu “hd externo” para manter tudo no lugar.
– Eu sei. – Sorrio e ele também, até puxar o ar pela boca e continuar.
– E dessa vez não vamos poder ir todo mundo junto. Vamos ter aquele evento aqui, então é de "bom tom" termos pelo menos três representantes do Bangtan. Hoba e Tae vão tentar ir com você, mas o Jin estará lá, certo? O dia especial do Seokjin. – Namjoon pisca em direção ao Kim mais velho.
– Acho difícil eu conseguir ir nessa, mano, tô atolado de coisa e já pedi uma dispensa da reunião. – Tae diz sentando-se em uma das cadeiras ao seu lado.
– É, eu também pedi. Mas vou na que rolará aqui com o clã do oeste com Min, Park e Kim. – Hoseok completa, acenando com a cabeça.
– Eu e você então, Jin. – Estico o braço com o punho fechado e Jin repete o ato, batendo sua mão fechada na minha.
– O mais novo e o mais velho, os mais responsáveis, quem diria.
– Tu já teria que ir pela Golclo-Denset, ou! – Eu rio e aponto para Jin.
– Ya! Respeite seu hyung, Jungkook! – Jin diz em meio aos risos. – Mané.
– Nosso Jin vai virar um Dorakonian! – Yoongi tenta alcançar a cabeça de Seokjin e bagunçar seu cabelo, rindo.
– Porra, queria que todo mundo estivesse lá... Temos que ter nossa própria comemoração antecipada!
– Quer saber? Você tem razão, mano. – Jimin aponta para Namjoon. – Vai ser feriado na segunda e não estaremos com eles em Tóquio. Temos que comemorar durante todos os três dias!
– Carai, Park. Vai ter estômago pra isso?!
Consigo sentir a energia deles vibrando e isso me faz rir. Eu sei que pra mim nem tudo sempre tem o mesmo peso e medida como para eles, apesar disso não diminuir o fardo. Mas não deixo de dar uma cotovelada no braço de Jin e sorrir para ele. Eu sei o tanto que ele quer essa patente.
– Vocês estão de blá-blá-blá aí, mas na moral mesmo? Tá calor pra CARALHO e eu não tô conseguindo nem raciocinar mais. Se é pra comemorar, vamos começar a comemorar agora então. – Yoongi diz com sua voz tipicamente entediada e abre a geladeira da cobertura para analisar a situação álcoolica do compartimento e faz uma careta. – Bora comprar mais bira e, sei lá, chamar uma galera pra cá? O que acha, Nam?
– Ué, tô por vocês. A casa é nossa, vocês sabem. Meus velhos não estão aqui.
– Mais uma das paradas obrigatórias em Incheon? – Jimin pergunta com um riso.
– Pois é, hah. Mas e aí, comprar bira?
– Ou a gente pega as motos e vamos correr no galpão. Quê que cês acham?
– O que eu acho? Acho que tá quente demais pra correr naquele barro, vai estar só o forno, mano, nem fodendo. – Jimin replica Namjoon, balançando a cabeça em reprovação.
– É... A gente já está aqui mesmo... – Jin dá seu tom de quem está para a bagunça. Mas claro, conhecendo ele, apenas com pessoas conhecidas. Ele definitivamente não curte quando aparece pessoas estranhas as quais ele é obrigado a socializar fora do ambiente profissional.
Escuto tudo sem dar minha opinião porque algo já me diz qual será o veredito final e onde isso vai dar, então me atenho a cortar um pedaço de salmão na bancada que estava me chamando pelo olho gordo, só para PORRA! Fazer um corte na pleura do meu dedo.
– Argh! Porra... – Sacudo meu dedo com o corte e ouço uma voz me censurando.
– Tsc, deixa que o hyung faz isso pra você, sai pra lá, vai. – Jin me destitui do cargo e passa a cortar alguns pedaços de salmão, aos quais imediatamente vou passando direto para a boca, fazendo um “joinha” para ele. Ele corta e eu como, ele corta e eu como.
– O Gukk e o Jin vão pro Japão daqui uns dias, então... Vamos aproveitar. – Yoongi diz, astucioso.
Solto um riso soprado breve em escárnio.
– Eu ainda tenho um projeto da faculdade pra terminar... E eu achei essa sua desculpa muito esfarrapada, Yoongi. Nós vamos ficar tipo, só alguns dias dessa vez.
– E desde quando você se preocupa com projeto? – Hoseok indaga rindo.
– Boooa pergunta! – Jimin o ajuda.
– Aaaaah... – Hoseok se acomoda na cadeira ainda mais, rindo sozinho de algo em sua mente. – Será que algum dia a gente vai parar de ser assim?
– Assim como? – É a vez de Tae perguntar.
– Assim.
– Tsc, nah... – Yoongi responde em meio a um sorriso e então subitamente para de rir e franze o espaço entre as sobrancelhas. – Vocês escutaram isso?
– Escutei. – Taehyung responde e se levanta.
– Não ouvi, o que foi?!
– Hoseok, segundo gabinete do armário de cima. – Oriento rápido.
Hobi age com rapidez e Namjoon se aproxima de um dos janelões da cobertura, tentando ficar apenas na espreita, e observa se há alguma movimentação estranha lá fora.
– Aqui parece limpo.
– Aqui também. – Minha voz e de Jimin são ouvidas de pontos opostos enquanto observamos.
Esperamos.
Esperamos.
Esperamos.
Após minutos, aceno com a cabeça e Jin solta o ar pela boca, voltando para bancada e relaxando os ombros, ao passo que Yoongi volta a se espatifar na cadeira que praticamente está tomando seu formato.
– Continuando... Onde eu parei? Ah sim. “Desculpa” nada, senhor Jungkook, é a comemoração do Seokjin. E TÁ, também é pro Jin conseguir dar umazinha com a Daehyun antes de vocês irem. – E agora ele se acaba em uma gargalhada que não consegue segurar. – Eles ficam só enrolando, mas é óbvio que ele tá se rendendo aos encantos da garota do clã do norte! Ela é mais esperta.
– Yoongi, eu não preciso de um rolê improvisado só pra transar antes de viajar. Era só deixar vocês aqui e ir até onde interessa. – Jin rebate, mas claramente puto, o que me faz soltar o riso que eu prendia sem querer.
– Iiiiih…
– Desde que a gente peça ou faça mais comida... – Hoseok dá de ombros e passa o isqueiro para Taehyung.
– Aí, Kookie, não quer chamar a Hanui daí? Ou a... Jennie? – Tae pergunta, apontando o tal isqueiro para mim, sarcástico e já me fazendo parar de rir.
– Ou a... Como era o nome daquela? Dana? – Yoongi pergunta para Tae.
– Ou a Hayun, ou a Aiko, ou... – Jimin entra na onda, pau no cu.
– Ou a Mina. – Hoseok gargalha.
– Ou QUALQUER UMA da imensa e interminável lista de conquistas de Jeon Jungkook! – Tae fala entre risos, arrancando a gargalhada de todos, menos de mim. Tá, talvez eu tenha rido só um pouco.
E porra, eles riram mesmo disso.
– Aish... Vocês são insuportáveis, sabiam? – Respondo, pegando mais um pedaço de salmão que Jin cortou.
– Sei.
– Como se não fossem piores que eu. – Falo um pouco mais emburrado do que eu queria soar, mas ainda me contaminando pela risada deles.
– Vai dizer que tu não gosta de deixar isso claro.
– Ah, dizer o quê? – Namjoon olha para todos e abre os braços. – Quem come quieto, come em dobro. Você quem extrapolou os gr----
– E não, não quero chamar ninguém. Não... Não tem mais graça com nenhuma delas. – Mais uma vez minha fala sai mais emburrada do que eu pretendia.
– WHOAAAAA!
– O cara quer explorar novos horizontes!
– Uuuuuuuh!
– É bem na horizontal mesmo que ele quer ficar.
– O Jungkook precisa de alguém que dê trabalho pra ele. – Jin diz, me olhando com um sorrisinho de quem sabe do quê, ou quem, está falando. – Ele curte um... Desafio.
– Desafio, hah. – Yoongi meneia a cabeça rindo e fecha os olhos. Então para e coloca a mão no queixo como se estivesse pensando e olha para cima, antes de estalar os dedos. – Tem alguém nessa jogada.
– Tem?
– Duvido.
– A gente não devia checar os arredores? – Interfiro.
– Moon Aeri. – Yoongi completa. – Quer um desafio maior pro Jungkook do que ficar com a garota que mais detesta ele?
– Hah, negativo. NEM inventa. – Tae nos faz virar nossos olhares para ele quando se pronuncia. – Já não basta aquele happy hour maldito que eles se beijaram.
– Hah, estraga prazeres... – Min revira os olhos.
– Ah, é... – Deixo as palavras escaparam sem volta, achando o momento certo para comentar do que eu sabia e coçava para sair da minha garganta. – O Taehyung não quer ninguém chegando perto dela, por que mesmo, Tae? – Vinco as sobrancelhas e finjo pensar. – O que você disse para Moon? Sugeriu casamento pra ela, não foi?
– O quê?! – Namjoon endireita sua postura quando exclama.
– Hah, você e a Aeri, Tae? – Yoongi se vira para ele.
– Ah, era brincadeira, fala sério. – Taehyung responde meio desconcertado e então me olha. – Mas, pera lá... Como você sabe disso, Jungkook?
Porra.
Eu não pensei nessa parte.
E agora todos olham para mim.
Mas mantenho a postura.
– As palavras correm. – Dou de ombros e volto a mirar ele.
– Taehyung tá se garantindo. – É a vez de Jimin falar.
– Foi tu que fofocou, Park? – Tae o acusa.
– Han?!
– Casamento, Taehyung? – Hoseok repousa o braço no ombro de Tae, rindo meio estupefato.
– Capaz. Ele deve ter jogado no ar, então se ela acatasse seria outra história. – Nam dá um sorrisinho, olhando para Tae.
– Naaah. – Tae ri e dou graças por ele não ter aprofundado o interrogatório.
– Aí! Tá todo de risadinha o cara, mano!
– Sei. Ainda fica metendo essa desculpa de bro-code pra cima da gente. – Min fala meio provocador, mexendo no palito entre seus dedos.
– Aah, então você não ia curtir ela ficando com algum de nós, é Kim? Mas logo nós? Bons moços de família? Sangue dourado correndo e prontos para casar e honrar a tradição? – Hoseok indaga, fingindo estar ofendido.
– AH TÁ, aham. Mas é claro que NÃO, ou. – Taehyung levanta uma sobrancelha. – Eu conheço vocês bem demais. E caso negado, ela é praticamente minha única amiga de infância além de vocês e fora dos clãs e de tudo isso. Não quero que vocês a afastem, e olha, vocês sabem bem como ou deixar uma guria doida atrás de vocês ou odiando vocês. Ou os dois, não importa a ordem.
– Tu se inclui nessa, né? – Yoongi diz, descarado.
– Shhh. – Tae ri e coloca o indicador contra a boca. – É por isso que eu sei do que eu tô falando. E olha que eu já nem sei quem tô protegendo aqui, viu... Ela saberia como tirar qualquer um de vocês do eixo em dois tempos. No chão. Nocauteados. A guria é braba, hah. Mas de novo, invoco o bro code, BRO CODE.
– Aaaah, engraçado. Você pode, né?
– Eu sou eu... – Taehyung dá de ombros. – Me garanto.
– Ah, vá se foder! – Yoongi gargalha. – Vocês estão ouvindo isso? Se garante tanto que fez merda e ela beijou o JK.
E todo mundo inevitavelmente ri junto com Yoongi.
– Vá tomar no cu, Min! – Tae dá um tapa nas costas dele, tentando deter o riso.
– Falando nisso, não é doido como o Jeon e a Moon agem como se nada tivesse acontecido, quando eles literalmente se beijaram na frente de todo mundo naquela festa, há... Há o quê? Nem faz taanto tempo assim! – Namjoon ri. – Eu acho que eu ficaria meio sem jeito se fosse comigo...
– Virou mentiroso pudico agora, Namjoon? Ia nada.
– Na real, eles não só se beijaram, tavam se pegando como se o mundo fosse acabar no dia seguinte! – E o idiota do hyung continua falando e rindo. Sem contar que quase me causa um infarto precoce quando disse “não só se beijaram”, porra.
– Mas eu entendi o ponto dele, imagina beijar uma das suas ex-melhores amigas, mano? Tá doido. – Jimin diz com o cenho franzido, dando uma balançada na cabeça.
– E daí?
– Duh, o Taehyung fez o mesmo. – Hoseok fala no seu tom de “é óbvio”.
– Oh. Eu sempre esqueço disso. – Namjoon diz pensativo.
– O Tae e ela literalmente ficaram mais vezes e você se lembra da vez que nós nos beijamos naquele happy hour?! – Exclamo, estendendo os braços.
– Foi mais impactante. – Nam me responde, levantando as duas sobrancelhas, sem ser perturbar o mínimo.
– MAIS que o Taehyung e ela?! – Insisto.
– Aham. – Ele me olha.
– Geez.
– Só pra constar, eu vou levar isso como uma ofensa. – Taehyung aponta o dedo para Namjoon e então se vira para Hobi. – E você tá perguntando por quê, Hoseok? – Então ele lambe os lábios. – Tá interessado?
– Quem sabe? – Hoseok o responde sorrindo sarcástico.
– Então segura sua onda, Hoseok-ah. Tá confiante aí por quê, hum?
Solto o ar pela boca e então Jin corta todo e qualquer assunto quando começa a falar, não antes de rir sozinho.
– Sabe, ai ai, isso me faz lembrar que... Sobre a Daehyun... Eu não estava zoando quando eu disse que não precisava de um rolê improvisado ou uma desculpa idiota qualquer. A real é que... Eu vou conhecer os pais dela. – Ele levanta o olhar, com um bico nos lábios, como se tentasse não rir e soar bem sério.
– O QUE?
– Os pais dela, cara?
– Tu sabia disso, Nam?!
– Eu?! – Namjoon exclama, com os olhos saltados como nós.
– Jin, você contou pro Namjoon antes só porque ele é seu primo?! – Jimin resmunga com o cenho franzido e cruza os braços.
– Mas eu só tô sabendo agora também! – Nam continua sua defesa, implorando com sua cara de perdido.
– Vai conhecê-los aqui em Seul? – Tae pergunta.
– Uhum. Mas só depois que eu voltar. – E Jin responde enquanto se esgueira na geladeira a procura de uma cerveja.
– Pensei que eles fossem de Daegu. – Hobi pondera, mas dá um riso. – A gente tramando algo para vocês se verem antes de você viajar e enquanto isso... Caralho, mano, conhecer os pais dela? Isso significa que o negócio tá ficando bem sério!
– Ah, depende... – Me intrometo e enrugo o espaço entre as sobrancelhas.
– Depende nada. Você não apresenta seus pais para um affair qualquer... – Jimin diz com convicção. – A não ser que eles peguem a guria saindo 7 da manhã do seu quarto e você seja obrigado a apresentá-la e tomar café da manhã todos juntos, não é Yoongi?
Yoongi é pego de surpresa pela fala de Park e depois de olhá-lo como uma estátua, começa a gargalhar de nervoso, junto com nossas risadas.
– Me erra, Park! Ah, esse dia foi de um sonho a um pesadelo muito rápido. – E o Min coloca o polegar e o indicador no alto de seu nariz, balançando a cabeça com a lembrança.
– Você tá nervoso, hyung? – Hoseok volta a atenção para Jin.
– Eu? Claro que não. Não tem como eles não gostarem de mim. – Seokjin responde convencido e levanta um ombro, em sua máxima de “não estou nenhum pouco preocupado”.
– Aish, sinceramente. – Namjoon meneia a cabeça.
– Olha aqui, vocês têm que vir com esse tipo de notícia ao longo da semana, em parcelas, seus merdinhas. – Jimin aponta e começa sua reclamação. – Do nada vocês vêm com tudo de uma só vez! É muito pra processar. Taehyung vai casar com a Aeri, Jin vai propor a Daehyun---
– Eu não vou propor ninguém, JIMIN-AH! – Jin choraminga e passa a mão pelo rosto.
– E pelo que foi dito o Taehyung já disse que não vai “casar” com a Aeri. Então segura a emoção, Jimin, pode deixar seu smoking no armário. – Reviro os olhos e coço a tatuagem de dragão em meu pescoço.
– Hah, tu deu graças à Deus, né? – Jimin ri e cutuca minha costela com o indicador. – Seria o terror da vida do Jungkook isso acontecendo, tu ia virar praticamente o cunhado dela. Ô, imagina só os filhos DELES DOIS brigando com os SEUS no futuro! – E o Park começa a derreter na cadeira, rindo com a mão na barriga, o miserável. – As gerações de arqui-inimigos!
E encaro Jimin.
– Eu juro que eu vou vomitar.
– Argh, para de ser implicante, Gukk! – Yoongi bate na parte de trás da minha cabeça, então meu olhar se vira para ele e o fuzilo, ao qual ele não dá a mínima.
– Então? Vamos chamar a galera ou não? – Tae indaga, abrindo uma cerveja que agora Jin o passa.
– Vou tomar meu banho... Tirem minha cerveja da geladeira quando eu voltar e esse papo-furado tiver acabado. – Profiro olhando para eles e saio com a toalha em meu ombro.
– Vem, Jimin, vamos dar uma checada nos arredores. – Taehyung dá um gole da bebida e acena com a cabeça para Park o segui-lo.
• ━────── ☾ ──────━ •
Horas depois.
– Ei... De zero a dez, o quanto você tá bêbado? – Levo um susto ao sentir Hoseok sussurrar em meu ouvido. Ou ao menos ele jura que está sussurrando, porque o sussurro dele é bem alto e assopra dentro do meu tímpano.
– Aish, Hobi! – Reclamo, mas vejo que ele realmente espera uma resposta. – Não sei, uns... Três? – Uso meu tom de voz normal porque não sei porque raios ele está tentando falar baixo.
– Ainda?! Tá. E de zero a dez, o quanto você quer ficar bêbado hoje?
Então o olho e arqueio uma sobrancelha.
O sol já havia abaixado e principiava a se pôr quando as primeiras pessoas começaram a chegar na cobertura de Nam. O tilintar do elevador atingindo o andar e abrindo suas portas as anunciavam cada vez e uma vez mais, de novo e de novo, para nós sete.
Não são muitas pessoas, uns amigos mais próximos nossos que estão na cidade e um ou outro da faculdade, clãs e até mesmo Yujin.
A Lee de cabelos lilás me vê de longe e acena graciosamente toda afoita e sorridente para que eu me junte à conversa que ela tem com Park e outras duas gurias. Aceno de volta, sorrindo, e faço um sinal de que em breve iria até eles. E então mais um ruído metálico do elevador chama a atenção inevitavelmente. Olho para minha direita por mera curiosidade e...
Argh.
Cá está.
Ela chega junto com Sora.
E ambas atraem todos os olhares de quem já está aqui.
Tanto por instinto quanto porque ambas... Espera. Aeri está usando um vestido de alcinhas preto com mini bolinhas brancas que vai até sua panturrilha, mas ele é... Translúcido. É possível praticamente ver a sua lingerie preta por baixo, ou é isso que me parece, mesmo com a jaqueta de couro preta por cima. E mais um par de suas botas pesadas de cano médio fazem uma aparição, só que este tem algum tipo de plataforma que a faz parecer mais alta e até imponente, de alguma forma.
Porra, a bunda dela nesse vestido agarrado. Vai se foder.
Tenho flashbacks da noite anterior, de quando ela pe---
– Se você continuar encarando assim ela vai desidratar. – Jin aparece ao meu lado, murmurando para que apenas eu escute. E ao contrário de Hoseok, ele realmente sussurra. – Você parece literalmente aquele emoji babando, é tão óbvio.
– Óbvio? – Solto o ar em escárnio. – Cala a boca, Kim.
– Pô, sou só eu ou elas estão gatas pra caralho? – Escuto as vozes dos guris proferindo comentários velados e apenas para nossos ouvidos.
– A Sora tá solteira?
– Uou.
– E a Aeri, mano? Puta que pariu, hein.
– Aí, Taehyung, entendi teu pedido. – Hoseok cotovela Tae de lado, que apenas a lança uma olhadela e ri de lado, esfregando o nariz rapidamente com o polegar.
Mano. Na moral.
E nisso, Jin apenas me dá dois tapinhas no ombro e passa por nós, indo cumprimentar algumas pessoas, inclusive elas duas.
Estalo o pescoço da direta para esquerda e minha língua assola minha bochecha. Ela parece uma superstar atraindo todos os olhares e atenção. Hah. Mas de alguma forma isso inflama meu ego.
– Kookie, OU KOOKIE! – Uma voz ao longe me chama e então percebo Namjoon do outro lado da piscina com outras pessoas e o braço levantado. – Aqui, pô! Coloca a sua playlist aí!
– Han? – Aponto para o meu ouvido.
– A sua playlist, cara! – Ele coloca ambas as mãos ao redor da boca para tentar direcionar a fala para mim. – MÚ-SI-CA. Coloca outra música!
– Tá, tá, eu já entendi! Demorou. – Rio, ajusto minha camiseta no pescoço e pela periférica vejo Jimin indo em direção à mesa de jogo. – Ei, Jimin-ssi! Tô de próximo no beer pong, ouviu?
O Park faz “joinha” com as duas mãos, um sorriso idiota, e segue para a mesa.
– Aí, pirralho, vai ou não vai ser minha dupla nessa porra de beer pong, ô carai? – Yoongi aparece como se fosse um fantasma, sem fazer barulho algum e resmunga.
– Uhum. – Respondo sem me impressionar com sua presença repentina, sacando o celular do bolso. – Só porque você bebe que nem um velho pinguço.
– Eu? Qual é, me respeita! Pra sua informação eu sou só quatr---
– Vai lá, hyung. – Dou batidinhas nas costas dele, o empurrando com todo meu respeito. – Senão a gente perde a vez! Só vou colocar uma música que preste, beleza?
– Pff, até que enfim.
Atravesso a cobertura para chegar até onde a caixa de som estava plugada e, nesse curto trajeto, passo por ela. Aeri vem em minha direção oposta, a olho pelo canto do olho e quando estamos um do lado do outro, sussurro discretamente no ouvido dela, para que só ela ouça.
– Botas maneiras. – E não paro em momento algum, apenas passo reto. Ela também não desprende nenhum segundo para cruzar nossos olhares, mas sei que ela ouviu porque revira os olhos e eu rio.
No fundo, eu reitero o que disse antes. Eu gosto desse jogo.
Conecto meu celular e vou em busca de uma música. É quando eu encontro uma que me faz rir pelo contexto, então não hesito. Antes que os primeiros compassos soem na caixa, escuto passos soando logo atrás de mim, passos que se aproximam e param no momento em que o calor de tal pessoa alcança minha nuca e “Better” começa.
Ela dá uma assoprada sutil em meu ouvido para chamar sua atenção, mas não é nem preciso, eu sei exatamente quem é.
– Ora, ora, Choi. Se divertindo? Mal te vi hoje. – Levanto uma sobrancelha e sorrio de lado para ela.
Jennie ergue o copo dela em resposta, esperando que eu erga o meu e então brindamos.
– Claro... Às vezes eu tenho que escapar de você, Jeon. – Ela dá um gole e eu também, mas volto a mirar o display, escolhendo uma playlist para tocar após o término dessa música. Então rio de sua fala atrevida, ainda olhando a tela do celular.
– Humm, cansou da minha presença? – Indago, mas ela não responde a isso.
– E então? Vai ou não vai me ajudar a ganhar desse bando de “ruim de mira”?
Dou uma olhada confusa pra ela.
– No beer pong, né! – Ela gira os olhos e balança a cabeça.
– Ah! – Rio. – Puts, gatinha, já falei pro Yoongi que eu seria dupla dele.
– Yoongi? Sério? Aish, Jeon... – Ela suspira em meio a um riso, mas logo aponta para mim. – Na próxima rodada então! Preciso de alguém bom para me ajudar a ganhar, caramba! – E ela continua a rir depois de engolir mais um gole. – Hummm aliás, boa escolha, eu gosto dessa música.
– É?
– Aham! Seu gosto musical é... Quase bom, Jeon. – Ela empurra com o ombro o meu braço e ri, o que me faz soltar uma risada também.
– Ah, QUASE bom? O que você recomendaria então, Choi? Qual diva pop você quer escutar?
– Mas eu não escuto só isso, idiota! – Ela diz, rindo e girando os olhos.
– Agora eu sou idiota?
– Não. Você sempre é, mas eu também sempre ignoro essa parte, então você fica preso nesse loop.
– Aaaah bom saber, bom saber. Pena que não tenho como refutar sua afirmação tão concreta.
– Porque é verdade. – Ela estreita os olhos, brincalhona.
– Claro que é verdade. – Confirmo. Vou mentir?
E ela ri alto, já meio ébria.
Sempre gostei mais dessa versão despreocupada com a opinião alheia e apenas sendo ela mesma de Jennie. Sem a persona que ela encarna em certos momentos em que para ela eu sou o “golden boy” e ela “a filha de fulano e sicrano”.
Ela se encosta na bancada, mas então logo ajeita a postura, apontando de repente pra algum lugar.
– Nossa! Olha lá, Kookie, a lua! Uau, tá tão linda hoje. – E ela sorri meio boba.
– O que?!
– A lua cheia! Não está linda? – Jennie ri, ainda apontando para o céu, mas meu olhar me trai e inconscientemente encontra Aeri. Que está conversando com Tae e Sora um pouco mais afastados.
– Ah... Hah... – Pigarreio. – A lua... É. – Suspiro e dou um gole da minha cerveja. – A lua é sempre linda.
– Isso deve ser sinal de boa sorte, uma lua cheia e iluminada. – Ela dá mais um gole, ainda mirando o céu.
– É, talvez. Deve ser... Assim, uma lua sem luz e irritada nunca é coisa boa, então tomara.
Ela gargalha mais.
– Supersticioso agora, JK?
– Será? – Rio também.
Então um abraço afoito envolve a mim e a Jennie, e mais outros corpos tão afoitos quanto em euforia se aproximam de nós vibrando.
– Cara, se eu beber mais um shot... Sério, eu vou tomar decisões erradas. – Park balbucia com um braço em mim e outro em Jennie ao mesmo tempo que de algum modo ele ainda meio que dança no ritmo da música.
– Aí que é bom?! – Taehyung exclama se aproximando com uma garrafa na mão, distribuindo a bebida em mini copos. – Decisões ruins tipo transar com aquela mina que você tava de papo há um tempão agora pouco?
– A Yujin?! – Jimin cerra o espaço entre as sobrancelhas, sem entender.
– Não né, porra! – Tae termina de encher o copo dele. – A outra, mano.
– Ah, a Ji-hye! – Hoseok ajuda.
– Isso! – Tae aponta para ele com a garrafa.
– Talvez. – Jimin ri, mas balança a cabeça.
– Nah, eu vou passar. Não vou beber shots hoje, Tae, vou ficar na cerva. – Recuso a proposta do Kim quando ele se aproxima com a bebida e o copo e recebo um “boooo” dele bem na cara.
– Pior pra você. – Ele termina de encher o de todos ao redor nesse momento. – Então... Um brinde às decisões ruins a noite toda, caralho!
♆
Encosto-me na esquadria da janela atrás de mim e olho de canto de olho para Namjoon, que está completando seu copo com cerveja.
– Aprovado? – Digo, referindo-me à música.
– Pô, você sempre acerta. – Nam se vira para mim com seu sorriso fechado e brinda comigo, satisfeito.
Me viro e deslizo um pouco mais na esquadria metálica, e é aí que a serpente me chama atenção. Não chama minha atenção, ela exige. Do nosso lado, um membro de outro clã, amigo aleatório de Hoseok, tem sua tatuagem de serpente à mostra e ela parece dançar e rir da minha cara. Na minha mente, a víbora se movimenta com suas presas pingando o veneno lúgubre e eu não consigo desvencilhar o olhar do desenho que conheço tão bem.
Ela é estrela de uma lembrança obscura onde sempre está pronta para dar o bote em mim. Mas eu estou um passo à frente.
– Guk… – Namjoon vira o rosto para mim.
E tomo mais um gole da minha bebida.
– Hum.
– Posso te dar um conselho?
– Nope.
– Você sabe que eu vou mesmo assim. Qual é, Jungkook... – Ele se lamuria, exagerado. – Você e a Aeri costumavam ser inseparáveis. E não vou nem adicionar necessariamente o Taehyung na jogada! Eu nem sei exatamente que porra rolou entre vocês dois. Ok, eu não estudei na escola de vocês, mas pelo que você me contava, cara… Eu não esperava essa rixa até hoje. Ou… – Ele para e entorta a cabeça. – Esperava sim, pensando bem.
Seu olhar pensativo e confuso me faz soltar uma risada.
– A gente só se distanciou, Nam. Crescemos de forma diferente, tá tudo bem.
– Tudo bem? Amizades como a de vocês não simplesmente “se distanciam”. – Ele faz as aspas com os dedos. – Já se passaram anos!
Ele tá bêbado.
– Acredite no que você quiser… – Murmurio e fecho os olhos, passando os dedos pela sobrancelha.
– Por que você não vai lá e conversa como... Uma pessoa normal, mano? Sem as briguinhas. Seja a pessoa maior nisso, não há nada te impedindo, não é? – Ele termina de falar e então toca o próprio lábio inferior, como se conferisse que o machucado de hoje mais cedo não fosse abrir de novo.
Minha testa se enruga.
– E você perguntou se eu quero? Por que eu que tenho que ser a pessoa madura nisso? – Respondo na defensiva automaticamente, apenas porque sim, e então abaixo a guarda novamente, não tenho nada para descontar em Namjoon. – Não, Nam, não tem nada me impedindo, mas não acho que seja uma boa ideia, não é assim que funcionamos.
– Então como que funciona para vocês?
– Ela lá, eu aqui.
– Jungkook-ah... – Ele revira os olhos. – Eu só tô te falando isso porque agora mesmo eu tava comentando sobre como quanto mais ficamos mais velhos, mais valorizamos as amizades de verdade e que estejam em sintonia com nós mesmos. Tirando o Tae, ela é sua amizade mais antiga, cara. Você a conhece há mais tempo do que qualquer outra pessoa aqui, e eu poderia apostar essa cerveja que você sente falta dela como sua amiga. – Ele diz levantando a cerveja, que balança e cai um pouco pela borda do copo.
– Ainda bem que você não resolveu apostar dinheiro, Nam, perderia uma baita bolada. – Rio das minhas próprias indiretas. – Mas você está certo, só que aí que tá... Estamos em outra sintonia agora. Sabe, tem amizades que não duram para sempre e não tem problema. É isso que muita gente não entende, ficam se martirizando.
– Fala sério. – Ele faz uma careta de desaprovação. – Então eu apostaria tudo no truco que ela também não curte essa situação! A gente cresce, mas vocês continuam uns pirralhos.
– Quê?! E no truco? Nam, você definitivamente não sabe jogar baralho. – Rio. – E eu não sei não, eu diria que ela adora me sacanear. – O olho de lado, ainda sorrindo. – Não somos as mesmas pessoas que costumávamos ser. Não somos mais compatíveis como amigos, é… Estranho. – E agora paro para pensar nas minhas palavras e talvez o álcool esteja subindo para a minha cabeça também, evaporando gases filosóficos cujos quais não estou nada afim de respirar.
– Estranho?! – Sua voz sobe três oitavos. Definitivamente, ele já está bêbado. – Como pode ser mais estranho do que é agora?! Eu vou te falar, foda-se, é estranho mesmo, estranho pra caralho que vocês dois cresceram juntos e não se falam mais sem nenhuma razão aparente.
Hah. Se ele ao menos soubesse… Certamente ainda usamos a boca para discutir e fazer outras coisas.
– É, sei lá. Pergunta pra ela, pô.
– Cara, vocês agem como se o outro nem existisse e quando percebem a existência, é para brigar como… Como que o Jimin falou mais cedo? Ah, dois arqui-inimigos?! Tá ligado? É tão previsível e infantil. Comédia.
– Talvez eu seja mesmo o arqui-inimigo. – Dou de ombros. – E eu não quero ser amigo dela. – Dou mais um gole.
– Pfff… Jungkook, por Deus, era tão irritante te ouvir falar dela toda hora. Lembra daquela vez, sei lá quando, anos atrás, que teve uma festa da galera da sua escola e---
– Namjoon. Hyung. Você tá bêbado. – O corto e coloco a mão no ombro dele.
– É… – Ele pondera. – Acho que eu tô. – E concorda com a cabeça devagar, olhando para nada e rendido depois da mediação sem sucesso, talvez pensando e tomando consciência do seu estado. – Aaah, você sabe que eu odeio essa animosidade na galera! Mas desisto. – Ele resmunga ou choraminga. E usou “animosidade”, puts, corta o álcool.
Então ele começa a rir e me faz rir também, meio que porque o Namjoon bêbado é um alter ego muito doido e ao mesmo tempo para desviar rapidamente do assunto e aproveitar da amnésia repentina.
E nessa hora escuto a risada dela também, longe.
A risada de Moon é contagiante. E eu acho que eu até adoro esse som, mesmo querendo negar isso.
Esse riso deixa demônios e dragões de joelhos.
É um sorriso perigoso.
Ela está conversando com Taehyung. Subconscientemente, sinto como se eu lembrasse desse sentimento. De querer sua atenção. Reivindicá-la. Mas eu não poderia.
E eu sempre tento afogar nas sombras abissais desse inconsciente a proteção imediata que me apossa. E eu poderia aparecer ali, como tantas vezes fiz em tantos anos, só para dar uma de antagonista. Mas eu entro na espiral desses sentimentos familiares demais e eu não quero sentir isso. Não de novo.
Uma vida inteira colocado como o número um, só para rasgar cada fragmento disso. Eu me recuso. E inflamo.
Dou mais um gole da cerveja, mesmo com o tórax e a garganta queimando.
E como Sandy em Grease, que de repente se revela fatal e deixa Zuko no chão... Fatal é uma boa palavra.
Fatalmente nociva.
Apesar do nosso segredo, eu ainda sou eu. Ela ainda é ela. E nada muda, como há de ser.
♆
Perspectiva de Moon Aeri.
– Procurando pela potencial ficada da noite? – Taehyung diz com o típico sorriso malicioso nos lábios.
– Pff, Vante, eu só estava olhando as pessoas dançando, mas tá, né. – Rio. – E me perguntando quando iríamos nos juntar ali, sabe, onde parece estar a verdadeira diversão. – Ergo as sobrancelhas para ele.
– Paciência, pequena gafanhota. – Os lábios de Taehyung encontram a borda do copo e ele engole a bebida restante. – Temos que esperar o momento em que vamos engajar em algo que todo mundo esteja envolvido antes de nos aventurarmos na zona selvagem.
– Você realmente tem um método, não é, Kim Taehyung? – Cruzo os braços. – Me diz aí, usou isso comigo?
– Nah. Definitivamente não. Não para o "método" e não para tê-lo usado. E eu devia lembrar que quem me beijou primeiro foi você ou a gente deixa baixo? – Ele ri. – Mas tá, você acha mesmo que eu deixaria qualquer um de vocês chegar em alguém sem dar as palavras de incentivo certas ou, quem sabe, a coragem líquida suficiente correndo em suas veias? Eu sou a alma boa que reconhece quem necessita disso.
– Tão atencioso. – Reviro os olhos de brincadeira. – Onde eu estaria sem você?
– Não quero nem pensar que tipo de vida triste você teria. – Taehyung bate seu ombro contra o meu e seus lábios se abrem em um sorriso amplo retangular enquanto me olha. – De qualquer forma, você estava pensando nisso, não é? Conheço essa cara. Humpf. – Então ele observa ao redor como se escaneasse o melhor pretendente.
– Me surpreende VOCÊ estar me sugerindo isso. – Rio. – Porque não sei se você notou... Só tem basicamente nós aqui, os meus amigos.
– Hummm. Você está me sugerindo algo? – Agora ele quem brinca e ri, mas logo dispensa com um acenar de sua mão. – Zoeira! Mas, aaah, você deve se divertir se tiver afim, ué. Não fale como se eu fosse um guarda-costas, cabeção!
– Guarda-costas não. Meu ex-futuro noivo. – Digo, dando ênfase em cada palavra e ele gargalha. – Eu entendi o que você quis dizer com diversão.
– Af! Mas ó, tem outros caras aqui que você talvez não conheça ou não tenha sido apresentada, e eles são maneiros. Ou... Ao menos os que eu te apresentaria. É só me falar duas palavras e eu sei o que fazer.
– Anotado, senhor cupido. – Bato continência para ele e Taehyung sorri, então continua.
– E me conta, já teve alguma ação... Desde aquele “sei lá quem”?
– Ya! Quem disse que não tive nenhuma ação?
– Eu não disse, eu perguntei! – Ele ri. – Mas beijar o Jungkook naquela festa porque eu fui idiota não conta. – Taehyung olha para trás, encontrando Jungkook que está rindo com Hoseok, Yujin e Sora sobre sabe-se lá o quê. Então ele volta a atenção para mim.
Antes que ele diga qualquer coisa a mais, pego as bochechas dele com uma mão e beijo a direita. Só para depois rir do bico que se forma em seus lábios pela pressão que meus dedos fazem.
– Não se preocupe com isso, eu não preciso de coragem líquida. Quando eu quero, eu faço acontecer. Agora você sim, devia dar umazinha.
– Argh! – Ele ri alto. – Pode deixar que eu me garanto. – O garoto semicerra os olhos.
– E eu não duvido nada disso.
E é nesse momento que ouvimos Hoseok nos chamar enquanto gesticulava ansioso, então Tae pega minha mão e nos guia até o grupo à parte. O Kim dá um beijinho no dorso e exibe seu sorriso retangular para mim, o que me faz respondê-lo silenciosamente com um olhar zombeteiro. Quando nos aproximamos do grupo, percebo que Jungkook olha nossas mãos entrelaçadas com uma cara de desgosto. E eu rio por dentro.
Hobi puxa Taehyung pelo ombro, passando o braço por ele animado, e aponta para Yujin, continuando algum assunto que eles gostariam de saber da opinião de Tae ou algo do tipo. Então me viro para Sora e Jungkook.
– Ora ora ora, se não é minha melhor amiga e o menino mais insuportável do mundo? – Profiro, fazendo Sora abaixar o olhar e rir, balançando a cabeça.
– Sabe... – Jungkook continua parado bem onde estava, mas um sorriso travesso começa a se desenhar sarcasticamente em seus lábios. – Ser chamado de “insuportável” não me irrita do jeito que você pensa, Aeri.
– Não... – Olho para ele. – Mas talvez ser chamado apenas de “menino” sim.
E meu sorriso é convencido quando o dele se desfaz em uma carranca e revira os olhos.
Sora pigarreia e se agita, gritando para Yujin para que elas dancem a música que está rolando agora, deixando Tae e Hobi em seu mundinho à parte, mas algo me diz que ela propositalmente me deixou sozinha com o coelho de Satã.
– Aham, claro... – Jeon repuxa o lábio inferior com os dentes. – Seria porque você quer que eu te mostre como eu sou um homem... Certo?
Meus olhos logo me entregam ao aumentar de tamanho com a fala que qualquer um poderia ouvir, mas antes que eu o retruque, Yoongi aparece oferecendo um gole de soju, que Jungkook prontamente recusa.
Solto o ar em escárnio.
– O que deu em você hoje? – Pergunto para Jeon.
– Não tô na pilha de beber muito... – Ele diz, seus olhos deixando os meus antes de focar na garrafa de vidro que ele segura entre os dedos de uma de suas mãos.
– Mas ainda está bebendo cerveja. – Levanto uma sobrancelha. – É cerveja coreana?
– Uhum. – Ele responde arrastado e dá um gole curto.
– Posso experimentar essa?
Então Jeon me olha de lado por alguns segundos antes de estalar a língua na boca.
– Ok. Mas vai custar cinco pilas.
– Han? Cinco por um gole da sua cerveja? Mercenário. – Aponto para ele com a cabeça e ele ri.
– Como foi sua semana antes do feriado? – Jungkook pergunta despretensioso e quase me impressiona ele puxar assunto assim.
– Quer mesmo saber?
E ele apenas acena com a cabeça, piscando languidamente, ainda focando à nossa frente. Então solto um suspiro antes de começar a falar.
– Hum, exaustiva. – Resmungo. – Eu dormi quatro horas nas últimas noites e um dos meus professores teve a audácia de me dizer que minha resposta estava errada em um teste quando literalmente cinco outras pessoas tiveram a mesma resposta e acertaram. Sinceramente! – Ele ri e eu giro os olhos. – E aí eu fiquei tomando o café do trabalho como meu almoço e tive uma dor de cabeça terrível, o que resultou na soneca mais longa da minha vida na quinta-feira, estirada em um dos puffs do C.A. até o Jim---
– Pera, princesa, vai mais devagar. – Jungkook me interrompe com uma risada. – Muita informação que não estou conseguindo processar agora.
Abaixo a cabeça e rio também, antes de voltar a mirar nossos amigos que não davam muita bola para essa interação que ocorria entre nós.
– Tive dias melhores, com certeza. – Resumo. – E… Você?
– Tive dias melhores, semanas melhores, com certeza. – Ele sorri, mas quase soa exausto agora, como se algo o estivesse incomodando. Então eu olho para os arranhados no rosto dele e pondero sobre a possibilidade de falar algo sobre.
– Por que veio de batom escuro hoje? – Jungkook de repente pergunta, antes que eu tomasse uma decisão de questionar os famigerados machucados.
– Han?
Ele apenas entorta a cabeça.
– Por que não viria? – Continuo, enrugando o espaço entre as sobrancelhas. – Hah, não recebi o memorando falando sobre um dress code específico.
Jungkook concorda e lambe os lábios fitando longe e então fala perto do meu ouvido, sem me olhar.
– É que eu vou tirar ele de qualquer forma mais tarde.
Minha língua formiga e as palavras se organizam na ponta dela, mas elas jazem no momento em que escutamos Yoongi esbravejar, certamente já ébrio pra cacete para estar falando tão alto sobre não querer relacionamentos sérios e faz alguma piada sobre que só consegui ouvir o final.
– Pff, quem machucou o Yoongi? – Pergunto, mudando de assunto, e me encostando um pouco mais na parede atrás de mim, soltando uma risada só por ouvir a gargalhada deles.
– Acho que nem foi isso que rolou. Nós saberíamos se fosse o caso... – Jungkook diz, deixando escapar um riso. – Só acho que ele tem esse espírito livre, saca, e ele sempre enfatiza sobre como “não precisa estar em um namoro para estar bem” e todo o discurso... – Ele imita a voz de Yoongi de um jeito engraçado e irritantemente certeiro. – O cara ama ser solteiro. Mas eu entendo o ponto dele.
– Claro que entende. – Eu rio. – Você também pensa assim, hum?
– Eu? Claro. Não acho que preciso de algum relacionamento para atrelar a minha felicidade. Ninguém deveria usar isso de muleta, relações não deveriam ser assim.
Ouço suas palavras e concordo com a cabeça, pensando sobre.
– Tenho que admitir que você tem um ótimo ponto de argumento. Muito real. E eu odeio concordar com você.
– Mas não quer dizer que eu odeio relacionamentos só porque quero ser um “fuckboy”, ou sei lá o quê, como você pensa. – Ele diz e acena para alguém, despretensioso.
– Aham. E você espera mesmo que eu acredite nisso? – Rio e agora imagino que essa cena é cômica, como estamos conversando sem realmente nos olharmos e fingindo que não está rolando esse diálogo.
Mas isso não demora muito, quando meus olhos vão em sua direção depois de perceber uma inquietação e mudança repentina de humor no ar. Ele passa a mão pelos cabelos negros enquanto olhava para qualquer lugar e roça o polegar na ponta do nariz depois de estalar o pescoço.
– O que foi? Agora é você quem ficou chateado comigo? – Indago.
E Jungkook solta o ar bruscamente, mas meneia a cabeça sem graça.
– Não, é só que... Sei lá. Você ainda parece considerar tudo que já escutou de mim ou o que... – Ele expira. – Na verdade, faz sentido, mas acr---
– Do que você está falando? – Encaro confusa. – E não, não é só o que as pessoas falam de você. Eu fiz minhas próprias conclusões e não as tirei de invenções ou falatório aleatório.
Ele me olha de lado e ajusta a blusa que usa, sorrindo sem humor e passando a língua sob os dentes.
– Aeri. E eu não mudei tais conclusões?
Fecho os olhos e suspiro. Então o puxo pelo colarinho, e o pego de surpresa, fazendo com que seu corpo venha em direção ao meu pelo solavanco.
– Se tem uma coisa que eu odeio no mundo... É ser feita de idiota. Entendeu?
– E não deveria mesmo. – Seus olhos estão semicerrados.
– AERI! – Escuto Sora me chamar e solto o tecido entre meus dedos, ainda o olhando.
– Aliás, obrigada pelo café da manhã. – Digo antes de me afastar.
Jungkook não responde, apenas dá um gole a mais de cerveja me fitando, dando um impulso para sair do lugar e ir até a galera também.
♆
Perspectiva de Jeon Jungkook.
– Beleza, agora que estamos a maioria aqui... – Hoseok começa e Yuijn aparece do meu lado, sorridente, e passa o braço pelo meu ombro. – O que acham de todo mundo pular na piscina? Han, han, han?!
– Ih, bora demais! – A voz de um amigo nosso, Felix, profere animada.
– Sério? Vamooos! – O burburinho vai aos poucos aumentando entre as pessoas ao redor.
– AGORA? – Jimin exalta com os braços para cima.
– Puts, pior que eu estava aqui só de olho nessa piscininha... Bora! – Sora concorda, batendo palmas.
– Naaaah! Hoseok! – Intervenho e apelo para Hobi, acenando com a mão enquanto Yujin ri. – Vem cá... Vem aquiii!
– Que é? – Ele surge, sorrindo.
– Nem foi minha vez no beer pong! E agora vocês decidem parar? Argh. Sem contar que vamos molhar nossas roupas e só viemos com essas, pô. – O que é só uma semi verdade, porque nós sete temos sim outras roupas aqui, que estão sujas, suadas e ninguém lembrou disso, então foda-se.
– A gente pula pelado. Problema resolvido. – Ele responde fazendo “joinhas” com os polegares e uma dancinha esquisita.
– Todo mundo pelado. – Zombo. – Hoseok?!
– O que? – Ele ri mais, não me levando nada a sério.
– Não temos mais dezessete.
– Não temos mesmo, mas quer saber? Eu gosto da ideia. Não tem indicação etária para isso, ô Jungkook-ah. – Yoongi, MIN YOONGI, concorda justamente quando eu não preciso. O próprio advogado do diabo.
– Vamos pular com nossas roupas de baixo, duh! – Taehyung me dá um peteleco na testa, que tento revidar.
– Você tá querendo ver quem pelado, Taehyung?! – Pergunto quando dou um tapa em sua mão.
– EU? Tá doido! – E ele ri muito, uma risada nervosa.
– Olha... – Namjoon começa enquanto coça a barriga. – Eu não queria dizer nada, mas... Tem toalha pra todo mundo.
– Ah, pronto.
– Qual é, Kookie, tu nunca foi de se opor a uma brincadeirinha! – Hoseok ergue as sobrancelhas. – Já escureceu e ainda está TÃO quente... E temos LITERALMENTE a solução aqui! Para de ser desmancha prazeres, vai! Se não quiser entrar, é só ficar aqui.
– E cerveja GELADA, Hobi! CERVEJA. Eu quero jogaaaar, e eu ainda não venci vocês hoje. – Digo emburrado, se eu fosse admitir.
– Aish, Kookie...
– Pois eu topo. Deixa o emburradinho aí!
– Opaa, se não é a senhorita Choi Jennie ao meu favor? – Hoseok aponta para Jennie. – Então bora! Bora, bora! – Ele completa, tirando os sapatos.
– O que ainda estamos esperando?! – Yujin diz ao meu lado, seus dentes mordendo o lábio inferior para comprimir o riso.
– Yujin-aaah! – Protesto.
– Viu? Você vai sobrar.
– Hah... É, sei lá... Talvez realmente não seja lá a melho---- – Taehyung começa a mudar de ideia quando vê sapatos serem jogados pelo chão e eu gargalho alto.
– Aaah, certeza que o Tae pensou melhor e agora não quer mais mostrar as tatuagens zoadas que ele tem pra quem ainda não viu! – Rio e dou um tapinha nas costas dele.
– Será? – Aeri então se manifesta com os braços cruzados, em defesa de Taehyung. – Ou seria você quem está com vergonha de mostrar a tatuagem patriota que você tem?
– Han?
E os guris que ainda estão ao nosso redor riem.
– Vish, Jungkook, agora ela te pegou! – Yoongi diz enquanto ri.
– Pior que ela tá certa! – Jimin concorda e eles continuam rindo da minha cara. Eles lembram de quem estão rindo, né?
– TOMA! Valeu por me defender, cabeção. Viu?! Definitivamente não são piores que algumas suas, vacilão!
Hoseok que estava rindo, agora franze o cenho e faz uma expressão de confusão antes de falar.
– Mas espera. Moon, você tá falando da tatuagem patriota dele... Não é a tatuagem de tigre com aquelas faixas da bandeira com os trigramas?
– Hum! – Namjoon estala os dedos e aponta para Hoseok. – É! É aquela que ele fez depois do surto de achar que não era suficientemente coreano.
– Ué... Mas esse não é o desenho que você tem perto da coxa e da virilha... Jungkook? – Jennie me olha.
– Hah, como tu sabe que o JK tem essa tatuagem, Moon? – Yoongi se vira para ela.
Então ouço Jin engasgar e bater a mão contra o próprio peito.
– Hah... – Agora estou me divertindo. – É, Moon... Como você sabe que eu tenho essa tatuagem? – Pergunto, e agora sou eu quem cruzo os braços e a encaro.
Vejo o rosto de Aeri enrubescer no mesmo instante em que percebe a situação em que ela se meteu e eu faço questão de colocar lenha na fogueira, porque puta merda, eu tô claramente me divertindo com esse momento agora.
– Oxe. – Yoongi diz olhando para nós, segurando seu whisky, sem entender.
– Argh, seus idiotas! Esse imbecil fica postando fotos quase seminu nas redes! É por isso que eu sei e todos vocês sabem! – Ela se exalta e fica muito engraçada brava.
Os guris continuam rindo, concordando, mas ignoro a parte que ela fala sobre as fotos, porque meu sorriso triunfante ainda estampa meu rosto. Eu poderia até fazer uma piada sobre ela ficar olhando as minhas redes sociais, mas eu sei e ela sabe o porquê de ela realmente estar familiarizada com essa tatuagem.
Então a vejo balbuciar para mim um “vai se foder”.
O olhar da princesa de Seul poderia facilmente lacerar a minha alma, quando então ela se aproxima e tenta me dar um empurrão, sem muito sucesso e sem força, com as palmas das mãos nos meus ombros.
– Ei!
– Ó, vocês dois! Não vão começar com a implicância de vocês agora, hein! – Yoongi gira os olhos e reclama como um senhor que dá bronca nas crianças.
– ELA que me empurrou. Argh, idiota.
– E aí, vocês vão entrar ou não, cacete? Eu já tô pingando aqui. Ah, fiquem vocês aí. – Hoseok se queixa, mas já está começando a puxar a camisa.
– Eu não sei vocês, mas eu acho qu--- – Tae tenta intervir.
– Tá suando de calor ou de nervoso, Tae? – Me viro para ele e rio.
– Então decidido, vamos pular, com ou sem roupas. – Aeri diz, imperativa, ainda no seu modo brava.
– Ué, e quem decidiu isso? – Questiono.
– Eu decidi.
E ela me dá uma olhada antes de começar a tirar a roupa.
– Que porra é essa? – As palavras que eu penso saem em voz alta.
Parecia quase um streap tease.
Ou pelo menos na minha mente era exatamente um streap tease.
E não só para mim.
Por que ela estar tirando a roupa brava e sem pressa alguma parece tão sexy? Primeiro vai a jaqueta preta, depois os coturnos, então o vestido translúcido estava de cara no chão logo após um tipo de mini (mini) short preto que ela usava, e pronto, ela se despe revelando a lingerie de renda preta.
Puta merda.
Moon Aeri.
Eu posso quase sentir minha boca entreaberta e o maxilar mole, então o travo imediatamente e percebo que quem ainda estava ao nosso lado praticamente para de rir e observa a cena. Yoongi então tosse, coçando o nariz e o vejo olhar para o lado enquanto Hoseok vai de embasbacado para empolgado em milésimos de segundos.
– Assim que eu gosto! – Ele vibra e isso faz com que todo mundo também comece a tirar as roupas para ficarem apenas com as partes de baixo em uma empolgação generalizada.
Entre o farfalhar dos tecidos sendo jogados no chão e o barulho de água sendo jorrada da piscina com tantas pessoas pulando e gritando, eu pigarreio atônito. Ninguém mais me chamou atenção alguma. Então olho para o lado e vejo Tae tão estupefato quanto. Ainda mais depois de Aeri ter sido a primeira a tirar as roupas e o Kim ainda a mira, aparentemente.
– Bora, Tae! – Dou um tapa com o dorso da mão no peitoral de Taehyung para ele acordar para a vida, mesmo que eu ainda olhe para o mesmo foco em que ele estava olhando, e arqueio uma sobrancelha. – Vai ficar aí parado?!
– Eu n...
– Bora, bora! Anda!
– Tá louco, Jungkook?!
♆
Perspectiva de Moon Aeri.
Mergulho na piscina junto com Sora, a água está na temperatura perfeita e apesar de só ter realmente entrado para ir contra Jungkook, o frescor e a energia de todos reunidos é muito energizante e entusiástica. Sora está em seu habitat natural, ouço seus risos contagiantes em harmonia com os de Yoongi, Yujin e Hoseok, que me fazem transbordar também.
Me afasto um pouco e ajusto a alça do meu sutiã, quando passo meus dedos pelo rosto e cabelo, o puxando para trás, me viro para borda e encontro os olhos em feixes de Jungkook.
Quase engulo em seco com o olhar que ele me lança.
Era desafiador ao mesmo tempo que sórdido. E eu jamais admitiria isso para ele. E mais ainda, jamais admitiria o quanto isso me excitava.
Jimin diz alguma coisa que eu mal escuto, porque tento disfarçar o fato de observar os movimentos de Jeon, que agora suspira e, ainda me olhando, ele tira a camisa dele a puxando pela gola e exibindo assim os desenhos tatuados em sua pele. É óbvio que vários olhares estão claramente direcionados a ele agora.
Ele gosta de fazer o show.
Meu olhar desce inevitavelmente para as marcas que se misturam entre a tinta dos desenhos dele, marcas que eu mesma fiz na noite anterior, os tons arroxeados que eu adornei no conjunto da arte que se fazia pelo peito e base do pescoço dele. Não é fácil de serem notadas, estão perdidas entremeadas na tinta preta, mas eu sei.
Eu as fiz.
E quando Jungkook abre o botão da calça preta e abaixa o zíper, o cós que exibia a logo da Calvin Klein repetidamente, revela a cueca boxer branca.
Bacana.
Eu juro que ele parece ter umas trezentas dessas pretas, mas logo hoje ele está usando uma branca.
Sei que minha expressão obviamente incrédula é o troféu dele, porque ele dá um sorriso de lado e pula na piscina, para logo emergir e balançar o cabelo que adere em sua pele molhada, se livrando da água nos olhos e rindo em direção aos guris.
Desgraçado.
Mergulho novamente e vou para perto de Sora, Hoseok, Yujin e Yoongi, ou o mais longe que posso de Jungkook para não afogá-lo.
Mas a sorte não está exatamente do meu lado quando todos se posicionam em um tipo de roda esquisita, relaxados e curtindo o frescor da piscina, enquanto apenas alguns ainda brincam de jogar água uns nos outros. E Jeon fica direcionado quase que de frente para mim.
– Eu já falei que amo feriado? – Jimin diz, jogando a cabeça para trás e deixando a nuca ser atingida pela água.
Então algo me chama atenção.
Acho que eu nunca havia realmente notado, ou me ligado, como todos os sete tem a mesma tatuagem de dragão, apenas em lugares e tamanhos diferentes do corpo. Entorto a cabeça quando encaro por alguns segundos as escamas desenhadas na costela de Park... O dragão descendo do lado de seu peitoral até se perder no cós que escondia o restante da cauda e outros detalhes.
– É, vamos fingir que vocês não têm entregas para semana que vem e eu um TCC para terminar. – Seokjin ri, fechando os olhos fingindo sofrer.
Quando me viro para Jin, percebo que Jennie nada até Jungkook e passa os braços pelo pescoço dele, o abraçando por trás.
– Por que vocês ficam tão bonitos juntos?! – Uma amiga de Jennie comenta fazendo um coração com as mãos, acho que o nome dela é Se-jeong se não me engano, e ela se refere a Jennie e Jungkook. E ele apenas dá uma risada.
– É o contraste. – Yoongi complementa, apontando para os dois.
– Eu e Jungkook? Você acha? – Jennie pergunta, sorrindo.
– É, acho que você faz o tipo do Jungkook, só faltaria umas... Tatuagens ou ser mais... – Taehyung se junta à conversa, analisando, e Jungkook levanta uma sobrancelha.
– “Badass”? – Hoseok estala os dedos.
– É, tipo isso!
– Eita, como falam! Já estão bêbados assim? – Sora interfere. – Ô Namjoon, você não tinha comentado sobre briga de galo? Cadê, hein? Tá com medo de perder, é?
– Eu, perder? – Nam ri. – Depende, é você que vai ser minha dupla, Kwon?
– Eu passo, seria injusto demais com os adversários. Vou ficar encarregada das apostas. – Ela pisca.
– Humm, de apostas eu entendo. Então quem vai ser minha dupla?
– Eu quero participar! Vamos eu e você?! – Se-jeong levanta a mão animada para Namjoon.
– Pois eu quero ir contra o Namjoon. – Yoongi diz com uma convicção que só a bebida deve tê-lo dado para chegar ao ponto de se candidatar para a atividade.
Irremediavelmente, meus olhos vão direto em JK. Ele conversa com Jennie e, pelo papo anterior ou não, é frustrante agora ver o tanto que eles... Combinam.
Eu poderia apenas ignorar esse fato ou mal me importar com os comentários porque eles não fazem diferença no fim das contas, independente do motivo.
Mas a raiva que havia dissipado hoje de manhã?
Foda-se, ela voltou em 220 km/h.
Não importa o porquê ela vem ou de onde vem, mas acelera mais rápido que as motos de todos eles.
Jeon está em frente a mim e desse cara, que não lembro o nome, e Jennie ri em seu pescoço toda vez que ele diz algo engraçado.
E eu não estou exatamente desconfortável... Mas caramba, Jungkook se vira para Jennie quando a mão dela desce para os bíceps dele e eu uno todas as forças das fibras do meu ser para não revirar os olhos quando ele flexiona os músculos sutilmente. Nem acho que ele faz isso de propósito, provavelmente apenas por instinto, ou talvez ele só queira impressioná-la.
Mas sorrateiramente os observo por alguns segundos e então parece que fui pega no flagra quando Jeon encontra meu olhar, ainda rindo.
Rapidamente viro o rosto e me volto para a empolgação, envolta em gritos e risadas, e as meninas que estavam nos ombros de Nam e Yoongi brincando junto com eles em uma disputa de quem caía na água primeiro.
Até que a garota de cabelos curtos nos ombros de Yoongi cai na piscina e Se-jeong e Namjoon começam a vibrar com sua conquista, ela indo abraçá-lo para comemorar.
– E aí, quem são os próximos?! – Nam diz, animado.
– Eu, eu, eu! – Tae pula e chama a atenção para ele. – Vamo, Kookie?! – Ele desafia logo o obcecado por competição.
– Ya, tem que ser contra quem venceu! – Nam e Se-jeong protestam.
– Eu vou. Eu e Tae! – Jungkook mira Taehyung com um sorriso malicioso e travesso, se aproximando dele e tomando o lugar anteriormente de Namjoon e Yoongi. – Yu, vem comigo.
– Eu?! Nem vem, Gukk, eu vou ficar só olhando, mas ó, tô torcendo por você! – Yujin ri e acena em negação, puxando seus cabelos lilás para trás.
– Ah, bora, vai!
– Ih... Yoongi, quero ver você sendo minha líder de torcida! – Tae grita para Min, que apenas revira os olhos. – Cabeção, bora!
– Han? – Aponto para mim mesma. – Yujin? So? – Questiono olhando para ambas, esperando que elas me resgatassem da intimação e acenando para irem no meu lugar.
– Vai logo, A! – Sora diz, massageando meus ombros, usando o apelido que Jimin geralmente se refere à mim, e Yujin a incentiva.
– Vai, Moon! – Seokjin ri, encorajando. – E quem vai com o monstro competitivo?!
– Choi? – Jungkook aponta pra Jennie e seu indicador a chama. – Eu e você?
Ela que estava apenas observando, faz uma expressão surpresa e começa a rir, até ser empurrada por uma de suas amigas.
– Tá, vamos!
Hum. Vou até Taehyung e pressiono minhas mãos em seus ombros, mas não antes de sussurrar em seu ouvido.
– Se me deixar cair, eu te mato.
– Fodeu. – Tae coça a orelha esquerda e ri, logo flexionando os joelhos para se abaixar e deixar que eu suba minhas pernas entre seu pescoço, e então me segura firme para que eu não caia antes da hora. Assim espero.
– Taehyung...
– Não confia em mim não, ou?
Jungkook já está com Jennie sob ele e fita Taehyung, aguardando o começo da partida. Noto que ele passeia o olhar dos olhos de Kim para as mãos tatuadas do garoto em minhas coxas.
– Vamos ganhar essa porra. – Ele diz para Jennie.
– Posicionados?! Três, dois, um... Valendo! – Jimin grita.
Jennie não perde tempo antes de agarrar suas mãos nas minhas, ao passo que Jungkook vinha para cima de Taehyung. Sou pega de surpresa pela ação enérgica e repentina deles, mas Tae tenta se mover junto comigo e reclama dos pingos de água caindo em seus olhos.
– Se concentra, T-Tae! Aish! – Meu cabelo vai em direção ao meu olho e eu arfo, o Kim cambaleando para trás.
– Não se afasta não, vem pra cima. – Jennie diz determinada e segura meus pulsos.
Mano.
Giro meu punho molhado entre seus dedos languidos o suficiente para que ela perca o aperto e quando minhas mãos estão livres, olho para Jungkook e logo depois a empurro. Ela vacila para trás, mas o coelho de Satã se mantém firme na água e a segura mais forte para que ela não caia.
Mas que ó d i o.
E eu juro que eu vejo a mão de Jennie vindo na direção da minha cabeça, mas agarra meu ombro e eu me sinto escorregar pelos ombros de Taehyung, o que me faz quase cair dele pelo ímpeto, no momento em que as mãos molhadas dele tentam me prender e eu forço meu tronco pra frente. Sou eu ou isso de repente está ficando pessoal?
– Segura ela direito, Tae! – Jungkook esbraveja.
– Que?
– Argh!
Nos separamos por uns segundos, apenas o bastante para Jennie arrumar o sutiã no corpo, e logo vem para o ataque novamente junto com Jungkook, que estava determinado em ganhar. As mãos dela grudam nas minhas e ouço apenas o alvoroço de quem via o jogo, quando a risada de Jungkook e Tae me distraem e amolecem meu toque e essa é a vantagem que Jennie teve de me jogar para o lado e Taehyung claramente perder o equilíbrio, onde Jeon aproveita o tropeço para impulsionar mais seu corpo e consequentemente Jennie.
Depois disso eu vejo apenas água e eu engasgo com o contato repentino. Merda. Quando emerjo novamente, tusso algumas vezes e esfrego os olhos com força por conta do cloro, percebendo então Tae e Jungkook cada um de um lado meu, ambos segurando meus braços.
– Moon? Tudo bem?! – Jungkook pergunta exasperado.
Tusso mais uma vez, piscando.
E começo a rir.
– Aish. – Ele suspira, em uma mistura de alívio e impaciência, porque logo solta meu braço e se distancia.
– Cabeção, você nem se segurou!
– Eu?! – Tento soltar o ar de indignação em meio à tosse e aponto para ele. – Você quem tropeçou, Vante!
Mas continuamos nos olhando e rimos em seguida. Nesse intervalo de tempo Jennie se aproxima, postando o punho fechado para mim, e quando percebo, logo correspondo.
– Boa luta, Moon!
Sorrio aberto para ela e assinto, vendo Sora vindo em minha direção junto com Yujin.
– Você engoliu muita água?! – Sora questiona com os olhos esbugalhados.
– Não, não! – Rio.
– E não é que foi uma luta de titãs? – Ela me cotovela de lado e depois arruma o extensor da minha alça. – Gritei que nem uma doida!
– Pff, e nessa eu perdi.
– Eu também achei que vocês fossem ganhar, se te consola.
– Mas se ganha de outras formas! – Yujin ri com seu jeito inocente, colocando a mão em meu ombro, e eu concordo com a cabeça.
Jungkook se solta do abraço comemorativo de Jennie e anuncia que vai buscar mais bebida para ele.
– Gente, vou pegar mais um copo pra mim também, o meu já deve estar perdido em algum lugar por aí! – Digo para ambas e Sora pede para que eu traga um copo só com energético para ela. – Beleza, já volto. Me esperem! – Pisco.
Subo as escadas da piscina ajustando a calcinha em meu quadril e sinto alguns olhares em mim, mas mal consigo registrar isso, já procurando ferozmente pelo meu mini short e vestido que deixei jogados pelo chão, além de uma das toalhas dispostas nas cadeiras reclináveis.
Jungkook sobe logo depois de mim. Pego minhas peças e a toalha, e quando estamos afastados o suficiente em direção à cozinha, empurro contra seu corpo encharcado sua calça jeans, atingindo seu dorso esculpido e o fazendo arfar pelo sobressalto e susto.
– Ninguém merece ver isso. – Digo entredentes, o olhando de baixo para cima e viro as costas, apenas ouvindo seu riso soprado e ele resmungando algo que não consigo discernir.
Adentro a cozinha da cobertura e me seco o suficiente para vestir o short e o vestido até a cintura apenas, mesmo ainda sentindo a sensação molhada da peça de baixo, o que me provoca uma careta de desaprovação; vou a procura de um copo novo, bebida e um misturante. Ah, e o energético da So.
Abro a geladeira e tento identificar as bebidas pelas cores e rótulos. Então, ainda debruçada sobre o eletrodoméstico que ilumina a variedade do "menu", ouço passos logo atrás de mim.
Jungkook aparece na cozinha usando somente suas calças (o zíper ainda aberto) e uma toalha ao redor do pescoço, que ele usa para tentar secar os cabelos.
– Fugindo porquê perdeu?
– Veio esfregar isso na minha cara? – Não faço questão de olhá-lo, apenas fecho a porta da geladeira e coloco o que preciso na bancada. – Também existem péssimos ganhadores, sabia?
Ele ri e abre a geladeira novamente depois de dar uma olhada em direção a porta.
– Eu e Taehyung ainda somos uma boa dupla. – Continuo e dou de ombros.
– Ô. Se tivesse ido comigo, não teria perdido... – Ele fala, tentando achar algo no freezer, com o cenho franzido.
Paro no ato de abrir a garrafa de bebida e o olho.
– Acho que querem sua presença de volta na piscina. Vai lá e continua o jogo. Você sempre odeia perder mesmo. – Profiro, acenando com a cabeça para a porta enquanto desenroscava a tampa, e ele se vira para mim.
– Não, mas isso não é perder, Moon... – Ele murmura e fecha a geladeira em um baque, se aproximando de mim. – Esse sou eu ganhando... De novo. – E agora eu quase consigo sentir o sangue correndo para o meu rosto. Balanço a cabeça, o empurro, o que o faz se afastar e sorrir de lado.
– Pelo amor... Me poupa, vai.
Solto o ar pela boca e me viro para bancada de novo. É claro que ele aproveitaria qualquer chance para se gabar. Ele adora vencer, e eu sei que mesmo uma partida idiota na piscina, na frente de todos, era apenas alimentar o ego de Jungkook.
E se - apenas se - eu tivesse que admitir... Esse momento confiante... Esse seria o único tipo de momento que eu acharia a arrogância dele atraente.
– Se queria que a gente assumisse nosso rolo para galera, me avisasse antes... – Jungkook diz no meu ouvido, seu corpo encostando em minhas costas, mas logo se afastando e me encara.
– Do que está falando?
Ele dá uma risada soprada.
– Ficou envergonhada, não é? Ato falho. Bem feito.
– Ato falho? Ato falho foi ter te beijado naquele maldito happy hour.
– Hah, por que estão trazendo isso à tona hoje?! – Ele gira os olhos falando sozinho e eu não entendo, pisco meio confusa, mas ele continua. – É, pode ser... Mas SE o ato falho foi ter me beijado naquele “maldito” happy hour... Você costuma persistir nos teus atos falhos, princesa?
É claro que ele teria uma resposta na ponta da língua. Me viro de costas para ele e solto o ar alto, tentando abrir o armário de cima para pegar um copo.
– Hah, touché... – Ele provoca. – Ainda ficou parecendo que você fica me stalkeando nas redes... Você gosta de ficar olhando para as minhas fotos quando eu não estou por perto, Moon?
Hah. Esse garoto está brincando com o fogo.
Porém, antes que eu retruque, ele se coloca perigosamente logo atrás de mim, facilmente pegando um copo no armário que estou tentando alcançar à nossa frente e instantaneamente sinto minha pele eriçar.
Eu devia ter me secado melhor. Cacete.
– Eu não fico te stalke--- Argh! Você está sendo óbvio demais. – Digo, tentando cotovelar seu dorso para que ele se afaste de mim.
– Eu? Hah, eu tô sendo óbvio? E você não foi quando falou da tatuagem?
– E você só vai piorar estando aqui. – Repreendo em voz baixa, mas "ameaçadora".
– Eu só vim pegar outra cerveja, pô. Aqui não é exatamente um lugar privado. Qualquer um pode vir aqui.
– Exatamente.
Ele dá uma olhada para a porta para ver se alguém se aproximava e depois volta a atenção para mim, balouçando as madeixas escuras ainda molhadas de água da piscina.
Então o ouço, ainda atrás de mim, puxar o ar entre os dentes.
– Aliás... Eu nem ia falar isso pra não te deixar aí toda convencida, mas... Sabe... – Ele profere, arrastando devagar o indicador pela alça do meu sutiã, de cima para baixo. Perto demais. – Eu devo dizer que eu gostei muito do branco, do azul... De todos que eu tive o prazer de te ver vestindo antes de eu tirar, hah... Mas preto, é a minha cor favorita. E realmente combina tanto com você...
Ele ri sacana.
Fecho os olhos e tento manter minha sanidade intacta. Mas meu corpo parece estar sendo puxado em direção ao chão, enquanto meu coração está vacilante, retumbando em meus ouvidos. Idiota. Não me viro. Mas uma voz no fundo da minha mente quer olhar para os olhos negros e proibidos, apenas para ver a escuridão turbilhonar ao redor da íris, ver a luxúria e o fogo começar a crepitar. Para mim.
– Será que... Agora eu te deixei sem palavras? – Ele continua. – Han? Você tinha tantas ontem.
Esse garoto maldito.
– Você pulou na piscina de cueca branca. – Me viro de súbito, e agarro o queixo dele. E Jungkook ri com o queixo ainda entre meus dedos.
– Eu não recebi o memorando falando sobre um dress code específico das partes de baixo, hah... – Sorrio, olhando para o lado desacreditada, com a língua entre os dentes. – E eu tentei evitar esse momento, mas você quem incitou tudo tirando sua roupa na frente de todo mundo, não?
– Ah, é? Não é como se você nunca tivesse visto antes... Ou provado antes. – E ainda o encarando, fecho o botão de sua calça.
Meu olhar enfurecido desce de seus olhos pra boca dele e me viro de novo, minha bunda propositalmente roçando nele, e volto para minha tarefa e a garrafa de misturante para complementar o copo vermelho, ao passo que ele deixa a lata de cerveja que ele acabara de retirar da geladeira na bancada.
Ele tem razão. Eu também gosto desse jogo.
Nesse, só tem um desfecho. E eu ganho.
– Hah... Me diz quando pudermos ficar só nós dois de novo pra eu fazer isso de forma apropriada.
– Ontem não foi o suficiente? Não está atrás de uma nova presa? – Desafio. – Eu estaria.
– Ah, estaria?
Então Jeon tira a garrafa da minha mão, a deixando na bancada e espalma as mãos a minha frente, me enjaulando em seu movimento ágil.
– Tsc. Moon... Quer saber o que é pior? Eu nunca me canso de você. Nunca tenho o suficiente, sempre quero mais. Essa é a parte que eu mais detesto. – Ele desliza a ponta do nariz pela curva do meu ombro e a adrenalina de alguém aparecer a qualquer momento aqui torna tudo mais excitante ainda. – Eu te disse isso ontem... Ao menos eu admito.
– O que quer dizer com isso? Você quem tem algo a admitir.
– Hah, uhum... – Ele diz me instigando, porque soa como se não acreditasse. – A real, princesa... – Ele continua, deslizando os lábios até meu ouvido. – É que eu queria muito te beijar agora...
Não respondo, mas não deixo de pressionar mais minha bunda contra ele quando ele termina de falar.
E ele inspira o ar entre seus dentes.
– Você está tentando me deixar duro? – Jungkook pergunta baixinho, mas em um tom sôfrego e sério.
– Está funcionando? – Claramente a tentação e a excitação estão em vantagem aqui. E eu poderia sair do meu corpo e me acertar na cara.
– Hah... Eu estou tentando não ficar duro. – Ele diz no mesmo tom baixo e grave, como se estivesse contando um segredo. – Não comece algo que você não pode terminar.
– Não vejo problema, eu posso muito bem terminar sozinha. Mas é sempre tão bom te ver perder para mim... – Murmuro, colocando um pouco de bebida no copo já cheio com o misturante e pegando uma latinha de energético. – Isso aqui não é um jogo imbecil na piscina.
– Humm, não, não é. Você quer tanto me ver ceder assim pra você aqui? Lugar errado.
– Devo lembrar que é você quem quer me beijar aqui?
– Eu já disse que isso aqui sou eu ganhando, então...
– Tsc, tsc, tsc. Será? – Respondo quase contra sua boca e Jungkook me encara com um olhar ilegível, murmurando uma maldição sob sua respiração. Então me viro por completo e solto um riso soprado, logo saindo e passando pelo garoto.
Salvos pelo gongo.
Porque logo após eu pegar os copos e me dirigir até a porta, Yujin aparece.
E menos de 3 minutos depois, Taehyung.
“Boy, gonna diss me? Boy, I'm so pissed. Boy, gonna miss me. Boy, you are dismissed... 'Cause I don't fall for boys like you. Boy, wanna date me? Boy, outta date. Boy, outta my way.”
♆
Perspectiva de Jeon Jungkook.
– Parece que cheguei antes do furacão! – Yujin ri e pisca para Aeri quando ela ia em direção a porta. Argh.
– Ah! Quer que eu te espere?! – Aeri sorri e levanta as sobrancelhas solicitas para Yujin, na expectativa.
– Não, não, pode ir, encontro vocês já já! – Yu acena e Aeri então concorda animada, saindo do recinto. – Oh, Kim!
– Lee. – Tae a cumprimenta e passa reto, indo direto para a geladeira.
– Tô vendo que está se dando bem com as gurias, hum? – Pergunto, mudando completamente de humor e rindo para a garota, já totalmente vestida e apenas com o cabelo lilás molhado.
– Elas são tão legais... Acho que temos ficado mais próximas a cada vez que nos vemos, então me sinto menos perdida! – Ela ri. – Sempre me incluem mesmo quando eu não espero e eu considero muito isso. – Yu balança a cabeça uma vez, enfatizando sua fala.
Sorrio para ela.
– Então, também veio em busca de reabastecer seu copo, Yu? – Questiono tamborilando os dedos na cerveja que ainda nem abri. – Pegou uma toalha para você?
– Vamos ver o que temos aqui, né... – Ela inspeciona o freezer. – Ah, e sim, peguei sim, Guk! Para de se preocupar!
Passo a mão no topo da cabeça dela, bagunçando seu cabelo e ela tenta recuar, mas ri.
– Ah! Quer que eu coloque um pouco de makgeolli⁴ pra você? Eu tô só no maekju⁵ hoje. – Ofereço.
– Makgeolli? Ahm...
– Acho que ela pode preferir um Bokbunja Ju⁶. – Taehyung se intromete e sugere, ainda pegando sua própria bebida, sem olhar para nós dois.
– Bokbunja Ju? Taehyung, esse licor é forte, a Yu gosta de beber makgeolli. – Digo, pegando a garrafa avermelhada da geladeira. – Ela sempre bebe esse negócio, ela curte o de framboesa pret---
– Ah, hah, na verdade acho que vou de licor hoje, Guk! Tem sido minha preferida ultimamente. – Ela apoia. – Mas só um pouco mesmo.
– Uhn? Ah, é? Oh... – Pisco. – Eu tinha comprado esse pra você.
Ela me olha por alguns segundos como um peixe fora d’água.
– Pra mim? Não, por favor, então vou querer o vinho!
E eu rio.
– Para de ser besta, não tem problema nenhum, Yu! Tome qualquer coisa que você quiser, é tudo seu. – E devolvo a garrafinha para a geladeira e pego a outra, mesmo em meio aos seus protestos. – E bom chute, Tae.
Ela sorri concordando ainda um pouco sem graça, estendendo seu copo, constantemente com suas maneiras extremamente polidas mesmo em meio aos seus amigos, o que sempre me faz rir.
Taehyung comprime os lábios em um sorriso fechado e levanta a própria bebida, em um brinde silencioso, e passa por nós, saindo da cozinha.
• ━────── ☾ ──────━ •
– Não, e tinha um monte daqueles velhotes chatos enchendo o meu saco, sério, eles queriam saber minha opinião em tudo e chegou um momento que eu tava me cagando em dar alguma resposta errada! – Jin estava dizendo. – Estavam me testando. Certeza.
– Duvido, você sempre dá as respostas certas porque tem propriedade, por isso te cercam tanto.
– Ah...
– Para né, você sabe que é verdade, hyung.
– Hah. – Jin coça o pescoço, sem graça. – Ainda bem que o Kookie estava lá também. Bom, pelo menos em uma boa parte da noite.
– Onde eu estava? – Apareço no meio da conversa que Seokjin tinha com os outros guris na beira da piscina, depois de passar um tempo conversando com Yujin na cozinha e ter colocado minha camisa novamente.
– No começo da semana, aquele jantar chato, digo, incrível da empresa, Guk. – Ele ri. – Ah, a Jennie também estava lá, pô!
– Hum! – Yoongi engole algo em sua boca. – Seus pais também foram, Choi? – Yoongi pergunta, petiscando um pedaço de peixe branco, que Namjoon aparentemente deixou em uma travessa para que quem quisesse pudesse desfrutar.
– Uhum. – Jennie resume sua fala. – Jungkook me levou.
– Deve ter sido uma maravilha esse jantar, ou melhor, reunião disfarçada de jantar. – Min continua.
Então vejo Aeri levantar uma sobrancelha para mim.
E quando percebo, levanto a minha para ela em resposta. Ou em pergunta.
– Eu só posso agradecer por não precisar fazer parte, eu e Jeon garantimos a aventura da noite depois. – Ele ri enquanto come e me olha.
Reviro os olhos e lembro dos amassados na porra da minha moto.
– O troco vai vir.
– E para onde você fugiu depois, hum? – Jennie se vira para mim, junto com o olhar de suas outras duas amigas.
– Segredo. – Digo.
– Ele foi brigar, claro. – Jimin diz, levantando as sobrancelhas e dando um gole de seu copo. – Olha a cara dele.
– Jimin, quando alguém diz “segredo”, você não fala o que é!
– E isso é segredo pra quem?!
Claro que ele sabe exatamente o que fui fazer na Höllisch quanto às apostas, mas também não mentiu na parte da briga.
Jennie ri e continua me olhando, balançando os pés que ainda estavam submersos na piscina.
– É. – Ela grunhe e fita a água, mas logo solta um riso. – E você, Tae, levou Aeri e Sora para o drive-in sem nós?! Fiquei sabendo! – E ela empurra o braço de Kim, brincando.
– Uhn?! – Tae indaga surpreso. – Ya, coloca o Jimin nessa conta! Como vocês podem saber de tudo, hein? – E ele ri, passando a mão pelo rosto. – Sempre saímos pra comer, pô. Não é que nem você e o Jungkook.
– Negativo. Era um jantar de negócios da empresa, Taehyung. – Afirmo prontamente e me encosto na parede atrás de mim, retirando do meu bolso um abridor de latas no chaveiro junto das chaves. – Que inclusive era para você ir e ficou de enrolação.
Então Tae começa a rir e faz um “X” com os braços.
– O Taehyung é tão bom funcionário que até me emociona. Vai levar advertência da diretoria, hein! – Hoseok comenta, rindo.
– Eu estava trabalhando na empresa na hora desse jantar só pra você saber, tá?!
– Certamente a diretoria não vai advertir os nepo babies.
– Escuta aqui, Yoongi---
Eu rio escutando a discussão besta e meneio a cabeça.
– Aí, vou no banheiro, já volto. – Digo e saio da área da piscina, deixando a cerveja em cima de uma mesa de vidro.
♆
Passo os dedos pelo meu cabelo ainda úmido enquanto estou encostado no fim do corredor da área de banheiros da cobertura de Namjoon. Passam-se poucos minutos apenas, mas eu não me decepciono quando vejo o vulto dela ser iluminado pela luz que automaticamente acende quando ela move.
Touché.
Eu sabia.
Saio da área escura, me aproximando quando percebo que a garota olha para os lados.
– E o que você está fazendo aqui? – Pergunto sem rodeios.
A respiração de Aeri trava, mas sinto seu corpo relaxar quando minha mão casualmente a mantém contra a parede atrás de nós, espalmada ao lado de sua cabeça. Então meus dedos deslizam pelo seu lado, chegando até o antebraço, e meu corpo paira logo acima do dela.
– Hum? – Indago novamente, em voz baixa.
– Eu não estava seguindo você. – Aeri responde convicta com o vinco estreitando-se entre suas sobrancelhas e levantando o rosto para tentar falar praticamente contra a minha boca, imperativa.
– Eu não perguntei isso. – Arqueio uma sobrancelha.
– É, mas também não tem como você ter tido tempo suficiente para usar o banheiro até eu chegar aqui. – Ela responde teimosa. – Então, você estava esperando por mim?
– Defina esperar.
E os olhos dela dançam entre os meus, com algum tipo de emoção que não sei desvendar. Mas não demora muito, porque logo ela volta a compostura imperiosa.
– Você deixou ou não deixou a conversa na piscina apenas para vir até aqui e esperar, torcer, que eu viesse também? – Ela demanda, e seu olhar vacila para minha boca.
E ao invés de responder sua intimação, eu inclino a cabeça. Meu nariz se arrasta lentamente pela curva da garganta dela e sinto seu corpo tensionar.
Hah.
– Eu diria que essa pergunta é desnecessária. – Murmuro. – Dado ao fato de que nós dois estamos aqui. – Sorrio contra seu pescoço e ela arrepia.
– Jeon.
– Não sei... Talvez você ainda queira realizar o seu desejo de me pegar no banheiro, o desejo que você deixou bem claro para mim naquela ligação no dia do rolê na casa do Hoseok que eu não compareci.
– É, porque você estava “doente”. – Aeri revira os olhos e tenta fazer as aspas com os dedos.
– Mas eu compareci depois.
– Tsc. Jungkook… – Ela começa em um sussurro firme e entredentes, olhando para seu lado direito para ver se ninguém apareceria. – Fala sério. Você vai me contar de uma vez o que aconteceu com seu rosto e seu ombro?! – E seus olhos se levantam para mim, que ainda a fito de cima.
– Não foi nada.
– Hah, tá bom. Você sempre diz que não é nada, mas então v---
– Eu fui na Höllisch depois do jantar, fui com o Yoongi. – Digo, ainda com a mão estendida ao lado de sua cabeça. – Mas... Meio que fizeram uma emboscada idiota para nós dois e eu acabei caindo da moto.
E levando uns socos, mas não preciso falar essa parte. Eu revidei.
– Quê? Mas que porra, quem foi que...
– Minha moto ficou pior que eu, acredite.
– Foda-se! Jungkook, que merda é essa! – Ela sussurra, mas um sussurro mais alto. – Você sempre diz e parece ter tudo sob controle!
– Eu tenho tudo sob controle, princesa, mas eu não posso controlar quando um maluco vai me atacar por não aceitar que não pode me vencer.
– Te vencer? Espera. – Ela fecha os olhos por um segundo e levanta a mão, até me olhar de novo com adagas nas pupilas. – Isso é por conta das corridas de moto?! Caralho, Jungkook. E quem iria querer---? – Ela não termina sua frase, deixando no ar sua pergunta.
Suspiro.
– É um comédia que eu venci em uma corrida, ele ainda não entendeu que ele é um lixo. Ele quer revanche, de novo, e fica inventando desculpas pro fato dele nunca ganhar e então quis nos pegar de surpresa que nem um novato, mas não surtiu muito efeito comigo e Yoongi, então...
Ela está preocupada?
– É aquele cara babaca que apareceu uma vez no drive-in?! – Ela se agita. E eu quero rir pela forma que ela xinga alguém que ela nem sabe ao certo quem é, mas que mexeu comigo. – Eu lembro, tinha um cara que apareceu lá e implicou com vocês, com... Com você, especificamente.
– Uhm, não lembro, mas deve ser, ele é um pau no cu. E bem corajoso, porque não parece entender com quem está lidando. Fica dando sorte ao azar.
Aeri parece ter uma pane em sua mente, como se estivesse se segurando para não começar algum discurso de protesto ou ejetar em mim qualquer advertência moral que estava na ponta de sua língua. Mas ela só faz sua cara de pura ira e fecha os olhos mais uma vez antes de voltar a falar.
– Não, isso é loucura. Eu quero ir na próxima corrida.
– Definitivamente é. Você sabe que a resposta é não.
– Eu vou.
Porra.
– Moon... Você sabe que eu nunca vou concordar com isso.
– Por que?!
– Porque... – Suspiro e pinço a ponte do meu nariz. – É perigoso, eu vou ficar agoniado com você lá! Você devia confiar um pouco mais em mim.
Ela balança a cabeça.
– Então mais um motivo para eu ir. – Ela me olha assertiva. – Você quer que eu me comporte. Eu quero ser impertinente. Desobediente. Ainda não entendeu?
– Eu quero que você se comporte? – Solto uma risada. De onde ela tirou isso? – É, garotas bonitas sempre causam problema...
– Para, não muda de assunto. – Ela diz com uma feição mais séria.
– Eu não estou! – Mas aproveito para deixar selares na bochecha dela quando ela abaixa a guarda. – Você é muito teimosa, garota.
– Obstinada.
– Ah, é? Hum, ok. Gosto... – Rio contra sua bochecha e dou mais uma olhadela em direção a entrada do corredor. Eu quero desviar desse assunto e ainda tenho mais uma coisa a falar. Ou questionar. – Vem cá.
A pego pela mão e coloco o dedo na frente dos lábios para que ela continue fazendo silêncio, mesmo quando ela franze o cenho e gira os olhos. Então abro a porta do banheiro ao nosso lado, e quando ela passa, dou mais uma olhada para o lado de fora e fecho a porta atrás de nós e só escuto a movimentação e risos longe, trancando a entrada com a chave.
– O quê você pensa que está fazendo? Nós temos que vol---
– Tentando te fazer mudar conclusões precipitadas.
– Minhas con... Hah... – Ela passa a língua pelos dentes quando entende a referência. – Sua reputação te precede. Você vai ter que se esforçar mais… Mesmo.
– Ah, eu sou muito esforçado. – Sorrio de lado. – Moon...
Ela levanta o nariz para mim e faz uma feição impaciente. Tão mandona.
– Me fala. – Continuo, sem me abalar com sua atitude. – Algo me diz que você soube sobre o tal jantar antes... Não soube? – Indago, me encostando na bancada da pia.
E eu a quebro.
Aeri abre a boca como se fosse dizer algo, mas logo a fecha e continua me olhando tentando achar uma reação cabível ou que não a denunciasse. E ela fumega.
Então ela sabia mesmo.
– Agora faz sentido. – Me divirto. – Ontem à noite, o jeito que você estava agindo mais marrenta do que o normal. Uhum, agora faz sentido. Hah... Mas eu gostei... – Então entorto a cabeça. – Ciúmes?
– Ciúmes? Hah... – Ela finalmente fala e olha para o lado, indignada, então me fita novamente. – Você bem que quer me ouvir dizendo que sim, não é?
– Não sei, talvez... Mas não precisa me dizer nada também; não quando eu sei exatamente a forma como você agiu depois. Braba. Tudo já tinha sido sexy demais pra mim, mas agora é trezentas vezes mais. Hah... – Eu adoro ver as reações dela. – Quem te falou sobre?
– Não importa! – Ela revira os olhos para o lado sem vigor e sua fala sai um pouco mais baixa. – Eu só fiquei sabendo que você iria jantar com a Jennie.
– Princesa... – Agora sinto que tenho que falar mais sério. Ela merece uma explicação minha pelo mal entendido, definitivamente ela entendeu errado. – Era realmente só um jantar de negócios estúpido, cheio de sócios e acionistas, que eu fui basicamente incumbido de levá-la. O Jin estava lá também e o Taehyung só não foi porque ele inventou uma desculpa. Se eu soubesse que você tinha ficado sabendo de forma equivocada, eu teria dito antes, mas como era só mais uma reunião como qualquer outra do trabalho... Argh. Os- os pais dela particip---
Então ela balança a cabeça, cessa nossa distância e com isso me cala com um beijo inesperado.
Mas eu estava esperando pra caralho.
Os braços dela envolvem meu pescoço e minhas mãos se abrigam e permanecem presas em sua cintura, a apertando, sentindo sua pele deliciosa entre meus dedos, e a deixando contra a parede do lavabo pequeno.
É tão bom, eu odeio isso.
Odeio como ela me beija, odeio como ela lambe meu lábio e o morde, me provocando; odeio como seus dedos apertam minha nuca, odeio o jeito que ela me tem rendido quando sua língua encontra a minha, odeio o sorriso que ela dá entre nossos lábios.
Odeio adorar tanto isso.
– Acho que não sou só eu que estava na vontade, não é? – Meus lábios se desprendem dos dela momentaneamente e falo perto do seu ouvido.
– Idiota. Você diz isso, mas não facilitou pra mim, você me... – As palavras morrem em sua boca quando ela encontra a minha de novo só para então eu indagar.
– Te deixo com vontade? Hum? – Minha língua então lambe seu maxilar e ela cede.
– Uhm...
– Uhum, princesa? Hah... – Solto um riso soturno. Que tesão do caralho. – Lembra do “jogo” que falamos? Então é isso? Age como se não me suportasse na frente dos nossos amigos, mas quando eles não estão perto... Mal imaginam que sou eu quem te deixa toda... Molinha. – Rio e ela levanta uma sobrancelha. – Tô mentindo, princesa? Claro que não, né? – E a beijo novamente.
Eu embrenho meus dedos pelos fios de cabelo molhados dela enquanto nos beijamos, mas então Aeri se afasta, selando nossas bocas, e pega essa mesma mão e passa suas digitais pelas feridas das minhas juntas, apenas para pouco depois soltá-la e me encarar.
– Será, Guk?
Minha expressão vacila quando o apelido infantil sai pelos seus lábios. E então meu polegar encontra seu queixo, o dedo indicador descansando logo abaixo para inclinar sua cabeça para trás levemente. Eu quase sorrio com sua complacência.
Mas franzo as sobrancelhas. Me perguntando como algo tão teimoso e enigmático adentrou sorrateiramente em minha vida tão meticulosamente calculada.
– Mal imaginam eles que o amigo deles me aguarda escondido entre banheiros e aparece na minha casa quando nem é chamado. Mal imaginam que me levou na casa dos meus pais em uma viagem de pelo menos três horas só de ida, mal imaginam que já me mostrou o galpão das famigeradas corridas estúpidas e mal imaginam o que nós dois já fizemos sozinhos sem eles terem o menor conhecimento... Os sons que eu arranco de você e as palavras que você deixa escapar sem nem perceber. Sou eu quem te faz fazer tudo isso. Tô mentindo? Claro que não, né? O que eles pensariam disso, hum? – Ela se afasta e profere, passando a língua pelo canino. – E só pra constar, eu não estava com ciúmes, apenas curiosa. – Seu rosto se contorce para aquele olhar severo e obstinado, como ela diz, novamente. Foda-se, eu adoro esse olhar.
Hah. Ela me cercou nessa.
E me pego pensando novamente. Por que fazer tudo isso escondido deixa tudo muito mais excitante? É quase como nas corridas ilegais; o medo de ser pego, a velocidade desafiando os limites, tudo em ritmo acelerado, a possibilidade de se ferir... A adrenalina. Eu devo ser viciado nessa porra, na sensação da consciência de estar vivendo.
Seja lá qual for o fim disso.
Eu não posso evitar, a impulsiono contra a porta e a beijo novamente, com força, antes que ela pudesse continuar, simplesmente porque eu não quero mais a minha boca afastada da dela. O beijo a deixa sem fôlego, sua íris então me fita sob os olhos encapuzados, com desejo e atônita.
Aeri cede imediatamente. Tão rapidamente que faz minha cabeça girar, ou talvez fosse o álcool, ou talvez fosse apenas o gosto doce e inebriante de sua boca. Puxo seu lábio inferior suavemente entre os dentes e sua única resposta foi o mais mélico gemido em sincronia com seus dedos que deslizam em meu cabelo.
Eu adoro quando ela faz isso, e a beijo com mais força, apenas esperando que ela roçasse suas unhas em meu couro cabeludo e nuca, porque eu nunca pediria por isso. Quando Moon o faz, desperta uma descarga elétrica que perpassa todo meu ser até parar na garganta, e é minha vez de inevitavelmente gemer entre sua boca e trazê-la para mais perto do meu corpo, enquanto minha mente ainda tenta fugir dela.
Me lembro da noite anterior, em que ela estava enfurecida em seu dormitório, e eu chupei e lambi todo seu corpo, traçando meus próprios percursos em sua pele enquanto ela continha os grunhidos e agarrava seu travesseiro como se nunca tivesse sentido nada parecido antes. Como se eu e apenas eu pudesse lhe dar esse prazer irreal.
E eu fico embriagado com essa sensação, afaga meu ego, me deixa louco. Me deixa...
– Curiosa? – Cesso nosso beijo e meus olhos a encaram ansiosos enquanto eu antecipo a forma como seus dedos se moverão contra mim em seguida. – Humm, tudo bem, princesa... Eu entenderia se você não quisesse compartilhar. – Sorrio de lado. – Eu sei que eu não quero.
– Ah, eu tenho compartilhado? – Aeri questiona, erguendo uma sobrancelha e tracejando a ponta de seus dedos pela minha mandíbula, alternando seu olhar das minhas pupilas para onde suas digitais tocam.
Como ela ainda pode ter dúvidas?
Aproximo meu rosto do dela e pego a mecha que sempre teima em cair sob seus olhos, sentindo a textura do seu cabelo sob meus dedos, a fitando, até pender a cabeça o suficiente para sussurrar perto do seu ouvido esquerdo.
– Por que eu iria querer transar com qualquer outra pessoa?
Beijo seu maxilar e Aeri vira o rosto, me beijando propriamente. O beijo que intoxica e entorpece todos os meus sentidos até que eu esqueça qualquer percepção pré-concebida.
– Agora eu acho que queria que você estivesse, hummm... – Sorrio e falo contra sua boca. A aproximando mais de mim, apertando sua cintura e descendo minhas mãos até que chegassem atrás de suas coxas, a erguendo. – Com um pouco de ciúmes... Só para querer ser malvada comigo no anseio de que isso me ensinasse a nunca querer ninguém além de você. – Solto uma risada sacana e a beijo novamente. – Será que eu não vou ver esse seu lado de novo?
– Mais? Hah, me teste e você continuará vendo. – Ela enruga o espaço entre as sobrancelhas, olhando para a minha boca.
– Não me tente...
– Porra, Jungkook. – Ela arfa surpresa quando eu chupo seu pescoço e ela é responsiva ao puxar meus cabelos.
Eu não minto quando deixo evadir que nunca tenho o suficiente dela. Isso tem se tornado cada vez mais inerente, inevitável e fatal. E pela forma como Aeri agiu e como agarra minhas roupas e geme sôfrega, eu poderia apostar que ela se sente da mesma forma.
Porra.
– Princesa, ninguém faz com você o que eu faço, nem como eu faço, eu sei que não... Assim como você que m---
– Espera, e quando que eu disse isso, hein?! – Ela indaga, agora rindo e repousando suas mãos nos meus ombros, claramente me provocando enquanto eu tentava me gabar.
– Ah, princesaa! – Resmungo e giro os olhos porque ela quer cortar meu barato. – Você não negou quando eu disse que era eu quem te deixav---
Ela coloca um dedo sob minha boca.
– Você quem deduziu, seu sacana. – Ela zomba, me dando um empurrão sem força. – Eu esclareci como sou eu quem te faz sentir tudo isso.
– É "guerra" agora?
Moon ri mais e eu também rio, mesmo tentando soar sério, porque esse som é muito bom de ouvir.
– Eu deveria então levar meus talentos para outro lugar essa noite? – Continuo, erguendo uma sobrancelha e entortando a cabeça.
– Bem, eu tive minha parte ontem, não posso ser egoísta... – Ela dá de ombros.
– Ah, é? Pensando bem, acho que você tem razão, não se pode ser egoísta, não é? Tem que aprender a... Dividir. – Minha respiração vai de encontro com a dela quando nossas bocas se aproximam e eu levo minha mão até a tranca da porta, mas ela agarra meu pulso antes que vire a chave.
Como se eu quisesse ser dividido ou dividir, hah.
– Sabe, eu só estou curiosa sobre outra coisa agora.
– Sobre o quê?
– Curiosa se você é realmente quem me fode melhor? – E a bandida me lança um olhar. Aquele olhar. Até descê-lo diretamente para as minhas calças. Fala sério, Moon. Ela não me ajuda aqui, apenas me ferra. – Eu acho que eu deveria... Testar, sabe? Talvez realmente tenham outras pessoas que poderi---
Hah...
♆
Perspectiva de Moon Aeri.
Jungkook ri apenas uma vez; grave, sombrio e totalmente erótico.
A essa altura eu já desisti desse jogo sem nome que temos. Não havia como saber quem estava ganhando. Eu só queria que ele me tocasse, não importa mais as consequências ou o que quer que seja, estou embebida nessa sensação.
Ainda que ligeiramente, ele se inclina para mais perto, a língua saindo apenas para molhar seu lábio inferior. Me atiçando.
– Ninguém. – Ele profere com sua voz baixa e decisiva, os olhos amendoados dando lugar aos ferinos.
E eu levo dois segundos para perceber que Jeon Jungkook estava me beijando novamente. Não, ele não está apenas me beijando. Ele está mordendo meus lábios, lambendo minha boca, grunhindo contra mim ao passo que me pressionava contra a parede como se estivesse fazendo de tudo para saborear o máximo que pudesse de mim.
Ele me ergue pelo bumbum enquanto ainda nos beijamos, as línguas enlaçadas em sincronia, assim como minhas pernas que se cruzam em sua cintura fina.
– Jungkook... Você vai nos fazer ser pegos. – Reclamo, me perguntando como que em segundos acabei sentada na bancada do lavabo de Namjoon.
– Pegos? – Jungkook levanta uma sobrancelha, suas mãos desaparecendo sob meu vestido. – Você diz isso como se tivéssemos dezesseis anos e eu fosse um garoto que você deixou invadir seu quarto na casa de seus pais. – Ele profere rindo de lado. Talvez porque seja irônico o fato de que ele já foi um garoto que eu deixei entrar furtivamente na casa de meus pais; não com dezesseis anos, mas certamente com doze ou algo assim. Ele, Tae, Jimin e outra amiga nossa da escola, que chegaram de bicicleta para termos uma noite do pijama escondida, contando histórias de terror com direito a lanternas e tudo, antes que meus pais acordassem e descobrissem. Passamos semanas rindo sobre isso. Mas logicamente era tudo ingênuo e leve. Tudo mais fácil.
E quando me inclino para beijá-lo novamente, ele desvia, o que me faz franzir o cenho e Jeon sorri, achando tudo muito divertido. Claro que está achando. Nós alternamos quem está “por cima” muito rápido. Como eu já disse: um idiota.
Ele continua sua jornada, erguendo um de meus pés e serpenteando os dedos novamente, agora alcançando meus tornozelos, subindo das panturrilhas até as coxas, chegando ao mini short, o qual ele retira facilmente.
Eu nem penso em negá-lo, eu não quero.
Quando ele larga meu short em algum lugar ao nosso lado, Jungkook me fita, com os dedos brincando com a renda da minha calcinha. Sorrio para ele, meu quadril prontamente se erguendo e tentando se aproximar mais de seu toque... Mordo meus lábios e suas pupilas gigantes me fitam segundos antes de se concentrar na peça, que ele começa a descer.
Jungkook a retira por completo e se afasta minimamente, enfiando-a em um de seus bolsos da frente de sua calça.
– Sério? – Eu deixo um riso soprado. – Não tenho certeza se alguma garota ficará exatamente em êxtase se encontrar minha calcinha no seu bolso mais tarde. – Provoco.
Jungkook dá uma risada, deixando seu cabelo cair sobre a testa, e se encaixa entre minhas pernas, suas mãos seguram meus quadris enquanto ele me arrasta para mais perto da borda do balcão.
– Que garota?
Seu sorriso cresce quando ele sente minha umidade escorrer pelos seus dedos que mal me tocam ainda. Mas eu não vou mentir, eu gosto disso.
– Enfim...
– Não se preocupe, vou manter sua identidade secreta. – Ele pisca e eu giro os olhos.
O silêncio então nos consome, e inconscientemente me aproximo dele, tentando pressionar meus lábios contra os dele, desejando seu toque, mas esse desejo não me é concedido quando ele faz exatamente o oposto. Em vez disso, Jungkook envolve minha mandíbula com a mão, mantendo a parte de trás da minha cabeça alinhada com a parede e espelho atrás de nós, enquanto traçava minhas feições com os olhos. Detalhando. Como se decorasse e registrasse em sua mente, com o espaço entre as sobrancelhas vincado.
– Princesa... – Sua voz sai em um sussurro. – Eu tenho uma ideia. – Ele diz depois de mais alguns segundos agonizantes.
Limpo a garganta, tentando encontrar sua voz.
– É? Isso nunca é um bom sinal. – Digo, ainda com seus dedos em minha mandíbula, mas solto um riso provocativo.
Jungkook não responde, solta meu rosto e só me prensa mais contra seu corpo ferozmente, rapidamente. Colido com ele, e inevitavelmente sinto o contorno de seu membro duro, e eu só posso imaginar como está latejando dolorosamente em suas calças enquanto o escuto puxar o ar entre os dentes.
Porra, coelho maldito...
Seu rosto está mais corado. Ele pressiona os quadris nos meus e o vestido sobe um pouco mais devido ao movimento. Meu interior pulsa e eu sei que estou muito, muito molhada por conta desse idiota. Idiota que me faz ver estrelas, ainda mais quando fecho meus olhos com força.
Ele afunda a cabeça na curva do meu pescoço, mordiscando um de meus ombros levemente, como se assim abafasse mais algum som.
– Moon, eu não brinco quando digo que você me deixa louco... E mais que isso. – Ele diz, rindo um pouco enquanto, aparentemente sem pensar, pressiona um beijo em minha clavícula. A ação passa totalmente desapercebida por mim quanto por ele.
Eu rio um pouco mais alto, ainda mais porque sua respiração faz cócegas em mim.
– Shhhh, você não disse para fazermos silêncio? Hum?
– Estou tentando... – Rio abafado, emaranhando meus dedos nos fios do cabelo escuro dele e puxando levemente, e JK mordisca meu lábio, como se tentasse ainda me calar silenciosamente.
– Tente mais... – Jeon diz com sua voz grossa, deixando o sotaque de Busan aparecer.
Suas palavras se alongam ao terminar a frase, se tornando ainda mais graves; e por algum motivo, isso é tão atraente aos meus ouvidos e meus sentidos.
Ele quase rosna assim que minha boca se prende ao seu ponto de pulsação, sugando um hematoma na pele tatuada com o dragão. Sinto sua derme arrepiar debaixo do meu toque, e isso esquenta meu corpo, me fazendo latejar internamente por antecipação.
É quando sinto que estou praticamente escorrendo, mais e mais, ao passo que ouço seus murmúrios e grunhidos. Eu estou tentando me controlar com toda a força.
– Foda-se. – Sussurro em seu ouvido, esperando que a fala sôfrega não entregasse o fato de que eu não estava fingindo quando profiro cada letra. – Me toc--- – Ele enterra seus dedos nas minhas coxas, em meio a um xingamento, e seu polegar se aproxima perigosamente do lugar que tanto preciso que ele chegue. A ação faz com que eu deite a cabeça atrás de mim em um baque que emite um ruído sonoro. Nos olhamos por segundos com os olhos saltados.
Qualquer pessoa que passasse por ali teria ouvido isso e nós dois sabíamos disso muito bem.
Jungkook não liga, de repente rindo de lado, e apertando ainda mais seus dedos. Ele abaixa sua cabeça e passa a deixar selares sob a minha pele enquanto levanta o tecido do meu vestido, mordiscando por todo o caminho que ele faz, e eu tento manter minha respiração contínua. Mas a realidade e a luxúria nublam minha mente nesse exato momento.
E o garoto lambe minha boceta, em um movimento único e sem pressa, apenas para sorver cada parte e gota que ele podia.
Puta merda.
E eu reviro os olhos.
Minha mente não consegue evitar quando me relembra e me situa dessa circunstância. Nada superava o fato de que eu e Jeon Jungkook, o garoto que eu tinha visto passar pela puberdade e pelo ódio, estávamos trancados em um dos banheiros da casa de Kim Namjoon.
Jeon levanta o rosto e se aproxima de mim. Ele ainda está me provocando. Então aproveito para tocá-lo, acaricio seu pomo de Adão com meu polegar e ele engole em seco.
E ele enfia um dedo.
É quando alguém bate com o punho contra o outro lado da porta do banheiro.
Eu praticamente ignoro esse fato, ignoro a tal pessoa. Ao invés disso, seguro Jungkook com mais força. Eu não quero que isso acabe agora, não quero que ele pare, não quando mal começou, não quando estou nua da cintura para baixo e o tenho entre minhas pernas rendido. Então ignoro a realidade o máximo que posso e espero que a pessoa do lado de fora simplesmente desapareça enquanto tentamos fazer o mínimo de barulho possível. Jungkook parece pensar o mesmo que eu, dando um selar em meus lábios e abaixa o olhar de novo, depois de apertar minhas coxas mais uma vez e serpentear seus dedos novamente até onde eu queria, entrando e saindo. Porra... Não, não queremos nos largar, quere---
– Oi? – A voz feminina do outro lado da porta indaga. – Tem alguém aí?
O universo não está do meu lado.
Assim que as digitais de Jungkook estão prestes a adentrar em mim de novo, minha boca já vacilando assim como meus joelhos, o som da tranca da porta é como um vidro se estilhaçando no chão.
Puta que pariu.
O barulho faz com que Jungkook se erga novamente e nós dois nos olhássemos.
Ele suspira, fechando os olhos brevemente e puxando os fios de seu cabelo com a mão que antes me firmava, ele se retira dentre o meio de minhas pernas e sinto meu rosto completamente corado e aquecido.
A tempo de vê-lo colocando o dedo médio na boca.
Seus lábios envolvem seu dedo longo deliciosamente e dura apenas um segundo enquanto ele me prova.
– Alguém? – Silêncio. – Jeon? – E quando ouço seu nome, um frio percorre meu estômago. Choi Jennie.
Ela tenta girar a maçaneta.
Nos olhamos apavorados e ele abre a boca, prestes a respondê-la. Mas sou mais rápida e seu murmúrio morre na palma da minha mão, que logo envolve seus lábios, o impedindo. Os olhos dele dobram de tamanho, sem entender.
– Jennie? Sou eu, Aeri! Hah... Estou saindo já já, só estou arrumando minha roupa molhada.
Jungkook levanta uma sobrancelha para mim e aperta minha cintura.
– Oh! – Ela exclama do outro lado. – Ah sim, desculpa, achei que estivesse vazio ou fosse... Outra pessoa. – Então solta uma risada. – Desculpa! Eu volto depois, tudo bem!
Ouvimos seus passos se distanciando e ainda estou com minha mão na boca de Jungkook para preveni-lo de fazer qualquer barulho. Quando acho que ela está longe o suficiente, retiro minha mão e ele abaixa a cabeça com um sorriso soturno.
– Por que você não deixou que eu dissesse que era eu mesmo?
– Porque aí sim que ela iria querer entrar! – Sussurro um pouco alto. É óbvio.
E ele ri muito, jogando sua cabeça para trás. Quase inaudível. Mas ri.
– Nah... Não, Moon. Eu acho que é só você que é uma safada que resolve se pegar comigo no banheiro no meio do rolê.
– Não apostaria minhas fichas nisso. Mas vai dizer o quê agora? Que não gosta?
– É claro que eu gosto. Eu gosto muito, marrenta... – Ele suspira perto de mim novamente. – Você é imprevisível, não é princesa? Sempre foi.
– Já você... Previsivelmente me trouxe para cá. Deixou claro a noite inteira que estava contando os segundos para isso, não foi? É realmente um coelho de Satã.
– Eu sou o quê?! – Ele ri mais, tentando não soar alto demais. – Garotaaa, me respeita! – E ele puxa o ar até me fitar de cima de novo, sussurrando lascivo em meu ouvido. – Continua, vai. Continua fingindo que não gosta... Fica até mais divertido... Só porque eu sei a verdade, hah.
Jungkook desliza os dedos pelas minhas costas e puxo o ar. Agora seus olhos fitando logo atrás de nós, nos observando pelo espelho do lavabo, como fez na noite anterior.
– Eu quem sou o previsível e mesmo assim você cai nas minhas previsibilidades? – Ele entorna a cabeça em um movimento rápido e estala a língua na boca.
– Não é sobre "cair", é proposital. – Mordo seu lábio inferior.
E ele sorri largo, mordiscando o lábio que acabei de pressionar entre meus dentes.
Agora seu foco vai para suas próprias mãos, enquanto ele retira os anéis dos dedos languidamente e os coloca na bancada. Como um ritual. Ele leva seu tempo, ele sabe que já me tem impaciente e praticamente apertando as minhas pernas, mas ele é cara de pau.
Quando o som metálico do último anel bate contra o mármore, suas pupilas gigantes e escuras instantaneamente me encontram e ele sorri de lado. Sinto suas digitais quentes alcançarem minha roupa de novo e ele continua a levantar meu vestido, sem cerimônias.
Ainda tento formular alguma outra frase ou palavra, mas apenas fecho os olhos sob seu toque cálido e já sou um poço de antecipação novamente.
– Merda. – Praguejo. – A gente tem que sair antes que notem.
– Tsc, tsc, tsc. Eu ainda não terminei com você.
Jeon não perde mais tempo quando abaixa a cabeça e deixa uma mão repousar em minha barriga, me mantendo e me pressionando. O nariz dele traça um caminho de baixo a cima e então ele dá uma lambida suave e confiante, de quem sabe exatamente onde está explorando. Meus músculos enrijecem e espero seu próximo passo, até ele apenas praguejar algo inaudível e me lamber novamente. Apenas vejo seus dedos me apertando e o topo de sua cabeça e seu nariz, em um deleite. E porra, como eu adoro isso. Eu adoro ver ele se perdendo.
Se perdendo em mim.
Sua língua delineia meu íntimo com fervor, sem privações ou acanhamento. Jungkook se move para frente e para trás com movimentos lentos e lânguidos, e alterna com lambidinhas curtas no lugar certo e o sorver de seus lábios em mim.
É tão bom - melhor do que bom, quando ele lambe minha excitação. É delicioso. Meu tesão me faz suar, e até mesmo minha respiração entrecortada e silenciosa se torna impossível. O garoto aperta seus dedos tatuados em minha cintura com uma mão e leva a outra para acompanhá-lo dentro de mim, enquanto une os lábios sobre meu clitóris para me proporcionar uma sucção lenta e suave. Desgraça.
Em resposta, meu corpo quase se arqueia, mesmo ainda sentada na bancada da pia. E outra parte do meu inconsciente reza para que essa merda de mármore aguente nossos corpos e nossos movimentos.
– Porra, Guk... – Minha voz sai descontínua, tentando sincronizar com minha respiração errante e minhas mãos se contorcem nos fios dos seus cabelos.
– É pra eu continuar? Hum, princesa? – Ele murmura, sua voz embebida em sua obscenidade.
– Você sabe, uhn... – Arqueio os quadris. – Você sabe que sim. Assim, bem aí. – Quase gemo, ainda seguindo com o quadril a pressão que seus lábios e dedos me causam.
Ele ri contra mim, um riso soprado e de puro tesão, eu posso ver que ele está enfeitiçado nesse momento tanto quanto eu.
Arruinado. Irreparável. Devasso.
E ele não poderia negar.
Jungkook desliza mais um dedo abaixo, me adentrando. Ele traça sua saliva, circulando e divagando a língua, que se move uma vez, depois duas vezes, e muitas vezes mais sobre meu clitóris inchado.
– Minha gostosa... – Sua voz vibra contra mim e até isso me arrepia pelo contato.
Ele continua seus movimentos de novo e de novo, sugando com entusiasmo desenfreado enquanto eu me contorço embaixo dele da forma que posso. Cada vez que minhas coxas começam a tremer, ele muda o ritmo e nega meu orgasmo. Cacete.
Mas isso só me faz escorrer mais, encharcando sua mão e boca embaixo de mim. E eu tenho certeza que ele percebe, porque me dá uma olhada com um sorriso sacana, sua língua rosada à mostra para mim; ele sabe o que tem.
E ele está prestes a me fazer gozar. Posso sentir, no fundo do meu estômago, já tremulo, meus ombros contraem e espasmam em harmonia com meu abdômen; enquanto ele continua saboreando minha boceta de uma maneira que - ele tem razão - ninguém fez antes. Quero xingá-lo de todos os nomes agora, mas eu sei que ele estará certo e vou ficar sem respostas, apenas chegando aonde eu quero.
Agora ele está apenas brincando comigo, eu sei, me mostrando como isso pode ser divertido, como pode ser bom, e como ele é o único que pode dar isso a mim. O que não poderia ser mais fodido. Ele. Eu já deveria ter entendido a essa altura.
O fato não passa despercebido por mim enquanto passeio minhas unhas pelos cabelos dele, minhas coxas se abrindo mais e lutando para não ceder; eu remexo contra a boca dele, seguindo sua velocidade.
– Jungkook... Foda-se. – Gemo, meus quadris subindo contra ele. – Você é... Uhn, porra sim, assim.
Fazendo uma pausa, ele olha para cima com um sorriso idiota de lábios molhados.
– Vai, princesa... Eu sei que você quer... – Ele respira e continua deslizando seus dedos dentro de mim, entrando e saindo, e ofego quando ele os flexiona para frente e para trás. – Você quer gozar para mim, não é?
– Uhum...
– Uhum?
Puta merda. Suspiro, ou ao menos tento, enquanto ele me fode com os dedos.
Ele deixa mais um de seus sorrisos de lado e se verga novamente, sugando meu clitóris em movimentos lentos e constantes até que meu corpo começa a estremecer. Separando-se de mim no último momento e erguendo a cabeça.
– Então vem, goza, vai...
E aproveitando-se do meu (quase) silêncio atordoado, Jungkook volta para o meio de minhas pernas. Movendo-se com um propósito, ele adiciona um ritmo acelerado em conjunto com seus dedos que se curvam dentro de mim.
A boca, língua e dedos dele... Deliciosos.
E ele murmura contra mim. Quase um gemido.
E eu perco tudo.
Ele mantém uma mão em meu quadril agora e continua me chupando até que todo o meu corpo esteja tenso. E eu pulso incessantemente. Suspiro o nome dele, inevitavelmente, e agarro seu cabelo com mais força contra o ataque torturante de sua boca. Giro meus quadris ao passo que um grito sem som ecoa entre meus lábios quando a tensão dentro de mim se rompe em meio as contrações.
Estremeço sob suas digitais, seus lábios e seu peso.
Meu orgasmo me varre em ondas brilhantes e crescentes, me deixando girar os olhos para ver apenas as estrelas geométricas que minhas pálpebras formam por detrás de minhas pupilas dilatadas.
Caralho, como é gostoso.
Respiro com dificuldade, tentando manter o compasso, mas não o suficiente para me distrair.
Então volto do lugar inaudível e fora de mim que me transportei. E me sinto derretendo entre sua boca e seus dedos.
Espero um momento e então abro os olhos.
Puta merda, nem parece que tivemos rodadas e rodadas ontem do tanto que me desfaço.
Jungkook permanece entre minhas coxas, ainda roçando seus dedos contra mim até ter certeza que me esvai totalmente de meu orgasmo, e se afasta com um sorriso. Ele se inclina sobre a bancada, deslocando o peso para um antebraço que o mantém sobre o cotovelo, e fixa o olhar em mim enquanto desliza cada dedo que tinha as provas do meu tesão, um por um, na boca para lamber.
Meu corpo todo se contrai.
– Merda... – Solto um último suspiro e o encaro com os olhos ainda encapuzados.
A visão é tão quente que minha vista fica nublada por um momento. Me deixando com a sensação de que meu último orgasmo nunca aconteceu. Preciso de mais, preciso dele, sem reserva nenhuma. E me ergo, sentando-me propriamente e abruptamente.
Eu fico especialmente rendida pela entrega que acontece nesses momentos. De palavras proferidas que mal tem sentido, suor, saliva, olhos encapuzados, gemidos não contidos, cabelo desgrenhado e murmúrios sôfregos em meio à exasperos.
O puxo pelo colarinho da camisa, quando me sinto recomposta, e toco sua ereção evidente. Ele está tão duro.
Jungkook morde o lábio inferior e fecha os olhos por segundos, antes de me beijar com o vinco entre suas sobrancelhas evidente. Então seu polegar vai até meu maxilar e ergue minha cabeça, deixando a pele da minha garganta exposta para ele.
– Você quer o meu pau? – Ele puxa o ar entre os dentes e eu concordo com a cabeça, da forma que posso. – É? Porra. Princesa... A gente tem que voltar.
– Mesmo que...
– Não tem problema. – Ele larga a mão do meu pescoço, deixando minha cabeça pender, e se afasta rapidamente como se tentasse se repelir de mim, mas com um sorriso idiota. – Hah... Era sobre você, não eu.
O olho por alguns segundos e pisco antes de soltar o contato com o tecido de sua roupa e suspirar.
Ele me ajuda a descer da bancada, mesmo que eu não precisasse.
– Sabe, eu nem sei porque a gente continua fazendo isso, é tão estúpido. – Profiro, pegando meu short do chão e o vestindo. Ignorando propositalmente o fato da minha calcinha estar em seu bolso.
– Bem, eu não sei você, mas... Eu realmente gosto muito... Muito de... – Ele hesita. Pega os anéis, entortando a cabeça rapidamente, e só então sussurra na altura da minha orelha. – Foder você.
– Hah, de várias formas, eu presumo. – Giro os olhos e arrumo meu vestido.
– Ah, sim. – Ele ri, se divertindo, alojando a prataria novamente em seus dedos. – Em várias posições e em vários lugares, então suponho que sim, de várias formas.
– Aish, sinceramente eu tô a um triz de--- – Ele não me deixa terminar a frase, porque me beija.
Me beija com vontade. Sua língua se enlaça em uma dança com a minha, e ele ainda tem a audácia de rir no meio do beijo depois de lamber meus lábios.
– A um triz de quê, hum? – Ele me aperta pela cintura. – Você fica muito gostosa toda brava.
– Eu devia ter te arranhado muito mais ontem. – Falo contra sua boca. – Ter deixado suas costas todas marcadas... Pra você ter que exibi-las hoje.
– Humm, faça isso. – Seu sotaque é evidente novamente.
E merda. Eu deixo um sorriso contra a boca dele. Ele faz tudo ser mais difícil, eu já saquei essa parte. Não tem como evitar.
Então me abaixo e aperto os cadarços do meu coturno, mas logo ele se abaixa também e laça o outro par.
O observo por um segundo, girando o cadarço em suas mãos.
Quando me levanto, ele segue meus movimentos, levantando-se também; e sou direta, começando a o empurrar suavemente para trás para que ele entenda a deixa de que estamos deixando o recinto.
Jungkook não vacila em seguir minha liderança.
Mas então ele trava o corpo, já perto da porta.
– Espera. – O polegar de Jungkook vai até o canto da minha boca e arrasta minha pele suavemente. – Seu batom está borrado... – Ele diz com um sorriso.
– E de quem é a culpa?
– Minha. – Ele fala com evidente orgulho em seu sorriso diabólico e travesso.
Sorte a minha que meu batom já estava quase sem rastros há horas atrás de qualquer forma. Então ergo o polegar e também limpo a boca dele, sob seu olhar atento ao meu rosto, observando minhas ações. E não me contenho, dou um selinho demorado em sua boca.
Então quando me afasto, vejo seu rosto enrugar novamente, formando um vinco preocupado ou confuso.
– O que foi? – Pergunto, ainda com um dedo em seu lábio inferior.
– Estava aqui pensando, se dormíssemos juntos de novo, se isso seria...
– Seria. Seria um pouco demais. – Afirmo sem rodeios.
Ele apenas ri e concorda com a cabeça.
– Princesa, tsc. – Ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha depois de sentir a textura entre seus dedos. – Me atormente com qualquer mentira. Eu não me importo. Mas... É. – Ele puxa o ar entre os dentes e estala o pescoço, colocando ambas as mãos em seus bolsos, despreocupado. – E então? Vamos pra casa?
Pra casa. Eu não sei o que responder, apenas o olho.
Mas... Ele parece saber a resposta.
– Vem, vamos, vamos! Você pode ir primeiro, chatinha. – Ele se apressa, mas animado. – Vou estar te esperando na esquina do condomínio quando eu sair, como fizemos na casa de Hoseok. – Ele tem agora uma mão na maçaneta e a destranca para mim. Quando avanço para sair, ele dá um tapinha na minha bunda, o que me faz repreendê-lo com o olhar, mas claro, ele não liga.
E antes que eu cruze o corredor, me viro para ele, ajustando a alça em meu ombro.
– Ah, e eu também gosto de foder você.
• ━────── ☾ ──────━ •
Perspectiva de Jeon Jungkook.
Atravesso a porta do banheiro e respiro fundo.
Vamos lá, Jungkook.
Concentra.
Pensa em coisas nojentas.
Cabelo no ralo, meu avô de cueca, vômito na privada, donuts de limão, Yoongi dançando aquela música patética, resto de lamén molhado na pia da cozinha, a ferida que se formou no ombro de Namjoon ano passado...
Repito o mantra asqueroso que eu havia ditado em minha mente na cozinha hoje mais cedo.
Beleza.
Boa.
Encontro a cerveja que eu havia deixado para trás antes de sair e dou um gole grande.
Caralho.
Que nojo, essa merda já ficou quente e eu quero golfar quando o gosto passa pela minha garganta. Faço uma careta e considero jogar no lixo, mas dou outro gole proposital, para fazer o meu sangue circular pelo resto do meu corpo e não só na porra das partes de baixo.
Tranquilo.
Sussa.
Tenho tudo sob controle.
Me sento ao lado de Seokjin, dando um tapinha em seu ombro, o qual ele retribui com uma piscada; e meu olhar encontra o de Aeri. Ela o cruza por um segundo e sorri, logo se dirigindo para outra pessoa qualquer.
Ah, essa garota. Não consigo evitar pensar em minutos atrás. Mas na verdade penso no envolvimento que sempre se implica a isso.
É.
Preciso meditar meu mantra asqueroso de novo. Rio comigo mesmo e meus olhos a alcançam novamente e ela está rindo com Sora e Yujin.
Percebo que muitas pessoas já deram o famigerado “vaza” e agora tem apenas eu, meus seis hyungs, Yu, Sora, Jennie, suas amigas e a princesa.
Dou mais um gole da minha bebida de merda e os observo conversando, sem fazer questão necessariamente de entrar no papo.
Eu gosto de vê-los.
E meu humor definitivamente está nas alturas agora.
Eu me sinto tão leve que estou quase pairando no firmamento.
♆
Uma hora se passou.
Estamos todos deitados no chão em uma parte da cobertura de Nam que dá para ver o céu perfeitamente.
Um deitaço.
As estrelas. As nuvens. A lua. As estruturas que combustam em algum lugar há milhares de anos atrás, mas que só agora vemos.
Talvez bêbados demais. Talvez cansados demais. Talvez eufóricos ainda.
Eu fecho os olhos quando o escurecer do céu parece me causar uma vertigem. Vertigem por sermos pequenos demais, insignificantes demais perto de sua magnitude, perto de tudo que não entendemos. Mas sua beleza me assusta. E seu mistério também.
E é por conta do vento do anúncio da madrugada ser tão forte, que me esvaio e sou soprado para longe.
É por conta do céu ser tão imensamente azul e infinito, que me percebo pequeno.
É estranho pensar nessa situação finita. Porque afinal somos nós que estamos aqui. O que há mais a se fazer senão... Viver? O tudo e como um todo.
Suspiro.
Acho que esse entendimento é uma das coisas mais importantes. Então olhamos para dentro, e aprendemos que a vida se move rápido demais, mas ao mesmo tempo, ela pode ser devagar demais às vezes. E se não nos conectarmos a ela e tirarmos um segundo para sermos bravamente nós mesmos e focarmos nas coisas que colocam nossos pés no chão... Estaremos perdendo tudo.
Vertigem.
É definitivamente o que me absorve toda vez que olho o céu por tempo demais.
E o mundo gira.
E eu quase posso senti-lo.
Mas agora todos os planetas parecem alinhados.
Eu experencio de forma estranha a energia de todos ao meu redor - nesse círculo - emanar sobre nós. Uma sinergia surreal.
E nada.
Só o nada e nós, fitando o infinito que nos cerca.
Eu queria estar na praia agora, sentindo a areia nos meus pés. Os grãos tocando minha pele e a maresia me adornando enfurecida.
– Podemos ficar assim para sempre? – O sussurro de Sora me tira das minhas divagações.
Ouço os risos que acompanham sua fala e que concordam silenciosamente. A música de fundo se envolve como uma trilha sonora.
– Se você quiser... – A voz de Jimin soa serena mas entusiasta de algum lugar, tão submersa quanto.
Aeri está deitada ao meu lado, seguida de Sora. Do meu outro lado, Jennie deixa sua cabeça pender para o céu de olhos fechados.
Minha mão encosta na de Aeri sem querer, mas não as tocamos.
Ninguém nos vê pois estamos todos deitados e fitando acima de nós. Então sinto o dedo mindinho dela se curvar contra o meu.
E eu fecho meus olhos de novo.
Tudo para.
Mas tudo acelera ao nosso redor mesmo tempo.
Ficamos mais alguns minutos assim.
Todos ouvindo a música e envoltos em nossos próprios pensamentos. O tempo ainda parece passar devagar, ralentando, mas eu sei que está correndo, voando, e me pedindo para agir.
E eu sei exatamente o que fazer agora.
Então sou o primeiro a me sentar.
– Nam, vou indo nessa.
– Vai? Por que, cara? Só dorme aí.
– Não, eu---
– Qual é, Gukka, nada novo sob o sol. Se você quiser ficar aí, tem tudo preparado para você.
Sorrio fechado, porque eu sei que é verdade.
– Na próxima ficarei, hyung. – Digo, me levantando. – Mas hoje vou pousar em casa. Tava planejando treinar de manhã ainda, de qualquer forma...
– Mas é claro. – Nam ri e se levanta também.
Me despeço de todo mundo brevemente, mesmo ainda com alguns protestos aos quais sorrio e promessas de que na próxima ficarei até o amanhecer, e me dirijo até o elevador. E com o ruído de que o mesmo havia chegado ao andar, me viro novamente de supetão.
– Yu! Você já está indo também? – Não poderia deixar de oferecê-la uma carona, e se ela aceitasse, sem dúvidas voltaria para pegar Aeri depois de deixar a Lee em casa. Avisaria Moon por mensagem e daria meu jeito, não tem problema.
Mas ela logo me dispensa, ainda junto com os outros.
– Não, Kookie! Eu ainda vou ficar mais um pouquinho... Pode ir! – Ela afirma tranquila. – E cuidado na volta!
– Humm, então vou embora quando você for. – Concluo e me aproximo dela.
– Vai pra casa, guri! – Yujin ri e empurra meus ombros quando me agacho de frente à ela. – Eu já conheço todo mundo aqui e tô confortável. Você precisa dormir, vai. – E então ela diz mais baixo, falando apenas para mim. – E você sabe, não quero ser motivo pra confusão também e---
– Não, nem termina. Não é nada disso. E pra confusão, eu tô sempre pronto. – Sorrio para ela, mesmo ela girando os olhos para mim. Pinço seu queixo e me levanto. – Falou então, qualquer coisa me manda mensagem. Sério, hein? – E olho para todos antes de falar. – Aí! Falou, galera. Não se divirtam muito sem mim.
– Te vejo amanhã, chefinho. – Jimin diz ainda deitado.
“Because the world is round, it turns me on. Because the wind is high, it blows my mind…”
♆
Perspectiva de Moon Aeri.
Sora saca tudo.
Alguns bons longos minutos se passam e eu me torno impaciente. Quantos minutos são o suficiente para sair sem dar na cara?
Eu não sei.
Mas quando eu acho que são o bastante, espero mais cinco. Ou é isso que eu acho, porque não estou verificando o horário, então pode ser que tenham se passado apenas 3 minutos desde que ele saiu.
Argh.
– So, então, eu... – Estamos deitadas uma do lado da outra, então sussurro, me aproximando ainda mais dela, já que tem um espaço vazio ao meu lado e não preciso ficar exatamente em um círculo.
– Vai logo, safada! – Ela sussurra de volta.
– O quê? – Digo mais baixo ainda, olhando para ela.
– Ele está te esperando, não está?
– Hum?! Como voc---
– Pff, eu conheço essa jogada. – Ela ri sozinha, baixinho. – Se eu estiver errada sobre tudo, me diga agora; senão, aproveite.
Olho para o céu de novo e suspiro, passando meu braço sobre ela, e ela continua.
– Ei, me escuta. O Hyujin deve estar dormindo já, ele não está respondendo minhas mensagens... Então vou rachar um uber com o Jimin, Tae e se pá a Yu ou aquela amiga da Jennie... – Ela sorri. – Eu realmente tô de boas e afim de ficar um pouco mais, assim como realmente quero que você vá, mas só se você quiser ir. O que você quer, Moonses?
A olho de volta e penso por alguns segundos.
– Eu... Quero ir, eu acho.
– Acha? – Ela enfatiza, cerrando o cenho, com seriedade.
– Quero. Quero ir... Mas também, So, eu não quero te dei---
– Então pronto, decidido! Estou com nossos amigos também, né! – Ela me dá um peteleco na testa. – Pelo amor, só vá e se divirta. É sobre a diversão!
Meneio a cabeça, fazendo uma careta, mas logo rio.
– Me avisa quando tiver chegado, hein?! Sério.
Sora concorda com a cabeça e me diz para fazer o mesmo, apontando seu dedo. Então a garota de cabelos cor de caramelo se aproxima do meu ouvido e murmura.
– Só se lembrem de se proteger... Eu quero muito um sobrinho, mas não agora!
– Sora! – E rimos alto, eu de nervoso e ela por achar graça demais, mas chamamos atenção. – AI, CACETE! YOONGI!
Yoongi tenta me alcançar, do outro lado de Sora, e consegue ao me dar um empurrão sem força em uma das minhas canelas, só para me zoar.
– Minha perna, seu cuzão! – Começo a rir quando cambaleio para o lado quase como um besouro. Yoongi claramente querendo nos fazer parar de “conversa paralela”, como bem o conheço.
– Vocês ficam aí fofocando baixo e em códigos. – Ele responde com um bico. – Está atrapalhando meus pensamentos.
– Atrapalhando seus pensamentos?!
– A gente estava só se beijando, relaxa... – Sora se vira para ele e ergue uma sobrancelha. – Da próxima vez a gente te chama.
– O quê?! Sai fora.
E rimos mais quando ele cruza os braços, antes de não resistir e rir também.
– Vai, cadê meu carpaccio de salmão, plebeus?! – Sora diz, abrindo os braços e batendo propositalmente no peitoral de Yoongi.
– Argh! Kwon! – Yoongi se senta pelo solavanco.
♆
Ao encontrar o carro preto na curva do fim da rua do condomínio, após vê-lo piscar os faróis, corro até a porta e encontro Jeon me esperando como prometido. E ele me recebe com um “princesa” entusiasmado, exibindo seus dentes quase infantis no sorriso de coelho. Como se por um segundo tivesse ficado realmente surpreso.
– Esperou muito?
– Não, nem tanto assim. – Seus olhos se apertam mais no sorriso.
As ruas estão praticamente vazias nesse lado da cidade, apenas as luzes urbanas se perdem no horizonte, tilintando em busca de iluminar o caminho à medida que o frescor que invade o carro pelas frestas abertas se torna de fato reconfortante.
Me debruço na janela e deito a cabeça, apreciando a brisa em meio a uma noite tão quente.
– Princesa? Quer que eu ligue o ar condicionado?
– Nãoo... – Minha voz sai arrastada. – Está bom assim... – Rio e ele solta uma risada também, balançando a cabeça.
– Então... Hum, para qual casa nós vamos?
– Ahm... Tanto faz na verdade. – Encaro as vias que passam, ignorando os meus cabelos que balançam em meu rosto, enquanto divago sobre. – Podemos ir para minha, não tem problema algum, ou para... A sua. Se for ok!
– É claro que é, princesa. – Volto a olhar para Jungkook e ele está sorrindo, relaxando um pouco mais no assento e encostando o braço na janela, dirigindo apenas com uma mão na parte de cima do volante. – Então, agora que eu consigo processar muitas informações... Me conta direito como foi sua semana. Com todos os detalhes.
E ele continua sorrindo, meio bobo e com lídimo interesse.
Seus olhos negros e amendoados cismam em sempre endossar seu ar ingênuo.
Talvez - apenas talvez - Jungkook não seja realmente aquele idiota insensível que só pensa em si, como aquele que defini em minhas conclusões. Ou aquela pessoa irresponsável e pedante, a tal persona que eu imprimi tão vigorosamente em minha mente... Talvez ele realmente não seja o cara impassível cem porcento do tempo que todos o pintaram.
E quando ele ativa o pisca alerta e vira uma rua para esquerda, percebo que esse não é o caminho da minha casa.
Então sorrio e, antes de respondê-lo, volto a fitar as ruas e sentir o vento balouçando meus fios, minha mente recordando do que ele disse mais cedo no lavabo... “Agora eu acho que queria que você estivesse com um pouco de ciúmes. Só para querer ser malvada comigo no anseio de que isso me ensinasse a nunca querer ninguém além de você”.
Hah, esse garoto idiota.
• ━────── ☾ ──────━ •
Perspectiva de Jeon Jungkook.
– Aah, para de rir! Diabinha. – Empurro meu ombro contra o de Aeri, que não parava de rir, e seguimos andando pela casa. Eu mesmo me esforçando para parar de gargalhar junto com ela.
Talvez porque quando chegamos na garagem da minha casa, tivemos a belíssima ideia de tomar três garrafinhas de makgeolli dentro do carro, garrafinhas essas que a senhorita Moon pegou sorrateiramente antes de sair do apartamento de Namjoon.
Talvez também porque tenhamos bebido como se fosse um suco.
Como dizem? Um caminho curto e sem volta.
– Mas como? Como eles não notaram?! – Ela ri, me acompanhando.
– Também não sei, não sei como eles não perceberam que a gente estava se pegando escondido no banheiro! – Rio mais ainda, pegando sua mão inconscientemente, para guiá-la. – Fala sério, nós dois não estávamos mais lá e ainda demoramos... Vai dizer? Talvez eles estivessem muito distraídos também... Nem a Sora pareceu notar. – Subimos as escadas para o primeiro andar, andando com todo cuidado, pisando como se estivéssemos na superfície da lua ou como se aqui tivesse lasers que subitamente seriam acionados. – Tá que ela e o Jimin pareciam ter um assunto que não acabava mais, né princesa?
– Uhuum... – Ela concorda, logo atrás de mim.
– E outra, acho que ainda ficamos os dois com a boca meio vermelha, tá ligado? – Rio em meio a frase. – Do seu batom ou lip-não-sei-o-quê que você tá usando!
Dou uma olhadela para ela e ela faz aquela cara de “entendi a referência”, toda abusada.
Deus, acho que agora sim eu tô bêbado.
– Eu teria notado. – Ela levanta as sobrancelhas e fecha os olhos, se vangloriando.
– É? Teria nada, princesa. – Me viro novamente para Moon para rir dela. Capaz, ela teria sim. – Aaah na moral, nossos amigos são muito lerdos. Ou se fazem. – Levanto um dedo, para enfatizar meu pensamento, e franzo o cenho.
– Já pensou eles já sabem e nós estamos jurando que ninguém sacou enquanto eles estão rindo da gente por trás?! – Aeri indaga com os olhos esbugalhados e faz uma expressão de chocada, até pressionar os lábios com força para não rir ainda mais.
Eu gargalho de sua cara.
– Nah! Eu saberia, eles não me deixariam viver um dia sequer sem me atormentar sobre isso se eles soubessem... – Destranco meu quarto, mas paro de repente com a mão no trinco e começo a rir muito sozinho lembrando das cenas de hoje. – Mano, e eu e você, os dois tentando não fazer barulho! – Coloco a mão na testa, ainda rindo e então balanço a cabeça e abro a porta. As coisas que a gente nota depois que o momento e a euforia passam. – Ai...
Ela atravessa o portal ante de mim, quando lhe ofereço espaço para ir primeiro, e eu aproveito para me aproximar dela e atiçar a diabinha.
– Gosta de se pegar comigo, não gosta? Tô te sacando. – Falo em seu ouvido. – Tô te sacando faz tempo, garota.
– Eu, né? Eu... – Ela coloca as mãos nos meus ombros, me empurrando apenas de leve, para trás.
– Caracas, espera... Parece que agora bateu. – Fecho os olhos e ergo o nariz.
– Começou o dramático.
– Aish, sério! – E Moon não consegue conter seu riso alto e então me faz rir também, mesmo ainda com os olhos fechados em meu momento. – Para de rir, véi!
– Você também tá rindo! – Ela continua, se inclinando para frente e abaixando a cabeça, gargalhando, com as mãos ainda em meus ombros.
– Eu tô rindo porque você tá rindo! – Tento respirar para parar de rir tanto. – Ain, eu tô tonto...
Minha voz sai definitivamente manhosa e faço um bico com as sobrancelhas vincadas.
– Só você mesmo, Jeon. – Ela diz meneando a cabeça e me faz sentar na cadeira do meu quarto, tirando os cabelos do meu rosto, em um carinho. – Nesse seu frigobar... – Ela aponta para o eletrodoméstico preto com metais prata. – Tem água?
– Uhum.
– Vou pegar um pouco pra gente, tá?
Concordo com a cabeça e a vejo se agachar para pegar uma garrafinha que estava lá dentro com água gelada. É engraçado, só não sei porquê.
– Obrigado, princesa. – Agradeço, e rio, quando ela abre a tampa para mim e me oferece.
– Tá, onde eu deixo isso? Posso deixar aqui?
– Uhum. Deixa, pode deixar a bolsa aí. – Aponto para a escrivaninha e me jogo na cama, oferecendo a garrafa pra ela. – Vem cáá!
– Argh, você fica ainda mais mandão bêbado! – Ela diz antes de dar um gole.
– Uhn, eu não sou mandão, você que é. Já eu... Eu sou até bem bonzinho. – Respondo e a vejo engatinhar até mim na cama. – Quando eu quero. Quando ninguém tá olhando.
– Quando ninguém tá olhando, tá bom. Nossa, benevolente Jeon Jungkook, tão cheio de compaixão!
– Uhum, uhum. – A abraço e enfio a cabeça na curva do ombro dela.
– Tá fazendo cócegas! – Aeri ri e seu corpo se agita eriçando-se, então ela acaba ficando ainda mais colada em mim.
Solto uma risada contra sua garganta.
– Hummm... Eu vou te confessar... Eu adoro o seu cheiro. Puta merda. – E desço selinhos em seu pescoço, embriagado pelo aroma doce que exala dela.
– Jungkook... – Sua voz sai arrastada e seus dedos agarram no tecido da minha blusa.
– Hum... Que foi?
– Não pode deixar marcas... Você, uhn, sabe.
– Ah... Aish. – Levanto o rosto. – Eu já sei que não posso deixar nenhuma marca, nem sem querer... Eu já sei, princesa. – Então franzo o cenho e rio. – Eu quem disse isso, ou! Você está usando minhas palavras contra mim agora? Aliás, você é mesmo muito desobediente, tocou o foda-se pra isso e me deixou várias marcas e arranhões ontem. Toda braba. – Gargalho quando ela gira os olhos sorrindo.
– Você nunca mais vai parar de me importunar com isso, não é?!
– Não, nunca vou parar de lembrar disso. – Respondo sorrindo.
E ela me beija.
Lento e, porra, tão sensual.
Nosso beijo se encaixa de forma surreal.
– Mas... – As palavras saem em meio ao nosso contato. – E se agora eu quiser que eles saibam sim?
– Sai fora, coelho, hah... – Ela morde meu lábio inferior e esfrega o nariz no meu, descendo para bochecha.
– Aish, seu nariz tá gelado! Sai. – Agora sou em que me agito e tento sair de seu enlace, mesmo fraco pela risada que desprende da minha boca, mas ela continua esfregando o nariz em mim de propósito. – Sai, sai, sai! – E eu continuo rindo em meio a nossa "lutinha".
Então eu a viro na cama e fico por cima.
– Ei, quer tomar um banho antes de dormir? – Pergunto, deixando um selinho em sua bochecha.
– Ahn-ahn.
– Não?! Mas olha só, que porquinha...
– Porca?! Jungkook, j a m a i s! Humpf!
– É sim, porquinha e preguiçosa! – Digo e ela dá de ombros. – Assim vai ter que dormir no sofá... – Rio mais porque a cada frase que eu profiro, ela faz uma expressão diferente e mais engraçada de revolta. – Eu que não quero você dormindo do meu lado sem tomar banho! – E ela esbugalha os olhos. – Aah, brincadeira, chatinha!
– Eu já tomei banho... – Ela diz de propósito, zoando.
– Princesa, não, água com cloro não vale, né! – Finjo indignação e ela ri, fechando os olhos.
– Hoooje.
– Humm tá, da próxima vez não vale. – Considero, e ela concorda, toda boba, bebendo um pouco mais de água antes de me entregar a garrafinha.
– Da próxima vez.
– Tudo bem, vai, a gente toma amanhã de manhã então. – Dou um golão de água e franzo o cenho para ela, que levanta as sobrancelhas como se perguntasse “sério?” – Uhuuuuum, eu vou garantir que você vai acordar cedão e te dar um belo banho.
– Sei que banho você vai me dar...
– É.... Desse jeito. – Sorrio com a língua entre os dentes e então beijo seu pescoço de novo só para causá-la mais cócegas.
Sei lá porquê, mas o riso sincero dela é uma melodia boa de se arrancar. E eu sorrio satisfeito.
Então me levanto com dificuldade, deixando a garrafinha em uma cômoda, e vou até meu armário.
– Pera aí, vou te dar uma roupa pra dormir... – Abro uma das gavetas e pego uma t-shirt e tento achar alguma bermuda confortável.
– Jungkook... Tá todo mundo na sua casa? Seu pa---
– Não, relaxa, meu pai tá viajando como sempre, a Jangmi-ssi tá de folga e alguns dos outros funcionários também, por conta do feriado. Então... A casa é só nossa. – Me viro para ela e sorrio fechado. – Só tem alguns seguranças lá fora, mas nada que você já não tenha visto quando chegou ou naquele outro dia... Eles não vão entrar aqui, hah. – Então vou em direção a cama, segurando as roupas e resolvo provocá-la. – Quer dizer, a não ser que minha casa seja de repente invadida por uma legião da máfia inimiga do meu pai, aí nesse caso seria... Seria palha né, você estar pelada. – Faço uma careta com a boca comprimida.
E eu rio alto vendo sua expressão.
– Tu para de brincar com isso, Jungkook! – Ela joga uma almofada na minha cara, mas em meio a risos. – Até parece, é roteiro de série agora?
– É, não, qual é a chance! – Pego a almofada no reflexo e quase deixo as roupas caírem, então pigarreio.
Aeri se senta na beira da cama e pega as peças, agradecendo. Abaixo a cabeça brevemente em um “de nada” meio sem graça e vou em direção ao outro lado do quarto.
– Nossa, meu cabelo tá duro, mano, olha isso! – Me olho no espelho e seguro uma mecha de cabelo, mostrando para Moon e a fitando pelo reflexo. – Ó!
– Pela sua situação, realmente hein, vamos tomar banho hoje mesmo.
– Só a minha situação?! – Solto um riso soprado. – Tá, então daqui uns 15 minutos a gente vai pro banheiro. – Digo, ainda vendo a situação deplorável do meu cabelo pós cloro da piscina.
Mas ao ouvir minha fala ela levanta uma sobrancelha pra mim.
E eu cerro os olhos pra ela, sorrindo de canto.
– E a senhorita vai inventar de deixar essas roupas no seu armário, né? Tô até vendo. – Continuo, e quando chego perto dela, pinço seu queixo.
– Você sempre acaba usando elas de novo depois e deixando novas lá, ué, a culpa não é minha... – Ela ri travessa.
– Olha que safada essa princesa, te contar, viu.
Então me afasto e antes de abrir o botão da calça, lembro de tirar sua calcinha do bolso. Quando a peça está em minhas mãos, rio sozinho e mordo o lábio inferior.
– Uau. Um souvenir? De quem seria? – Aeri pergunta sarcástica, debruçando o rosto em uma mão.
– Não posso te contar, é de uma garota misteriosa que não pode ter a identidade revelada. – Pisco para ela.
– Idiota! – Ela ri. – É isso que você diria à outra guria?
– Não sei, acho que eu teria que improvisar. – Rio, abaixando o rosto e deixando a calcinha na escrivaninha. – Se bem que eu acho que se eu dissesse que era sua, ninguém iria acreditar mesmo.
– Aish. – Ela solta o ar antes de sorrir também.
– Porém, eu não estava planejando mirar em outra pessoa, seu item estaria seguro.
– Claro, planejando não... Tudo acontece sem planejamentos para você, Jungkook.
Dou de ombros e lhe lanço um sorrisinho idiota, enrugando o nariz.
– O que rolar, rolou. – Digo rindo, mas meneio a cabeça.
E Aeri revira os olhos.
– É, eu sei como é.
– Sabe? Sabe, princesa? – Me aproximo, afundando meus punhos fechados em cada lado dela do colchão e lhe dando selinhos, para irritá-la.
– Jungkook!
– Hah, você continua falando como quer. Mas eu te conheço, não é? – Observo as mãos dela adentrando por debaixo da minha blusa. – Você... – Faço uma pausa. – Você e eu sabemos que a única que eu iria querer transar... – Dou um selinho. – Beijar... – Dou outro. – Trazer para minha casa... – Mais um. – Dividir minhas roupas sabendo que elas não tem volta... – Outro. – Seria você, hum?
– Humm, como devo responder a isso? – Ela cerra os olhos por um segundo. Até suas orbes reaparecerem para mim, subindo da minha blusa para as minhas pupilas. E me provoca. – A resposta que você quer ou a verdade?
– A resposta que eu quero também é a verdade.
– Você é tão convencido. – Moon diz com ênfase, enrugando o nariz e apertando a minha cintura. Aproveito e faço mais cócegas nela, que gargalha alto e por isso cai para trás na cama, acompanhada da minha risada e mais um caminho de beijos que lhe causavam arrepios.
Só então levanto e me afasto ainda sorrindo devido a tanta liberação de serotonina.
– Com uma garota como você na minha cama, não teria como não ficar convencido. – Então tiro a minha blusa e a deixo cair na cadeira perto da mesa.
Moon observa cada movimento meu, então volto para ela e coloco uma mão em seu queixo, sussurrando.
– Você já me dá trabalho. – Instigo.
Os lábios dela se entreabrem, à medida que o enrugar entre suas sobrancelhas se aprofunda e o sorriso se alastra, ela passa devagar a língua pelos dentes superiores.
– Trabalho? Ah, é? Então pode me explicar por que eu estou aqui? – Ela se levanta também e cruza os braços.
– Você me seduziu. – Franzo o espaço entre as sobrancelhas e dou de ombros.
– EU te seduzi? – Ela ri. – Argh. Deus, eu te odeio.
– Hah, me odeia? É? Bem... Estamos quites. – A pego pela mão, desfazendo seus braços cruzados, e envolvo esta na minha cintura para que ela chegue mais perto e eu possa abraçá-la, o suficiente para provocá-la ao pé do ouvido. – Eu também te odeio.
– Não, eu te odeio muito. – Ela enfatiza e fecha os olhos.
E eu envolvo seu rosto com uma de minhas mãos, deslizando meu polegar pelo seu queixo e maxilar, a fazendo mirar suas pupilas gigantes para mim, e puxo o ar entre os dentes.
Então falo contra sua boca antes de a beijar.
– Eu te odeio mais.
O beijo dela é tão gostoso que eu chego a considerar que ela realmente me deixa insano.
É tão bom, eu odeio isso.
Odeio como ela arfa, odeio como ela afunda seus dedos e unhas em minha nuca, odeio como ela o aprofunda me trazendo para mais perto, odeio o jeito que ela sempre parece querer tanto e tão mais quanto eu, odeio o cheiro que ela sempre deixa na minha pele depois.
– Uhum… – Sorrio entre o beijo. – Abusada.
Ela me dá mais alguns selinhos e nos encaramos, quando minha testa encosta na dela.
– Vou te dar uma cueca minha pra você usar. – Digo, do nada, quando minha mente percebe que ela não tem uma peça a mais aqui.
Aeri me olha e não se segura, joga sua cabeça para trás e começa a rir. De repente estamos nós dois gargalhando, de doer a barriga e sem parar.
Parece que se passaram minutos com nossas risadas.
Provavelmente não porque era a maior piada do século, mas por estarmos ébrios e confortáveis demais para fingir qualquer fachada de desinteresse no momento. E sinceramente, minhas bochechas já estão literalmente doloridas de tanto rir desde que chegamos.
Ela se afasta, passando a mão no rosto, como se enxugasse alguma lágrima que quase rolou de tanto rir, e meneia a cabeça, passando a continuar de onde paramos, onde ela começa a naturalmente abaixar as alças de seu vestido para trocar-se.
– Argh, Jeon, vou te contar...
– Humm, quer que eu te ajude? – Incito, de brincadeira e ela apenas me dá seu olhar com adagas e eu levanto as mãos. – Tá boom, tá bom. Mas então me deixa te ajudar a tirar seus sapatos, aí eu vou trocar de roupa também, pode ser?
– Tá, vai!
– Senta aí então, mandona.
Aeri se senta na beirada da cama e eu me abaixo, flexionando um dos joelhos e deixando seu pé repousar em cima do outro para apoiar-se e eu poder desenlaçar seus coturnos.
– Hah... Botas maneiras. – Sorrio, focando minha atenção em desfazer o cadarço e tirar os sapatos, seguido das meias, com cuidado. – Tudo bem?
– Uhum...
Tiro o outro par e meia, levantando-me e colocando ambos os pares perto do armário. Ela murmura feliz e começa a se trocar. Em um suspiro, me levanto, tentando não ficar zonzo, e passo a tirar as calças e logo depois minha blusa. Completamente ciente de que eu estou sendo observado por ela.
E não a deixo relaxar, vou até meu armário, vestindo apenas minha cueca, e pego uma calça de moletom cinza e outra cueca limpa - ao menos usarei uma limpa até irmos definitivamente tomar banho - e tiro tudo.
De costas para ela ainda. Sei bem o que lhe causo, e quando visto ambos, me poupo da camisa nessa noite quente, ainda tentando passar os dedos pelo meu cabelo que está ficando mais longo a cada dia, já chegando à base da minha nuca.
Quando me viro, Aeri está usando uma de minhas camisetas cor de chumbo da Carthartt, que mais parece um vestido em seu corpo.
A olho de cima a baixo e me viro em direção ao banheiro, jogando minha franja para longe dos meus olhos, e logo abrindo a torneira para passar um pouco de água no rosto.
Deus.
Então preparo a pia e a bancada para tirar as lentes dos meus olhos, retirando o frasco com solução para limpá-las de uma das gavetas. E ouço os passos curiosos esgueirando-se pela porta e chegando até o meu lado no banheiro.
Aeri me observa como um cervo perdido, analisando todas as minhas ações e os itens que posiciono na bancada, me fazendo soltar uma risada curta.
– Aish.
Ela me olha pelo espelho, atenta, uma perna flexionada repousando o pé no joelho de sua outra perna.
– Posso tirar? – Seus olhos se esbugalham quando os meus dedos abrem um dos meus e pinça uma das lentes.
– Não mesmo, você vai aproveitar para me cegar. – Digo, concentrado.
Quando tiro e deposito em um dos compartimentos da caixinha de lentes, ela bate na minha bunda com um pé.
Com rapidez, pelo hábito do ato, tiro as lentes e pego minha escova para me preparar para a noite. Então a olho. O cervo de olhos saltados ainda perdido nesse banheiro.
Hah.
Lhe dou outra escova de dentes para que ela faça o mesmo (escova essa que antes era nova, até ela usar na última e primeira vez que dormiu aqui e agora aparentemente pertence a ela).
Conseguimos concluir a escovação e higiene para dormir e nos livrar do gosto amargo da bebida em nossas bocas com excelência. Mesmo com Aeri me atentando, pinçando minha bochecha e rindo da minha cara e falando com a boca cheia de espuma de pasta o “quanto eu era idiota”, tentando não rir muito para não engolir a tal espuma, enquanto eu fazia caretas para ela com a escova na boca.
Definitivamente idiotas.
Sobrevivemos.
Ela sai primeiro do banheiro e a observo pelo reflexo por alguns segundos. Então pego meus óculos, o ajusto em meu rosto e a sigo em direção à cama.
– Vai ficar só de camiseta mesmo? – Pergunto, humorado, já que ela só está com as partes de baixo e a t-shirt. – Aai garota, você me complica, na moral. – E passo a mão pelo rosto. – Não presta.
– Eu não presto ou você não resiste? – Aeri morde o lábio quando profere, ajustando o travesseiro atrás dela. – Você também não presta, não se iluda, coelho...
– Eu? Mas eu nunca falei que eu prestava. – Sorrio de lado, erguendo uma sobrancelha. Ela se acalenta na cama, suspirando alto de propósito para mim. Pego de novo a garrafinha de água esquecida e a abro, dando um gole generoso e ofereço a ela. Espero ela terminar de beber para deixar a garrafa na escrivaninha e, de alguma forma, tudo parece tão certo e em seu devido lugar. Então a ideia passa pela minha cabeça como um trovão. – Sabe de uma coisa? Eu preciso registrar isso em outro lugar que não seja só a minha mente. Fica aí.
Sinto seu olhar confuso em minhas costas, mas mudo minha rota e paro na estante encostada na parede, procurando a máquina certa. E voilà. Pego uma de minhas câmeras que estava com um filme novo, um que eu havia colocado ainda essa semana, pronto para ser utilizado.
Confiro o número de cliques no pequeno visor. Zero. Todos os trinta e seis estão aqui. Então sorrio e me viro, apoiando um joelho na cama.
– Continua assim, princesa. – Ela faz uma cara confusa para mim e se ajeita minimamente.
– Jungkook...
– É, assim, apoiada na cama nos cotovelos. E... – Abaixo a câmera do nível dos meus olhos. – Só com a minha blusa. – Sorrio sacana para ela, que logo saca e passa as mãos pelo rosto, rindo. – Eu não podia pedir por mais nada nessa madrugada.
– Sei.
– É... Menos a ressaca do capeta que eu vou estar amanhã. – Gargalho e aproveito sua risada para começar os cliques.
Perfeito.
Bato mais três cliques.
– Ah não, Jungkook! Me deixa ver como tá! Vai, mostra aqui! – Desperto a diaba novamente.
E eu rio mais.
– Não tem como ver, princesa!
– Como não?! – Seus ombros caem.
– Juro. Não tem, essa câmera é uma analógica antiga. Inclusive, esses foram os primeiros cliques desse rolo, então espero que eu não tenha queimado essas fotos, hah, senão eu vou ficar muito puto... – Rio olhando para a câmera novamente e o contador.
– Claro, eu tô zoada. – Ela ri e gira os olhos, se jogando na cama em um impulso brabo.
– Mas de qualquer forma, eu vou ver antes de você quando eu revelar. – Confesso.
– Você. Você vai ver antes de mim essas tragédias.
– Uhum... Eu vou levar todos os filmes que eu tenho aqui para revelar no Japão, em um laboratório que eu curto, eles fazem melhor que eu.
– Você sabe revelar? – Aeri franze o cenho.
Não respondo, continuo tirando fotos dela, ficando absorto nesse momento espontâneo e particular.
– Fica assim... Desse jeito. Isso. – Sussurro.
Ela gira os olhos de novo e ri, passando a mão pelo rosto, o escondendo brevemente.
– Acho que eu vou gostar dessa. – Sorrio e comprimo a boca, tentando não rir.
– Claro! Eu aposto que fiquei esquisita em absolutamente todas elas!
– Relaxa, tá esquisita, mas nada fora do normal. – Digo e Moon vem para cima de mim em segundos, tentando me atingir. E conseguindo. – Ai, ai... Ouch! – Gargalho e tento desviar de seus golpes de esquilo. – Argh, mãozinha forte! É brincadeira. Claro que vai estar linda, sua chatinha, é você pelos olhos do fotógrafo aqui, pô! Não sou tipo aqueles zoados que tiram fotos toscas e acham que são profissa... Tá vai, a real é que você continuaria gata mesmo que eu fosse péssimo. – Mas Aeri me puxa pelo pescoço. – Aah saaai, cê tá doidona! – Minha barriga começa a doer do tanto que rio. – Não me puxa, caceta. Ah, porque eu fui tra-argh, ai, trazer uma bêbada pra minha casa?
– Essa bêbada aqui que não vai ser a única zoada nessa cilada de fotos! Não, não mesmo. Vai, é sua vez. – Ela exalta e eu franzo o cenho. – Ao menos apareça em uma! Jeon!
E continuamos nesse desvia-puxa-puxa-desvia, até eu desistir pelas bochechas ardendo.
– Tá! Tá, eu vou tirar uma nossa. – Ela não parece convencida, mas essa é minha condição. Tentando me ajeitar, posiciono a câmera para nós dois e a encaro. – Então... Olha pra mim. Isso...
Moon me fita e tentamos não rir um da cara do outro antes que eu ativasse o botão de disparo.
Puta merda.
Por alguma razão a gente quase se caga de tanto rir.
– Tomara que eu esteja mirando certo. – Continuo rindo e aperto o botão.
– Capaz que seu nariz vai bem roubar a cena... Vai acertar só nele.
– Han?! Que eu vou acertar só o meu nariz o quê! NOSSA, não, não vou tirar mais. Não! Sai! – Ela tenta me puxar de volta em meio às nossas gargalhadas. – Saaaai.
– Seu nariz é perfeito, seu bobo, e sei que você sabe disso, para vai! Guk! – Ela reitera e segura meu rosto com suas mãos, assim me fazendo parar onde ela queria.
E eu que estava de olhos fechados, abro apenas um.
Ao perceber, ela gira os olhos, rindo, e me larga de uma vez, o que faz nós dois rirmos.
– Você quem disse. Perfeito.
– Argh. É, é... Mas espero que tenha queimado as primeiras fotos. – Ela responde, fingindo estar emburrada.
– É, eu também espero que tenha queimado essa, tsc. – Também finjo brabeza, que dura segundos ao passo que suspiro, já rindo.
E quando mal espero, Aeri pega a câmera da minha mão em um movimento rápido, ficando por cima de mim e apontando a câmera em minha direção.
Ergo uma sobrancelha.
– Que porr... Princesa, você é fotógrafa agora?
– Aham. Me formei há 1 minuto atrás.
– Comprou o diploma, foi?
Rimos, mas ela não desiste.
Então me ergo um pouco, sentando-me apoiado em minhas mãos no colchão.
– Uhn... – Me levanto o suficiente para mostrar a ela como usar a máquina rapidamente. Não tem segredo. – Clica aqui. Isso, nesse botão. Só verifica se tá focando antes pra não perder o clique.
– Aqui?
– É!
E por algum motivo isso é empolgante para mim.
– Certo... Mas até as fotos desfocadas podem ficar iradas, a intenção é registrar o momento, Jeon! É tudo questão de perspectiva. – Ela levanta um ombro e fala em um tom incontestável.
A olho por alguns segundos, piscando, e concordo. Então meneio a cabeça e solto uma risada soprada. Ela realmente é imprevisível. E eu iria até mais fundo nesse assunto que ela inferiu tão bem; sobre como o desfoque do objeto principal tem importância em representar e diversificar intenções em termos de emoção e relevância, mas estou com receio de falar mais e acabar por distraí-la.
– Você quem é a profissional aqui, princesa! – Afirmo e ela sorri fechando os olhos, satisfeita e gabando-se. Eu gosto disso. – Ah! E as configurações... Pode deixar do jeito que estão. – Digo, concentrado.
– Relaxa, eu sou uma artista. Você vai sair ok. – Ela diz, levantando-se e ficando ao lado da câmera para ter uma perspectiva diferente.
– Ok?! Entendi, tá bom... – Minhas pálpebras cerram-se e deito na almofada, erguendo o cenho.
– Tá duvidando da minha eficiência?
– Jamais. No mínimo eu vou contar com a minha própria beleza.
Ela joga a cabeça para trás e ri mais alto.
– Idiota! – E sem aviso prévio, ela faz o primeiro clique. – Sabe que sai bonito em todos os ângulos.
– Que nem você.
– Aham. – Ela zoa e continua fotografando enquadramentos espontâneos. – Como você sabe exatamente como sair bem em cada clique?!
Dou de ombros.
– Omma me ensinou.
– Aí não vale quando se tem uma mãe fotógrafa!
Sorrio fechado e meu olhar se desfoca por milésimos de segundos.
– Você sabe muito melhor que eu, sem assistência alguma. – Volto meus olhos para ela e sorrio. – Só sendo você, chatinha.
– Shhhhh. Agora faz uma pose.
– Ah não, princesa, eu não vou fazer pose coisa nenhuma! Nem fodendo. – Rio e contorço o tronco.
Aeri ri por trás da máquina e tira mais fotos.
– Ou, o que você acha d’eu colocar um piercing na sobrancelha? – Pondero, pinçando minha sobrancelha direita em meio aos cliques.
– Você realmente está empenhado nisso de ser um bad boy, não é Jungkook? – Ela diz, abaixando a câmera.
– Vai dizer que agora mudou de ideia e acha que não combina comigo? – E Aeri suspira, vencida, olhando para o lado fingindo pensar.
Então ergo o corpo e abraço sua cintura.
– Infelizmente, para você, você nunca vai parar de parecer um coelho.
– De Satã?
– Eu nunca disse isso! – Ela aperta o contato em meu ombro e ri mais alto, segurando a câmera com a outra mão, apertando o botão de disparo e tira mais uma foto.
– É? Argh, idiota! – Zombo mais, fazendo uma careta, franzindo o nariz. – Aaah, a gente tá muito bêbado. – Confesso e, Deus amado, e eu nem bebi tanto assim. – Foi culpa do makgeolli que você me fez beber quando chegamos... Puta merda. Me lembra amanhã que eu tive essa ideia! – Rio.
Ela finge uma cara de ofendida, mas tenta deter o riso.
– Meu makgeolli?!
– Pô, eu estava bem, tranquilo e são até... Você. – Rio junto com ela. – Tá boom, vamos dormir, sapeca. Chega de energia por hoje. Já pra cama. – Dou um tapinha em sua bunda e ela cerra os olhos para mim, mas com uma expressão humorada.
Então a pego pela cintura para ela dar um impulso e arfo. As pernas de Aeri se enlaçam na minha cintura e quando me deito, ela fica por cima de mim, esticando-se para posicionar a câmera na cômoda.
– Jeon, você me ensina a mexer depois? Na câmera.
– Claro que ensino, princesa. Hah... – Tiro um fio de cabelo que caia por cima de seu rosto e estalo a língua na boca. – E agora que você conseguiu o que queria, sai de cima de mim e deita aqui. – Sorrio e aperto sua cintura.
– Sair de cima... Vou lembrar dessa frase e te cobrar isso depois, coelho.
– Coelho, é? Eu não sou coelho… – Soergo meu lábio superior brevemente pelo apelido e a encaro com um olho aberto. – E você sempre usando minhas palavras contra mim...
Moon ri travessa, enrugando o nariz; e então flexiona as duas pernas e se aconchega na cama quando ligo o ar condicionado e passo o lençol por cima dela.
– Então você vai mesmo para o Japão? – Ela me pega de surpresa ao perguntar despretensiosamente.
– Por alguns dias... – Concordo com a cabeça. – Tóquio. Eu vou para Tóquio. Terei umas coisas meio chatas da GD para fazer... Mas o Jin-hyung vai comigo, então vai ser menos estressante.
– Eu ouvi... Que bom que ele vai com você também! – Moon suspira e relaxa mais.
– Uhum... E, é, lá vão rolar algumas reuniões e vou representar meu pai para verificar a situação da matriz de lá com o diretor e... Enfim. – Desisto do papo e sorrio. – Eu vou te entediar se eu começar com esse assunto! – Rio sem graça e ela se aninha a mim.
– Ah... Não vai. – Seus olhos pesados e voz mais fraca a denunciam, o sono estava chegando rápido.
– Não? Sei lá, nem todo mundo quer ouvir sobre, pode ser meio entediante. – E então ela ergue uma sobrancelha. – Mas então tá, quando eu voltar te conto o que aconteceu por lá... Se você ainda quiser ouvir, hah. – Começo um carinho em seu cabelo.
– Vou querer saber. Sou curiosa.
– Eu sei. – Rio. Continuo passando devagar meus dedos pelos fios dela e penso por alguns segundos, mirando qualquer coisa não específica a minha frente. – Mas... Escuta, por que você esperou até agora pra me perguntar sobre isso, hum? Podia ter me perguntado ontem ou por mensagem... – Abaixo a cabeça e vejo seu olhar. – É só... Hum, conversa comigo! Hah.
Aeri sorri em meio a uma interjeição e fecha os olhos.
– Hum. O Jin é bom no trabalho? Ele parece ser. – Ela indaga de repente.
– Sim, princesa. – Rio mais alto e pinço sua bochecha quando ela boceja. – Ele é muito bom, a fama o precede, como você diz.
– Uuuhn! – Ela emite um resmungo.
– Hum?
Então ela volta a colocar minha mão em sua cabeça.
– Ah, não quer que eu pare o carinho no seu cabelo? – Volto meus dedos para seus cabelos, massageando devagar sua cabeça. – Mas tá ficando muito mimada... – Meneio a cabeça e sorrio por tamanha marra e manha.
– Você não pode mais aparecer de cueca branca molhada. – Moon diz do nada com voz de sono, os olhos cerrados, e ela se aconchega um pouco mais no meu peito.
– Ah não, princesa? – Rio mais.
– Não, não pros outros.
– Pra você pode?
Mas ela não responde, só me aperta um pouco mais e parece estar começando a dormir realmente.
E sinto sua pele eriçar quando desço o afago pela sua nuca.
– Estou te dando arrepios. – Sussurro, sentindo cada mínimo solavanco sob a ponta dos meus dedos. – O que mais eu faço com você?
– Tantas coisas… – Ela respira pesadamente, seu peito arfa neste momento. – Não sei se quero te contar...
– Preciso descobrir então. – Afirmo, abaixando a cabeça até a curva do seu pescoço. Inspiro seu cheiro e me inebrio por segundos, passando o braço em volta dela e a aninhando mais.
– Guk.
– Huum?
– Você acha que o Jimin tá interessado na Sora?
Pisco algumas vezes.
– Jimin? Ahm... – Franzo o cenho. Park e Kwon? – Não sei princesa... Ela namora, não é?
– Não foi isso que eu perguntei. – Ela resmunga de novo.
Pondero.
– De onde você tirou isso, hum? – Cutuco sua cintura e ela só dá de ombros, tentando não dar uma risada, a marrenta. – Bom... Eles parecem ter muitas coisas em comum... Isso deve fazer com que eles tenham uma afinidade maior, o que é ok, mas... Sei lá.
– Argh, garotos nunca sabem de nada! Me conte uma novidade. – Ela gira os olhos e aperta meu peitoral, me fazendo rir.
– Olha, tu sabe que o Jimin curte bastante a vida de solteiro. Não ao ponto incorrigível do Yoongi, mas ele gosta de flertar, seja lá com quem for... É o jeito dele, você pode ter confundido, não? Ou... Hum... O contraponto é que ele também não consegue disfarçar quando curte mesmo alguém. Mas eu sei que ele não chegaria em uma pessoa comprometida.
– Hummmm. – Ela parece pensar.
– Vou reparar mais nisso pra te falar algo mais concreto.
E então ela concorda mais satisfeita, fazendo uma expressão de aprovação. E eu sorrio, continuando a fazer o carinho, a massageando.
– Hum! Sabe o que eu lembrei esses dias? – Digo e fecho os olhos também. – Na verdade, eu não lembrei exatamente, um primo meu me mandou uma mensagem perguntando sobre um festival e... Enfim. Tem uma lenda antiga que contam no Japão sobre o coelho e a lua. Sabia? Eu e você, princesa. – Rio, ainda meio embriagado e escuto sua risada leve também.
– Festival? Acho que sei... – Ela boceja de novo. – Mas agora só lembro da lenda do dragão e da lua.
– Ah, é? Tem essa? Hummm... Olha só. Vou ter que pesquisar sobre depois, hah... – Me arrumo debaixo do lençol e também a minha cabeça no travesseiro para ficar mais confortável. – Mas como você não lembra dessa, princesa? Uhn, o lance do festival é que lá existe um especialmente dedicado para a lua. O Tsukimi. E eu ia muito anos atrás, em todos eles, sempre ia com a minha família.
– Como era lá? – Ela pergunta baixinho.
– Ahm, o festival em si é bem tranquilo, é tipo... Realmente para apreciar a lua. – Solto uma risada. – Nesse dia, do festival, ela é considerada a mais linda e brilhante do ano, até porque o Tsukimi significa literalmente “visão da lua”... Então a galera se reúne em alguns lugares para poderem admirar, sabe?
– Humm... – A sinto sorrir contra minha pele.
Meu avô dizia que era para celebrar a beleza da lua.
E agora eu entendo. Faz todo sentido fazerem festivais para celebrar tal beleza.
– Então tem altas coisas da lua e do coelho. É um baita símbolo no festival. – Continuo, já piscando devagar. – Porque tem essa lenda budista... Ela que dizia que, certo dia, um velho senhor pediu comida a um macaco, uma lontra, um chacal e um coelho. Hum. O macaco colheu frutas, a lontra levou um peixe e o chacal apareceu com um lagarto; e todos eles ofereceram esses alimentos para o velho. Só que... – Bocejo. – O coelho não tinha levado nada, porque as ervas que ele comia não era boa para os humanos. Então... Em um... Um ato de sacrifício, o coelho decidiu oferecer o seu próprio corpo ao senhor e pulou no fogo. Mas então, calma, o corpo dele simplesmente não queimou. O tal senhorzinho era um Sakra, ou seja, uma divindade. Daí... Para as pessoas se lembrarem sempre do sacrifício dele, desse ato altruísta... A divindade resolveu desenhar a imagem do coelho na lua. Hah... Viu como os coelhos são foda? Tá, também dizem que o coelho está lá na lua fazendo uns bolinhos, por isso tem esses bolinhos de arroz no festival. – Rio grogue. – O coelho e a lua...
Bocejo de novo e abaixo o olhar para Moon.
– Oh. Você já tá dormindo? – Pisco algumas vezes antes de sorrir inevitavelmente e arrumar o lençol ao redor dela, já que o quarto já está bem frio agora. – Porquinha escapou do banho... – Rio sozinho.
Descanso um pouco mais o corpo e meus olhos pesam. Cantarolo sem pensar uma música que minha mãe costumava cantar para eu dormisse quando criança e acabo entrando em uma vertigem de sono e devaneio enquanto a acalento.
Click.
Eu sei que seria mais fácil correr disso. Mais fácil para Aeri. Mais fácil para mim.
Mas... Ah, que merda.
Em algum lugar em mim, eu quero aproveitar esses momentos em que podemos dividir esse tipo de situação. Eu sei que mais cedo ou mais tarde, mesmo com toda minha insistência, essa viagem não será apenas sobre uma questão de “dias”.
Então penso se não seria mesmo o melhor para Aeri que eu me afaste e não complique e embole as coisas mais do que já estão.
Porque há algo sobre ela ser suave, e ao mesmo tempo forte, que me fascina. Seja apenas a opção fácil, onde se justifica pela sensação inegavelmente agradável de ter alguém tão próximo de novo, atingindo o ponto onde eu já havia esquecido que poderia ser tocado; ou a opção difícil, por ser o fato de ser especialmente eu e ela nos reconectando de novo... Bem, que seja. Eu gosto disso. Eu só gosto, ponto.
As pontas dos meus dedos em seu couro cabeludo a fazem tremer novamente em meio ao seu sono e eu sinto o riçar por debaixo das minhas digitais. Porra.
Ela ainda me odeia?
É tudo uma grande bagunça. Bagunça que ela (me) causa.
O foda é que deveríamos ao menos transar, se eu for pensar no teor desse envolvimento. Mas cá está ela apenas dormindo com as minhas roupas, nos meus braços, sua respiração devagar ressonando em meus ouvidos e seu corpo oscilando, inspirando e expirando contra meu peitoral e tornando todo o devaneio embriagado real.
E o foda é que eu gosto. Desse jeito.
Tsc.
A sensação é enfeitiçante.
Aeri. Ela que não tem um nome exato na minha vida, mas em quem eu não consigo parar de pensar.
– Porra, você me confunde. – Falo para mim mesmo.
Já se passaram semanas, quase um mês ou dois, e ela ainda é um mistério para mim. E de certa forma, eu quero que ela continue assim mesmo; pare de mexer com a minha cabeça, pare de me confundir.
Sem dúvidas, sei que quanto mais me conecto a ela, mais problema e bagunça ela se torna em mim. E as coisas estão muito boas do jeito que estão agora. Não há necessidade para as direções enlouquecerem e se desvirtuarem como uma bússola que gira inquietantemente sem rumo.
Então decido que por hora, eu simplesmente não vou pensar em mais nada e, em vez disso, aproveitar os minutos de paz até Moon acordar pronta para revirar meu mundo em pleno caos.
E eu rio sozinho.
Meus olhos semicerram e a respiração ao meu lado me hipnotiza rumo ao sono completo.
Olho apenas mais uma vez para janela.
Lá estava ela de novo.
A lua.
O caos nunca pareceu tão bom.
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"I'm on the other side, it's alright, just hold me in the dark;
No one's got to know what we do, hit me up when you're bored;
I got so high the other night, I swear to God,
I felt my feet leave the ground;
your back against the wall, this is all we've been talkin' about"
¹ Gaeran tost-u: torradas de ovo
² Mess It Up: música de Gracie Abrams
³ Sentō: casa de banho japonesa
⁴ Makgeolli: vinho branco preparado com arroz
⁵ Maekju: cerveja coreana
⁶ Bokbunja Ju: licor de framboesas pretas
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