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História Bad Boy . JJK - Einundzwanzig ; O lado escuro do sol - História escrita por tigerlilynoona - Spirit Fanfics e Histórias
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História Bad Boy . JJK - Einundzwanzig ; O lado escuro do sol


Escrita por: tigerlilynoona

Capítulo 21 - Einundzwanzig ; O lado escuro do sol


Fanfic / Fanfiction Bad Boy . JJK - Einundzwanzig ; O lado escuro do sol

[Dark Side – Chris Lanzon.mp3]

Perspectiva de Jeon Jungkook.

 

 

❝You said you have a dark side...
You said you’d cut my heart out

and even though I know what's on the line,

I still want to see what's on the other side❞

--------------------
 

 

Depois de terminar o relatório de Produção e Operações mensal e a edição de algumas fotos tiradas naquela tarde, sinto dois braços que passavam dos meus ombros até meu peitoral e observava a tela do meu notebook. 

Ela.

– Na? – A pergunta retórica sai automaticamente. É claro que é ela. É seu quarto e o cheiro de sua colônia e banho tomado que sinto invadindo tudo em mim.
Ela não responde, apenas murmura algo incompreensível e acaricia minha bochecha direita com seu nariz, me fazendo quase fechar os olhos.
Ergo a cabeça e sou recebido com seu rosto angelical, que eu vislumbro de cabeça para baixo, mas que logo desaparece quando minhas pálpebras finalmente se cerram e sinto seu selar carinhoso em meus lábios. 

É macio, adocicado e cheio de um afeto atingível.

– Viu que horas são? Hum? Você deve estar cansado... – Ela sorri condolente e roça seu polegar em meu rosto, logo franzindo o nariz. – Ei. Olha só você. – Escuto sua risada. – Você é tão lindo, sabia?

Ela gira minha cadeira, ou melhor, a sua, já que estamos em seu quarto; e me coloca de repente de frente para ela. Nos encaramos nos olhos, mas isso dura meros segundos perdidos no espaço tempo, porque seu olhar desce até meus lábios e logo em seguida ela me lança um sorriso provocador.

Eu conheço esse olhar.

Desta vez não é apenas um selar, ela me beija como se me devorasse e eu agarro os quadris dela, levando-a a se sentar em meu colo. Em alguns minutos, o beijo se torna urgente e a ansiedade toma conta do lugar, o cheiro muda, as respirações mudam. Ela desce sua mão até meu peit8409ral e então apalpgrip4 meu p4u84jf e gru9p0ejk... 01000101 01101100 01100001 00100000 01110100 01100101 00100000 01110100 01110010 01100001 01101001 01110101 00101100 00100000 01110011 01100101 01110101 00100000 01101001 01100100 01101001 01101111 01110100 01100001.

Espera.

Uma luz incessante me cega de repente e esfrego os olhos para contê-los de tamanha claridade, a qual detesto, e caio brutalmente de joelhos pela falta do contato anterior. Onde ela...? Agarro o que antes era pele e agora se transforma em grama; a terra molhada sujando minhas unhas.
Arrasto minhas mãos no chão e tento me reerguer. É como um cenário intrincado entre borrões e linhas que permeiam desejo e desespero palpáveis, ou é ao menos o que sinto cruzando meu corpo como feixes de luz atordoantes.

A t o r d o a d o.

O brilho sobrenatural ilumina os arredores e agora eu vejo. Me vejo parado em um jardim iluminado pela lua; mesmo parecendo dia com seu brilho ofuscante e tão exuberante; adornado por flores alvas e róseas e estrelas brilhantes por entre a densa neblina. Ou... Uma prisão, já que para todos os lugares que olho, vejo meu reflexo em estilhaços no horizonte, confuso.
Minha mente tece um enleado retorcido e caminho por uma paisagem nebulosa e etérea, o meu próprio eu me seguindo pelo reflexo que me acompanha. Ele me segue, me observa, me guia, me amofina. É só então que me viro e percebo que enquanto atravesso o gramado, meu olhar cai sobre uma figura emergindo da névoa.

Vejo ela milhares de vezes refletida.
Era a garota cujo fascínio me manteve cativo. Um enigma envolto em beleza, diferente de seus olhos cheios de arcanos. Ou assim eu imagino.
Uma brisa suave acaricia minha pele, confortando-me e trazendo consigo o leve aroma de... Cerejeiras?

E ali, estava a garota.

Sua aura parecia me puxar.

Ela.

Onde ela está? Não sei qual delas seria a real, se ela está próxima ou longe, apenas vejo seus reflexos... Tão perto. Tão longe.
Seu cabelo lustroso caía em cascata sobre os ombros, emoldurando um rosto que pintava fascínio e enigma.

Tento me aproximar dela, mas meus pés não se movem. Eu tento de novo.

De novo.

E de novo.

Até se tornar angustiante não poder me mover. Apesar disso, havia um magnetismo inegável que me puxava e me afastava ao mesmo tempo, como uma mariposa hipnotizada pela chama que a queima e a mata.

– Há quanto tempo não te vejo. – Ela aparece em minha frente e quase ronrona, sua voz como o canto de uma sereia, sedutora e perigosa. Suas mãos ensaiam um contato com meu rosto, mas não conseguem me alcançar. Ainda.

P e r i g o s a.

Sua voz era como uma melodia que me alertava.

Uma pontada de raiva rasga outro feixe de luz dentro de mim, que me tortura, então o vejo em meu peito lacerado. Em c â m e r a  l e n t a.
Os feixes rebatiam contra os estilhaços do lugar, formando uma teia de proteção. Proteção? Eles atravessam-me de uma ponta a outra. E sou inundado por sentimentos que tumultuam minha mente como um castigo.

– O que você está fazendo aqui? – Cuspo as palavras que se misturam em amargura, mesmo que não façam sentido para mim, porque elas saem com um gosto ruim de minha boca. E eu sinto.

Ela se aproxima de mim, seus passos lentos e deliberados, seu olhar nunca deixando o meu. Suas palavras sussurradas pingam como um doce que envenena.

– Eu vim para lembrá-lo do que você perd3u5gnds... 01000101 01101100 01100001 00100000 01101101 01100101 00100000 01100001 01101101 01101111 01110101 00100000 01100001 01101100 01100111 01110101 01101101 01100001 00100000 01110110 01100101 01111010 00111111.

Não.

Meus olhos são cegados mais uma vez, mas não por luz e sim uma escuridão. Eu fico cego momentaneamente.
Uma praia no cair da noite, as ondas quebrando contra a costa com uma intensidade violenta. Não há mais meus reflexos. Sinos de alerta ecoam como um alarme torturando meus tímpanos, mas não ouço seus apelos.
De repente, meus pés estão molhados pela água, seu corpo a poucos centímetros de distância. Eu quase podia sentir o calor de sua respiração em minha pele. Meu olhar desvia de seus olhos sirenos, e é então que as tatuagens que adornavam nossa tez pareciam pulsar com uma energia obscura.

Mas, quando seus olhos brilham com uma luz sinistra e suas feições se contorceram, o toque de seus dedos, uma vez suaves, se tornam frios. O feixe de raiva explode e me corrompe, eu sinto cada centímetro de dor misturado com um sentimento que eu não saberia nomear. Tento confessar algo inefável com meu peito aberto pelos feixes, mas minha voz falha. "Você quase conseguiu”, eu tentava dizer agora, mas minhas cordas vocais não emitem som algum.

Ela riu, um ruído que ecoou com uma satisfação quase cruel. E ecoava. Ecoava. Ecoava. Ecoava.

01101101 01100101 01110101 00100000 01100100 01110010 01100001 01100111 11100011 01101111 00100000 01110001 01110101 01100101 01110010 00100000 01110110 01101001 01101110 01100111 01100001 01101110 11100111 01100001 00101100 00100000 01101101 01100001 01110011 00100000 01100101 01110101 00100000 01110001 01110101 01100101 01110010 01101111 00100000 01101101 01101001 01101110 01101000 01100001 00100000 01110000 01100001 01111010 00101110.

Eu corro por um labirinto. Olho para trás, não há ninguém. Mas eu sei que preciso correr. E eu corro.

Corro.

Corro.

Não há saí d a.

A outrora bela paisagem se retorceu e se con t o r c e u.

Me vi preso em um ciclo interminável de desespero, onde seu riso ecoa deleitando-se com minha angústia. Eu não posso perder. Cada passo que eu dava em direção à saída apenas me levava ainda mais fundo na escuridão sem fim, em l o o p i n g.

Labirinto.

Muros.

Sem saída.

Labirinto.

Erro.

Ela.

Não.

N ã o.

Tento correr para o lado oposto. Mas ela sorri, quase chorando, e me chama. S i r e n a.

Sua boca pingava o veneno escuro e viscoso.

– Kookie...

Para.

Suas tatuagens se contorciam e dançavam, transformando-se em grotescas entidades vivas que arranhavam sua própria carne. E eu senti a emoção desconhecida do medo quando em um solavanco, ela se transformou diante de meus olhos. Minhas pupilas automaticamente diminuem quando sua carne se transmutou em escamas, seus membros se alongaram e seu corpo se contorceu em uma forma serpentina. A garota que eu amei se tornou uma serpente. E sem oferecer-me tempo para partida, enrolou-me em torno de sua pele escamosa. Minhas unhas arranham sua crosta e a descascam, mas ela me aperta mais e mais. Ela aperta meu pescoço na altura do dragão traçado minuciosamente...

Não é mais ela.

A cobra sibila, com sua língua bifurcada, sua intenção maliciosa, e me h i p n o  t  i  z  a.

– Você pensou que poderia es q u e c e r? –  Ela sussurra.

Eu luto com todas as minhas forças para me desvencilhar, reunindo toda coragem e resiliência a qual fui ensinado ter.

Mas eu vou viver nessa escuridão.

Todas minhas angústias parecem tomar forma agora.

Para quê lutar uma guerra perdida?

E sou absorvido.

Sufocado.

Tento mexer minhas mãos, mas elas não me obedecem.

Não adianta?

Minha consciência se devaneia.

Minha voz não existe.

Meu destino fad a d o... 01000101 01110101 00100000 01100101 01110011 01110100 01100001 01110010 01100101 01101001 00100000 01100001 01110001 01110101 01101001 00101110.

Mas.

Quem... Seria?

Uma espada atravessa a cabeça da serpente, que automaticamente para de me estrangular quando caio no chão.

Estou desacordado.

Estou?

Minha mente consegue registrar seus atos, dilacerando os fantasmas angustiantes que tomaram forma. E com um último lufar, meus olhos saltam, eu uso dos vestígios remanescentes de força para me livrar do aperto da serpente que permanecia ao meu redor. Eu preciso. E mesmo com as mãos pesadas e quase imóveis, ofegando; cambaleio e rastejo para longe das criaturas antes de olhar para trás e ver sua armadura prata adornada de um brasão de dragão e olhos cor de púrpura correr e desaparecer pelo lado oposto ao meu, sua espada ensanguentada em mãos... Q u e m? 
Para só então eu perceber o jardim se dissolver, desaparecendo na escuridão que se dissipava, levando junto consigo as criaturas que deslizam para o abismo obscuro. Minhas unhas fincam o chão porquê não posso cair tam b é m 01010110 01101111 01100011 11101010 00100000 01100011 01101111 01101110 01110011 01100101 01100111 01110101 01100101 00100000 01110011 01100001 01101100 01110110 01100001 01110010 00100000 01100001 00100000 01110011 01101001 00100000 01101101 01100101 01110011 01101101 01101111 00101110 00100000 01001110 11100011 01101111 00100000 01100100 01100101 01110011 01101001 01110011 01110100 01100001 00101110...

Jungkook.

Jungkook.

Saol na saol, tús go deireadh, tá muid beo go deo.

JUNGKOOK.

 

 

Levanto de súbito com os clamores em meu sonho, exasperado e encharcado de suor. Merda. Minha respiração pesada e errática combina com meu coração que bate com uma mistura de alívio e dor persistente. Meu peito sobe e desce desesperado por ar. 
Era apenas um sonho. Lembrança e sonho, não sei dizer.

Engulo em seco e passo a mão direita pelo meu rosto suado. Suor frio. Um aviso assombroso que eu jurava ter deixado para trás. Alguns sonhos deveriam servir de advertência, como um lembrete dos perigos que existem em reabrir velhas feridas.
Mesmo que não quisessem ser reabertas, para começo de conversa. E isso inflama algo em mim que acho que não deve ser incitado agora.
O suor após o sono encharca meus lençóis e agarro meu peito acelerado, gradualmente percebendo que acordei do pesadelo. Olho ao redor e percebo meu quarto. Meu olhar fixo nos intrincados padrões que adornam o teto, traçando o desenho elaborado para distrair minha mente. Porquê... Meu comportamento geralmente composto fora quebrado pelos resquícios de um... Sonho.

Não, um pesadelo.

Vai se foder.

Me movo e me ergo na cama, meus olhos vagam para o espelho ao lado dela e meu reflexo me observa com um misto de consolo e alguma outra emoção. Balanço as pernas para o lado da cama e fico sentado, perdido em pensamentos insulsos; meus dedos traçando distraidamente o bordado nos lençóis.

E rio sozinho, esfregando os olhos.

Ainda é noite lá fora. O relógio digital me afirmando que ainda são 4:25 da manhã.

Que se foda.

Me jogo no colchão novamente e desejo conseguir dormir mais algumas horas. Foi só um sonho ruim. Olho para a janela e vejo a lua ardente, brilhando com força e iluminando o quarto.

Está me vendo?

Meus olhos piscam.

Vacilam.

E eu espero que meu sono seja velado.

 

 

 

 

10h29.

 

O despertador não só me acorda, como me assusta por ter sido pego de súbito. O sol espreita lento, mas acidamente, através das cortinas; lançando um brilho dourado quente em partes do meu corpo que eu gostaria que se mantivessem frias.

Não sei como, mas consigo revirar os olhos mesmo com eles fechados.
A luminosidade exagerada sempre me incomodou, então automaticamente me recrimino por não ter fechado devidamente as cortinas na noite anterior. Mas isso me dá tempo para apenas me espreguiçar languidamente antes de sentar-me e pensar em porra nenhuma. A não ser de que preciso mesmo marcar uma consulta para saber se não tenho sensibilidade à luz.

Então percebo que era o meu despertador de emergência.

Eu devia ter acordado há duas horas atrás.

Mas que c a r a l h o.

Suspiro fundo.

Acho que perco meia hora ou mais deitado, apenas olhando as redes sociais no celular e... Argh, nada demais como sempre. Nada que vá mudar minha vida.
Vejo alguns lembretes que me encaminham de deadlines de projetos que devo entregar para terminar a maldita faculdade. Mas eu trabalho bem nos quarenta e cinco do segundo tempo, então assim será - como sempre.

Saio da cama e o tecido do tapete persa amortece meus pés que formigam. Dou dois tapas na minha cara, porque ainda me sinto zonzo, e vou até o banheiro da suíte. Meus olhos parecem ainda semi-pregados, mas o que consigo ver no espelho é digno de pena. E eu rio comigo mesmo quando mal consigo ver meu reflexo.

Tô certamente com uma cara de quem perdeu uma briga feia ontem. Puta merda.

Você ganhou, otário.

Aposto que ninguém acredita que eu possa acordar com uma cara derrotada dessas. Qual é, Jungkook. Bocejo e coço a barriga, fitando a banheira que parece me dizer que vai curar meus demônios.

"Ok, é sua função agora", penso. Ligo a caralha da torneira e cruzo os braços, esperando que ela encha a banheira o mais rápido possível e, quiçá, mais rápido ainda se eu ficar fitando-a. Mas óbvio que não.
Encosto-me na parede ao meu lado enquanto sinto o vapor da água morna invadir o banheiro e, por conseguinte, fazer a tensão nos meus músculos se dissipar lentamente. Deveras devagar, mas está funcionando. Me inclino um pouco mais para trás, fechando os olhos, e o pior é que talvez eu saiba o que poderia me tirar dessa maré reversa.

Uma pessoa injuriada que me tira do sério e faz esquecer de... Bem...

 

 

Mensagem de texto

Para: M. Aeri

“Bom

Dia”

 


Mensagem de texto
Para:
Coelho
“Pra quem?”

 

 

Mensagem de texto

Para: M. Aeri

“Princesa

Posso passar aí rapidão?

Não agora, daqui uns trinta minutos na real”

 


Mensagem de texto
Para:
Coelho
“Não vai dar...
E você não devia estar indo para o aeroporto?!”

 

 

Mensagem de texto

Para: M. Aeri

“Sério? ��

Nah, tenho que estar lá em uma hora

ou uma hora e meia, por aí...”

 


Mensagem de texto
Para:
Coelho
“O Tae tá aqui e não deve sair daqui nos próximos minutos!
Mesmo eu tentando hahahaha”

 

 

Mensagem de texto

Para: M. Aeri

“Tae??

Ah, mano...

Que pé no MEU saco”

 


Mensagem de texto
Para:
Coelho
“Kkkkkkk boa viagem, coelho”

 

 

Então a vejo digitando e apagando no display.

Digita e apaga.

Digita e para.

Mas que...? Fico olhando para a tela do celular e cerro o espaço entre as sobrancelhas.

Até rir com a mensagem que finalmente aparece.

 


Mensagem de texto
Para:
Coelho
“Me avisa quando pousar”

 


Mensagem de texto
Para:
Coelho
“Tipo...
Pra saber que você está vivo e são”

 

 

Essa garota.
Imagino como ela ficou ponderando e lutando contra si mesma só para mandar essa simples mensagem, com um tom de piada ainda. Hah.
Sempre a 200 km por hora. Mas com ela... Tudo se passa em câmera lenta.

Vai entender.

Tiro cego.

Olho para o lado e percebo que a banheira já encheu mais que o suficiente. Então a pilha de roupas no cesto; ainda com um vestido, short e calcinha, me trazem à tona (ou tiram). Cúmplices.

 

 

(Flashback de dois dias atrás)
 

“– Mulher nua em uma toalha passando! – Aeri exclama antes de abrir a porta do banheiro. – Garotos que nunca dividiram sua própria cama com outra mulher, não abram os olhos!

Mas ao contrário do que ela esperava, eu estava olhando para ela com um sorriso zombeteiro quando ela apareceu no quarto em busca de suas roupas.

– O quê?

– Nada, você só parece uma das mães daqueles anúncios de creme antirrugas, sabe. – Aponto para a toalha enrolada em sua cabeça. – Com o turbante feito da toalha e tudo.

E ela suspira alto e revira os olhos.

– YA! É O QUÊ?! Você não tem medo do perigo não, ô garoto?! – Ela bufa e ajeita a toalha. – Você com certeza sabe como elogiar uma mulher.

– Foi um elogio! – Reclamo em autodefesa, tentando não rir. – Eu quis dizer em um sentido sexy! Tipo, ahn, um tipo de MILF, não como um insulto.

– Mas eu sou literalmente uma universitária ainda sem filhos!

Continuamos nos encarando por alguns segundos até eu não conseguir aguentar a cara de braba dela e caio na risada, e acho que isso a contagia, já que logo ela começa a rir também. Capaz. Me aproveito disso para puxá-la pelo braço, vendo-a cair por cima de mim e eu desfaço o nó da toalha que Moon usa.”

 

 

 

 

Checo minha aparência uma última vez no espelho e ajusto a gola no pescoço.

Impecável. Acho que é o que diriam.

Hah, patético.

Puxo a maçaneta vertical para fechar a porta do closet nos trilhos, mas antes disso, paro e observo ao redor, dando uma última checada. As prateleiras estavam forradas com suéteres de caxemira que cuidadosamente mantenho dobrados; jaquetas nos cabides, camisas de seda, de algodão, etiquetas com nomes renomados e calças sob medida (sem contar todas as peças de moletons), cada item meticulosamente arrumado para manter sua condição original.
No centro, uma grande ilha com tampo de mármore. Um espaço multifuncional, completo com uma vitrine de vidro que abrigava uma seleção criteriosa de acessórios; e sobre a superfície de mármore, estavam dispostos outros itens para momentos como esse, como as gravatas e abotoaduras organizadas em bandejas.

Entorto a boca e com um balançar da cabeça, fecho as portas.
Desço finalmente o primeiro lance de escadas, passando por esculturas e tapeçarias com motivos de dragões, algo que enfatizam sutilmente (ou nem tanto) o legado da minha família.

– Sr. Jeon, tudo pronto para sua saída, sua escolta está a espera para guiá-lo em segurança durante o trajeto até o aeroporto. – Um destacamento de seguranças, agora composto por apenas dois guardas que representavam a liderança de tais, me aborda ao entrar no salão principal. – Todos já estã---

– Kyung-ho... – Profiro um pouco impaciente.

O segurança chefe a quem me refiro exaspera.

– Sr. Jungkook.

E ergo as sobrancelhas, como se estivesse dizendo: “Viu? Não é tão difícil”.

– Senhor. – O outro pigarreia. – Fizemos uma varredura completa nas instalações e arredores. Tudo limpo.

– Podemos sair em 7 minutos. – Kyung-ho assegura.

Toda vez que eles me chamam de “senhor”, uma fagulha da minha juventude morre. Apenas “Jungkook” seria o ideal, mas sei que seria pedir demais. Faz parte do protocolo e etiqueta... Eles não estão fazendo nada além do seu trabalho.
Tento não revirar os olhos ainda, então apenas aceno em aprovação, fazendo um movimento para que saiam e sinto meu celular vibrar no bolso da calça.

 


Mensagem de texto.
De: Jin-hyung
"Pirralho, estou a caminho do aeroporto.
O trânsito está um PESADELO.
Nem se atreva a ir sem mim”

 

 

Será que eu devo dizer que estou em casa ainda?

Nah.

 

 

Mensagem de texto.

De: Pirralho

“Relaxe, meu bom senhor.

Vou garantir que eles segurem o jatinho, se necessário.

Qualquer coisa a gente vai de bicicleta”

 

 


Mensagem de texto.
De: Jin-hyung
"Engraçadinho kkkkkkkk
(Eu deveria levar isso a sério?)”

 

 

– Srta. Yoon, quero a carta de vinhos e whiskies da semana. – Ouço a voz de Jangmi ordenando o time de gestores da recepção da casa. – E ainda estou aguardando o cardápio que será feito. Não preciso lembrar que teremos visitas e reuniões essa semana, hum? Tudo tem que estar funcionando perfeitamente. Como um ballet. – Uh, ela está impaciente com essas reuniões e eu não poderia estar mais grato por estar literalmente em outro país.

– Sim, senhora, mas... Sra. Hae, nós já... Oh, Sr. Jeon! – Uma das gestoras exclama.

Apareço por trás de Jangmi e a abraço pelas costas. Causando espanto tanto nos gestores quanto em Jangmi que branda, mas para ela foi muito mais pela minha presença do que pelo meu ato.

– Jungkook! O que ainda está fazendo aqui?! – Ela dá um tapinha nas minhas mãos se desfazendo do abraço e sei que tenta não rir nem falar algum palavrão.

– Quer tanto assim se livrar de mim? – Coloco a mão no peito, fingindo sofrimento. Jangmi exaspera e balança a cabeça, chamando outro funcionário com um acenar de mão.

– Shin? Onde está a mala de mão que deixei com Kyung-ho na porta?

– Oh, sim! S-só um minuto, senhora! – O homem fardado sai mais rápido que o vento e ela me olha séria. Mas eu conheço Jangmi com a palma da minha mão.

– Aqui. – Um Shin esbaforido volta com uma duffel bag preta da LV.

Ela recebe a mala de mão, sem tirar os olhos inquisidores de mim, e me entrega.

– Seus itens essenciais de viagem estão prontos. Assegurei-me de que seu traje favorito e artigos... Necessários estejam todos embalados nessa mala.

E eu sorrio largo.

– Jangmi... Você é uma salva-vidas. Não sei o que faria sem você.

Pff, eu sei. Nem eu. – Ela semicerra o olhar e ri desviando o olhar.

– Jangmiii, pare de me mimar!

Jungkook-ah! – Ela olha sutilmente ao redor. – Agora vá logo! Sabe que horas são?!

Mordo meu lábio inferior para conter o riso e, só então, o som de um ruído familiar de moto se aproximando e cantando pneus, quebra o ambiente. Viro meu olhar para através das vidraças do terraço da garagem e meus olhos se clareiam com antecipação, ainda mais quando a segurança deixa a tal moto ultrapassar.

Ué.

Jimin aparece de moto e pega todos nós de surpresa.
Corro para o terraço da garagem o mais rápido que posso e o vejo tirar o capacete, balouçando os cabelos. Então ele me vislumbra com seu rosto momentaneamente em uma incógnita, que logo ri antes de retirar algo do bolso de sua jaqueta.

– Achou mesmo que até você iria sair do país sem seu passaporte? – Jimin saca a pequena caderneta verde da jaqueta e a aponta para mim.

O silêncio dos staffs é quase como se estivessem contendo um engolir de saliva.

Meus olhos esbugalham com a última amostra do meu documento internacional.

– Park?! – Levanto as sobrancelhas. – Estava com vo---.... Cara, eu acabei fazendo outro. – Rio alto.

– O quê? EU VIM AQUI CORRENDO PRA NADA? EU LEVEI UMAS DUAS MULTAS, JEON! – Jimin exclama, sacudindo o passaporte em sua mão.

E eu rio mais alto enquanto ele se aproxima.

– Jimin, por que você simplesmente não me mandou uma mensag---

– EU MANDEI, MAS COMO SEMPRE VOCÊ NÃ... Hah, espera. – Ele aponta para a duffel bag que eu carregava a tiracolo e sua expressão muda; passando rapidamente para surpreso, lisonjeado e puto de novo. – Resolveu agora usar a bolsa que eu te dei de aniversário? Não pense que eu não percebi que você só usou uma v---

– E o que significa isso? – Jangmi aparece atrás de nós e cruza os braços. – Por que Park Jimin estava com seu passaporte, Jungkook?

Nós dois fitamos Jangmi petrificados.

– Ahm.... Algumas escapadas meses atrás? – Os ombros de Park se encolhem.

Meus olhos saltam e cotovelo Jimin.

Park!

– AU!

Jeon Jungkook. Escapadas? Se você pensa que eu não vou regis--- – Antes que Jangmi pudesse dizer algo, que não seria bom para o meu lado pela cara dela, me aproximo dela e lhe dou um beijo na testa. Ela sabe que não tem controle disso.

– Jangmi. Volto logo, daqui alguns dias você terá meu infortúnio novamente, ok?

– Infortúnio? YA!

Entro no carro rindo e esperamos Jimin recolocar o capacete, o qual ele faz muito rápido, logo aparecendo com a moto ao lado do veículo com um aceno com apenas o dedo indicador e médio perto da testa, só para depois me dar o dedo do meio e acelerar, deixando mais marcas de pneu no chão (para desgosto de Jangmi).
Eu continuo sorrindo e apalpo o bolso direito, assegurando-me de que estou com meu novo passaporte azul, enquanto os seguranças ficam de olho nos arredores e dão o “ok” para partirmos.

 

É hora de ir.

 

 

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Perspectiva de Moon Aeri.

 

Ontem, eu e Sora estávamos fingindo ser duas jovens sofisticadas enquanto bebíamos um vinho de quinze pila e assistíamos uma série norueguesa na nossa Netflix compartilhada (uma tarefa árdua, já que nós tínhamos gostos diferentes por série), jogadas no meu sofá. Estava tudo ocorrendo bem e nos conformes, da forma mais elegante que conseguiríamos, até um certo Kim Taehyung bater na minha porta.

E quando percebi... Eu estava sediando uma festa do pijama clandestina no meu dormitório. 
Taehyung teve a audácia de trazer uma vodka cara na noite anterior à entrevista em uma das empresas mais importantes que eu havia conseguido, e eu... Como boa universitária... Bebi até não poder mais. Tudo bem. O arrependimento viria só hoje.

E veio.

Aparentemente a Kwon havia se mancomunado com Kim para acabar com o meu estresse e com isso, levado também minhas chances de ser uma adulta responsável. Mas cacete! Depois de algumas músicas cantadas no estilo “karaokê” (ou seja, obrigatoriamente de modo ruim), decidimos abrir a outra garrafa de vinho que eu havia designado para bebericar durante a semana. Porém, pelo visto, mudança de planos. Quando percebi, estávamos sentados na mesinha da minha cozinha americana cheirando a pizza quentinha como se tivéssemos sido privados de carboidratos há uma década.
Enquanto mordíamos nossas fatias, não conseguíamos evitar os elogios à combinação perfeita de queijo derretido, molho saboroso e crocância exata da massa... Tá louco. Eu sempre me perguntei se depois de algum rolê a comida era realmente TÃO boa ou se era apenas o efeito do álcool em nossas papilas gustativas transformando qualquer coisa em gourmet na larica.

Mas Tae jurou que a vodka cara não dava ressaca no dia seguinte, o que eu posso concordar, mas não poderia responder o mesmo do vinho do mercado perto da universidade. Não. Mas conforme a noite avançava, a bebida começou a fazer mais e mais efeito em nós... Nossos risos se tornaram ainda mais contagiantes e até as piadas mais idiotas se tornaram hilárias. Sei lá porquê.

E me lembrando das nossas risadas preenchendo a sala... É. Eles conseguiram o que pretendiam e eu agradeço por isso.

 

Até agora.

 

Tudo tem seu preço.

– SORAAA! SORA, SORA, SORA! – Tento chutar o lençol com meus pés e Sora não se incomodou o mínimo com minha exaltação, apenas resmungando alguma coisa enquanto tentava sugar a baba que descia da boca. – QUE HORAS SÃO? PORRA, CARALHO, BUCE---

– Uhn, do que você tá fal... UUF! – Me jogo em cima dela para chegar até o celular na cômoda ao lado da cama.

– AAAAAAH!

– AAAAH! O QUÊ?! O QUÊ QUE FOI? – Sora se senta em um solavanco e Taehyung aparece da sala derrapando nas meias que ainda usava, com olhos esbugalhados e boca aberta.

– O QUE ACONTECEU?

– Já são 10:40! – Choramingo com os olhos fixados no celular e fico de pé na cama.

PORRA, AERI. Eu achei que alguém tinha morrido, caralho. – Taehyung exclama colocando a mão no peito exasperado, como o ator que ele é.

E VAI. Minha CARREIRA vai morrer se eu não estar naquela bendita empresa em... Quarenta fodidos minutos! Não, não, não, não, não. – Pulo da cama e corro para o banheiro o mais rápido que posso.

– Kim, que roupas são essas? – Sora pisca devagar e boceja antes de fazer uma careta. Ele olha para si mesmo, usando uma blusa antiga minha que chegava um pouco antes da altura do seu umbigo e um short que mal cobria o que devia cobrir, mas Tae dá de ombros.

– Você sabe que a Aeri tem umas camisetas gigantonas, né? Ela te deu essa de propósito. – Ela sorri de lado com os olhos ainda semi-pregados, como se ainda estivesse bêbada.

– Fui eu quem escolhi. – Kim levanta um ombro e gira suas orbes até aparecer o branco dos olhos e dá um sorriso reto besta.

– Fala sér---... – Sora começa, soerguendo o lábio superior, até Tae levantar a mini blusa e deixar amostra suas tatuagens e mais da barriga para zoar com a Kwon. – Opa! Pera aí, hah, vou ganhar um show de graça a essa hora da manhã de Kim Taehyung? Não, deixa eu me acomodar primeiro, quero uma visão da primeira fila. Aeri, onde tá a minha carteira?! – Ela se aconchega no lençol e almofadas, colocando os braços atrás da cabeça e lançando um sorriso travesso. – Vai. Pode começar.

Tae ainda com a mão por dentro da blusa, fica estático e cerra as sobrancelhas em uma careta para o descaramento de Sora.

– ARGH, KWON. Assim não tem graça! AGILIZA, CABEÇUDA. – Ele sai do quarto abaixando (sem sucesso) a blusa.

Eu rio de dentro do banheiro porque Tae nunca iria conseguir tirar a Sora de tempo.

 

 

 


Mensagem de texto.
Para: Yeonjun
“Yeonjuuuuun!
Obrigada de novo por salvar minha pele
mais uma vez! ♡”

 

 

Mensagem de texto.

De: Yeonjun

“Ei, não tem problema, noona :)

Leia: Você fica me devendo essa (kkkkkkk)

Boa sorte!”

 


Mensagem de texto.
Para: Yeonjun
“Nunca dá um ponto sem nó, né calouro?
Amanhã passo aí cedo, viu!”

 

 

Então uma nova mensagem de “bom dia” aparece. Jungkook. Hah. Não consigo conter o riso prepotente, então dou um gole da bebida no meu copo enquanto respondo. Sentindo minha falta a essa hora da man---

– O quê DIABOS você colocou nisso aqui, Sora?! – Quase cuspo o suco que ela havia feito para eu tomar e “me dar energia” para o dia (e para curar a ressaca).

– Uai, uma combinação de... Tudo que você tinha de minimamente saudável e verde na sua geladeira. Vaaai, toma logo tudo, você precisa tirar essa cara... Insalubre. Coloquei até uma banana pra dar um “tchan” mais palatável porque eu sei que tu gosta. Gosta de uma banan---

Já entendi... – Digo entredentes, a fitando por cima do copo e quase cuspo a gororoba pela segunda vez quando vejo Taehyung já se arrumado novamente, mas ainda com a minha blusa preta que parecia um cropped nele. – Taehyung. Vai comprar?!

– Eu fiquei gostoso, ué. – Ele diz como se fosse a maior obviedade. Mas tá. É, é meio óbvio. E a real é que não me importo nenhum pouco de dividirmos o guarda-roupa. – Espera, e você? Tá pronta? – O rosto dele se ilumina.

Engulo forçadamente mais um gole do... Negócio que a Sora fez, e abro os braços, dando uma voltinha para que eles dois vejam meu look completo.

– E aí? O que acham?

Sora bate palmas rapidamente e dá um pulinho.

– Já falei. Belíssima e whoaaa, elegante também! – Então ela entorta o rosto para o lado. – Só... Hum, soltaria o cabelo, eu acho?

– Ah, eu achei gata com o cabelo preso. – Tae diz e pisca um olho. – Dá uma aparência mais profissional... Parece uma girl boss que vai pisar em todo mundo com esse salto. – Ele me olha de cima a baixo sorrindo, até cerrar o ponto entre suas sobrancelhas. – Mas... Você devia ter treinado um pouco em cima deles antes.

Aponto para Taehyung e estalo os dedos.

– Eu vou de botas. – Decido e engulo forçadamente o último gole que restava do treco.

– Han? Vai com as su---

Dr. Martens. – Profiro tentando não golfar logo cedo.

– O-kay...

Corro para o quarto e volto com apenas um par nos pés e saltitando tentando enfiar o outro, manejando para responder as mensagens no celular. Paro na porta do meu quarto e vejo que Tae e Sora, que se recusavam a deixar minha humilde residência, fizeram um café da manhã improvisado para nós, e inevitavelmente sorrio quando os vejo ainda arrumando tudo e ouço suas risadas preenchendo o pequeno espaço.

E quase meia hora depois, ainda estamos mastigando e tentando viver esse dia de forma menos zumbi.

– Hum! – Sora engole a comida que mastigava. – Vamos para o drive-in semana que vem?! Hyujin vai com a gente. – Ela sorri.

Sorrio de volta para ela, ainda mais pela sua empolgação dificilmente disfarçada.

– Semana que vem? Ahm, por mais que eu queira muito ir finalmente pra um rolê aonde o Sr. Hwang vá... Eu não vou poder.

– E por quê? – Ela pergunta, vincando o rosto e o servindo com mais ovos cozidos, então eu o olho também. Mas com um olhar mais recriminador.

– Vou estar viajando. – Ele responde, simplesmente.

– Vai pra onde?! – Indago.

– Paris.

– PARIS?

– E vocês duas tem direito a um regalo. – Ele brinca.

– Um?! – Sora reclama levantando o queixo.

– Um regalito. – Tae responde com um sotaque.

– Esse sotaque não é francês. – Sora faz uma careta, falando de boca cheia.

– Espera, espera. – Levanto uma mão. – França?! Taehyung… Temos aula semana que vem, como assim voc---

– Vão ser só cinco dias.

– NA EUROPA?

E ele ri.

– Eu quero uma bolsa Gabrielle. – Sora dá de ombros e se refere a simplesmente uma bolsa Chanel. Se eu não a conhecesse, não desconfiaria que ela ficou sim frustrada.

– Pff. – Kim assopra um desdém, quase soltando arroz pela boca, e balança a cabeça, comendo mais um pouco.

– Croco. Não precisa mandar entregar na minha mansão, pode mandar direto para o meu dormitório, o 20. – A Kwon aponta um jeotgarak para ele.

E ele se inclina na mesa para dar um peteleco na testa de Sora.

– AI!

– Só eu estou surpresa com isso? Argh, Kim Taehyung... – Meneio a cabeça e resmungo, olhando para o relógio digital da cozinha. Lidarei com isso certamente mais tarde. – OK, tenho que sair em sete minutos!

Tae se apressa em comer o resto que tinha à sua frente sem deixar cair enquanto Sora já tratava de retirar nossos pratos em modo acelerado e eu me levantava correndo para pegar minha bolsa e o portfólio físico.

– Cabeção, antes de você expulsar a gente, vai ou não vai dizer onde é essa entrevista? Eu te levo lá, pô. – Ele dá um empurrão no meu ombro.

– Argh, Vante, já falei. Não quero contar ainda para não dar azar!

– Azar? Tá, e desde quando você virou mística?

Reviro os olhos.

– Saaaaai.

– ESPERA. Último shot. Hum?! – Sora aparece com três copos com a mistura do "pózinho mágico" anti-ressaca e água para bebermos.

– No três, ok?

– Um...

– Dois...

CHEERS!

– Ai, que nojo. Você comprou o mais fedorento, So!

– Eu madruguei pra comprar isso, tá?! – Tae se denuncia. – E Aeri... Argh. – Ele faz uma careta, balançando a cabeça e ombros, e deixa o copo na bancada. – Me manda o endereço ou nome da empresa e eu te busco quando acabar a entrevista, beleza?

– Certo, certo, agora vamos!

– Seu blazeeeer! – Sora aparece atrás de mim com meu blazer preto e sorrimos uma para outra.

Fecho a porta do meu dormitório e o tranco, enfiando as chaves dentro da bolsa, tentando mentalmente fazer uma check list para ter certeza de que não esqueci nada.

– Sora, quer carona? – Tae pergunta, destravando o carro verde escuro perolado em frente ao meio fio. – Vou buscar Jimin já já também, ele só foi deixar sei lá o quê na casa do Jeon, mas já deve estar em casa.

– Jimin? – Sora questiona.

“Jeon?”, me pergunto.

E me lembro de dois dias atrás.
Quando eu saí cambaleando de manhã para pegar um pouco de água no frigobar de Jungkook e ir ao banheiro. Meu cabelo bagunçado, pernas bambas e pele ainda úmida e suada. JK sorria pretensiosamente na cama com os braços atrás da cabeça, os lençóis mal cobrindo seu corpo nu enquanto me observava vacilar trêmula porquê... Ele fez isso.

Engulo em seco.

Tae dá de ombros para Sora, sorrindo de um jeito engraçado.

– Hah, eu só tenho aula às 14h30. Mas obrigada, Tae. – Ela diz rindo, agradecida, e sacando as chaves do dorm dela, mostrando para nós. – Eei! Boa sorte para vocês que já vão enfrentar esse dia. Eu vou restaurar minha áurea adulta enquanto isso. Tá, mentira. Eu tenho um projeto para terminar. – Ela faz uma cara desanimada e fecha os olhos antes de abrir sua porta resmungando algo.

Tae ri e apoia os dois braços na lataria do carro.

– Última chamada para Srta. Moon ir comigo.

– Na volta! Na volta estarei aceitando essa carona, Vante! Meu uber está chegando e não quero levar uma notificação por você estar aqui, hum? – Ele sorri apertando meu nariz e entra no carro.

– EI, KIM TAEHYUNG! – Sora grita da sua janela. – USE MAIS CROPPEDS.

– KWON SORA.

 

 

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Perspectiva de Jeon Jungkook.

 

O sol que se elevava ainda mais no cosmos e se despedia da manhã, lançou um brilho dourado sobre o movimentado Aeroporto Internacional de Tóquio enquanto nosso jato particular descia do céu. Jin me lança um olhar do lado oposto do corredor e sorri.
Observo pela janela a paisagem que me espera e o mar aparentemente infinito que cerca a ilha, inclinando a cabeça no assento de couro enquanto o piloto anunciava o iminente pouso e então suspiro.

A aeronave, adornada com o emblema da Golclo-Denset (devo dizer), pousou suavemente na pista, e espero o pequeno contingente de staffs e seguranças poder sair para que eu e Jin nos levantássemos.

– Você roncou o voo inteiro, por um segundo até achei que era um problema no motor, mas era você mesmo. Não dormiu não? – Jin bagunça o meu cabelo enquanto me amola. A aeromoça que acompanha nossos voos aparece e abaixa a cabeça, tentando não rir e nos cumprimenta envergonhada antes de se posicionar perto da porta da aeronave para aguardar nossa saída junto com os outros que acompanharam esse trajeto.

Seokjin ergue as sobrancelhas para mim e aponta um dedo para mim e depois para ela, fazendo esse movimento repetidamente sem que ela veja. Semicerro os olhos e ergo o dedo do meio para ele.

– Cala a boca, Kim. – Sacudo a cabeça para “arrumar” meu cabelo de novo.

– Já vi que não dormiu nada então. E OLHA O DESRESPEITO.

Me viro para descer antes dele e sorrio com a irritação dele.

– YA! Tô falando com você, JUNGKOOK-AH!

O vento frio varreu a pista quando cruzo a porta e desço as escadas rumo ao estacionamento de aeronaves e saguão de terminais. Olho para trás e me vejo seguido pela equipe que nos escolta. Todo esse protocolo sempre potencializa o peso nos meus ombros de um legado e me dá a lembrança causticante da importância no mundo corporativo.

E no (sub)mundo.

Mas o aeroporto é uma vibrante sinfonia de... Sons, aromas e sentimentos. O barulho rítmico das rodas das bagagens ecoa no ar enquanto os viajantes seguem apressados para seus destinos em meio aos anúncios. Alguns chegando, outros encontrando abraços de felicidade, outros em busca de paz, outros vivenciando a dor de ir embora.
Eu poderia ficar horas em aeroportos apenas imaginando as histórias das pessoas que passam por eles. Mas o aroma do café recém feito exala das cafeterias próximas, misturando-se com a essência tentadora da comida de rua japonesa; a energia da cidade sempre florescendo em um delicado equilíbrio entre tradição e modernidade. E devo admitir que gosto disso. É familiar.
Após toda a formalidade e protocolo pós pouso em terras estrangeiras, o barulho do aeroporto finalmente desaparece ao fundo enquanto o olhar penetrante de Kyung-ho examinava os arredores à minha frente. Hah.

Em meio às minhas passadas largas, busco o acessório por dentro do tecido que adere ao meu corpo, e então finalmente sinto a prata gelada do colar ao redor do meu pescoço e a aperto.
E depois de curvar-me pela vigésima vez para mais pessoas que, se eu for sincero, não lembro quem são, chegamos na saída. Kyung-ho nos guia até um dos nossos Bentley Bentayga Speed preto que já aguardavam um atrás do outro, destacando-se no meio do mar de veículos, e posicionam-se nas costumeiras paradas exclusivas.
Ao passo que nos aproximávamos, percebo um pequeno pássaro branco com manchas pretas parado na traseira do carro que entraríamos, atento a todos os barulhos alheios e girando sua pequena cabeça curiosa.
            E eu desassocio.

 

 

(Flashback)
 

“Andamos pelo jardim da minha casa sozinhos para aproveitar o sol e calmaria que o domingo trazia. Ou ao menos era isso que Aeri sugeriu, claro, porque por mim estaríamos estirados na cama até agora. Mas ela estava indignada demais com o fato d‘eu não fazer devido uso desses privilégios o suficiente. Então mastigo mais um pedaço da minha torrada de banana e implico com ela, continuando nosso assunto anterior.

– Você não quer ver isso.

– Pff, você não sabe o que eu quero ver, princesa. – Revido, olhando-a pelo canto do olho.

– Sabia que você tem uma boca grande?

– Eu?! Pff. Não pior que o Jimin.

– Ou Hoseok.

E eu termino de mastigar e aponto o dedo, concordando com ela porquê ela tem um fato.

– Você não consegue manter nada em segredo. – Aeri revira os olhos e ri. O engraçado disso é que... Eu sei. – Vem, vamos até ali pa---

– Podemos apenas... Sentar um pouco? São tipo, 9 da manhã e meu cérebro ainda está tentando acor... Não, nem isso, está dormindo mesmo. – Me encosto na madeira de um dos bangalôs e a observo momentaneamente. Moon Aeri usando meu moletom, no jardim de casa, depois de passarmos mais uma noite juntos. Hah, o que estou fazendo?

– Ainda? E sentar? Jungkook... – Ela abre os braços e olha ao redor. – Tecnicamente, isso aqui parece quase um parque! Bom, pra mim, e você quer me priv---

– Princesa...

– Andar faz bem! – Ela levanta uma das sobrancelhas, retrucando.

– Você quer me obrigar a fazer mais exercícios do que eu já fiz essa manhã? – Sorrio de lado e a vejo corar, parando de andar e virando-se dramaticamente devagar em minha direção, então mordo mais um pedaço da minha torrada, rindo.

– Sinceramente... – Ela cerra os olhos e resmunga. – Eu quem fiz metade dele, garoto.

E isso me faz gargalhar.

– Ah, vá! – Continuo rindo e sento no acolchoado do bangalô. – Hum, isso me fez lembrar da vez que---

– Te fez lembrar de quê?

– Me fez lembrar daquela vez que fomos expulsos do parque no primeiro ano do ensino médio! – Puxo o ar entre os dentes. – Achou que eu estava falando do quê?

Ela sorri travessa, fechando os olhos e levantando uma sobrancelha, antes de se virar novamente diretamente para mim.

– Você não precisa esclarecer que foi no ensino médio. – Ela aponta, encostando-se no bangalô também. – Só aconteceu literalmente uma vez!

– É... Ainda acho que foi alguém em uma das casas ao redor do parque que deve ter chamado a polícia porque viu nossas lanternas. E você, garota... – Olho para ela, balançando o resto da torrada em sua direção, acusatoriamente. – Já me odiava.

Aeri solta um riso soprado confiante e tira o meu moletom que ela usava, o deixando ao nosso lado quando se senta.

– Se sua bunda amassar meu capuz… – Semicerro os olhos e comprimo os lábios tentando não rir, mas ainda aproveitando para observar seu corpo que, mesmo sem o moletom, continuava com minha camiseta.

– Se minha bunda amassar seu casaco, vai ser sorte sua. E você nunca saberá com todos os outros amassados que já tem! – Ela dita braba, erguendo as mãos.

– Isso não é minha culpa! – Viro para ela. – A maioria deles foram Taehyung que fez! – Nos olhamos e então ela começa a rir. O que me faz revirar os olhos e cair para trás, deitando no acolchoado. – Naquela noite os policiais pensaram que estávamos tentando encontrar um lugar para uma orgia em grupo ou algo assim, mas estávamos apenas… Apenas procurando Pokémon.

– Verdade... Não acredito que eles olharam para nós e pensaram que estávamos mentindo sobre Pokémon. – Ela se deita também. O sol ainda não está quente o suficiente, apenas brilhante em meio ao vento que tange o tecido esbranquiçado do bangalô. – Eu me pergunto se quando o jogo realmente ganhou hype, eles repensaram e tiveram a epifania de que... “Oh, aquelas crianças estavam dizendo a verdade…”. Quem diria, hein!

– Mas eu sempre achei que a parte mais engraçada foi que eles viram nós quatro adolescentes meio nerds e desajeitados e disseram “é, essa galera definitivamente vai foder em um parque”. – Profiro rindo e então meu cenho se franze. – Deus, minhas espinhas estavam muito ruins nessa época.

– Nah, era fofo.

– Aish. Eu não queria ser fofo, eu queria ser foda e gostoso.

– Bem, muitas garotas acham que você é gostoso agora.

– Incluindo você?

– Quem se importa com o que eu penso? – Ela vira o rosto para mim e ergue uma sobrancelha, faceira. – Se ainda me lembro, você disse que minhas opiniões sobre quem é gostoso pararam de contar quando eu disse que achava o Daniel Radcliffe bonito. Há tipo, sessenta anos atrás.

– Sim? O que há de errado com você? – Levo a última mordida da torrada novamente até a boca, mas paro quando a encaro fazendo uma careta.

– O que posso dizer? Primeiro, ele ERA bonito, segundo... Eu amo uma cicatriz trágica no rosto…

– Eu tenho uma cicatriz trágica no rosto. – Aponto, rolando para o lado e aproximo nossos rostos para que ela pudesse ver a marca no alto da minha bochecha, como se ela nunca tivesse notado antes.

– A única coisa trágica sobre isso foi sua coordenação motora ruim. Eu sei que foi de um carrinh---

– Não. Foi de uma luta de facas.

E ela gargalha.

– Jungkook, você tem os olhos do Bambi filhote, literalmente ninguém acreditaria nisso.

– Pff. O Bambi já não é um filhote?

– Sei lá, você que é o especialista em aleatoriedades. Pode ser o Tambor também, o coelho, se você se identifica mais... – Ela continua rindo e aproveita para pegar o resto da torrada de banana e enfiar na boca.

– Ha-ha-ha. Nesse caso você bem seria um passarinho maligno. Sabe, aqueles barulhentos? – Digo e me jogo para deitar novamente. – Sempre roubando minha comida e piando muito cedo pela manhã.

Aeri me olha de lado, cravando adagas imaginárias em mim antes de dar de ombros.

– Beleza, eu vou aceitar isso. Hah, mexa comigo e eu vou arrancar seus olhos.

– Vai? Tsc. Não, não, não, você sabe que está abaixo na cadeia alimentar, não é?

– EI!

E eu gargalho quando ela praticamente pula em cima de mim. A indignação e reação dela sempre me fazem rir até doer a barriga.

Click.

 

 

–  Senhor? – Ouço o pigarro. – Hum, Sr. Jeon?

– Jungkook. – A voz de Jin atrás de mim me alerta.

O motorista dá mais um passo à frente, curvando-se respeitosamente. E em um espanto, me viro para ele com o cenho franzido e ele arregala os olhos, logo dirigindo-me para onde queria que eu o acompanhasse, em direção ao carro.

– Bem-vindo de volta a Tóquio, Sr. Jeon. – Ele disse sem jeito.

– Obrigado, Takashi. – Assinto e ajusto a gola do pescoço. – Está tudo em ordem?

– Absolutamente, senhor. Os arranjos foram feitos de acordo com suas instruções. O senhor e o Sr. Kim têm uma reunião com a GD marcada para amanhã a noite.

– Certo. Não esqueça que devem mandar um carro para minha casa quarenta minutos antes.

– Sim, Sr. Jeon. Ahm, por aqui!

Foi aí que a porta de trás da Bentley se abre e uma pessoa de óculos escuros e terno sai do lado oposto ao que entraríamos. A pessoa se apoia na lataria do carro, retirando os óculos e sorri de lado para mim.

Daisuke?!

 

 

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Perspectiva de Moon Aeri.

 

O imponente arranha-céu de vidro da renomada empresa automobilística ergueu-se orgulhosamente contra o pano de fundo do horizonte da cidade, seu reflexo cintilante dançando ao sol do (quase) meio-dia. E eu saco o celular do bolso do meu blazer, acionando um dos números favoritos.

– Oi, fil---

– Estou nervosa... Eu acho. – Olho para o prédio à minha frente.

Minha lua... Tudo bem estar nervosa. – Há um sorriso na fala dela. – Mas você é a melhor, você É UMA MOON, garota. Independente do que aconteça. E o que é seu, é seu! O que não é, sempre pertenceu à outra pessoa. Não se preocupe... Tudo que você tem que fazer agora é ir lá e mostrar o quanto essa empresa ganharia tendo... Você. Tudo bem?

– Tá...

Respire. Solte o ar pela boca. Você é a melhor no que faz, confie no seu tac---

– Eu confio no meu taco! – Franzo o espaço entre minhas sobrancelhas e falo com certeza.

Ela ri do outro lado da ligação.

– Obrigada, mãe.

Ok?

– Ok.

Me ligue depois, tá? Seja lá como for.

– Uhum...

Te amo, Moon. YA! Querido, que susto! – Então escuto meu pai tentando falar algo no celular também. – Também te amo, filha, pegue todos eles pelo tornozelo! Ai, mulher! – A voz do meu pai soava mais perto. – Já está acabando seu horário de almoço! – Minha mãe volta ao celular tentando não rir. – Aeri? – A pequena confusão da dupla me faz rir e de alguma forma isso me conforta.

– Pode deixar. Também amo vocês. – Rio e balanço a cabeça.

Quando desligo a ligação, estou em frente ao famigerado edifício e me fito em uma das vidraças espelhadas. É hora de entrar na áurea adulta que Sora se refere, na Moon que sabe que essa empresa estaria perdendo se não a contratasse.

É isso.

Eu sou boa no que eu faço, então foda-se, eu só preciso falar sobre isso. Sobre tudo que sei e tudo que posso agregar. Fodam-se esses figurões, eles precisam de pessoas como eu.
Expiro, pressionando meu portfólio contra o peito e passo pelas portas automáticas.

Cacete.

Aqui é definitivamente diferente do Cheonsa Coffee.

Adentrando as grandes portas metálicas de pé direito duplo, o saguão movimentado é invadido por funcionários e visitantes, enquanto meu coração dispara com excitação e antecipação. O piso de mármore brilha sob minhas botas e percebo todas as elegantes artes modernas adornando as paredes, talvez representando a interseção entre a visão artística e a proeza da engenharia que eu me interesso. Sei lá. Porra...
Me aproximo da recepção, ainda admirando os elementos de design elegantes e futuristas que a cercavam, e mal escuto a voz que se dirige à mim.

– Senhorita?

Uma das recepcionistas tenta me cumprimentar.

– Oh, bom dia.

– Bem-vinda à Baem Motors. – A recepcionista extremamente arrumada me diz. – Hum... Como posso ajudá-la hoje?

– Eu tenho uma entrevista de estágio... Meu nome é Moon Aeri.

Ela me dá um sorriso fechado, sem humor, e volta o olhar para o desktop diante dela, digitando meu nome após inserir outras informações que ela me questiona. Sinto uma pontada na bexiga, mas então ela localiza meu nome na lista de visitantes.

– Segunda fase, não é? – Ela me entrega um crachá temporário com acabamento metálico que reflete o logotipo da empresa. – Sua entrevistadora estará esperando por você no 30º andar. Por favor, pode seguir até o corredor à esquerda, passar as catracas e dirigir-se ao elevador à sua direita.

– Ok. Obrigada.

Busco o colar de prata por dentro da gola da minha camisa e aperto o pingente de flor quando finalmente passo as catracas.
Então o som cintilante e agudo ecoa, fazendo as portas se abrirem sem esforço, revelando um interior brilhante de aço inoxidável e um painel de madeira polida que exibe os números dos andares. E não sei se foi rápido demais ou devagar demais até chegar ao raio do trigésimo andar, mas quando as portas se abrem, sou saudada por um amplo escritório em plano aberto banhado por luz natural. O espaço vibrava com a atividade frenética, enquanto designers e inúmeros engenheiros colaboravam em suas estações de trabalho, as cabeçonas deles inclinadas sobre esboços e telas de computador. Uma sinfonia de teclados clicando em cânone com as conversas sussurradas que enchem todo o ar e fundem-se perfeitamente com uma música de fundo suave. Tipo uma música de elevador. Eles ouvem ASMR enquanto trabalham no ramo automobilístico?

Será que se eu entrar aqui vou virar uma cabeçuda que nem eles, assim como Taehyung previu?

Argh, no que eu estou pensando?!
Sigo as placas indicando a direção do departamento de RH e atravesso os corredores com paredes de vidro que exibem mais equipes menores envolvidas em discussões acaloradas, enquanto janelas do chão ao teto emolduram a vista deslumbrante de Seul abaixo. Hum, onde será que ficam os banheiros?

Aproximando-me do departamento de RH, uma moça, que parece ser uma secretária, me cumprimenta e me informa para sentar e esperar.

Sentar e esperar.

Ótimo.

Tranquilo.

Batuco os dedos na capa do meu portfólio e olho ao redor.

ARGH.

Por que diabos eu fui beber toda aquela gororoba que a Sora fez, além de litros de água e ainda aquela mistura anti-ressaca?! O chamado da natureza está acabando com a minha bexiga.

Mas eu aguento.
O som da música de elevador e do teclado incessante estão me fazendo concentrar no desejo insistente de me aliviar, como uma onda avassalante e  repentina. Tsc.

Eu aguento.

Ou não.

– Senhora? – Sussurro para a secretária do outro lado da vidraça, onde a consigo ver. – Senhora? Hum... Oi? Qual é, esses vidros são antirruído? Senh... – Suspiro desistindo.

Não me resta nada além de procurar um banheiro próximo e me aliviar rapidamente antes da entrevista. Um prédio tão gigante desses, deve ter inúmeros banheiros, então isso vai ser rápido.
Melhor mesmo não perguntar a secretária, vai que isso transparece de forma negativa no meu profissionalismo? Vai saber.
Mas mal sabia eu que logo me encontraria em uma busca inesperada e árdua para encontrar um bendito banheiro desesperadamente necessário.

Navego pela extensa estrutura com cheiro de bambu, enquanto furtivamente atravesso os corredores; os andares estendendo-se como um labirinto, corredores ramificando-se em vários departamentos e escritórios, placas exibindo siglas e números enigmáticos... Porra, fala sério. Minha bexiga implora a cada passo que dou, o que pode ser psicológico... Mas também não. Passo na ponta dos pés por funcionários ocupados, tomando cuidado para não chamar a atenção propositalmente, mesmo quando alguns me cumprimentam e finjo costume, os cumprimentando de volta.
Os minutos preciosos passam e sigo mais fundo no andar. Cada corredor parecia idêntico ao anterior, fazendo com que minha confiança vacilasse. Não, calma, eu sei voltar, sei sim. Eu decorei o caminho. Espio as salas de reuniões e dou uma olhada nos mapas pendurados nas paredes, mas nenhum deles revelava a localização de um mísero banheiro. Agora tô começando a ficar nervosa com os minutos passando cada vez mais, acompanhada por uma sensação cada vez mais desconfortável no meu abdômen.

Então, depois do que pareceu uma eternidade vagando, vejo uma pequena placa iluminada em uma parede distante indicando o toalete dentro de uma sala gigante. Isso, isso, isso. Abro a porta vagarosamente e a esperança acende dentro de mim enquanto eu acelero o passo, minha determinação ofuscando qualquer resquício de constrangimento.
Abro a porta e uma onda de alívio me invade quando percebo um santuário intocado, eximiamente limpo e silencioso. Parecia um oásis feiro para mim.

 

Depois do merecido alívio e alguns momentos para me recompor e recuperar minha compostura, lavo as mãos tentando ainda me manter silenciosa, mas apreciando a água fria contra minha pele.

Tenho que correr.

Levo uma das minhas mãos geladas até a nuca e giro a maçaneta, abrindo uma fresta quando percebo uma pessoa dentro da sala.

 Merda! – Falo sem som e levo minha mão esquerda até a boca.

Viro-me minimamente para a fresta novamente e percebo um... Homem. Ele anda de um lado para o outro com as mãos nos bolsos de um terno cor de chumbo perfeitamente ajustado para acentuar seu físico alto e cabelos negros na altura do pescoço. Aproximo meu olho direito um pouco mais e tento perceber as feições dele. Ele aparenta ter olhos gatunos profundos e parece ansioso com algo ao mesmo tempo que uma figura ostensiva. Meu coração palpita errante dentro do meu peito, eu só preciso sair daqui e logo. Mas e se essa sala for dele? Por que apareceu aqui logo agora quando não tinha ninguém minimamente perto? Quem será ele?! Que grande merda. Minha imaginação começou a tecer uma tapeçaria de possibilidades, mas minha maior preocupação agora é sair daqui o mais rápido possível sem ser vista.

Será que ainda estou... Bêbada?

Fecho os olhos e me encosto na parede atrás de mim tentando respirar. Ele tem que sair daqui. Então, no momento em que eu estou perdida em meus pensamentos, um movimento repentino me chama atenção. Ouço o som de passos agudos se aproximando. Sons de um salto alto.
Pela fresta da porta, vejo uma mulher entrar na sala, exalando de alguma forma uma aura de confiança, diria até que sedutora, em seu vestido midi preto e justo. Minha respiração fica presa na garganta quando a tal mulher, por trás, envolve os braços dela no peitoral do homem. Os braços dela exibem várias tatuagens totalmente a mostra sem embaraço algum nesse ambiente. Mas o quê...

Franzo o cenho.

Para minha surpresa, percebo que o rapaz é pego de súbito também, mas quando ele se vira... Ele a conhece. Ambos riem e ele a gira em um abraço acalorado a tirando do chão; os cabelos longos e negros dela acompanham suavemente o enlace deles, como se não se vissem há um tempo. Não, ele não só a conhece, ele a esperava. Eles parecem... Íntimos demais. Cacete. Oh, ela tem uma tatuagem nas costas? Não consigo ver.
Engasgo silenciosamente, meus olhos arregalando-se com a cena inesperada que se desenrolava cada vez mais. Eu não consigo desviar o olhar de ambos, mesmo sentindo que eu não devia estar presenciando clandestinamente o encontro desses dois na empresa que quero entrar no programa de estagiários, e penso que se me pegarem aqui... Estarei ferrada.

– Minha Hebi... – Volto a olhar pela fresta quando o ouço e o vejo arrumar os fios de cabelo que caiam do rosto dela de perto dos olhos. Caralho, ela parece ser muito bonita. – Às vezes ainda não acredito que está aqui mesmo, sabia? Mas dessa vez, você vai ficar. Sem mais.

– Sem mais. – A voz dela me intriga. – Vou pegar meu casaco, então... Vamos sair daqui. Está pronto?

– Estava apenas te esperando chegar. Espera, pegue isso aqui antes. É... E me dê cinco minutos, eu só preciso passar na sal...

A voz dele e o som do salto dela vão ficando cada vez mais longe e baixos, até eu ouvir a porta da frente sendo fechada e finalmente solto minha respiração pela boca.

 

 

• ━────── ☾ ──────━ •

 

 

Perspectiva de Jeon Jungkook.

 

Ikari Daisuke.

Cinquenta aldeias. Embora o significado do sobrenome possa não ser tão dramático, quando escrito com outros caracteres kanji, Ikari também pode significar “raiva” ou “âncora”.

Meu primo que sorri de canto, ergue uma sobrancelha.

– Como vai o nosso... Ryū?! – Escuto Daisuke dizer em japonês e dar a volta no carro.

Eu e Daisuke somos muito parecidos fisicamente. Tirando detalhes como o formato de nariz, olhos, altura (2 cm a mais que nunca irei admitir) e suas tatuagens que predominam apenas seu braço, peitoral e trapézio direitos. Alh, e a notória cicatriz que atravessa o alto de seu nariz. É... Daisuke pode ser frio, impassível e sistemático por fora, mas para quem convive com ele e a quem ele confia, ele mostra sua real faceta. Risonho, empático, dedicado, cheio de piadas e leal. Leal é uma boa palavra para ele. Daisuke é a âncora de fel, como já predestinava discretamente o sobrenome da família.

Ele também espera se tornar Ryū, um dia, de seu pequeno grupo na GD.

– Daisuke. Eu ainda não sou Ryū... – Reviro os olhos e rio, me aproximando.

Então compartilhamos um sorriso conhecedor.

– Desculpa, estou um pouco adiantado? – Ele semicerra os olhos. – Qual é, JK, eu não ganho nenhum abraço?

Meneio a cabeça e puxo a manga de seu terno impecável para mais perto de mim. Daisuke encosta a palma da mão direita no lado esquerdo do meu peito, e faço o mesmo, enquanto nos olhamos no olho. Então o abraço devidamente, sentindo uma sensação de pertencimento aqui que havia quase esquecido.

Aitakatta. – O Ikari sussurra.

– Eu também senti sua falta, idiota.

Então a atenção dele vai direto para Jin, logo atrás de mim.

– SEOKJIN, caralho!

– Aaah, filho da puta, parece que já faz 6 meses que não te vejo! – Jin exclama e dou espaço para os dois, os vendo encostar o lado esquerdo do corpo e logo se abraçarem, praticamente se batendo nas costas.

– E olha que nem faz tanto tempo desde aquele fim de semana maluco... Tô me recuperando até hoje, pô. – Daisuke balança a cabeça e coloca os óculos novamente.

Seokjin ri batendo a palma de sua mão na perna e eu bato a minha nas costas de Daisuke, já não sabendo se rio de sua fala ou das lembranças do fim de semana definitivamente... Absurdo.

– Bora! Vamos sair logo daqui, já devem estar com fome também. – Então ele se vira para Takashi. – Vamos direto para Chuo.

 

 

 

 

As ruas da metrópole parecem uma malha vibrante de luzes neon, arranha-céus imponentes e templos antigos lado a lado. Um caleidoscópio de cores que dança diante de meus olhos em contraste com o mundo monocromático que eu vejo.
Minha expressão permanece estóica, mas uma centelha de antecipação dança sob minha íris. Nossa ligação forjada em ouro fortalece o domínio do império sobre o submundo. E enquanto os Bentleys deslizam em um ballet sincronizado pelas ruas de Tóquio, a energia vibrante e inquietante da cidade me envolve, toda vez. O som das sirenes e o cheiro das ruas enchem o ar, criando aquela sinfonia singular.

A comitiva de carros finalmente chega à entrada aninhada entre edifícios. O restaurante Ginza Ukai-Tei, nosso ponto toda vez que voltamos para Ginza. Saímos do carro, flanqueados pela guarda, e adentramos o salão privado quando imediatamente saco o celular do bolso.

 


Mensagem de texto.
Para: M. Aeri
“Cheguei.
Vivo e são, é o que dizem”

 


Mensagem de texto.
De: M. Aeri
“Bom saber, se é o que dizem.
E a cabeça?
Não voltou a doer?”

 

 

Deixo um sorriso arranhar minimamente o canto da minha boca.

Um dia, quando dormimos juntos, estávamos assistindo a Chainsaw Man (depois de transarmos) e resolvemos beber vinho. E quando Aeri bebe, ela tem que dormir com as janelas abertas ou o ar ligado porque ela sempre fica com muito calor e inquieta. Então sempre tenho receio que esse calor possa a fazer passar mal mas, por ironia do destino, fui eu quem acordou no dia seguinte por algum motivo com uma puta dor de cabeça, todo zoado.

E depois de me amolar, ela fez uma massagem nas minhas têmporas.

   


Mensagem de texto.
Para: M. Aeri
“Só tô meio zonzo...
Mas deve ser pelo voo.
Tá de boas”

 


Mensagem de texto.
De: M. Aeri
“Zonzo?
Fala para o Seokjin fazer
aquela massagem que eu te ensinei.
Argh, não faz nada”

 

 

Mensagem de texto.

Para: M. Aeri

“Nah, esse pesadelo

não vai ser necessário.

Estou dispensando”

 

 

E eu rio silenciosamente, passando a mão pelo meu rosto.
No dia seguinte, Moon havia me dito que foi pelo tanto que ficamos batendo cabeça com a intro do anime. Ainda estou olhando para a tela do celular quando Daisuke se dirige a mim.

Teppanyaki, Guk? – Ele indaga e Seokjin se anima, olhando para a ilha de chefs que preparavam os pratos.

– <Pode ser?> – Pergunto para Jin em nossa língua e ele confirma.

Então assinto para o meu primo, já com muita fome; mas a real é que eu... Eu imagino que poderia talvez até optar agora em só estar comendo um podrão, deitado com Aeri, com ela sendo mandona e me perguntando tudo sobre o anime de 5 em 5 segundos mesmo que eu também não tivesse assistido àquele episódio ainda (então também não teria como eu saber), e depois bater cabeça a cada introdução, tornando tudo um completo caos.

Talvez.

Encaro o display e mudo de conversa.

 

 

Mensagem de texto.

Para: Jangmi-ssi

"Jangmi

Jangmi

J a n g m i

Não é porque não estou aí

que você vai deixar de se alimentar direito, viu?

Tenho olhos em todos os lugares"

 

 

Então suspiro e digito mais uma mensagem enquanto Daisuke avisa do que gostaríamos de pedir.

 

 

Mensagem de texto.

Para: M. Aeri

“Ei

Boa sorte hoje, princesa”

 

 

• ━────── ☾ ──────━ •

 

 

Perspectiva de Moon Aeri.

 

Quanto percebi que estava sozinha novamente e não havia mais sinal de ninguém nos arredores, tentei a sorte e saí rapidamente daquela sala, me esforçando para achar meu caminho de volta. Mas eu sou boa com direções e em lidar com situações sob pressão, ainda mais a de voltar para o departamento do RH agora.
Respiro aliviada quando consigo sair sem ser pega e, minutos depois, encontro-me em um ambiente mais familiar quando vejo a placa indicando o departamento que procuro. Mas caramba, eu devo ter demorado tanto. E dessa vez, a sala anterior tem mais pessoas, novos rostos e burburinhos; mesmo assim vou direto para o meu assento, onde ainda estava minha bolsa e portfólio.

Até ouvir aquela mesma voz.

O rapaz aparece no andar novamente, no nosso departamento, conferindo alguns papeis com uma assistente e meneando a cabeça, em uma conversa profissional.
É o cara do banheiro, puta merda, será que ele me viu? Será que está me denunciando? Filho da mãe! Então reparo em algo que eu não consegui ver antes... Seu nariz é levemente torto. Hum. Mas mesmo assim ainda é um rapaz bem apessoado. Mas se ele---

E ouço um pigarro.

– Dizem que ele é o Diretor do Programa de Estágios... Mas nunca realmente vem aqui. Então, não precisa se assustar... Hum, pelo menos foi o que me disseram. – A voz me faz piscar. Provavelmente estava analisando demais.

– Não estou assustada. – Franzo o cenho, ainda olhando.

Então ouço o riso desconcertado.

– Desculpe, achei que estava impressionada com o filho do dono da empresa. Seu primeiro dia também?

É aí que olho para quem fala comigo, finalmente.

– Filho do dono da empresa? – Quando volto a mirar para onde o tal filho, ou “cara do banheiro”, estava novamente, ele já havia ido embora. Ele é tipo um Jungkook então? Hah, esses engomadinhos.

E encaro o cara ao meu lado.

Oh.
Ele parece ter minha idade e está vestido elegantemente e apropriado. Noto que o garoto possui traços faciais suaves, mesmo com uma mandíbula definida, lábios finos e desenhados, testa à mostra com seu cabelo jogado para o lado, maçãs do rosto levemente acentuadas e olhos expressivos.

– Hum, e sim... – Continuo, me concertando na cadeira. – Vim para a entrevista da segunda fase para o estágio hoje. Você veio para a entrevista nessa mesma área também? – Então de repente arfo, lembrando de uma pergunta crucial. – Eles já começaram a chamar os nomes?!

– Ah, chamaram sim, do---

– Chamaram?! – Sento na ponta da cadeira e meus olhos saltam.

Ele ri e meneia a cabeça, fazendo um sinal com a mão.

– Foram outros dois garotos. – E eu suspiro pesado, fechando os olhos em alívio. – Então... Acho que você e eu estamos tentando ocupar as duas vagas para o mesmo departamento!

– Humm, meu provável novo parceiro de trabalho? Saquei...

– Espero que sim. Pra falar a verdade tô um pouco nervoso... Já tentei três vezes para essa vaga, mas não passava da primeira fase. Agora finalmente me aceitaram para a seguinte... Mas foi bom, me deu mais confiança enquanto eu trabalha em outros lugares para ganhar experiência. – Ele diz sem graça. Deus, minha experiência é apenas em um café junto com Yeonjun. Não que eu não tenha tido experiências em Ulsan e em alguns trabalhos freelance, mas como milagrosamente não me exigiram isso, minha boca se manteve um túmulo. Não que eu não fosse tentar a vaga de qualquer forma. – É um nome grande para se ter no currículo... E quem sabe até fazer um trabalho notório o suficiente para eles decidirem pela efetivação e garantir um emprego prestigioso quando terminar a faculdade... Uhn. Aish, me perdoe se eu não paro de falar! – Seus olhos se estreitam ao rir nervoso.

– Tudo bem. – Sorrio, me acalmando e o certificando. – Eu também falo muito, mas acho que também estou ansiosa... – Por quase ter perdido essa chance por ter flagrado o filho do dono da empresa com sua possível amante enquanto apenas tentava fazer xixi, mas não preciso falar alto. – E... Isso me causa o efeito contrário.

– Entendi... – Ele observa ao redor. – Acho que ainda tem muitos inscritos para essas vagas nessa etapa, não é?

Não eram muitos, mas para uma segunda fase de avaliação, é, acho que diria que sim.

– Será que é por isso que estão nos fazendo esperar tanto? – Pisco.

– Acredito que sim... Tomara que já não tenham se decidido por alguém e mudado de ideia com o restante! Digo, quanto a mim, não você, claro.

– Se te escolheram até aqui, você mandou bem, não se preocupe tanto. – Digo e ele sorri fechado, assentindo. – Você já trabalhava com desenho industrial ou... Não sei, comunicação, antes daqui? – Pergunto e no mesmo momento sinto meu celular vibrar com novas mensagens.

– Eu já trabalhei sem ser remunerado em uma empresa e depois fiz mais dois estágios em outras duas, mas também tenho feito uns trabalhos como freelancer... – Isso me faz ficar um pouco apreensiva. Todos têm currículos assim? Argh, para com isso, Aeri, siga o seu próprio conselho e o de sua mãe. Se te escolheram, é porque você manda bem. Não se preocupe tanto. Outras oportunidades surgirão se essa não rolar. Confia no teu taco e pronto! Isso. – O ramo automobilístico sempre foi meu principal interesse, mas tudo bem, um passo depois do outro! – O rapaz ri.

E meu celular vibra com mais mensagens de resposta.

– Verdade. – Rio. – Hummm, e você está estudando em qual universidade?

– Na Universidade de Sungkyunkwan! E você?

– Estudo na Universidade Nacional de Seul.

Whoaaa! Isso é incrível!

– Sungkyunkwan também é igualmente incr---

A porta de vidro se abre, revelando uma representante do RH.

– Boa tarde. – A mulher mais velha e muito bem vestida entona, e todos da sala se levantam imediatamente e a cumprimentam, inclusive nós dois. – Prontos? – Ela faz um sinal com a mão.

– Aliás... – Ele sussurra para que só eu ouça, me olhando de lado. Mesmo que agora de pé, ela seja muito mais alto do que eu esperava. – Me chamo Cha Eunwoo.

– Oh. – Pisco, mas então sorrio discreta, o olhando rapidamente e sussurrando de volta. – Sou Moon Aeri.

– Moon Aeri. – Eunwoo repete e sorri até alcançar seus olhos, respondendo de forma doce. – Bom te conhecer... Parceira!

 


Mensagem de texto.
De: Coelho
“Ei
Boa sorte hoje, princesa”

 

 

• ━────── ☾ ──────━ •

 

 

Perspectiva de Jeon Jungkook.

 

Enquanto o céu fazia seus preparativos para se pôr abaixo do horizonte em algumas horas, ainda lançando um brilho quente e dourado sobre Tóquio, estou dirigindo a Lamborghini de Jin pelo trânsito cansativo enquanto ele permanece apagado no banco do passageiro, dormindo desde que saímos do restaurante, e rio comigo mesmo. Aaaah, Kim. Olho no retrovisor e vejo as Bentleys nos seguindo. Quando ligo o pisca e viro a rua, finalmente avisto o prédio do meu apartamento no distrito de Toranomon.

Casa longe de casa.

O prédio imponente de estrutura de vidro com linhas nítidas e curvas elegantes, ergue-se acima de nós, dominando o horizonte do distrito; prédio o qual eu detinha um dos andares.
Manobro o carro e o estaciono na garagem, logo tentando acordar Seokjin ao meu lado.

– Jin... Jin! – O sacudo pelo ombro, sem sucesso. – Acorda, cara! Chegamos. – E ele apenas resmunga. Ao menos está vivo. Então tiro o cinto de segurança dele e solto um suspiro que estava preso. – Se você continuar dormindo vou falar para o Kyung-ho te levar para um hotel e você não ficará mais hospedado na minha casa. Esteja avisado. Jiiiin... Três, doi---

– Já acordei, caralho! – Ele revira os olhos e esfrega o rosto.

Humpf. – Bufo, abrindo as portas, inalando o ar fresco de Toranomon.

– Só pra você saber, eu também te deixaria sem carro. – Ele desce e se espreguiça.

– Você acha mesmo que eu prec---

– Não termine. – Ele me lança um olhar ameaçador, mesmo ainda com um bico subentendido por ainda estar semiadormecido.

Rio e jogo as chaves do carro para ele, piscando meu olho esquerdo, e seguindo o trajeto até as escadas.

– Kyung-ho. – Sei que ele está atrás de mim como uma sombra. – Está dispensado.

– Mas Sr. Jungkook...

– Volte daqui uma hora e meia. – E antes que ele saísse, faço um aceno com a mão, ainda seguindo meu caminho. – Deixe apenas dois na entrada. E não esqueça de confirmar com o Sr. Suzuki que eu gostaria de vê-lo amanhã em meu escritório.

– Sim, senhor.

Esfrego o polegar pela minha sobrancelha direita e escuto apenas murmúrios de Seokjin instruindo Kyung-ho a mais tarefas as quais ele via necessárias. Subo a grande escadaria da entrada, preferindo-a ao invés do elevador até o lobby, cada degrau emitindo um toque suave quando meus sapatos tocam o piso. As enormes portas giratórias então se abrem, revelando um saguão extravagante adornado com candelabros de cristal que lançam cascatas de luz cintilante por todo o espaço. O ar estava cheio de uma fragrância delicada e sigo o caminho pelo lobby adornado por obras de arte e o som suave dos meus passos e os de Jin se misturam com as melodias brandas que emanavam dos funcionários na recepção.
Quando me aproximo do elevador principal, um concierge me cumprimenta com uma reverência respeitosa e quase me pega de sobressalto com seu movimento perto de mim.

– Bem-vindo de volta, Sr. Jeon. Acreditamos que seu dia foi muito bem-sucedido. – O recepcionista diz com um sorriso caloroso.

– Obrigado, Ito. – Respondo com uma voz composta e um sorriso. Meu dia ainda não foi bem-sucedido dessa forma, mas será.

– Sr. Jin. – Ele o cumprimenta igualmente. E imediatamente toma as providências necessárias, solicitando rapidamente para que um assistente se encarregasse das malas até o vigésimo andar.

Eu e Jin entramos no elevador panorâmico e digito o número 20 no visor, onde as portas se fecham com um silvo, antes de Jin se encostar na parede metálica e soltar um suspiro. Sentimos o elevador começar a subir e a viagem é silenciosa, então uso desse tempo para verificar meu celular, percorrendo e-mails e mais algumas mensagens.
Rapidamente somos dirigidos até meu andar, e quando as portas do elevador se abrem, damos de cara com o corredor com janelas do chão ao teto que oferecem vistas deslumbrantes da tela que Tóquio pode ser, e então com a minha porta que tinha a inscrição “2013”, na qual digito minha senha na fechadura digital.
Quando as portas se abrem automaticamente, nos vemos de frente para o duplex. Noto o piso de mármore branco e vasos de flores transbordando intactos, e sei que sabiam que eu viria em breve, então deixaram tudo a postos e com ar de... Casa. Casa que é habitada com frequência.

– Eu tô morrendo de sono, puta que pariu. – Jin resmunga.

– Não foi só eu quem não dormiu bem, huuum? – O provoco. – Vai tirar um cochilo, hyung. – Sorrio para ele e aponto para a direção do quarto que certamente estava preparado para Jin, não que ele já não soubesse o caminho. – Também vou tentar descansar um pouco.

– Faz bem. – Ele dá um tapinha no meu ombro e se espreguiça. – YA, JUNGKOOK! – Ele reclama em alto e bom tom quando chuto a bunda dele assim que está de costas.

O vejo desaparecer pelo corredor, ainda rindo, e então fecho os olhos e entorto e cabeça, inspirando e expirando o ar do meu apartamento. Subo as escadas brancas que conectam até o segundo andar e passo pelo quarto que uso como escritório privado, onde as portas trabalhadas em madeira de ébano abrem-se automaticamente à medida que me aproximo; revelando prêmios e distinções, lembranças do legado da família Jeon na indústria automotiva. Uma coleção de modelos de carros antigos, meticulosamente exibidos em caixas de vidro. Hah, argh, cacete. Bocejo ainda pela noite pessimamente dormida e avanço até meu quarto ouvindo as portas automáticas se fecharem atrás de mim e o som suave de água corrente vindo da piscina no terraço do andar de baixo.

Chego até o quarto e as luzes são acesas pelo movimento dos meus passos, as lâmpadas gêmeas ao lado da cama lançam poças douradas no chão, e eu me jogo no colchão, tirando meus sapatos com os pés e os jogando no chão, depois trazendo os lençóis até minha cintura e passando o tecido entre minhas pernas enquanto suspiro de olhos fechados.

Isso é bom.

Muito bom.

Então abro os olhos e encaro a janela panorâmica. As pessoas acham que vivemos a vida da forma que apenas queremos, mas não é simples assim.
Apenas... Se tiver um caminho, o seguiremos. Se não tiver caminho, faremos um. Sem apenas “dar um jeito”. Porque se feito dessa forma, as pessoas sempre pensarão que “só conseguiram porque deram um jeito”. Eu não “dou um jeito”, eu faço acontecer o que tem que acontecer.

Minhas pálpebras vão pesando um pouco mais e cada vez mais a cada segundo.

Uma coisa que aprendo todo os dias é que... Não devemos evitar as coisas porque elas nos incomodam. Se continuarmos fugindo, alimentando esse hábito, sempre que a situação ficar ruim, passaremos a vida perdendo.

 

 

• ━────── ☾ ──────━ •

 

 

Perspectiva de Moon Aeri.

 

– Moon Aeri? – A mulher indaga olhando para a caderneta em suas mãos.

– Sim? – Levanto meu olhar rapidamente.

– Você é a próxima. – Ela profere e se vira, entrando na sala sem dizer mais nada.

Semicerro os olhos rapidamente e a acompanho.

A representante de RH me conduz até a uma sala de conferências. A sala é grande, possuindo uma grande mesa central de mogno, cercada por cadeiras ergonômicas revestidas de couro macio. A luz do sol suave entrava pelas janelas lançando um brilho quente na mobília elegante, e sobre a mesa pousava meu portfólio, apresentando os projetos cuidadosamente selecionados por mim mesma, impresso para cada um dos quatro executivos do departamento que participam da seletiva, arranjados e prontos para serem avaliados.

Cumprimento o painel de entrevistas com um aperto de mão firme, fazendo contato visual com cada membro. A mulher na cabeceira da mesa abaixa os papeis em suas mãos, os quais ela deu uma última conferida, e me olha.

– Bem-vinda, Srta. Moon. Sou Seo Yi-sook, diretora do departamento de design da Baem Motors. – Uma mulher mais velha e austera, de perfil impecavelmente profissional, fala. Sua voz é uma mistura de autoridade e encorajamento. Ela olha para minhas botas e depois levanta o olhar para meu rosto novamente, fazendo um sinal para que eu me sente, então logo me ocupo do lugar na cadeira oposta aos executivos. – Você foi indicada pela coordenadora Hong Mi-ran, hum? Soubemos que você é uma estudante promissora... – Ela passa pelos meus projetos diante dela. – Mas vamos começar com a entrevista para que eu possa entender melhor suas habilidades e ambições.

– Obrigada, Sra. Seo. Estou... Animada com essa oportunidade e acredito que poderei contribuir de forma significativa para a montadora.

– Vamos ver. – Ela levanta as sobrancelhas, sem voltar o olhar para mim. – Primeiro, me fale um pouco sobre o que te atrai na área de design automotivo e por que você escolheu nossa empresa em particular, quero saber sobre suas aspirações, Srta. Moon.

Concordo com a cabeça e ela me encara, abaixando a cabeça para olhar por trás dos óculos, enquanto os outros participantes da mesa também me aguardavam falar, murmurando entre si e apontando sobre as pranchas dos projetos que entreguei no portfólio.

– Bem, acima de tudo, eu amo como o design automotivo combina arte e tecnologia para criar algo funcional e esteticamente agradável. Eu decidi por essa área profissional justamente porque aspiro em poder fazer parte de uma história onde a fusão entre a estética e funcionalidade se encontram e fazem parte da vida cotidiana. A beleza funcional e o funcional belo... – Espero um momento, coletando as informações na minha mente sem divagar tanto, e continuo. – E escolhi a Baem Motors porque ela tem uma reputação de inovação e excelência em design das quais sempre ouvi tanto falar... E eu gostaria de aprender e fazer parte dessa história.

– Certo. – Um dos executivos com uma voz rouca assente, me olhando. – Bom, nós gostaríamos agora que você compartilhasse conosco sobre algum desses projetos que trabalhou recentemente e nos trouxe aqui. Nos fale sobre o processo criativo e os desafios que você enfrentou, caso tenha tido, hum?

Lhe ofereço um sorriso educado e aponto para um dos projetos, dos quais mais gosto, em especial.
À medida que a entrevista avança, tento responder sem esforço a cada pergunta, baseando-me apenas nas minhas experiências e no meu conhecimento... Eles me apresentaram os requisitos exigidos na vaga e as devidas funções dentro da empresa, com um ar quase intimidador para um processo seletivo de estágios.
Os quatro ficavam rabiscando notas furiosamente, e minha mente me perguntava se era bom tantas anotações ou se era melhor anotação nenhuma e se eles estavam distraídos ou já exaustos depois de tantas entrevistas. Mas opto por manter a compostura e confiança, mesmo que até eu já esteja começando a ficar cansada a essa altura.

 

 

 

 

– Entendo. Modelagem 3D e prototipagem... – A Sra. Seo anota algo em seus papeis. – Bom saber que você possui conhecimentos técnicos relevantes, Srta. Moon. Muito bem. Por fim, gostaria de saber como você lida com prazos apertados e situações de pressão. Como você gerencia seu tempo e mantém a qualidade do trabalho?

– Hum.

Vou a festas universitárias, bebo e quando vejo o prazo final se aproximando, me enfio dentro da biblioteca até ser minha segunda casa e depois volto para as festas universitárias, troco de turno com Yeonjun e acabo no loop atual de dormir com o garoto que eu odiava, que por sinal é herdeiro de uma das empresas concorrentes.

Ao menos ainda consigo garantir minhas notas boas, então acho que sou boa em lidar com prazos e situações de pressão.

Pigarreio.

– Quando estou diante de prazos apertados, eu me organizo tentando criar um cronograma e estabelecendo minhas prioridades... Assim consigo visualizar melhor o que é mais urgente e quais serão meus focos. Também gosto de trabalhar em colaboração com uma equipe, dividindo tarefas e mantendo uma boa comunicação para garantir que todos estejam na mesma página e assim... Tudo fluir da melhor forma.

Me sinto um robô dando as respostas obviamente corretas nessa patacoada. Seria isso o suficiente? O que eles querem?

Então a outra executiva que está na mesa analisando meu CV, faz uma menção para que eu a ouça.

– Japonês?

E eu apenas assinto.

– Por achar que era bom para o currículo ou...?

– Meu pai achou que seria bom aprender línguas estrangeiras. Inglês, japonês... Ele trabalhou há muitos anos atrás para uma empresa japonesa, então me ensinou o pouco que sabia e eu também fiz um curso alguns anos atrás.

– Seu pai trabalhou anos atrás para os japoneses? – Ela para de escrever em um dos papeis e me olha.

– Ahm... Era uma subsidiária.

– Hum. – Ela concorda, olhando para a caderneta a sua frente. – Fluente?

– Sim, senhora. – Fluente? Vamos com calma. Mas vai que, né.

– Sr. Ahn, mais alguma pergunta para a Srta. Moon? – A diretora pergunta para o homem ao seu lado, cruzando os dedos das mãos a sua frente, e minha atenção também vai para ele.

– Não, por hoje é só. Acho que já sabemos tudo que precisamos. – Ele sorri fechado.

E assim, fica claro que a entrevista chegou ao fim, com os executivos agradecendo-me pelo meu tempo e, para minha surpresa, até me teceram elogios. Eles garantem que considerariam cuidadosamente minha candidatura e entrariam em contato comigo com a decisão final no devido tempo. Hah, tá. Isso parece ser o texto decorado que eles dizem para todos.

Apesar da seriedade da Sra. Seo e dos executivos, a entrevista correu bem. Normal. Como esperado. Boa. Mas sinto um incômodo pelo fato de tudo parecer robotizado e solene demais para o meu gosto. Argh, a vida do CLT é mesmo um inferno.
Conforme me levanto para sair da sala, coletando de volta meu portfólio, sinto uma chama queimando dentro mim. Esse meu jeito ainda vai me ferrar.

Então, me viro e olho diretamente nos olhos da diretora.

– Eu sei que minha abordagem pode parecer um pouco diferente, mas acredito que a criatividade surge quando nos permitimos ser únicos e autênticos. O design é sobre... Inovação, ousadia e quebrar barreiras. Portanto, me vejo disposta a embarcar em uma jornada que seja para isso, para desafiar o "status quo".

– Todos pensamos assim quando somos jovens, Srta. Moon. – A Sra. Seo me olha por detrás dos óculos. – Você logo vai perceber que o---

E com um sorriso desafiador que não consigo controlar, meneio a cabeça.

– Sabe, criar designs inovadores é uma mistura de paixão e loucura. E eu acredito que posso trazer uma dose extra de ambas junto com minha determinação e criatividade para o seu departamento. Mas eu quero fazer parte de algo que revolucione a indústria e a forma padronizada que ela é, trazendo ideias que vão além dos limites convencionais. Diretora Seo, eu vou deixar minha marca, seja aqui ou em outro lugar. – Aperto o portfólio contra o peito e talvez eu esteja passando dos limites, mas as palavras saem desenfreadas. – Ser convencional é muito chato. Se eu quisesse isso, teria escolhido outra profissão.

Dou um sorriso, educado dessa vez, e me retiro pedindo a licença deles.

 

 

 

 

Puta merda!

Puta merda, Aeri.

Encosto minha mão esquerda no filtro de água e suspiro. 
Por mais que eu comece a duvidar se realmente ultrapassei algum limite e que tenha arriscado minha oportunidade de trabalhar nessa empresa... Não posso deixar de sentir uma sensação de dever cumprido de alguma forma. Então tudo bem. Os outros candidatos devem ter sido mais politicamente corretos com os executivos.

Olho ao redor e a sala antes lotada do RH, agora se encontrava vazia.

– Será que aquele garoto conseguiu? Ele parecia ser dedicado. – Indago em um murmúrio, observando meu copo encher, e então aproveito para pegar o celular no bolso do blazer e mandar uma mensagem para Taehyung.

O copo d’água finaliza e quando o levo à boca, ainda digitando uma mensagem, escuto um zunido. Ou algo assim.

– Srta. Moon? Srta. Moon! – Uma garota sorridente me chama. No seu crachá dizia “Chae Seo-Eun”.

– Sim? – Engulo o gole d’água. – Sou eu.

É isso, vou virar “persona non grata” nessa empresa. Tenho que devolver até o copo de água.

– Seu cartão.

– Meu... Cartão?

E ela me entrega o cartão preto de scanner para entrada no prédio com o emblema da Baem Motors.
Puta merda mesmo. Eu sabia que aquele papo de “entrariam em contato com a decisão final no devido tempo” era balela.

Espera, então isso quer dizer que...

Olho para a garota, que parece uma secretária, e ela continua sorrindo animada.
Então um misto de alívio e incredulidade contrastam e dançam em meu peito, fazendo com que meu coração acelere ainda mais.

– Esse é apenas o provisório. – Ela aponta para o cartão na minha mão. – Semana que vem faremos um seu com sua identificação! Você começa na segunda.

Eu fico atônita por um momento, absorvendo a notícia. Até um sorriso deslizar em meu rosto e, dessa vez, genuíno.

Paixão e loucura realmente andam juntos.

 

 

• ━────── ☾ ──────━ •

 

 

– Tá certo, mãe. Obrigada! – Rio na ligação. – Uhuuum. Manda um beijo pro papai, mais tarde ligo para ele contando tudo. Ah, mãe, já estou vendo o Tae, vou ter que desligar. Certo, certo. Você também, viu?

Termino a chamada e aceno animadamente para Taehyung do outro lado da via, que está dentro do carro estacionado. Ele me pediu na mensagem para que eu fosse para até a rua de cima quando me buscasse depois que eu mandei a localização, e eu não sabia se estava na certa, mas cá está ele.

– VANTE. – Abro a porta do carro e entro no banco do passageiro. – Aaah, eu ia fingir que estava triste, mas vou deixar a encenação para Sora... Eu c o n s e g u i! – Solto uma risada maléfica, jogando a cabeça para trás.

– Conseguiu?! – O rosto dele se ilumina em um sorriso e os olhos saltam, mas logo ele franze o espaço entre as sobrancelhas e olha para frente com a mão ainda no volante, lambendo o lábio inferior. – Espera, a empresa misteriosa era... Você vai estagiar na Baem Motors?

– Vou! Acredita?

– Hum. Cabeção... Por que você não enviou o currículo para a Golclo-Denset? Eu esperava que... – Ele liga o carro e se perde nas palavras, observando o retrovisor por alguns segundos com atenção antes de sair. – Eu, Jin, ou até mesmo o Jungkook, poderíamos ter feito algo para---

– Tae! Fala sério!

É aí que ele me dá uma olhadela de lado e tenta me puxar para um abraço torto e esquisito com sua mão livre, da forma que pode.

– Vem aqui. Minha cabeçuda esperta. – Ele bagunça o topo do meu cabelo que ainda estava devidamente arrumado. Até agora. – Tem certeza que não quer tentar na Golclo-Denset ainda? Você já assinou algo lá? Eu nem sabia que você estava realmente considerando empresas de automobil... Pff. Olha...

– Você tá bolado porquê eu não vou trabalhar com você e agora estou na concorrência? – Rio, o cotovelando de lado minimamente para ele não nos matar no carro.

Mas ele continua com o braço esquerdo apoiado na janela e o polegar na boca enquanto pinça a pele.

– Não é isso… Mas eu até comentei com Seokjin sobre me avisar quando as vagas do processo seletivo na Golclo-Denset abrissem, pensando em te indicar, e agora tô irritado comigo mesmo. Eu devia ter feito algo antes.

– Não se sinta, Vante! Qual é…

– Cabeção…

– Só fique feliz que eu ainda vou poder me sustentar por um tempo, hum? E se eu der meu melhor… Ser efetivada. – Levanto as sobrancelhas.

Ele me olha com olhos esbugalhados.

Nem brinca.

– YA! – Kim leva um susto. – QUER ME VER POBRE? VOCÊ VAI ME SUSTENTAR?

– Ah, Deus... – Taehyung tenta não rir, comprimindo os lábios, mas ergue as sobrancelhas com o olhar fixado no trânsito.

Então me encosto mais no banco confortável do passageiro, me acomodando.

– Eu estava esperando isso há muito tempo, sabe como isso estava me tirando o sono. Toda a incerteza…

Ele entorta a boca, mas concorda com a cabeça.

– Eu vou demorar para superar essa minha vacilada.

– Para, vai. – E me viro para ele de novo. – E como foi seu dia no trabalho hoje? A ressaca passou? – Pergunto mudando de assunto, mas interessada na vida movimentada de Kim Taehyung em seu estado pós-alcoólico.

– Hah, Joo-Woon está de bom humor hoje, então foi tranquilo. Jungkook foi para Tóquio com Jin, né. – Ele ri, mas ainda parece agitado. – O Jungkook não curte muito trampar com a empresa, mas ele é o melhor, até mesmo quando não se esforça tanto. – Tae me olha antes de observar o retrovisor novamente, ainda com o cotovelo apoiado na janela. – E Joo-Woon gosta de exibir o filho dele, sabendo o quão bom ele é.

– Hummm. Você deu sorte. – Sorrio e contemplo as ruas passando pela janela à minha direita. – Sabe, eu podia começar minha nova era como sua sustentada com você me levando para comer Samgyeopsal. Tô morrendo de fome. – Dou dois tapinhas na minha barriga. – Aí aproveito e te conto uma fofoca sobre o que eu vi lá na empresa enquanto fui fazer xixi.

– O quê? O que você viu lá?

– Ah, nada demais, só um casal se pegando.

– Como assim enquanto você fazia xixi? Eles estavam no banheiro? Meu Deus, eles não seguem regras nem nos relacionamentos entre funcionários. Tsc. – Ele fala rindo indignado e balança a cabeça. – Mas não vou conseguir te levar para seu banquete patrocinado por mim hoje, cabeção. Tenho que voltar para faculdade daqui uma hora para finalizar um trabalho de Projeto de Automação e antes disso ainda tenho que atender à um chamado da Sra. Kim mais exigente da Coréia.

– Duvido que essa Sra. Kim ficaria chateada se soubesse que o motivo foi porquê você foi jantar comigo. – Me vanglorio, rindo. Então aponto para ele. – E pera lá, você já não entregou esse negócio quinta passada?! Tá me escondendo alguma coisa, é? Sr. Kim Taehyung, o mais descarado da Coréia.

Ele começa a rir, mas eu olho para o banco de trás e vejo um buquê de flores laranja. Puxo o ar pela boca e arregalo meus olhos.

– Então quer me dizer que está me trocando por um encontro?

Ele passa a rir mais, desconcertado.

– Cabeção... Não. Eu disse que tenho que atender à um chamado da minha vó. Essas flores são para a mãe de Jungkook. As preferidas dela. – Um sorriso reto desenha os lábios dele.

– As flores do filho dela. – Cicio, percebendo se tratar de lírios tigre. Então me viro para frente de novo. – Mas como você vai entregá-las? Ela não mora em Busan?

– O quê? – Taehyung me olha confuso, com um vinco na testa.

– Ela se mudou para Seul? – O carro para quando chegamos em um sinal vermelho.

– Meu bem... – Ele suspira e joga a cabeça para o lado, esfregando os dedos indicador e médio na testa.

– O que foi?

– Essas flores são para o jazigo dela. Minha avó, eu, Jungkook, nossos amigos; sempre tentamos deixá-lo com flores novas. Virou meio que uma tradição para nós, ent---

– Do que você está falando? – Solto o ar pelo nariz. – Ela não é professora de fotografia na univ---

– Ela era. Há muitos anos atrás.

– O quê?

Ficamos calados por minutos e meu estômago embrulha.

Então escuto o suspiro de Taehyung quando chegamos em frente ao meu dormitório.

– Ele nunca realmente fala sobre isso. Foi na época que ele se mudou para Seul definitivamente.

– Tanto tempo assim?

Eu ainda lembro vagamente dela... Sim, algumas vezes na casa dos Kim. Eu acho que já disse isso para Jungkook.

– Olha… O Jungkook pode ser difícil de lidar, cabeça dura, meio imaturo em algumas coisas... Mas ele não se resume a isso. E ele é meu… Irmão. Juramos que ficaríamos sempre um do lado do outro… E mesmo quando ele tenha passado uma parte da infância em Busan naquele vai e vem, cara, eu o conheço desde que, sei lá, nasci. – Tae expira e me olha. – Ah, e depois disso, claro, você entrou no nosso grupo seleto de duas pessoas. – Ele pinça minha bochecha, tentando fazer o clima ficar mais distraído. – E eu sempre manterei minha promessa mesmo sabendo dos demônios dele. Do tipo que todos nós temos. O nosso lado obscuro. Sabe? Assim como manterei com você, cabeção! Então... Não leve pro pessoal o fato dele nunca ter falado sobre isso, é escolha dele. E eu entendo. – Kim termina de falar e assente, mais para si mesmo, olhando para o fim da rua à nossa frente.

– Sim. Você tem razão. – Concordo e olho para as flores no banco de trás mais uma vez.

 

 

• ━────── ☾ ──────━ •

 

 

Horas depois.

De madrugada.

           

Não! – Acordo exasperada de um pesadelo confuso e medonho. Coloco a mão no meu coração e solto o ar pela boca quando me vejo deitada em minha cama.

Cacete.

Ouço um resmungo ao meu lado, Sora dorme profunda e tranquilamente.

Quando olho para janela ao lado da cama, vejo que ainda é noite lá fora. O relógio no celular ao lado da escrivaninha me afirmando que ainda são 4:25 da manhã.

– Argh... – Levo a mão direita até meu rosto e o esfrego por conta do brilho do display.

Então percebo também uma mensagem que perdi durante o sono. De alguém que deve ter ficado pensando demais.

 


Mensagem de texto.
De: Taehyung
“Cabeção,
Desculpa meu mau jeito hoje...
E não me entenda mal.
Te amo e sempre estarei nos backstages torcendo pela sua vitória em tudo.
Vá lá e detone aquela empresa.
:)”

 

 

Sorrio e me jogo no colchão novamente, desejando conseguir dormir mais algumas horas. Foi só um sonho ruim. Miro a janela e vejo a lua ardente, brilhando com força e iluminando o quarto.

Está me vendo?

Meus olhos piscam.

Vacilam.

E eu espero que meu sono seja velado.

 

 

 

---------------------

“You said I shouldn’t come over

‘Cause I won’t like what I find;

I know your past wasn’t easy

but I have nothing to hide.

[...]

I wanna know you even if it breaks me;

I wanna find out if it’s gonna change me;

I wanna take you out and show you that I can

be there even if it breaks me”

 

✶✶✶✶✶✶✶✶✶✶


Notas Finais


10 anos (+).

01001110 11100011 01101111 00100000 01110011 01100101 00100000 01100101 01110011 01110001 01110101 01100101 11100111 01100001 01101101 00100000 01100100 01100101 00100000 01110011 01100101 00100000 01101101 01100001 01101110 01110100 01100101 01110010 01100101 01101101 00100000 01100110 01100101 01101100 01101001 01111010 01100101 01110011 00100000 01100101 00100000 01110000 01110010 01100101 01111010 01100001 01110010 00100000 01110000 01101111 01110010 00100000 01101001 01110011 01110011 01101111 00101110 00001010 01000001 01101101 01101111 00100000 01110110 01101111 01100011 11101010 01110011 00101110 00001010 00001010 00001010 00001010 01010011 01100101 01101101 01110000 01110010 01100101 00101110.

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