POV Ririka Momobami
Já havia se passado seis longas semanas desde a briga entre Sayaka e Kirari e nada delas se resolverem, as duas nem se quer trocavam uma palavra mesmo morando na mesma casa. Minha irmã criou até um cronograma de horários que ela segue para sair do quarto para comer, tudo isso pra dar espaço para a Igarashi. As duas quase nunca se esbarram pela casa e nos raros momentos que isso acontece, apenas rola uma troca de olhares confusos, mas logo se afastam indo cada uma para um lado. Sem contar nas noites difíceis, tenho dormido com minha irmã no quarto de hóspedes e ela chora todas as noites como se fosse uma criança. Sayaka não está diferente, Yumeko e Mary as vezes dormem no quarto com ela e falam que ela está sempre chorando.
Ninguém aguenta mais essa situação, mas não temos o que fazer, somente apoia-las da melhor maneira possível. O problema mesmo é pra lidar com os assuntos do grêmio, já que as duas são necessárias e precisam manter no mínimo uma pequena comunicação, coisa que não acontece. Kirari me falou que quando ela precisa assinar documentos, Sayaka apenas os deixa na mesa, a mesma coisa com os planos de vida dos totós, assim que minha irmã termina de conferi-los, deixa em cima da mesa e a secretaria do grêmio os pega, sem dizer uma única palavra. Elas não se comunicam mais, parece que só estam se suportando, coisa que não é verdade, as duas estam sofrendo com essa distância, mas Sayaka está sendo orgulhosa e não quer ir atrás de Kirari. E a Momobami também não vai atrás porque prometeu dar espaço pra Igarashi. Desse jeito, as coisas nunca vão se resolver.
Sem contar que daqui a 5 dias será nosso aniversario de 18 anos, ou seja, o dia que o plano de Kirari entra em ação pra valer e se Sayaka não tentar ao menos dar um passo pra falar com minha irmã, a chance de tudo dar errado é grande. Se a Momobami não ficar noiva de Sayaka oficialmente, ela vai ter que casar com a Rei e com isso, o clã irá se apossar não só da liderança, mas também de nosso dinheiro, isso não pode acontecer.
- Amor, está me ouvindo? - Escuto a voz de Mary, me fazendo sair dessa maré de pensamentos.
- Com certeza não tá, olha a cara dela de que tava no mundo da lua. - Comenta Yumeko rindo de minha expressão confusa.
- Desculpa amor, eu tava realmente meio distante. - Falo envergonhada, nesse momento estamos na escola, era intervalo e estávamos sentadas em uma das mesas lanchando.
- O que está pensando? Preocupada com a Kirari? - Pergunta a loira, se aproximando de mim.
- Não só com ela, com toda essa situação. - Digo simples, suspirando.
- Nem me fale, desde que tudo isso começou, você não dorme mais com a gente. - Reclama a Yumeko triste. - Nós sentimos sua falta, amor.
- Aquela cama é tão vazia sem você... - Diz Mary, num suspiro.
- Eu sei, eu também sinto, mas tenho medo de deixar minha irmã sozinha, me desculpem... - Falo sincera, meu maior medo é Kirari se sentir sozinha de novo e ficar daquele jeito.
- Nós entendemos amor. - Diz Mary, me puxando para um abraço apertado. - Mas tenta conversar com a Sayaka, ela não se abre com a gente, talvez você dê coragem pra ela tomar uma iniciativa com Kirari. - Sugere, se afastando um pouco.
- Certo, vou ver o que posso fazer. - Digo sem muita confiança. - Também vou falar com Kirari, vou dizer que hoje vou dormir com vocês, ela vai entender.
- Certeza? Tudo bem se não quiser fazer isso. - Fala Yumeko, com medo de ter me pressionado.
- É, se achar que sua irmã não tá pronta pra ficar sozinha ainda, tudo bem, a gente espera o tempo que for. - Completa Mary, tocando delicadamente minha mão.
- Está tudo bem, meus amores, eu quero isso, estou morrendo de saudade de vocês, um mês e meio sem dormir na minha cama com as duas por cima de mim faz muita falta. - Falo sorrindo divertida e dou um selinho em cada uma. - Sem contar que sinto falta de outra coisa também. - Digo, passando minhas mãos nas pernas de minhas namoradas.
- E do que seria, srta. Momobami? - Pergunta Mary, com um sorriso malicioso no rosto.
- Mais tarde vocês descobrem, agora tenho um casal pra tentar juntar. - Digo cínica, me levantando da cadeira.
- Ah não amor!!! - Reclama Yumeko.
- Amo muito vocês, qualquer coisa, estarei na sala do grêmio ou na sala da Kirari. - Falo e beijo as duas de maneira apaixonada.
Deixando minhas namoradas, fui direto até a sala de Kirari, pelo horário, Sayaka nesse momento deve estar lá esperando a presidente do grêmio terminar de checar os planos de vida para serem entregues. É o momento perfeito, irei avisar pra Igarashi que quero conversar com ela e assim que ela sair da sala de Kirari, conversarei com minha irmã. Só espero que essa conversa com as duas separadamente resulte em alguma coisa, porque eu realmente não aguento mais ver as duas sofrerem tanto, sem contar também que com isso tudo, fiquei distante de Mary e Yumeko, nós só temos "privacidade" e momentos juntas aqui na escola, já que não estou dormindo mais com elas.
Assim que fico de frente para a porta da sala, me preparo pra bater, mas antes mesmo de fazer isso, a porta é aberta por Sayaka, que leva um susto por dar de cara comigo. A mesma acabou derrubando os planos de vida no chão com tudo, atraindo a atenção de minha irmã, que com medo de sua noiva ter se machucado, veio correndo até a porta preocupada. É muito bonito ver que mesmo que elas duas não estejam trocando uma única palavra em 6 semanas, elas ainda tem essa preocupação. Quase todos os dias, Sayaka veio até mim somente para perguntar se minha irmã estava bem, isso só me mostra que elas duas se amam e tem que ficar juntas novamente.
- Meu Deus, desculpa Ririka, eu não esperava dar de cara com você desse jeito. - Fala todo desengonsada, abaixando pra pegar os papéis que caíram.
- Vocês estam bem? - Escuto Kirari, vejo a mesma se aproximar com cautela, não querendo invadir o espaço de Sayaka. - Quer ajuda? - Pergunta, pegando tanto eu, quando a Igarashi de surpresa, porque claramente foi uma pergunta direcionada a ela.
- Não. - Disse seca, sem nem olha-la, porém juro que a ouvi sussurrando um baixo "merda Sayaka, não seja grossa".
Acabei sorrindo fraco com isso e a ajudei a levantar do chão, enquanto minha irmã se afastava, voltando para sua mesa. Eu estava feliz por elas, até porque, depois de seis semanas elas finalmente se falaram, mesmo que não seja lá essas coisas, mas já é um começo. E ver que Sayaka se arrependeu instantaneamente por ter sido grossa com Kirari, isso sim é uma evolução, porque me pareceu que ela tá realmente tentando se aproximar, me parece que Sayaka está numa briga interna do que quer.
Desde aquela conversa que tive com ela no quarto, não conversamos mais sobre o assunto e minhas namoradas também evitavam ao máximo isso, nós não queríamos influenciar a escolha dela. E mesmo sem nossa influência, minha cunhada ainda escolheu ficar com Kirari e tentar de novo, só que ainda está com um pé atrás.
- Ririka, depois poderíamos conversar? - Saio de meus pensamentos com essa pergunta de Sayaka, me pegando de surpresa, por esse eu realmente não esperava mesmo.
- Claro, quando terminar de entregar os planos de vida, pode me encontrar na sala do grêmio estudantil. - Digo simples com um sorriso de lado e ela sai da sala.
- E-eu falei com ela, meu Deus, eu não acredito que fiz isso... - Divagava Kirari, enquanto me aproximava dela. - Eu sou uma idiota! Ela vai me odiar mais ainda, eu quebrei o espaço dela, passei do limite...
- Calma aí, okay? Relaxa, você só ofereceu ajuda e ela negou, deixa de ser paranoica, Kirari. - Comento divertida, tentando descontrair. - Já é um começo, ela poderia nem ter te respondido, veja pelo lado bom.
- Certo... - Diz, respirando fundo, tentando se acalmar. - Eu não aguento mais ter ela tão perto, mas tão longe ao mesmo tempo. Ela nem se quer consegue me olhar nos olhos.
- Dê tempo ao tempo, as coisas vão se resolver tenho certeza. - Digo confiante, tentando deixá-la melhor.
- Bem, o que veio fazer aqui? Devia estar passando o tempo com suas namoradas. - Fala confusa, passando a mão no rosto.
- Vim falar com você, eu pretendo dormir hoje com as meninas, tudo bem? - Pergunto apreensiva pela resposta, não queria mesmo deixá-la sozinha, mas também quero ficar com minhas namoradas.
- Claro que não tem problema, você já devia ter voltado pro seu quarto a muito tempo, onee-chan. - Fala me fazendo sorrir aliviada, aparentemente ela está bem.
- Certeza que vai ficar bem sozinha? - Pergunto só pra confirmar.
- Não precisa se preocupar tanto, irei ficar bem, pode voltar pro seu quarto e transe bem muito, pra compensar as seis semanas que te prendi. - Comenta com um sorriso divertido no rosto, me fazendo corar um pouco.
- N-nós não vamos fazer nada, okay? Só quero passar uma noite com minhas namoradas, nada mais que isso. - Digo, levemente envergonhada.
- Sei... vou fingir que acredito que vocês não vão transar depois de um mês e meio sem você por perto. - Fala rindo cínica. - Já que era só isso que queria me falar, tem algo que precisa saber. Sachiko me informou que Miroslava não tem me vigiado com tanta frequência como antes.
- Isso é bom, não? - Pergunto confusa, já que minha irmã não estava com uma cara boa.
- Eu sinto que isso é algo ruim, porque o clã recuaria agora, bem próximo de nosso aniversario? Não faz sentido algum, Ririka. - Fala, levantando da cadeira, passando a andar de um lado para o outro. - Nós temos uma enorme vantagem sobre eles, principalmente depois que Yuzo saiu do hospital e com isso, a família Obami está ocupada demais na justiça, ou seja, eles perderam força, deviam estar caindo mais em cima de mim e não recuando.
- Eles acham que tem Sayaka e Terano do lado deles, é a jogada final para te vencerem, devem estar apostando tudo nisso agora. - Digo tentando achar um motivo plausível pra esse acontecimento.
- Pode ser, mas mesmo assim, apostar numa pessoa que facilmente pode te trair, é muita burrice até mesmo para os abutres. - Conclui Kirari, dessa vez parada, olhando seu enorme aquário. - Acha que devo ir atrás da Terano?
- Você não, é muito arriscado, falarei com Sayaka para não levantar suspeitas, já que elas duas frequentemente saem para manter as aparências. - Falo simples e minha irmã concorda com a cabeça, ainda observando seus peixes.
Por incrível que pareça, Terano e Sayaka andam saindo já que com o falso acordo que a Igarashi fez com o clã, elas duas se tornaram pretendentes. Óbvio que a intenção dela era facilitar a passagem de informação pra Kirari, mas com tudo que aconteceu, ela acabou não fazendo isso, então as saídas com a Terano são só para ludibriar o clã, apenas isso. As vezes fico até imaginando, o que será que elas conversam? Pra mim deve ser só ódio atrás de ódio, já que as duas não se dão nada bem.
- Tenta não pensar muito nisso, okay? Você já tem coisa demais na cabeça, então deixa isso comigo. - Falo, me aproximando, tocando seu ombro. - Dessa vez, deixa que eu resolvo as coisas.
- Muito obrigada, onee-chan! - Diz finalmente tirando os olhos do aquário, em seu rosto um sorriso cansado, porém sincero. - É bom vê-la sempre sem a máscara e tomando decisões, estou muito orgulhosa da pessoa que está se tornando. - Sinto seus braços circulando meu corpo e retribuo seu abraço carinhoso. - Quando tudo isso acabar, tenho certeza que vai cuidar de tudo muito bem.
- Claro que sim, nós duas vamos cuidar de tudo! - Falo animada, nos afastando. - Quando desvincularmos o nome de nossa família do clã -bami, tudo será mais fácil e vamos gerir nossa própria empresa, sem nada ilegal nela!
- É isso que deseja? - Pergunta com um grande sorriso no rosto e concordo com a cabeça animada. - Eu amo ver você brilhar, seja sempre essa luz, Ririka.
- Você sempre diz que é uma escuridão, mas na verdade, você é a minha luz, a luz de Sayaka, de Rei, Yuzo, você é nossa luz, onee-chan. - Digo sincera e ela ri fraco.
- A lua não tem luz própria, a luz que vemos emanando dela é nada mais, nada menos do que a linda e gloriosa luz do sol, que está escondido bem atrás daquela grande rocha. - Começa a falar, olhando novamente para o aquário. - A luz que acham que brilha em mim, não é minha e sim sua, que sempre esteve atrás de mim. É por isso que quero que fique na minha frente e mostre quem você é.
- Eu não poderia ter tido uma irmã melhor, obrigado por sempre ter cuidado de mim e assumido todas as minhas responsabilidades no meu lugar, mas agora, é minha vez de fazer isso. - Falo convicta, a abraçando de lado. - Eu te amo, Kirari!
- Também te amo, Ririka. - Responde e vejo uma lágrima solitária correr por um de seus olhos.
POV Sayaka Igarashi
"Luta", essa é a palavra que define como minha cabeça se encontra nessas últimas semanas, uma luta interna sobre o que fazer. Uma parte grita desesperadamente por Kirari, implorando pelo menos por um único contato, um toque, um olhar, um beijo, e a outra parte grita por distância de Kirari. Claro que fica um pouco difícil tomar uma decisão quando tenho que conviver com ela, mas pelo menos é somente na escola, já que em casa ela evita ao máximo esbarrar comigo, o que agradeço. A questão é que estou dividida do que fazer, por isso que decidi conversar com Ririka, pois mesmo ela sendo irmã de Kirari, no dia que conversou comigo no quarto, ela conseguiu se manter imparcial e só deu sua opinião no final, porém me deixou livre para tomar minha escolha sem me influenciar.
Eu só preciso tentar tirar algumas informações de Ririka, fazer ela me falar sobre o que está passando pela cabeça de minha noiva, já que as duas estam sempre juntas. Sabendo o que Kirari está pensando, eu vou poder agir com mais lógica, olhar por mais lados e tomar a melhor decisão para mim.
Assim que termino meu trabalho de entregar os planos de vidas, sigo direto até a sala do grêmio estudantil, esperar minha cunhada para nossa conversa. A mesma ainda demorou um tempo, provavelmente ficou com Kirari na sala conversando, ultimamente, como estou longe da presidente, Ririka e ela sempre estão juntas, muito mais coladas que antes. Sinto que a platinada mais velha tem medo de algo em relação a mais nova, nunca a deixa sozinha e faz de tudo para mostrar apoio.
- Desculpa a demora, Sayaka. - Escuto a platinada, chamando minha atenção. - Sobre o que quer conversar?
- Kirari. Como ela está? - Falo de uma vez só, fazendo a Momobami rir fraco.
- Porque não pergunta pra ela?
- Você sabe porque, Ririka. - Digo com uma falsa irritação, todas as vezes que pergunto isso, a mais velha responde da mesma forma como uma brincadeira.
- Ela está um pouco abalada hoje, perdida em pensamentos, está estranha e isso está me assustando um pouco. - Diz sincera, se sentando numa das cadeiras que tem na sala. - A cada dia que se aproxima de nosso aniversario, Kirari fica cada vez mais distante, tenho medo de tudo se repetir...
- Do que se repetir? - Pergunto confusa, me aproximando e sento na cadeira a seu lado.
- Quando nossos pais morreram, Kirari ficou instável, não era ela mesma, ela não comia, bebia, nem ao menos saia do quarto. - Ouvia cada palavra atentamente e notei que Ririka estava prestes a chorar a qualquer momento. - Eu era muito criança para entender o que ela estava passando, então não dei apoio a ela, nem tentei cuidar dela naquela situação tão frágil. Um dia, eu a encontrei desacordada no chão do quarto, gritei por Isabella e fomos para o hospital. Kirari quase morreu aquele dia, demorou bastante tempo até ela voltar ao normal e desde então eu sempre tendo cuidar e apoiar ela, não importa com o que seja.
- E-eu não sabia disso, d-deve ter sido muito difícil pra vocês. - Digo realmente chocada, Kirari já havia me contado sobre a morte de seus pais, mas nunca comentou que ficou tão mal desse jeito.
- Quando eu lembro disso, me sinto culpada, ela quase morreu porque eu não cuidei dela. - Fala, deixando algumas lágrimas caírem. - Eu não sei o que eu seria se perdesse minha irmã, Sayaka, e-ela é como uma parte de mim, é como se um pedaço de você fosse embora, entende? Eu tenho tanto medo...
- Você está do lado dela dessa vez, isso não vai se repetir! - Falo para tranquiliza-la. - E-ela está desse jeito por minha causa, não é? - Pergunto com medo da resposta, só de pensar que tudo o que Ririka me contou pode se repetir por minha causa, eu já sinto um aperto no peito.
- Isso não importa, só quero ela bem e sei que é isso que você quer também. - Diz simples, se recompondo.
- E-eu q-quero me reaproximar dela, m-mas não sei como e ainda tem uma parte de mim que está indecisa. - Explico do nada, a pegando de surpresa. - E-eu não sei o que fazer, não sei qual voz da minha cabeça devo ouvir! - Digo passando as mãos em meu rosto agoniada.
- O que seu coração diz? O que ele está pedindo? - Pergunta, me fazendo olha-la um pouco assustada, não queria lidar com esses meus sentimentos.
- M-meu coração pede pela Kirari desde o dia em que brigamos, não só meu coração, mas meu corpo inteiro implora por ela. - Finalmente consigo ser sincera em voz alta, acabo de tirar um peso que venho carregando.
- A Isabella sempre nos disse pra nunca deixar de seguir o que nossos corações querem. - Comenta, com um sorriso sincero no rosto. - Agora você tem que decidir se segue esse conselho, ou não.
- E-eu não sei como fazer isso... - Respondo com sinceridade, eu não consigo ainda ficar perto de Kirari, mesmo querendo muito.
- Você não precisa voltar ao normal com ela da noite pro dia, comece devagar, deixa ser natural, faça o que sentir vontade no momento. - Diz simples e algo finalmente faz sentido em minha cabeça, eu estava reprimindo o que eu queria para me manter longe de Kirari por puro orgulho. - E quando você estiver pronta, conversem, se escutem e tentem se entender novamente.
- Obrigado Ririka, você me deu uma luz no fim do túnel. - Agradeço, sorrindo amigável.
- De nada, bom, já que falamos sobre isso, tenho algo que preciso te pedir. - Fala, mudando de assunto. - Você pode se encontrar com a Terano hoje?
- Não que eu queira, mas sim, posso. - Falo já revirando os olhos, só de ficar perto de Terano já fico mal humorada. - Precisa de alguma informação dela?
- Sim, parece que Miroslava parou de vigiar Kirari com frequência e isso pode indicar problema, quero que consiga respostas com a Terano. - Me explica brevemente e concordo com a cabeça.
- Certo, vou falar com ela, pedir para ela me levar para casa e converso sobre isso. - Digo simples.
- Bem, já que terminamos, vou aproveitar o resto do intervalo com minhas namoradas. - Diz, me dando as costas, pronta para sair da sala. - Boa sorte com a Terano e depois tomando sua decisão difícil. - Fala num tom divertido, me arrancando um sorriso e sai pela porta.
Tenho muito o que pensar sobre minha relação com Kirari depois dessa conversa, mas uma coisa eu tenho certeza que irei fazer, vou deixar meu orgulho de lado, porém não acho que seguir meu coração vá ser uma boa ideia. Até porque se eu fizer isso, com certeza já teria puxado a Momobami mais nova pelo blaze e estaríamos numa cama matando a saudade uma da outra. Isso não é uma coisa que eu vá conseguir fazer agora, mesmo querendo muito ela, com certeza vou acabar lembrando daquela cena do homem chegando na mansão Komabami. Só irei deixar as coisas fluirem naturalmente como Ririka falou, quando eu tiver vontade e me sentir confortável o suficiente para fazer algo, como falar com ela ou toca-la, irei fazer, mas por enquanto vou me manter assim, afastada.
Apenas respirei fundo, convicta de minha decisão e foquei em fazer o que minha cunhada me pediu. Mandei mensagem para Terano, apenas pedindo que venha me buscar ao final das aulas para me levar em casa e logo veio a resposta: "Estarei te esperando na saída".
Depois de horas assistindo aulas, chegou o fim e não perdi tempo em ir até a saída principal da escola encontrar Terano, que estava como sempre acompanhada de Yumi. Sem trocar muitas palavras entrei na limousine branca junto delas, para enfim falar sobre o que Ririka me informou.
- Só estou aqui por uma informação. - Falo direta, assim que o carro começa a se movimentar.
- Pegando informações para sua noiva? Não me diga que se resolveram e eu perdi minha chance. - Fala provocativa, é sempre assim, Terano nunca perde uma oportunidade de me deixar irritada, deixando explícito seu desejo por minha noiva.
- Não interessa, só me fale porque Miroslava está recuando, Sachiko disse que ela não vigia Kirari com tanta frequência como antes.
- Não é nada demais, o clã só chegou num consenso de que não é necessário seguir cada passo de Kirari, agora que o aniversário de 18 anos dela está chegando, vão dar um jeito de casar ela e Rei e tem certeza que isso vai dar certo já que acreditam que você está do lado deles. - Explica dando de ombros. - Mas mesmo assim, fale para as Momobamis ficarem espertas, principalmente Kirari.
- Porque? - Pergunto curiosa e confusa ao mesmo tempo.
- Porque quando perceberem que o plano deles está indo por água abaixo e que Kirari não se casará com Rei e sim com você, eles não vão ter motivos para não atacar. - Fala e a olho um pouco preocupada. - Acredito que Kirari já previu isso, ela sabe que quando o clã perceber que perdeu, vão cair matando em cima dela, pois vão ficar inconformados que perderam a liderança e não terá outra brecha para recupera-la.
- Entendi... irei avisar tudo isso. - Digo simples e a viagem inteira até a mansão Momobami seguiu um completo silêncio.
Agora eu estava mais preocupada ainda, não bastava as coisas que Ririka me revelou sobre o passado, tinha que vir mais essa informação da Terano. Faz sentido o que ela me disse, o clã não vai ficar nem um pouco satisfeito em perder a liderança, mas com certeza a platinada mais nova já está esperando essa reação, ela sabe a maneira deles agirem, Kirari já deve ter um plano bem elaborado para se defender daqueles abutres nojentos e vai cumprir com a promessa de nos proteger.
Fiquei o caminho pensando nisso, até que o carro foi estacionado na grande entrada da mansão Momobami. Me despedi apenas de Yumi e sai rumo a entrada. As meninas já devem ter chegado e concluo isso quando olho por uma das janelas, vendo as irmãs platinadas conversando na sala. Apenas caminho, passando pela grande porta chamando atenção das duas e vou em sua direção. Noto que Kirari ficou extremamente nervosa quando percebeu que eu ia até elas, mas deu seu melhor para tentar disfarçar. Evitei olhar muito para ela e só foquei em contar as coisas que Terano me falou pra Ririka, fingindo que minha noiva nem estava ali, acontece que quando a vi e olhei em seus olhos, senti receio de falar diretamente com ela.
Quando terminei de dizer tudo, informando Ririka e também Kirari, já que ela estava bem próxima e ouviu tudo, subi para o quarto. Iria tomar um banho gelado pra aliviar os nervos e tentar dormir um pouco.
POV Kirari Momobami
Após a saída de Sayaka da sala, soltei o ar que nem sabia que estava preso em meus pulmões, fiquei extremamente nervosa quando ela veio em minha direção e tive um fio de esperança que minha noiva fosse falar comigo, mas simplesmente ignorou minha presença, falando apenas com Ririka. Eu mereço isso, mereço tudo o que estou passando, estou colhendo o que plantei, simples assim. Em breve resolverei tudo isso da maneira certa, limparei o clã, eliminando todas as atividades ilícitas e passarei a liderança para minha irmã, ela vai saber liderar muito melhor do que eu. Ririka vai guiar a nova geração do clã -bami, sem a sujeira que é hoje e Yuzo irá ficar ao seu lado, a ajudando como fazia comigo.
Eu estou deixando tudo pronto para o grande dia, todos que eu amo irão ficar protegidos quando tudo isso acabar, já tenho tudo planejado, não deixei nada passar. Com Ririka liderando o clã com o auxílio de Yuzo, que já tem experiência e a ensinará tudo, vai ficar mais fácil, meu plano depende de minha irmã assumindo tudo que irei lhe dar. Também depende da cooperação de Sayaka, mesmo que ela não me suporte agora, é necessário que se case comigo, só assim consiguirei deixá-la segura. Se o casamento não acontecer, a família dela irá continuar com problemas financeiros e o pior de tudo, ela será o alvo principal dos abutres do clã, até porque é óbvio que eles vão tentar algo a ela já que é minha noiva, vão ficar desesperados para impedir nosso casamento.
Tudo deve ser perfeitamente executado, não pode em hipótese alguma haver erros, não posso falhar, uma única falha minúscula pode ferir quem eu amo. Seja perfeita, Kirari, proteja todos não importa o que lhe custe, é isso que tenho que fazer. Eu não sou a vilã da história, mas também não sou a heroína, isso com certeza eu nunca fui e com certeza não pretendo ser, por isso, quem vai ganhar todos os créditos por ter limpando o clã -bami, vai ser Ririka, ela sim merece o mundo inteiro. Olhando para ela nesse momento, vendo-a sorrindo e falando animada sobre seus planos pro nosso futuro, só me faz acreditar mais nisso.
- O que você acha de reformar a mansão? Tipo, ela tá assim desde que éramos crianças, no seu escritório deve ter até mobílias de mil anos atrás. - Fala me fazendo rir.
- Claro, acho uma ideia incrível, podemos também mandar restaurarem os quadros dos nossos pais. - Digo, me referindo aos retratos enormes nossos com nossos falecidos pais, eu ficaria feliz em ve-los com aparência mais nova.
- Perfeito, eles já estam bem acabadinhos mesmo, precisam de restauração. - Diz ainda animada, olhando os quadros nas paredes. - A gente podia mandar fazer mais quadros, com a nossa nova família também!
- Eu gostei disso! - O que Ririka falou me deu uma ideia, quero novos quadros, principalmente um meu e de Ririka, nós duas com cabelos soltos, diferente de quando éramos crianças. - No nosso aniversario vamos ter novos quadros, irei providenciar isso! - Falo e vejo os olhos de minha irmã brilharem em felicidade. - Agora eu realmente tenho que ir para o escritório, tenho muito o que fazer ainda.
- Kirari, eu já falei que vou cuidar das coisas, vá descansar. - Reclama, tocando meu ombro delicadamente.
- Essas coisas você ainda não pode cuidar, deixe comigo, não são coisas difíceis de resolver. - Falo simples e a contra gosto, ela concorda. - Quando Yuzo chegar, pode mandar ela ir direto ao meu encontro.
Assim que Ririka concorda, deixo um beijo carinhoso em sua testa e dou as costas em seguida, seguindo caminho para meu escritório. Fiquei lá fazendo pesquisas extremamente importantes para meu plano e quando Yuzo chegou, contei tudo que planejo para ela, pedindo sua ajuda e a de Rei. Era a primeira vez que confiava meu plano tão abertamente assim, escondendo quase nenhum detalhe, mas era necessário, a ajuda de Rei e Yuzo nessa parte final é fundamental, nós três vamos trabalhar juntas aqui por muito tempo.
Passamos horas ali, recolhendo o máximo de informações possíveis e quando ficamos livres, já era noite. Ainda bem que tenho Isabella em minha vida, pois a governanta, que é como uma segunda mãe para mim, fez questão de sempre ir lá com comida e bebida, já que sabia que nem tão cedo sairia dali. Mas quando tudo que tínhamos que fazer por hoje acabou, me despedi do casal e fui direto dormir, estava acabada, cada dia que se passa sinto que não tenho forças para aguentar o próprio peso de meu corpo. Tomei um banho não muito demorado e deitei na cama do quarto de hóspedes, dessa vez, vou dormir só eu e minha escuridão. Apenas fecho os olhos e me preparo para mais uma noite de pesadelos, já sabendo que irei acordar chorando e não vai ter Ririka para me consolar.
Simplesmente adormeci por longos minutos, porém entrei em alerta quando escutei a porta do quarto sendo aberta. Ainda de olhos fechados, ouvi passos rodando a cama e imaginei que fosse minha irmã, talvez ela tenha mudado de ideia por se preocupar comigo dormindo sozinha, então deixei para la, tentando voltar a dormir. Até que sinto o lado oposto que estou da cama afundar, indicando que Ririka deitou na cama, mas o estranho foi que ao invés de deitar e puxar o lençol pra ela como sempre faz, ela só se aproximou de mim, passando a fazer um carinho delicado em meu rosto.
- Porque tá aqui? Era pra estar transando com suas namoradas, Ririka. - Comento divertida, ainda de olhos fechados e o carinho em meu rosto parou. - Eu falei pra não se preocupar comigo.
Não obtive resposta, somente sinto braços circulando minha cintura com um certo desespero, como se me abraçar fosse uma necessidade. Senti seu rosto enfiado no pequeno espaço entre meu pescoço e a cama, então abri meu olhos. Para minha surpresa, não dou de cara com os cabelos platinados de minha irmã e sim os lindos cabelos na cor roxo escuro, quase preto de Sayaka. Sem perder tempo, retribou o abraço, ainda sem entender, para mim, eu estava tendo o melhor sonho possível.
- É v-você? - Pergunto, ainda sem solta-la. - P-porque está aqui? Está tudo bem, Sayaka?
- E-eu só preciso dormir com você, só isso. - Responde de maneira abafada, sem querer afastar sua cabeça de meu pescoço. - Não tenho dormido direito sem você na cama.
- Tudo bem, eu tô aqui, pode dormir comigo quando quiser, meu amor. - Falo de maneira doce e lágrimas passam a descer por meus olhos, lagrimas de felicidade por enfim sentir o corpo de Sayaka junto ao meu, ter ela falando diretamente comigo parecia o paraíso.
- Q-quero que volte a dormir no nosso quarto comigo... - Diz baixo, ainda sem me olhar. - Mas só isso, não estamos bem, não voltamos ao normal.
- Tudo bem, irei respeitar isso. - Digo simples e sinto Sayaka me abraçar mais forte. - Também senti falta de abraçar você e dormir assim. - Falo e percebo que a mais nova começa a chorar baixo, limpo minhas lágrimas, me ajeitando melhor na cama. - Vem cá, deixar eu cuidar de você só hoje.
Com todo cuidado do mundo, puxo Sayaka para meu colo, fazendo -a finalmente olhar em meus olhos. Vi seus olhinhos brilhando tão forte por conta das lágrimas, ela estava linda como sempre, sorri de lado, deixando um beijo em sua testa e começo a fazer carinho em seus cabelos, enquanto a mesma descansa sua cabeça em meu peito. Foi assim que a mais nova adormeceu, quase que sentada em meu colo, então tentei deita-la na cama, só que no processo Sayaka desperta um pouco atordoada.
- Não, eu quero que fique perto. - Resmunga, me puxando pela gola da camisa.
- Eu vou ficar, prometo, mas se ajeite na cama, pequena. - Digo sorrindo por seu jeito manhoso e autoritário.
Assim que ela se deitou, me arrumei ao seu lado e como ela ficou de costas para mim, abracei-a por trás e foi assim que finalmente pude dormir a minha primeira noite de sono sem acordar porque tive um pesadelo.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.