(hoje pela manhã)
Steve acordara disposto e decidido. Um sono revigorante, coisa que muito lhe faltara enquanto peregrinava na vastidão do inferno. Desde que saíra do hades, tinha em mente apenas uma coisa, um único objetivo. Ter de volta o tempo que a morte lhe roubou, ao lado da única mulher que o transformou inteiramente. Hoje, ele selaria sua volta com um beijo do amor de sua vida, do amor de sua morte, do amor de seu regresso. A chama de vida que permaneceu acesa durante todo seu calvário, sua dor, sua pena e sua condenação. Logo cedo, Steve busca por Diana no prédio em que ela morava. Diana, por outro lado, descansou o tempo que sua cabeça permitiu, apenas quando estava exausta, plenamente sem energia, então, adormeceu um pouco e dormiu. Mas quando se recuperou um tantinho, quando acumulou alguma energia, acordou e passou o resto da noite em claro. Na sua mente, uma gangorra agitada que se baseava em decidir. Abre-se o pensamento: “O que ele deve estar fazendo agora? Aposto que patrulhando sua amada Gotham. Por que não em busca?” e “Steve Trevor, por onde andou? Por que voltou agora? O que devo fazer?” Trevor sabia que, em algum momento, seus assuntos e suas brincadeiras, que distraiam Diana, acabariam e ele teria que contar algo a ela de seu regresso. E ele pensara muito bem num plano.
Steve chama por Diana que, logo em seguida, o atende. Ela desce ao seu encontro e, então, eles saem caminhando, aproveitando o tempo agradável e a mútua companhia. Steve perguntou pela noite de Diana: -”Meu anjo, como passou a noite? Descansou?” Ela dissimulou a péssima noite de sono dizendo: -”Passei bem, muito obrigado. Descansei um pouco”. Steve a interrompe: -“Eu te acordei? Você queria ter dormido mais?” Ela ri e responde: -”Não, claro que não. Já estava acordada há um tempinho” Na sua mente ela respondia controversamente: “Há um tempão, nem preguei o olho direito”. Isso fazia mal a Diana, lhe incomodava mentir, especialmente, para ele. Mas, então, foi nesse instante que Diana insistiu na pergunta de dois dias atrás: “Steve, eu estou muito, muito feliz com sua volta e com sua presença. Me encanta saber que terei você novamente na minha vida. Estou muito animada com você estando no meu novo mundo, que já foi o seu um dia. Lugar que você me apresentou e que, agora, eu te posso apresentar. Mas eu preciso saber. Como? Por onde esteve?” Steve respira fundo, como num sentimento desolado. Diana se compadece e demonstra através de um olhar meigo e receptivo. Ela continua: -”Tão doloroso foi esse período?” Ele responde, antes de começar a história: -”Não há dor que se compare a de padecer os dias sem você, meu anjo. Foi doloroso, foi cruel, mas acabou. Vou te contar a minha história”.
Steve, então, começa a convenção. “Meu anjo, foram dias impossíveis. Eu estive no inferno por todo esse tempo” Diana o interrompe espantada, assustada com tal informação, ela levanta a voz levemente: -“Inferno? Como assim?” Ele continua: -“Inferno, sim, meu anjo. A acusação? Aquela que cai sobre os inocentes que se atrevem, Eu me atrevi demais. Eu amei uma deusa. E como eu ia saber? Saber que era proíbido. E como eu poderia evitar? Evitar amar você, Diana. Enfim, ali estive, não sei, exatamente, por quanto tempo. vaguei por todos os nove círculos com um único pensamento. Eu precisava encontrar uma forma de sair dali. Não interessava como. Eu precisava voltar pra você”. Diana, apreensiva, o interrompe novamente: -“Escapar do inferno? Isso é algo impossível (...) até mesmo para um deus”. Steve esconde seus sorrisos fáceis numa cara de temor, e continua: -“Meu anjo, os dias eram impossíveis. Não pelo sofrimento ou pela dor do lugar, mas pela sua ausência. Seu olhar apaixonado e seu sorriso satisfeito eram o que não me permitiam ser consumido por aquele lugar horrível. Como fui mandado ao inferno pelos próprios deuses, não me coube um julgamento, por isso eu podia vagar de círculo em círculo, testemunhando toda sua atrocidade. Em casa castigo, cada condenado, é uma vontade inesgotável de acabar com aquilo tudo, a dor, o sofrimento, a pena. Não fosse a lembrança do teu sorriso e do teu olhar, eu não teria durado”.
Diana não consegue esconder a sua aflição pelas décadas de sofrimento do homem que lhe floriu a vida por tanto tempo. Ela tentava se consolar dizendo: -“Steve, eu não sabia. Eu sinto muito”. Steve a consola: -“Não se martirize, meu anjo. Claro que a culpa não foi sua. Eu decidi entrar naquele avião. O problema foi que eu paguei pela fúria dos deuses em relação a humanidade. Eles despejaram sobre mim a sua insatisfação em relação aos humanos. Infelizmente, para mim, eu calhei morrer na hora errada”. Ele diz isso esboçando um leve sorriso. Diana o repreende: -“Como pode rir de uma coisa assim?” Ele responde triunfante: -”Valeu a pena, meu anjo. Pois, hoje, estou diante da minha deusa”.
Diana continua, enquanto Steve segue com um pequeno sorriso no rosto, ao que indica, tentava trazer alguma paz a mulher maravilha: -“Mas como você conseguiu sair de lá? Como me achou? Como chegou até aqui? Ai me desculpe, é que são tantas perguntas”. Mas Steve evade: “Meu anjo, eu já disse que teremos muito tempo para falar sobre tudo, uma vez que eu vim para ficar. Hoje eu te disse onde estive e porquê estive. Amanhã será um novo dia, e eu quero aproveitar todos com você”. Diana sorri e concorda, enquanto seguem para uma barraquinha de sorvete. Diana ama sorvete. Tudo era mais doce nesses últimos tempos. As incertezas e inseguranças que habitavam seu coração permanentemente, agora dava lugar a diversão desmedida e alegria de um tempo bom.
A noite chega e todos os eventos, agora, são contemporâneos. Diana está desaparecida da liga há três noites e dois dias. Isso já começava a preocupar a todos. Clark, Lois e Gordon estavam reunidos em Gotham, esperando a chegada de Stone e Allen. Batman e a liga sombria estavam na Grécia em busca de alguma divindade ou algum alquimista que os pudessem direcionar sobre o paradeiro dos deuses.
Enquanto peregrinavam pelos caminhos santuário, entre os templos, grandes colossos, estátuas de ouro e prata em honra aos deuses maiores, eles seguiam atentos a qualquer sinal que os levassem a alguma explicação. No caminho, de repente, eles encontram inscrições na parede do templo de Athena - a deusa da guerra e da sabedoria. Todos ali conseguiam ler as informações, mas Constantine tomou a direção e começou a revelação em alta voz: -”Todo vivente que atreve-se a visitar o caminho para os nove círculos por vontade própria, deve estar disposto a abrir mão daquilo que mais anela: a sua vida e sua vontade de viver. Sem o sentimento de abandono pelas coisas terrenas, não poderá retornar, tornando a passagem o seu lar eterno. Se, ainda assim, o vivente que entende estar nesse estado evoluído de indiferença ou desapego da vida, deve descansar num estado conhecido como ‘quase morte’…” Constantine continua: -”A inscrição tem algo a mais, talvez outra informação que receio ser importante, mas não consigo ler, pois estão apagadas e deformadas. Isso terá que nos bastar”.
Bruce continua do ponto que John havia parado: -“Estado não, John. Experiência. Experiência de quase morte (...) Zatanna, seu pai já me havia falado sobre isso”. Zatanna o olha e pergunta: -“Experiência de quase morte? O que isso quer dizer, bruce?” O batman continua: -“Existe uma passagem que nos direciona aos portões alternativos do hades, que não podem ser acessados pelo espaço, nem pelo tempo. É chamado de Emancipação da Alma. Um estado momentâneo e atemporal que permite ao ser vivo provar a morte, mas com - poucas - chances voltar a vida. Embora eu sempre tenha respeitado muito seu pai, não imaginei que essas coisas fossem verdade. Imaginava que ele falava ou fantasiava essas coisas para conseguir entender e explicar a cabeça das pessoas, Afinal, ele era, dentre tantas coisas, um ilusionista, alguém que pregava peças”.
Etrigan aplaude o bando e completa: -“Excelente dedução. Impressionante para dois humanos fracos e pouco evoluídos como vocês. Mas a emancipação da alma é uma experiência de morte plena, não de quase, como você disse, Bruce. As pessoas chamam de quase morte pois a alma - pode - retornar. Mas enquanto o corpo estiver vazio, a pessoa está completamente morta e suscetível a ter seu corpo invadido por outra alma. Se isso acontecer, estará para sempre preso ao inferno”. Batman assente as palavras de Etrigan, que completa: -“Pelo que entendi, Circe abriu uma fenda no espaço-tempo, gerando uma sucessão de cataclismas temporais. Porém, chegamos ao ponto mais complicado desse ato. Para que essa fenda seja aberta no inferno é preciso que haja uma projeção espelhada de poder que reproduza dentro e fora do inferno, simultaneamente, a luz do sol. Isso só seria possível com uma grande junção de poderes divinais. O que nos leva a concluir que mais deuses estão envolvidos nesse evento, além dos já identificados Circe, Thanatos e Hypnos. Deuses que fariam o espelho do lado de fora do inferno”.
Batman se preocupa, ele diz: -“Então, se é uma fenda atemporal, ela passa a ser uma porta de entrada controlada pelos que abriram, certo? O que nos faz entender que Circe, agora, tem livre acesso ao mundo dos vivos e dos mortos, quando quiser”. Constantine completa: -“O que a permite fazer isso em qualquer ponto remoto do mundo. E uma deusa em fúria, sempre busca vingança daqueles que a aprisionaram” Bruce arregala os olhos, dizendo: -“Diana”. Ele continua: -“Circe vai atrás de Diana”. Logo após essas palavras, Zatanna completa: -“Devemos chegar a Washington o quanto antes”. E, então, eles decidem voltar. Não há nada mais a se fazer na Grécia. Se o portão é fora da linha espaço-tempo pode ser acessada de qualquer lugar.
Enquanto Batman e a Liga sombria retornam às américas, Superman e Lois fazem grandes avanços juntamente com a Liga e Jim, em Gotham. Diana e Steve seguem seus dias de alegria e diversão. O mundo está do outro lado e eles estão cegos e surdos pra ele e tudo que nele há. Era como se eles habitassem num planeta próprio, onde tudo mais era acessório, sem importância fundamental. De fato, Steve sabia cativar o coração de Diana. Por outro lado, toda a liga alheia aos acontecimentos e, claro, aos perigos que cercavam a princesa de Themyscira, inclusive, a própria Diana desconhecia o que lhe poderia acontecer. A verdade é que ela estava distraída demais para perceber até mesmo algo que fosse claro, imagina algo que se escondia nas sombras.
De volta a Washington, Steve olha nos olhos risonhos de Diana que, por sua vez, fixa-os de volta nele, esperando alguma palavra divertida, ou engraçada, que a fizesse rir ainda mais. Mas Steve está hipnotizado com a beleza de seu anjo. Ele não consegue evitar, o magnetismo que Diana emana é além das forças humanas. De repente, ele parte em sua direção e toca os lábios de Diana, roubando-lhe um beijo, um beijo guardado no fundo da memória, ansiado com todo coração, toda vontade e toda paixão, um beijo do mais profundo desejo da alma. Ela não reage instantaneamente, fora algo inesperado. Logo após dois ou três segundos, ela recua, extremamente sem graça - tanto por ter sido beijada sem aviso, quanto por evitar algo que tantas e incontáveis vezes acontecera anteriormente. O beijo não percorreu seu corpo, não foi arrebatador, como antes. A única reação honesta que seu corpo deu, foi a de evitar o beijo. Diana, ao perceber a tensão no ar, tenta se desculpar, dizendo: -“Steve, me desculpe. Eu não estava esperando por isso”. Steve não entende a rejeição e, em sua mente, ele se pergunta: “O que será que está acontecendo? Por que me evita? Será que o mundo já transformou Diana tão profundamente? Ou será algo pior, algo maior? Será que Diana já não me ama mais?”
Diana o segura pelas mãos e insiste nas desculpas,trazendo Steve de volta dos devaneios. Ele está abatido, mas evita o sentimento e tenta tranquilizá-la. Afinal, ele não pode jogar tudo a perder por um ímpeto ou outro. É claro que ele está surpreso, mas essa era uma hipótese possível desde sempre, ela poderia demorar a assimilar toda essa novidade. Ele diz: -“Não, Diana, por favor, não se desculpe. Afinal, a imprudência foi minha. Eu devia tê-la interpelado antes de tomar tal atitude. Me desculpe”. Ele continua: -“É a ansiedade, a saudade que sinto de tudo que éramos um para o outro. E aqui, aqui dentro do meu peito, nada mudou. Você é a única luz a iluminar meus passos. A razão para que libertar das amarras da morte”. Diana se sente mal, não consegue retribuir tanto sentimento. Seu coração já está habitado por outrem. Mas como explicar isso ao homem que atravessou o inferno para estar com sua amada novamente. Os instantes de paz, alegria e serenidade abandonam os pensamentos de Diana. Agora, ela se encontra presa numa dicotomia distópica, o amor de uma vida e o amor do presente.
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