CAPÍTULO UM
I was lightning before the thunder
Louis
Houveram épocas da minha vida, entre o final da infância e o início da adolescência em que tudo que eu queria era desaparecer, melhor dizendo, que eu queria que algumas coisas em mim desaparecessem.
Do pouco que eu sei, a maioria das pessoas que tem um filho, acaba de uma forma ou de outra desejando que essa criança tenha algo de especial, que a destaque das outras da mesma idade para poder falar sobre isso com orgulho. Minha mãe e meus avós, por exemplo, achavam o máximo mostrar meus desenhos e pinturas para qualquer um que chegasse em nossa casa. A frase favorita de minha mãe depois que alguém elogiava meus trabalhos era “Adivinhe que idade tem o Louis!”. A maioria das pessoas que não me conhecia geralmente chutava uns 15 anos ou mais, o que aquecia o sorriso no rosto arredondado de mamãe. “Pois ele acabou de completar oito anos, em dezembro!” − ela falaria elevando a voz com orgulho.
Assim eu fui crescendo, tendo o conhecimento que tinha um talento inegável. Desde muito cedo, ainda nos primeiros anos da educação infantil, eu já era um destaque entre meus coleguinhas, que nem sempre achavam a atenção que eu ganhava uma coisa legal. Tudo isso porque conseguia me expressar maravilhosamente bem, para alguém tão novo e mesmo que não verbalmente, mas sim através de meus desenhos.
Algumas vezes, quando visito minha antiga casa, posso ver meus primeiros “trabalhos” espalhados por todo o lugar. Nos contornos em traços infantis de um passeio de domingo, era possível notar a riqueza de detalhes em cada página do caderno de desenhos que eu sempre carregava junto comigo, bem como o estojo cheio de materiais diversos que ganhei de presente e nunca mais abandonei. Afinal, nunca sabia quando teria um bom momento que precisaria ficar registrado. Meus avós até chegaram a me dar uma Polaroid, com o pedido que eu tentasse algo novo, mas por mais que eu ache lindo alguns trabalhos de fotografia, não é algo que me satisfaça − nem de perto − quanto o prazer de finalizar um porta-retrato depois de horas imerso no preparo das cores certas para cada parte do trabalho.
Sem querer eu estava me tornando uma criança esnobe, achando que meu “dom” era tudo que eu precisava, no entanto, as coisas na escola começaram a ficar complicadas conforme eu crescia. Na terceira série eu já não tinha mais nenhum amigo e ninguém ali se interessava por qualquer coisa que eu fizesse, até os professores pararam de me dar tanta atenção. E isso me ensinou o significado de frustração.
Eu não lembro muito bem de tudo o que aconteceu na época, mas eu tive algumas crises de raiva e isso acionou o conselho da escola que me encaminhou para uma psicóloga especializada em crianças. Foi nessas idas ao consultório que eu conheci Liam Payne, mesmo tendo a minha idade, ele era maior que eu e isso me assustou no início, quando nossas mães nos deixavam na ala dos brinquedos enquanto aguardávamos ser atendidos. Mas Liam é Liam desde sempre e não levou mais do que três encontros e um sorriso dele para nos tornarmos amigos e eu descobri que ele estava lá por causa da sua dificuldade de fala. Nossas mães também se tornaram amigas e no início do ano seguinte eu fui transferido para a mesma escola que ele, assim ele me abrigou sob suas asas e desde então sempre está ao meu lado, me tirando − muitas vezes à força − das armadilhas da minha própria mente.
Nossa dupla passou a ser um trio quando Zayn começou a frequentar a mesma escola que Liam e eu, tínhamos uns onze para doze anos na época, enquanto Zayn era apenas um ano mais novo. Apesar de não serem primos de sangue, eles dois se mostraram muito unidos e pareciam conectados de uma forma estranha, mas ao mesmo tempo muito interessante de se acompanhar.
Zayn Malik é o presente dos deuses na minha vida, como a mãe dele gosta de dizer para todo mundo que conhece. A questão é que quando a ouvi dizer isso pela primeira vez eu era apenas um pré-adolescente e de acordo com a idade, acabei rindo do exagero da mulher.
Naquele mesmo dia Liam me contou a história toda e me explicou o motivo de Zayn, apesar de ser uma pessoa muito legal e fácil de se conviver, também ser − digamos − peculiar. Ele estudou os primeiros anos da vida em casa, com tutores particulares, o que eu não sabia até então é que o motivo disso era que Zayn nasceu cego. Seus pais fizeram de tudo para que ele tivesse uma infância o mais feliz possível, garantindo que ele tivesse sempre o melhor acompanhamento e até mesmo adaptaram toda a casa para ele.
Eu fiquei em choque, pois o garoto que eu conheci enxergava muito bem, e eu diria que até bem demais. A primeira coisa que Zayn falou quando nos encontramos foi: “Oh, eu vejo toda essa angústia que você se preocupa tanto em ocultar, mas não precisa disso comigo, não é como se pudesse esconder de mim de qualquer jeito.”, uma ótima primeira impressão se alguém me perguntar. E tem sido sempre assim, muitas vezes é difícil aceitar que Zayn é o mais novo de nós, sendo que é sempre ele o responsável pelos melhores conselhos, além de conhecer tanta gente em tantos lugares diferentes, facilitando com que ele sempre consiga coisas que normalmente não seriam facilmente encontradas.
Não é que eu acredite nessas coisas, mas do jeito que alguns fatos foram acontecendo e juntando com o que Liam me contou, qualquer um ao menos questionaria o que aconteceu com Zayn e as implicações disso. A questão é que em uma madrugada de tempestade, ele − ainda criança, na véspera de completar nove anos − acordou e achou seu caminho para os fundos da casa em que sempre morou com os pais. Liam e a mãe de Zayn juram que seria impossível um raio cair bem no meio do pátio, até porque todas as casas da volta, incluindo a dele, tinham para-raios no alto para evitar esse tipo de acidente.
Quando os pais chegaram até ele, Zayn estava deitado e desacordado. Enquanto o pai correu para dentro da casa ligar para a emergência, a mãe ficou pelo menos cinco minutos fazendo massagem cardíaca e empurrando ar para os pulmões do pequeno.
De alguma forma os esforços de Trisha deram resultado, e Louis pesquisou muito sobre o assunto para saber que as chances de Zayn sobreviver eram mínimas, mas as dele acordar sem sequelas eram inexistentes depois de tanto tempo em um estado de quase morte. E é aqui que entra a parte na qual Tomlinson precisou ouvir várias vezes para acreditar.
Naquela semana do acidente com o raio, Zayn esteve em coma induzido no hospital, o que deu tempo para a irmã adotiva do pai do menino voltar do exterior para prestar apoio à família. Ela trouxe junto um pequeno Liam que só conhecia o primo por fotos, mas que ficou muito feliz em ficar no quarto lhe fazendo companhia durante as vezes em que os adultos se reuniam com a equipe médica para discutir o estado de Zayn. Foi na tarde do segundo dia em que Liam ficava ao lado do primo, lhe contando como eram as coisas na sua escolinha, que Zayn abriu os olhos e o encarou por alguns instantes, antes de gritar muito alto e se esconder no lençol verde claro da cama hospitalar. A única reação de Liam foi sair correndo para chamar sua mãe. Naquele dia Zayn abriu os olhos para um mundo cheio de cores, contornos e sombras. Enquanto Liam nunca mais gaguejou uma só vez.
~❤️~
A coisa mais incrível sobre Zayn é que, de um jeito ou de outro, vai acabar se encantando por ele. Seja pelo jeito fácil com que ele consegue conversar sobre qualquer assunto ou a atenção que ele dedica aos pequenos detalhes, que normalmente as pessoas costumam deixar passar. Ele sabe como cativar, mesmo se ignorar o quão bonito ele é. Com olhos quase dourados e um sorriso com ar de mistério, o meu eu de quinze anos se viu confuso e um pouco apaixonado por tudo que Zayn representava. Um amigo fiel, um confidente e conselheiro.
E é óbvio que depois de vários dias sem saber como expressar meus sentimentos, o próprio Zayn cansou de meus rodeios e isso nos levou ao diálogo mais constrangedor que eu já participei.
━ Eu consigo ver Tommo, em outras vidas, em outros mundos paralelos a esse nosso, nós dois seríamos perfeitos juntos. Eu vejo e posso sentir, esse calor aquecendo meu peito é a certeza disso. Mas aqui, nessa realidade, você e eu somos melhores amigos.
━ Como você pode ter tanta certeza se sente o mesmo? Como pode dizer que não me… Que não pode gostar de mim de outra forma?
━ Você está distorcendo minhas palavras, sim? O que eu estou dizendo é que dessa vez nós fomos destinados a outras pessoas. E você vai saber bem a diferença quando se encontrarem.
━ Esse foi provavelmente o fora mais estranho que alguém poderia ter me dado.
━ Lou, amor é uma coisa poderosa. Você precisa compreender isso. Nossas almas estão conectadas e é isso que você está sentindo, mas ao contrário da crença popular, nós podemos sim ter mais de uma alma gêmea. Eu posso sentir que, não tão distante, sua outra metade neste mundo vai se revelar e você vai ter que aceitar.
━ Mesmo que isso tudo seja verdade, Zee… Como eu vou saber?
━ Simples, a maioria das pessoas está ocupada demais para se dar conta de alguns detalhes, mas eu vou te poupar a dor de cabeça. Quando esses encontros ou reencontros acontecem − dependendo de como a gente avalia a situação − precisa haver um equilíbrio.
No final ele me abraçou por muito tempo e terminou explicando, daquele jeito que só Zayn tem de parecer estar olhando para algo que só ele consegue ver, que a cada reencontro o vínculo entre essas almas costuma ficar mais forte. Mas tudo isso precisa de um equilíbrio, por isso quando elas se encontram em uma nova vida, algo se perde e ao mesmo tempo se conserta. E a experiência me fez aceitar que, mesmo não fazendo sentido algum naquela hora, em um determinado momento tudo que ele fala acaba se tornando realidade.
~❤️~
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