Capítulo dez - Isn't she lovely?
Los Angeles, CA, EUA – Sexta-feira
23 de Junho de 2017
POV Justin Bieber
Quando estou de volta à onde todos estão, a aglomeração de seguranças em volta de nós é grande. Me enfio entre o bolo de pessoas e acabo ficando próximo a Yael, que tenta dar atenção a Levi e Jagger ao mesmo tempo. Permaneço alguns segundos em silêncio, ouvindo apenas a birra de Jagger, que pede o colo da mãe, que infelizmente não consegue pegá-lo em decorrência do bebê que dorme em seu colo.
— Você quer ajuda, Yael? — ela me encara de relance.
— Não precisa, Justin. Você pode comer em paz. O Scooter foi há uns vinte minutos resolver alguma coisa com o John, logo eles devem estar de volta.
Quando a birra de Jagger se intensifica, eu pergunto novamente para Yael se ela gostaria de ajuda. Ela concorda. As outras pessoas que estão lá não prestam atenção na situação. Todas estão usando seus fones de ouvido ou conversando entre si, ocupados demais para ajudar qualquer pessoa. Deixo o pacote de rosquinhas sobre o banco, junto com o copo de café e me aproximo de Yael, sentando ao seu lado. Ela se levanta e arruma Levi nos seus braços para entregá-lo para mim. Eu arregalo os olhos, achando que eu iria pegar o Jagger, não seu novo bebê quase recém-nascido.
— Você vai dar o neném de colo para mim? Eu pensei que fosse pegar o moleque.
— Não. Jagger quer o meu colo, ele não pararia no seu nem por um segundo.
Eu suspiro, antes de arrumar o bebê no colo de forma desajeitada. Prevejo que Levi vai abrir a boca para começar a gritar, mas ele apenas boceja e mexe o corpo de forma a se arrumar em meu colo. Yael abre um grande sorriso e a vejo tirar uma foto. Meu foco vai para o bebê em meu colo novamente. Eu o fito por longos instantes, focando em cada pequeno detalhe. Os lábios rosados e entreabertos devido ao sono em que ele estava. O nariz pequeno, os olhinhos fechados e as mãos abrindo e fechando.
— Ele é lindo, Yael.
Ela sorri para mim.
— Obrigada, Justin.
— Como vão as coisas na Fuck Cancer? — questiono.
— Uma correria. O trabalho não me permite afastamento nem em casos tipo o casamento de John. Meu telefone está apitando em meu bolso desde o momento em que sai de casa. Felizmente são só mensagens e não...
Seu telefone começa a apitar freneticamente.
— Ligações.
De forma desajeitada, ela tenta pegar o telefone no bolso. Eu encaro ela, tentando entender se aquilo daria certo, mas ela não consegue. Baixinho, ela pede para que Jagger levante de seu colo e em seguida, Yael se põe em pé. Ela pega o telefone do bolso e mostra para mim a tela, onde o identificador de chamada mostra “Coordenação Fuck Cancer”.
— Jagger, sente-se ao lado do tio Justin que a mamãe já volta.
Abro a boca em protesto, mas nesse momento Yael já se afastou. Jagger está sentado do meu lado e me encara de canto, enquanto eu balanço o corpo de Levi para que ele não acorde. O neném continua a dormir tranquilamente.
— Oi, Jagger. — Eu puxo conversa. O moleque me encara com os olhos curiosos. — Você se lembra de mim, não é mesmo? — ele concorda com a cabeça. — Você não é muito de falar, não é?
Mais uma vez ele concorda com a cabeça e encara a figura sentada do outro lado de onde estamos. Cheryl está sentada, de cabeça baixa, óculos escuros e fones de ouvido, enquanto bebe algo que eu deduzo ser café, mas é fruto da rede Dunkin’.
— O que você está olhando? Ela é adorável, não é?
— Sim, ela é.
Então o moleque fala mais do que “colo, mamãe”.
— Ela já foi minha garota. Você sabe o que isso significa?
Ele nega com a cabeça, voltamos para a estaca zero.
— Ela era para mim o que a sua mamãe é para o seu papai.
— E agora?
— Agora ela é a garota de outro cara. Ele é sortudo, não é?
— É.
Em silêncio, Jagger continua a encarar Cheryl, que parece notar. Ela ergue a cabeça e fita o moleque ao meu lado. Um sorriso se espalha por seus lábios e meu coração se derrete inteiro. Em seguida, seu olhar se direciona ao pacote enrolado no meu colo chamado Levi e então, seu olhar sobe para meu rosto. Seu sorriso some no momento em que ela me encara e posso jurar que ficamos por vários minutos desse jeito.
— O que foi, Justin?
A voz de Yael corta a situação. Cheryl abaixa a cabeça e foca em seu celular. Eu olho para Yael, tentando não gritar com ela por acabar com aquilo. Murmuro que não era nada, estava apenas encarando a janela e quando ela se vira para olhar o que eu tanto encarava, Cheryl Scott não estava mais ali.
Levi se mexe no meu colo, abrindo os olhos. Yael está ocupada demais tentando fazer com que Jagger não faça mais birra, então olho mais uma vez para o bebê em meu colo, que me encara em silêncio.
Não caia nisso, Bieber, é uma armadilha. Os bebês sempre choram depois de muito tempo em silêncio.
— E aí, moleque.
Diferente do previsto, o garoto abre um sorriso banguela para mim. Yael parece gostar do que vê e fica encarando minha interação com seu filho. Não demora muito para que Scooter se aproxime e faça alguma piada falando sobre eu ser pai. Reviro os olhos diante da menção, pensando que se não for com Cheryl então não, nós nunca teremos um mini Bieber que não seja o Jaxon.
Pensando nele, percebo a falta que meus irmãos fazem. Eu havia encontrado com eles há tanto tempo, que minha memória falhava na hora de pensar nos dois. Coloco um lembrete mental de ligar para o meu pai assim que eu voltasse para Los Angeles. Não tenho nem ideia de onde eles estão morando, o que prova o quão negligente eu sou.
Não que alguém precise saber disso, claro.
Voltando a dar atenção para o moleque no meu colo, eu brinco com ele mais um pouco até ele fazer uma cara enjoada e eu entrega-lo para Yael. Alguns minutos se passam, até que pela televisão, o nosso voo é anunciado. De forma rápida, todos nós nos juntamos em um grupo, envolvidos pela grande escolta de seguranças e caminhamos em direção a escada rolante que nos guiaria até o segundo andar, onde pegaríamos o caminho para adentrar no avião.
O jatinho alugado por John e Sophia fazia parte da companhia aérea Emirates Airlines. A única coisa que Scooter havia comentado comigo é que era um avião, que comportava até 129 pessoas, mas que agora era um jatinho que levava até 19 passageiros. No momento em que entramos, o espanto foi de todos. O luxo inserido no jatinho superava as expectativas. Uma mesa de reuniões estava posta com comidas e bebidas. Uma aeromoça sorria nervosamente para nós, enquanto mantinha os fios do cabelo loiro presos e as mãos para trás. Um sorriso formou em meus lábios quando ela olhou para mim.
Assim que todos estão devidamente acomodados dentro do avião, as instruções de bordo foram passadas. Procurei involuntariamente Cheryl com o olhar, mas não a encontrei. Os minutos de voo seriam longos. Após toda a burocracia, procuro um dos quartos que John havia dito que teria. As portas estavam todas encostadas, então vou direto na primeira porta. Ao abri-la, a sensação de um soco no estomago invade meu corpo.
Cheryl está sentada na cama, com os olhos fechados e os lábios entreabertos. As lágrimas escorrem por seu rosto de forma livre, enquanto ela tenta conter de todas as formas os soluços que fogem de seus lábios. Eu permaneço estático na porta, até que ela olha para o lado e se assusta com a minha presença.
— D-desculpa, Cheryl, eu...
Sem terminar de falar, eu saio do ambiente fechando a porta em seguida, com a respiração irregular. Cheryl estava lá dentro chorando, porra. Pare de ser covarde, Justin Bieber. Dessa forma, reunindo todas as forças e toda a coragem que se alastra em mim, eu deslizo a porta de correr mais uma vez, observando Cheryl tentando recuperar o folego, antes de uma onda de soluços escaparem de seus lábios.
— Está tudo bem, Cheryl?
Ela me encara. Sua expressão irônica me assusta.
— Sim, é claro que está. Por que não estaria?
— Foi apenas uma pergunta. — eu mantenho a calma. — A qual você pode ou não responder.
Colocando a mão na maçaneta, eu começo a deslizá-la para fechá-la, entretanto, a voz rouca de Cher chama a minha atenção, obrigando-me a parar o movimento naquele mesmo momento.
— Foi o Lewis. Está em todos os sites, uma hora você iria ficar sabendo.
Ironicamente, os lembretes do meu celular não me notificaram nada sobre essa situação. Até retiro o celular do bolso para checar a tela de bloqueio, mas sem nada ali, eu coloco o celular no bolso novamente.
— Você quer conversar sobre isso?
Ela nega, limpando as lágrimas com as costas da mão.
— Nós não tínhamos nada sério, não há problema algum. É patético estar chorando. Por que todos os meus affairs e romances me traíram?
A última frase parece ser dita inconscientemente.
— Eu não traí você, Cheryl.
Ofendido, eu a respondo.
— Você me traiu da pior forma, Justin. Você traiu minha confiança.
Eu a encaro, abrindo a boca algumas vezes antes de fechá-la definitivamente. Cheryl parece se arrepender do que fala. Antes que ela possa abrir a boca para pedir desculpa, eu fecho a porta e procuro um quarto vago. Ao bater a porta, eu me jogo sobre a poltrona reclinável, fechando os olhos com força e pressionando as mãos em cima. Não demora muito para que batidas baixas ecoem na porta.
— Justin? — a voz é de Cheryl baixa e ainda fanha.
— O que você quer?
— Eu posso entrar?
— Faz o que você quiser.
O tom rude usado por mim faz com que Cheryl demore um pouco antes de abrir a porta de correr. Ela observa o quartinho pequeno no qual eu estava e em seguida, observa meu rosto, provavelmente vermelho.
— Eu não quis dizer aquilo, Justin.
— Você estava certa, Cheryl. Eu te traí da pior forma. Espero que tudo se ajeite entre você e o babaca Hamilton.
Notando que eu não falaria mais nada, Cheryl bufa irritada.
— Você é inacreditável.
Fechando a porta, diga-se batendo, Cheryl some do meu campo de visão enquanto eu me jogo mais uma vez de cabeça na poltrona. Não sei quanto tempo passo assim, mas logo mais batidas ecoam por ali, chamando a minha atenção. Eu abro os olhos, encontrando a aeromoça bonitinha parada ali.
— O senhor Smith pediu para avisá-lo que estamos chegando no resort. Ele também pediu para avisá-lo que a mesa de café continua posta sobre a mesa de reuniões, entretanto aqui está o seu pacote de comida da loja Dunkin’ Donuts. Caso o senhor precise de algo, estarei na área comum.
Eu concordo, pegando o pacote de rosquinhas de sua mão. Infelizmente, o café eu já havia engolido, então pego por ali uma latinha de refrigerante. Decido ignorar o fato de que mesmo no resort, eu vá ter que praticar corrida ou algo do tipo para queimar todas as calorias que estou ingerindo. A primeira rosquinha que pego é uma com cobertura rosa e confeitos coloridos. Quem me via comendo besteiras assim, ainda mais moldadas de formas infantis, nem acreditava que eu era o cretino que a mídia inventou.
Após engolir as rosquinhas da sacola de papel, eu encaro o céu fora do avião. A visão aérea do resort já era possível de ser vista, causando aquela incrível sensação de alívio quando finalmente algo está no fim. Faltavam poucos minutos para eu me instalar em um quarto ao lado de Cheryl e isso me apavorava.
The Pelican Hill é o resort número um em luxo. Celebridades se deslocavam da costa leste apenas para passar dois dias no resort do momento. E não era atoa, claro. Além de todo o conforto, luxo, estilo e discrição, o resort ainda contava com seu próprio porto para que os voos particulares parassem ali. Então, no momento em que o avião chegou ao solo, sem turbulências e nem nada do tipo, esperei que eu não ouvisse mais as vozes dentro do avião para enfim sair do quarto, com o celular em mãos e o fone no ouvido, estourando música alta.
As malas estavam sendo descarregadas ali e haviam alguns carrinhos de golfe que seriam usados para o transporte até as Villas. Fugindo de perguntas, eu pego a mala e coloco junto com as outras no carrinho com capacidade para sete pessoas, onde o banco do fundo estava cheio de malas. Indo junto com o motorista, agradeço o mesmo quando ele para em frente a primeira Villa, onde John se hospedaria sozinho, graças ao fato de que Sophia ficaria no salão da noiva e toda essa baboseira. Ao pegar a mala, puxo ela pelo carrinho até dentro da Villa. Como Hailey chegaria depois, procuro a suíte principal deixando a mala no canto do quarto e abrindo para colocar o celular para carregar.
Antes disso, abro o Instagram para anunciar através do Story que eu já havia chego no resort. Por costume, mostro um pouco do quarto e digo que assim que colocar o telefone para carregar, eu mostro os quartos em volta e um pouco do lugar. Por ser grande demais, nem se eu quisesse conseguiria mostrar o resort inteiro.
Ao voltar para a sala, observo o lugar incrível onde estou hospedado. A decoração em tons clássicos deixa o ambiente elegante. Havia uma mesa de jantar posta com algumas frutas, garrafas d’água e um balde com espumante e gelo. Penso em abrir a garrafa, mas são quase meio-dia então desisto da ideia. Pela primeira vez, parece cedo demais para começar a beber. Deixo então que meus passos me guiem em direção a sacada do lugar.
O barulho e cheiro de mar me fez fechar os olhos por alguns instantes, aproveitando a sensação de liberdade que aquele lugar trazia. Eu estava ali há dez minutos e a sensação de paz invadia o meu corpo. Isso tudo até a voz da sacada ao lado chamar a minha atenção. Notando que ela falava alto, presumi que Cheryl gravava algo para o Instagram, então no momento em que ela aparece por ali, filmando tudo, eu abaixo na sacada, literalmente me escondendo.
Tudo o que eu não precisava no momento, eram os fãs enchendo o saco sobre isso.
Ao nota-la sair dali, eu levanto do chão, entrando novamente na sala. O caminho longo até a praia me fez procurar um dos carrinhos disponíveis para os convidados utilizarem. Ter morando em condomínio me fez aprender a dirigir aquilo, então levo quinze minutos para atravessar o resort, passar pelo campo de golfe e estacionar um pouco longe de onde a areia da praia começava.
Retiro o tênis e a meia antes de pisar na areia, dobrando também a barra da calça. A sensação entre o contato da areia com meus pés me fez gemer aliviado, sentindo uma coisa indescritível. Apesar de morar na Califórnia, tinha se tornado raro que eu fosse para a praia por lazer, principalmente graças ao assédio dos fãs. Me aproximando mais um pouco de onde a maré acabava, eu sento na areia afundando as mãos ali.
Pela primeira vez em paz, eu me permito pensar mais um pouco sobre os acontecimentos daquela semana.
Cheryl trocou sim palavras comigo e não foram de ódio.
O que havia acontecido, afinal? Depois da festa de quarta-feira, minha cabeça ainda martelava em busca a entender se Cheryl estava lá mesmo conversando comigo ou não. Ela fodeu com a minha cabeça, porra. Entretanto, hoje, eu sei que foi real. Ela estava lá mesmo, chorando por causa daquele babaca. A sensação ruim que invade o meu estomago me faz pensar que há algum tempo, alguém a encontrou daquele jeito chorando por mim.
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