Capítulo onze - Nunca me senti assim antes.
Newport Coast, CA, EUA – Sexta-feira
23 de Junho de 2017
POV Justin Bieber
Eu não sei quanto tempo eu fiquei deitado na areia, sentindo-a pinicar todo o meu corpo, mesmo que parte dele estivesse coberto por tecido. Em algum momento, eu me levantei largando o par do tênis onde há pouco eu estava deitado e caminho até onde a maré acabava, sentindo a água gelada do mar molhar os meus pés. Caminho mais um pouquinho para o fundo, tendo a sensação de que várias agulhas estavam perfurando o meu corpo, mas não hesitei em continuar a andar em direção ao fundo. Antes que a barra da calça fosse molhada, eu corri para fora do mar juntando o tênis na mão, percebendo como a maré estava aumentando.
Virando em direção a saída, onde o carrinho estava estacionado, vejo Cheryl entrando pelo mesmo lugar que há um tempo eu havia entrado. Entretanto, sem olhar em seu rosto, passo reto por ela sentindo seu perfume chicotear meu olfato. Apesar disso, não ouso virar o corpo para observar o quão linda ela estava. Se Cheryl iria ignorar minha presença, eu iria fazer o mesmo com ela.
Jogo o tênis no banco do carrinho de golfe e o ligo em seguida, arrancando o carrinho dali. A velocidade média com a qual ele se locomove me faz revirar os olhos no meio do percurso, mas aproveito esses momentos para fitar tudo em volta. Minha noção de tempo parece ter sido bagunçada, como se eu tivesse pego um voo longo e mudado o fuso-horário em horas, porque quando chego em frente à onde estou hospedado, tenho a sensação de que estou andando pelo resort há horas.
Ao entrar na sala principal, malas cor-de-rosa estão colocadas no canto do quarto, enquanto de dentro da segunda suíte, uma Hailey estressada sai de dentro, gritando no telefone. Ao me ver, ela empalidece e murmura um pedido de desculpas rápido.
— Eu te liguei mais vezes do que pude contar, Justin! Não tem celular, por acaso? Você me deixou preocupada, eu pensei que você tivesse se afogado no mar. John disse que havia visto você ir à praia há uma hora e já que você não atendia o telefone...
Eu caminho em direção ao quarto, desconectando o celular do carregador. Haviam doze chamadas perdidas de Hailey, além de mais algumas mensagens e as diversas notificações das redes sociais que normalmente eu deixava deslogada. Ao voltar para a sala de estar onde Hailey estava, sua voz ainda preenchia o ambiente.
— E então John disse que havia visto Cheryl ir para lá também e eu pensei que seria bom poupar você um pouco, porque sei que vocês vieram no mesmo voo e que vocês iriam se esbarrar na praia, mas já que você não havia levado o celular, eu...
Interrompo Hails.
— Deuses, você consegue falar mais do que o Scooter em reunião. Eu encontrei Cheryl na praia. E no voo. E não significou nada para mim, Hailey. Aliás, acredito que eu tenha encontrado ela na festa de quarta-feira, mas poderia ter sido efeito colateral de algum dos remédios que eu havia tomado aquele dia, misturado a bebida.
Sem olhar diretamente para ela, eu continuo a deslizar o dedo pela tela do telefone, limpando as notificações irrelevantes e deixando as mais importantes em destaque, como alguns e-mails que eu precisaria responder até as sete horas da noite. O que significa que o fim de semana de descanso, não seria tão livre assim.
— Cheryl e eu conversamos na festa e no avião. E não, nada havia acontecido então se você puder...
Por impulso, me interrompo. É claro, havia demorado tempo demais para sair na mídia. O TMZ e o mais novo site de fofocas dos Estados Unidos haviam publicado matérias assim que o levantamos voo, sobre o encontro que Justin Bieber e Cheryl Scott haviam tido no aeroporto. Para piorar a situação, haviam duas fotos em evidencia. Uma minha com os dois filhos de Scooter no colo, tirada por trás de Cheryl. E a outra, era uma foto de Cheryl, sorrindo para o filho de Yael, mas parecendo que o sorriso era para mim.
"Em retiro de reconciliação?
Por Benjamin Hosk – editoria TMZ.
Parece que o caminho entre a modelo Cheryl Scott (22) e o modelo Justin Bieber (23), tem finalmente voltado a se cruzar. Na véspera do casamento mais esperado da temporada, entre o empresário John Smith (39) e Sophia Conrard (36), o ex casal foi visto no aeroporto enquanto esperavam o voo para o local onde o casamento se realizará na noite de sábado, dia vinte e quatro de junho. Com os filhos do empresário no colo, Biebs brincava com as crianças à medida em que a ex – ou atual – affair os observasse de longe. Há alguma chance de reconciliação entre o casal?"
— Oh, merda.
Hailey também fitava a tela do meu celular sem expressão alguma. Não que aquilo fosse um problema. Bom, agora isso havia se tornado um problema. Há meses atrás, eu teria dado a vida para que meu nome fosse associado ao de Cheryl, mesmo que por pura especulação de um possível retorno entre nós. Porém, havia um ponto que poderia foder com tudo, de uma vez por todas. O casamento "da temporada" seria televisionado pelo canal de entretenimento E!, o que significava que as câmeras estariam todas apontadas para o altar, onde logicamente o casamento acontecia, mas onde também Cheryl e eu estaríamos.
— É bom que você não se aproxime dela, Justin. Não precisamos de mais um rumor rodando as redes sociais. — ela aponta a tela do seu celular para mim. — Já está no Twitter! Vocês estão entre os assuntos mais falados no mundo. Não é na região, não é nos Estados Unidos, é no mundo.
— O que os comentários dizem?
— O de sempre. Há apoiadores e críticos. Não focaremos nisso.
Hailey encerra o assunto aí. É difícil pensar sobre como a porra da minha vida amorosa era tratada como assunto a ser discutido em reuniões. A melhor coisa seria ignorar o telefone agora e com ele, qualquer comentário que me influenciasse a cometer algum erro e então, tudo daria certo amanhã à noite. Eu precisaria sobreviver a festa do casamento e ao voltar para Los Angeles, minhas noites voltariam ao normal.
John nos liga, informando que o almoço estava sendo servido. Hailey suspira em alívio, jogando os braços para cima, ansiosa para comer. Nós saímos da nossa residência, procurando por um carrinho que nos leve para o restaurante indicado por John. Felizmente, com tudo mapeado por ali, Hailey e eu não nos perdemos no caminho, chegando juntamente com Scooter, Yael e as crianças.
— Hailey, que bom revê-la! — a voz de Scooter enche nossos ouvidos. Reviro os olhos, lembrando dos comentários dele na festa de quarta-feira, sobre ter Hailey como "minha garota". Yael a abraça de forma desajeitada, graças a Jagger que está de mãos dadas com ela. Meu futuro afilhado está deitado dentro do bebê conforto, usando um body branco escrito "Future CEO – Fuck Cancer" e imagino que alguém tenha dado a Yael de presente. Como o bebê conforto estava no banco do carrinho de golfe ainda, me aproximo do moleque, passando a ponta do dedo no nariz dele, que fez uma careta engraçada.
— E aí, moleque.
Com o bebê me ignorando, eu puxo Hailey pela mão, enquanto Scooter pega o bebê e nos segue para dentro do restaurante. O bistrô elegante se chamava Piccolo e tinha uma decoração clássica. Quando nós cinco (e o bebê no colo) entramos no restaurante, logo de cara pudemos ver John e sua noiva sentados, já almoçando na companhia de alguns convidados. Nós nos aproximamos deles, cumprimentando todos de forma rápida. Cheryl está se aproximando da mesa, vinda do banheiro, quando eu me sento. Apesar da distância razoável, ela está do outro lado da mesa o que possibilita que nossos olhos se cruzem por alguns segundos.
Entretanto, eu desvio o olhar e foco no cardápio, procurando algo para pedir. Decido então, junto com Hailey, que iriamos pedir hand rolls, rainbow rolls e sake de salmão. Para beber, Hailey e eu acompanhamos os demais num vinho cujo o nome eu não conseguiria pronunciar nem se tentasse. Os pedidos são rápidos para chegar, por isso quando menos percebo, Hailey e eu estamos dividindo os sushis e trombando os palitinhos.
Quando o almoço se encerra, Sophia e John se retiram, dizendo que querem passar um tempo a sós antes do casamento. Entendo perfeitamente o que eles dizem, porque parte de mim implora silenciosamente para que eu tenha a chance de voltar à praia, sem ninguém, apenas para deitar na areia e fitar o céu claro e as ondas do mar que quebram perto de onde estarei. A simples ideia de estar perto do mar me faz sorrir sozinho, atraindo a atenção de Hailey.
— O que foi? — sua pergunta me faz voltar a realidade.
— Estava pensando em ir à praia, ficar um pouco lá. Eu sei que estava ali há pouco, mas queria apenas deitar na praia, em trajes apropriados e quem sabe, entrar no mar. Só molhei os pés na hora que fui, mas a água não está gelada como a da Califórnia.
— Você quer ir sozinho?
— Não sei, talvez. Eu não me importaria de ter sua companhia lá, mas eu quero ir para deitar na areia e fechar os olhos. Eu quero paz, por cinco minutos! — Hailey se levanta, estendendo a mão para que eu levante com ela.
— Ver a Cheryl mexeu com você, não é?
Nem tento mentir. O suspiro que solto é o suficiente para que ela entenda.
— Eu pensei, sabe... Eu pensei que depois de Seattle, as coisas fossem melhorar entre nós. Mas não. No dia seguinte ela levantou arrependida e foi embora, Hai. E então, hoje, ela conversou comigo. Certo, o que tivemos pode ser chamado de discussão acalorada, mas mesmo assim... Eu odeio tanto esse sentimento de impotência que eu sinto em relação a ela! Você já me viu assim por alguém?
— Por isso que eu tento convencer você a sair com outras pessoas. A Cheryl não merece você, Justin. Você fez de tudo para reconquistar ela. Você mandou buquês todos os meses, por dois anos. E eu sei que você mandou vinte e um buquês de flores para ela na quarta-feira. Eu acho que ela está te esquecendo e você deveria fazer o mesmo. Sei que você odeia ouvir isso e que fica neurótico com a possibilidade de perdê-la, mas há tantas pessoas no mundo e conheço várias que querem apenas cinco minutos com você para te mostrar como existem outras pessoas no mundo além de Cheryl Scott! E vamos ser sinceros, Justin. Relacionamentos acabam e duram e isso é inevitável. Mas você não se preocupa, porque se for para acontecer... pode ter certeza que vai acontecer. Quem está destinado para ficar junto sempre encontra o caminho de volta.
Ao concluir sua frase, Hailey está destrancando a porta da Villa que estamos hospedados. A mesa com as comidas já havia sido retirada, mas na mesa central ainda havia um balde de gelo com champanhe e ao lado, um envelope branco com os nomes "Justin Bieber e Hailey Baldwin" escritos em dourado. Eu me aproximo do papel enquanto Hailey puxa uma taça do suporte da cozinha e enche com a champanhe, dando um grande e longo gole em seguida. No papel, uma letra elegante diz apenas "Pelican Grill, 20:00 horas". Curioso, eu tiro uma fotografia e envio para Scooter, com um ponto de interrogação.
— E agora, você já decidiu o que vai fazer? — a voz de Hai chama a minha atenção.
— Eu não sei. Praia, eu acho. Você quer vir comigo?
— Nah. Eu vou tomar um banho longo de banheira e hidratar todo o meu cabelo. Sei que provavelmente acontecerá algo assim amanhã, mas tenho certeza que banho de banheira não terei tempo.
— Você é uma fresca, Hailey. Me mandou uma foto ontem da banheira enchendo!
— Sim, e daí? É o meu banho de banheira diário. Você é um fresco, Justin!
Eu reviro os olhos rindo, enquanto ela enche a taça mais uma vez e segue para o quarto dela. Viro para o caminho oposto, abrindo a porta do quarto e procurando na mala uma bermuda de praia que eu havia colocado por impulso na última hora. Já sem a roupa que usava, visto a bermuda estampada e jogo por cima do ombro uma camiseta lisa e procuro pelo chinelo do hotel, visto que eu não havia colocado nenhum na mala. Quando junto tudo o que eu preciso, incluindo uma toalha disponibilizada pelo hotel, procuro pelo celular e pela chave extra da Villa, para enfim, sair da casa.
O carro de golfe que me guiaria até a praia já estava ali estacionado, porque Hailey e eu havíamos voltado com o carrinho há pouco tempo. O céu azul me fez sorrir e por alguns segundos, apenas olhar para cima e agradecer a quem estivesse lá em cima pelo maravilhoso dia que estávamos tendo. Baixinho, rezo para que o céu do casamento esteja tão lindo quanto esse. Revirando os olhos diante do que eu estava fazendo, acelero para fora das Villas com o carrinho lento. A velocidade máxima dele me permitiu dirigir com uma mão, abrir o aplicativo do Spotify e em seguida, gravar um vídeo para o story do meu Instagram, mostrando onde eu estava e o que eu estava prestes a fazer. Se desse sorte, eu encontraria uma prancha de surfe e pegaria algumas ondas, como nos anos anteriores, no início da carreira.
Ao estacionar o carrinho ali, posso ver mais alguns. Sei que há mais duas pessoas convidadas por John, porque os carrinhos deles haviam a identificação do casamento - uma placa branca, com flores desenhadas contornado elas e "CASAMENTO SOPHIA E JOHN" escritos em letras garrafais. Se o objetivo era ser discreto, eles também haviam falhado nisso. Eu desço do carro e aproveito para plugar o fone de ouvido enquanto caminho pelo começo da areia, deixando que os grãos se afundam em meus pés e no chinelo. Apesar de haver mais carros de golfe sobre a grama que antecede a praia, não há muitas pessoas à vista, o que involuntariamente me agrada, afinal, tudo o que eu menos gostaria no momento eram pessoas cuidando da minha vida ou filmando qualquer movimento meu.
Por fim, ao achar um espaço bacana na areia, eu jogo a toalha sobre o chão e retiro o chinelo, sentando sobre a areia fofinha e úmida. O cheiro de mar e a brisa que a praia trazia me fizeram respirar fundo, fechando os olhos por longos segundos até abri-los novamente para olhar a praia em volta. Longe de mim, um casal estava sentado sobre panos coloridos e carregavam consigo uma bolsa térmica. Mais à frente, uma criança pequena e loira brincava perto do mar, o qual destruiu seu castelo de areia. Isso não impediu que ela enchesse o balde de areia novamente e colocasse mais uma vez para recomeçar o castelo.
Aquilo me fez pensar. A determinação do menino enchendo o balde e montando novamente o castelo de areia causou uma sensação estranha em mim. Sim, eu sei. Há minutos atrás eu havia falado para Hailey sobre essa sensação de impotência que eu sentia referente a Cheryl e ouvir que eu deveria esquecê-la e seguir a vida. Mas ver uma criança brincando de recomeçar causou a sensação de que eu estava desistindo sem tentar.
Sem tentar? Eu havia praticamente rastejado aos pés de Cheryl!, meu subconsciente grita para mim. Eu fecho os olhos, deixando o corpo cair na areia. Os grãos duros espetam minhas costas, mas ajo como se aquilo não incomodasse. Viro para o outro lado, na esperança de esquecer a criança que ali estava. Do outro lado da praia, até onde o meu campo de visão me permitia enxergar, uma mulher estava deitada na areia, pegando sol nas costas. Ela parecia calma e eu me peguei desejando que eu tivesse essa plenitude toda. Mas sabia que isso não aconteceria tão cedo. Ou, no que era mais provável, nunca.
A água do mar estava muito gelada quando coloquei os pés onde as ondas quebravam. A maré estava baixa naquele horário, permitindo que eu fosse entrando mais e mais em direção ao fundo. Eu tinha noção que as poucas pessoas que estavam ali sabiam quem eu era. Ou pelo rosto ou pelas várias tatuagens. Era sim um fato que meu corpo havia ganhado vários desenhos novos. Modelos como eu e Clement, um modelo francês, não precisavam manter o corpo limpo de desenhos na pele. Mesmo com eles, continuávamos tão requisitados quanto antes, se não mais. Mas tudo isso era fruto claro do meu trabalho e determinação. A prancha que eu havia descolado com um dos funcionários do resort já estava com parafina aplicada e presa ao meu tornozelo, então ao sentir o mar afundar um pouquinho, já subo na prancha remando até a onda que vinha em minha direção.
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