Estava indo tudo de mal a pior até o estranho pedido de desculpas. Lalisa já estava nervosa e constrangida, mas o pedido a deixou ainda pior. Seu pai a ligou logo cedo a chamando para um almoço. A tailandesa prontamente aceitou e saiu de seu apartamento antes mesmo das dez da manhã, deixando uma Chaeyoung adormecida em seu quarto. Mandou uma mensagem para a namorada avisando onde estava e dizendo para que não a esperasse e fosse diretamente para o estúdio depois do almoço. Lisa se sentiu um pouco mal por não ir com Chaeyoung até o local já que era a última semana de gravações do drama. Queria mesmo aproveitar aquele tempo com sua namorada e se despedir da equipe de um jeito decente, mas também não podia deixar seu pai desapontado, especialmente naquele momento onde ele estava passando por muitas coisas ruins ao mesmo tempo.
O caminho até o restaurante foi curto. Lisa desceu do carro e andou apressada até a entrada do local. Escaneou o lugar rapidamente e sorriu ao encontrar seu pai numa das mesas do canto afastado. Caminhou até lá ainda sorridente e se sentou em frente ao homem.
— Lali! — Seu pai exclamou sorrindo agradavelmente. — Que bom que conseguiu vir. Desculpe por tirar você da sua rotina.
— Está tudo bem pai — Disse com uma expressão que demonstrava que realmente não se importava com aquilo. — Não faz mal, logo não vou ter mais a mesma rotina — Soltou um suspiro e tentou sorrir após dizer aquilo.
Seu pai sorriu em compreensão.
— Mas isso é bom — Murmurou tentando achar o lado positivo daquilo. — Você trabalha demais, precisa descansar. Mal teve tempo para visitar nossa família esse ano. Sua vó sente sua falta.
Lisa assentiu e anotou aquilo mentalmente. Precisava mesmo fazer uma viagem para seu país natal, fazia tanto tempo desde que fora ver sua família. Planejou em sua cabeça a próxima visita e imaginou como sua família reagiria ao ver Chaeyoung com ela. Com um calafrio Lisa se perguntou se eles agiriam igualmente a sua mãe e apenas a expulsariam da família sem mais nem menos.
— Como você faz isso? — O homem perguntou de repente.
Lisa o olhou confusa.
— O que?
— Parece que se passaram milhões de coisas pela sua cabeça em um segundo — Murmurou extasiado enquanto negava com a cabeça. — Você é igualzinha a sua mãe — Sorriu como se não tivesse acabado de jogar um balde de água fria em Lisa.
Lisa não sabia como foi sua expressão no momento, mas foi ruim o suficiente para seu pai se assustar e perceber que havia feito algo de errado. Marco engoliu seco e arregalou os olhos olhando para a filha.
— Por que você disse isso? — Lisa perguntou, sentindo toda a sua alegria esvaindo de seu corpo. — Eu não tenho nada parecido com aquela mulher — Murmurou completamente desconfortável com a comparação.
— Ah, eu não queria… — A expressão do homem era quase de vergonha. Tentava desesperadamente manter contato visual com Lisa, mas a mais nova desviava o olhar para o chão. — Não era assim que eu queria começar essa conversa — Murmurou pouco a vontade coçando a cabeça.
Lisa entrou em estado de alerta. Levantou rapidamente o olhar e fitou seu pai confusa.
— O que quer dizer com isso? — Indagou um tanto raivosa.
Marco não precisou responder. Sua expressão fez o trabalho, quando estava prestes a falar viu a mulher entrando no restaurante e então apenas abaixou a cabeça reprimindo os lábios, já esperando pela explosão.
Lisa ainda o olhava esperando por uma resposta, por isso não viu a mulher mais velha se aproximando pelas suas costas. Só quando ouviu a voz familiar a tailandesa se deu conta do que acontecia.
— Lalisa — A voz soava baixa e foi seguida de um suspiro pesado. Lisa não se atreveu a olhar para trás, seu corpo todo se retesou e de repente ela sentiu uma urgência enorme de sair correndo daquele lugar. — Que bom que aceitou almoçar com a gente.
Lisa fitou seu pai com olhos magoados. A feição de Marco era como a de alguém que havia acabado de voltar de um funeral. A tailandesa mais nova apenas respirou fundo, fechou os olhos e pegou sua bolsa. Olhou mais uma vez para o pai e falou talvez com o tom mais magoado que pode.
— Eu não acredito que você fez isso — Fitou diretamente o fundo dos olhos de seu pai.
Depois daquilo apenas levantou e se virou para ir embora, nem ao menos olhou na cara da mulher que estava atrás dela. Deu exatos dois passos até que sentisse uma mão envolver seu pulso.
— Filha — Aquilo pareceu um insulto para Lisa. — Por favor. Apenas me escute — Estranhamente, sua mãe soava suplicante.
— Por que eu faria isso? — Lisa soltou seu pulso do aperto da mais velha e então se virou com uma feição de pura raiva. Olhou para o rosto da mulher e teve quase certeza de que toda aquela cena não passava de uma piada de mal gosto.
Kanya tinha uma expressão derrotada, em baixo de seus olhos as olheiras eram bem visíveis, o rosto estava livre de maquiagem, o que também era estranho. Lisa se sentiu mal olhando para aquele rosto, sua mãe estava quase irreconhecível. A feição triste e suplicante também não combinava nada com o que Lisa era familiarizada. Talvez tenha sido isso que desestabilizou a atriz por um segundo.
— Lali — Seu pai levantou e caminhou até as duas. — Sua mãe disse que tem algo importante para nos contar — Marco colocou as duas mãos sobre os ombros da esposa. Olhou para a filha por cima do ombro da mulher e tentou colocar seu sorriso acolhedor no rosto. — Vamos a escutar, sim?
Lisa engoliu seco e cruzou os braços desviando o olhar dos pais. Queria dizer não, queria sair dali, queria apenas voltar para a casa e correr para os braços de Chaeyoung. Mas os olhos suplicantes de seu pai tiraram todas as suas defesas. Ela se viu aceitando antes que pudesse ter argumentos para ir embora.
Então Lisa voltou a se sentar na mesa, seus pai se sentaram do outro lado da mesa, em frente à ela. Lisa teve que esconder a expressão de nojo quando sua mãe pegou a mão de seu pai e sorriu deixando um beijo na bochecha do homem. Se sentiu mal por seu pai, tinha certeza em seu coração que sua mãe estava apenas o manipulando. Com aquele pensamento quase se levantou e foi embora de novo, porém seu pai chamou um garçom e fez o pedido. Eles comeram num silêncio extremamente desconfortável e constrangedor, que era quebrado ocasionalmente por Marco tentando quebrar o gelo. Lisa contou mentalmente os minutos que se passavam e percebeu que sua mãe ficava mais retraída e quieta conforme o tempo corria, se sentiu frustrada com aquilo, logo ela estaria atrasada para as gravações se Kanya não resolvesse falar o que tinha de tão importante para contar.
Depois da décima checada no relógio Lisa decidiu falar, expondo todo a sua impaciência com a situação.
— Será que você pode falar logo o que quer? — Indagou rudemente olhando para a mulher que um dia chamou de mãe. — Vou me atrasar para o trabalho se ficar aqui por mais uma meia hora de silêncio — Bufou empurrando o prato com o resto de sua comida.
Kanya tinha os olhos arregalados, ela engoliu seco e trocou um olhar nervoso com o marido. Marco, entretanto, a olhou com o mesmo olhar ansioso de Lisa.
— Tudo bem — Murmurou para logo deixar um suspiro nervoso sair. Kanya limpou as mãos suadas em sua calça jeans e apertou as coxas, tentando achar palavras para falar. Entreabriu a boca diversas vezes, mas invés de sair palavras o que saiu de lábios foi um gemido sôfrego e então seus olhos liberaram as lágrimas. — E-eu… — Não conseguia falar nada pois o choro impedia.
Quando o corpo da mulher mais velha começou a tremer, Lisa trocou um olhar confuso com seu pai. Marco estava um tanto preocupado e alisava o ombro da esposa tentando servir de apoio, por outro lado, Lisa pensava que tudo aquilo não passava de um teatro ruim e já sentia sua falta de paciência se esgotar ainda mais.
— Kanya, está tudo bem — Marco assegurou tentando manter o sorriso caloroso no rosto.
A mulher mais velha assentiu, mesmo que ainda estivesse chorando. Kanya respirou fundo e tentou controlar os tremores, quando olhou para os olhos de Lisa, a mais nova sentiu de repente uma energia muito ruim preencher o local.
— Me desculpe — Conseguiu dizer aquilo com muito esforço, ainda olhava para os olhos de Lisa e tentava não desviar o olhar. — Eu não queria... — Seus lábios tremeram e mais lágrimas caíram, ela respirou fundo de novo. Lisa mantinha a expressão impassível. — Não queria ter feito parte daquilo — Sua voz vacilou de novo e então ela cobriu o rosto com a mão direita, se deixando chorar compulsivamente.
Lisa não poderia estar mais confusa. Ela olhou para o pai em busca de alguma explicação, mas apenas encontrou um homem preocupado em ajudar sua esposa em um momento frágil. Lisa suspirou jogando a cabeça para trás, queria estar em qualquer lugar menos ali.
— Parte do que? — Lisa perguntou com o resto de paciência que lhe restava.
Kanya consegui levantar a cabeça. Olhou para Lisa com uma expressão tão triste e desesperançosa que Lisa teve que desviar o olhar por um segundo. A tailandesa pensou que sua mãe iria falar algo coerente dessa vez, por sua expressão, Kanya parecia desesperada para contar algo. Mas novamente, tudo que saiu da boca da mulher foi:
— Me desculpe, filha — Pediu suplicante. Tentou alcançar as mãos de Lisa sobre a mesa, mas a mais nova a afastou. — Me desculpa, me desculpa — Logo a mulher parecia um disco quebrado repetindo a mesma frase sem parar.
Lisa nunca se sentiu tão desconfortável. Torceu a boca e franziu o cenho olhando para o pai, Marco parecia extremamente triste com a situação, no canto de seus olhos lágrimas brotavam. Lisa decidiu que aquilo era demais para ela aguentar, assim se levantou da cadeira e pegou a bolsa.
— Eu não tenho tempo para isso — Disse de modo sério olhar para o pai e então uma última vez para a mãe. — Seja lá o que você tinha a contar, não deve ser tão importante assim já que ao menos consegue falar — Seu tom era frio e a incomodava, mas não conseguia evitar, o teatrinho de sua mãe havia a irritado em níveis extremos. — Sinto muito que você tenha que passar por isso, pai — Disse sinceramente e então deu as costas para o casal.
(...)
Ao sentir o corpo relaxar daquela forma prazerosa familiar, Lisa se sentiu mais leve, como se o almoço constrangedor fosse apenas uma memória distante e nebulosa. Sorriu ao sentir os beijos de Chaeyoung pela sua pele enquanto a mulher escalava seu corpo de volta e fechava o zíper de sua calça. Seus braços estavam moles quando ela abraçou o pescoço da namorada e deixou um longo selinho nos lábios da mesma.
— Está mais relaxada? — Chaeyoung perguntou beijando uma das bochechas de Lisa.
— Estou — Afirmou, ainda sorrindo e sentindo os beijos de Chaeyoung por seu rosto. — Você sabe como me relaxar — Disse rindo fracamente.
Chaeyoung a acompanhou na risada e então levantou o tronco para que pudesse ver o rosto da namorada. Acariciou a bochecha de Lisa com o polegar e sorriu.
— Fico feliz que consegui te tirar daquele mau humor horrível. Sério, eu já estava pensando que você ia bater no cara do microfone.
Chaeyoung riu com a lembrança de Lisa irritada com a altura que o homem segurava o microfone e em como suspenderam as gravações por uma hora apenas para que a tailandesa pudesse se acalmar.
— Não tenho culpa se ele não sabe segurar a droga de um microfone — Murmurou tentando se defender.
Lisa suspirou e cobriu o rosto com uma das mãos, mesmo com a ajuda de Chaeyoung as cenas do almoço começaram a voltar como uma avalanche.
Chaeyoung reprimiu os lábios percebendo a mudança de feição de Lisa.
— Tudo bem — Respirou fundo sentando no sofá. Puxou Lisa pela mão e a fez ficar sentada em sua frente. — Agora você pode me dizer o verdadeiro motivo do seu mau humor? — Pediu, segurando delicadamente a mão da tailandesa.
— Chaeng… — Outro suspiro. — Eu não sei se quero falar sobre isso — Deu de ombros evitando os olhos de Chaeyoung. — É só mais uma besteira da minha mãe, não é relevante. Nós devemos focar no trabalho — Finalmente olhou para os olhos de Chaeyoung e encontrou uma expressão não convencida.
— Se o que aconteceu está atrapalhando o seu trabalho então deveríamos conversar sobre isso, amor — Tentou manter o tom do jeito mais delicado e compreensivo o possível. Acariciou as costas da mão de Lisa e sorriu sem mostrar os dentes. — Se mesmo assim não quiser falar, tudo bem.
Lisa teve de sorrir, amava como Chaeyoung era atenciosa com ela. Desceu o olhar para as mãos dadas e então soltou o ar pela boca. Decidiu contar tudo que havia acontecido no almoço estranho.
— Só não queria que meu pai passasse por isso — Murmurou quando terminou de contar toda a história.
Chaeyoung tinha o cenho franzido e parecia pensar.
— Ela estava pedindo desculpas pelo o que exatamente? — Perguntou como se não conseguisse achar a última peça de um quebra-cabeça. — Seu pai sabe do que ela estava falando?
Lisa negou com a cabeça.
— Meu pai estava tão confuso como eu. Kanya não estava dizendo coisas coerentes — Reprimiu os lábios e bagunçou a franja com os dedos, ainda tentando entender o comportamento de sua mãe. — Foi muito estranho, era como se ela quisesse muito me contar algo, mas alguma coisa a impedia — Lisa fitou um ponto aleatório da parede branca do camarim. — Ou talvez ela estava criando uma cena para eu cair no papo dela. Isso me parece mais viável — Murmurou deixando sua raiva falar mais alto.
Chaeyoung fitou a namorada com olhos preocupados. Estava prestes a acrescentar mais uma coisa no assunto, mas se deteve ao ver como aquilo estava colocando Lisa para baixo. Invés de insistir na conversa, ela apenas se aproximou e abraçou os ombros da tailandesa a puxando para mais perto.
— De qualquer jeito já passou — Disse contra o cabelo da outra. — Se for algo realmente urgente ela vai te procurar de novo.
— Espero que ela nunca tente de novo. Eu tenho quase certeza de que não era nada sério — Fechou os olhos e se aconchegou no abraço de Chaeyoung. — Minha mãe sempre foi objetiva com tudo e ela também consegue ser muito manipuladora quando quer, então provavelmente ela estava tentando fazer com que eu a aceitasse de novo — Deu de ombros como se não se importasse mais. — Não é relevante. Preciso me concentrar nessa última semana de gravações.
Lisa levantou e se espreguiçou, depois chacoalhou os braços e estalou os dedos. Fechou os olhos por poucos segundos e respirou fundo soltando o ar pesadamente pela boca. Quando abriu as pálpebras novamente, estendeu a mão para Chaeyoung.
— Vamos, temos um drama para finalizar.
Chaeyoung sorriu, se levantou e pegou a mão da namorada deixando ela a levar de volta para o estúdio.
(...)
— Estou tão feliz que vocês me deixaram vir junto — TaeSeob exclamou radiante no banco de trás do carro.
Chaeyoung riu o observando pelo espelho retrovisor, o homem balançava as pernas como uma criança animada.
— Nós estamos apenas indo até uma reunião, cara — Sooyoung respondeu também rindo um pouco. — Eu não sei por que você insistiu tanto em nos acompanhar — Disse alheia a toda a situação.
TaeSeob e Chaeyoung trocaram um olhar pelo retrovisor. Os dois sabiam muito bem porquê TaeSeob estava junto delas, Chaeyoung odiava a razão mas também não conseguia impedir TaeSeob de fazer aquilo. O garoto tinha cismado que deveria estar sempre por perto caso Chaeyoung ficasse sozinha com Sooyoung, segundo ele, ele estava apenas protegendo Chaeyoung de um declaração de amor repentina.
Chaeyoung achava aquilo ridículo, por mais que com o passar do tempo começasse a depender da proteção do amigo. Não era como se ela não quisesse ficar sozinha na presença de Sooyoung, era só que a paixão da assistente por ela ficava mais evidente a cada dia que passava. A atriz tinha quase certeza que aquilo tudo vinha do falso namoro das duas, elas tinham que passar por situações românticas quase que o tempo todo se tinha alguma câmera por perto. Chaeyoung já havia perdido a conta de quantas vezes teve que segurar a mão de Sooyoung repentinamente por encontrar uma câmera no meio do local que estavam. E isso ainda era o de menos, o pior era quando tinham que encontrar o ângulo certo para que a câmera desse a impressão de que elas estavam se beijando. As situações causavam risadas e piadas nos momentos em que aconteciam, mas Chaeyoung sempre podia perceber como Sooyoung reagia depois, a assistente ficava vermelha e distribuía sorrisos tímidos para ela pelo resto do dia.
— Ainda acho que eu deveria conversar com ela.
— Roseanne, a garota está apaixonada por você e vocês convivem todo dia! Falar sobre o assunto é como pedir para estragar de vez a relação de vocês — TaeSeob exclamou extasiado segurando nos ombros da mulher. — Acredite em mim quando eu digo que o melhor a se fazer é ignorar a situação por enquanto.
— Até quando? — Perguntou quase desesperada. — Nós estamos fingindo namorar! A situação piora a cada dia, eu não consigo ver ela daquele jeito e não fazer nada.
— Pela primeira vez você vai ter que ter o coração duro garota! — TaeSeob exclamou quase desesperado. — Isso só vai durar até que vocês possam terminar o namoro falso, e não deve demorar também, então se acalme e faça o que estou dizendo.
Chaeyoung saiu de sua memória quando o carro passou por uma lombada. Ela estava tão nervosa com tudo aquilo que as vezes desligava daquele jeito. A reunião também trazia um pouco de ansiedade, Chaeyoung estava a caminho para tratar dos últimos detalhes do contrato da peça. Estava animada, afinal já tinha a garantia de um novo trabalho assim que terminasse com as gravações do drama.
— Será que as pessoas não acham estranho você estar supostamente namorando sua assistente? — TaeSeob perguntou quando já estavam no elevador, subindo para a sala de reuniões. — Afinal Sooyoung ainda trabalha para você.
Chaeyoung o olhou com uma risada presa nos lábios, como se achasse que o garoto estava brincando.
— As pessoas devem achar estranho eu estar namorando uma mulher, TaeSeob — Corrigiu o olhando como se fosse óbvio.
TaeSeob sorriu travesso e deu de ombros.
— É verdade — Suspirou exageradamente pesado. — Tinha esquecido que vivemos em um país completamente homofóbico e atrasado.
Chaeyoung teve de rir, percebeu que Sooyoung também soltou uma risada a seu lado. As portas do elevador se abriram.
— Algum dia isso vai mudar, Seob — Chaeyoung murmurou. — Algum dia — Apertou o braço do garoto e sorriu saindo do elevador.
Chaeyoung começou a caminhar pelo corredor que a levaria até a sala de reuniões, os outros dois a seguiram. TaeSeob teve que ficar do lado de fora da sala. Chaeyoung quase ficou mal ao ver a expressão de cachorro perdido no rosto do amigo, mas não pôde fazer muita coisa pois a diretora da peça chamou apenas ela e Sooyoung para dentro da sala com o pretexto de que leriam o roteiro pela primeira vez e que ninguém que não fosse envolvido com a peça poderia ouvir.
A reunião e a leitura do roteiro se seguiram perfeitamente. Ficaram na sala por algumas horas apenas discutindo sobre a peça. Chaeyoung se espantou ao descobrir que viajariam para fora do país para apresentar o espetáculo, ela pensava que se restringiriam apenas às cidades maiores da Coreia, mas a diretora informou que tinham um bom público em outros países que não falam coreano.
— Então você vai até para Paris? — TaeSeob indagou abismado, no caminho de volta no carro.
Chaeyoung assentiu de olhos arregalados, como se ainda estivesse um pouco surpresa com a novidade.
— Eles até me deram dois roteiros para decorar, um em coreano e o outro em inglês — Ergueu o amontoado de papéis que estavam em seu colo. — Nós vamos para Paris, Amsterdam, Londres — Começou a citar todas as cidades da turnê. Olhou para Sooyoung esperando por ajuda para lembrar de todos os lugares onde iriam. — Tokyo.
— Berlim, Ottawa — Sooyoung continuou, forçando a memória.
— Melbourne — Chaeyoung acrescentou sorrindo voltando o olhar para TaeSeob.
— Você vai para casa — TaeSeob também sorriu, feliz.
— Minha mãe vai poder assistir — A felicidade de Chaeyoung transbordava em suas palavras.
— Ela vai morrer de orgulho, Rosie.
TaeSeob chutou leve e afetuosamente o pé de Chaeyoung.
— E eu finalmente vou poder conhecer a senhora Park — Sooyoung disse do banco da frente.
— Você vai viajar junto? — TaeSeob não segurou a pergunta automática.
Chaeyoung olhou feio para ele.
Sooyoung sorriu e assentiu, não percebendo a tensão dos dois no banco de trás.
— Como a Chaeyoung viveria sem a assistente dela? — Perguntou em tom de brincadeira.
Chaeyoung riu e bateu no ombro da mulher.
— Cala a boca.
TaeSeob também riu, por mais que sua risada parecesse um pouco mais forçada do que as das meninas.
— Sua namorada sabe? — O garoto perguntou em inglês depois de alguns segundos em silêncio.
Chaeyoung revirou os olhos e olhou para Sooyoung, suspirou aliviada quando viu que a mulher estava entretida no celular e mal prestava atenção no que os dois falavam.
— Nem começa — Alertou, também em inglês. — Eu já te falei que ela não tem ciúmes.
TaeSeob sorriu de lado, não convencido.
— Claro que não — Murmurou sarcástico.
— Seob…
— Só estou dizendo! — Se defendeu.
— Não tem nada para dizer! — Reclamou. — Você pode estar certo sobre ela estar apaixonada por mim, mas não sobre Lisa — Apontou o dedo indicador para o rosto do homem.
TaeSeob levantou as mãos, em um gesto de defesa, e depois assentiu mesmo contra a vontade.
— Por que vocês estão discutindo em inglês? — Sooyoung perguntou em um tom de riso.
Chaeyoung e TaeSeob desconversaram e entraram em outro assunto para que a assistente não desconfiasse de nada.
(...)
— Todo mundo sabe que ela gosta de verdade de você, Roseanne — TaeSeob disse com um de riso assim que entraram na casa. Sua expressão inabalável dizia que aquilo já era um fato irrefutável.
Chaeyoung fez uma expressão chorosa e emitiu alguns grunhidos imitando um choro.
— Isso não pode estar acontecendo — Cobriu o rosto com as mãos. — É sério, por quê? Se não fosse por esses planos tudo ainda estaria normal — Seu tom de voz era frustrado.
— Quero dizer… — TaeSeob começou com uma voz que indicava que uma possibilidade ainda pior estava vindo. Chaeyoung o olhou com súplica para que não terminasse a frase. — Antes mesmo dos planos existirem eu já desconfiava que ela sentia algo por você — Falou mesmo assim, como se estivesse guardando aquilo há tanto tempo que não conseguiria mais se manter quieto.
— Eu sou tão lerda assim? — Chaeyoung perguntou sincera, pois nunca havia notado algo de errado antes daquele último jantar com a assistente. — Sooyoung sempre pareceu apenas uma boa amiga.
— Ela deve ter sido mesmo no começo — TaeSeob concordou. — Mas com o tempo os sentimentos devem ter se aflorado — Falava aquilo como se não fosse nada. Pegou uma maçã da fruteira na cozinha e a mordeu, olhando para Chaeyoung com uma expressão calma. — O que você vai fazer?
— Surtar é uma opção? — TaeSeob riu. — Eu não faço ideia, isso é só mais um problema para resolver e agora não posso dar prioridade para ele. Tenho que decorar meus últimos textos, encontrar uma roupa para o jantar de encerramento e ainda cuidar dessa festa surpresa — Bufou após enumerar todas as tarefas pendentes. Lembrou da lista das coisas que ainda precisava comprar para a festa de aniversário de Lisa e quis chorar.
— Ei, relaxe sobre a festa — TaeSeob pediu se aproximado da mulher. — Nós já estamos planejando isso há meses, já está tudo praticamente pronto — Afagou o braço da amiga tentando a tranquilizar. — Apenas se preocupe com as gravações e o fim do drama agora. São essas coisas que precisam de prioridade.
Chaeyoung assentiu, tentando jogar o resto das preocupações para fundo da mente, e então suspirou melancólica.
— Consegue acreditar que está acabando? — Perguntou, sorrindo nostálgica. — Logo eu vou estar na televisão — Soou um tanto incrédula, como se ainda não acreditasse que seu sonho estava mesmo se tornando realidade. — Ainda parece mentira — Murmurou em meio ao sorriso feliz.
— Estou muito orgulhoso de você — O menino declarou sinceramente. — De tudo que você está fazendo na verdade. O seu impacto vai ser tão gigante — Suspirou sorrindo. — E eu vou estar lá me gabando por ser seu melhor amigo — Exagerou no sorriso e colocou as mãos na cintura, fazendo uma pose orgulhosa. Chaeyoung riu e logo sentiu os olhos marejarem. TaeSeob ergueu as sobrancelhas e entreabriu a boca, não entendendo o choro repentino da amiga. Rapidamente o homem abriu os braços e sentiu o corpo de Chaeyoung se chocar com ele. — O que foi? — Questionou preocupado.
— Nada — Murmurou chorosa contra o peito do amigo. — É só que eu não sei me despedir de coisas boas — Fungou, tirando o rosto do torso do homem e levantando a cabeça para poder fitá-lo. — Vou sentir falta da rotina de gravação e de toda a equipe.
O rosto vermelho e um pouco inchado de Chaeyoung, fez TaeSeob sorrir encantado.
— É o fim de um ciclo — Disse acariciando a cabeça da menor. — É normal sentir falta, mas você precisa deixar ir. Todas essas memórias boas vão ficar guardadas na sua cabeça para sempre, não se preocupe. O fim de um ciclo significa que outro já vai começar, e você precisa estar preparada para isso.
Chaeyoung assentiu e se desvencilhou do abraço.
— Eu estou, Tae. Mas é só esse sentimento estranho que está me perseguindo há alguns dias — Fez uma careta enquanto falava. — Parece que vou perder algo a mais do que essa rotina de gravação.
O tom de voz da mulher soou tão assombrado, que TaeSeob se sentiu um pouco mal.
— Ei, isso é bobagem. Você não vai perder nada — Garantiu, como se aquela possibilidade fosse nula. — Na verdade, apenas vai ganhar. Quero dizer, você vai fazer uma turnê mundial! Isso é loucura. Além de que com o drama, vocês vão conseguir inspirar muita gente. É sério, você só vai ganhar daqui pra frente.
Chaeyoung suspirou e assentiu, mesmo que no fundo ainda sentisse aquela sensação ruim.
— Talvez você esteja certo.
— Talvez? — TaeSeob perguntou, fingindo estar chocado. — Meu bem, eu estou cem por cento certo, nunca duvide do seu amigo.
(...)
— Uma turnê mundial? — Lisa perguntou em tom alto, segurando o roteiro da peça nas mãos.
— Sim! — Chaeyoung exclamou meio abafado do banheiro pelo barulho do chuveiro.
Lisa sorriu e levantou da cama, caminhando até a porta aberta do banheiro.
— Então você vai ser uma artista internacional agora? — Indagou se apoiando no batente da porta. Observou a garota no chuveiro e sorriu mais largo.
Chaeyoung assentiu, também sorrindo. Terminava de enxaguar o condicionador do cabelo, por isso mantinha os olhos fechados e estava bem embaixo do chuveiro.
— Estou até pensando em estudar francês. Eles querem fazer três sessões em Paris, amor, três! — Exclamou extremamente feliz. Finalmente abriu os olhos e olhou para Lisa através do vidro embaçado do box. — Vamos ficar lá pelo menos por uns cinco dias, você consegue imaginar isso?
Lisa riu fracamente da animação da namorada.
— Consigo — Assentiu com a cabeça. — Você está bem feliz com isso, não é? — Perguntou, mesmo que a resposta fosse óbvia.
Chaeyoung desligou o chuveiro.
— Você não tem noção — Negou com a cabeça, saindo do box e se enrolando numa toalha. — Eu nunca pensei em fazer teatro, mas agora que tenho a oportunidade é como se fosse um sonho se tornando realidade.
Lisa sorriu concordando com a cabeça. Chaeyoung passou por ela e caminhou pelo quarto até chegar na outra extremidade do lugar, onde o closet ficava.
— Aposto que vai ser como um sonho interpretar a… — Lisa checou o nome da personagem de Chaeyoung novamente e o roteiro. — Kim Jieun, aspirante a cantora que trabalha em um restaurante e canta lá todos os fins de semana durante a noite — Riu alegremente. — Adorei que eles vão fazer você cantar.
Chaeyoung riu do closet.
— Vou começar a fazer aulas de canto por causa disso — Disse, terminando de vestir uma camisa larga. — A coisa é séria, amor — Falou já saindo do closet. Caminhou de volta para o banheiro, apenas para secar o cabelo.
Com o som do secador no fundo, Lisa voltou a ler o roteiro. Ficou tão entretida com a história que mal notou quando Chaeyoung saiu do banheiro.
— E aí, na opinião da maior atriz da Coreia, a peça é boa? — Chaeyoung perguntou enquanto engatinhava na cama para que pudesse ficar deitada ao lado de Lisa.
— Olha, de acordo com todos os meus conhecimentos de atuação e estrutura de roteiro — A voz séria e exageradamente rebuscada de Lisa fez Chaeyoung rir. — A peça vai ser ótima — Afirmou, voltando a postura normal. — E você vai fazer ficar ainda melhor por ser a protagonista — Sorriu e virou o rosto para Chaeyoung, se aproximou rapidamente e deixou um selinho nos lábios da mulher.
Chaeyoung suspirou e sorriu, tirando as folhas do roteiro das mãos de Lisa e as deixando de lado no bidê. Depois, deitou a cabeça no peito da tailandesa e puxou o cobertor para cima delas.
— Quando a turnê vai começar? — Lisa perguntou depois de um momento de silêncio.
— Daqui uns dois meses e meio — Chaeyoung respondeu. — Os ensaios vão começar logo também.
Lisa suspirou e se sentiu um pouco triste pensando que só tinha mais dois meses e meio para aproveitar Chaeyoung, antes dela sair viajando pelo mundo.
— Como eu vou sobreviver enquanto você estiver fora? Eu quase morri naqueles dois dias que ficamos brigadas, imagina ficar mais de um mês longe de você — Sua voz soou manhosa e fina. Ela abraçou Chaeyoung com força, como se realmente quisesse aproveitar cada segundo com a mulher antes dela viajar.
— Amor, eu vou ficar no máximo dois meses longe — Chaeyoung disse sorrindo e esfregando o rosto no peito de Lisa. A tailandesa emitiu um resmungo desesperado. — Nós vamos nos falar todo dia — Garantiu, levantando um pouco o tronco para poder observar o rosto de Lisa.
— Dois meses, Chaeng! — Disse, como se pensasse que Chaeyoung ainda não tinha entendido quanto tempo aquilo era. — São 60 dias dormindo sem você!
Chaeyoung riu boba com aquilo.
— Você vai ficar bem. Além disso, vai ser difícil para mim também! — Tentou argumentar, porque, realmente, dormir sem sua namorada era uma das maiores torturas de sua vida.
— Mas vai ser muito mais fácil para você, você vai estar viajando o mundo — Murmurou gesticulando e parando de abraçar o corpo de Chaeyoung. — Eu só vou estar aqui sofrendo e deprimida por ter que dormir sozinha — Exagerou no tom de voz triste e deprimido.
Chaeyoung revirou os olhos rindo.
— Para de drama! — Exclamou batendo levemente no ombro de Lisa. — Nós ainda temos muito tempo antes da turnê, até lá nós decidimos como vamos lidar com tudo — Assentiu várias vezes e se aproximou enquanto falava para beijar a namorada. — Tudo bem? — Perguntou contra os lábios de Lisa.
Lisa assentiu retribuindo o beijo e voltando a abraçar o corpo de Chaeyoung. Se beijaram por alguns minutos ininterruptos e só se separaram pelo susto que o alarme do celular de Lisa causou. Lisa resmungou algo se afastando de Chaeyoung e esticando a mão para pegar o celular no bidê.
00:00 estampava a tela do celular. Lisa desligou o alarme.
— Meia-noite. É oficialmente meu último dia com vinte e dois anos na Terra — Sorriu de lábios fechados para Chaeyoung.
— Você colocou um alarme para isso? — Chaeyoung perguntou rindo fracamente. Seu riso eventualmente se tornou em um bocejo. Ela rolou para fora de cima do corpo de Lisa e deitou no espaço ao lado da mulher.
— Claro que sim — Disse, deixando o celular no bidê novamente e se esticando para apagar a luz. — Eu preciso aproveitar ao máximo minha juventude — Se ajeitou confortavelmente na cama quando as luzes escureceram. Chaeyoung automaticamente a abraçou por trás.
— Falando assim até parece que você vai chegar na terceira idade com 25 anos — Chaeyoung murmurou em um tom de risada contra o ombro de Lisa.
— Mas eu vou! — Exclamou na defensiva. — Pegue a Jisoo como exemplo, ela já morre de dor nas costas com 25 anos, dessa idade para frente são só alguns passos para a cova.
Chaeyoung riu alto.
— Se a Jisoo ouvir você falando isso, ela te mata só no soco.
Lisa também riu.
— É por isso que eu nunca falaria isso na frente dela, devemos sempre respeitar os idosos!
— Você é podre — Chaeyoung disse, rindo desacreditada.
— Eu sou realista, amor, é diferente.
Chaeyoung não respondeu depois daquilo e então Lisa percebeu que a garota estava tão sonolenta, que apenas apagou no meio da conversa. Sorrindo, Lisa apenas se aconchegou nos braços da mulher e se permitiu dormir também.
(...)
— Você 'tá chorando mesmo? — Lisa perguntou surpresa, olhando para o reflexo de Ji Hwan no espelho.
A maquiadora, que termina de passar o batom nos lábios da atriz, riu olhando para o homem no canto do camarim.
— É claro que estou! — Ji Hwan exclamou enquanto limpava as lágrimas. — Hoje é o último dia!
Lisa teve de rir da emoção do amigo.
— Você está mais emotivo que eu.
Ji Hwan bufou quando mais lágrimas brotaram em seus olhos.
— Quando você terminar de gravar a última cena também vai chorar — Previu, secando novamente as lágrimas.
Lisa riu novamente.
— Eu sei que vou, mas pelo não estou chorando desde já — Provocou e então se levantou, após a maquiadora liberar. — Se recomponha, cara, você ainda precisa dirigir algumas cenas — Empurrou afetivamente o ombro do homem e sorriu.
Ji Hwan assentiu e respirou fundo olhando para cima.
— É só que… — Suspirou pesadamente. — Eu fico assim toda vez que termino de gravar qualquer projeto — Sua voz embargou e as lágrimas voltaram com força.
Lisa o fitou desacreditada.
— Meu Deus — Murmurou espantada. Olhou para a maquiadora e fez um sinal com a mão. — De um lenço pra ele, por favor — Colocou as mãos na cintura enquanto observava o homem enxugar o rosto com o lenço. — Você tem que guardar essa emoção toda para quando terminarmos de verdade, ainda temos um dia todo de gravações pela frente.
— Você está certa — Ji Hwan concordou, mesmo que sua voz ainda estivesse um pouco embargada. Abriu o braço direito e abraçou os ombros de Lisa. — Vamos antes que eu volte a chorar, suas cenas já devem ser as próximas.
Lisa gravou pelo resto da manhã e na hora do almoço se reuniu com Chaeyoung e toda a equipe para terem uma última refeição juntos. Percebeu que Ji Hwan chorou no almoço também e toda vez que alguém mencionava que era a última vez que faziam qualquer coisa. Em certa hora Lisa começou a compartilhar da melancolia do homem, nas últimas horas de gravações aquilo a atingiu e a ficha de que tudo estava finalmente acabando caiu. Daquele ponto em diante as coisas se tornaram mais arriscadas para ela, o drama seria finalmente exibido e ela tinha certeza de que a pressão aumentaria bastante. Pensou em Taehyung e em como o contrato de namoro os afetaria dali pra frente, estavam se aproximando da pior parte de todo o plano, a parte onde o mundo todo saberia do namoro e cairia em cima deles. Lisa se sentiu cansada com o pensamento de que teria poucos momentos de paz nos próximos meses.
Quando estava tudo arrumado para gravarem a última cena, Lisa sentia que poderia chorar a qualquer momento. Olhou para todo o ambiente das câmeras, dos equipamentos e de toda a equipe e reprimiu os lábios para segurar o choro. Era a hora de dizer adeus.
Chaeyoung estava a alguns metros de distância, apoiada ao parapeito do local aberto, seus cabelos voavam suave e livremente pelo vento fraco que fazia naquele fim de tarde. Ela sorriu abertamente para Lisa, como sempre fazia antes de gravarem uma cena juntas, e então voltou a ficar em sua marca na cena.
SeungSoo autorizou a filmagem e então Lisa suspirou e contou até três mentalmente, entrando na personagem. Quando ouviu o 'Gravando', começou a caminhar para aquela que seria sua última cena como a personagem que aprendeu a ser e viver nos últimos meses.
A câmera acompanhou seus passos até Chaeyoung. O vento começou a bagunçar seu cabelo também. Chaeyoung virou a cabeça para ela quando escutou seus passos.
— O que você está fazendo aqui em cima? — Lisa perguntou, esfregando os braços como se estivesse com frio.
Chaeyoung sorriu e voltou o olhar para a paisagem.
— Assistindo ao pôr do sol — Respondeu. — É muito lindo — Murmurou observando os raios de luz laranja quase desaparecendo no céu.
— É lindo e frio — Lisa reclamou, se encolhendo quando o vento frio bateu em seu corpo novamente. — Vamos descer — Pediu se inclinando para mais perto de Chaeyoung, tentando buscar algum calor.
— Fique um pouco aqui comigo — Chaeyoung pediu abraçando o corpo trêmulo da outra. — Eu te esquento — Esfregou os braços de Lisa e sorriu beijando sua bochecha. Lisa sorriu boba e se aconchegou nos braços de Chaeyoung. — Agora sim está tudo perfeito — Murmurou, sorrindo feliz enquanto acariciava as costas da tailandesa.
Ficaram em silêncio durante curtos segundos, como mandava o roteiro. Chaeyoung viu a câmera se mover pelo canto dos olhos até que ficasse em sua frente, suspensa no ar.
— Eu estou feliz — Lisa disse quebrando o silêncio. Apertou o corpo de Chaeyoung nos braços.
— Está? — Um sorriso inevitável surgiu nos lábios de Chaeyoung.
— Eu realmente estou — Lisa afirmou em tom sério, como se quisesse deixar claro que falava sinceramente. — Pela primeira vez, em muito tempo, eu estou genuinamente feliz — Sorriu gradualmente enquanto falava.
— Bem, saber disso me deixa feliz.
Chaeyoung colocou uma mecha do cabelo de Lisa atrás da orelha e sorriu fracamente.
— É você — Lisa disse, olhava diretamente para o fundo dos olhos de Chaeyoung. — É por sua causa. É você que me lembra todos os dias porque eu devo ser feliz.
Chaeyoung sentiu o coração derreter, mesmo que fosse só atuação sentiu a verdade nas palavras de Lisa. Suspirou apaixonada levando a mão até o rosto da tailandesa.
— Eu amo você — Declarou completamente rendida.
Chaeyoung esperou que Lisa pronunciasse sua última fala, mas a tailandesa parecia estar emocionada demais para fazer isso, lágrimas brotavam no canto de seus olhos e as íris brilhavam como uma galáxia. Lisa então apenas se inclinou e beijou Chaeyoung. A câmera rodeou elas e então começou a se afastar tornando a imagem das duas cada vez mais distante.
— Corta!
Lisa ainda deixou alguns selinhos nos lábios de Chaeyoung depois da cena acabar. Quando se separam, sorriram em conjunto e Chaeyoung riu feliz, secando as lágrimas do rosto de Lisa.
— Nós conseguimos — Chaeyoung disse quando percebeu Lisa um pouco aérea com tudo.
Lisa assentiu e abraçou a namorada com força, escutando todos os gritos eufóricos da equipe atrás delas. Por fim, se juntaram a equipe e abraçaram todos. O clima melancólico e choroso de Ji Hwan finalmente afetou a todo mundo e o set de filmagens se inundou com as lágrimas de todos. Tiraram mil fotos, se despedindo, e demorou muito tempo para se recomporem de verdade.
Chaeyoung e Lisa saíram do prédio perto das onze da noite, pois a equipe as surpreendeu com uma simples confraternização para comemorar o fim das gravações. Chaeyoung insistiu em dirigir, alegando que Lisa ainda estava emocionada demais para conduzir o carro, porém aquilo não passava de uma desculpa para que ela pudesse levar a tailandesa diretamente para a festa surpresa que ela e os amigos de Lisa estavam planejando há meses.
— Ah, Chaeng…? — Lisa murmurou confusa percebendo o trajeto estranho que Chaeyoung fazia. — Aonde estamos indo?
Chaeyoung apenas sorriu e ficou quieta. Já estavam chegando ao salão de festas. Lisa observou curiosa o local quando o carro estacionou. Chaeyoung desceu do carro e o contornou até chegar a porta do passageiro, a abriu e sorriu novamente para Lisa.
— O que está acontecendo? — Lisa perguntou novamente, ainda confusa.
— Confia em mim? — Chaeyoung Indagou estendendo a mão.
— Eu acho que sim — Murmurou incerta, aceitou a mão de Chaeyoung e saiu do carro.
Chaeyoung riu fracamente e começou a conduzi-la até a entrada do salão, depois de trancar o carro. O salão estava absurdamente silencioso, Lisa não conseguia escutar sequer um ruído de lá de dentro, quando se aproximaram um pouco mais, pensou escutar algumas risadas ansiosas. Antes que Lisa pudesse deduzir o que exatamente acontecia, Chaeyoung abriu as portas do salão e revelou tudo.
— Surpresa! — Os gritos ecoaram em dezenas de vozes.
O queixo de Lisa caiu e um riso surpreso e eufórico escapou de sua boca. O salão estava repleto de pessoas próximas a ela, desde amigos atores que havia acumulado pela carreira, até seus amigos mais antigos. Alguns se aproximaram dela e a encheram de abraços e beijos, dando parabéns e trazendo mais alegria para ela. Ji Hwan foi o último a abraçar e Lisa se surpreendeu ao ver que ele não chorava. Logo uma música alta preencheu o salão todo e Lisa perdeu a contagem de quantas pessoas a abraçaram.
Uma felicidade imensa lhe tomava o peito, suas bochechas até mesmo doíam de tanto sorrir. Se sentia tão amada e querida por todas as pessoas ao seu redor, que mal podia conter sua alegria. E então no meio de todas aquelas pessoas e de todo o barulho, seus olhos encontraram os de Chaeyoung e Lisa percebeu que, por pelo menos aquela noite, não tinha com que se preocupar com nada.
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