- Cara, estou cansado. Isso gasta minhas energias - disse Thomas.
Após estupidamente terem se separado do grupo, Thomas e John haviam viajado pelas sombras durante o percurso do túnel do meio. Cerca de uma hora depois de entrarem naquela comunicação, o touro que continuou seguindo-os, sumiu. Simplesmente sumiu. Evaporou. Como se nunca houvesse estado ali. Então pararam, descansaram um pouco e decidiram utilizar os poderes do filho de Hades a seu favor.
Mas já havia se passado umas belas duas horas desde que começaram a viajar de 100 em 100 metros. Thomas não aguentaria por muito mais tempo. Viajar pelas sombras é uma técnica complicada que exige muito treino e prática. E o que havia treinado e praticado até então só o permitia ir até ali.
- Certo - respondeu John - Quer sentar e descansar um pouco ou acha que aguenta continuar andando por mais algum tempo?
Thomas pensou no assunto por algum tempo e olhou em seu relógio antes de decidir.
- Vamos descansar - anunciou ele - Faz quase três horas desde que nos separamos no grupo e duas desde que começamos a viajar pelas sombras. Já é meio-dia e acho melhor comermos e descansarmos um pouco. Não sabemos mais quanto tempo ficaremos nesse túnel e também não sabemos aonde ele nos leva, muito menos o que nos espera aqui dentro. Lembra do que Al disse? Aqui está cheio de monstros. Melhor poupar nossas energias o quanto pudermos.
- Tem razão - concordou John.
Os dois se sentaram no chão de terra batida, se apoiaram na parede coberta de musgo, e começaram a abrir suas respectivas mochilas. Thomas observou a de John, que era obviamente feita para um público mais… feminino.
- Bela mochila - provocou.
- Ah, cara. Sua namorada que me fez ficar com essa mochila de menina! - respondeu John - Ela é problemática!
Thomas encarou John por trinta segundos segurando o riso.
- Você a está chamando de problemática? - perguntou ele.
- Sim, por quê? Você não gosta que a chamem assim? - questionou John, achando que Thomas estivesse falando sério.
- Não é isso. É que... Você a chamou de problemática sendo que ela é sua irmã GÊMEA. Portanto você indiretamente disse que também é problemático - disse Thomas desatando a dar risadelas de provocação.
John ficou parado por um instante compreendendo a fala do filho de Hades. Parecia que era tão lerdo quanto a irmã.
- Ah, cale a boca - finalmente disse fazendo Thomas rir ainda mais, até que por fim John começou a rir também.
- Mas enfim, - disse Thomas assim que as risadas cessaram - que comida você trouxe aí?
- Nem sei - respondeu John abrindo sua mochila para olhar o que havia dentro - Lauren praticamente arrumou minha mochila inteira. Mas aqui há sanduíches de alguma coisa que parece ser presunto, algumas frutas e barrinhas de cereal.
As vezes Thomas se irritava com o quanto Lauren tentava ser saudável.
- É peito de peru, não presunto. Ela já fez esses lanches para mim quando saí em missão - disse Thomas se lembrando do quanto passara fome naquela missão. Os lanches eram bons, mas não satisfaziam a fome tanto quanto as comidas que carregava - E que chato! Aqui tenho coisas melhores - Ele abriu a mochila e mostrou salgadinhos de todos os tipos e sabores, barras e mais barras de chocolate e até algumas latinhas de Coca-Cola.
- Cara, como você trouxe tudo isso na mochila? - perguntou John incrédulo.
Thomas apenas piscou e disse:
- Tenho minhas maneiras - É claro que não iria falar do acordo que havia feito com Hector, um dos filhos de Hefesto. O acordo consistia em Thomas dar aulas de luta corpo-a-corpo para Hector, enquanto ele “aprimorava” algumas das coisas de Thomas, entre elas a mochila. Prometera sigilo a Hector para que nenhum outro oportunista tirasse proveito de suas habilidades - Mas o que você prefere comer? Minha comida ou a de Lauren?
- Acho que não há dúvidas quanto à minha resposta, cara - disse John pegando um pacote de Doritos e fechando sua mochila.
- Ótimo. Só não vamos comer muito. Como eu disse, não sabemos quanto tempo vamos ficar aqui.
- Certo, acho bom comermos logo para termos um bom tempo de descanso. Não podemos ficar muito tempo aqui.
John e Thomas passaram a comer algumas das coisas. John comeu o pacote de Doritos inteiro e tomou uma lata de Coca-Cola, enquanto Thomas comeu um salgadinho de presunto e uma metade de um lanche de rosbife, além de alguns doces e uma lata de Coca-Cola.
- Ei cara, não acha melhor maneirar mais na comida? - perguntou John.
- Estou maneirando - disse Thomas comendo uma última barra de chocolate - É só que preciso comer bastante carboidrato e proteína para nutrir todo o meu corpo.
- De certa forma te entendo - John encostou a mochila na parede do túnel e deitou a cabeça nela - Thomas, o que você acha que pode acontecer?
Thomas, que também estava recostado em sua mochila, se apoiou no braço e olhou para John por um tempo.
- Em relação a o que? - perguntou o filho de Hades para John.
- Em relação a tudo... Eu estou com medo, ok? Não sei o que nos aguarda adiante nesse túnel. Podemos morrer nos próximos dez passos, como podemos sobreviver e chegar até o final - disse John.
Thomas deitou novamente e olhou para o teto do local.
- Tenho que lhe confessar que também temo um pouco, mas não temo pelo que encontraremos, e sim pelo meu, ou nosso, destino. Entenda, tenho medo de nos perdermos eternamente neste túnel e eu nunca mais ver a Lauren, assim como todos os nossos amigos. Então, para mim, não importa realmente o amor que você tem pela sua vida, mas sim o quanto você se importa com as outras vidas que te rodeiam.
- Quer dizer então que você não tem medo dos monstros?
- Ter eu tenho, é claro. Afinal, a maioria é realmente bem assustadora. Mas eu apenas penso no nosso destino, em como tudo ficaria melhor se não desistíssemos e continuássemos vivendo. Então eu excluo esse medo e apenas enfrento o que eu tiver de enfrentar.
- Certo - concluiu John bocejando - Acho melhor descansarmos.
- Também acho - Thomas fechou seus olhos, não com o intuito de dormir, mas de relaxar, porém acabou pegando no sono. Pelo menos foi um sono sem sonhos. Talvez sua situação fosse tão ruim que não precisasse de sonhos terríveis para lembrá-lo disso.
Thomas acordou assustado e desesperado, assim como John, que pelo visto também havia cedido ao poder de Hipnos. Ele olhou em seu relógio e notou que já eram duas horas da tarde.
- O que foi isso? - perguntou John.
Thomas deu de ombros. Não sabia de onde vinha e, pela primeira vez, estava com medo por não saber o que esperar. O barulho fora ensurdecedor. Não havia escolha exceto acordar, de modo que Thomas se espantaria se John continuasse dormindo.
O ruído era um grande rugido que ecoou pelo túnel por cerca de dois minutos. Thomas se distraiu e, quando notou, John já tinha quase todas as suas coisas recolhidas, pronto para partir. Thomas rapidamente recolheu as suas, pôs sua mochila nas costas e assentiu para John.
- Você sabe de que direção veio o barulho? - perguntou John - Seria mais sensato tomarmos o caminho contrário ao da origem do ruído.
- Certo - respondeu Thomas - Mas de qualquer jeito não estou a fim de voltar tudo o que andamos. Você por acaso se lembra por qual caminho viemos?
- Oh, droga. Vamos escolher um caminho e tentar ver onde dá.
- Certo, vamos ir pela direita.
Thomas e John foram caminhando lado a lado por cerca de meia hora, quando novamente o rugido estrondoso atingiu os dois. O barulho estava tão alto que fez o coração de Thomas tremer. Parecia mais perto. Thomas ainda não saberia dizer onde estava a criatura que originava os gritos, se estava na sua frente ou nas suas costas. As tochas de fogo grego iluminavam grande parte do caminho a sua frente.
Estancaram imediatamente ao verem uma pata ligada por um antebraço animal, com tamanho semelhante a um pneu. Por conta da distância, apenas se via aquela parte do corpo da, provavelmente imensa, criatura.
John fez sinal de que também a viu e com um aceno de dedos de Thomas, grudaram à parede mais próxima do túnel e começaram a esgueirar-se por ela, em uma tentativa provavelmente falha de não serem vistos, já que aquela parte do túnel era reta. Se aproximaram cerca de dez metros até que conseguiram ver o monstro por completo.
Era um leão do tamanho de uma picape, com pelos dourados e reluzentes feito ouro - que estranhamente não se adaptavam ao ambiente ligeiramente verde, efeito das tochas de fogo grego -, garras prateadas e presas que brilhavam como aço inoxidável, que se viam por conta da boca semiaberta da criatura. Sua juba era majestosa de tal forma que quase fez Thomas se ajoelhar apenas por fixar seus olhos nela. O leão mantinha o olhar preso nos dois semideuses como se pensasse “Esses idiotas realmente acham que estão se escondendo de mim? Noobs”
A imensa criatura rugiu novamente, obrigando Thomas e John a taparem seus ouvidos com força, o que não foi suficiente. O leão parecia ter mais de mil cordas vocais da Whitney Houston para rugir tão alto daquele jeito. Mesmo que Thomas tentasse, não conseguia evitar receber a maior parte do ruído que o bicho fazia.
John tentava reproduzir algum tipo de fala, porém o barulho que a criatura emitia era tão alto que era impossível tentar falar. Quando o monstro cessou o rugido, John emitiu um ruído que Thomas pôde reconhecer como sua voz, provavelmente bem debilitada por causa da tentativa de gritar enquanto a criatura rugia.
No mesmo momento, impaciente, o leão avançou. Sua posição imperativa impulsionou Thomas a perceber que se continuassem naquele esconderijo fajuto - se é que podiam chamar aquilo de esconderijo - acabariam encurralados. Era correr ou morrer. Eles, de alguma forma, preferiram a primeira opção. Se viraram na direção contrária à da fera e começaram a correr com todo o fôlego que tinham.
- Precisamos enforcá-lo! - gritou Thomas.
- Enforcar? - gritou John de volta, porém meio rouco por causa das tentativas de falar enquanto o leão rugia.
- O Leão de Neméia não pode ser morto por espadas ou flechas, apenas por enforcamento. Foi como Hércul… - a criatura rosnou ao ouvir o nome - O cara fortão, o matou. Percy também enfrentou esse monstro há alguns anos e descobriu que também é possível matá-lo por dentro. Na época, ele usou comida desidratada para fazer o leão engasgar e, assim, permitir que as Caçadoras de Ártemis enviassem uma saraivada de flechas para dentro de sua goela. Mas acho que não conseguiríamos fazer isso, então só nos resta enforcá-lo! - a voz de Thomas falhou no final da frase, obrigando-o a sugar uma grande lufada de ar para dentro dos pulmões que já reclamavam.
John sorriu de uma maneira sinistra.
- Eu estava mesmo procurando um propósito para toda essa musculação.
- Pode crer - concordou Thomas que havia adquirido muitos músculos durante seus três anos de acampamento. John, mesmo tendo uma experiência praticamente nula no acampamento, possuía vários músculos, provavelmente provenientes de suas lutas contra monstros antes de chegar na Colina Meio-Sangue.
- Precisamos de um plano pra iniciar - disse John;
- Certo. O plano é: não temos plano.
John ficou esbugalhado.
- O quê? Você está louco?
Thomas apenas sorriu e disse:
- Geralmente as lutas contra monstros só dão certo quando não temos plano algum. Lembra de quando lutamos contra os dois cães infernais? Foi um belo exemplo dis… - Thomas olhou para o lado e vislumbrou uma comunicação do túnel - Direita!
Os dois viraram para a direção anunciada, entraram no segundo túnel e pararam. O leão só percebeu a mudança de movimento alguns metros a frente e então parou. Thomas e John saíram do prévio esconderijo andando - embora estivessem ainda ofegantes - e se posicionaram na frente da fera no mesmo momento em que esta se virava para encará-los frente a frente.
- É hora da festa - disse Thomas estralando os dedos da mão.
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