- Henry, da próxima vez não fale que vai ser fácil. - Nero reclamou ao lado de Sophie enquanto esperava o resto do grupo subir uma ladeira realmente íngrime, pela qual ele havia subido com facilidade. - Não sei se você reparou mas esse túnel gosta de zoar com a nossa cara.
Haviam encontrado aquela ladeira depois de um longo descanso seguido de duras horas de caminhada.
- Nero, você esta sendo injusto com ele. - Sophie falou ainda surpresa por ter conseguido voar aquele pedaço, mesmo sem ter conseguido carregar ninguém. - Ele não tem culpa de ser azarado.
- É, vamos lá, não o trate assim - disse Lauren excessivamente ofegante. - Mas Henry, da próxima vez apenas fique quieto, sim?
- Ok, chega de falar do meu azar. - Henry estava farto de todos reclamarem de tudo que ele dizia - Vamos falar de algo mais legal, que tal… Alguém sabe onde vamos acabar parando?
- Em algum lugar da Califórnia - Nero disse de prontidão, como se esperasse essa pergunta.
- Ou seja, podemos acabar em San Francisco logo ou perto da fronteira com o Oregon. - disse Lauren aborrecida.
- Ou podemos sair em Beverly Hills. - Nero completou. - Ou em qualquer outro lugar.
- Eu não reclamaria se fosse em Beverly Hills - ponderou a garota.
- Você está falando como uma filha de Vênus - Henry riu.
- Até porque me pareço muito com uma - ela disse brincando, mas Henry percebeu que Nero já ia se preparar para responder.
- Como nós atravessamos o país tão rápido? - Sophie perguntou.
- Quando construíram esse túnel, nós gregos pedimos ajuda a Hermes para que distâncias aparantemente curtas equivalessem a centenas de quilômetros na superfície. - Lauren disse chegando ao topo da ladeira e deitando no chão para recuperar o fôlego - É assim que os acampamentos ficavam a menos de meia hora de viagem, facilitando o intercâmbio entre acampamentos, trocas de armamentos, entre outras coisas. E alguém pode me arrumar água, pelo amor dos deuses?
- Quem tem hidrocinese é você, Gatinha. - disse Nero pegando uma garrafa d’água e jogando pra ela.
- Não… Me chame… de Gatinha - disse Lauren, entre longos goles.
“Eu não me importaria se você me chamasse assim, obrigado por perguntar”, Henry pensava enquanto terminava de subir a ladeira que parecia inacabável.
- Lembre-se que Henry também precisa de água. - Nero falou despertando o garoto loiro de seus devaneios - Só tenho mais duas garrafas. E ainda não sabemos o que tem nos próximos, entre dois e três quilômetros.
- No momento eu só quero saber de quem foi a ideia de jerico de colocar uma ladeira no meio de um túnel. - disse Lauren se recuperando.
- Como o Nero já disse… - Henry se intrometeu. - Talvez do Túnel. Afinal ele muda.
- Ele não muda, Henry. - Nero riu - Ele só é confuso, eu que sinto coisas diferentes em pontos diferentes. Bem, vamos andando antes que eu tenha um tilt de novo, ficar parado não é bom.
O grupo continuou andando pelo túnel por um bom tempo sem mais problemas. Lauren discutiu com Nero sobre “quem tinha elegido ele como líder”, mas Henry não estava preocupado com isso. Naquele momento ele só queria dar umas porradas em Cupido. Ele achava que Nero estava gostando muito de discutir com a garota, pois essas discussões estavam começando a ficar muito frequentes. Ele confiava e gostava muito da nova amiga, mas estava começando a ter ciúmes dela.
- Sr. Mapa Ambulante, falta quanto pra chegarmos a “qualquer lugar da Califórnia”? - Disse Henry enquanto os semideuses se aproximavam de uma esquina do túnel, o que não era tão frequente.
- Cerca de… - Nero arqueou as sobrancelhas e fechou os olhos - Agora.
De repente o túnel foi invadido por uma luz que cegou até Henry por alguns instantes. Quando a luminosidade se tornou aceitável para um filho de Apolo, Henry pôde observar que Lauren e Sophie ainda pressionavam os olhos com as mãos e Nero observava a vista que o túnel oferecia com um sorriso de satisfação.
- Muito obrigada pelo aviso - disse Lauren enquanto praguejava em grego antigo.
- Mas como não notamos tamanha claridade a alguns metros? - perguntou Sophie.
- Magia do túnel, se não me engano - respondeu a outra garota.
- Então não reclame para mim - disse Nero com seu sorriso explicitamente estampado no rosto.
Lauren o encarou como se pudesse matá-lo naquele momento. Henry sentiu um aperto no peito e não pôde impedir que uma tosse forçada saísse de sua garganta.
- Bem, o Nero quase acertou, garotas. - disse ele com um sorriso radiante, mais por conta de finalmente terem
chegado a algum lugar - Bem vindas a algum lugar com bastante mato.
E era verdade, o túnel acabava em um buraco de cerca de um metro de raio, e acima dele apenas podia-se ver árvores e arbustos. O problema é que a saída ficava no teto do túnel, ou seja, a cerca de três metros do chão. Havia uma escada ao lado da abertura, mas sua madeira possuía um aspecto tão podre e parecia tão bamba que Henry decidiu não confiar nela.
- Mais precisamente, estamos a 5,632704 quilômetros do centro de Beverly Hills. - o sorriso de Nero se alargou. - É tão bom voltar a saber onde eu estou.
Henry não conseguiu impedir que seus olhos capturassem aquele momento detalhadamente. Nero raramente sorria daquele jeito, apenas quando se sentia extremamente triunfante. Quando isso ocorria, seus olhos se estreitavam tanto que quase chegavam a virar fendas, e seus dentes ficavam totalmente à mostra, revelando um sorriso que Henry considerava lindo e resplandecente, embora não fosse exibido ocasionalmente. O filho de Apolo considerava aquele sorriso ainda mais brilhante e lindo que o sol.
Infelizmente todos, menos Nero, notaram que Henry estava quase babando enquanto observava o outro garoto e Sophie deu-lhe uma cotovelada de leve no braço como se dissesse “Vai com calma, você o está encarando descaradamente”.
- Certo, alguém faz alguma ideia de como subir até lá? - disse a garota - Não sei vocês, mas não estou tão disposta a testar aquela escada.
- Eu quero testar. - Nero sorriu. - Mas não confio nela para outras pessoas. Acho que tenho uma corda na mochila.
Henry olhou para o melhor amigo pensando “Quem é você, e porque não fez uma piada com isso?”. Nero respondeu com o sorriso sarcástico de sempre.
- O quê? - exclamou Lauren - Mais esforço físico? Tudo bem, podem ir, eu fico por aqui.
- É claro, que você pode tentar a escada igual a mim.- Nero a encarou, antes de começar a subir a escada com cautela. - Ou esperar nós passarmos no Beverly Hills Mall’s e comermos alguma coisa. Eu te trago um sanduba se você quiser, Gatinha Manhosa.
Henry jurava que o olhar de Lauren poderia atear fogo em algo, mas Nero apenas encarava de volta e subia a escada. Eles não podiam dar um tempo apenas por alguns minutos? Henry definitivamente detestava quando os dois brigavam.
Assim que Nero conseguiu terminar de subir a escada, abriu a mochila e começou a procurar a corda. Ele tirou de lá três toalhas, dois isqueiros, um pégaso azul de crina multi-colorida de pelúcia, uma caixa de tênis e finalmente um rolo de corda. Após guardar os outros itens de volta na mochila, jogou a corda que, felizmente, foi até o chão do túnel.
- Que droga de pônei de pelúcia é essa? - Lauren perguntou
- É a Rainbow Dash. - Nero disse com possessividade evidente na voz - E é minha. Foi um presente da minha primeira amiga. Fim. De. Papo.
Henry achava essa atitude tão adorável. Mas pelo visto as meninas não. Lauren encarou Nero com uma típica cara de coxinha enquanto Sophie possivelmente encarava o garoto na esperança de que dissesse “é brincadeira, achei no chão e decidi pegar pra mim”. Tão ingênua.
- Muito másculo - retrucou a filha de Poseidon simplesmente.
Ela imediatamente lançou a Henry um olhar de desculpas, claramente com medo de que tivesse o ofendido. Mas ele apenas balançou a cabeça para indicar que estava tudo bem, não se ofendia com esse tipo de coisa.
- Pelo menos é uma lembrança que eu tenho. - disse Nero ignorando a fala de Lauren, e tirou o brinquedo de dentro da mochila e encostou na testa. - Eu queria lembrar melhor dela. Ao menos seu nome.
- Por que você não se lembra dela? - Sophie perguntou - Se ela era tão importante a ponto de fazer você carregar um My Little Pony de pelúcia na mochila a vida inteira, você deveria pelo menos lembrar o nome dela, não?
- A Sophie tem razão. - Lauren falou pensativa. - Você vive reclamando que não tem espaço o suficiente pra carregar a quantidade de água que você queria, mas carrega ele. E ele ocupa o espaço de umas seis garrafas de água.
-Ela. - Nero corrigiu. - E ela é importante, quase tanto quanto carregar mais seis garrafas d’água. Pelo menos pra mim.
- Gente, vamos parar de zoar a única pessoa que sabe como chegar perto de uma droga de uma lanchonete? - Henry falou, ansioso pra defender o amigo - Além disso é só um bichinho de pelúcia, aposto que vocês também tem um.
- Mas nós somos ga-ro-tas. - Lauren sorriu enquanto falava a ultima palavra sílaba por sílaba. - E não tenentes de Nova Rova.
- Ela tem razão, Henry. - Nero guardou sua pelúcia, e se levantou. - Mas dane-se. Vocês preferem McDonalds ou Burguer King?
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