Lapis nunca havia ficado nervosa em uma apresentação, o palco era uma extensão de sua alma, menos desta vez... A garota está em pânico, suando frio, tremendo. Peridot não deu as caras como normalmente dá. Isso deixou a morena triste e preocupada. E se a garota foi grossa com Peridot? E se ela disse o que não devia? Ela não se lembrava de nada!
Uma hipótese avassaladora passou pela cabeça da garota: e se Lapis tivesse se declarado ao rapaz? Deve ter sido por isso que ele não apareceu. Ela o deixou constrangido. Peridot deve ter fugido. As pernas de Lazuli cederam, mas por sorte havia uma cadeira para ampará-la.
- Pessoal, vamos lá! É hora do show! – Steven puxou o grupo.
Lapis olhou para o violino em sua mão, fechou os olhos, suspirou, se levantou e foi andando em direção ao palco com um meio sorriso. Teria que controlar tudo em si para conseguir tocar sem aparentar o nervosismo e preocupação em seu coração. Depois da apresentação ela descobriria o que aconteceu e pensaria em um modo de pedir desculpas ao rapaz.
Ao atravessar a cortina, a garota olhou para baixo e foi subindo lentamente o olhar, um truque que descobriu para não ser cegada pelas luzes do palco. Seu coração batia freneticamente e sua respiração estava pesada e descompassada. Ouviram-se palmas e alguns assobios enquanto o grupo foi se arrumando. Lazuli tentava esvaziar sua mente, concentrar-se apenas no violino, mas estava difícil. A imaginação da garota a fazia ver Peridot raivoso, triste, com medo, brigando com ela.
Lapis respirou fundo, olhando as cordas de seu violino brilharem com a luz, assim como o verniz que cobria a madeira. Pensou no dia que aprendeu a tocá-lo, lembrou da emoção que sentiu quando se apresentou pela primeira vez... Os aplausos... Os aplausos de Peridot no ensaio, seus elogios e como ficou feliz com eles. A morena encheu seu coração de felicidade, não deixando muito espaço para o medo se alastrar e controlar seu violino. Afinal, a única que pode tocar esse instrumento é Lapis Lazuli!
A violinista conseguiu se concentrar e tomou sua pose habitual. Uma olhada rápida para a multidão e:
- Peridot! – Lapis disse em tom baixo com um sorriso.
O rapaz estava na terceira mesa da primeira fileira, bem de frente para ela. Peridot estava com um meio sorriso e acenou com a mão, fazendo o coração de Lapis suspirar e se acalmar um pouco. Ao menos ele estava lá.
O show aconteceu como o previsto, sem intercorrências e com aceitação total do público, fazendo com que a clientela do bar dobrasse naquela noite. Lazuli conseguiu tocar com o coração um pouco mais leve, encantando todos que a ouviram, como sempre. Contudo, Peridot percebeu que as notas não estavam tão leves quanto no dia anterior, causando certo nervosismo no rapaz.
Como costume, o grupo tocou até uma hora antes de fechar. Já na sala atrás do palco, Rose fez questão de fazer um abraço em grupo para comemorar e, depois de guardarem os instrumentos, se dirigiram a uma mesa, aproveitando para agradecer o dono do estabelecimento. Lapis agradeceu e olhou para trás, vendo Peridot conversando com suas parceiras. Ruby parecia estar discutindo com o rapaz.
Lazuli hesitou, sabia que precisaria encarar o rapaz em algum momento. A morena sacodiu a cabeça e respirou fundo antes de tomar sua decisão. Ela se virou para sua mãe, ao seu lado, falando em tom baixo:
- Vou ver o senhor Richard, logo voltarei... – Rose olhou para trás, avistando o rapaz, então assentiu com um sorriso.
Lapis sorriu em retorno e se virou, caminhando a passos curtos e temerosos, seu coração acelerando mais e mais. Rose, Pearl e Amethyst observavam o caminhar da garota com curiosidade. Elas sabiam que Lazuli estava nervosa, mas não entendiam a razão.
A garota estava a poucos centímetros de distância da mesa quando Peridot resolveu se levantar, se virar e caminhar, batendo de cara no tórax da garota, a deixando sem ar por alguns segundos, levando as mãos no local da pancada e tossindo um pouco para fazer sua respiração voltar ao normal. As três moças na mesa do rapaz, Pearl, Amethyst e Rose, do outro lado do bar, precisaram segurar o riso.
- My stars! M-Mil perdões! N-Não foi minha intenção! E-Eu... Lapis?
- E-Eu... – Lapis tossiu uma última vez – Eu que peço desculpas! D-Devia ter anunciado minha presença...
- A-A culpa foi inteiramente minha. Devia ter prestado mais atenção. – Peridot elevou a mão hesitando em tocar o braço da garota.
- Isso não importa... O que importa é que você veio! – Lapis sorriu, derretendo o coração do loiro.
- Oras... P-Por qual razão não viria? – Scarlett revirou os olhos e cruzou os braços com a fala de Peridot.
- T-Talvez p-por algo que tivesse acontecido ontem... – Peridot gelou – Eu preciso lhe dizer... N-Não me lembro de nada d-depois que Violet caiu no palco. N-Não estava sobre controle de mim mesma então... S-Se eu fiz alguma coisa... Me perdoe!
A face de Lapis estava torcida, seus olhos fechados com força, assim como suas mãos. Estava preparada para uma enorme onda de raiva se assim fosse.
- Não se lembra de nada? Nada mesmo?
- Infelizmente não... Me desculpe... – a adrenalina presa ao corpo do rapaz foi descarregada de uma vez e um alívio imenso o atingiu.
- Tudo bem, não se preocupe com isso. Eu... T-Também não lembro de nada! – Peridot mentiu, soltando um riso fraco – Não acho que perdemos grande coisa.
- Talvez esteja certo! – agora o alívio foi de Lapis, fazendo-a relaxar todo seu corpo rijo – Então... Gostou da apresentação?
- Se gostei?! Foi incrível! Mais uma vez, foi incrível! A música que cria, dança em meus ouvidos, me levando a um incrível estupor de felicidade!
- Está sendo exagerado mais uma vez... Eu... Acabei errando algumas notas no caminho... – Lapis estava vermelha e evitava contato visual com o rapaz que abria a boca para falar.
- Filha! Estamos indo para casa! – Greg disse do outro lado do local levando um cutucão e uma cara feia de Rose logo em seguida – Ai! O que fiz eu?!
- Já estou indo, meu pai! – Lapis respondeu, se voltando para Peridot em seguida – Te vejo amanhã?
- Com toda certeza... – Peridot beijou a mão de Lazuli – Boa noite, my lady.
- Boa noite... My lord. – Lapis respondeu com uma reverência antes de se virar e ir embora com o olhar brilhoso.
Lapis já tinha colocado sua camisola de cetim e estava sentada na cama, de olhos fechados, tocando um violino imaginário com um enorme sorriso quando Rose passou pela porta do quarto, parando para observar. Lazuli tinha esse costume desde que aprendeu a tocar o instrumento. Esse é seu jeito de compor, utilizando a memória e os sentimentos, sem nenhum papel ou tinta.
A mais velha reconheceu os acordes, formavam uma suave música em seus pensamentos. Rose sorriu, ela conhecia aquela expressão no rosto da filha. Steven viu sua mãe parada, espreitando a porta do quarto da irmã e resolveu se aproximar.
- Mãe? – Rose se assustou, colocando a mão direita no peito enquanto dava indicação para Steven falar mais baixo – Perdões por ter te assustado, mas... O que está fazendo?
- Observando sua irmã... Ela está compondo... Compondo para Richard.
- Ela e o senhor Peridot ficaram bons amigos, não é?
- Diria que eles são mais que amigos...
- É... São melhores amigos... – Rose olhou para seu filho com descrença e confusão – O que foi?
- Acredito que mais que melhores amigos... – agora foi a vez de Steven olhar para a mãe com confusão.
- Acha que são namorados?
- Namorados? Não... Ainda não, mas que eles se amam... Ah... Isso é claro como o dia.
- É?
- Sim! Lapis sorri muito mais que antes, sua música está muito leve e solta. Além de que ela sempre toca olhando para ele... Talvez ela mesma não saiba que o faz... – agora ambos olhavam para Lapis que continuava sua composição – Esse sorriso dela me lembra do tempo em que conheci o pai de vocês...
- A senhora e o pai se viam muito?
- Oh sim! Seu pai dava mil desculpas para passar na porta do pub onde cantava... – Rose soltou uma risada – Ele estava do outro lado da cidade, mas aparecia todas as segundas, quartas, sextas e domingo com um saco de lixo quase vazio para deixar na lixeira da ruela atrás do pub. O resto dos dias ele vinha pedir açúcar para o dono do bar com uma xícara! Primeira vez que fui em sua hospedagem, vi dois potes de marmelo lotados de açúcar... Acredita que ele estava medindo o tempo com os potes?
- Acho que não entendi... Como assim, medindo o tempo com os potes?
- Ele olhava para os potes toda manhã e dizia que quando enchesse, ele viria falar comigo... No primeiro pote seu pai veio me elogiar, mas ele estava tão atrapalhado que mal entendi uma sílaba!
- Entendi agora! Então no segundo pote ele conseguiu.
- Não... Na verdade não... No tempo do segundo pote encher, ele se sentou em uma mesa e assistiu meu show, mas antes dele aparecer em meu camarim, eu fui até ele. Primeira vez que o vi, fiquei encantada! Cheguei a ver alguns shows dele também, porém fui bem mais discreta... Tanto que até hoje ele não sabe... Bons tempos... – Rose suspirou, voltando a olhar sua filha – É exatamente o mesmo sorriso, o mesmo olhar... Em ambos... O mais puro amor juvenil e verdadeiro...
Antes de se recolherem, Steven e Rose viram Lapis fechar os olhos, soltando um risinho simples, apagando as luzes e se preparando para dormir abraçada a um travesseiro. Ainda pensando em seu amado, Lazuli entrou no mundo dos sonhos.
O dia seria um dos mais quentes daquele mês. De manhã, Peridot se vestiu de forma adequadamente formal, usando um terno cinza, uma gravata borboleta verde escuro e um Oxford da mesma cor do terno. O loiro não notava que Garnet estava em pé na porta aberta de seu quarto.
- Sabe que...
- MY HOLLY COMET! – Peridot se assustou e cobriu inconsciente o tórax, mesmo estando completamente vestido.
- Sabia que já éramos para estar na Itália, não é? – Garnet ignorou o susto do amigo e continuou falando.
- S-Sabia que é falta de cortesia entrar em um quarto que não lhe pertence?
- Não estou dentro de seu quarto. – Peridot olhou Garnet de cima abaixo, abriu o armário e pegou uma cartola – O que fará com Lapis e Raven?
Peridot fechou o armário em silêncio, esse é um assunto delicado.
- O que existe entre vocês é amor, isso é óbvio. – a morena disse ao notar o silêncio do outro – Não vai simplesmente deixa-la, vai? Como algumas outras que conheceu?
- Não a insulte! Lazuli é diferente de tudo que já conheci! Não vou deixa-la! Nunca! – o loiro apertava as mãos com raiva que logo se transformou em tristeza – Mas não posso contar...
- Sabe que precisa.
- ... ... ... Não posso! E-Ela não me aceitaria.
- Conte ou deixe-a. Não há outras opções. Faça sua escolha com cuidado, não vai querer falir o que restou de sua família.
Peridot subiu o olhar com surpresa, mirando os orbes heterocromáticos e frios de sua amiga. Garnet é a razão do grupo. Sua frieza e seriedade são imprescindíveis nos negócios, fazendo todos os chantagistas de má fé perecerem em poucas conversas. Garnet é uma excelente negociante, mas péssima em conselhos amorosos. No entanto, ela estava certa.
A morena deixou Peridot sozinho em seus pensamentos. Seu segredo é algo grave e escondido a vários e vários anos, revela-lo poderia fazer sua empresa falir ou pior, afastar sua amada de uma vez por todas. O loiro quase perdeu Lapis uma vez e por um enorme erro dele próprio, não podia deixar Lapis escapar pelos seus dedos, não de novo. Poderia arriscar e perder tudo? Lapis lhe aceitaria depois que soubesse da verdade?
Gotas de suor começaram a surgir pelo meio dos fios loiros e escorrer por sua testa. Sentia sua gravata apertada em seu pescoço, a afrouxando um pouco com o dedo e secando o caminho molhado que as gotas de suor deixavam.
Peridot seguiu decidido até a oficina, onde Lapis estaria trabalhando em seu Packard, como sempre faz nesse horário. O loiro tentava não pensar no que iria falar para evitar em voltar atrás com seu objetivo.
O caminho parecia muito mais longo e exaustivo que o usual, seus passos estavam pesados e seu colarinho atrapalhava sua pulsação. Será que sua gravata estava apertada demais? O loiro afrouxou um pouco mais, porém aquilo não havia melhorado em nada sua agonia. O sol a pino também não ajudava em nada além de cozinha-lo dentro de suas roupas escuras e grossas.
Faltavam dois quarteirões e Peridot estava suando frio, sua produção de saliva estava insuficiente e, de certa forma, deixava sua boca mais seca ainda, sua vontade de voltar atrás estava incontrolável.
O loiro repetia as palavras de Garnet em sua mente. Conte ou deixe-a, conte ou deixe-a, conte ou deixe-a... Deixa-la? Nunca! Mas e qual será a reação de Lapis? Talvez acredite ser uma piada, talvez acredite de verdade... Talvez Lapis sinta nojo ou raiva... Talvez ambos! Peridot engoliu em seco e virou a esquina, Lazuli estaria no galpão logo a frente, no entanto...
- Está fechado? – Peridot mirou o portão por alguns segundos até dar de ombros com um certo alívio – Então passo mais tar... FOR MY COMET!!!!
O ombro de Peridot foi tocado, assustando o loiro, fazendo-o pular e se virar.
- Se acalme! Sou eu! – Lapis disse ao notar o susto – Estava procurando por mim?
A morena está com um macacão azul, suas mangas dobradas devido ao calor, em seus pés, uma sapatinha simples marrom, sem meias. Lapis está portando uma maleta de metal vermelha.
Peridot se perdeu na repentina aparição de Lapis, demorando alguns segundos para voltar ao normal:
- E-Estava, de fato estava... Q-Queria convidá-la para um passeio... – Peridot mentiu – T-Te pago um drinque!
- O senhor é muito gentil, mas acho que não... Não sei se quero repetir a dose daquela noite... – Lapis disse torcendo a boca e desviando o olhar antes de encarar seu amigo com preocupação – O senhor está bem?
O coração do loiro estava disparado, gotas de suor escorriam por seu rosto e sua gravata parecia querer esganá-lo a qualquer custo. Sua cabeça estava começando a ficar embaralhada e seus sentidos bagunçados, os sons captados estavam mais baixos e os olhos verdes do rapaz demoravam a focar em Lapis e desfocavam em uma velocidade absurda.
- Certo! M-Muito certo... Um suco pode ser? – Lapis sorriu de canto e assentiu.
- Um suco então... Mas antes, preciso fazer um serviço rápido em seu automóvel... Consegui a peça faltante dele! Depois dessa só restará fazer a lataria e pintura, mas isso eu faço com mais calma e em outra hora...
- J-Já que é somente a troca, esperarei pela senhorita e vamos juntas... Juntos...
- O senhor está bem? – Lapis tocou delicadamente a testa de Peridot, medindo sua temperatura – Está quente, suando e Peridot?!
O rapaz cambaleou, seu senso de equilíbrio se esvaiu e sua visão foi ficando mais e mais turva, seus ouvidos já não captavam som algum, suas pernas cederam lentamente e sua última visão foi Lapis amparando-o em seus braços, evitando assim, sua queda iminente.
A morena entrou em pânico, Peridot desfaleceu. O que a menina poderia fazer? Como ela devia proceder? Sem opções, Lazuli pegou o corpo molenga do loiro e o levou com certa dificuldade até dentro do galpão. Lapis procurava um local macio para colocá-lo, o único disponível é o banco de couro do Packard.
- P-Peridot? – Lapis chamava o loiro – O que raios eu posso fazer?!
Chamar ajuda? Isso é óbvio, mas ajuda de quem? O galpão é afastado de casas e qualquer movimento da cidade, não havia uma alma viva na rua. Seus pais? Mas isso significaria deixar o loiro sozinho. E se ele tivesse algum piripaque enquanto Lazuli estivesse fora? E se ele estiver tendo um piripaque agora? O que a morena poderia fazer?
A única opção era leva-lo para sua casa, certamente sua mãe saberia o que fazer. Mas a morena quase não conseguiu carrega-lo por menos de cinco metros, como faria para carrega-lo por mais de um quilômetro? O Packard. No entanto, faltava uma peça para que o automóvel estivesse operacional. Peça que estava nas mãos da morena.
Lapis pegou a caixa de ferramentas, levantou a parte da frente do motor às pressas, fazendo Peridot se movimentar e resmungar. Sem cerimônias e com uma agilidade imensa, Lazuli ligou as juntas, conectou as mangueiras, encapou os fios e pronto!
Lapis nem limpou o suor de sua testa e ajeitou Peridot para que ficasse sentado no banco e saiu a toda velocidade. O loiro resmungava a cada curva e solavanco que o automóvel dava, no entanto, ele não acordava.
A motorista foi tentar parar o carro, porém notou que o freio estava solto e inoperante. Ela havia esquecido de conectar o cabo do freio. Justo o freio... Conhecendo a logística do motor, a morena encontrou uma saída. Perigosa e arriscada, mas uma saída.
- Droga! – Lapis acelerou ao máximo o Packard, ironicamente, precisaria de toda a velocidade se quisesse parar o automóvel.
Vendo que estava quase na frente do hotel e a rua estava quase deserta, Lapis agarrou Peridot com o braço esquerdo e virou o volante com toda a força do direito, dando vários cavalos de pau para fazer o combustível voltar pela mangueira e afogar o motor, fazendo-o parar quase enviesado em cima da calçada.
O barulho dos pneus derrapando chamou atenção das pessoas que estavam por perto. Logo, havia uma pequena multidão de curiosos murmurando sobre o novo incidente com o mesmo Packard.
- Lapis?! – a garota ouviu uma voz conhecida, mas não conseguia focar no dono dela.
A morena balançava de um lado para outro, seus olhos rodavam, tentando ajustar o mundo a sua tontura pelas seguidas e rápidas rotações do automóvel. Levou poucos segundos para conseguir focar em Steven que já voltava para chamar seus pais para ajudar em mais um resgate.
- Lapis?! O-O que aconteceu?! E-Está ferida?! – Rose disse em exclamações, correndo para verificar se a filha estava bem, mas parando para observar Peridot – Oh minhas estrelas! Greg!
Lapis desceu do Packard e deu dois passos para trás, se apoiando na lateral do cavalo de metal.
- E-Eu não sei o que aconteceu! E-Ele... Ele estava suando e... E desmaiou! N-Não sabia o que fazer...
Rose deu uma olhada no rapaz, verificando sua respiração e pulsação. Nesse exato instante, Peridot abriu os olhos lentamente. O loiro se deparou com a face de Rose bem próxima da sua, se assustou e deu um pulo para trás, caindo do banco do Packard direto com as costas para o chão.
Lapis, Rose, Steven e Greg correram para acudir o rapaz que permanecia deitado no cimento, seu cérebro ainda tentava entender o que acontecia, além de recuperar seus sentidos que voltavam lentamente.
- O-O que aconteceu? E-Eu estava n-no galpão com a senhorita Lazuli e... Oh my stars... E-Eu desfaleci?
Lapis e Rose ajudaram o caído e confuso a ficar em pé.
- O senhor estava suando e... – Lapis começou a falar – E o senhor... Apagou. E-Eu não sabia o que fazer e... Apenas... Te trouxe até aqui.
- Foi insolação que pegou o senhor. – Rose disse em explicação – Deveria usar roupas mais leves...
- A-Agradeço pela ajuda e peço desculpas pelo incômodo... – Peridot tentou desconversar – Se me derem licença...
- Não senhor! O senhor precisa descansar! Prepararei um banho frio. – Rose disse em tom autoritário.
- Mas...
- O senhor acabou de desmaiar! Não fará nada hoje a não ser descansar! Avisarei suas companheiras mais tarde.
Sem opções, Peridot acatou as ordens de Rose. Enquanto ela preparava o banho frio do rapaz, ele permaneceu sentado em uma das cadeiras da sala de jantar, sob o olhar atento de todos os moradores da casa, principalmente Lapis.
O loiro não conseguia encarar os orbes azuis da morena, sentia muita vergonha por ter desmaiado em seus braços, ainda mais sabendo da verdadeira causa de seu desmaio. É claro que o calor do dia foi um fator contribuinte, mas não o principal. O nervosismo foi o culpado. Peridot nunca lidou bem com tal sentimento, chegando a passar mal em vários outros momentos não tão cruciais ou mais cruciais.
- Pode entrar... – Rose chamou o rapaz – Quer ajuda com...
- N-Não! Não precisa, j-já estou bem... Obrigado...
Rose assentiu e deixou Peridot entrar, fechando a porta em seguida. Lapis ainda estava preocupada com ele. Ela sentia que havia algo o perturbando, porém resolveu acreditar que era relacionado com o desmaio.
Rose estava certa, o banho frio fez muito bem ao rapaz, esfriou o corpo febril e acalmou seus nervos. Depois de se secar e colocar uma roupa de Steven, bem mais fresca e larga, o loiro foi alimentado e mantido sobre constante vigilância de Rose e Lapis.
Quase no fim da refeição, Rose se pronunciou:
- Lapis, se importaria de ceder sua cama ao senhor Peridot por essa noite?
- Perdão?
- Perdão?
Tanto Lapis quanto Peridot disseram em uníssono.
- A-Agradeço pela hospitalidade e os cuidados, mas preciso voltar ao meu apartamento. – Peridot disse calmo.
- Pois hoje o senhor não irá! Suas companheiras não estarão lá essa noite, Greg foi informado disso a pouco tempo... Não posso deixa-lo sozinho depois do evento de hoje mais cedo...
- Ah! É verdade... A reunião com o senhor Bournet...
A morena e o loiro ponderaram e acabaram acatando a decisão da senhora MacDonovan. Lazuli arrumou sua cama para o rapaz e esticou alguns panos no chão ao pé da mesma, fazendo a si própria um colchão improvisado.
Peridot vestiu uma das roupas de dormir de Steven, novamente, ficando mais larga do que o normal. Ele agradecia às estrelas por isso.
O loiro chegou na porta do quarto de Lazuli, a encontrando com uma camisola branca simples, comprida até os joelhos. Ela terminava de afofar os travesseiros. A morena notou seu visitante e indicou que pudesse entrar.
Peridot evitou olhar Lapis, andando até o colchão improvisado e se sentando lá. Lazuli elevou uma sobrancelha.
- M-Mas... O senhor ficará com minha cama!
- Não posso aceitá-la...
- Por qual razão?
- É uma dama! – agora Peridot olhou Lapis nos olhos.
- E?
- N-Não é certo uma dama dormir ao chão...
- Pois já dormi nessas situações inúmeras vezes. Não se preocupe!
- Pois me preocupo sim! Continue aí!
Lapis torceu os lábios e cruzou os braços. Peridot assentiu e deitou, se cobriu com o lençol, se ajeitando e fechando os olhos. Poucos segundos depois, ele sentiu uma mão surgindo embaixo de suas pernas e de seu tronco, o erguendo de forma delicada e eficiente.
- M-Mas! H-Hey! O que... O que está fazendo?!
Lapis deitou Peridot em sua cama, ajeitou o lençol e foi para o colchão improvisado, sendo parada por Peridot, segurando seu braço.
- Eu sei como resolver isso... – Lapis disse com um sorriso – Confia em mim?
- Confio.
Peridot soltou o braço de Lazuli, esta deu a volta e deitou-se ao lado de Peridot. Este ergueu uma sobrancelha.
- M-Mas i-isso... Q-Quer dizer...
- Você não é igual aos outros homens, já é da família! Você confia em mim, eu confio em você. – Lapis apagou as luzes, se aninhou no travesseiro, ficando de lado, com a face virada para Peridot – Boa noite, my lord...
O loiro via apenas a silhueta da garota, parcialmente iluminada pela luz refletida pela lua que passava pela janela do quarto. Ela confia nele, todos os MacDonovan confiam. Ele mirou o teto, pensamentos correndo em sua mente.
Então por qual razão tinha que manter segredo? Aquela família o acolheu, o salvou duas vezes, cuidou dele, é injusto manter segredo. Lapis dormiu ao seu lado, confiando que ele não a violaria, como alguns outros poderiam fazer.
- De fato... Sou completamente diferente dos homens... Lazuli, preciso lhe contar algo. Não sou Richard Peridot, sou... – Peridot se virou, mirando Lapis de olhos fechados, sorrindo e dormindo serenamente.
O loiro suspirou e sorriu, beijando a testa de Lazuli e se aninhando com cuidado para não acorda-la, ficando de frente para ela e a observando dormir até que o sono visitasse sua porta e o obrigasse a fechar os olhos.
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