Os raios de sol do novo dia se espreguiçavam calmamente pela janela do quarto de Lapis, atingindo seus olhos com suavidade, fazendo sua mente transitar de forma lenta de um sonho muito bem feito para a realidade imprevisível. O som das pessoas nas calçadas, dos passarinhos nas árvores e uma respiração serena são agora compreendidos por sua mente. Seu rosto sente o toque suave da fronha de algodão, sua pele identifica sua camisola e o lençol, tão macios quanto a fronha, mas há algo diferente sobre sua mão direita. Sua palma toca a fronha, sua respiração quente bate em seu polegar, mas há algo mais suave e mais quente cobrindo as costas dela.
Tomada pela dúvida, a morena abriu lentamente os olhos pesados pelo sono. Eles miravam uma mão menor sobre a sua própria, uma mão esquerda delicada, macia. Lapis podia sentir o cheiro de lavanda que ela emitia. Alguns centímetros atrás havia o dono dessa mão, um homem sereno, loiro de cabelos levemente desengrenhados pelo travesseiro. Seu bigode estava torto e parcialmente descolado, porém ele estava tão lindo. O sol iluminava seus cabelos loiros, fazendo-os brilharem. Ele respirava profundamente, quase ressonando e com um sorriso entre os lábios.
Aqueles lábios finos e bem cuidados. Como seria o toque deles nos seus? Seriam macios? Seriam quentes ou frios? Como se encaixariam?
Lazuli piscou algumas vezes, afastando esses pensamentos e perguntas de sua mente. Beijar Peridot? Que pensamento inconveniente!
Lapis voltou a mirar o rosto do rapaz ao seu lado. Ela sabia que precisava se levantar, que precisava começar seu dia, mas ela não queria. De repente toda a beleza do nascer do sol se esvaiu de uma vez, se tornou horrenda comparada àquela cena bem à frente de seus olhos. Como seria magnifico acordar todos os dias com essa visão. Peridot se tornou seu novo sol.
Aos poucos a sobrancelha do rapaz começou a se mover, sua respiração se tornou mais forte e frequente e seus olhos estavam quase se abrindo. Lapis notou e voltou a fechar seus olhos, fingindo ainda estar dormindo.
Peridot piscou lentamente, igual a Lapis, tendo a surpresa de ver onde sua mão estava, não se lembrava de tê-la colocado sobre a dela. A mão de Lazuli é fria, mas tão macia. Seus olhos se focaram no rosto de Lapis. A luz do sol iluminando sua face, contrasta seus longos e numerosos cílios escuros, assim como seus cabelos castanhos.
Diferentemente das outras mulheres, Lapis não usa maquiagem, apenas em suas apresentações, mas é sempre sutil. Peridot chegou à conclusão que ela não precisa de maquiagem, Lazuli é perfeita exatamente como é.
- Ela é linda... – Peridot sussurrou para si mesmo.
As bochechas de Lapis coraram levemente. Peridot se perguntou com o que Lapis sonha. Deve ser algo bom, pois ela está sorrindo.
Lazuli sentiu uma movimentação por parte de Peridot, mas ainda sentia a mão quente dele sobre a sua. Viu uma sombra se movimentar sobre si, uma respiração quente próxima ao seu rosto e um beijo em sua testa coberta por sua franja.
- Bom dia, my lady... – Peridot sussurrou.
A morena viu a sombra sumir, sentiu mais uma movimentação suave e por fim sentiu o calor que havia nas costas de sua mão se esvair. Ouviu passos, um som baixo da porta se abrindo e se fechando em seguida. Só então, tendo certeza que o loiro não estava por perto, Lapis abriu os olhos, sorrindo, olhando para o lugar onde Peridot esteve a poucos segundos atrás e dizendo:
- Bom dia, my lord.
Lapis se levantou um pouco depois do loiro. Após se preparar, ela andou até a cozinha, seria a vez da garota de preparar o desjejum da família. Chegando ao cômodo, Lazuli encontra seu amado na mesa, terminando de passar o café no coador e preparando algo com um cheiro maravilhoso no fogão. A morena encostou no batente, sorrindo com a cena.
- Um inglês que toma café e não chá? – Peridot se virou na direção da origem da voz, sorrindo ao identificar Lazuli.
- Um costume que peguei da minha estadia na América do Norte... A senhorita toma chá?
- Todos aqui, na verdade... Costume que pegamos da nossa estadia na Inglaterra... – Peridot franziu a testa e entortou a boca, olhando para o café a sua frente.
- Acho que vou ter que tomar dois litros de café hoje.
Lapis soltou uma risada, chegando perto do rapaz e se servindo de uma caneca cheia de café.
- Disse que pegamos costume, mas não disse que não gostamos... – Lapis tomou um gole e arregalou os olhos – Hm! Esse é o melhor café que já tomei! Onde aprendeu a cozinhar?
- Raven.
- Sua irmã?
- Sim. Ela cozinhava muito bem.
- Ela desapareceu não foi? Vi no jornal...
- A reação que ela teve com a morte dos nossos pais foi catastrófica! Queria nossa família reunida novamente... Ou o que sobrou dela, mas... Entendo seus motivos. Só... Gostaria de poder vê-la uma vez mais.
- M-Me desculpe, eu...
- Tudo bem! Não se preocupe!
Peridot sorriu sem jeito, voltando sua atenção à panela. Lazuli espiou por cima do ombro do loiro, deixando a caneca de lado um momento para ajuda-lo a preparar o que identificou ser o início de ovos mexidos. O loiro tinha pego uma colher de metal para revirar os ovos, com o fogo aceso, é certo que a colher lhe queimará os dedos.
Lapis pegou um garfo de cabo de madeira o mais rápido que pôde e foi entregar ao Peridot antes que ele encostasse na colher, mas:
- OUTCH!!!! FOR MY STARS!
Peridot soprava a mão direita recém queimada. A morena elevou a sobrancelha, deixou o garfo na pia, pegando o pulso do loiro, abrindo a torneira e colocando gentilmente a mão dele na água.
- Aqui... Coloque em água corrente, vai passar o ardor...
Eles estavam bem próximos, Lapis olhou para Peridot. Ele estava perdido na beleza da garota, decorando cada parte de seu rosto. O coração de ambos retumbava e pedia que se aproximassem. Suas bocas levemente abertas soltam um ar quente nos seus rostos bem próximos.
- Bom dia!
Greg apareceu na cozinha se espreguiçando, nem sabendo exatamente se havia alguém no recinto ou não. Lapis voltou a realidade, corou, desviou o olhar e soltou o pulso do loiro, sorrindo para o mesmo, pegando o garfo e lhe entregando. O loiro olhou para o talher com confusão, só então se lembrando dos ovos no fogão e correndo para evitar sua carbonização.
- B-Bom dia, senhor MacDonovan... – Peridot o saudou.
- B-Bom dia, meu pai... – Lapis também o saudou.
Greg finalmente viu ambos na cozinha e, após um bocejo, disse em tom sonolento:
- Oras! Vejo que Lapis encontrou alguém que acorde com o raiar do sol com ela... – Lapis corou – Dormiram bem?
- Sim, dormimos... Aquele colchão é muito bom, de fato... – Peridot disse.
- Imaginei que gostaria... E você minha filha?
- Dormi como um anjo, meu pai.
- De fato dormiu... – Peridot sussurrou com um sorriso, só Lazuli ouviu e soltou um sorriso.
- Imaginei também... Ambos estão com uma cara ótima... Sorridentes! E... Hum... Isso está com cheiro ótimo! Tem um pouco para mim?
- C-Claro! F-Foram feitos para vocês! – Peridot disse trazendo a panela.
Aos poucos, os músicos foram acordando e se servindo do café com ovos de Peridot. Lapis observava o loiro servir Amethyst enquanto todos riam da história mais recente de sonambulismo de Pearl. A morena ponderou sobre o que quase aconteceu. Seu corpo agiu pelo impulso, ignorando sua cabeça. Lapis quase o beijou.
Pensar nisso faz o coração da garota retumbar. O que acontecia com seu coração? Lazuli queria entender isso. Mas como poderia? E se deixasse seus sentimentos aflorarem? E se deixasse seu coração comandar?
Depois do desjejum, Peridot arrumou suas coisas e voltou para seu apartamento, Ruby, Sapphire e Garnet já deviam estar por lá. O loiro agradeceu a hospitalidade e os cuidados, principalmente a Lapis, que não só lhe salvou a vida, como emprestou seu quarto e também sua cama.
Antes de seguir ao seu destino, o loiro foi convidado por Greg a acompanhá-los ao parque de St Stephen’s Green após o almoço. Peridot aceitou o convite, dizendo que traria suas companheiras também.
Seu caminho foi embalado por pensamentos de Lapis dormindo, a visão mais linda que o rapaz já havia tido. Ele amaldiçoou o sono por não o ter deixado observá-la por toda noite.
O sol havia raiado faziam cerca de sete horas quando Peridot e suas companheiras se encontraram com os MacDonovan na porta de seu hotel. O homem ansiava por ver Lapis novamente e o ar lhe faltou e suas bochechas esquentaram quando a moça apareceu com um vestido de seda azul em dois tons, detalhes triangulares em dourado, uma espécie de tiara branca e o colar com a pedra de seu nome bem a mostra no decote em “V” do vestido.
Enquanto seus familiares discutiam entre si se iriam levar os instrumentos ou não, Lazuli foi até o loiro e lhe perguntou:
- Como estou? – a garota sorriu, mexendo no cabelo enquanto seus lábios cobertos com um suave batom vermelho mostravam um sorriso encantador.
Peridot queria falar, mas as palavras não vinham. Sua boca abria e fechava sem emitir nenhum som, é a moça mais bonita que ele já havia visto na vida. Lazuli esperou pacientemente, até que Ruby deu um cutucão nas costelas do rapaz, fazendo-o destravar:
- E-Está deslumbrante, Lapis...
- Obrigada, Peridot. – a garota exibiu um sorriso muito maior.
Depois de terem decidido não levar os instrumentos, os grupos se dirigiram à praça. O caminho foi embalado por várias canções a capela, fazendo quase todos cantarem e dançarem. Lapis apenas cantarolava, como sempre. Isso fazia o rapaz tentar imaginar como seria a voz de sua amada em uma canção. Talvez um dia ela pudesse cantar para ele... Somente para ele... Peridot sacodiu a cabeça. Sua imaginação precisava ser controlada.
Chegaram em um lugar arborizado, com vários bancos de madeira com armação de ferro espalhados em círculo por sua extensão. O parque estava cheio de todo o tipo de pessoas, a maioria passeava com seus cachorros, outra parcela estava em seus piqueniques familiares ou românticos e o resto apenas aproveitava um momento ao ar livre.
Os músicos continuaram a cantar e dançar, chamando a atenção das pessoas mais curiosas. Peridot, Ruby, Sapphire e Garnet observavam, seguindo o ritmo com o pé ou a mão. Lapis não se aguentou e foi até Peridot, o puxando pelo braço e seguindo a dança. Logo, Amethyst puxou Ruby, Sapphire e Garnet, que entraram na roda sem muito esforço.
Rose começou a notar que a plateia estava ficando maior e mais animada e chamou Lapis e Peridot em um canto:
- Ok... Acho que teremos um show de última hora. Vamos precisar dos instrumentos.
- Certo, vou busca-los. – Lapis se prontificou.
- Vai precisar de ajuda, minha filha... São dois violões e dois tambores, fora o resto! É muito peso! Peridot é um homem forte. – Rose disse olhando para o rapaz – Se importaria de nos ajudar?
- Imagine! Vou ajuda-los com todo prazer do mundo! – Peridot respondeu.
- Perfeito! Obrigada... Sabe o que têm que trazer? – Rose perguntou para Lapis.
- Sim, sei sim, mãe.
Acatando as ordens da mãe, Lapis voltou para buscar alguns instrumentos com a ajuda de Peridot, enquanto o resto do grupo se virava com as árvores, bancos e o próprio corpo e voz para acompanhar e fazer suas músicas.
O caminho de volta foi quieto e sem nenhuma melodia. Lapis sentia seu coração acelerar só de estar perto do rapaz loiro que acabara de conhecer. A felicidade que sentia ao vê-lo sorrir é quase insana. Em seus pensamentos só existe ele, principalmente quando o mesmo não está por perto. Lapis já havia se apaixonado antes, porém era diferente, menos intenso. E se isso fosse algo falso? E se não fosse duradouro? E se fosse duradouro? Peridot iria largar tudo para viver com os músicos? Lapis iria parar de viajar para ficar com Peridot? A morena não queria se ferir, mas também não queria ferir o loiro. Que futuro teria uma violinista viajante e um negociante famoso?
- O que viemos pegar? – Peridot perguntou quando chegaram no local, tirando Lazuli de seus devaneios.
- Hum... Dois violões, dois tambores, uma flauta e meu violino... Não iremos levar o piano. Meu pai terá que se virar com seu violão!
- Perfeito.
Peridot começou a procurar pelos instrumentos na parte do quarto que pertence a Amethyst, onde nada está em seu devido lugar. Lazuli encontrou os violões de Steven e de Greg de uma forma rápida, já que ela conhece bem seu irmão e seu pai. Pearl sempre guarda seus instrumentos bem a vista, então, seu tambor foi o mais fácil de se encontrar.
A morena se virou e viu Peridot enfiado dentro do armário de Amethyst. Lapis começou a lembrar da noite anterior e essa manhã.
A garota poderia ficar observando o loiro dormir por horas, sem se cansar... E o toque em sua mão? A sensação magnífica que é ter a mão quente de Peridot sobre a sua... Seu carinhoso beijo na testa...
Lazuli voltou a realidade. Aquele momento a fez se perguntar como aquele loiro baixinho e atrapalhado conquistou seu coração tão rápido. Ele é diferente de todos os outros homens que conheceu. Por que Peridot mexia tanto consigo?
Não demorou muito para a garota ouvir um barulho de algo despencando, uma reclamação de dor do rapaz e um tambor rolando por suas costas.
Peridot saiu do armário esfregando o topo da cabeça e olhando para cima com uma expressão de desconforto.
- Olha! Você achou o tambor da Violet! E foi em tempo recorde! – Lapis disse sorrindo.
- Acho que o tambor que me achou! Hehe...
- Deixe-me ver sua cabeça... – Lapis se ergueu um pouco e Peridot se afastou.
- Não precisa! J-Já estou bem... Obrigado.
Lapis havia se esquecido do possível problema capilar de Peridot. Seria melhor não insistir.
- Então está bem. Aqui, me ajude... Agora preciso do...
A garota passou o violão pelas costas de Peridot, basicamente o abraçando. Ele passou a cabeça e o braço esquerdo pela alça. O contato visual estava intenso e não foi quebrado nenhuma vez, nem quando Lapis tirou as mãos do violão e passou para os ombros do mais baixo, nem quando ele envolveu a cintura da garota e a trouxe mais para perto.
O peito dos dois palpita pela proximidade em que estão, porém isso não os intimidou de chegarem mais perto ainda. Lazuli hesitou por um momento, as perguntas ainda martelavam em sua cabeça. O que fazer? São muitas dúvidas, muitas opções, muitos ‘e se’. Mas a vida é cheia de dúvidas. O que será do futuro se não houver o presente?
“A vida é feita dos pequenos momentos que aproveitamos agora” é o que sua mãe sempre diz. Então para que esse medo? O que tiver de ser, será! Mas e se não for para acontecer? Por qual motivo não haveria de ser? Richard, um empresário no ramo de violinos, bateu seu carro na porta de Lapis, uma violinista e que sabe consertar automóveis.
Por qual razão o destino os enganaria a ponto de fazê-los se encontrarem e se apaixonarem, para depois separá-los para todo o sempre? Isso seria algo totalmente sem nexo! E além do mais, Lapis sentia necessidade de estar com Peridot, como se ela não estivesse completa sem ele. A morena não conseguia mais se controlar. Lapis precisava de Peridot.
Com isso em mente, acrescidas às lembranças da estadia do loiro que insistiam em surgir em sua mente, todas as questões desapareceram por completo de sua cabeça, as mãos da menina passaram para a nuca de Peridot enquanto sua cabeça pendia para a direita, se aproximando devagar. Ambos queriam isso, precisavam disso.
- Espera... – o rapaz disse em um sussurro.
- Algum problema? – Lapis perguntou no mesmo tom, a poucos centímetros do rosto do rapaz.
- ... ... ... Sua família não vai sentir nossa falta? – ele hesitou e Lapis sorriu.
- Eles estão entretidos com a música, não vão perceber... Além do mais, preciso sentir isso... Sentir para entender...
- Entender?
- Entender a razão do meu coração palpitar por alguém tão diferente e que conheço a tão pouco tempo...
- S-Seu coração palpita p-por mim?
- Sim, muito... Nunca senti isso antes... – Lapis colocou a mão no coração acelerado – Não com essa intensidade.
- O meu coração quase explode quando você está por perto... E-Eu também nunca senti isso antes... Eu me sinto muito bem com isso... M-Mas... Eu preciso te contar uma coisa importante... – Lapis sorriu.
- Não se preocupe, eu sei seu segredo e não me importo nem um pouco com isso... – Lapis disse num sussurro antes de encerrar rapidamente a distância de seus rostos.
Lapis havia fechado os olhos enquanto Peridot estava com os olhos arregalados de surpresa, tentando descobrir como sua amada descobriu seu segredo. Talvez no momento do desmaio? Talvez antes? Talvez alguém tivesse contado? Quem contaria? Ruby? Sapphire? Garnet? Não... Fora elas, quem mais sabe? Ninguém. Então, como ela sabe?!
A mente do loiro explodia em perguntas, enquanto seu corpo explodia em sensações. O corpo de Lapis colado ao seu, as mãos frias da moça em sua nuca e o mais importante, os lábios quentes de Lazuli sobre os seus. O encaixe perfeito. O toque suave e adocicado dos lábios de Lazuli.
Aos poucos, ele ignorou seus pensamentos e se entregou ao momento, sua mão direita percorrendo as costas de Lazuli, passando pela sua nuca e parando em sua bochecha, enquanto sua mão esquerda puxou a cintura da moça para ficarem o mais próximo possível, agarrando o tecido com a intensidade de sua paixão.
Lazuli esqueceu sua cabeça, seu coração comandava seu corpo. Ele queria ignorar a física, unindo os dois corpos num mesmo espaço. A necessidade de Peridot foi crescendo cada vez mais.
Seus corações palpitavam em um ritmo síncrono, uma música compassada e harmônica. Pela primeira vez eles tiveram certeza de seus sentimentos. Pela primeira vez, tiveram noção da intensidade de seu amor. Eles se amam com toda sua alma e coração. Um pertence ao outro de muito bom grado.
Nesse momento, Amethyst abriu a porta sem fazer barulho e logo que viu a cena, fechou-a com mais cuidado ainda, se virando para Pearl com um enorme sorriso no rosto.
- O que foi?
- Nada! Deixa os instrumentos pra lá...
- Mas...
- Lapis está com o senhor Peridot... – Amethyst disse entre dentes e Pearl arregalou os olhos, abrindo a boca para falar – Shiu! Não vamos incomodá-los... Vamos inventar alguma coisa para dizer para a Rose...
- M-Mas nós poderíamos pegar os instrumentos e sair...
- Ah, claro! Gostaria que estivesse com seu amado e duas enxeridas brotassem como trepadeiras no meio, pegassem seja lá o que fosse e saíssem?
- É... Não... Está certa... Vamos deixar os dois a sós...
E assim as duas voltaram ao parque, dando cobertura ao casal.
Aquele momento ainda não era suficiente, tanto Lapis quanto Peridot precisavam de mais. Existe algo atrapalhando. O violão. Só pode ser o violão nas costas do loiro.
Eles só pararam o beijo para que Lapis pudesse passar a correia da mala por cima da cabeça de Peridot e assim, retirar o violão das costas dele, mas logo voltaram a unir seus lábios como ímãs ferozes e extremamente potentes.
O contato entre seus corpos melhorou. Lapis podia explorar as costas do loiro, podia explorar o corpo que clamou para si. Sendo assim, as mãos da garota passaram dos braços de seu amado, subindo até os ombros e descendo até o tórax um pouco mais pronunciado que o normal. Lapis abriu os olhos e parou o beijo, olhando confusa para um Peridot mais confuso ainda.
- O-O que foi?
- P-Peridot? V-Você é mulher? - isso deixou Peridot mais confusa ainda.
- S-Sim! E-Era esse meu segredo... M-Mas espera... V-Você não sabia? Ah my stars!!!
- Não! E-Eu achei que você fosse calvo... Calva... Não sei mais...
- Calva?!
- É-É! O-O bigode falso... O-O cabelo tão macio e perfeito sempre! N-Não tem como um cabelo natural ficar sempre assim!
- O bigode falso, tudo bem, mas esse cabelo é meu mesmo! M-My stars, Lapis! M-Me desculpe... E-Eu queria ter te contado antes, m-mas desmaiei!
- Espera... Você desmaiou de nervoso?
- É-É, m-mas... – Lazuli teve um ataque de riso – O-O que foi?
- Desculpe, mas essa foi... Foi muito engraçada! Agora tudo faz sentido! Muito mais sentido do que a teoria do meu pai de você era calvo!
- ... ... ... F-Faz?
- Sim! Seu jeito de falar, algumas escorregadas nos gêneros de algumas palavras, sua defesa tão forte em relação a nós, mulheres!
- ... ... ... V-Você não está brava ou...
- Não não! Por qual razão ficaria brava?! Não!
- ... ... ... E... E isso... Muda alguma coisa?
Lapis sorriu e se aproximou de Peridot, lhe respondendo, tomando-lhe os lábios antes de dizer:
- Não muda nada. Ainda sou apaixonada por você... Em algum lugar bem no fundo eu sabia que você era diferente demais... Só mude, talvez, seu nome... Não pode ser Richard, ou pode?
- Não... B-Bem... Me chame de Peridot. – Lapis sorriu com a revelação.
- Então você é sua irmã? M-Mas... Raven não estava...
- N-Não... Eu sou eu! Mas sou Raven... Não Richard...
A morena viu a hora no relógio de bolso pendurado na lapela de Peridot e arregalou os olhos:
- Então... Raven... G-Gostaria muito de continuar onde paramos, mas... Estamos demorando demais por aqui... Vamos levar esses instrumentos para o parque antes que mandem alguém nos buscar.
- Sim, senhorita. – Peridot disse beijando a mão de Lapis.
- Como exatamente você se tornou seu irmão?
- Eu te conto no caminho.
- Está bem. Essa é uma história que anseio em ouvir...
Raven Christine Peridot IV era uma garota inteligente, amorosa e interessada nos negócios do pai, Richard Lucas Peridot II que, mesmo contra as regras da sociedade, ensinava tudo o que sabia para ambos os filhos. Richard Lucas Peridot III não mostrava interesse e nem talento para os negócios, embora mostrasse grande talento com as letras. Já Raven mostrava um tino inigualável com comércio.
Infelizmente, Richard III era seu sucessor por regra. Se seu filho não aprendesse a gerenciar como se deve, a empresa faliria e todo o trabalho de gerações se perderia. Então seus pais resolveram fazer uma viagem para ensinar o filho uma lição. Richard II sabia que sua filha Raven tomaria controle da situação e ensinaria bem o irmão caso algo desse errado.
Por certo tempo, os dois irmãos trocavam ideias e dicas, Raven ensinava Richard a gerenciar e este ensinava a irmã a arte das letras. Se tivessem prosseguido por mais algumas semanas, Richard certamente estaria apto a gerenciar a empresa de sua família. Entretanto, quando soube do acidente com o RMS Titanic, Richard chegou a beira da loucura e abandou tudo e todos para viver em algum lugar muito longe, começando toda a vida do zero na União Soviética, colocando em sua irmã o peso de continuar com os negócios da família.
Os sócios do falecido pai de Raven nunca a aceitaram como sócia e dona da empresa. Como o paradeiro do irmão era conhecido apenas por ela, a história verdadeira foi modificada. Para os sócios e toda a mídia, Raven fugiu para a União Soviética, deixando o irmão, Richard para cuidar dos negócios.
- E foi assim que eu me tornei meu irmão... A única coisa que tenho de meus pais é a empresa... A única coisa que tenho de meu irmão é sua identidade e sua paixão pelas letras... – Peridot terminou de contar – A primeira coisa que Richard III fez como presidente da empresa foi demitir todos os que não aceitaram Raven e... E-Está chorando?
- Perdões... Me emocionei com a história...
Lapis foi limpar as lágrimas, mas Peridot a impediu e, com o segundo nó do indicador, secou o caminho molhado que seus olhos deixaram em seu rosto. A loira então encostou seus lábios nos da morena antes de dizer sorrindo:
- Você é muito emotiva e fofa, senhorita Lazuli. – Lapis corou.
Ao começar a ouvir a cantoria, Peridot parou e pediu a Lapis:
- Por obséquio, não conte a ninguém que sou mulher... Isso é algo que deve se manter em segredo... N-Não que eu não confie...
- Não se preocupe com isso. Eu entendo e não contarei. – Lapis sorriu e retribuiu o selinho de Peridot antes de entrarem no parque.
Lapis e Peridot encontraram um parque muito vivo com muitas pessoas dançando e cantando com o grupo. Haviam os que observavam, mas todos acompanhavam a música com o pé, a mão ou a cabeça.
Rose viu ambas chegando e se aproximou com uma cara preocupada.
- Demoraram para achar os instrumentos? – Amethyst e Pearl apareceram atrás de Rose com um sorriso imenso.
- É! O tambor da Violet estava difícil de encontrar... – Lapis disse uma meia verdade – Peridot foi quem o encontrou...
- Mais para o tambor que me achou... – Peridot disse esfregando a cabeça.
- O importante é que encontraram... Agora é que o show vai começar!
Rose pegou os violões e entregou aos devidos donos, Peridot e Lapis entregaram os tambores a Pearl e Amethyst, que estavam com uma expressão diferente no rosto.
- Que foi? – Lapis perguntou a Amethyst.
- Nada de importante... – Violet chegou perto de Lapis e sussurrou – O momento estava fofo demais para estragar... Demos cobertura.
Lapis arregalou os olhos e pulou para trás com as mãos na boca.
- P-Por favor, não contem nada...
- Kathleen Lapis Lazuli... Ninguém aqui é besta e nem cego! Todos notaram que vocês se gostam. Isso não é crime nenhum! Na verdade, seu pai e seu irmão pularam de felicidade quando notaram... Mas não fique preocupada, não contei sobre o momento de vocês a ninguém exceto Pearl... Ela estava me acompanhando... – Lapis sentiu o rosto todo esquentar – E, antes que pergunte, abri a porta, fechei e não vi nada! Sempre que precisar de cobertura, só avisar. Sou especialista em encobrir casais...
A morena acenou com a cabeça e agradeceu, ainda vermelha e desconfiada, Violet sempre foi brincalhona. Lapis foi para seu devido lugar se preparando para tocar. Depois falaria com Peridot ou seus familiares poderiam ouvir sua conversa. Depois falaria com Amethyst também.
No meio do show, Sapphire lembrou-se de algo importante que ela arrumou na viagem. Ela procurou em sua bolsa um embrulho e o entregou a Peridot, dizendo baixinho:
- Dê a ela.
Peridot assentiu, entendendo o que era de imediato, o escondendo e puxando Lazuli pelo braço para a sombra de uma árvore um pouco distante, sob o olhar atento e discreto de Rose.
- Aconteceu alguma coisa, Peridot?
- Sim... Q-Quero te dar uma coisa... Uma pena nova, assim pode escrever mais histórias.
Peridot entregou o pacote a uma Lapis confusa e curiosa. A morena abriu e encontrou um violino lindo de acero envernizado com tarraxas de prata, cordas de aço e o nome de Lapis entalhado na parte de trás do instrumento, junto com a marca Peridot. Os olhos da jovem brilhavam e ela não sabia o que falar e nem como agir.
- E-Eu... Eu nem sei o que dizer! É lindo! Obrigada!
- Não precisa. Seus olhos já dizem tudo, my lady. – Peridot deu um beijo na bochecha de Lapis.
Lapis pulou em Peridot, a abraçando muito forte e agradecendo mil vezes.
A partir daquele dia, Lapis aposentou seu antigo violino, tocando apenas com o presente de Peridot. Elas passaram a se encontrar mais vezes, indo a vários passeios durante o dia.
Em todos os ensaios e apresentações, Peridot senta na mesma mesa, na mesma cadeira, sempre a frente de sua amada. Desta forma, Lapis toca não para uma plateia, mesmo que estivesse diante de uma, mas sim exclusivamente para Peridot, sua amada Raven Peridot.
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