Uma hora de nervosismo e ansiedade se passou, então o grandalhão trouxe minha mãe de volta, ela se sentou na poltrona em frente aos tronos, seu rosto antes tranquilo, agora parecia ansioso, ela batia as pontas dos dedos no joelho, encarando avidamente os tronos vazios. O murmúrio ali cessou quando os Arcanjos começaram a entrar na sala, cada um indo até seu devido lugar, meus olhos focaram em Eliel, seu rosto não demonstrava nada, satisfação, tristeza, decepção, alegria, nada, o que me deu um aperto no peito. Nenhum deles se sentou, os quatro ficaram em pé diante de seus tronos, apenas encarando Luna.
- Nós, os Arcanjos discutimos sobre tudo o que foi dito aqui hoje, e chegamos a um consenso final. – Jorah disse olhando avidamente para Luna, que agora estava em pé. - A protetora Luna Avery, acusada de infringir a regra de não aparecer para o seu protegido, sem que seja um caso extremo, ter dito a um humano sobre sua natureza angelical, abandonar seu protegido – eles acrescentaram isso após os depoimentos de Luna, eles podem fazer isso? Franzi a testa - e de ter ignorado intimações dos Arcanjos, fugindo por todos esses anos. – ele fez uma longa pausa, e então olhou para Eliel.
- A nossa decisão final, é que a protetora deve ser banida do nosso Plano, não podendo exercer nunca mais sua função de protetora, nem nenhuma outra relacionada á um anjo, perdendo seus dons concedidos por seus anos como protetora, proibida de voltar ao Plano superior, de ter relações com algum outro anjo, sob pena de banimento para o envolvido, e proibida de chegar á menos de dois mil metros do humano Jonathan Clarke.
- O que? – minha voz saiu como um grito, e eu só me dei conta disso quando todos os olhos daquela sala se voltaram para mim. – vocês não podem fazer isso. – exclamei.
- Sim, nós podemos. – Leonora disse com um sorriso maldoso – Ela o conheceu enquanto ainda era sua protetora, o abandonou por dezessete anos.
- Isso não é justo. – disse me levantando, Max e Alex puxaram minhas mãos, cada um uma, me fazendo sentar novamente.
- Mia, cala essa boca, não piore tudo. – sussurrou Alex próximo ao meu ouvido.
- Mas isso não é justo Alex, eles não podem fazer isso. – disse olhando para ele.
- Eles podem, já fizeram, agora fica quieta para não piorar as coisas e sobrar para você. – ele disse franzindo a testa.
Relutante eu me calei, fiquei apenas encarando os quatro Arcanjos em frente á seus tronos, Lionel e Leonora me encaravam triunfantes, como se essa situação toda, lhes fosse prazerosa, Eliel evitava me olhar, e Jorah parecia cansado.
- Continuando, - Eliel voltou a falar – Luna Avery, por decisão dos Arcanjos, você será enviada para a Alemanha, cidade de sua escolha, o não cumprimento de qualquer regra do banimento resultará em execução. – aquela palavra me deu ânsia. – Esse é o veredito final.
Eliel deu as costas a todos e saiu pela porta lateral, o grandalhão pegou Luna pelo braço e o seguiu, o restante dos Arcanjos saíram em seguidas, não sem antes me olharem com sorrisos vitoriosos.
Ainda estava indignada com o veredito, não via mal algum em minha mãe ficar com meu pai, depois de todos esses anos, eles ainda não poderão ficar juntos, isso é tão doloroso para mim, imagine para ela, e o meu pai? Que depois de todos esses anos vai descobrir que o amor de sua vida está viva, mas não pode chegar perto dele. Isso tudo é tão ridículo.
- Poderia ser pior. – disse Alex me encarando. – ela poderia ter sido executada logo de cara.
- Isso é ridículo, injusto. – disse batendo os pés até a porta de saída.
Já lá fora, consegui me livrar de Max e Alex, enquanto caminhava as escondidas até a sala de Elie, que por sorte me lembrei do caminho do outro dia, bati na porta duas vezes, e ouvi sua voz rouca dizendo para entrar.
- Mia. – ele pareceu surpreso ao me ver, estava encostado em sua grande cadeira de couro marrom – ah criança, – ele suspirou se virando para mim - espero que não esteja com raiva de mim.
- Não estou, - fechei a porta atrás de mim, e caminhei até sua mesa, parando ao lado – sei que você fez o que pôde, - forcei um sorriso – eu só achei que depois de tudo isso, meus pais finalmente poderiam ficar juntos.
- Eu também achei, e juro que tentei faze-los mudar de ideia quanto a isso, mas foi em vão, eles jamais a deixariam sem uma punição vingativa. – ele deu uma risada sem graça.
- Leonora e Lionel, foi ideia deles, não foi?
- Sim, - ele assentiu – Leonora disse que após dezessete anos nos fazendo de idiotas, e nenhum arrependimento pelas regras quebradas, ela não poderia apenas ser banida e ir correndo para os braços de seu amado.
- Ela é cruel. – disse ao me sentar na cadeira em frente á ele.
- Sim, as vezes ela é mesmo.
Nós ficamos alguns minutos em silêncio, observei a sala, muito bem iluminada, com a decoração em tons de branco e marrom, e uma estante de livros que ia do chão ao teto.
- Se eu fizer o treinamento, e decidir ser anjo de verdade, eu nunca mais poderei ver a minha mãe? – eu o encarei, Eliel suspirou encarando a mesa, depois levantou o rosto para mim.
- Creio que não Mia.
- Então eu não quero ser um anjo, - senti meus olhos ficarem marejados – por dezessete anos da minha vida eu achei que minha mãe havia morrido, e agora que eu sei que ela está viva, eu não posso simplesmente não vê-la nunca mais, não posso, - uma lagrima escorreu por meu rosto – não posso fazer o treinamento, não vou desperdiçar o seu tempo.
- Não vai desperdiçar nada, - ele olhou em meus olhos – eu quero treinar você Mia, você tem potencial para ser um bom anjo, você é gentil, decidida, inteligente, e destemida, acredite, nós precisamos de você.
- Eu não posso fazer isso, sabendo que posso gostar, e no final ficar sem a minha mãe.
- Talvez até lá, nós possamos dar um jeito. – ele piscou.
- Você conseguiria dar um jeito? – arquei uma sobrancelha, com um sorrisinho travesso.
- Indiretamente sim. – ele riu – ela é a minha filha, acha que eu vou ficar sem vê-la, depois de todos esses anos? – ele piscou.
- Ah vovô. – caminhei até ele e o abracei com força, ele retribuiu afagando meus cabelos.
- No final tudo da certo Mia, lembre-se sempre disso.
- Eu irei. – sorri. – Será que eu posso ver a minha mãe?
- Ela será enviada para a Alemanha amanhã logo cedo, - ele disse me soltando – você vai vê-la sim. – ele sorriu.
- Obrigada. – o abracei novamente, mas breve.
- Agora eu preciso ir falar com ela, te chamarei em alguns minutos ok? E vocês poderão se despedir, pergunte a Shane se ele também deseja se despedir, acho que ele merece isso, não é?
- Ele merece sim, - sorri – até mais tarde vô.
- Mia meu coração se enche de alegria quando você me chama de vô, - ele riu – vai criança, nos vemos depois.
Eu sai da sala dele e fui até a central, Max e Alex estavam ali com caras emburradas e pareciam procurar algo, Shane estava sentado ao lado deles, com a cabeça abaixada.
- Oi – disse parando ao lado de Max.
- Onde você estava? – ele disse trincando os dentes.
- Fui falar com Eliel. – dei de ombros.
- Podia ter ao menos me avisado Mia, - sua voz saiu alta – sobre o que foi falar com ele?
- Eu queria saber se vou poder me despedir da minha mãe.
- Você vai? – ele perguntou arqueando uma sobrancelha.
- Sim, mais tarde. – Shane levantou a cabeça e me encarou – e ele disse que se você quiser se despedir também, você pode Shane.
- Eu irei. – ele assentiu.
- Você ainda vai fazer o treinamento? – Max perguntou – mesmo se depois não puder mais ver a sua mãe?
- Eu vou.
- Espera ai – Alex disse cruzando os braços ao meu lado – você vai fazer o treinamento de anjo? Por que eu só estou sabendo disso agora?
- Porque você não precisava saber.
- Eu sou a sua morte Mia, - ele franziu a testa – se você virar anjo eu não serei mais.
- E o que isso muda para você? – minha voz saiu mais alta do que eu gostaria – não vai poder ficar tramando a minha morte espetacular?
- Não é isso. – ele me disse com os olhos semicerrados.
Ninguém disse mais nada, ficamos apenas nos entreolhando por alguns minutos, e então me sentei ao lado de Shane, e fiquei observando aquele lugar, a grande central do Plano Superior.
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