História Between two worlds. - Higher plane.

 Alex acelerava a moto como um doido, passando entre os carros, e eu me peguei agarrada em sua cintura, o apertando com força, sentindo o vento gélido bater em meu rosto.

 Quando a moto parou, levei um tempo para reabrir os olhos e conseguir soltar Alex.

- Eu sei que você adorou ficar me abraçando, mas nós já chegamos. – ele disse com sua voz sarcástica.

 Eu o soltei, e desci da moto, ele fez o mesmo, parando ao meu lado rindo.

- Eu não estava te abraçando, estava me segurando, porque você dirige como um maluco. – me justifiquei.

- Claro Mia, vou fingir que acredito. – ele disse com um sorriso malicioso nos lábios, e antes que eu argumentasse ele continuou – Vamos logo, você precisa falar com Eliel.

  E ele saiu andando, me deixando lá parada e sozinha, o que me levou a uma pergunta mental, onde está o Max? Não o vejo desde ontem no aeroporto quando ele ficou irritado comigo por estar indo para casa com Alex.

  Caminhei apressada até Alex, que nem sequer olhou para trás para ver se eu o estava acompanhado.

- Me espera. – quase gritei.                                                                                                                                    

- Anda logo Mia.

 Alguns minutos depois nós chegamos aos pés daquela enorme escadaria, sem Max aqui eu provavelmente vou ter que subir cada um dos degraus, respirei fundo olhando até lá em cima.

- Vem, - ouvi a voz de Alex ao meu lado – eu te dou uma carona até lá em cima, porque se for esperar você chegar, é só amanhã.

- Engraçadinho. – franzi o nariz fazendo uma careta para ele, que riu.

 Alex me pegou no colo, com uma mãos nas minhas costas, e a outra na junta do joelho, e então senti o vento em meu rosto, e as escadas passarem como vultos diante de meus olhos, e no segundo seguinte ele já estava em pé, ao lado das engrenagens do relógio.

- Aproveitou a viagem? – ele me colocou no chão.

- Obrigada. – foi tudo o que disse.

 Digitei a senha no teclado ao lado do sino, e então a porta se abriu, e nós dois caminhamos até o elevador dourado.

 Alex disse que tinha algo para resolver por ali, e voltava depois para me levar embora, eu fui caminhando até a garota que da outra vez me levou até meu avô.

- Olá, - parei diante dela sorrindo – se lembra de mim?

- Claro Mia,  - ela sorriu – O Eliel me disse que você provavelmente viria, venha, vou te acompanhar até a sala dele.

 Eu fui a seguindo, hoje ela estava  com um conjunto de saia e blusa cinza claro, a saia era justa até os joelhos, e ela usava um salto alto fino, eu a admiro, eu não conseguiria ficar o dia todo em cima de um desses.

 Ela bateu na porta duas vezes, e então a voz grossa de Eliel saiu de lá de dentro dizendo para entrar.

- Senhor, Mia Avery está aqui.

- Pode manda-la entrar April, obrigado.

  April sorriu para mim e abriu a porta me dando passagem, fiz um aceno com a cabeça e entrei.

- Olá Mia. – ele me olhou sobre os óculos.

- Olá. – sorri e me sentei na cadeira de couro a sua frente.

- Então criança, como foi a visita á sua casa? – ele tirou os óculos e colocou sobre a mesa, e jogou seu corpo contra o encosto de sua cadeira de couro.

- Foi muito bom, deu para matar um pouco a saudade do meu pai e da minha melhor amiga, a única parte ruim foi deixa-los de novo.

- Eu imagino como seja difícil para você. – ele me lançou um sorriso acolhedor, e ficou em silêncio por alguns longos segundos. – Você quer conversar sobre algo?

- Sim, - me ajeitei na cadeira – sobre o treinamento, quero saber quando vou começar.

 - Você pode começar amanhã mesmo Mia.

- Certo, por mim tudo bem.

- Você gostaria de morar comigo durante o treinamento?  - ele sorriu.

- Na verdade, Shane já me convidou para morar com ele por enquanto, e eu já disse que vou ficar.

- Tudo bem então, mas o treinamento vai ser aqui no Plano superior. – eu assenti – O que você acha se eu te levar para conhecer o restante do Plano Superior? Você só esteve aqui na entrada. – ele riu.

- Parece ótimo. –

- Venha, então vamos.

 Ele se levantou e caminhou até a porta a abrindo e me dando passagem, sai na sua frente e fiquei o esperando. Nós caminhamos lado a lado pela central, recebíamos olhares curiosos, e os anjos nem tentavam disfarçar que estavam falando sobre nós, não pude evitar um revirar de olhos.

 Nós saímos da central, lá fora no Plano Superior tudo parecia uma cidade normal, mas não haviam carros ou motos na rua, e sim pessoas voando com enormes assas, meu queijo caiu alguns centímetros, fiquei parada no mesmo lugar encarando as pessoas que literalmente voavam sobre minha cabeça.

- Você está bem? – Eliel perguntou, me tirando de meu estado de choque.

- Si sim, eu só nunca tinha visto ninguém voar assim. – disse sem tirar os olhos do céu completamente azul sem nenhuma nuvem.

- É melhor ir se acostumando. – ele riu.

 Eliel teve que ir caminhando e segurando minha mão, porque eu sempre voltava a olhar para cima, para as enormes asas que passavam sobre mim.

 O clima ali era agradável, lá em baixo, em Londres estava frio, com garoas finas e um vento gélido, já aqui em cima está quente, com uma leve brisa morna.

 Nós caminhamos por alguns minutos, até Eliel parar em frente a uma casa enorme, ela era toda branca, com a porta e as janelas num tom de azul céu, ele me indicou que o seguisse, e assim eu fiz. Ele abriu a porta e parou ao lado dela me dando passagem, lhe dei um sorriso de agradecimento e entrei.

 A casa era enorme por dentro também, eu o segui até a sala de estar, que era muito bem mobiliada com móveis em tons pastéis, meus olhos correram até o piano branco próximo á janela larga.

- Você toca? – ele indagou, percebendo que eu encarava o piano.

- Eu fiz algumas aulas quando era criança.

- Podemos incluir aulas de piano ao treinamento se você quiser. – ele riu.

- Parece ótimo. – ri.

 Eliel se sentou em uma das pontas do enorme sofá creme, e indicou que eu me sentasse, assim o fiz, ele me olhava com um sorriso carinho nos lábios.

- O que deseja saber sobre o treinamento?  - sua voz serena passava tranquilidade.

- O que eu vou fazer exatamente?

- Você vai fazer um pouco de tudo Mia, terá diversos tipos de lutas, o maneio de armas brancas, vai aprender sobre a história dos anjos, sobre os dons, sobre nossas leis e regras, vai vivenciar inúmeros tipos de situações que um anjo pode passar, como protetor ou morte.

- E como caçador? – eu não sei porque isso me veio a mente, desde o dia em que Max me disse sobre os caçadores de demônios a minha aguçada curiosidade imaginava como seria.

 Eliel pareceu surpreso com a minha pergunta, e me lembrei de Max dizendo que anjos caçadores só podem ser voluntários.

- Bom, nós não temos um treinamento especifico para anjos caçadores, mas tudo o que é passado nos treinos serve para eles também, mas por que a pergunta? – ele arqueou uma sobrancelha.

- Apenas curiosidade. – disse dando de ombros.                                          

 Ele me olhou desconfiado, mas não disse mais nada sobre o assunto, e eu fiquei aliviada.

- Você quer começar o seu treinamento amanhã então?

- Bem, eu gostaria de conhecer um pouco mais a cidade antes, sei que tenho que começar o mais rápido possível, mas um ou dois dias a menos não fará muita diferença, não é? – sorri.

- Creio que não Mia, o treinamento vai ser intenso de todos os jeitos, nós temos apenas um mês e meio, e como você vai estar morando com o líder Shane, posso pedir para que ele te treine enquanto estiver em casa também.

- Sem folgas não é? – disse rindo.

- Sem folgas. – ele confirmou – Por isso você tem dois dias, para se estabilizar, conhecer a cidade, e descansar, e então começaremos o treinamento, combinado?

- Combinado.

- Vou levar você de volta, preste atenção no caminho criança, você o fará todos os dias.

- Vou fazer o treinamento na sua casa? – arquei as duas sobrancelhas, isso é novidade.

- Sim, não posso treinar você junto com os outros, o seu treinamento vai ser bem mais puxado que o deles. – eu apenas assenti.

 Acho até melhor assim, evitar olhares e murmúrios sobre mim.

 Nós voltamos até a central, ou entrada como eles chamam, me despedi de meu avô e comecei a procurar Alex.

 Alguns minutos depois eu finalmente o encontrei, ele estava conversando com uma garota de cabelos loiros bem claros, ela sorria como boba para ele, não pude evitar um revirar de olhos.

- Alex. – disse alto próximo a ele.

- O que você quer? – ele respondeu sem olhar para mim, com o seu tom mau humorado.

- Ir embora. - me dei conta que já fazia tempo que não via Max – Não, quero procurar o Max.

- Ah Mia. – ele disse reclamando, e se despediu da garota que fazia beicinho.

 Nós caminhamos em silêncio para fora da entrada, em direção ao Plano Superior.

- Eu acho que sei onde ele pode estar. – ele disse parando ao meu lado. – Nós vamos demorar horas com você caminhando assim. – ele disse revirando os olhos, e em um segundo ele me pegou no colo, soltei um grito de surpresa, o que o fez rir, então ele começou a correr, sim, correr e bem rápido.

 Eu segurava em seu pescoço, fechando os olhos com força, sentindo apenas a brisa abafada em meus cabelos.

 Não sei quanto tempo se passou, Alex parou e me soltou, fazendo os meus pés baterem com força contra o chão.

- Obrigada pela delicadeza. – murmurei irritada, ajeitando minha roupa.

- Ele deve estar aqui. – ele indicou uma casa com a cabeça.

 A casa era toda rosa bem clarinha, não muito grande, nem muito pequena, haviam algumas escadas e então uma varanda. Segui Alex pela varanda, ele parou em frente a porta e bateu duas vezes.

- Amélia. – gritou.

 Amélia? Então é aqui que ela mora? E eu vou conhece-la agora? A mulher que treinou a minha mãe, e a ajudou a fugir comigo, e também a treinadora de Max, que foi quem o criou, eu vou finalmente conhece-la, dei uma rápida ajeitada no cabelo, e então vi a porta se abrir.