Num navio, numa cabine de passageiros, um jovem dormia tranquilamente. Ele tinha cabelos cor de chocolate, puxados para trás, com uma franja e pele alva. Sua vestimenta consistia de uma camiseta negra, com uma jaqueta de couro cinza e uma calça jeans tão escura quanto a camiseta. Ele parecia ter um sonho tranquilo, calmo até.
Algo que, o jovem não desfrutava a muito tempo. Ao seu lado, um corpo feminino o observava com olhos gentis. Uma melancolia natural estava ao redor da mulher.
Ela tinha uma asa de anjo e outra de demônio, usando uma roupa de látex para cobrir seu corpo e possuindo um terceiro olho em sua testa. Sua pele era morena, e seus cabelos roxos desciam até suas costas.
Seus lábios carnudos estavam coloridos num batom roxo, e seus olhos, heterocromáticos, tinham as cores laranja e verde em cada um. O jeito que o jovem parecia tranquilo, quase inocente, a fez sorrir.
A verdade sobre Jaden era que ele era inocente, mais do que todos os outros, e por isso ela, Yubel, um espírito de monstros de duelo, sentia um forte aperto no peito ao ver o quanto sua condição o afetava.
Mesmo não podendo mais jogar o jogo que tanto amava, seu baralho ainda estava guardado em sua caixa, próximo a cama do jovem. Seu disco de duelos estava a uma distância que seu braço podia alcançar, mostrando como o mesmo estava sempre pronto para se defender, caso fosse necessário.
Jaden era, entre muitas coisas, um jovem excepcional. Seu talento prodigioso para com o jogo monstros de duelo o fez se desenvolver mais rápido do que muitos a sua volta. Não só isso, mas sua aptidão natural com o lado espiritual do mundo o permitiu entender suas cartas como ninguém.
Contudo, aquilo que era mais especial em tudo sobre o jovem era sua herança. Por nascer em uma determinada data, enquanto um certo evento tomava parte no cosmos, Jaden nasceu com o espírito do Haou dentro de si.
Tal poder, por mais que o fez se tornar um duelista do nível nacional com apenas 10 anos, era mais visto como uma maldição para o jovem. Depois de tudo, ele nunca pôde duelar para se divertir… pois sempre que ele o fazia, aquela carta aparecia para ele.
Ele já a retirou do baralho, ele já a jogou fora, ele até mesmo tentou queimá-la… porém ela sempre voltava para seu arsenal. A marca que ele era o escolhido para ser rei.
A Superpolymerization. Uma carta que podia tornar os efeitos dos jogos reais, trazendo assim os jogos das trevas de volta para esse mundo.
Jaden, quando ainda era uma criança, usou a carta pela primeira vez… o resultado não foi agradável. Nem um pouco.
Antes que pudesse se lembrar mais do passado, uma presença se fez presente. Uma pressão tão grossa e maligna que não poderia ser produzida por um ser humano. Aparentemente, Jaden também a sentiu, pois abriu os olhos e, pegando seu baralho e seu disco de duelos, ele juntou ambos e se colocou em uma posição de combate.
Yubel também estava tensionada e, apontando a mão para a direção onde sentia a pressão, ela gerou uma esfera de energia. Ambos ficaram num silêncio tenso por mais alguns segundos e, após nada ocorrer, os dois parceiros relaxaram.
No entanto, um tremor no barco fez com que Jaden tivesse que se apoiar na mesinha de cabeceira ao seu lado. Olhando para Yubel, ambos acenaram silenciosamente para o outro e, com rapidez, eles foram em direção a porta da cabine em que estavam hospedados.
Saindo de lá, eles sentiram o tremor mais uma vez, porém dessa vez estava mais forte. Jaden se segurou na parede, raiva em seus olhos castanhos.
“Droga… vamos para a proa do navio.” Jaden anunciou, indo ver o que estava ocorrendo.
Ambos espírito e humano se dirigiram para o local onde os tremores estavam ocorrendo. O navio em que estavam era um de pesca. Jaden conseguiu ganhar uma passagem nele ao ganhar uma aposta contra o capitão do mesmo.
Correndo, eles sentiram outro tremor. A diferença é que, junto ao tremor, também se seguiu uma explosão. Jaden, olhando para trás, viu fumaça vindo da sala de máquinas. Sentindo seus sapatos molhados, o jovem olhou para baixo e viu a água do mar.
“Maldição.” Jaden exclamou, correndo em direção ao deck principal, em busca de um bote salva-vidas.
Correndo, ele então chega ao seu destino, apenas para ver diversos marinheiros lutando contra um monstro.
Ele tinha escamas azuis, com três chifres rubros e olhos escarlate. Jaden, como o especialista que era em monstros de duelo, reconheceu a criatura em instantes.
Mesmo ele não duelando com a mesma frequência de antigamente, ele seguia as principais tendências do jogo, junto com as cartas mais populares. Ele amava tanto monstros de duelo, que estudava o jogo constantemente.
“Eu ativo a carta de magia, buraco negro!” Jaden falou, sorrindo ao ver o monstro que atormentava o navio ser destruído em pedaços.
Seu disco, no entanto, não deixaria a felicidade durar.
“Penalidade de intrusão de duelos ativada.” O jovem sentiu um poderoso choque percorrer seu corpo. Sua face quase se contraiu em dor, no entanto, o jovem já havia sofrido mais do que isso. Suspirando, ele olha em direção ao duelo que se seguia.
Era o velho de antes, o capitão do navio que levava Jaden, capitão Stern. Jaden, indo em direção ao velho, notou o quanto machucado ele estava. Sua respiração estava fraca, e sua pele estava suja com fuligem e cheia de queimaduras.
O marcador de vida de Stern tinha apenas 400 pontos de vida, o que era ruim.
Jaden sabia o que significava um monstro ser invocado no reino mortal. Um jogo das trevas estava ocorrendo. A dor que ele sentiu com o choque e os ferimentos de Stern só comprovavam mais ainda isso.
Jaden, irritado, olhou em direção ao oponente de Stern. Ele estava acima dos muros da proa, sorrindo arrogantemente. Vestia um manto negro e uma bandana marrom em sua cabeça. Seus olhos eram escarlates e possuía uma barba azul clara em seu rosto.
Apertando os punhos, Jaden engoliu a ira que sentia. Tentaria achar uma maneira de não precisar duelar, pois não queria matar alguém… mas estava realmente tentado a deixar sua raiva o dominar.
“Alguma chance de você sair desse lugar sem precisarmos entrar em confronto?” Jaden falou, sorrindo amigavelmente.
“Não… nenhuma.” O homem falou, simplesmente. Ele então olha na direção dos marinheiros que ali estavam, seus olhos eram os mesmos do demônio que fora destruído, o que mostrava que ele fora possuído pelo mesmo. “Eu sou um ladrão depois de tudo. Roubarei o conteúdo do navio e a alma de seus passageiros.”
“Entendo… então não tem outra forma.” Jaden falou, suspirando tristemente. Olhando em direção ao seu oponente, ele saca 5 cartas de seu deck e sorri. “Eu serei seu oponente.”
O homem então se começa a rir. Olhando arrogantemente para Jaden, ele compra uma carta e então coloca as duas que haviam em sua mão viradas para baixo na zona de magia e armadilha e encerra seu turno.
‘Entendo… Stern deve tê-lo forçado a invocar aquela criatura usando todos os seus recursos… eu aposto que são duas armadilhas ali… vamos acabar com isso logo… e se possível, sem que ninguém morra.’ o jovem pensou, analisando o campo de batalha.
“Meu turno, eu compro!” Jaden falou, olhando sua mão. Ele tinha todo o necessário para derrotar seu oponente. “Eu invoco E-Hero, Avian! Em seguida, eu ativo a magia rápida, Typhoon Bullets! Essa magia só pode ser ativada quando um E-HERO do atributo vento está no meu lado do campo, me permitindo destruir duas magias ou armadilhas no campo.” Jaden então aponta sua mão para as duas cartas viradas para baixo, e um tornado com diversas penas sai do holograma de sua magia, destruindo ambas com uma explosão.
“Tolo… nesse momento, minha armadilha é ativada!” O pirata falou, sorrindo maldosamente. Foi então que Jaden entendeu o que seu oponente havia feito.
‘Uma armadilha que se ativa no cemitério!’ O jovem castanho pensou, irritado. Ele devia ter previsto isso…
“Bluish Revival! Quando essa carta está no meu cemitério, com um efeito rápido, eu posso a banir, junto com outra carta para invocar um monstro ‘Bluish’ da minha mão ou cemitério.” Após falar isso, o pirata pega a carta que Jaden destruiu ao se meter no duelo. “Você é cauteloso demais jovem. Se quisesse vencer de fato, teria atacado diretamente quando teve a chance! Apareça, Bluish Archfiend!”
O imenso demônio que Jaden se livrou reapareceu, fazendo o jovem engolir em seco. Aquela criatura era poderosa demais, e não podia ser alvo de magias.
“Use-me… sabe bem que não pode vencer, pois você é muito fraco… use-me.” Uma voz distorcida falou no ouvido de Jaden, tirando o seu foco do duelo a sua frente. A voz do Haou era assustadora. Não por ser a voz de um monstro, mas sim por ser extremamente sedutora.
Se Jaden não soubesse do que o Haou era capaz para atingir a vitória, ele já teria sucumbido a tentação de usar o poder do rei.
‘Não… eu sou forte… eu me tornei forte… não preciso de sua ajuda!’ Jaden repetiu essas palavras em sua mente, como um mantra. Ele olhou seu oponente com raiva clara em seu olhar. Não havia muito o que pudesse fazer com suas cartas contra o monstro a sua frente. Bluish Archfiend possuía incríveis 3000 pontos de ataque e não podia ser alvo de magias, o que fazia com que fosse um ser difícil de se lidar, no entanto, toda a carta tem suas fraquezas… e se o poder de apenas uma carta não lhe concede a vitória, então o correto a se fazer é uma combinação.
“Eu ativo a magia Polimerização!” Jaden falou, e então, uma certa brisa se fez presente. Era fria, como se fosse um presságio para os marinheiros e para o pirata, os olhos de Jaden brilharam em um frio e maldoso amarelo, quase como se fossem chamas oriundas do mais profundo inferno. “Fundindo minha E-HERO Burstinatrix e meu Avian, criando assim um novo monstro! Apareça, E-HERO Flame wingman!”
‘Esse moleque me assustou com a pressão que ele gerou a alguns momentos atrás… contudo, ele só criou outro fracote…’ O pirata sorriu, contando apenas com o poder de ataque do seu adversário. “Só isso? No próximo turno eu…”
“Não haverá próximo turno.” Jaden decretou. Sua voz solene e fria, como uma lâmina, fez com que um calafrio percorresse a espinha dos marinheiros e seus olhos gelados e brilhantes, mostravam um belo contraste, quase hipnótico de tão assustador. “Eu ativo a magia rápida Winged Desperate! Quando essa magia é ativada, todos os monstros tipo vento no meu campo dobram seus ataques, contudo, todos os meus E-HERO são destruídos no final da fase de batalha.”
Foi então que, subindo aos céus, Flame Wingman se incendeia e, com sua descida, ele impacta contra o crânio do Bluish Archiend, o destruindo numa explosão e fazendo com que o pirata que enfrentava Jaden perdesse 1200 pontos de vida.
“Nesse momento, o efeito de Flame Wingman ativa… quando ele destrói um monstro por batalha, os pontos de ataque do monstro são subtraídos de seus pontos de vida.”
“Mas isso quer dizer que…” O pirata não ousou completar a frase, entendendo o que aquilo significava. Ele nunca perdeu um jogo das sombras. A prova disso era sua presença nesse mundo… portanto, saber que era a sua vez de ser derrotado, e de forma tão simples… o irritava.
“Quer dizer que isso é um adeus.” Os olhos de Jaden brilhavam ainda mais, assustando o bandido do mar. Naquele momento, Flame Wingman apareceu a frente do homem e, apontando sua boca de dragão na mão esquerda para ele, o corpo do homem se incendiou.
O grito agonizante dele despertou Jaden do transe em que o jovem estava, o que tornou seus olhos amarelos novamente castanhos. O jovem, ao ver a destruição que causou, e o homem a sua frente, assumiu um olhar triste. Não era a primeira vez que alguém era queimado enquanto duelava contra o jovem, e também não seria a última.
O mais triste, no entanto, foi o homem pular no mar para conseguir apagar as chamas. A mesma água fria e selvagem que estava abaixo deles engoliu o pirata, o matando afogado em alguns minutos.
Jaden olhou para o oceano, tristeza e melancolia em seu olhar. Ele foi, então em direção a um bote salva-vidas. Ele não tinha muito consigo, levando apenas um disco de duelos e seu baralho. Olhando para os homens do mar, ainda estupefatos com o que viram, ele dá um último aviso, antes de sair do barco.
“O navio afundará em alguns minutos… se eu fosse vocês, tentaria sair do mesmo antes disso.” após essas palavras deixarem sua boca, Yubel usou suas garras para cortar a corda que segurava o Bote, e ambos saíram do barco, indo em direção ao continente asiático. Eles estavam, depois de tudo, bem próximos de casa.
Numa sala de aulas, uma jovem de longos cabelos loiros observava como seus colegas falavam sobre o futuro de cada um deles. Ela via como cada um falava sobre o sonho de se tornar um duelista, esperança clara em seus olhos, contudo, o fato era que as chances de algum deles passar pelo exame da melhor academia de duelos do mundo era baixa.
Na realidade, estatisticamente, apenas um aluno por escola passava pelo exame. Mesmo ele estando a 6 meses de distância, ela já estava pronta para vencer. Ela precisava, depois de tudo, encontrar seu irmão.
O mundo em que viviam era algo curioso. Um jogo de cartas podia dar mais poder para alguém do que alguns políticos, e se ela conseguisse tal poder, talvez acharia seu irmão que estava perdido no mundo.
Saindo de sua sala de aulas, Alexis Rhodes meramente foi para a biblioteca municipal. Precisava melhorar, e rápido.
Enquanto caminhava pelos corredores, ela viu, com sua visão periférica, dois jovens duelando no campo de esportes da escola. Vendo as táticas infantis deles, ela não pode evitar se irritar.
Ambos perderam várias oportunidades de criarem ótimas combinações, e alguém perfeccionista como ela rapidamente se enervou. Respirando calmamente, ela seguiu em direção a saída. Tinha outras coisas a fazer do que ajudar aqueles que não podem ser ajudados. Além do mais, sua reputação na escola como a ‘rainha de gelo’ já era ruim o bastante. Não precisava de mais problemas.
Saindo da escola, ela se locomoveu pelas ruas da cidade Dominó, percorrendo o caminho até o local onde estavam seus únicos amigos de verdade, os livros. Enquanto caminhava, ela viu um jovem de cabelos castanhos olhar de um lado para o outro, com certa ansiedade e nostalgia.
Ele parecia nervoso, até que de repente, viu um idoso caminhando no lado oposto da rua onde estava.
Naquele momento, um sorriso verdadeiro apareceu no rosto do jovem e, indo em direção ao velho, ele o cumprimentou e, ambos então se abraçaram. Saindo dali com sorrisos no rosto, ambos começaram a caminhar em uma direção oposta para a qual Alexis estava caminhando. A jovem, sem se importar muito, meramente saiu do local, indo em direção a biblioteca, sem saber sobre a importância do jovem, nem em seu presente, ou em seu futuro.
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