Capítulo único
Essa história se passa na Idade Média, em um pequeno povoado chamado Zakarpats'ka.
Localizada no sopé da montanha e cercado ao sul por uma densa floresta, Zakarpats'ka possuía pouco mais de trezentos habitantes e era um vilarejo pacato, com seus moradores soturnos e clima predominante frio que os castigava todos os dias.
Era um povoado como qualquer outro, com poucos comércios em sua rua principal e pequenas casas espalhadas aqui e ali; daqueles onde todos se conhecem e sabem da vida de todo mundo.
A maioria havia nascido lá, já outros, como era o caso de um jovem caçador, havia vindo de longe e chegado sem trazer nada além de uma trouxa nas costas e um passado obscuro.
E assim como todo pequeno povoado, Zakarpats'ka também tinha a sua história com o sobrenatural. Em seu caso, mais precisamente, com o lobo sanguinário que aterrorizava o lugar matando as criações, destruindo as plantações e assustando a todos.
Não se sabia muito sobre ele, além do fato de que todos que foram corajosos o suficiente para perseguirem-no nunca mais voltaram para contar a história.
Até que o jovem caçador decidiu tentar a sorte.
E é a partir daqui que duas vidas se cruzam e a história começa.
The Big Bad Wolf
O homem caminhava sem pressa pelas ruas do pequeno povoado trazendo em suas costas um saco contendo a sua caça da semana.
O vento frio do meio de tarde açoitava seu rosto sem pena fazendo os fios negros de seu cabelo grudarem na pele e vez ou outra atrapalhar a sua visão.
Era início de julho e o inverno estava em seu auge. As manhãs eram frias e as noites mais ainda, os mais velhos diziam que uma nevasca se aproximava e ele não deixava de concordar. Havia começado a nevar há algumas semanas e o tempo só dava indícios de piorar.
Algumas crianças brincavam na rua, cantando alguma cantiga de roda e alguns moradores andavam de lá para cá indo e vindo de suas casas.
Algumas pessoas ― geralmente mulheres ― paravam para cumprimentá-lo e felicitá-lo pelo retorno; já outros apenas o observavam passar com a costumeira expressão de desprezo em seus rostos.
Já fazia pouco mais de um ano que o jovem caçador havia se mudado para Zakarpats'ka. Mas pelo o que ele podia perceber, provavelmente nem mesmo dez anos não seriam o suficiente para que ele fosse visto como algo além de um forasteiro.
Virando a esquina ele viu a pouca distância o seu destino, a pequena venda para onde costumava levar o que conseguia em suas caçadas.
Quando alcançou o lugar e abriu a porta ele bateu os pés na entrada e as mãos sobre os ombros, deixando cair os flocos de neve que haviam se acumulado sobre o grosso casaco de pele.
― Olá, Sasuke ― uma voz feminina o cumprimentou tão logo avistou o moreno na porta da frente.
― Ino ― ele a cumprimentou de volta, tirando o saco das costas e depositando-o sobre o balcão.
Divertido, ele observou quando ela abriu o saco e então puxou dele os quatro coelhos mortos pelas orelhas, fazendo o possível para não encostar em mais do que isso.
― Irei levar isso para os fundos ― ela murmurou sem conseguir esconder o nojo, guardando novamente os animais e então dando as costas a ele.
Sasuke ficou observando-a até que o vestido azul e cheio de babados desaparecesse por uma porta.
Ino era uma bela moça, bem afeiçoada e de boa família.
Sasuke sabia do seu interesse nele, afinal, não era como ela tentasse fingir o contrário, mesmo com a desaprovação do pai dela.
Ele por outro lado não estava interessado.
Desde a morte de sua esposa durante o parto do primeiro filho, ele havia decidido se fechar para qualquer outro possível relacionamento.
Não era como se a tivesse amado a ponto de se recusar a colocar outra em seu lugar, muito pelo contrário. No pouco tempo em que ficaram casados ele havia aprendido a apreciar sua companhia. No entanto, não passava disso.
Suas razões eram outras.
Sasuke era um homem amaldiçoado, era o que diziam. A morte parecia acompanhá-lo como um ímã. Primeiro levou seu pai e irmão mais velho, em seguida a sua mãe que não suportou conviver com a dor da perda. Por fim levou a esposa e o filho que sequer chegou a conhecer o mundo.
E ele simplesmente não estava disposto a tentar novamente a sorte.
O que de todo modo não parecia acabar com o interesse de todas as jovens solteiras de Zakarpats'ka.
Finalmente Ino voltou dos fundos da pequena loja e depositou sobre o balcão uma trouxa com pães, uma garrafa de leite e duas moedas.
― Você tem sorte de ter conseguido algo ― ela comentou, referindo-se ao que Sasuke havia trazido ― Os outros caçadores não estão tendo a mesma.
― O lobo ― ele comentou e a loira balançou a cabeça em concordância.
A primeira história que Sasuke ouvira tão logo se mudou para o vilarejo foi sobre a temível besta que aterrorizava o lugar há anos.
Segundo diziam, se tratava de um lobo enorme, com mais de dois metros de altura, pêlos claros como a neve e dentes tão afiados que poderiam destrinchar um homem adulto sem nenhum esforço.
Havia histórias sobre ele que remontavam à fundação do povoado, o que apenas reforçava a ideia de que se tratava de um ser demoníaco para que pudesse viver tanto tempo.
Sasuke era um homem cético, nunca havia acreditado nas histórias sobre feras sobrenaturais, mas preferia se manter calado à ter de enfrentar a fúria de duvidar das crenças alheias.
Depois de trocar mais algumas palavras com a moça, Sasuke se despediu e abandonou a loja, tomando o caminho da sua pequena choupana que ficava totalmente afastada das outras, o que era apenas mais um motivo para que os moradores torcessem o nariz para ele.
Ao entrar ele foi recebido pelo silêncio, como já era costume todas as vezes em que voltava. Por vezes cogitou criar um cão para que pudesse lhe servir de companhia, porém temia que ele virasse "comida de lobo" assim como acontecia com os outros.
Colocando o pão e o leite sobre a mesa ele em seguida retirou o grosso casaco forrado de pele de urso e o pendurou no cabide que ficava atrás da porta de entrada.
O próximo passo foi o de acender a lareira para que pudesse aquecer a casa e esquentar a panela de caldo que ele havia preparado na noite anterior. Pretendia apenas comer e dormir algumas horas, embalado pelos silvos do vento que só parecia aumentar de intensidade a cada hora que passava.
Uma batida na porta, entretanto, o fez perceber que seus planos sofreriam mudanças.
Sasuke tirou o caldeirão do fogo e o colocou sobre a mesa, para que não queimasse e então se dirigiu a porta da frente, a fim de ver quem poderia estar querendo vê-lo aquela hora da tarde.
Esperava que não fosse mais uma das moças oferecendo-lhe uma fatia de torta ou outros tipos de guloseimas que ele jogava fora tão logo elas viravam as costas.
Para sua surpresa em vez de uma mocinha de sorriso largo e vestido apertado quem o esperava encolhido na entrada da choupana era Naruto Uzumaki, o líder do vilarejo.
E ele não parecia mais feliz do que Sasuke em estar ali.
― Naruto ― Sasuke cumprimentou-o, estranhando a sua visita ― O que o traz à minha casa à essa hora?
Sasuke não pretendia soar rude, não tinha nada contra o Uzumaki, na verdade tinha até uma certa estima pelo homem que o recebeu ali sem tentar se meter demais nos seus assuntos. Ainda assim, ele sabia que o outro não estaria ali sem qualquer pretexto e isso era o que Sasuke queria descobrir.
― Sasuke ― Naruto devolveu rapidamente o aceno de cabeça ― Posso ter a palavra com você por alguns minutos?
Sasuke franziu o cenho, sem entender, mas ainda assim deu espaço para que o outro entrasse, fechando a porta atrás dos dois e indicando um banco para que se sentasse.
― Agradeço, mas não há necessidade ― Naruto levantou uma mão em negativa ― Eu serei breve.
― Pois estou ouvindo ― Sasuke disse, apressando-o ao falar logo o que queria. Paciência nunca havia sido o seu forte.
Naruto suspirou, quase em pesar, e pareceu pensar por alguns instantes antes de voltar o olhar para o outro.
― Não há razão para que eu o enrole ― começou em tom sério ― Creio que assim como todos saiba dos ataques que vêm ocorrendo com cada vez mais frequência ao povoado e principalmente da origem deles. Pois bem, vim tratar a respeito disso, ou melhor, vim fazer-lhe um pedido.
Sasuke apenas balançou a cabeça, incitando o Uzumaki a prosseguir.
― Você é o melhor caçador que temos ― ele disse sem preâmbulos e Sasuke suspirou já prevendo onde aquilo os levaria ― Disse que não o enrolaria e não farei. Não suporto mais ver o sangue dos meus derramado na neve por essa criatura vil.
― Quer que eu o mate ― Sasuke resumiu o seu pensamento e Naruto aquiesceu, desanimado.
― Sei que é muito a pedir, porém não vejo outra alternativa.
Sasuke ponderou por alguns instantes. Realmente era muito a se pedir, principalmente ao se considerar que de todos os outros que se aventuraram na floresta à procura da fera, nenhum jamais foi visto vivo. Apenas seus pedaços espalhados pela neve puderam dar um vislumbre do que havia acontecido.
Por outro lado, ele também sabia que o fato de Naruto estar pedindo isso à ele era porque sabia que as suas chances de voltar inteiro ― ou ao menos com vida ― eram melhores do que qualquer outro ali.
E ao se lembrar do pai e irmão mortos há alguns anos por uma besta como aquela, Sasuke não precisou de muito para chegar à uma conclusão.
O que tinha a perder, de qualquer forma?
― Eu irei ― ele disse de repente, vendo a feição de Naruto se iluminar em clara esperança ― Serei eu a dar um fim ao lobo.
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O frio ficou ainda mais intenso conforme o sol deu lugar à lua. O vento castigava sem pena o caçador que se aventurava na escuridão da floresta, mas mesmo isso não diminuía o ritmo de seus passos. A mata tornava-se mais densa conforme ele se embrenhava nela, cada vez mais longe. Os galhos vez ou outra arrastavam-se na pele de seu rosto, ferindo-a, mas ele mal sentia, amortecido pela baixa temperatura.
Sua respiração saía em longas baforadas, formando pequenas nuvens de fumaça ao entrar em contato com o ar frio da noite e ele estava começando a sentir os primeiros sinais de cansaço. Já estava andando há horas e a dificuldade de se locomover na neve que engolia cada passo seu estava finalmente cobrando o seu preço.
Sair à noite talvez não tenha sido a melhor das escolhas, mas por alguma estranha razão, Sasuke gostava de caçar na escuridão, quase um animal que prefere se ocultar na penumbra.
Saíra tão logo Naruto se fora com um semblante satisfeito e esperançoso. Perdeu tempo apenas em preparar uma pequena trouxa com flechas, jantou o quanto pôde de caldo ― sabendo que não seria prudente levar para a floresta algo que pudesse chamar ainda mais a atenção dos animais ― e vestiu sua roupa mais quente antes de fechar a porta de sua casa e tomar o caminho para fora do vilarejo.
Não seria a primeira vez que o faria, exceto que daquela ele não sabia se estava caçando ou sendo caçado.
Podia ser apenas o vento pregando peças em seus ouvidos, mas ele jurava que foi capaz de ouvir algumas vezes o som de pequenos passos entrando em contato com a neve e sabia que não se tratavam dos seus.
Gravetos quebravam e sussurros soavam ao seu redor, quase como se algo o cercasse, correndo em círculos de forma a enlouquecê-lo.
Ignorando a sensação amortecida que o frio provocava em suas mãos, ainda que protegidas com luvas, ele levantou a besta à frente de seu corpo, preparando-se à qualquer momento para um ataque.
Não sabia dizer quão longe os outros caçadores haviam conseguido chegar. Ele mesmo nunca havia chegado àquele ponto em suas caçadas; geralmente os pequenos animais, como as lebres que ele matava, pareciam se afastar do coração da floresta. E todos sabiam bem o porquê.
Esperava que depois de horas andando já pudesse ter por fim avistado algo. Não era tão presunçoso a ponto de acreditar que conseguiria matar a fera com uma única flecha, mas de toda forma esperava poder terminar logo com isso e voltar para o calor de sua choupana. Ainda que tenha nascido e se criado naquelas terras Sasuke nunca fora um apreciador daquele clima frio.
Assim que trespassou uma determinada árvore caída, ele finalmente teve o vislumbre de algo ao longe.
E que definitivamente não se parecia nada com os relatos que corriam pelo povoado.
Um belo lobo branco fitava-o à distância, seu pêlo movendo-se com o vento que açoitava à ambos. Estava completamente imóvel e Sasuke teve certeza de que se não fosse a árvore atrás dele certamente teria se misturado à candidez da neve.
Certamente não poderia ser essa a tão temível besta que punha terror sobre Zakarpats'ka. Sequer seu tamanho era assombroso, ainda que fosse acima da média se comparado aos que Sasuke já havia visto ao longo da vida.
Devia ser apenas um lobo qualquer, talvez perdido de sua matilha. Ele ignorou completamente o pensamento de que não havia muitos lobos vivendo por ali.
Ele e a criatura continuaram a se encarar por alguns instantes, como se esperando quem se atreveria a realizar o pequeno movimento.
O vento bateu com ainda mais força sobre o rosto de Sasuke e uma mecha do seu cabelo, que até então estava preso sob a touca do casaco, se soltou, caindo diretamente na frente de seus olhos.
A ação de levar uma mão até o rosto e puxar o cabelo novamente para trás pareceu durar uma fração de segundos, mas de alguma forma havia sido o suficiente para proporcionar uma fuga ao animal, pois quando Sasuke olhou novamente para o lugar onde ele devia estar parado nada mais viu.
Levantando novamente a besta e posicionando-a, ele começou a olhar em torno de si, tentando prever se o lobo estaria por perto, mas tudo o que conseguiu foi ouvir o som de algo correndo novamente em torno dele.
Sasuke começou a virar a cabeça rapidamente em todas as direções sempre que ouvia algum galho se quebrando ou sons de corrida, sempre com a besta pronta para fazer um tiro, mas sequer encontrava algo em que pudesse mirar.
De repente os passos pareceram se tornar ainda mais próximos e quando ele virou-se sequer teve tempo de apontar a sua arma para o lobo que correu em sua direção. Ao dar um passo para trás ele perdeu o equilíbrio e caiu de costas, batendo então sua cabeça com força sobre uma pedra.
Sua visão começou a ficar turva e então escurecer ao poucos, mas antes da inconsciência tomá-lo ele conseguiu discernir a forma do lobo andando em sua direção.
Essa foi a última coisa que a sua mente foi capaz de registrar.
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Quando tentou abrir os olhos sentiu imediatamente uma pontada na parte de trás da cabeça e isso o levou na mesma hora a cessar as tentativas.
Não demorou muito a perceber que aquela não era a única parte do seu corpo que doía. Sentia seus músculos reclamarem e a garganta queimar como se não visse água há dias.
Levando uma das mãos à cabeça Sasuke esfregou a sua tez até que a dor remediasse e então tentou novamente abrir os olhos vagarosamente.
De início viu tudo desfocado, mas aos poucos tudo foi tomando forma definida e ele se viu encarando um teto de palha que jamais vira antes.
Onde havia parado?
Tudo o que se lembrava era de estar andando em meio à neve e então do lobo branco correndo em sua direção pronto para atacá-lo.
Pensar no lobo fez com que ele se sentasse de uma vez, arrancando um gemido sofrido de sua garganta quando sua cabeça novamente latejou, ainda mais forte do que antes.
― Não se esforce muito ― uma voz feminina soou repentinamente à sua esquerda e Sasuke na mesma hora virou a cabeça naquela direção, vendo uma mulher parada no umbral da porta à encará-lo.
― O que…? ― ele murmurou confuso, tentando entender o que estava acontecendo.
― Eu o encontrei em meio a neve, prestes a morrer ― a mulher falou novamente, esfregando as mãos em um trapo que trazia e então se virando para ele ― Então o trouxe para a minha cabana.
Quando olhou com cuidado para suas feições, Sasuke sentiu como se tivesse levado um soco. Aquela certamente não era só a mulher mais exótica que ele já havia visto na vida, como também a mais bela.
A sua pele era extremamente branca e contrastava perfeitamente com o vestido vermelho que abraçava as suas formas delicadas com uma luva, o decote permitia que ele visse a pele leitosa do seu colo e o topo de seus seios evidenciados pelo aperto do espartilho. O cabelo descia comprido até a altura da sua cintura e era rosa como as flores que ele se lembrava da sua mãe gostar de cultivar. Mas o que mais chamava a atenção sem dúvidas eram os olhos verdes e espertos que pareciam encará-lo em ousadia.
E então tentando desvencilhar sua mente da visão mais do que tentadora da mulher à sua frente, Sasuke finalmente prestou atenção no que ela havia dito.
Ele havia entendido errado ou aquela mulher delicada o havia trazido do meio da floresta até ali?
Antes que pudesse questioná-lo, no entanto, ela rapidamente se aproximou dele com um copo que somente agora ele percebeu estar em suas mãos e sentou-se ao seu lado. Somente então Sasuke notou que estava em uma cama.
― Beba ― ela instruiu-o, levando o copo a seus lábios e praticamente obrigando-o a beber antes que Sasuke pudesse dizer qualquer coisa.
O líquido estava numa temperatura agradável, morno, mas o seu gosto amargo tirou um careta de Sasuke.
― O que é isso? ― ele perguntou, negando-se a beber um segundo gole quando ela novamente levou o copo à sua boca.
― Um chá de ervas que irá ajudá-lo com seus ferimentos ― ela respondeu simplesmente ― Eu mesma fiz.
Sasuke crispou o cenho e olhou para o líquido de cor duvidosa.
― Se eu quisesse matá-lo não faria sentido tê-lo salvo na floresta, não concorda? ― ela questionou, provavelmente percebendo a dúvida no seu rosto.
Isso não confortou muito a Sasuke, no entanto ele tinha que concordar que de fato não fazia muito sentido, então apenas pegou o copo e virou o líquido de uma vez. Consequências que se danassem.
A mulher sorriu parecendo satisfeita e então se levantou, saindo pela porta e desaparecendo.
Sasuke ainda perdurou seu olhar para o lugar por onde ela desaparecera por alguns instantes, antes de começar a observar os seus arredores.
Assim como a mulher já havia dito, ele estava em uma cabana, que aparentemente era a casa dela. Estava em um quarto relativamente pequeno, que não possuía mais do que a cama onde ele estava deitado e uma cadeira velha em um dos cantos.
Pela janela que estava fechada ele podia ouvir claramente o vento batendo com força contra a madeira e presumiu que a nevasca devia estar em seu auge.
Olhando para seu corpo, ele notou que estava sem seu casaco, vestindo apenas a camisa cinza que tinha por baixo dele e as calças. Levou uma das mãos até a barra da camisa e com cuidado levantou-a. Seu abdômen estava enfaixado, provavelmente tapando o ferimento que ele devia ter adquirido na queda.
Quando passou a mão levemente sobre os retalhos ele sentiu que havia algo por baixo e quando levantou um pouco mais a camisa viu as pontas de algumas folhas saindo por baixo das ataduras.
Mais ervas.
Novamente, Sasuke não acreditava nesse tipo de coisa, porém vendo tudo isso e juntando com a imagem da mulher tão bela de cabelo estranhamente rosa ele não conseguiu achar outra alternativa que pudesse explicar aquilo.
― Uma bruxa ― ele sussurrou para o silêncio do quarto.
A ideia era tão insana aos seus ouvidos que ele quase riu em seguida. Mas o que mais podia explicar uma mulher como aquela sozinha do meio de uma floresta? Isso é, ao menos ela parecia estar sozinha, ele não havia ouvido mais ninguém e duvidava que se houvesse um marido ali ele a deixaria sozinha com um estranho, ferido ou não.
Quando ouviu passos se aproximando ele abaixou novamente a camisa e se deitou, enquanto a mulher entrava no quarto, desta vez com uma vasilha em mãos.
― Precisa comer ― ela disse, entregando à ele o que parecia ser algum caldo e sentando-se na beirada da cama, próximo à seus pés.
Sasuke olhou para a expressão calma da mulher e então hesitante levantou a mão, tirando a vasilha da mão dela.
A comida cheirava bem, porém ele ainda hesitava em comê-la, ainda que o cheiro tenha feito seu estômago vazio protestar com a negativa.
E se ela tivesse posto algo ali? Sim, era uma ideia ridícula considerando que ele havia tomado o chá desconhecido há minutos atrás. Mas ainda assim seus instintos desconfiados não sabiam se poderiam de fato confiar na mulher estranha.
― Achei que já tivéssemos superado isso, caçador ― ela suspirou, encarando-o com uma expressão cansada ― A comida não está envenenada.
E como se para provar o seu ponto ela se debruçou na direção dele, próximo o bastante para uma mecha do seu cabelo raspar em seu braço e pegou a colher que estava dentro do recipiente, levando-a aos próprios lábios.
Sasuke observou em silêncio quando ela tirou a colher da boca vagarosamente enquanto não parava de encará-lo, devolvendo-a então à vasilha.
― Coma ― disse em tom de quem não deixava brechas para uma possível negativa dele.
Sasuke olhou uma última vez para o rosto bonito dela e então para a comida, pegando a colher com uma das mãos e começando a comer sem protestos.
A comida estava boa, não podia negar, ou talvez fosse o seu estômago contente por ter algo depois do que pareciam horas. Não se surpreendeu quando rapidamente viu o recipiente vazio.
E então espantou-se mais uma vez quando ela novamente se inclinou e dessa vez levantou uma mão, passando o dedo pelo queixo dele de modo a limpar um pouco de caldo que havia escorrido e então levando-a aos próprios lábios.
Sasuke sentiu-se repentinamente quente enquanto a observava passar a língua pelo dedo, sem nunca parar de encará-lo.
― Falta um pouco de sal ― ela disse de repente, estalando a língua e antes que ele pudesse responder a mulher se levantou e saiu do quarto.
Ele só percebeu que havia prendido a respiração quando seus pulmões reclamaram da falta de ar.
Ainda que aquela não fosse a única parte sua que reclamava naquele momento. Por razões distintas.
“Mulher estranha” ele pensou, esfregando o cabelo enquanto tentava clarear seus pensamentos.
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Os dias parecerem correr enquanto Sasuke ainda permanecia na cabana, curando-se de seus ferimentos. Havia tentando ir embora no mesmo dia, mas desistiu quando quase foi ao chão com a dor excruciante que o acometeu quando ele tentou se pôr de pé. Desde esse episódio ele havia se conformado em esperar até que se sentisse bem o suficiente para poder voltar.
Se para a vila ou para a sua “missão” seria algo que ele resolveria depois.
A mulher ― cujo nome ele ainda não sabia ― cuidava todos os dias dos seus ferimentos, limpando a área e trocando a bandagem depois de passar uma pasta de ervas que Sasuke não fazia a mínima ideia do que se tratava. Havia parado de questionar o que a mulher era no segundo dia em que acordou e percebeu que seu corpo não doía tanto quanto no anterior.
Fosse ela uma bruxa ou não isso não era da sua conta. Ainda que ele estivesse quase acreditando no sim.
Desde a primeira vez em que a viu parada na porta Sasuke se deu conta de que ela mexia com ele de uma forma estranha.
Sua voz suave era como música para seus ouvidos e mais do que uma vez ele se perguntou como seria se ela o chamasse pelo nome, ainda que “caçador” tivesse lá o seu charme.
O cheiro leve de flores que ela exalava, como as flores que brotavam na primavera, o deixava inebriado, a mercê do que ela quisesse fazer com ele.
Ela parecia fazer questão de desfilar sempre naqueles vestidos soltos pela casa e ele havia notado que mesmo sem o espartilho sua cintura continuava fina. Várias vezes se perguntou como suas mãos poderiam se encaixar ali. Isso sem falar que a pele leitosa do seu decote parecia ser um convite insinuante por si só.
E ainda havia aqueles malditos olhos, ah os olhos… sempre que ela o encarava com aquele par de olhos verdes embebidos em provocação Sasuke sentia que poderia ter a sua alma lida de trás para a frente e de qualquer outra forma que ela quisesse.
Ele estava enlouquecendo aos poucos, enfeitiçado por aquela mulher de uma forma que jamais havia se sentido antes.
Talvez ela fosse mesmo uma bruxa no fim das contas. Talvez tivesse lhe dado uma poção do amor em vez de uma cura para as suas dores e todas aquelas sensações que ela lhe provocava fossem apenas resultado disso.
― A neve começou a dar uma trégua ― ela anunciou, olhando pela janela enquanto envolvia o casaco de pele branco em torno de si ― Irei aproveitar para buscar mais algumas ervas na floresta.
Sentado na cama com as costas encostadas na parede Sasuke apenas balançou a cabeça em concordância, sem ter o que vocalizar em resposta.
E seguida pelos olhos escuros ela lhe deu as costas, logo sumindo pela porta. Mais alguns segundos depois Sasuke ouviu o som da porta abrindo e depois fechando.
Era assim todos os dias.
Geralmente no meio da tarde, às vezes pela manhã e ele tinha a nítida impressão de também ter ouvido algumas noites. A mulher dava qualquer desculpa e então saía da cabana.
No início ele chegou a pensar que talvez fosse algum tipo de desconforto por ficar ali sozinha com ele. Quer dizer, era apenas uma mulher jovem no meio da floresta com um homem desconhecido e com força mais do que suficiente para subjugá-la sem nenhum problema. No entanto ele logo descartou essa ideia.
Se havia algo que aquela mulher não parecia em sua presença, era incomodada. Não com a forma que parecia sempre estar disposta a provocá-lo, de forma inocente. Ou talvez nem tanto.
Ele descobriu que ela gostava muito de falar, quando começava parecia fazê-lo por horas, sobre qualquer assunto. Falava da neve, falava da goteira que havia aparecido na cozinha, dos animais que apareciam nas proximidades da cabana. Ela parecia capaz de falar sempre e sobre qualquer coisa.
Quão estranho então não era que ainda não lhe houvesse falado seu nome?
Ou nem mesmo perguntado o seu. E talvez pelo mesmo motivo Sasuke não a tenha questionado.
Mesmo em poucos dias ele havia até se acostumado com a sua presença. Não podia negar que a companhia dela fosse agradável.
Ainda que não deixasse de levantar suspeitas.
Depois de aguardar por alguns minutos, Sasuke escorregou para a beirada de cama e então se levantou, pensando no que faria a seguir.
Não seria aquela a primeira vez que ele sairia do quarto, na verdade três dias depois que acordou ali e sentiu o corpo menos dolorido ele jantou junto a mulher em sua cozinha, além de ter explorado o restante da cabana.
Era um lugar pequeno, mas não bagunçado; um quarto, além daquele onde ele dormia e um cômodo grande que se dividia entre sala e cozinha. Dispunha de poucos móveis e cada coisa parecia ter o seu devido lugar. Sasuke não havia visto qualquer objeto que pertencesse a um homem ou mesmo à uma criança e com isso havia confirmado suas suspeitas de que ela de fato morava ali sozinha.
Andando vagarosamente ele chegou até o cômodo maior e então se pôs a procurar. Não havia qualquer livro de bruxaria ou mesmo um caldeirão contendo poções. Nem sinal de qualquer objeto satânico ou algo que parecesse ser usado em algum tipo de ritual.
A única coisa que contrariava a história dela era que um dos armários estava abarrotado dos mais diversos tipos de ervas.
O que ela poderia então procurar no meio da floresta? Estaria talvez caçando algum animal?
Esse último pensamento o fez rir ao se lembrar da forma feminina e delicada.
Ao continuar procurando Sasuke acabou encontrando algo que pensou ter perdido no meio da neve: sua besta. Ele não julgou a mulher por tê-la guardado longe de seu alcance, ele teria feito o mesmo.
Sasuke ainda continuou em seu pequeno desbravamento até que um rosnado baixo chamou a sua atenção, parecendo ter vindo do lado de fora.
Fechando a porta do armário que estava vasculhando, ele caminhou até uma das janelas e a abriu com cuidado, procurando a fonte do som.
E não demorou nada para encontrar.
A poucos metros parado no meio na neve estava o mesmo lobo que o atacara há pouco mais de uma semana antes.
Parecia tranquilo enquanto sacudia a carcaça de uma lebre que estava presa em seus dentes, o sangue escorria em filetes pelo seu pêlo alvo, pintando de vermelho a neve sob seus pés.
Sasuke congelou por alguns instantes, porém quando sua mente voltou a funcionar ele cogitou andar calmamente até a besta que havia acabado de encontrar, então mais silenciosamente ainda colocar uma flecha na arma e acertar a garganta do animal.
Ali estava a sua chance de finalmente pôr um fim à tudo.
E como se adivinhando seus pensamentos o lobo pareceu voltar sua atenção à ele.
A respiração de Sasuke parou.
Poucos segundos depois os olhos verdes viraram-se novamente para a sua presa.
Aqueles poucos segundos no entanto, haviam sido o suficiente para colocar sua mente em um completo frenesi.
"Olhos verdes… olhos verdes… olhos verdes..." sua mente começou a repetir.
Com a atenção completamente focada na fera à sua frente, Sasuke viu com clareza o momento em que a lebre foi jogada para um lado e o lobo começou a se sacudir, provavelmente tentando se livrar da neve que se acumulara em sua pelagem.
Em seguida uma cena que parecia ter saído completamente de uma das histórias que seu irmão mais velho costumava contar à ele começou a se desenrolar na frente de Sasuke.
A forma do lobo de repente começou a mudar. Sua coluna se envergou de uma forma estranha, seu pêlo começou a desaparecer dando lugar à pele, o focinho alongado se transformou em um nariz pequeno e arrebitado e logo o ser que até então estava sobre quatro patas se pôs de pés sobre duas pernas.
A vista de seus olhos Sasuke viu a fera temida transformar-se na mulher que cuidou dele por todos aqueles dias.
E ele poderia até tentar se enganar e dizer que não era ela, mas mais visível do que a sua completa nudez estava o sangue que manchava todo o seu queixo e parte dos seios descobertos.
Praticamente num pulo ele correu de volta para o quarto enquanto o seu coração batia tão forte que parecia que iria sair pela boca a qualquer momento.
Ele conseguiu se deitar novamente na cama antes que suas pernas falhassem, mas a adrenalina ainda estava no máximo, enquanto a sua mente tentava entender o que ele havia visto.
A bela e formosa mulher que fora objeto dos seus mais vis desejos por todos aqueles dias era o mesmo lobo que o havia atacado.
Seria aquilo bruxaria? Ou talvez obra de uma espécie de demônio?
Quem sabe fosse o próprio diabo encarnado.
Sasuke não soube dizer.
Pouco tempo depois ele ouviu o som da porta abrindo e fechando e com isso todo seu sangue gelou.
Será que ela o havia visto? Será que faria dele sua próxima refeição? Mas se fosse isso, porque o estava ajudando? Seria uma criatura que gostava de brincar com suas presas antes de arrancar suas vísceras?
Sasuke amaldiçoou-se mentalmente por não ter pegado a besta e trazido consigo para o quarto. Agora também não teria como voltar lá e buscá-la.
Ele esperou que ela viesse até o quarto, talvez confrontá-lo ou mesmo devorá-lo, no entanto ela só o chamou quase uma hora depois, anunciando que o jantar estava pronto.
Houve poucos momentos em seus vinte e seis anos de vida que Sasuke se sentiu apreensivo sobre algo; aquele sem dúvidas foi o pior deles. Seus pés pareciam não querer obedecer o comando de seu cérebro e as batidas de seu coração pareciam são altas que ele se perguntou se a mulher que estava a poucos metros dele seria capaz de ouvir.
Não era como se ele exatamente estivesse com medo, já havia visto coisas ruins o suficiente, mas se sentia totalmente vulnerável sem qualquer tipo de arma. Não sabia que a mulher poderia apenas decidir se “transformar” novamente na fera e atacá-lo.
Quando chegou na cozinha ela já estava sentada à mesa e terminava de encher dois pratos com o que ela havia preparado. Em silêncio Sasuke andou até lá e então se sentou à sua frente, logo pegando o talher e tratando de comer. Se dessa vez a comida de fato estivesse envenenada essa ao menos seria uma morte menos dolorosa do que pelos dentes do lobo.
Ou nesse caso, loba.
― Parece tenso, caçador ― ela disse repentinamente, fazendo com que ele parasse de comer e a encarasse ― Parece até ter visto um demônio.
Sasuke teria gargalhado, se fosse qualquer outra pessoa ali, não ele. Aquela mulher devia estar rindo dele, fazendo algum tipo de piada, essa era a única explicação. Ela devia tê-lo visto espiando-a pela janela e agora estava fazendo algum tipo de jogo.
Por um momento ele detestou aquele sorriso sínico no seu rosto enquanto ela mastigava despreocupadamente.
Além disso também aproveitou para dar uma boa olhada em seu rosto, mas não havia vestígio algum de sangue. Sua roupa estava imaculada e o cabelo perfeitamente alinhado em uma trança lateral.
― Estou entediado de ficar sempre trancado ― ele respondeu. Isso de todo modo não era mentira, ele não estava mais aguentando ficar o dia todo confinado ali, principalmente agora que seus ferimentos já estavam praticamente curados.
A mulher balançou a cabeça.
― Tem sentido no que você diz. Eu provavelmente já teria enlouquecido se não pudesse correr vez ou outra pela floresta.
Era um fato. Ela estava brincando com ele.
― Irei me retirar por essa noite ― ele disse, levantando-se de repente. Mal havia tocado na comida e sabia que isso não havia passado despercebido.
Dando às costas à ela, Sasuke começou a andar na direção do quarto, tentando não deixar passar em seus gestos todo o nervosismo que estava sentindo. Sentia como se a qualquer momento algo fosse pular em suas costas.
Ele ainda ficou deitado na cama por algumas horas, rolando de um lado para o outro. Sabia que o sono não viria, não naquela noite. Ao longe ainda podia ouvir a mulher mexendo em algo na cozinha, até que o som cessou repentinamente, o que o fez presumir que ela devia ter ido dormir.
“O que devo fazer?” Sasuke começou a pensar, tentando encontrar uma resposta. Sentia-se frustrado por saber que todo aquele tempo ele esteve debaixo do mesmo teto que a criatura que ele devia matar e sequer sabia. E sim, isso era o que mais o perturbava. Não o fato da mulher que provavelmente devia estar dormindo no quarto ao lado se transformar em um lobo, não, mas o fato de que ele fora enganado.
Ele esperava sentir raiva, mas ela não veio. Esperava que sentisse um ódio cego por ela; era da mesma espécie da criatura que há tantos anos antes tirou a vida de seu pai e irmão mais velho durante uma caçada. Talvez fosse até a mesma criatura, quem poderia dizer o contrário, afinal?
Mas não, ele não sentia ódio, por mais que quisesse sentir.
Tentando não pensar sobre o que iria fazer ele se levantou e em silêncio saiu do quarto, fazendo o máximo possível para não permitir que a porta rangesse quando a abriu e nem que seus passos soassem na madeira gasta quando tomou a direção da cozinha.
Voltou pouco tempo depois com um afiado cutelo em suas mãos e quase nenhuma certeza do que fazer.
Apenas o senso de que devia fazer algo; devia acabar com aquilo.
Com cuidado ele abriu a porta do quarto dela e quase amaldiçoou em voz alta quando ao contrário da sua, a porta dela rangeu levemente com o barulho, mas felizmente a forma na cama continuou imóvel.
Ainda em passos suaves ele se aproximou da cama, parando do lado dela e então se pôs a observá-la por alguns instantes.
A mulher parecia dormir tranquilamente. Seu peito subia e descia calmamente acompanhando o ritmo de sua respiração e sua feição não denotava sonhos ruins. O longo cabelo rosado estava solto, espalhado pelo travesseiro e a sua pele parecia ainda mais alva vestida na fina camisola branca e iluminada pela luz da lua que entrava pelas brechas da madeira da janela.
“Eu posso fazer isso” ele repetiu em sua cabeça, como um mantra, e sem tentar pensar sobre isso apertou o cabo do cutelo, debruçando-se levemente sobre a forma feminina.
Porém no exato momento em que a lâmina fria entrou em contato com o pescoço dela o par de olhos verdes abriram-se de uma vez, quase como se o acusassem.
Sasuke estancou no lugar, sem conseguir prosseguir ou mesmo se afastar, era como se o tempo tivesse parado.
Eles continuaram a se encarar por intermináveis segundos.
― Faça ― ela disse de repente e então segurou a mão dele, forçando-a contra a sua garganta até um filete de sangue escorrer ― Mate-me, caçador. Faça.
Por um momento Sasuke forçou um pouco mais o cutelo, tentando se obrigar a passá-lo de uma vez na garganta dela, um corte limpo, porém quando outra gota de sangue escorreu ele viu que não conseguiria.
Puxando a lâmina ele a jogou contra a parede, onde ela se cravou e ficou.
― Maldição ― ele exclamou, esfregando as mãos no rosto com força.
Por que não havia conseguido?
Havia esquecido que ainda estava parado ao lado da cama e só lembrou disso quando se viu jogado sobre ela com a mulher sentada sobre ele, exatamente acima dos seus quadris.
A mulher ― loba, bruxa, demônio ele não sabia mais o que ela era ― espalmou as duas mãos sobre o seu abdômen e as desceu até a sua cintura, deixando-o sentir suas unhas curtas rasparem por cima do tecido da camisa. Seu quadril esfregou-se sugestivamente sobre o dele e Sasuke respirou fundo com o movimento.
― O que houve, caçador? ― ela perguntou, abaixando a cabeça e esfregando o nariz sobre a garganta dele ― Está com medo.
― Não ― ele tentou dizer de forma firme.
Ela apenas riu.
― Não está mesmo ― ela afirmou, aspirando o cheiro dele com força ― Na verdade eu sinto cheiro de outra coisa em você.
Outro movimento do quadril e Sasuke tentou clarear os seus pensamentos, tentando manter o controle, ainda que uma “certa parte” do seu corpo parecesse discordar veemente.
― Por que não me matou? ― ela questionou, dessa vez o seu tom parecia realmente sério ― Sei que foi para isso que veio até aqui. Não seria o primeiro a tentar.
― Por que não me deixou morrer? ― ele devolveu a pergunta, finalmente vocalizando a curiosidade que despertou nele desde aquela tarde quando descobrira que ela era a fera, no fim das contas ― Por que me ajudou?
Ela deu de ombros, mas finalmente saiu de cima dele e se levantou.
Sasuke por sua vez tentou dizer a si mesmo que não se sentiu decepcionado por isso.
Ainda sem respondê-lo ela andou até a janela e a abriu, permitindo que o vento gelado da noite batesse diretamente em seu rosto, ainda que o frio não parecesse incomodá-la. Sasuke finalmente entendeu o porquê ela conseguia andar com os braços descobertos pela casa. Ela não era humana.
― Eu não sei ― ela respondeu por fim, virando-se novamente para ele enquanto o vento agitava os fios rosados ― Talvez eu tenha gostado de você. Tenha achado-o atraente.
Ele poderia ter rido com a resposta, em vez disso enfureceu-se.
― Acha graça disso? Acha graça em matar aquelas pessoas, em destruir tudo o que o povoado constrói, acha graça em provocar desgraças? Me responda, fera!
A última palavra pareceu despertar algo nela e sem que tivesse tempo para entender o que acontecia Sasuke se viu novamente pressionado contra a cama com ela acima de si, exceto que dessa vez a expressão em seu rosto não parecia nada amigável. Ele também podia jurar que um som parecido com um rosnado saía por sua garganta.
― Seu povo também pareceu achar graça quando expulsou à mim e à minha família das terras que eram nossas quando construíram o vilarejo. Eles também não se preocuparam em matar meus pais, meus irmãos e meu companheiro enquanto eu era fraca demais para impedí-los. Eles não tiveram pena em roubar tudo o que eu tinha. Então me responda, caçador, por que eu deveria mostrar compaixão? Por que devo isso à eles quando até hoje sou caçada?
Para isso Sasuke não teve resposta. Nunca havia parado para analisar daquele ponto de vista. E nem havia razão para tal, afinal, desde quando o caçador se preocuparia em entender o lado da caça?
E parando para pensar, tudo pareceu fazer sentido. Todas as vezes em que o povoado foi atacado foi sempre após terem tentado atacar a besta. Todos os homens que acabaram mortos foram aqueles que decidiram entrar na floresta para matar a besta.
Ela não estava atacando, estava se defendendo. Ser sanguinária era apenas algo que provavelmente fazia parte do seu ser. Sendo parte mulher ou não, ela também ainda possuía a outra parte fera. E essa não tinha problema algum em derramar sangue.
A compreensão caiu sobre si como um balde de água gelada e com isso Sasuke não tentou mais lutar, apenas deixou o corpo amolecer e descansou a cabeça na cama.
Provavelmente vendo que ele não ofereceria nenhum perigo a mulher soltou-o, novamente saindo de cima do corpo dela e então sentando-se ao seu lado na cama.
O vento continuava a entrar forte, mas nenhum deles parecia parecer que a janela havia continuado aberto por todo aquele tempo.
― Não irão mais atacá-la ― Sasuke disse de repente, sentando-se na cama e trazendo a atenção dela de volta para si ― Voltarei ao vilarejo e direi que matei a besta. Não terão motivos para duvidar de mim.
Ela apenas o encarou em silêncio, sabendo que ele ainda não havia terminado.
― Mas quero algo em troca.
Ela sorriu, deixando escapar uma meia risada. Claro que haveria um preço. Para os humanos sempre havia.
― O que quer em troca?
Sasuke se levantou da cama e deu algumas passadas pelo quarto, como se pensasse. Mas já estava tudo muito claro.
― Você não irá matar mais ninguém ― ele começou, andando novamente para perto dela, até parar a sua frente ― Não irá mais destruir as plantações ou matar os animais. Você sequer irá pisar os pés lá novamente.
Estava parecendo tudo muito fácil para ela.
― Como sei que não irá retornar com um grupo de caçadores tão logo voltar para o seu povoado? Qual a garantia que tenho nisso?
Ele sorriu. Sequer percebeu que era a primeira vez que havia realmente sorrido para ela.
― Você não tem. Não tem garantia alguma além da minha palavra.
A mulher riu, balançando a cabeça para os lados. Com isso ele entendeu que ela havia concordado.
― Mas saiba de uma coisa ― ele disse, parecendo sério novamente ― Se não cumprir com a sua parte eu voltarei. E dessa vez irei matá-la.
Era uma promessa.
A mulher pareceu ponderar por alguns instantes e quando ele finalmente se cansou e se preparou para insistir ela se levantou, logo levando uma mão até a nuca dele enquanto o obrigava a inclinar a cabeça para baixo.
Quando se deu conta do que acontecia seus lábios já haviam sido tomados pelos dela em um beijo agressivo. Ele sequer pensou em se afastar enquanto a língua dela entrava em sua boca, enroscando-se à dele em uma dança completamente lasciva.
Embriagado pelas sensações ele já se preparava para aprofundar ainda mais o contato quando ela de repente se afastou, mas não sem antes morder o seu lábio inferior com força o suficiente para arrancar sangue.
Os olhos verdes faiscavam em luxúria e ele sentia cada pêlo do seu corpo eriçado.
― Temos um acordo, caçador. Mas também quero que saiba de uma coisa: se voltar aqui eu não pensarei duas vezes em devorá-lo.
Sasuke sentiu todo o ar ser sugado dos seus pulmões com o duplo sentido daquelas palavras.
― E a propósito. O meu nome é Sakura.
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Convencê-los de que a besta enfim havia sido derrotada fora fácil, assim como Sasuke sabia que seria. Eles simplesmente não tinham motivos para duvidar da sua palavra. Ele até mesmo havia voltado com alguns arranhões e sua roupa rasgada para provar que havia sofrido ferimentos da “luta” que ele travou com a criatura.
Explicou o seu sumiço que durou quase duas semanas dizendo que havia encontrado uma velha caverna e ficado por lá até que tivesse condições de voltar para casa.
Ninguém questionou.
Na verdade, havia percebido que depois da sua suposta vitória sobre a besta as pessoas agora o tinham em estima. Cumprimentavam-no quando ele passava por elas; ofereciam comida de seus comércios; alguns ofereceram até mesmo as filhas solteiras que estavam em idade de casar. Estavam realmente agradecidos.
Ele teria se sentido feliz com aquilo se tivesse acontecido há algumas semanas atrás. Agora, no entanto, não conseguia tirar seus pensamentos de uma velha cabana no meio da floresta e de uma bela moça de cabelos longos e rosados que às vezes se transformava em lobo.
De qualquer forma, quem não tinha seus segredos para esconder?
Ele havia saído da velha cabana tão logo o sol despontara no horizonte. Vestiu seu casaco grosso, pegou de volta a besta que ela havia devolvido e tomou o caminho de volta para o vilarejo conforme ela o instruíra.
Não olhou para trás sequer uma vez, contudo isso não significava que ele ignorasse tudo o que aconteceu. Muito menos que tivesse esquecido a forma que os lábios dela pareceram tão macios contra os seus.
Havia repassado aquela cena várias e várias vezes desde que voltou para o vilarejo. Quase um mês já havia se passado desde o seu retorno, quase dois desde que a vira pela última vez, parada na porta da cabana ainda vestida naquela camisola fina que nada escondia.
Sasuke sentia que estava a ponto de enlouquecer.
Desde então ele acordava no meio da noite de sonhos intensos que deixavam tudo o seu corpo suado e seu pau duro a ponto da dor.
Ele estava atraído por ela, não conseguia tirar aquela "mulher-besta" da sua cabeça, havia até passado do ponto de achar aquilo uma loucura.
Apenas queria poder ter a chance de vê-la novamente, de sentir o seu cheiro e descobrir se o seu gosto era tão bom quanto ele imaginava.
Por isso não se surpreendeu quando se viu novamente na calada da noite tomando o caminho para a floresta.
Assim como naquela noite a neve caía sem trégua; assim como naquela noite ele avistou o lobo branco parado a encará-lo. Mas agora em vez de correr até ele para atacá-lo o lobo apenas deu-lhe as costas e começou a andar sem pressa pelo meio das árvores.
Sasuke o seguiu.
Quando finalmente chegou a cabana, encontrou a porta já aberta, e quando entrou não foi a fera a recepcioná-lo, mas sim a mulher.
Estava nua como da vez em que ele a viu transformar-se na frente de seus olhos, dessa vez, no entanto, ele não sentiu medo. Dessa vez ele se permitiu analisar cada pedaço de pele que era iluminado pela lua, desde o cabelo exótico, aos seios médios e empinados e por fim o centro de suas pernas que parecia quase chamá-lo.
Na verdade, tudo nela parecia gritar por sua atenção.
― Caçador ― ela cumprimentou-o sorrindo, sem parecer se importar minimamente com o seu estado de nudez ― Vejo que esqueceu da minha ameaça.
Sasuke não respondeu de início, apenas retirou o casaco grosso que usava, deixando-o cair a seus pés. Em seguida foi a vez das botas, que também foram jogadas em qualquer direção.
Enquanto isso Sakura ― o nome dela era Sakura, o nome que o atormentou por todas aquelas semanas ― apenas observava, como se apreciando uma espécie de show.
Ele começou a se aproximar, andando calculadamente até parar na frente dela.
― Eu me lembro bem ― ele respondeu por fim, usando uma das mãos para retirar a mecha de cabelo que cobria um dos seios dela ― Mas eu não me importo.
― Não? ― ela perguntou, encostando seu corpo ao dele e passando as mãos em torno do seu pescoço.
― Não. Eu nunca tive medo das histórias de lobo mau.
Sakura riu, mas ele não deixou que ela prosseguisse antes que seus lábios cobrissem os dela de forma afoita.
O beijo logo se tornou agressivo, como se os dois estivessem colocando ali toda a frustração que sentiram durante aquele mês. Talvez fosse realmente o que estivessem fazendo.
Quando pôde sentir novamente o sabor doce da boca dela, Sasuke quase gemeu em contentamento. Havia sonhado várias e várias vezes e fantasiado tantas outras sobre o momento em que seria capaz de sentir novamente a forma aveludada dos lábios cheios.
Quando ele agarrou um dos seios dela com firmeza, Sakura abriu a boca sem conseguir esconder o gemido e com isso ele aproveitou para enfiar a sua língua dentro da boca dela, sempre faminto por mais.
Seus dedos começaram a brincar com o mamilo, sentindo-o endurecer ainda mais sob os seus toques.
Cada gemido que saia dos lábios dela parecia aumentar o calor que ele sentia se alastrar por todo o seu corpo.
― Não sabe como sonhei com isso nas últimas semanas ― ele sussurrou, enquanto fazia uma trilha de beijos no seu pescoço.
Quantas vezes não havia imaginado-se tocando-a daquela maneira? Possuindo-a em cada canto daquela cabana como um animal faminto. Seus sonhos não passavam de torturas.
― Ah, caçador… ― ela gemeu quando os dedos dele foram substituídos pela boca.
Em um ritmo quase agonizante Sasuke começou a rodear o bico do seio dela com a língua, vez ou outra usando seus dentes apenas para ouvi-la ofegar.
― Sasuke ― ele disse de repente, parando com os movimentos e encarando os olhos verdes escuros pelo desejo ardente ― Meu nome é Sasuke.
― Sasuke… ― ela testou o nome em seus lábios, pronunciando cada sílaba quase pausadamente.
Ao ouví-la dizer o seu nome daquela forma Sasuke não mais aguentou o ritmo lento que ele mesmo havia posto.
Ele correu as duas mãos pelas costas dela e quando por fim chegou até as nádegas apertou-as com força enquanto a erguia, fazendo com que ela cruzasse as pernas por seu quadril.
Sem pensar duas vezes Sasuke começou a andar com Sakura agarrada a si e só parou quando por fim entrou no quarto somente para então jogá-la sobre a cama.
Mas se ele esperava que ela apenas continuasse deitada aguardando pacientemente ele fazer o que quisesse, bem, ela não parecia partilhar dos mesmos planos.
Sentando-se na cama Sakura levou as duas mãos para a barra camisa de Sasuke, levantando-a até que ele mesmo acabou por tirá-la.
Ele esperou que ela fosse fazer o mesmo com a sua calça, mas foi surpreendido quando ela colocou-se de joelhos sobre a cama, ficando com a cabeça na mesma altura da dele, e então puxou a sua cabeça para um novo beijo.
Enquanto sua língua se enrolava à dela, ele tentou puxar o corpo pequeno novamente contra si, mas ela rapidamente o impediu, espalmando as mãos contra seu peito nu e encarando-o antes de sorrir travessa.
Sasuke ficou totalmente imóvel enquanto ela se aproximou novamente de seu rosto, porém em vez de beijar seus lábios ela mordeu levemente o seu queixo, para então arrastar a boca até o seu pescoço.
E em vez de parar por ali ela começou a descer, alternando entre beijos e lambidas em seu peito, abdômen e por fim na altura da sua virilha, onde começava a parte coberta pela calça.
Focando seus olhos no rosto dele e sem parar de encará-lo por sequer um segundo, Sakura apertou o pau dele por cima da calça, arrancando um suspiro sôfrego de Sasuke. E então sendo ainda mais ousada ela puxou a calça dele para baixo de uma vez, permitindo que a sua ereção saltasse.
Quando as mãos pequenas seguraram seu pau com força e começaram a massagea-lo de forma tortuosa Sasuke fechou os olhos enquanto um gemido baixo escapava por seus lábios.
― Pronto para ser devorado, Sasuke? ― ela o instigou, descendo e subindo a mãos em sua ereção de forma lenta.
Porém antes que ele pudesse sequer pensar em respondê-la a boca pequena se fechou sobre seu pau e Sasuke na mesma hora agarrou os cabelos compridos.
Ela sugava com força, então o tirava da boca e passava a ponta da língua na glande, depois lambia toda a extensão, sentindo-o latejar apenas para repetir todo o processo.
― Sakura… ― ele gemeu o nome dela, completamente perdido no seu quase êxtase; seus olhos escuros presos nos verdes que jamais abandonavam o rosto dele.
Em pouco tempo ele começou a sentir uma conhecida sensação formar-se no pé da barriga, mas antes que pudesse chegar ao fim ela parou e se afastou.
Sasuke semicerrou os olhos para a expressão divertida dela, mas não perdeu tempo e logo terminou de tirar a calça, jogando-a no chão.
Aproximando-se de Sakura como uma fera prestes a devorar a sua presa, ele fez com que ela se deitasse sobre a cama e então começou a sua própria tortura.
Levantou uma das pernas dela e começou a fazer uma trilha de beijos, vez ou outra raspando a barba levemente crescida quando percebeu que isso a deixava arrepiada.
Sua boca subia sem pressa, sentindo a textura aveludada da pele dela e quando por fim chegou ao meio das pernas Sasuke passou um dedo pela boceta dela, testando o quanto já estava molhada.
Sakura apenas o observava, completamente imóvel senão pelo peito que subia e descia com a respiração ofegante. Esperava pelo momento que ele finalmente acabaria com aquela tortura que havia começado, mas para sua completa frustração ele sorriu de canto, colocando-se totalmente por cima dela.
― Você…
Ela não pôde terminar de falar pois ele se encaixou entre suas pernas e num movimento rápido de seus quadris a penetrou de uma vez, arrancando um gemido de ambos.
Cruzando as duas pernas nas costas de Sasuke, Sakura segurou o cabelo negro com força enquanto trazia a sua boca de encontro à dele.
Enquanto usava uma das mãos para se apoiar e não jogar todo o seu peso sobre ela, com a outra ele segurava a coxa dela com firmeza, para poder penetrá-la com mais força e rapidez.
O quarto rapidamente foi tomado pelo som da cama se movendo em conjunto com o som do encontro de seus corpos. Sakura estava com os olhos fechados e a boca levemente aberta enquanto Sasuke agora abocanhava um de seus seios sem nunca pausar os movimentos.
― Gosta disso, loba? ― ele perguntou, diminuindo o ritmo da penetração, apenas para provocá-la ― No fim fui eu a devorar a fera.
Sakura abriu os olhos que pareciam brilhar ainda mais na penumbra do quarto e antes que Sasuke pudesse impedi-la segurou os dois ombros dele e então empurrou-o para o lado, fazendo com que ele deitasse na cama.
Lentamente ela subiu sobre ele e colocou cada perna sua em torno do quadril dele, enquanto uma das mãos descia até o seu pau e o segurava com firmeza.
Sasuke semicerrou os olhos quando ela começou a esfregar a glande na entrada da boceta dela, ameaçando sentar para então levantar novamente.
― Não me subestime, caçador.
Ele se sentiu extremamente tentado a apenas jogá-la de quatro sobre a cama e tomá-la como um verdadeiro animal.
E então ela finalmente se sentou, dando a ele a visão mais do que erótica do seu pau desaparecendo no interior dela.
Suas mãos rapidamente encaixaram na cintura dela e ele então começou a ajudá-la com os movimentos, jogando o seu quadril para cima quando ela descia.
Sakura descia com cada vez mais força, segurando com as duas mãos os seios que pulavam conforme ela se movimentava. E com a forma que seu clitóris estava sendo estimulado pela virilha dele não demorou muito tempo até que ela atingisse seu ápice, jogando a cabeça para trás e gemendo alto.
Sem mais conseguir se controlar Sasuke saiu de seu interior e rapidamente virou-a de bruços, deixando apenas a bunda dela empinada e logo voltou a penetrá-la com força, aproveitando os últimos espasmos do orgasmo.
Quando seu próprio ápice chegou, veio forte, e ele grunhiu alto despejando-se totalmente dentro dela.
Não aguentando mais o próprio peso, Sasuke retirou-se dela e então caiu ao seu lado, tentando recuperar o fôlego. Podia sentir o vento que vinha pela porta aberta bater em seu corpo completamente suado, mas naquele momento sua pele estava tão quente que ele sequer se incomodou com isso.
Os dois ainda ficaram deitados lado a lado por algum tempo, apenas aproveitando em silêncio o momento pós sexo. Não havia necessidade de falar algo. Não naquele momento.
Depois de mais alguns minutos Sakura se arrastou até Sasuke e encaixou sua cabeça na curvatura do pescoço dele enquanto uma de suas pernas se enfiava entre as dele.
Sasuke usou um dos braços para apertá-la contra si e não se incomodou quando ela de repente começou a lamber o seu pescoço. Aquilo na verdade estava quase começando a excitá-lo novamente. Se ela não se importasse em esperar mais alguns minutos ele teria muito prazer em repetir tudo o que fizeram há minutos atrás.
Sakura no entanto parecia muito focada em lambê-lo e Sasuke em algum momento sentiu uma vontade estranha de virar a cabeça para o lado, de modo a dar mais espaço para as investidas dela.
Quando Sakura abriu a boca seus caninos brilharam com a luz do luar, assim como seus olhos também pareceram muito mais vivos.
Sasuke não gritou ou mesmo reclamou quando ela cravou os dentes em seu pescoço. A sensação de que aquilo de alguma forma era certo substituiu qualquer dor que ele pudesse sentir.
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Demorou poucos dias, cerca de uma semana, até que o vilarejo desse por falta do jovem caçador. E a partir disso várias teorias foram levantadas a respeito do seu possível paradeiro.
Alguns diziam que ele havia por fim se cansado da vida pacata da montanha e finalmente voltado para a cidade.
Outros diziam que ele havia chegado ao ponto em que não mais suportava a solidão e se decidido por juntar-se à falecida esposa, na eternidade.
Muito se foi falado no decorrer dos anos, contudo todos concordavam em um ponto: ele nunca mais foi visto novamente.
E aos poucos o seu nome se juntou a vários outros, esquecido na memória dos habitantes de Zakarpats'ka e da vida que seguiu adiante.
Assim como ele havia prometido antes de desaparecer, Zakarpats'ka nunca mais sofreu nenhum ataque da besta.
Contudo aquelas não foram as últimas vezes que se avistou um lobo rondando na imediações da floresta.
Às vezes eram dois.
Então três.
Que muito em breve virariam cinco.
E a vida seguiu seu curso.
Fim.
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