Já era madrugada em Gotham, e os sons de vidros sendo quebrados e de gritos já podiam ser ouvidos. Havia chego a hora dos bandidos fazerem festa, e era por isso que Jim só trabalhava de madrugada.
Jim Gordon, o Comissário da cidade, estava em seu pequeno e bagunçado apartamento, tomando uma xícara de café antes da sua patrulha noturna, e também estava na tentativa de esquecer aquele dia cheio que havia tido. Havia prendido grande parte da máfia Falconi, e visto um menino de sete anos perdoar Tony Zucco, o chefe da gangue, pelo assassinato de seus pais e de sua irmãzinha não-nascida.
Mesmo que fosse um ato deveras bondoso do garotinho, Jim duvidava que Tony realmente mudaria. Mas, deixaria o pobre menino se iludir. É, Gotham era do caralho.
Mencionando crianças, Jim logo se lembrou da sua. Deixou a xícara de café sob a pia suja, e caminhou até o único cômodo da casa que havia cor, o quarto da filha. Abriu a porta pintada em rosa - mesmo que ela não gostasse mais de rosa -, sorrindo ao ver a plaquinha de flores - que ela também não gostava mais - escrito "Barbs". Entrou no quarto repleto de posters do Batman, o seu segundo maior ídolo, o primeiro era ele, claro. Sorriu ao ver a menininha ruiva de catorze anos deitada em sua cama, dormindo. Mesmo já crescida, ainda era sua garotinha.
- Babi.. - A chamou, se sentando na cama e acariciando seus cabelos. Sorriu quando um par de olhos verdes o encarou com um sorriso.
- Pai.. - Ela sussurrou, se virando e encarando o pai. Seria a sua perfeita cópia se não tivesse os olhos e a personalidade da falecida mãe - Não tem patrulha, hoje?
- Tenho sim, eu já estou indo, só vim ver você - Jim sorriu, puxando carinhosamente o nariz da filha - Já falei com a vizinha da frente. Qualquer coisa você liga pra ela, ou vai pra lá. Tudo bem, Babi?
- Pai, eu sei me cuidar - Bárbara sorriu, brincalhona. Jim odiava admitir, mas ela tinha razão. Por ser filha do Comissário, recebeu treinamento de defesa desde bem cedo - Agora vá patrulhar, e diga ao Batman que eu mandei oi.
- Pode deixar, Batgirl - O Comissário sorriu, e se aproximou para dar um beijo em sua pequena heroína, que havia se dado a noite de folga graças as provas que estava tendo na escola. Quando a olhava, não conseguia não se lembrar do acrobatinha do circo, esperava que ele estivesse bem - Boa noite, minha abobrinha.
Jim levantou-se, saindo do quarto da filha, fechando a porta com cuidado. Adoraria passar todo o tempo do mundo com Babi, mas Gotham ainda precisava dele, e Batman também.
Olhou as janelas da casa, vendo se não o espionavam e aproveitou para fechar as cortinas. Estava prestes a sair de casa e ir de encontro ao Cavaleiro das Trevas para ouvir que nada seria o capaz de o atingir, assim como ele sempre dizia em todas as outras vezes que ficava em cima de um prédio da cidade, mas algo o interrompeu. Seu telefone.
- Alô?
- Comissário Gordon?
- Alfred? O-oi, sou eu mesmo - Gaguejou, para Alfred lhe ligar o mundo deveria estar acabando - Eu já estava saindo para a patrulha e..
- E era isso mesmo que eu queria lhe avisar. Patrão Bruce não irá patrulhar esta noite.
- Não?! - Chegou a exclamar. Duas coisas totalmente inusitadas numa única ligação, o mundo realmente deveria estar acabando - P-puxa, me pegou de surpresa... Deveria perguntar por quê?
- Problemas pessoais, mestre Jim - O mordomo respondeu, monótono. Mas, o Comissário prestou atenção no barulho de fundo que havia na ligação, que abafava toda a voz do mordomo.
- Por acaso tem algo haver com essa barulhera no fundo?
- Agora vejo porque se tornou detetive, mestre Jim.
- Tudo bem, Alfred, eu não vou mais fazer perguntas. Afinal, um dia de folga não mata ninguém, não é?
- Tem toda razão, mestre Jim. Aproveite o seu, porque aqui em casa estamos tendo trabalho em dobro.
Alfred desligou o telefone, o colocando no gancho. Virou-se, saindo da sala do escritório do Patrão e caminhando pelo corredor pretendendo ir de encontro ao mesmo. E o barulho aumentava mais e mais.
Finalmente, chegara de encontro com o Patrão Bruce, que estava no famoso cômodo de lembranças, mas quem estava tendo os dejá-vús era o mordomo, ouvindo aquele choro infantil e agoniante que destruía o seu coração. Porém desta vez não era o mestre Bruce que chorava sozinho em algum canto, e sim o pequeno Richard que estava fazendo um escândalo para todos ouvirem.
Nem uma hora, nem uma única hora o pequeno conseguiu adormecer tranquilo. Quando o Patrão Bruce pretendia pegar o seu "elevador particular" para ir a sua Caverna de macho, o pequeno começou a chorar desesperado, preocupando o Wayne, que era pai só a poucos minutos.
Bruce não havia ido a Caverna, estava com Dickie nos braços, caminhando pela casa. Seu Batpreparo ainda não havia encontrado uma maneira de acalmar o menino, que estava tão perturbado que nem abria os olhos.
- Dickie.. - Bruce murmurou, pela milésima vez naquela madrugada. Sua cabeça estava para explodir, e ter Richard berrando em seu ouvido não cooperava muito para sua boa sanidade mental - Está tudo bem, bebê. Você não precisa chorar..
Pediu, sabendo que seria em vão. O bilionário levou sua mão até as costas do garoto, as acariciando tentando acalmá-lo, e conseguiu ao menos, dar uma amenizada no choro. Observou Dickie, seu rosto inchado e vermelho e sua respiração pesada que logo não aguentaria mais chorar. Há uma hora estava tudo tão calmo, mas agora tudo estava desabando. Bruce entendia aquela sensação mas, seu corpo não reagiu como o de Richard estava reagindo.
Ainda com o pequeno chorando, Bruce caminhou mais adentro do cômodo de lembranças, sentando-se na poltrona que era de seu pai. Ficava de frente a lareira, onde estava o quadro de Thomas e Martha que Alfred limpou mais cedo. O moreno os encarou, se perguntando o quê achariam dele naquele momento.
- Vamos, Richie.. - Implorou o bilionário, dando leves tapinhas nas costas do menino, percebendo que seu pulmão estava começando a se cansar de tanto choro - Eu estou aqui, bebê. Você não precisa ter medo..
Bruce lembrava-se de como os ex-funcionários de casa costumavam dizer a sua versão de oito anos que as coisas melhorariam. Eram grandes mentirosos.
Embora não tivesse sido tão "expressivo" como Richard, Bruce sabia exatamente o quê era aquilo que estava causando tanto desconforto no pequeno. Uma espécie de crise de ansiedade extrema, como uma paralisia do sono. Richard estava dentro de um looping infinito onde era obrigado a assistir os pais serem mortos toda hora. Bruce não entendia nada de emoções mas, compreendia as substâncias que o corpo liberava com a palma das mãos.
- Isso, bebê... - Sussurrou, sentindo o corpinho de Dickie começar a relaxar em seu colo, e os choros serem trocados por múrmuros - Aqui, aqui... - Voltou a acalmá-lo, mas sem deixar passar despercebido o barulho de passos se aproximando, passos finos como de um certo homem Inglês.
- Patrão Bruce - Alfred apareceu em sua frente, com uma feição cansada e aliviada pelo choro do pequeno estar se cessando - Vejo que o menino Richard está mais calmo.
- Ele está se acalmando, mas ainda está assustado... - O moreno respondeu, acariciando os cabelos do menino, tentando acalmá-lo mais rápido.
- Fiquei impressionado com sua paciência, Patrão - Alfred comentou - O jovem Dickie chorou por uma hora inteira e o senhor não se exaltou em momento algum.
- Até eu me impressionei, Alfred. Mas o Dickie é a maior vítima da situação - Bruce respondeu, deitando o menino Richard em seus braços para que ele ficasse mais confortável. Logo, ele percebeu as coisas que o mordomo carregava consigo - Pra quê essas coisas, Alfred?
- Este chá é para o senhor, para acalmar os nervos - Começou o mordomo, entregando o chá ao homem, que o bebeu em questão de segundos - E esta coberta é para o mestre Richard. Este chororô todo dele certamente resultará em uma crise de soluços - Afirmou o velhinho, ajeitando a coberta sob o menino, que não tardou a começar a soluçar, porém já dormindo - Ah, quase me esqueço. Já avisei ao mestre Jim que não irá a patrulha hoje, Patrão.
- Obrigado, Alfred. Os bandidos devem estar fazendo festa lá fora, mas, eu não podia deixar o Richard sozinho em uma crise como essa - Bruce bufou, cansado - Eu, tinha essas crises quando criança, Alfred?
- Não senhor, Patrão. De certo que, o senhor tinha vários pesadelos, mas, sempre preferia lidar com eles sem choros, e sempre sozinho... - O mordomo respondeu, desviando o olhar ao lembrar-se de tempos atrás.
- Bem que o psicólogo que Vicki e eu passamos mais cedo comentou que as emoções do Richard agiam diferente... - Bruce falou, mordendo o lábio inferior ao lembrar-se do "choque de realidade" que o médico havia dado nele mais cedo.
- Mestre Richard é um menino expressivo. Cresceu nos palcos, é visível que ele possue essa necessidade de mostrar a todo mundo o quê ele está sentindo - Deduziu Alfred, olhando o garotinho dorminhoco nos braços de Bruce.
- Percebe-se... - Ele olhou a Alfred - Pode ir se deitar, Alfred. Eu vou ficar mais um pouco com ele aqui, e logo irei descansar visto, que hoje Batman está de folga.
- Sim senhor, Patrão. Boa noite aos dois - O mordomo desejou, saindo do cômodo de lembranças e indo em direção ao seu quarto, pretendendo descansar o máximo que conseguisse.
- Ah.. - Wayne bufou, exausto. Encarou a pintura de seus pais, que mesmo sorrindo, pareciam o encarar e o avaliar a todo momento – Eu prometo que não irei deixá-lo. Prometo que terão orgulho de mim nisso também.. - Soltou, às vezes ele desabafava com os pais, mesmo que eles não o ouvissem. Não tardou a cair no sono.
- Patrão Bruce... Patrão Bruce..
Bruce abriu os olhos, e se deparou com Alfred em sua frente, com aquele pijama verde listrado que ele tinha desde que veio trabalhar na Mansão. O bilionário coçou os olhos, ficou tão desgastado após a noite passada que provavelmente havia dormido na poltrona e nem percebido.
- Alfred.. - Sussurrou, colocando a mão sob a testa, estava para ter uma enxaqueca terrível. Logo, ele percebeu que seu colo estava vazio - Cadê o Dickie?
- Eu levei o menino Richard para seus aposentos assim que acordei. Ele ainda está dormindo tranquilo, não se preocupe.
- Obrigado, Alfred. Que horas são?
- São 6:30, Patrão.
- Ainda é cedo, eu entro na empresa só as 8:00; mas, obrigado por me acordar - Disse o homem, se levantando e se esticando - Vou até a Caverna ver como estão as coisas, Alfred. Fique atento ao Dickie, por favor.
- Sim senhor, Patrão.
Mesmo cansado, Bruce seguiu até a Caverna, não poderia deixar Gotham na mão mesmo com seu filho tendo crises de ansiedade. Chegando a Caverna, observou o dinossauro gigante estacionado no meio dela, como diria Alfred, fascinante. Deveria se lembrar de adicionar mais protocolos de segurança, agora com uma criança em casa as coisas ficariam mais agitadas; mesmo que Bruce soubesse que seria inevitável Richard descobrir sobre, seu hobby noturno.
Após horas de diversão investigando palitos de dentes sujos, o relógio de pulso do bilionário finalmente bateu as 7:00. Os outros relógios da casa não bateram, já que todos eram obrigados a terem os ponteiros marcados as exatas 10:28 e lembrar-se todos os dias que Martha e Thomas estavam mortos. Bruce saiu da Caverna e foi se aprontar para o trabalho, prestes a ter uma dor de cabeça.
- Patrão Bruce - Bruce ouviu a voz de Alfred, que se aproximou dele - O senhor já vai trabalhar?
- Sim, Alfred. Estou é quase atrasado. Qualquer coisa com o Dickie você pode me ligar a qualquer hora e..
- Patrão Bruce - Alfred o chamou novamente, e desta vez, Bruce o encarou percebendo a preocupação no seu tom de voz. Encarou o mordomo, e o percebeu assustado - O menino Dickie ele, ele está queimando em febre!
Alfred exclamou, e viu o Patrão Bruce correr em direção até o quarto onde estava o pequeno, o seguiu junto. Os dois entraram no quarto, se deparando com Richard deitado na cama, enrolado na coberta, parecendo tremer de frio. Bruce se aproximou do menino, colocando a mão sob a testa dele, vendo como estava quente. Bufou, pelo visto se atrasaria para o trabalho.
- Alfred, ligue para a Leslie agora, peça para ela vir o mais rápido possível - O homem pediu, vendo o mordomo sair às pressas do quarto para chamar a médica da família. Se aproximou mais de Dickie, que o encarou com uma feição triste e abatida - Richard, o quê está sentindo?
- Tô com frio.. - Ele respondeu, com dificuldade - A minha cabeça dói e a minha barriga também..
- Não está com fome? Ou, não quer ir ao banheiro? - Começou o bilionário, ajudando o menino a se sentar na cama. O pequeno negou com a cabeça para as perguntas do mais velho, se encolhendo mais pois estava morrendo de frio - Até ontem você estava bem.. Quando começou a se sentir ruim?
- Quando eu acordei.. - Respondeu, coçando os olhos e resmungando - O Alfred veio me ver e, e.. - Dickie não terminou a frase, pois não segurou o vômito que escapou da sua boca, e que acabou caindo todo na calça social de Bruce - D-desculpa, Bruce! F-foi sem querer!
- Shh, tudo bem, bebê. Foi um acidente.. - Respondeu calmo o homem, deitando o pequeno na cama e o cobrindo, e usando um lenço de papel para limpar sua boquinha suja - Descansa um pouco, a médica já está vindo ver você..
- Você, vai ficar comigo? - O pequeno pediu, com voz manhosa, segurando a mão do pai adotivo.
- Vou esperar a Leslie chegar e, trocar de roupa. Já venho ficar com você.. - Wayne respondeu, bagunçando os cabelos do mais novo e se levantando na cama, saindo do quarto. Andou pelo corredor com o fedor de vômito o perseguindo, e logo se trombou com Alfred, que arregalou os olhos vendo o trabalho que teria para limpar aquela calça.
- Óh céus, está pior do quê imaginei.. - Falou o mordomo, pegando a roupa suja que o Patrão havia tirado e lhe entregado - A senhorita Leslie já está a caminho, Patrão.
- Obrigado, Alfred, vou aproveitar e ligar para o Lucius, dizer que vou me atrasar - Bruce bufou, caminhando até seu quarto e pretendendo trocar de roupa. Seu primeiro dia como pai mal havia começado, e já estava uma maravilha, realmente, esperava que Vicki estivesse tendo mais sorte que ele.
°°°°
POV Vicki
Eu realmente, realmente espero que o Wayne esteja tendo um dia muito melhor que o meu.
Foi um péssimo dia para eu estrear o meu novo salto alto, lindíssimo por sinal. Um único segundo que pisei fora do meu apartamento, os abutres de Gotham já vieram me cercar e me encher de perguntas sobre o Richard. A maternidade já estava me caindo mal, mal conseguia proteger o “meu filho” de todas aquelas perguntas.
E falando no Richie, hoje irei visitá-lo no meu horário de almoço, ver como ele está. Aquela coisinha linda de olhos azuis. Desde ontem sou a mãe adotiva daquele garoto e tenho que ao menos, tentar cumprir esse papel. E isso incluí ir trabalhar num frio miserável de Gotham e não ganhar nem metade do dinheiro que custam os ternos do Wayne.
Finalmente, cheguei ao prédio da Gazeta. Fui até o elevador, subindo até a minha área de trabalho e já querendo ir embora, hoje vai ser do caralho.
Chegando ao meu andar, a porta do elevador se abriu, e todos que cochichavam - sobre mim, óbvio - pararam e me encararam como se eu estivesse nua. Mas, nada que Vicki Vale não possa lidar, com estilo.
- O quê estão olhando?! Perderam algo?! - Exclamei, encarando todos com o meu "olhar do mal". Pelo menos com eles, ainda tinha fama de má, já que todos pararam de me olhar e voltaram ao seu serviço - Hunf! Eu hein!
Eu não era a chefe, mas agia como se fosse, Mário era tão largado que se não fosse eu, isto aqui já estaria uma baderna maior do quê há num cabaré.
Segui até minha mesa, com minha cabeça levantada e com meu lindo salto fazendo barulho. Me virei ao lado, vendo meu fiel-escudeiro Charles com a cara enfiada no computador, deveria ser a única pessoa daqui que não falava mal de mim; afinal, eu deveria ser o seu pior pesadelo.
- Não vai me fazer perguntas, Charles? - Comecei, o observando e vendo sua feição insegura melhor - Diga ao menos um bom dia a sua chefinha querida, não vou morder você.
- B-bom dia, Vicki - Sorriu amarelo para mim, esse rapaz é uma figura - E eu, deveria te fazer perguntas? D-digo, não quero te estressar visto ao tanto de coisas que você fez essa semana...
- Charles, você é um anjo - Soltei, colocando a mão sob o ombro dele. Ele não disse isso por ser totalmente bonzinho, mas sim porque sabia que poderia jogá-lo da janela se me enchesse a paciência - Se eu um dia eu incendiar esse prédio sem querer, pode ter certeza que te mando um e-mail obrigando-o a ficar em casa.
- S-sim, senhora...
- VICKI, CHÉRIE! NA MINHA SALA, AGORA!
- Puta merda.. - Bufei, agora teria que aguentar o meu amado chefinho Mário gritando no meu ouvido. Mesmo tendo a certeza de que estaria frita com ele, não estava preparada para enfrentá-lo.
Levantei com a força do meu ódio à mil, e fui até a sala do meu amado chefe, Mário Ito. Entrei e já pude me deparar com a figura, aquela criatura morena da altura de um poste, e com aquele cachecol lilás que ele não tirava nem nos dias mais quentes do Verão.
Assim como Bruce, Mário tinha uma "identidade noturna", durante as noites ele era Marie Ann, uma dançarina glamourosa e extravagante. Embora Mário fosse irritante e meramente debochado, eu admirava sua trajetória; não ele, pois ele me irrita. A maioria das pessoas desacreditava que Mário era o chefe da Gazeta por ser uma Drag Queen durante as noites, e confesso que, adoro quando ele rebate aquilo com seus dons artísticos.
- Sente-se, querida, a conversa será longa - Ele disse, se sentando em sua mesa e me encarando enquanto eu tentava não entrar em desespero - Acho que não preciso de introduções, não é, chérie?
- Não, Mário. Não precisa..
- Vicki, mon amour, eu serei bem sincero com você. Você é a repórter mais popular da Gazeta, as pessoas conhecem muito bem você; e agora você está, nos assuntos mais falados do momento - Mário se levantou, e começou a andar pela sala, tentando não me encarar - "A jornalista Vicki Vale, da Gazeta de Gotham, é mãe do filho de Bruce Wayne" ou "Vicki Vale e Bruce Wayne adotam um menino, teriam ali segundas intenções?" - Ele me encarou - Eu poderia perguntar à você que caralhos levou Bruce Wayne a adotar um menino, mas, onde eu olho ainda há notícias do "Voo da Morte". Mas, você Vicki? O quê te interessa ali?!
- O menino, Mário. Eu estava lá quando os pais dele foram mortos, eu fui a primeira pessoa a acolher o garoto. Ele não tem ninguém, Bruce e eu somos tudo que ele tem agora..
- É só isso mesmo? Não há mais nada?
- Escuta, Mário, será que eu não posso ser boa uma única vez na minha vida?! Sei que sou interesseira na maioria das vezes mas, por Deus, o Richard é só um menino; ele é uma criança e precisa de apoio!
- Ok, não está mais aqui quem falou - Ele levantou as mãos, como se estivesse rendido. Era fascinante o fato de como eu tinha poder sob meu chefe - Mas, você sabe que vai ser mal-falada até as orelhas por isso, não é?
- Sim, eu sei - Bufei - Mas, eu não ligo! O Richie é minha prioridade, agora!
- Own, Richie.. Que adorável! Finalmente encontrou alguém para tirar a sua pose de durona, Vicki Vale – Ele riu, debochado - Mas, nós temos problemas maiores aqui, chérie. Como por exemplo, o seu rebaixamento..
- O QUÊ?!
- O seu rebaixamento, oras - Me olhou com desdém, pegando alguns papéis e arrumando aquele topete falso dele - Olha Vicki, você é uma profissional e tanto, mas, eu não posso deixar você no cargo que está...
- Traduza, Ito.
- Você não pode mais ser repórter investigativa, Vicki. Vai ficar só com o jornalismo.
- O QUÊ?! - Gritei, e-ele não podia fazer isso! Destruiria a minha carreira! - Mário, não pode fazer isso!
- Posso, mon amour, porque é a lei - Ele começou, se aproximando de mim, vendo que eu estava desabando - Existe um protocolo para mães com filhos menores de idade, elas não podem fazer esse tipo de reportagem perigosa sendo que tem crianças em casa as esperando. Você tem um filho pequeno agora, Vicki, não posso te mandar no cú de um beco entrevistar milicianos sendo que você tem um menino pra criar! Como você disse, ele é a sua prioridade!
- M-mas, Mário! Você mesmo disse que sou popular na Gazeta! As pessoas vão se desinteressar se não me virem na TV ou nas capas de jornais!
- Victoria, mon amour, entenda uma coisa. As pessoas podem até gostar de você, mas, não se esqueça que elas amam o seu corpo, mas especificamente seios e bunda. Daqui há cinco dias os putos dessa cidade já te esquecerão com a chegada da nova garota. Você sabe que admiro sua inteligência, Vicki, mas o mundo funciona assim. Foi escolha sua adotar o Richard mas parece que você não pensou nas consequências. Eu sinto muito, mon amour, mas você vai ter que se contentar em fazer matérias sobre jogos de basquete e o Batman, porque esse é o máximo que vai conseguir na situação em que está. Vai ter se contentar com isso, Vicki Vale, você gostando ou não.
Mário disse, sem dó nem piedade e vendo como eu estava abalada, ele saiu da sala me deixando só. Admito que, algumas lágrimas me escaparam naquele momento. Tudo o quê fiz, o tanto que me esforcei foi por água abaixo e eu simplesmente fui substituída por outra garota, merda!
Mas, Mário tinha razão, ele não poderia quebrar o protocolo por minha causa e eu agi sem pensar, estava tão focada em ajudar o Richard que nem pensei nas consequências de adotá-lo, que agora me atingiram como uma bala. Droga!
°°°°
POV Autora
- Não! Não! Não! Não vou tomar injeção!
Dickie repudiou, se enfiando debaixo das cobertas ao ver aquela amedrontadora arma letal na mão da Doutora Leslie, uma injeção. Dickie odiava injeções, porém antes ele tinha a mamãe para segurar a sua mão, agora ela não estava mais lá.
- Richard, por favor - Pediu Bruce, tentando não perder a paciência com o menino. Levantou a coberta, o encarando sério - Venha logo, é só uma picada, você não vai nem sentir.
- Vou sim! E vai doer! - Ele choramingou, se escondendo no travesseiro.
- Olha, Richard, você tem cooperar comigo - Começou Leslie, se aproximando do garoto. Não diria em voz alta, mas Bruce era igualzinho quando mais novo - Você não quer ficar doente, não é? Então, precisa tomar a injeção para melhorar. Vamos! O Bruce fica com você.
- Fica?
- Fico?
- É claro que fica! - Exclamou Leslie, arqueando uma das sobrancelhas para Bruce, que entendeu o recado - Se o Bruce ficar com você, você me deixa te dar a injeção? Não vai doer nada..
- S-só se ele ficar comigo! - O moreninho respondeu, ainda desconfiado.
- Bruce.. - Leslie repetiu, obrigando o bilionário a pagar de bom moço para o menino. Sentou-se na cama enquanto via o garotinho ir para o colo do homem, que o segurou com certa força para que ele não escapasse, já ciente das habilidades acrobáticas que ele tinha - Tudo bem, Richard, vai ser só uma picadinha, não vai nem doer - A médica aproximou-se do menino, puxando uma parte da calça de seu pijaminha felpudo, descobrindo sua coxa.
- E-espera! - Dickie exclamou, respirando fundo e soltando o ar, fazendo uma leve cena dramática - P-pode ir agora! - Ele permitiu, e se escondeu no colo de Bruce ao ver aquela arma se aproximar dele. Reprimiu um gritinho e soltou algumas lágrimas ao sentir aquela agulha maldita lhe perfurar.
- Pronto, nem precisava de drama - Disse a doutora, colocando um curativo sob o pequeno furinho e ajeitando a calça de seu paciente. Arrumou as coisas enquanto via Bruce ajeitar o garotinho na cama, tinha que por alguns assuntos na cabeça do bilionário sobre aquele menino - Agora, você vai melhorar, Richard, garanto que amanhã estará mais forte. Beba bastante água e nada de doces por enquanto, tudo bem? - Leslie começou, simpática com o menininho, que adoravelmente sorriu para ela.
- Sim, doutora - O mais novo concordou, segurando Zitka nos braços. Até a elefantinha Leslie teve que enfaixar para fazer o menino se sentir mais confortável com sua presença médica.
- Ótimo, querido. Melhoras para você - Ela sorriu a Dickie, mas logo virou-se para Bruce - Podemos conversar em particular, Bruce?
- Claro, Leslie.
Bruce bufou, assim como Alfred, quando Leslie o chamava para conversar era porque ele ouviria sermões e mais sermões. Se Alfred era a figura paterna de Bruce, Leslie era a materna. Se afastaram um pouco do quarto, ainda podendo ver Dickie se encolher na cama enquanto Alfred caminhava para ir de encontro com o menino.
- Primeiramente, aqui estão os livros que me pediu - Começou a médica, entregando para o jovem alguns livros de "guia de paternidade", que ele havia lhe solicitado; mesmo que ela duvidasse que só aquilo bastaria para Bruce.
- Obrigado - Agradeceu o moreno, ansiando engolir o conteúdo daqueles livros o mais rápido possível.
- Segundamente, Bruce, eu avisei que essa sua idéia de adoção repentina não iria ser fácil. O primeiro dia do menino aqui e os desafios já começaram... E é só o começo..
- Se puder traduzir eu agradecerei, Leslie.
- As reações ao trauma, Bruce, elas já começaram - A mulher começou, encarando suas mãos - Isso que ele tem não é gripe, é o quê chamamos de "saudade patológica", quando sua saudade é tanta e seu psicológico está tão instável que seu corpo físico não sabe o quê fazer. Pensa, semana passada ele estava convivendo com a mãe e o pai normalmente, e agora ele está sem eles e morando com dois desconhecidos. Ele é muito pequeno ainda, o psicológico dele não está pronto pra receber uma carga emocional tão grande, ele vai ter que colocar pra fora o quê sente de um jeito ou de outro, e essas crises são a única forma que ele encontrou...
- Pelo visto ele terá mais crises do quê pensei..
- E por isso tomei a liberdade de marcar um consulta para ele com uma psicóloga a qual ele fará acompanhamento, Sábado as quinze horas, é necessário a sua presença e da jornalista também - Ela bufou, e encarou o homem, com uma certa seriedade - Eu só lhe peço uma coisa, Bruce, não menospreze o psicológico do menino como desprezou o seu, ok? Ele merece uma chance..
- Falando assim até pareço um monstro, Leslie - Soltou Bruce, ainda sem encarar a mulher. Ele sabia como as paranóias e comportamentos da sua "versão noturna" perturbavam Leslie desde a primeira vez que ela o viu daquele jeito.
- Você sabe que me sinto culpada pelo o quê se tornou. Por ter se tornado, um homem-morcego que se esconde na escuridão - Leslie encarou o homem, que como sempre, não mostrava reação alguma - Menosprezou aquilo que considerava inferior, e nem percebeu que essa mesma inferioridade te consumiu por inteiro. Eu só peço, que não deixe o mesmo ocorrer com o jovem Richard.
Vendo que Bruce não lhe dava a mínima, Leslie decidiu ir embora, perderia seu tempo tentando convencer a cabeça dura de Bruce a fazer qualquer coisa que ele considerasse "inferior" a sua pessoa. Caminhou até a sala de estar, e quase chegando a saída, sentiu alguém lhe segurar o braço. Era Alfred, a única pessoa daquela casa que ela sabia que possuía uma boa saúde.
- Vai me prometer que vai cuidar do garoto, Alfred - Leslie pediu, o encarando. Sabia que podia confiar no mordomo.
- Eu farei o meu melhor. Será diferente com o mestre Dickie, eu prometo, Leslie - O mordomo respondeu. Leslie era uma das poucas pessoas que ele não chamava formalmente, equivalente aos anos que conviveram juntos.
- Confio em você, Alfie - A mulher sorriu, e se aproximou para beijar a testa do homem antes de sair da casa; deixando-o levemente corado.
Depois de receber um sermão de Leslie, Bruce aproveitou que Alfred havia trazido uma sopa para o menino e pediu para que ficasse com ele, enquanto o bilionário ia ao seu escritório tentar resolver algumas coisas que passou por cima como, convencer Lucius a não o matar ou, dar explicações ao Comissário Gordon pela sua falta ou simplesmente, tentar por um segundo, parar de pensar. Pretendia resolver tudo isso, até que o telefone tocou.
- Bat?
Sorriu, até mesmo havia melhorado de humor.
- Cat.
- Olha só, finalmente me atendeu, pensei que teria que ouvir o sotaque Inglês do Alfred mais uma vez..
- Desculpe, Selina. É que, está acontecendo muita coisa aqui em casa e não tive tempo de te retornar..
- É eu sei, você saiu com a Vicki Vale. Está me trocando por ela, Bruce? Poxa, pensei que gostava de mim e de meus gatos...
- Não é isso, Selina. Vicki e eu estávamos resolvendo os papéis da adoção do menino do circo, Richard.
- Eu sei, Bruce, não sei se percebeu mas, vocês dois estão na capa de todos os jornais da cidade...
- Ótimo, mas isso era inevitável. Vicki e eu somos figuras populares, ficam em cima da gente como se fossemos carniça..
- Carniça eu não sei mas, você dá um belo petisco de gato, Bat - Ela soltou, arrancando uma simples risada de Bruce - Bom, mas não vim aqui saber de algo que já sei ou dar uma de namorada ciumenta, porque sei e realmente espero, que sua relação pessoal com a Vicki Vale só está ligada ao filho de vocês...
- Está correta, Cat. Sabe, que só tenho olhos pra você..
- Espero que me assuma logo, seu cara de morcego. Mas, me diga, como está meu enteado?
- Nada bem - Bufou, já trocando de humor - O trauma está começando a "dar efeito" nele, ontem à noite mesmo, teve uma crise de choros. E hoje acordou doente, está enjoado que só...
- Pobre gatinho. Eu, posso ajudar com algo?
- Não Seli, obrigada, acho que no momento eu sou a única pessoa que pode compreender o Richie.
- Hum - Ela agradeceu por ele não poder ver a revirada de olhos que ela deu - Quando vou poder conhecê-lo?
- Eu não sei, assim que ele melhorar, prometo que marco algo para nós três.
- Não force o menino a ir se ele não quiser, Brucie, ele está muito abalado. Eu, posso ir aí algum dia, conhecê-lo melhor, e mais especificamente em um dia que a mãe dele não esteja aí..
- Fique tranquila, Vicki fica com ele só aos fins de semana. Significa, que suas visitas serão bem-vindas aos Sábados.. - Bruce sorriu malicioso, estava com saudades de Selina e todo o seu charme.
- Patrão Bruce - Bruce foi interrompido por Alfred, que apareceu na porta de seu escritório - A senhorita Vicki Vale está no portão, pedindo para entrar.
- Foi só falar no diabo...
- Deixe-a entrar, Alfred. Ela veio ver o Dickie.. - Respondeu o bilionário ao mordomo, e assim que o mais velho saiu, ele voltou ao telefone - Selina, eu vou ter que desligar, agora; prometo que te vejo mais tarde..
- Acho bom. Senti sua falta ontem à noite, foi chato roubar aquela joalheria sem você pra correr atrás de mim - Riu, provocante - Até mais, Bat. E diga ao Richard que estou indo aí conhecê-lo.
- Pode deixar, Cat - O moreno riu, e desligou o telefone; saindo do escritório para ir de encontro com Alfred e Vicki e voltar a se encher de pensamentos frustrantes novamente.
°°°°
POV Vicki
A minha hora de almoço havia chego, e finalmente, pude sair um pouco da Gazeta após aquela humilhação de mais cedo a qual ainda não me recuperei. Ainda não me desce à guela nada daquilo que Mário me disse, que fui rebaixada só para o jornalismo e reportagens locais...
Mas, desviando dos meus problemas do trabalho, vamos aos meus problemas pessoais. Estou aqui, em frente a casa do Wayne - que fez questão de me deixar plantada no portão da frente - para ver o Richie, ver como ele está.
Embora eu esteja na merda e muito estupefata pelo ocorrido mais cedo, não consigo parar de pensar nele, de como ele está se sentindo e de como essa dor deve estar o machucando. O Richard não saiu da minha cabeça em momento algum desde que o conheci.
- Merda.. - Sussurrei, batendo os pés em ansiedade. Wayne deve ter tirado o dia para me estressar, só pode - Wayne! Abre essa porta!
- Senhorita Vicki - Alfred abriu a porta, me olhando com desdém pela gritaria que dei; adorava o jeito julgante que Alfred tinha pelos outros - Não precisa gritar, eu sou velho mas não estou surdo.
- Perdão, Alfred. É que, o meu dia não está bom... Será que posso entrar?
- Com toda a certeza, senhorita - Alfred me deu passagem, e entrei no palácio do Wayne - Vejo que continua encantada com nossa casa, senhorita Vicki - Alfred começou, se aproximando de mim e vendo como meus olhos brilhavam - Seus olhos brilham do mesmo jeito que brilharam da primeira vez que veio aqui..
- É, não? Agora entendo porque é tão difícil esquecer uma noite com Bruce.. - Brinquei, sorrindo para ele - E o Dickie, Alfred? Como ele está?
- Mestre Dickie não está nada bem.. - Ele me respondeu, e já senti meu coração acelerar - Chorou a noite toda e acordou com um mal-estar terrível; Patrão Bruce teve até mesmo de faltar ao trabalho para cuidar dele.
- Ah, meu Deus.. - Sussurrei, colocando a mão sob o peito - E-eu posso vê-lo?! Onde ele está?!
- No momento, tomando banho, a sopa que preparei para o seu almoço retornou toda ao seu pijama - As vezes o detalhismo dele me assusta - Mas, a senhorita pode esperar no quarto dele. O Patrão Bruce está lá. Venha, te acompanho até lá.
Alfred me acompanhou até as escadas, onde seguimos em direção a um corredor que havia, no mínimo, uns dez quartos. Admito que, fiquei preocupada agora por saber que o Richie está doentinho, já não lhe bastava essa dor toda de perdido os pais e agora, está enfermo, pobrezinho.
Depois de muito andarmos, Alfred e eu finalmente chegamos a um dos quartos, onde ele, educadamente, bateu à porta.
- Patrão Bruce, a senhorita Vale gostaria de entrar.
- Deixa-a entrar, Alfred.
O mordomo abriu a porta para mim, e entrei no quarto que estava fedendo a vômito mesmo com as grandes janelas abertas. Me deparei com o Wayne sentado na cama e mexendo em seu notebook, tentei me inclinar para ver o que ele escrevia mas, ele já me conhecia, o fechou bem na hora, maldito.
- Você não respeita a privacidade de ninguém nem no seu horário de almoço, Victoria?
- É o costume - Dei de ombros, vendo que Alfred havia fechado a porta e nos deixado a sós. Sentei-me na cama, um pouco perto do Wayne e encarei os seus olhos azuis. Mesmo adotivo, Dickie tinha os olhos dele - Alfred me disse que o Richie está doente..
- Sim, o trauma começou a "dar efeitos" nele, e Leslie, a médica, disse que é só o começo.. - Bruce começou, passando a mão pela testa, era seu primeiro dia na paternidade mas já pude perceber que sua paciência estava se acabando.
- Pelo visto o dia não está bom para ninguém, hoje.. - Soltei, acompanhada de uma bufada, querendo despertar o instinto de detetive do Wayne para ver se ele me dava atenção. Ele me encarou e eu desviei, havia conseguido.
- Aconteceu alguma coisa, Vicki?
- Eu fui rebaixada, Bruce - Respondi, sem enrolar. Precisava conversar com alguém sobre isso, e embora Bruce não fosse minha melhor opção, era a única disponível no momento.
- Rebaixada, como assim? - Ele se aproximou - Sempre foi tão competente..
- E continuo sendo, ou meios peitos que continuam grandes, porque está dando no mesmo - O encarei - Mário me rebaixou apenas para o jornalismo investigativo e para reportagens locais por causa do Richard, afinal, não posso me arriscar indo a lugares perigosos sendo que tenho ele pra criar..
- Bom, é o certo a se fazer. Mesmo assim, eu sinto muito por isso, sei como se esforçou para conseguir aquele cargo..
- Mas, Mário me disse algo que era verdade. Eu, nós, nós não pensamos nas consequências dessa adoção direito, Brucie..
- Sim, fomos impulsivos, mas foi instintivo, Vicki, o Richard não podia esperar. Senão ele iria para um orfanato e as coisas seriam piores..
- Sim, a necessidade de ajudar o Dickie falou mais alto, e com razão - Falei, querendo ou não concordando com o Wayne. Mas, logo outro problema o qual, pelo menos eu, não havia pensado, veio à tona - Brucie, você não vai contar pra ele, não é?
- Contar o quê?
- Como o quê, o motivo o qual você saí de noite quando não é pra transar com uma garota.. - Soltei, vendo-o revirar os olhos. Ele odiava quando eu comentava com ele sobre Batman, pois aquilo queria dizer que ele falhou em mantê-lo totalmente em segredo - Não quero o Richie metido nesta história, não vai ser bom para ele..
- É impossível que ele não descubra, Vicki. Ele mora comigo, uma hora ou outra irá descobrir - Respondeu, passando a mão pelo rosto ao pensar que mais alguém descobriria seu tão amado segredinho.
- Vai me prometer que, mesmo que ele descubra, vai mantê-lo longe disto!
- Vicki..
- Agora, Bruce!
- Ok. Eu prometo - Ele disse, mas não confiei totalmente; ainda colocarei um olho a mais nesse maluco. Não quero o pequeno Dickie metido nessa loucura toda, ele é meu pequeno agora e tenho de protegê-lo.
E olha só, foi só falarmos no Dickie que ele apareceu. Surgiu na porta com uma carinha abatida, os cabelinhos molhados e com um pijama do Batman, egocêntrico como Wayne era esse menino vai ter várias coisas do morcego.
- Dickie, veja só quem veio ver você.. - Wayne começou, inclinando a cabeça para o meu lado, e esboçando um sorriso para o pequeno.
- Oi, querido.. - Sorri para ele, tentando disfarçar o ódio que estava me consumindo por dentro. Fui até ele e me abaixei, ficando a sua altura, e encarando aquelas bochechinhas gordas e vermelhinhas que estava tentando não esmagar - Como você va.. - Fui interrompida, por um abraço.
- Você veio!
Merda de sentimentalismo, merda! Já havia me derretido toda por dentro com aquela vozinha que por um momento, pareceu contente.
Retribuí o abraço dele, o colocando no meu colo e me levantando com ele nos braços, enquanto ele se agarrava ao meu pescoço e eu sentia seu corpinho pequeno e quente se grudar ao meu. Já estou tão apegada a ele que por um minuto, até me esqueci de meus problemas.
- Eu, vou deixar vocês a sós.. - Bruce falou, e vendo que estava sobrando, saiu do quarto, me deixando a sós com o pequeno.
- Eu achei que você não ia vir, Vicki - Ele começou, parando o abraço e me encarando com seus olhinhos azuis brilhantes, e com um biquinho manhoso.
- Mas é claro que eu vinha! Tinha que saber como você estava, querido - Respondi, passando a mão pelos cabelos dele, e ele parecia ter se perdido dentro dos meus olhos verdes - O Alfred me contou que você está ruinzinho, meu amor. O quê está sentindo?
- Tudo, um monte de coisa ao mesmo tempo.. - Dickie falou, já com um olhar tristinho novamente. Ele logo tirou os olhos de mim, e os colocou no chão - Ontem eu sonhei com a mami e o tatai, foi um pesadelo... Eu não gostei..
- Ah, querido. Eu sinto muito.. - Já comecei a me mobilizar por ele. Fui até a cama, me sentando e arrumando ele no meu colo. Não o conhecia muito mas, sabia que ele amava colo - Você quer me contar como foi? - Perguntei, fazendo carinho em suas bochechas. Posso até ter tido o meu senso jornalístico ativado mas, sabia que Richard precisava desabafar, e sabia que ele se sentia confortável comigo.
- Foi horrível, Vicki - Ele começou, e já via que ele ia chorar - Eu estava num lugar todo preto e, e tinha a mamãe e o tatai e-e eles ficavam caindo toda hora na minha frente e eu não podia fazer nada, e-e - Soluçou, já chorando. Eu não me aguento com aquela carinha triste dele - E-e eu..
- Eu já entendi, querido - O cortei, o poupando de mais sofrimento. Segurei sua mão, onde fiz carinho em seus dedinhos macios, via que ele estava ficando mais calmo.
- É tão horrível.. - Dickie começou, com a voz chorosa que me quebrava por dentro - É horrível como, a mami e o tatai fazem falta em tudo... T-tipo hoje quando, a-a doutora me deu injeção, eu fiquei procurando a mamãe pra segurar a mão dela e, me esqueci que ela não está mais aqui.. - Ele fechou os olhinhos, já não controlando mais o choro - Eu sempre me esqueço que ela está morta, que ela não vai mais voltar.. - Ele tapou os olhos com as mãos - Eu não quero ficar sem minha mãe, eu não quero..
- Oh, meu bem - E lá estava eu mais uma vez, tentando não chorar. O puxei para meu colo, deitando sua cabecinha em meu ombro onde ele se sentiu mais confortável para chorar - Eu tô aqui com você, Richie. Eu tô aqui..
Me encolhi com ele, por um momento, pareceu que o mundo parou e apenas haviam nós dois. Ele grudado em mim, botando para fora aquela dor imensa em seu peito e eu, o acolhendo.
Aquilo me intrigava, o meu instinto, como ele se ativava com o Richard. Quando eu menos percebia, já estava com ele nos braços o acalmando, nem sequer me importando se havia sido rebaixada no emprego ou se meu ego havia sido tocado, só ele importava para mim, só o Richard e sua necessidade de ter um colo para chorar era importante para mim naquele momento.
Passados mais alguns minutos, o chorinho dele foi se cessando e os soluços aumentaram, indicando que ele havia se acalmado. Pretendia soltá-lo de meu colo mas, senti que a sua mão estava segurando a minha orelha, do mesmo jeito que ele fez na fatídica noite no Haly's. Na linguagem de Richard Grayson, aquilo queria dizer que ele estava com sono, e que não me queria longe; e eu como uma manteiga-derretida para aquele menininho, nem ousei me mexer.
- Richie.. - O chamei, calma, observando como os olhinhos dele estavam pesados. Não pude conter um risinho, ele era uma graça - Meu amor, você tá com sono?
- Tô.. - Respondeu, numa manha - Eu, não dormi de noite..
- É, o Bruce me contou.. Que tal um cochilo para você se acalmar, hum?
- Não, eu não quero dormir - Tentou ser sério, mas eu sono não deixou - Eu não quero dormir e ter outro pesadelo..
- Ah, e quem disse que você vai ter pesadelos comigo por perto, hein? - O encarei, e sorri com a sua carinha curiosa - Eu não vou deixar você ter nenhum pesadelo.
- Promete?
- Prometo.
Ele me deu um voto de confiança, e voltou a se aninhar no meu colo e quando menos percebeu, havia caído no sono. Parecia tão calmo agora, seus problemas sumiram por um instante em que ele, praticamente, se deitou em meu peito, dormindo agarrado ao meu braço. Parecia um ursinho vestido de Batman, todo lindinho, e eu boba, fiquei lá babando por ele. Esse menino, lindo, ainda me deixaria na palma da sua mão.
Por mim, ficaria horas admirando como o Richie é lindo, mas a minha hora de almoço havia se acabado, e teria de voltar a Gazeta e aguentar mais um turno de trabalho. O deitei com todo cuidado do mundo na cama, e não pude negar um bico ao ouvir um resmunguinho bravo dele por ter saído do meu colo, por mim o carregaria para todo o canto.
Me aproximei e beijei sua testa, desejando que tivesse sonhos bons. Saí do quarto e caminhei em direção a sala, um pouco mais aliviada ao saber que ele estava mais calmo. Aquelas sensações que eu sentia por ele me intrigavam tanto, haveria de investigar todas elas em algum momento.
- Bruce - O chamei, o vendo sentado no sofá e comendo um sanduíche enquanto digitava algo no notebook - Eu já vou indo, já deu minha hora. O Richie está dormindo..
- Ah, ainda bem, assim ele fica mais calmo. Você, vem amanhã? Ele vai perguntar de você quando acordar.
- Eu sei mas, tenho que ver, dependendo do trabalho que me derem não terei como sair da Gazeta. Mas, eu ligo para ele, não quero deixá-lo sem minha presença..
- Sábado está quase chegando, terá o dia todo para ele. Ah e, falando nisso, Leslie marcou uma consulta na psicóloga para ele as quinze no Sábado, temos de ir junto.
- Ótimo, não irei faltar. Preciso ouvir da voz de um profissional o quê acontecerá com ele e conosco nessa "aventura", e talvez, seja disso que eu tenha mais medo...
Soltei, e antes que Wayne pudesse me questionar sobre essa frase, eu saí da casa dele. Alfred me acompanhou até a saída, sem me dirigir uma palavra pois viu que eu não queria conversar.
Caminhei de volta ao trabalho, com a mente mais perturbada que o céu de Gotham, me questionando sobre o instinto que havia com Richard. São desafios demais que eu não estava totalmente pronta para enfrentar, mas que teria de fazê-los agora; pelo bem do "meu filho".
°°°°
Horas depois...
Finalmente havia terminado o meu turno! O dia hoje não foi fácil para mim, tanto em termos pessoais como os de trabalho.
Meu dia na Gazeta de Gotham hoje foi resumido em fazer matérias sobre famosos enquanto Mário cantava "Bad Romance" em sua sala e ensaiava para o seu show desta noite. Eu amo ser jornalista e repórter mas, a cada dia que passa, penso seriamente em me mudar para Metrópolis e trabalhar no Planeta Diário.
Assim que saí da Gazeta liguei para a casa do Wayne, para saber do Richard, e foi ele mesmo quem atendeu, me disse que estava se sentindo melhor e havia me intimado a visitá-lo amanhã, além do divertido fato de que ele havia obrigado Bruce e Alfred a assistirem "Irmão Urso" junto com ele pois por palavras dele, ele só melhoraria se assistisse um filme da Disney. Dickie pode até ser adotado, mas ele tem fortes semelhanças comigo, esse menino. O Wayne que lute.
Mas, havia chego a hora de eu me divertir. Havia chego a uma boate onde sempre vinha depois do trabalho, espairecer a mente, beber um pouco. Fui em direção ao bar, me sentando em um dos banquinhos e tentando manter distância dos adolescentes que se pegavam, não era atoa que Charles vivia dizendo que seus colegas da faculdade já eram todos cheios de filhos. Esses adolescentes.
- Deus é mais.. - Sussurrei, me afastando um pouco deles e de sua pegação nojenta. Não sou uma velha chata mas, eu não era obrigada a ver aquilo.
E entrando no meu papel de “velha chata”, fiz a única coisa que me restou depois de hoje. Pedir um pedaço de torta.
- Olá, querida e bela torta de morango. É você com quem quero ficar essa noite.
Essa é Vicki Vale, falando com um pedaço de torta, sou mãe há vinte e duas horas mas já estou enlouquecendo. Quando estava prestes a comer aquela linda, maravilhosa, cremosa, doce e irresistível torta, o meu telefone começou a tocar. Mas não é possível!
- Puta que pariu.. - Bufei, pegando o telefone em mãos e dependendo de quem fosse, mandaria ir ao olho da merda - Alô?
- Olá, Vicki. Ou devo dizer, a mãe do ano. Que história é essa, Vicki Vale?! Adotar um menino com seu ex, que por acaso é o Bruce Wayne?! Enlouqueceu?! – Ótimo, tinha de ser justo ela.
- Estou à um passo. Escuta, estou à beira de um abismo emocional e da minha carreira, será que posso ao menos comer a minha torta antes de você vir me dar um sermão?
- Não, não pode. Coma essa torta enquanto me escuta te dar um sermão, sua maluca!
- Eu te odeio, Lois.
Bufei, nem pude aproveitar o maravilhoso sabor da minha tortinha pois Lois estava gritando do meu ouvido e me raspando como se eu fosse uma mandioca. Era isso que dava a amizade entre jornalistas, um sempre acabaria gritando no ouvido do outro.
Nos conhecemos na faculdade, éramos umas duas jovens que sabíamos muito bem agir como jornalistas, ganhando o título de mais insuportáveis da turma, e gerando dali, uma amizade. Por palavras da própria Lane, eu ainda continuo insuportável. Continuamos trabalhando na mesma área, porém em lugares diferentes, eu na Gazeta e ela no Planeta Diário, em Metrópolis.
- Chega, Lane. Está parecendo uma velha ranzinza - A cortei, enquanto me deliciava com a minha tortinha.
- Eu sou uma velha, mas sou sensata! E você, que age como se tivesse quinze anos?! Onde estava com a cabeça? Tem noção do fuzuê que vai ser isso? Vão falar disse até a nova década!
- Que se foda, Lou, eu não tô nem aí. Eu fiz isso pelo menino, o Richie é a principal vítima nessa história toda e eu não podia deixá-lo sozinho.
- E desde quando você gosta de crianças, Vicki Vale?
- A situação é diferente, Lois, o Richard é diferente - Bufei, finalmente havia encontrado a pessoa perfeita para desabafar. Contei a ela toda a história desde o Haly's, incluindo o carinho especial que criei pelo Dickie.
- Poxa vida, isso que é história. Coitado do menino, perder os pais tão cedo e ainda a irmãzinha junto, não deve estar sendo fácil. Vendo do seu ponto de vista, até entendo essa adoção precipitada que você e o Wayne fizeram.
- Pois é, esses jornalistas só falam o quê vêem, não estavam lá para verem o sofrimento do Richard.
- Falando mal da nossa própria ladainha? Isso foi inesperado. Mas desta vez eu entendo. Porém, mudando de assunto, por quê disse que estava à beira de sua carreira? Afinal, sua foto está em todo lugar nos últimos dias..
- E esse é o problema.. - Bufei - Sabe o quê o puto do Mário fez? Me rebaixou apenas para o jornalismo investigativo e reportagens locais!
- Poxa, Vicki, eu sinto muito, sei como isso é importante pra você, mas, são as regras, não é?
- Sim. Eu juro, Lois, juro que se pudesse eu teria gritado na cara do Mário, me demitido e enviado meu currículo para outro lugar, afinal todos me querem. Mas, eu não posso; tenho um filho para sustentar, agora.
- Sim, o garoto é a prioridade. Mas, e ele, Richard, como é?
- Uma graça, Lou - Sorri, tinha de jogar na cara dela que "meu filho" era a criança mais linda do mundo - Moreninho, com os olhinhos azuis brilhantes, e umas bochechinhas tão gordas e fofas! Ele é um denguinho, ama ficar no meu colo - Sorri, mas logo se desfez - Mas, o quê ele tem lindo tem de perturbado. É de doer o coração, vê-lo chorar assustado querendo a mãe, e vendo ele se lembrar de que ela não está mais lá. Ele está tão abatido, quero dar todo apoio que puder a ele, Richie não merece nada disso que está acontecendo..
- Claro que não, é só um menino. Eu ví a história pelo jornal mas, não imaginava que ele pudesse estar tão abalado. Mas, devo dizer que adorei essa descrição que fez dele - Ela riu - Vicki Vale, a dona do mal para toda a Gotham City, e a mamãe mais babona para o seu filho.
- Ah, Lois, vá a merda.
- Meu amor, já estou há uma semana. Não sabe o quê Perry me arranjou, uma sombra!
- Ué, e você já não tinha um antes? Aquele menino ruivo, o adolescente.
- Ah não, Jimmy é só meu aprendiz, e mesmo assim é mais competente do quê esse novo - A ouvir bufar, adorava ver Lois se irritar, já que aquela paciência toda dela me enchia - O nome dele é Clark. Clark Kent; de Smallvile. É uma muralha de óculos e um com topetinho mixuruca, mas é mais bobinho que nem um pato.
- Por Deus.. - Ri, quase me engasgando com a torta - Lou, só você pra melhorar o meu humor.
- E você pra estragar o meu, né? Sonsa - Ela riu - Bom, Vicki, eu vou desligar, tenho que me preparar psicologicamente para aturar o Smallvile me seguindo o dia todo amanhã. Boa noite pra você, e boa sorte com o menino. E diga que estou indo aí para Gotham apertar as bochechas dele.
- Pode deixar, Loiw. Até mais.
Sorri, desligando o telefone, às vezes era bom ter uma amiga. Mas, me vendo sozinha de novo, logo comecei a me perturbar com meus pensamentos. Mesmo querendo o bem do Richard e me dando bem com ele, sei que não estou pronta para ser mãe, para isso tudo, tanto pelas mudanças que ocorrerão na vida dele e na minha. Serão coisas demais para lidarmos, serão desafios que teremos que passar juntos mesmo nem nos conhecendo direito, e o pior, eu é que terei de guiá-lo e ser o seu porto-seguro essa jornada toda.
Mas, enquanto isso não começa, eu irei me encher de torta até o amanhecer.
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