Finalmente, Domingo havia chego. Dia de folga, de relaxar, curtir a família, ou acordar com uma puta ressaca. Cada um tinha seu jeito de comemorar o seu "Domingão".
Em plenas oito da manhã, a destemida repórter Lois Lane já havia pego dois ônibus em direção a sua não amada Gotham City. Depois de ter tido em primeira mão a matéria sobre o namoro de Bruce Wayne e Selina Kyle e ter escrito uma maravilhosa coluna, mesmo com Smallvile murmurando em seu ouvido por motivos desconhecidos a ela, Lois não havia parado seu ritmo de "Super-Repórter", e agora, estava indo levar boas novas a sua amiga, Vicki Vale.
Descendo do ônibus e caminhando até o prédio da amiga, a moça se lembrava porque adorava tanto Metrópolis, Gotham era um lixo puro. Finalmente, chegou ao prédio da amiga, nada muito rico, mas nada muito pobre. Subiu pelas escadas até o apartamento dela, pois estava feliz com o sucesso de sua recente matéria e até o elogio que havia recebido de Perry e nada poderia estragar o seu humor. Chegara até o apartamento de Vicki, batendo à porta, esperando encontrar a amiga e que ela estivesse tão radiante quanto ela.
- Bom dia! - A Lane exclamou, mas seu sorriso se desfez ao ver a amiga acabada. Os cabelos bagunçados, cheias de olheiras, com um provável mau-humor - Oh, meu Deus, o quê houve com você?
- Entra, a história é longa - A ruiva começou, chamando a amiga para entrar e fechando a porta. Coçou os olhos, se sentando no sofá junto a Lois, escondendo seu rosto pois estava para ter uma enxaqueca terrível - Só não faça muito barulho, por favor... O Richard está dormindo..
- Deixa eu adivinhar, o garoto deu um trabalhão? - Lois perguntou, arrumando as mechas de cabelo da amiga.
- Mais ou menos - Vicki bufou, se encostando no sofá - O Richie é muito bonzinho, mas tivemos nossos problemas, ontem... Ele passou o dia todo me ignorando, até chegar à noite.. - A jornalista parou, e passou a mão pelo rosto. Lois logo percebeu que ela estava chateada com algo - Ele teve uma crise de noite, acordou chorando muito e eu fui acudi-lo.... E aí eu finalmente descobri o porque dele estar me ignorando, e do pior jeito..
Era uma da madrugada. Vicki estava em seu escritório, comendo um pedaço de torta, tomando uma taça de vinho, e fazendo suas inúmeras investigações sobre a Corte das Corujas. Mesmo que Richard ainda estivesse a ignorando, ela não ignoraria ele.
Mesmo sendo a melhor jornalista investigativa de Gotham, Vicki Vale não foi capaz de descobrir o motivo de Richard estar a ignorando. Durante a sessão de psicologia, o pequeno não saiu do lado de Bruce, e após o fim da sessão ficou longos minutos jogando conversa fora com a parceira do Wayne, se mostrando não querer ficar perto da jornalista. Após voltarem, ele voltou a ficar "só na dele". Dickie não havia a faltado com respeito, mas ela era Vicki Vale, e a última coisa que ela queria era ser ignorada, ainda mais por um menino de sete anos, o qual ela havia se apegado.
- Merda, Vale... - Ela sussurrou a sí mesma, comendo um pedaço de torta e afogando suas mágoas - Está vendo o quê dá ser sentimental?! Está vendo?!
Vicki poderia se criticar o resto da noite, mas foi interrompida por outro barulho que, ironicamente, Alfred havia lhe avisado sobre. Ouviu Dickie começar a chorar, e logo se lembrou das crises que Bruce havia lhe avisado. Bufou, e caminhou até seu quarto, onde estava o menino, logo sentindo seu coração sensível se despedaçar ao ouvir o menininho chorando.
Ela e seu lindo sentimentalismo.
- Richie? - Ela abriu a porta do quarto, arregalando seus olhos ao encontrar Richard gritando de desespero, com as mãos agarradas ao travesseiro. Ela não sabia que as crises eram tão pesadas - Richard! Richard, acorda!
Vicki parou e respirou, e logo lembrou-se daquele papel que Alfred havia lhe dado. O pegou e logo de cara deu de cara com um "não se desespere"; algo meio impossível naquela situação. Deixou o papel de lado e resolveu ir fazer as coisas do seu jeito.
Foi até Richard e o pegou nos braços, tentando o acalmar da mesma forma que o acalmou no dia do atentado aos Graysons. Vicki sentiu o menino se prender ao colo, sentindo a sua presença; ela pensou que ele se acalmaria mas, parecia que Dickie só havia se incomodado mais.
- Eu quero a minha mãe! Eu quero a minha mãe!
A jornalista bufou, lhe doía o coração ouvir Richie chamando pela mãe, mesmo que ele soubesse que ela não poderia vir acudi-lo. Decidiu deitar o menino na cama e sentou-se ao lado dele, o vendo sua carinha de assustado mesmo que ainda estivesse em "transe".
Vale levou a mão até o peitinho do menino, o massageando tentando o acordar de forma calma. Surpreendeu-se consigo mesmo ao ver o menino começar a se acalmar e a parar de gritar. Dickie abriu seus olhinhos azuis, cheios de lágrimas, e encarou os olhos verdes de Vicki que o encaravam assustados. Dickie sabia que mesmo que Zitka insistisse que Vicki queria roubar o lugar de Mary, agora ele não iria conseguir recusar um abraço da ruiva.
- Richie... - Vicki começou, se deitando ao lado de Richard e o puxando para seu colo, o qual ela ficou feliz ao senti-lo se agarrar - Meu amor, o quê foi? Você teve um pesadelo?
- S-sim... - O pequeno respondeu, se acalmando ao sentir a moça acariciar seus cabelos - Sonhei com a mami e o 'tatai'... C-com eles caindo..
- Shhh, já passou... - Sussurrou a mulher, trazendo o menino mais para perto de si, acariciando suas costas para ele se acalmar mais rápido - Passou, passou...
Vicki ficou mais um tempo ali com o pequeno, teve a impressão de que ele havia se cansado do jogo de ignorá-la. Passaram um tempo abraçados, com Dickie se acalmando, até o vizinho do andar debaixo decidir ouvir uma música alta bem naquele momento. Mesmo que fosse uma ótima música, aquilo ainda incomodou a jornalista.
- Mas não é possível.. - Disse a ruiva, se virando e pretendendo se levantar da cama - Eu vou ligar na portaria e..
- Espera - Pediu Dickie, segurando a mão da mulher e ganhando sua atenção - Deixa. Eu gosto dessa música... - Ele sorriu - É "Love of my life", não é?
- É sim - Vicki cedeu, vendo que Dickie estava mais calmo e tinha até sorrido. Se virou de volta para ele, acariciando seu rostinho macio - Gosta de "Queen"?
- Sim, eu sempre ouvia com meus pais.. - Richie começou, com os olhinhos presos nos olhos verdes de Victoria - Meu 'tai' dizia que quando conheceu minha mami, estava tocando essa música... Ele disse que achou engraçado porque, Freddie escreveu essa música para Mary, e Mary era o nome da mami... Acho que isso é amor de verdade, não é?
- É meu bem, é sim.. - A jornalista sorriu com a doçura do garoto, achava adorável como ele a mantinha mesmo depois do trauma.
- Vicki.... Me desculpa.
- Desculpar? Por quê, Richie?
- Por ter te ignorado.. - Ele começou, encarando os dedinhos das mãos - É que... Eu e a Zitka, a gente achou que você queria roubar o lugar da mami mas... Mas você foi legal com a gente mesmo depois da gente ter te ignorado... Desculpa..
- Ah, meu bem - Ela suspirou aliviada, ficando feliz de tudo ter sido apenas um mal entendido - Eu realmente fiquei triste por você ter me ignorado mas, fico feliz que tenha pedido desculpas - A ruiva colocou as mãos no rosto do menino, fazendo-o a encarar - E eu nunca vou roubar o lugar da sua mãe, Richie... Ela é única e ninguém pode tomar o lugar dela.
- Promete?
- Prometo - Vicki sorriu, e logo viu o menino lhe dar um sorriso de janelinha e lhe abraçar. A jornalista ficou feliz por ter reconquistado o amor do pequeno Dickie novamente mas, ele destruí a sua felicidade em único segundo, com uma única frase.
- Fico feliz que você não queira o lugar da minha mami, Vicki. Porque eu não quero que você seja minha mãe.
- Aí, essa doeu... - Começou Lois, depois de ouvir a história da amiga. Sempre avisou Vicki que aquele seu sentimentalismo a deixaria machucada, mas ela nunca a escutava - Olha eu não quero ser chata, mas, eu avisei que o garoto não ia te querer como mãe tão rápido..
- Eu sei, isso era óbvio. Mas eu quis me apegar a ele mesmo assim... - Vale bufou, encarando chateada para a amiga - O pior é que eu não posso fazer nada, Lou; é uma decisão do Dickie e eu tenho que respeitar..
- Não sabia que Vicki Vale respeitava decisões dos outros.
- Não da maioria, mas o Richie é exceção... Quem sabe assim eu paro de ser tão sentimental.. - A ruiva bufou, e prendeu seu cabelo num coque, tentando manter a decência - Mas, vamos falar de você, Lois Lane. Vi sua coluna ontem sobre o namoro do Wayne com aquela piriguete de esquina, pegou em primeira mão, foi? Parecia eu me oferecendo ao Bruce em troca de informações..
- Me respeita, Victoria! E sim, foi de primeira mão. Ainda não acredito que Bruce Wayne me deu aquela matéria de mão beijada, acho que ele quer algo com isso... - Disse Lois, teorizando.
- Quis dizer algo com você, não é? - Vicki arqueou as sobrancelhas - Bruce não me engana. Ele assumiu namoro com aquela Selina, mas vai dar chifres pra ela em menos de um mês de namoro... Digo por experiência própria.
- Pobre de você, 'corninha; mas, vou ficar de olho nele quando visitar o Planeta Diário.. - Ele sorriu, mas logo se empolgou novamente - Mas, não vim aqui falar do Bruce Wayne, e sim trazer novidades. Descobri mais coisas do Eagle Green's!
- O quê?! - A jornalista de Gotham perguntou, curiosa. Aquele plano de investigar a Corte ainda estava saltitando em sua mente.
- Descobri que será no prédio da Lex Corporathion, como sempre, mas quem será a anfitriã será a Lena Luthor. Lex sumiu das capas desde que perdeu o Planeta Diário ‘pro Wayne. Lena é mais "solta" que o irmão, e isso quer dizer que provavelmente não haverá tantas restrições para nós jornalistas entrarmos..
- Isso é bom, muito bom... Espera, disse "nós"? Você vai comigo?!
- Acha que eu ia te largar lá sozinha com aquele tanto de gente pra entrevistar? Me poupe, Vicki, até parece que perdeu seu lado interesseiro - Lois sorriu, irônica - A única desvantagem é que você só consegue um convite se tiver um acompanhante no estilo casal, sabe? E já digo que não vou fazer parzinho com você!
- Isso é ruim - A ruiva bufou - Não tenho ninguém em mente para nos acompanhar... Ainda mais para se passar de "um cara com duas mulheres". Vem alguém na sua mente?
- É, tenho umas hipóteses, só basta saber se vão aceitar... - Começou Lois, mas logo ela e a amiga tiveram a atenção interrompida por uma figurinha sonolenta que entrou na sala.
- Dickie, você acordou... - Começou Vicki, observando o garotinho caminhar até ela ainda cheio de sono. O colocou em seu colo enquanto ele ainda coçava os olhinhos - Bom dia.
- Bom dia.. - O pequeno se espreguiçou, se deitando no colo da jornalista todo preguiçoso. Logo ele percebeu a outra figura no sofá, que lhe encarava, e se ajeitou no colo de Vicki, tentando ajeitar os seus cabelos - Vicki, por quê não me falou que íamos ter visita? Eu ‘tô todo descabelado..
- Bom, Richie, nem eu sabia que teríamos visita - Ela sorriu para a amiga, mostrando para ela a figura de criança que morava com ela - Dickie, essa é a Lois. Uma amiga minha.
- É um prazer finalmente conhecer o famoso Richard Grayson - Começou Lois, estendeu a mão para o garotinho, que a apertou, a olhando com os olhinhos arregalados.
- Você é a Lois Lane?! Do Planeta Diário?!
- É, sim, sou eu mesmo. Você, já me conhecia?
- Mais ou menos.. - Dickie desviou o olhar - É que sabe, senhorita Lois Lane, um dia o meu padrinho, o tio Clark, ele foi lá casa, né? Aí ele me contou que você era a paixonite dele do trabalho, e sabe quando ele fala de você parece que saí um monte de coração da cabeça dele. Assim, olha.. - Ele fez a sua demonstração, enquanto as duas jornalistas tentavam não rir - Só que ele falou que isso é segredo e que não é pra contar 'pra ninguém, então não conta pra ninguém, tá bom?
- Ok, claro.. - Respondeu Lois, sorrindo, enquanto via Vicki segurar a risada. Sem dúvidas ela teria uma conversa com Smallvile quando o visse novamente - Você daria um ótimo jornalista sabia, Richard? Leva jeito pra isso.
- É, eu não sei... Prefiro ser um astronauta.. - Dickie foi sincero, se deitando no colo de Vicki, enquanto ela escondia sua risada - Você vai tomar café com a gente, senhorita Lois Lane?
- Adoraria, pequeno Richard; mas tenho que ir atrás de um certo, homem apaixonado - Lois sorriu, e se levantou, se aproximando da amiga e sussurrando em seu ouvido - Esse vai dar trabalho...
- Nem me fale..
- Bom, até mais, Vicki. E Richard, foi um prazer conhecê-lo; espero te ver mais vezes - A morena sorriu, acariciando os cabelos do menino antes de sair da casa da amiga, pretendendo ir atrás da informação que o filho da amiga havia lhe dado.
- Pelo visto alguém acordou de bom-humor hoje, não? - A jornalista começou, dando um beijo em Dickie, já que ela não aguentava com sua fofura - Com fome, querido?
- Sim! Ainda tem cereal?
- Não, querido. Mas é bom, sabe por quê? Porque vamos tomar café fora!
- Eba! - Richie exclamou, saindo do colo da moça e correndo de volta até o quarto - Vou pegar a Zitka!
- Tudo bem - A ruiva sorriu, mesmo que Richard havia jogado em sua cara que não a queria como mãe, ela ainda ficava feliz por vê-lo sorrir.
°°°°
Cafeteria
Vicki poderia, mais uma vez, morrer de diabetes de tanto açúcar que estava ingerindo logo cedo, mas aquela era a única coisa que lhe desestressava.
Havia ido com Richard até uma cafeteria perto de seu apartamento, onde ela sempre ia já que não estava acostumada a fazer seu próprio café da manhã. Estava no balcão, esperando seu pedaço de torta chegar mas mantendo o olho em Dickie, que estava sentado numa das mesas comendo panquecas.
- Obrigada - Ela agradeceu ao atendente, olhando apaixonada para sua torta de chocolate. Seguiu até a mesa, onde estava Richard, que estava totalmente concentrado no que passava na televisão - Dickie? O quê está assistindo, querido?
- Eu não sei o quê é, só sei que gostei.. - Falou o garotinho, comendo suas panquecas enquanto os seus olhinhos brilhavam com o programa na televisão - O quê é?
- É uma apresentação de balé - A jornalista respondeu, prestando atenção em como o menininho estava encantado com a dança - Gosta de balé? - Ele assentiu com a cabeça, e a moça logo viu oportunidade de ouro ali - Tem uma escola de balé aqui do lado, podemos passar lá se quiser...
- Mas, eu nunca nem dancei balé.. - Começou Dickie, se mostrando meio inseguro e já vendo aonde Vicki queria chegar - Eu sou só um acrobata, Vicki. Quer dizer, era...
- E isso ótimo, querido. Com tudo o quê aprendeu nos treinos de acrobata, tenho certeza que seria o melhor da turma - A ruiva começou, segurando a mão do pequeno e a acariciando - Vamos, Richie... Vai ser bom pra você, meu amor, encher a cabeça com alguma coisa.. - Vicki usou seu poder de convencimento, mas Richard parecia ser mais forte - Olha, vamos fazer assim. Eu te levo lá depois do café e vemos como é, se você não gostar eu não toco mais no assunto. Ok?
- Tá.. - Dickie cedeu, meio confuso. Queria sim tentar algo novo mas, ainda estava muito inseguro consigo mesmo - A Zitka pode ir junto?
- É claro que pode, amor.
- Ok.. - Ele sorriu, olhando para a elefantinha que estava em seu colo, que em sua mente lhe parecia pedir um pedaço da sua panqueca - Sua comilona..
°°°°
Vicki sorriu ao ver que, mais uma vez, seu poder de convencimento havia dado certo. Ou quase.
Depois de tomarem café, a jornalista levou o pequeno Dickie até a escola de balé que havia ali perto, e o pequenino pareceu estar mais encantado do quê nunca com o local, mesmo sem ter visto nenhuma bailarina até o momento. Ele estava sentado em um dos banquinhos, observando encantado as fotos das bailarinas que já haviam estudado ali, enquanto Vicki, que estava ao seu lado, esperava para falar com a recepcionista da escola, querendo dar uma oportunidade do pequeno se livrar de tanto peso emocional.
- Elas são tão lindas com essas roupas, parecem com a bonequinha que minha mami fez pra Liz.. - Começou Dickie, logo se sentindo triste ao seu lembrar da irmãzinha; mas Vicki logo foi mais ágil e o puxou para seu colo, ganhando a atenção dos olhinhos azuis.
- Elas são lindas mesmo, amor. Cheias de graça, igual a você - Ela sorriu, arrancando um sorrisinho do pequeno. Logo, os dois viram uma moça se aproximar deles, que aparentava trabalhar no local.
- Senhorita Vale, venha comigo, a diretora já pode atendê-la.
- Claro - Ela se levantou, mas logo encarou Richard, que estava vidrado nas fotos - Dickie, eu já venho. Não saía daí!
- Tá - Assentiu o menininho, estava concentrado demais em ver como as bailarinas estavam bonitas para sair dali. Porém, outra coisa chamou a atenção do menininho, quando outra moça entrou no local e colocou uma menininha sentada ao lado de Richard, que era um pouco mais nova que ele.
- Fique aqui! - Disse a mulher, que logo saiu de cena.
Dickie virou-se para a menininha, de vestidinho branco e cabelos meios arroxeados, agarrada a um gatinho verde de pelúcia, e a garota aparentava ter uma manchinha na testa. O moreninho aproximou da garotinha, que aparentava ser extremamente tímida.
- Oi - Ele sorriu, olhando para os olhinhos roxos da menininha - Eu sou o Dickie. E você?
- E-eu... Sou a Rachel..
- Prazer, Rachel - Ele estendeu a mão para a garotinha, que a apertou, ainda meio desconfiada.. - Você vai..
- Rachel, vamos embora - A mulher, que deveria ser a mão da menina, retornou e pegou na mão da pequena, a levando embora sem mais nem menos.
- Estudar aqui.. - Falou o menino, meio confuso. Mas, ele logo teve a atenção tomada por Vicki, que apareceu com uma mulher ao seu lado, que deveria ser uma professora.
- Então você é Dickie Grayson? Muito prazer, eu sou Ariella, professora de balé - A mulher, que usava um roupa de bailarina, estendeu a mão para o pequeno, que a cumprimentou - Sua mãe me disse que você está interessado nas aulas.
- Ah eu, não sou mãe dele - Vicki corrigiu a mulher, sabendo que Dickie não queria ter "outra mãe" - Mas, ele realmente está interessado em balé - Ela sorriu para o garotinho, e segurou sua mão - Ela disse que você pode assistir a aula da turma mais velha, Dickie. Se você gostar, pode entrar na turma do pessoal da sua idade..
- Então, aceita nossa proposta? - Perguntou a professora.
- Eu, não sei.. - Dickie sentiu-se inseguro novamente ao tentar algo novo. Vicki abaixou-se e ficou perto dele, e ele se aproximou para sussurrar no ouvido dela - Será que meus pais não iam ficar chateados se me vissem fazendo uma coisa legal sendo que eles morreram? E-e se eles acharem que eu não gosto mais deles, Vicki?!
- Oh, meu bem.. - A jornalista bufou, as vezes ela esquecia que Dickie via o luto de um jeito diferente, de um jeito infantil - Richie, seus pais não ficar chateados, meu bem... Pelo contrário, vão ficar felizes em ver que você está superando isso tudo - Ela sorriu, tentando confortar o pequeno - Vamos ao menos ver o ensaio dos alunos, tudo bem?
- Tá bom.. - O pequenino cedeu, ainda meio inseguro, mas admitiu sentir-se melhor quando a jornalista o pegou no colo; ele amava o colo dela.
Dickie, mesmo ainda inseguro com aquela proposta de "encher a cabeça", admitiu estar curioso com as bailarinas. As achava bonitas desde que viu sua mãe costurar uma bonequinha bailarina para sua irmãzinha. Ele costumava pensar que quando Elizabeth crescesse, ela seria uma bailarina.
- Olhe, querido.. - A jornalista chamou o pequeno, parando com ele em um corredor onde havia uma janela transparente, que mostrava a sala das bailarinas mais velhas - Elas vão começar a dançar..
Richard virou-se, e logo focou seus olhinhos azuis nas alunas e em sua dança. Achou fascinante como a música clássica que tocava no pequeno radinho da professora mesclava com os movimentos dela, e das outras alunas, que dançavam como verdadeiros anjos vestidos de cor-de-rosa. O pequeno parecia vidrado, se sentia em outro mundo onde só haviam ele e as lindas e belas bailarinas; logicamente, ele não conseguia parar de lembrar da irmã vendo tudo aquilo.
Vicki sorriu orgulhosa ao ver a concentração do pequeno, e mais uma vez, sua insistência havia vencido.
Mais alguns minutos de dança clássica, a aula das alunas havia se encerrado. Vicki virou-se para o pequeno Dickie, que mesmo com um fim da aula, ainda estava com os olhinhos vidrados na sala, parecendo perdido e encantando com o mundo das bailarinas.
- Richie.. - Ela o chamou, e não pôde conter um sorriso orgulhoso ao ver os olhinhos do pequeno brilhando, e até mesmo um sorrisinho - Então, o quê me diz?
- Eu, eu quero ser bailarino! - Dickie exclamou, se mostrando feliz e alegre como a jornalista nunca havia visto antes - Eu quero fazer balé!
- Ah, isso é ótimo! - Exclamou a professora, aparecendo por trás e se aproximando do pequeno, com um sorriso - Vou adorar te ter como aluno, Dickie. Vai ser o primeiro garoto da sua turma!
- Mas, eu vou dançar que nem elas, né?
- Claro, será tão gracioso quanto elas - Disse a professora, passando a mão pelos cabelos do menino - Então, vamos fazer a sua matrícula?
- Sim! Quer dizer, a gente pode? - O pequeno virou-se para Vicki, que com um sorriso, acenou com a cabeça - Então, vamos! - Ele sorriu, com a nova oportunidade de poder recomeçar a vida depois do assassinato dos pais.
E é claro, poder honrar a memória bailarina de sua irmãzinha.
°°°°
A jornalista Vicki Vale adorava sentir o doce sabor de ver que sua insistência havia dado frutos, mas admitia, que nunca havia se sentindo tão feliz ao ver que colocou um sorriso esperançoso no pequeno Dickie Grayson.
Os dois haviam voltado ao apartamento da ruiva há algumas horas, e desde que saíram da escola, Richie não havia parado de falar de bailarinas, danças, e de rodopiar pelo tapete da sala; agindo como a criança que era. Vale ficava feliz por ter feito o pequeno se distrair com algo, e tê-lo tirado do foco da dor da perda dos pais. Quem sabe assim, ele não a visse mais como uma amiga mais próxima?
Afinal, ela ainda era uma jornalista, e ainda era interesseira.
- Dickie, querido, não vá esquecer suas coisas. Já já o Bruce vem te pegar.. - Começou a jornalista, se aproximando do pequeno rodopiante e lhe entregando sua mochila amarela, já que Bruce viria buscar o pequeno em poucos minutos - Então, está contente? Semana que vem sua turma do balé já começa...
- Sim, muito! Mal posso esperar pra dançar que nem aquelas bailarinas! Acho que a mami e a Liz iriam gostar de me ver... - O pequeno falou, rodopiando.
- Tenho certeza que sim, amor - Começou a moça, se sentando no sofá e segurando a mão do menininho, ganhando sua atenção - Gostou de ficar aqui comigo, Richie?
- Sim, foi legal! Sua casa é pequenininha, mas é bem quentinha. Lá na Mansão é muito frio... - Disse Dickie, logo subindo no colo da jornalista, dando um abraço nela - Eu gosto de ficar com você, Vicki.
- Eu também adoro ficar com você, Richie - Ela retribui o abraço, mesmo sabendo que os jeitos que ambos gostavam um do outro eram diferentes. Logo, os dois pararam o abraço ao ouvirem a campainha tocar. Vicki se levantou e abriu a porta, se deparando com Bruce que estava usando uma roupa "normal", além de ter várias marcas de chupões pelo pescoço - Bruce. Pelo visto esqueceu de alimentar a sua gata.
- Boa tarde pra você também, Vicki - Começou o bilionário, ignorando a mulher e suas oportunidades para "entrevistá-lo". Logo, ele se deparou com Dickie rodopiando pela sala, e se intrigou - O quê há com o Richard?
- Ah, ele só está feliz... Fomos a uma escola de balé hoje e ele ficou apaixonado na dança, fizemos até a matrícula. Ele começa Sábado que vem.
- Balé? - Indagou - Não sabia que ele gostava de balé.
- Ah, Bruce; não começa. É bom pra ele se distrair..
- Tudo bem, que seja. É bom porque ele já volta a se acostumar com a escola... Estava pensando em já matriculá-lo na Academia de Gotham..
- Naquela escola de riquinhos metidos à besta? Não vai colocá-lo lá - Disse Vicki, se aproximando do homem querendo que o menininho não os percebesse - Bruce, sabe tanto quanto eu que Richard não veio desse mundo seu e sabe muito bem que essas crianças vão ficar implicando com ele. A última coisa que ele precisa é de perseguição dessa gente!
- Se acalme, Vicki; o Richard vai se acostumar com a escola... Não posso fazê-lo perder o ano letivo inteiro e outra, os professores ficarão cientes da situação psicológica dele.. - Começou o bilionário, tentando acalmar a ruiva - Olha, Vicki; só porque o Dickie sofreu um baque grande na vida, não significa que ele nunca mais sofrer. Ele vai passar por situações difíceis na vida, e você não pode impedir isso.
- Ah é? Pois eu não acho. Mato o primeiro que mexer com o Richie - Vale bufou, dando uma de superprotetora. Logo, percebeu Dickie notar a presença de Bruce, e caminhar até perto dele.
- Oi, Bruce! - Exclamou o pequeno, abraçando as pernas do homem - A gente já vai embora?
- Já sim, Dickie. Diga tchau a Vicki.
- Tchau, Vicki! - Ele abraçou a jornalista, que acariciou seus cabelos - Quando me ver de novo, estarei dançando balé!
- É claro que estará, amor. É claro que estará - A mulher sorriu, e encarou Bruce com um olhar de "Não machuque o meu filho".
Logo, Bruce saiu com Richard, deixando a jornalista a sós, que pretendia tomar um banho relaxante, isso se o telefone não tivesse começado a tocar.
- Alô? - Ela chamou, mais ouviu apenas uma respiração - Alô? Olha só, isso não tem graça! Imbecil! - Exclamou, irritada, e desligou o telefone. Poderia ser apenas um adolescente bobo querendo lhe atazanar mas, Vicki como jornalista, ficou cheia de conspirações rodando a mente.
Enquanto isso, na frente do prédio, Bruce andava de mãos dadas com o pequeno Dickie, que não parava de falar sobre a escola de balé e de como Vicki havia sido legal com ele durante o fim de semana. O bilionário estranhava aquilo, afinal, Dickie estava um tanto quanto alegre demais para uma criança traumatizada, diferente de como ele havia ficado. Aquilo não estava certo, não para Bruce Wayne.
Saindo de suas ditaduras filosóficas, Bruce abriu a porta de seu carro para Dickie, que entrou todo alegre, até perceber a presença de outra pessoa ali. Uma garota, de uns dezoito anos, com cabelos curtos e pintados de azul e roxo, que o encarava de forma amigável.
- Então, esse é seu filho, senhor Wayne? - Perguntou a jovem, olhando para o homem.
- É, é ele sim - Começou Bruce, olhando para Dickie, que estava tímido - Richard, essa é Harper Row. Ela trabalha para mim, fazendo alguns reparos em uns equipamentos meus e, umas outras coisas.. - Ele desviou o olhar, lembrando que tinha que manter em segredo aquelas "outras coisas".
- É um prazer conhecer o filho do Patrão - Harper sorriu, e estendeu a mão para o menino, que a segurou.
- Entre no carro, Richard. Vamos levar Harper até a casa dela - Disse o homem, esperando o menino entrar no carro para fechar a porta.
- Você trabalha pro Bruce? - Perguntou Dickie, se sentando ao lado da jovem e olhando para ela, e tentando fazer amizade.
- É, trabalho sim; conserto coisas - Respondeu Harper, se lembrando de que o patrão havia pedido segredo sobre, as outras coisas - Inclusive, garoto Dickie, o Alfred pediu que eu consertasse algo para você.
- Pra mim? - Questionou o pequeno, vendo a menina remexer algo em sua mochila.
- Sim, é isso aqui - Harper tirou de sua mochila uma bonequinha bailarina, e entregou para o menininho, que ficou com os olhinhos brilhando ao vê-la - O Alfred disse que era da sua irmã mas que, estava incompleta. Então, eu a consertei; e ele me pediu para entregá-la a você.
- A bonequinha da Liz.. - Dickie sussurrou, ao ver a bonequinha que a mãe havia feito para a irmã, agora completa e com um sorriso no rosto. Ele virou-se para Harper, e não se conteu em abraçá-la - Obrigado, Harper!
- Ah, de nada, garoto Dickie - A azulada sorriu, estranhando aquela doçura vinda do filho de Bruce Wayne - Espero que cuide bem dela, pra ela não ficar sem braço de novo..
- Eu vou sim - Respondeu o moreninho, soltando a garota e olhando para a bonequinha, que lhe remetia a falecida irmãzinha - Vou cuidar dela como se fosse minha irmã..
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Metrópolis - Planeta Diário.
Clark estava no trabalho, em sua mesa, sozinho, digitando palavras que mesmo que não fossem xingamentos, estavam quase para quebrar o teclado já que o Kriptoniano digitava com toda a sua superforça.
Não havia ninguém no Planeta Diário, era Domingo, e o Kent aproveitou disto para ir se desestressar. Desde a noite passada, onde acompanhou Lois até o jantar de Bruce Wayne e Selina Kyle, o homem havia ficado com um humor terrível e com um estresse repentino, havia até mesmo queimado as almofadas da sua casa num descuido. Não sabia o porque daquela mudança de comportamento - ou melhor, sabia e sabia muito bem - mas, achou melhor ir trabalhar para ver se ficava mais, calmo.
- Sozinho no trabalho, Smallvile? - Clark saiu de seu transe de mau-humor ao notar a presença de Lois ao seu lado, que tinha uma feição, irônica para ele.
- L-Lois, o quê faz aqui? - Perguntou, encarando a moça.
- Eu é quem pergunto. Qual é, Smallvile, Domingo é nosso único dia de folga e você ainda vem fazer hora-extra voluntária? Não precisa ser certinho o tempo todo - Começou a Lane, puxando uma cadeira e se sentando ao lado do rapaz.
- Eu sei, Lois. Mas é que eu não estava muito bem e, achei melhor vir trabalhar para encher a cabeça - Respondeu o homem, se virando e voltando a encarar seu computador.
- Percebo, está assim resmungão desde ontem, quando voltamos de Gotham.. - Lois revirou os olhos, e decidiu ir direto ao ponto - Mas, mudando de assunto, Clark... Um pardalzinho me contou que quando você pensa em mim, saem corações da sua cabeça... - Começou a moça, sorrindo ao ver o homem corar - Então, quer dizer que você me acha interessante?
- C-como descobriu isso?! - Clark acabou se entregando, olhando corado para a mulher - E-eu só contei pro..
- Richard Grayson, que é filho da minha melhor amiga, tecnicamente meu "sobrinho" e com sete anos de idade.. É sério, Smallvile? Confia seus segredos numa criança de sete anos? - Indagou Lois, se aproximando da Clark, o deixando com mais vergonha.
- O-olha, Lois, eu não sei o quê o Richard disse pra você m-mas, não é verdade!
- Então, não me acha bonita?
- Não! Quer dizer, sim! Sim você é muito bonita! - Clark exclamou, confuso, e bufou - É só, você entendeu..
- Sim, Smallvile. Estava apenas brincando com você - Ela sorriu, se aproximando dele - Não se preocupe, não é o primeiro rapaz que me acha bonita, mas pode ser o primeiro que me leva pra sair. O quê acha? - Indagou, levantando uma das sombrancelhas.
- S-sair? Tipo, nós dois?!
- Sim, nós dois... - Ela sorriu - Então, vai me dispensar assim na cara dura?
- Não, não... É claro que aceito - Clark sorriu, tentando não parecer bobo.
- Ótimo, então, até amanhã, senhor apaixonado - Lois sorriu, saindo de cena e orgulhosa por Smallvile ter aceito seu convite. Quem sabe assim ela conseguiria um parceiro para levar ela e Vicki ao baile mais rápido.
Clark sorriu, e quando Lois entrou no elevador, ele se virou e encarou seu computador, decidindo não dar mais bola para aquela tese que escrevia e focar em algo mais importante, seu "encontro" com a senhorita Lane.
Ele saiu do prédio, sorrindo e alegre por sua paixonite do trabalho ter lhe notado graças ao cupido Dickie, e também por seu bom-humor natural ter lhe retornado, afinal ele não gostava de ficar de mau-humor, pois quando estava assim, ele escrevia teses muito malfeitas e maldosas.
E a tese de nome "Por quê Bruce Wayne é um babaca" criada há minutos atrás, era a maior prova disto.
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