O Natal havia chego em Gotham. Com a neve caindo sob a cidade, a deixando mais macia e leve. As famílias - felizes - comemoravam juntos e abriam seus presentes, alegres. Porém, como sempre, nem todos em Gotham City estavam totalmente felizes.
Vicki tinha acabado de acordar de uma noite horrível, por sinal. Passou uma parte da madrugada passou chorando nos braços de Lois, e a outra, vigiando seu bebê como uma mãe ursa, disposta a matar quem tocasse no seu menino. Ela estava sentada no sofá, com uma xícara de chocolate quente e observando a neve cair pela janela. Se lembrava de como queria que seu primeiro Natal com Dickie fosse mágico, mas, não havia sido assim que as coisas fluíram para eles.
Ela ainda estava desnorteada, claro. A ideia de que seu filho havia sido agredido e ela não pôde protegê-lo ainda a matava, mas, aquele não era o único problema de Vicki. Dickie ainda não sabia da sua ida à Paris, e Vicki sabia que ele não reagiria bem àquilo, nem ao menos ela estava. Mas ela tinha que aceitar aquele emprego, e deixar o seu filho em Gotham, com o pai que havia o agredido. Aquilo só a estressava mais, mas ela sabia que Dickie estaria bem pior do quê ela, e ela queria ser uma boa mãe para seu menino. Ele precisaria muito dela, agora.
- Mamãe?
Vicki saiu de seus pensamentos quando ouviu a vozinha do filho, que aparentemente tinha acordado. Ela se esticou, podendo ver o garotinho caminhando pelo corredor, agarrado a sua amada pelúcia de elefante, olhando para os lados assustado, a procura da mãe. A ruiva mordeu seu lábio inferior, dolorida. Ver seu filho assustado daquele jeito era sem dúvidas, seu pior presente de Natal.
- Dickie. Eu 'tô aqui, meu amor - Ela começou, estendendo os braços para o filho que havia a localizado. Viu Dickie correr até ela, se jogando em seus braços, enquanto ela o abraçava e beijava sua cabeça. Queria que ele se sentisse bem, mesmo com tudo aquilo - Feliz Natal, meu amor...
- Feliz Natal 'pra você também, Vicki... - O pequeno desejou, no tom mais melancólico e triste que uma criança no Natal poderia dizer.
- Você dormiu bem, meu amor? - Continuou a ruiva, se levantando com o garotinho no colo, indo até a janela para que ele pudesse ver a neve caindo. Mas, Dickie continuava com a cabeça encostada no ombro dela, sem expressar qualquer alegria.
- Mais ou menos, eu ainda 'tô sentindo muita coisa. Muita coisa triste... - O menininho começou, se agarrando mais no colo da mãe. Ele colocou sua mãozinha aonde estava o seu machucado, ainda podendo ouvir o estalo do ocorrido - As pessoas não deveriam ficar triste no Natal. Não é, mamãe?
- Bom, Dickie, o Natal é um bom feriado mas, não é todo mundo que consegue ficar feliz nele... - A ruiva ajeitou o menino em seu colo, para que ele ficasse de frente a ela. Ela pôde ver a marca de mão no rosto de seu menino, bufando, entristecida em ter que deixar o seu garoto mais triste ainda - Filho, a mamãe precisa te contar uma coisa.
- O quê é?
- Bem... - Vicki respirou fundo, buscando forças - Sabe aquele emprego que comentei com você? Então, eu consegui.
- Sério?! Que legal, mamãe! - O pequeno bateu palmas, parabenizando a mãe. Vicki sentiu-se destruir por dentro quando viu Dickie até mesmo lhe dar um sorrisinho.
- É, meu bem. É legal mas, tem um porém... - Vicki viu o sorriso do menino sumir, e dar lugar a uma feição curiosa. A ex-jornalista respirou fundo, procurando forças dentro dela - A sede da empresa onde vou trabalhar, não é em Gotham. É em outro país, lá na França e... E eu vou ter que me mudar 'pra lá.
- Mas, eu vou junto, né? - Perguntou Dickie, sorridente com a possibilidade de sair da cidade. Mas, seu sorriso saiu e ele se sentiu desesperar por dentro ao ver a mãe negar com a cabeça.
- N-Não, não meu amor... - Vicki tentava não chorar, vendo o quão assustado estava ficando seu bebê - A empresa só vai conseguir me sustentar lá, e-eu não tenho condições de te levar comigo e-
- Você vai me deixar aqui?! - O moreninho se desesperou, já começando a chorar novamente. Não queria perder o seu porto-seguro, ainda mais num momento como aquele - Não me deixa, aqui, Vicki! Por favor! Eu não quero ficar sem você! - Dickie agarrou-se no pescoço da mãe, chorando assustado.
- Richard, ei, olha 'pra mim - A Vale puxou o rosto do menino, querendo manter-se calma para ele, mesmo que as lágrimas dele estivessem motivando seu lado emotivo a cair em prantos - Meu amor, eu também não quero te deixar aqui mas, eu preciso! A mamãe precisa desse emprego e você sabe disso. - Ela se afastou, querendo sentar no sofá, e olhar melhor para seu filho, que ainda chorava - Richard, se você acha que eu vou te deixar com o Bruce depois do que aconteceu, você está enganado! Eu não vou deixar ele encostar em você, filho!
- Então, com quem eu vou ficar? - Perguntou o menino, tentando limpar suas lágrimas - Você e o Bruce que são meus pais, agora. Se você não vai poder ficar comigo, então ele que vai ficar! E eu não quero voltar 'pra Mansão, Vicki! Eu não quero ficar lá!
- Dickie, eu vou sincera com você. Eu não sei como vão funcionar as coisas mas, eu prometo que nessas duas semanas que tenho, eu vou resolver isso - A ruiva limpou as lágrimas do filho, segurando seu rostinho e se esforçando para lhe dar um sorriso confortante - Eu não vou deixar ninguém te machucar, meu filho. Eu estando aqui em Gotham ou até do outro lado do mundo! Ninguém vai encostar em você, você entendeu?
- Entendi - Dickie assentiu com a cabeça, esfregando os olhos e limpando suas lágrimas. Olhou para Vicki, lhe dando um pequeno sorriso, ao se lembrar de certas memórias - Você falou igualzinho a minha mami Mary agora, Vicki.
- E vou cuidar de você igual a ele, meu amor - A ruiva abraçou seu filhinho, o apertando e querendo o proteger de todo o mal do mundo. Mesmo que tivesse que deixá-lo, não deixaria que ninguém machucasse seu pequeno acrobata - Eu te amo, meu filho.
- Eu também te amo, mamãe - Dickie disse, levantando o rosto para dar um beijo na bochecha da mãe, antes de se aconchegar no colo dela, novamente. Se protegendo do frio, e do medo, também.
Vicki permanecia abraçada seu menino, o vendo ficar mais calmo, ao contrário dela. Ela não tinha a menor ideia de como garantiria a segurança de Dickie estando em outro país, e não queria deixá-lo nas mãos de Bruce novamente, mesmo que aquela opção fosse a única visível no momento. Não sabia onde estava Bruce, o quê se passava na cabeça dele e o quê ele faria quando visse o filho novamente, mas Vicki garantiria que ele não encostasse mais daquele jeito em seu filho.
Afinal, ela não tinha medo do Batman.
°°°°
Delegacia de Gotham City
O Natal já havia chego na cidade, com sua neve fofinha caindo pelos prédios acinzentados, os deixando mais adoráveis. Quer dizer, a quase todos os prédios.
Bruce Wayne, o maior bilionário e homem mais poderoso da cidade, tinha acabado de acordar. Levantou sua cabeça, bocejando, e se sentando na cama com uma dor nas costas terrível, logo percebendo que ele não havia acordado em sua cama king size, com seus lençóis finos e seu quarto gigante e quentinho. Bruce logo se lembrou que estava numa cela - uma particular, ao menos. Pois ele era rico, e tinha os seus privilégios -, que era menor do quê os banheiros da Mansão, com um único frigobar e uma cama que nada mais era do quê um grande bloco de concreto. Bruce bufou, abaixando a cabeça. Imaginava o nojo que todos sentiam dele, agora. Principalmente, ele mesmo.
Escondia seu rosto com as mãos, envergonhado. Seria o primeiro Natal que passaria com o filho, e pensava que a uma hora dessas, Dickie já estaria de pé, ansioso e animado, e Bruce estaria erguendo seu pequeno nos braços, o cobrindo de beijos enquanto ele gargalhava e se remexia para ir abrir os seus presentes. Mas, o Wayne havia estragado tudo. Havia agido como um covarde descontrolado, jogando no lixo todos os seus preceitos de justiça tanto do Batman quando dele mesmo, e agredido seu filho. Ele se sentia horrível, enojado de si mesmo, sem rumo algum. Não sabia se voltaria para casa, se tentaria ver o filho, se ia pedir ajuda ao Superman. Pela primeira vez em anos, Bruce não sabia o quê fazer.
- Bruce Wayne - O bilionário presidiário ergueu seu rosto, percebendo o carcereiro parado em sua cela, o olhando com desgosto. Quando o homem havia chego a sua cela particular, o funcionário fez questão de lembrá-lo das surras que ele levaria se tivesse ficado na cela comum, com os outros presos - Levanta. Você 'tá fora.
- O quê?! - Bruce exclamou, surpreso, percebendo o homem pegar algumas chaves e abrir a sua cela, mostrando que o Wayne estava "livre".
- Você quer ficar aqui? Não tem problema, se quiser, sua cela é tão arrumada - O carcereiro debochou, num tom raivoso. Viu Bruce se levantar, e caminhar suspeito até fora da cela, encarando com sobrancelhas baixas o homem - Você 'tá livre, senhor. Acontece que dar tapa em criança não é crime nessa cidade, não se ela não for parar no hospital ou falecer. É um, "método de criação" - Bruce pôde perceber um tom de ironia e raiva no homem. Não tardou a perceber que, provavelmente, ele havia sofrido daqueles "métodos" em sua infância - Vem, vam'bora.
O carcereiro segurou no braço do Wayne, o arrastando pelos corredores em direção até fora da delegacia. Enquanto caminhava, Bruce desviava das mãos e dos gritos dos outros prisioneiros, que ao contrário dele, não tinham celas particulares, e viviam amontoados um no outro. Ele os olhava, percebendo outro ponto de vista sobre aquela sua cidade.
Após pegar suas coisas, Bruce finalmente foi solto da ala presidiária, chegando até a entrada na delegacia. Caminhava até fora do prédio, usando um óculos-escuros e roupas pretas para se disfarçar nas ruas. Observou a pequena árvore de Natal na delegacia, e também, a ausência de Gordon ali. De certo, estaria curtindo o Natal com a filha, e garantindo que ela ficasse longe do Wayne. Bruce bufava, a confiança de Dickie não foi a única coisa que ele havia perdido.
Trajado de preto e, infelizmente não de Batman, Bruce saiu da delegacia, colocando a gola de seu casaco em seu rosto para que seu nariz não congelasse. Sendo um pontinho escuro no meio de tanta neve, Bruce permanecia parado, olhando os próprios pés, sem saber para onde fugia. Não sabia se voltava para casa, e buscasse coragem dos céus para enfrentar a fúria que deveria estar Alfred. Se ia atrás do filho, que ele sabia que estava com a mãe, e fosse massacrado por Vicki nas primeiras horas do dia. Se ia pular pelos prédios, e acabar sendo chicoteado pela Mulher-Gato. Ou, se ia até o túmulo de seus pais, lhes levar um pouco de desgosto. Bruce bufou, perdido. Odiava não estar no controle do mundo.
- Bruce.
Porém, o mundo de Bruce logo se descontrolou ao ouvir aquela voz. Aquela maldita voz. Se virou, podendo se deparar com a figura de Clark Kent parada ao seu lado, sendo a única pessoa na rua, gerando um clima tenso entre os dois homens. Bruce se virou, para que pudesse encarar melhor o homem. O homem que o esperava na saída da Delegacia, querendo ser o super-herói da questão mas, o bilionário ainda se lembrava daquele mesmo herói lhe dizendo que não o assumiria, que não estava disposto a quebrar barreiras por ele. Bruce sabia que havia perdido sua moral mas, Clark também não havia alguma em seus olhos.
- Clark - Ele o cumprimentou, se aproximando do homem e erguendo a cabeça para vê-lo melhor. Podia ver sentimentalismo nos olhos azuis do homem - O quê faz aqui?
- Entender o quê diabos aconteceu, Bruce - Começou o jornalista, tentando manter a postura. Não sabia se queria esganar Bruce, ou agarrá-lo - Que história é essa de prisão, Bruce?! Bateu no seu filho?! Um menino de oito anos!
- Kal, me deixe explicar - Começou o bilionário, abaixando a cabeça. Ele suspirou fundo, querendo se aproximar do homem, mas o mesmo segurou em seus ombros, o afastando - Foi um acidente... Eu, eu jamais bateria no Richard sem-
- Sem motivos?! E o quê o garoto pode ter feito?! Ter se recusado a patrulhar com você?! Uma criança! Ter se recusado a sair na rua à noite, foi esse o motivo?! - Clark exclamava, indignado e irritado. Sabia que Bruce era uma pessoa complicada mas, aquilo estava sendo demais até mesmo para ele.
- Kal, se acalme. Estamos no meio da rua - Pediu o Wayne, se escondendo mais em seu "disfarce", não querendo que ninguém o reconhecesse - E não, Robin não teve nada haver com essa história... - Bruce bufou, se lembrando do ocorrido - Acontece que, o Dickie acabou quebrando um quadro dos meus pais e-
- E bateu nele?! Bateu nele por causa disto?! - Clark o cortou, se afastando de Bruce e colocando suas mãos em seu rosto, abafando um leve grito indignado. Logo, ele procurou se acalmar, visto que não queria acabar explodindo a cidade. Se virou e encarou Bruce, todo de preto, como nas noites - Bruce, sei que seus pais são importantes para você e que tem uma grande mágoa por não tê-los aqui mas, isso não é motivo! Não é motivo para bater no Richard!
- Eu sei que não é, Clark! Sei disto! - Bruce se defendeu, levantando a cabeça e encarando a feição zangada do Superman. Caminhou até ele, querendo encará-lo frente à frente - Eu me descontrolei, sempre tenho recaídas em datas festivas e você sabe disto! F-Foi um misto de emoções que me arrependo de ter! Me arrependo! - Ele confessou, procurando ter calmo. Por outro lado, Clark admitia nunca ter ouvido o Wayne dizer que estava arrependido de algo - Acha mesmo que quis bater no Dickie?!
- Você leva o garoto numa roupa colorida para combater o crime no meio da noite, Bruce - O Kent argumentou, virando de lado e cruzando os braços, se recusando a olhar para o amigo - Sinceramente, eu não sei do quê você é capaz.
- Kal, eu amo o Richard. Ele é meu filho e eu o amo - O bilionário começou, caminhando até o mais alto e segurando suas mãos, ganhando atenção dele. Bruce tirou seus óculos-escuros, querendo olhar no fundo dos olhos de Clark - Eu jamais o machucaria de propósito. Todo aquele treinamento de Robin, é apenas para ensiná-lo o caminho certo a se seguir, para que ele não caía em mãos erradas.
- Mas parece que ele já caiu - Clark se afastou de Bruce, ficando de costas para ele. Não queria olhá-lo, não queria encará-lo, não queria ver aquele homem. Não mais - Bruce, sei que temos pontos de vista diferentes mas, tudo tem seu limite. Eu não concordo com nada disso, com essa história de Robin, com o comportamento que você teve com o Dickie, nada disso me agrada - Ele virou o rosto, o encarando. Bruce pôde perceber algumas pequenas lágrimas em seus olhos sentimentais - E às vezes eu penso, que me afastar de você foi a melhor decisão que já tomei. Continuamos sendo colegas de equipe, e nada além disso. Até mais, Bruce.
Com uma despedida melancólica, Clark saiu voando pelos ares, visto que só haviam ele e o Wayne na rua. Só queria voltar para a sua cidade, e chorar um pouco, esquecer daquele homem. Daquele homem que ele ainda amava. Sim, ainda amava aquele desgraçado mesmo depois de tudo, porém não compactuava com as ideias dele, e acreditava que se ficassem longe, aquela dor uma hora passaria. Só queria esquecer Bruce, mesmo que soubesse que seria difícil.
Enquanto isso, no térreo, Bruce apenas observava o alienígena ir embora, dizendo a ele que nunca mais voltaria. Ele sabia que aquilo era mentira, sabia que uma hora ele voltaria, mas, ainda era duro para Bruce Wayne tomar um fora, ainda mais daquele cara. Sua única e mais racional reação foi se esconder novamente em seu disfarce, saindo daquele lugar e caminhando em direção até onde ele nem sabia mais. Só, não queria ficar mais ali, perto daquele prédio, perto daquele homem, que só lhe traziam más lembranças.
Bruce só queria ir para casa, mas, não sabia mais aonde ela ficava.
°°°°
Enquanto isso, em outros cantos da cidade, conforme a neve caía durante dia, as coisas trajavam a ficarem um pouco mais calmas.
Dickie estava deitado no sofá, agarrado a sua amiguinha de pelúcia, e coberto com sua mantinha favorita de bichinhos, enquanto assistia aos especiais de Natal na televisão. Vicki estava do seu lado, até então, lhe fazendo companhia; porém a ruiva havia se estressado com a bagunça que estava o seu cabelo e havia ido até o quarto se arrumar e buscar ter um pouco de decência embora tudo. Enquanto isso, o pequeno Dickie tentava se alegrar com os desenhos da TV, que insistiam que o Natal tinha a obrigação de ser feliz. Embora o pequeno já soubesse que aquilo não era verdade.
Dickie estava aliviado em estar com a mãe, com ela o protegendo, sabendo que nada mais o machucaria. Porém, ele não podia negar, sentia falta do pai. Claro, estava chateadíssimo com o quê havia acontecido. Tinha Bruce como seu herói, e receber um tapa dele quebrou todos os seus sonhos de criança, até então. Mas, ele ainda amava o pai. Afinal, Bruce havia o salvo de ir para um lar adotivo, havia lhe dado uma mãe, uma madrasta, um avô, uma casa quentinha e brinquedos, e um amor, ele achava. Estava magoado com Bruce mas, um lado seu ainda queria vê-lo de novo. Ver o seu pai de verdade, no caso.
Ding Dong!
- Dickie, pode atender a porta? Eu estou ocupada, aqui!
- 'Tá bom, mamãe! - Exclamou o menininho, se levantando do sofá e caminhando até a porta, para receber a visita surpresa. Levou Zitka consigo, e estendeu em seus pezinhos para alcançar a maçaneta e abrir a porta, esperando que no mínimo, fosse o Papai Noel - Oi! Feliz Na-
Dickie parou de falar, ao ver que não havia sido o Papai Noel que havia vindo o visitar, mas sim, o monstro com cabeça de morcego. Ele faz a feição mais aterrorizada e assustada que pôde quando viu Bruce em frente à porta, o encarando. Sua única reação foi recuar, com medo dele, enquanto sua boca tremia em pavor. Mesmo que um lado seu quisesse o pai de volta, a imagem do outro pai ainda o perturbava. E pelo visto, parecia lhe perseguir.
- D-Dickie... - Bruce começou, vendo o menino ali na sua frente, depois de tudo. Ele tentou se aproximar dele mas, via o garoto se afastar dele. O homem sentiu até mesmo ânsia, nojo de si mesmo, ao ver que o próprio filho estava com medo dele - M-Meu bem, meu bem eu-
- Mamãe!
Bruce arqueou as sobrancelhas, surpreso. Só não sabia se foi por saber que Dickie já estava chamando Vicki de mãe, ou por ver o menino sair correndo desesperado para longe dele. Ele adentrou na residência, visto que o menino havia deixado a porta aberta, e pôde perceber a televisão ligada num desenho animado, lhe dando um flashback de quando ele e Vicki, ainda na época do assassinato de John e Mary Grayson, levaram o menino para o enterro dos próprios pais. E pensar que ele só queria proteger o menino do mal do mundo que, de acordo com Clark, era ele mesmo.
- CAÍ FORA DA MINHA CASA, WAYNE!
Porém, Bruce foi cortado de seus pensamentos quando ouviu um grito de Vicki, e logo pôde vê-la surgindo do corredor, com uma feição mortal que poderia matá-lo só com o olhar. Antes que o homem retrucasse, a mulher o empurrou para fora do apartamento, fechando a porta e finalmente, ficando de frente ao homem que havia batido do filho dela. Bruce respirou fundo, buscando tentar dialogar com Vicki mas, foi impedido quando ela lhe deu um tapa ardido no rosto. Ele admitiu, mereceu aquilo.
- Seu covarde! Desgraçado! - Gritou a ruiva, olhando o homem que todo o ódio que estava consumindo seu corpo no momento - Como ousa aparecer aqui depois de tudo?!
- Vicki, por favor... - Começou Bruce, colocando a mão sob a bochecha ardida, buscando se defender da mulher - Me deixe explicar.
- Explicar?! Explicar o que, Wayne?! - Vicki o interrompeu - Bateu no nosso filho, Bruce! Nosso filho!
- Eu sei! Eu sei disso, Vicki! - Bruce a cortou, suspirando, e escondendo o rosto com as mãos. Aquela culpa o perseguiria pelo resto da vida. Ele se acalmou, e olhou a mulher, que parecia levemente disposta a ouvir a sua versão, agora. Vicki sabia que Bruce era deveras complicado, mas, que bem lá no fundo, ele amava o filho - Sei que batí no Richard mas, não foi minha intenção! Eu jamais bateria no nosso filho intencionalmente! Acontece que, eu tive uma recaída... - Bruce suspirou, se encostando na parede do corredor - Eu estava mal, e o Dickie acabou quebrando um quadro dos meus pais e, e eu acabei me alterando e o agredindo mas, me arrependi no mesmo segundo! O Dickie também é meu filho, Vicki, e eu o amo!
- Eu quero acreditar em você, mas, eu não consigo! - A Vale argumentou, abraçando os próprios braços e se virando contra o Wayne - O Dickie chegou em mim chorando, Bruce. Gritando que você tinha batido nele e minha única reação foi chorar! Chorar pelo meu filho ter passado por isso, por eu me sentir uma mãe horrível por não protegê-lo e por você - Ela se virou, o encarando com lágrimas - Por ter confiado meu filho em você, acreditando que você o amava de verdade!
- M-Mas, Vicki, eu amo o-
- NÃO AMA! NÃO O AMA! PORQUE SE O AMASSE, NÃO TERIA FEITO ELE DE VIGILANTE! - Vicki gritou, angustiada, podendo perceber a feição surpresa e chocada de Bruce ao ver que, mais uma vez, Vicki Vale havia descoberto seus segredos. Ela fungou, tentando manter a calma - Eu já sei de tudo, Bruce. Batman e Robin, você e o Dickie.... Eu já sei de tudo.
- F-Foi ele quem-
- Não, Bruce. Dickie não me contou nada, porque até nisso, o menino te ama! Não ousou a contar o segredo e manter a confiança com você! - A ruiva o cortou, olhando o homem com mais raiva - O quê tem na sua cabeça, Wayne?! Nosso filho é uma criança, e você o colocar para fazer esse tipo de coisa?!
- Vicki, você precisa entender - Bruce se aproximou da mulher, colocando as mãos em seus ombros. Sua boca estava trêmula ao ver que mais um segredo seu havia sido descoberto por Vicki Vale - O Dickie passou pelo mesmo que eu, e você que foi o meu manto que me salvou de ir à loucura!
- Não parece, Wayne! Pois 'pra mim você está mais louco do quê nunca! - Vicki tirou as mãos do homem de si, se afastando dele - Você começou a sair como Batman aos vinte, Bruce, por que o Dickie tem de ir agora?! Ele é só um menino, Bruce! O tanto que ele deve ter se machucado nessa droga, e você batendo palmas 'pra isso!
- Vicki, nosso filho é um prodígio. Ele é inteligente, perspicaz e-
- Que se dane! Que se dane, Bruce! - Vicki o interrompeu, apontando o dedo para o homem e gritando com ele. Aqueles diálogos do Wayne só lhe faziam sentir mais raiva dele - O Richard pode ser o menino mais inteligente do mundo, mas não tira o direito dele de ser uma criança! O meu filho é uma criança, e o que você está fazendo com ele é loucura! Se eu pudesse, eu impedia você de ver o menino! Impedia!
- E por que não faz isso?!
- Porque não posso! Não posso porque ele ainda te ama, Bruce! - Vicki se virou contra o homem, abraçando seu corpo, querendo que ele não visse suas lágrimas. Não contaria à Bruce que iria embora, não para ele se gabar de que teria seu menino em suas mãos - O Dickie te ama, ele sente falta do pai que o adotou e que cuidava dele! E querendo ou não, esse negócio de vigilante já está na cabeça dele... - Ela fungou, se virando para encarar o homem, com ela já em lágrimas doídas - Você destruiu o nosso filho, Bruce! Vá embora!
- Mas, Vicki-
- Vá embora, Bruce!
Vicki apontou para o fim do corredor, e Bruce, vendo como ela estava abalada e não queria irritá-la ao ponto dela espalhar seus segredos para Gotham, saiu da frente dela, vendo que seria mais difícil ver o filho do quê ele pensava. Vicki continuou apoiada na parede, chorando, enquanto procurava a maçaneta da porta com as mãos para entrar em casa. A cada minuto que se passava, se sentia uma mãe pior por não proteger seu menino das loucuras do Wayne. Ela conseguiu entrar em casa, fechando a porta, ainda em prantos, nem percebendo que seu menino estava ali parado, a encarando, assustado.
- Mamãe! - Vicki notou a presença do filho, que o encarava assustado. Ela começou a se recompor, não querendo assustar mais o seu menino - O que foi, mamãe? Ele te bateu, também?!
- Não, não, meu amor... - A ruiva se acalmou, se abaixando e ficando de frente a Dickie, tocando o rostinho que durante as noites, costumava estar mascarado - Vem aqui, meu amor.
Vicki puxou seu filho para perto de si, para que ela pudesse abraçá-lo. A ruiva se sentia destruída, tanto pelos ocorridos, tanto por mentiras, segredos, viagens. E no final, ela só queria proteger o seu pequeno. Ela interrompeu o abraço, puxando Dickie para sua frente e encarando os seus olhinhos, não querendo mais que ele lhe escondesse segredos.
- Richard, eu vou te perguntar uma coisa, e preciso que me diga a verdade! - A ruiva começou, segurando os ombros do menino, o vendo assentir com a cabeça - Richard, você é o Robin?
- E-Eu?! - O garotinho se fez de surpreso, fazendo uma leve cena dramática, querendo enganar a mãe. Colocou suas mãozinhas para trás, querendo manter seu segredo, mesmo que o olhar de Vicki já estivesse o assustando - E-Eu jamais seria isso, mamãe-
- Richard, eu já sei da verdade. Eu sei que você é o Robin, e inclusive, estou decepcionada que mentiu para mim - A mulher o cortou, séria, fazendo o garoto abaixar a cabeça, triste com o que ela havia dito. Vicki bufou, se levantando e pegando o menino no colo, indo com ele até o sofá, segurando o rostinho dele, para que ele a encarasse - Desde quando você é o Robin, Richard?
- Já tem uns meses... - Dickie respondeu, segurando seus dedinhos, sendo forçado a olhar a feição séria da mãe - Eu guardei segredo porque, os heróis não podem revelar suas identidades secretas.
- Identidades secretas, Richard... - Vicki soltou o rosto do garoto, para passar a mão em sua testa, buscando paciência - Você não é um herói, Richard, é uma criança!
- Eu sou um herói, sim! - O pequeno retrucou, ganhando a atenção da mulher - Eu ajudo as pessoas, Vicki! E ajudo o Batman!
- É, e foi nessas que você chegou aqui todo machucado, não foi? Vivia reclamando de dores! - Vicki o repreendeu, fazendo o filho se aquietar. Ela respirou fundou, passando a mão pelos cabelos, e voltar a olhar para seu menino - Dickie, sei que essa coisa toda deve ser importante 'pra você mas, isso está te machucando, querido. Você é muito jovem 'pra esse tipo de coisa, e seu pai deveria saber disso!
- Mas, eu só queria ajudar... - O moreninho fungou, abaixando a cabeça e começando a chorar, escondendo seu rosto com as mãos - Só queria ajudar as pessoas, 'pra elas não ficarem sem mami e sem tatai que nem eu e o Bruce ficamos... Mas, agora eu nem sei se o Bruce ainda gosta de mim.
- Dickie, essa história toda é muito confusa... - A Vale começou, ganhando a atenção do menino. Ela se encostou no sofá, cansada de tudo aquilo - Sei que mesmo que eu queira, não vou conseguir te impedir de ser Robin, tampouco de manter contato com o seu pai. Eu só quero o seu bem, meu filho, e quero que você aprenda o quê melhor para você! Você não precisa se submeter a esse tipo de coisa, se não quiser.
- O Alfred também diz isso.
- Isso é porque nós só queremos o seu bem - Vicki encerrou, olhando para o menino. Mesmo depois de tudo, esboçou um pequeno sorriso para ele, se aproximando do rostinho dele e encostando seus narizes, tirando um riso do pequeno enquanto ele segurava seus rostos - Prometa que quando eu for, vai começar a cuidar de si mesmo?
- Prometo, mamãe! - Ele sorriu para mãe, parecendo mais alegre - Você vai ficar orgulhosa de mim quando voltar!
- Eu já tenho muito orgulho de você, meu amor - Vicki sentiu o menininho pular em seu pescoço, a abraçando. Ela retribuiu o carinho, apertando seu garotinho e torcendo para que ele realmente levasse a sério o pedido dela, pois ela já não aguentava mais ver o seu menino sofrer tanto.
Já Dickie, ele apenas continuava com o rosto deitado sob o ombro da mãe, sentindo o cheiro dos cabelos dela. A amava muito e esperava ser capaz de realizar o pedido dela, mesmo que soubesse que quando voltasse a Mansão, as coisas não seriam mais as mesmas. Disso, ele tinha certeza.
°°°°
Mansão Wayne
A neve continuava a cair pela cidade, conforme o dia passava. Agora já estava mais tarde, e a neve havia deixado de ser apenas fofinha para também se tornar, um tanto quanto gélida demais.
Bruce havia acabado de retornar a Mansão, havia acabado de entrar em casa e fugindo do frio que estava lá fora. Caminhou pelos corredores, em busca de Alfred, mesmo que soubesse que o mordomo provavelmente não queria nem vê-lo pintado de ouro. Enquanto caminhava, podia prestar atenção na decoração natalina da casa, que Alfred e Dickie haviam dado duro para fazerem no dia anterior. O Wayne bufava, decepcionado consigo mesmo. Nunca na vida havia sentido que tinha falhado tanto, como sentia agora.
Não soube o quê era pior. O filho lhe vendo como um monstro, a mãe dele sabendo de seus segredos, o amante não querendo mais vê-lo ou o pai de criação decepcionado com ele. Bruce estava com tantos problemas pessoais que Batman mal se passava pela sua cabeça, mesmo que soubesse que a cidade deveria estar um caos sem ele. Ele só queria que aquilo tudo passasse, que as coisas voltassem como antes. Antes como, quando seus pais ainda estavam vivos.
Depois de atordoósos pensamentos, Bruce percebeu que havia chego a cozinha da Mansão, quando se deparou com Alfred de costas à ele, lavando louças na pia. Mesmo que tudo estivesse silencioso, o bilionário sabia que o mordomo havia notado sua presença. O Wayne se aproximou do mordomo, ficando alguns centímetros de distância dele, o percebendo parar de lavar os pratos. Viu Alfred se virar para encará-lo, com uma feição decepcionada, e antes que Bruce pudesse se defender, ele foi atingido por outro tapa, vindo do mordomo. O homem colocou a mão em sua bochecha, suspirando, nem um pouco surpreso.
- Tudo bem eu, mereci isto... - Bruce bufou, vendo Alfred abaixar a cabeça e voltar a lavar os pratos, sem querer encará-lo.
- Eu preparei um jantar para o senhor - O mordomo falou, fazendo Bruce notar um prato de comida em cima da bancada da cozinha.
Vendo que Alfred não queria conversa com ele, e que também estava morto de fome; Bruce caminhou até a bancada, pegando o prato e indo até a sala-de-jantar, percebendo a mesa totalmente vazia, tanto de comida, quanto de gente. Se sentou em seu lugar, percebendo Alfred caminhar e sentar ao seu lado. Bruce sentiu o mordomo segurar a sua mão, e a feição que antes estava cheia de raiva, agora parecia triste, desapontada.
- Não foi assim que eu te criei, senhor - Começou Alfred, em tom sério, fazendo Bruce abaixar a cabeça, como uma criança tomando uma bronca - Eu criei o senhor desde os oito anos, o ví crescer e se tornar um grande homem. E eu não passei noites em claro acolhendo o senhor quando criança, sendo seu maior álibi durante todos esses anos, para o senhor virar um homem que bate no próprio filho. Sinceramente, senhor, eu não o criei para isso!
- Eu sei, Alfred - Bruce segurou as mãos do mordomo, o olhando nos olhos, percebendo a decepção nos olhos do mais velho - Sei que não passou noites em claro por isso, não me ajudou a criar o Dickie por isso. Eu sei, Alfred, eu sei de tudo isso.
- Então por que, Patrão? Por que fez aquilo com o menino? - Alfred apertou mais as mãos do homem, querendo respostas dele - O pequeno te ama tanto, senhor.
- E eu também o amo, Alfred. Você mais do que qualquer um, sabe como o Dickie é importante para mim... - Bruce soltou as mãos do mordomo, se encostando na cadeira e relaxando o seu corpo, mesmo que estivesse mais nervoso do quê nunca - Mas, eu falhei. Falhei em cuidar do meu menino, e agora ele me teme. Alfred, eu jamais desejaria mal do meu filho, e você sabe disto.
- Eu sei, senhor. Sei que o senhor é um bom homem, mas, precisa começar a se controlar, senhor! - Pediu o mordomo, cheio daquilo - O senhor sabe que não concordo com essa história do pequeno Dickie ser seu ajudante, pois quando o senhor está encapuzado, acaba se tornando outra pessoa. E o menino ainda não entende isso, ele olha o Batman e vê o pai dele, mas o senhor, não o vê como filho... - Alfred abaixou a cabeça, buscando ar. Aquela situação ainda o machucava, e muito - E isso acabou, como o senhor pôde ver.
- Os treinamentos do Dickie não tiveram nada haver com a situação, Alfred - Bruce retrucou, ganhando a atenção do mordomo. Podia estar enojado de si mesmo mas, ainda não via os treinamentos do filho como uma coisa ruim - Você sabe que eu o agredí porque estava alterado com minhas recaídas, e sabe que estou profundamente arrependido. Mas, o Robin não teve nada haver com essa história.
- Patrão Bruce, por favor, o senhor-
- Eu estou cansado, Alfred. Eu, vou tomar um banho e me deitar. Com licença. - Bruce pediu licença, se levantando da cadeira e saindo da mesa, antes que Alfred lhe enchesse os ouvidos com protestos contra Robin.
Alfred bufou, colocando a mão sob a testa, se perguntando porque seu menino tinha de ser tão teimoso. Resolveu que a melhor coisa que faria naquele Natal seria lavar os pratos sujos e, mais tarde, guardar a decoração de Natal, visto que o pequeno Dickie não voltaria para casa tão cedo. O mordomo se sentia perdido, consigo mesmo, com seus meninos, com aquela história. Ele só queria poder respirar um pouco, sem que o mundo desabasse em seus pés.
°°°°
E a neve continuava a cair pela cidade de Gotham. Agora, no meio de tarde, estava ficando um pouco mais quente, um pouco mais agradável.
Vicki e Dickie estavam juntos no sofá, encolhidos debaixo das cobertas, enquanto assistiam aos filmes de Natal, na tentativa de tentarem se amenizarem daquele dia tão cheio. Depois de mais cedo, com a visita indesejada de Bruce e com a conversa que tiveram, mãe e filho pareciam mais calmos e tentavam curtir ao menos um pouco do Natal. Embora ambos ainda tivessem suas dúvidas internas. Vicki desejando que Dickie passasse a cuidar mais de si mesmo, e o menino, que as coisas continuassem bem depois que a mãe se mudasse.
Ding Dong!
- Mas, o quê... - Vicki olhou para a porta do apartamento, mordendo o lábio inferior ao imaginar quem poderia ser. Sentiu Dickie se abraçar a sua cintura, e olhou para o menino, que parecia assustado - Fique aqui, Dickie. Mamãe cuida disso.
- 'Tá... - Dickie pegou a coberta, escondendo seu rosto com medo do que pudesse aparecer pela porta. Mas, ele abriu um enorme sorriso e pulou do sofá quando percebeu quem havia vindo visitá-lo - Selina!
Dickie correu até a porta, abraçando as pernas da madrasta que acariciou seus cabelos, enquanto Vicki apenas estranhou a visita da gatuna em sua casa. Mas, aquele Natal não haveria mais como ser normal, mesmo.
O dia também não estava muito bem para Selina. A gatuna havia passado a noite com Alfred, ouvindo o velho mordomo chorar até dormir, dolorido por ter o filho preso e o neto sumido ao mesmo tempo. Selina também se admitia estar chocada com a situação. Sabia que Bruce era um bom homem, mas ficou decepcionada com seu namorado quando soube das notícias. Queria vê-lo, entender a situação e talvez surrá-lo até a morte mas, antes ela queria ver o seu enteado, e conversar com a mãe dele.
- Olá, gatinho - A morena sorriu para o mais novo, um pouco aliviada de ver que ele estava bem - Feliz Natal, meu amor.
- Feliz Natal! - Desejou o menininho, se agarrando na madrasta. Sabia que ela também poderia protegê-lo dos males do mundo.
- Olha só, te trouxe um presente - A socialite tirou de trás de si um gatinho de pelúcia, entregando ao menino que abriu um enorme sorriso. Ela olhou a Vicki, que percebeu que ela queria desviar a atenção do menino.
- Um gatinho! - Dickie abraçou a pelúcia, olhando para os olhos verdes da madrasta - 'Brigada, Selina.
- De nada, meu amor. Agora, Dickie, por que não vai brincar com seu novo amiguinho, hum? Eu, preciso trocar uma palavra com sua mãe - A morena olhou para a ruiva, com uma feição séria, mostrando que suas reais intenções ali não eram apenas presentear Richard.
- 'Tá bom. Eu vou apresentar ele 'pra Zitka - Dickie olhou para as duas mulheres, percebendo suas trocas de olhares, e saiu com seu novo amiguinho até seu quarto, deixando a mãe a madrasta a sós.
Selina e Vicki trocaram olhares, antes da morena tomar iniciativa e, abraçar a ruiva. A Vale estranhou por um momento mas, estava tão destruída por dentro e abalada que apenas retribuiu o abraço. Poderia ter suas diferenças com a Kyle mas, ela também era madrasta de seu filho, e sabia que ela poderia entendê-la naquela situação.
- Eu sinto muito, Vicki... - Selina desfez o abraço, olhando para a ruiva, que parecia abalada. Queria dar o seu apoio à ela - Sinto muito pelo o quê houve. O Dickie não merece isso.
- Eu sei, ele não merece nada disto que está acontecendo... - Vicki concordou, dando uma fungada. Aquela situação toda estava a destruindo por completa - Como soube do ocorrido?
- Eu fui convidada para a ceia na Mansão, mas quando cheguei lá só encontrei o Alfred, e ele me contou o ocorrido... - Selina respondeu, suspirando, e guardando os óculos que usava dentro da bolsinha que havia trago - Ele estava tão abalado, eu jamais pensei que o viria assim.
- O Alfred virou como um avô para o Dickie, e foi ele quem criou o Bruce. Imagino que ele foi quem mais sofreu nisso tudo. - Vicki arrumou uma mecha de seu cabelo bagunçado, indo se sentar no sofá para desligar a televisão. Se virou para Selina, querendo saber as reaus intenções da mulher ali - Mas, sei que não veio aqui falar do Alfred, Selina. O quê quer?
- Você tem razão, Vicki. Eu vim aqui falar de outra coisa - Selina se aproximou para sentar ao lado da ruiva, mesmo que não tivesse sido convidada. Olhou para ela, querendo soar amigável - Como vão fazer com o garoto? Sei que tanto você quanto o próprio Dickie não querem ficar perto do Bruce mas, ele ainda é o pai do garoto.
- Eu ainda não sei, ainda mais agora... - Vicki abaixou a cabeça, bufando, despertando curiosidade na morena. Ela olhou para Selina, que mesmo que não fosse a pessoa com quem tinha mais afinidade, poderia lhe pedir uma espécie de "socorro" - Eu recebi uma proposta de emprego, Selina. Vou 'pra França daqui há duas semanas, morar lá um tempo. Mas, não vou poder levar o Dickie comigo, ele vai ter que ficar aqui.
- Ai, meu Deus... - Selina soltou, segurando as próprias mãos, apreensiva com a notícia - O Dickie sabe?
- Sim, eu contei para ele hoje de manhã. Ele ficou assustado de ficar sozinho com o pai mas, eu prometi que iria cuidar dele. Não sei como - Ela escondeu o rosto com as mãos, cansada - Não sei como vou cuidar dele estando do outro lado do mundo, e só de pensar que ele ficar sozinho com o Bruce...
- Ele não vai ficar sozinho com o Bruce. Eu e Alfred estaremos lá por ele, o tempo todo - Selina interrompeu a mulher, segurando em suas mãos, ganhando a sua atenção - Olha, Vicki, sei que não vamos muito uma com a cara da outra mas, ambas queremos o melhor para o Dickie. E eu o amo, também. Ele é meu enteado, e também quero protegê-lo dessa loucura toda. E te garanto que, enquanto você estiver fora, Alfred e eu garantiremos o bem dele. Coisas como essa nunca mais irão acontecer com o Dickie, isso eu te prometo.
- V-Você, faria isso por mim?
- Por você eu não sei, mas pelo Dickie com toda a certeza - Ela sorriu, mantendo a pose - Estamos aqui para cuidar do menino, mesmo quando você não estiver mais por aqui. Eu e Alfred jamais permitiremos que algo aconteça a ele.
- É bom saber disso... - Vicki suspirou, olhando para Selina. Ficava feliz de saber de que seu filho era tão amado por aí. Segurou as mãos da moça, lhe dando um sorriso - Obrigada, Selina. Fico feliz de saber que meu filho estará sendo bem cuidado enquanto eu não estiver por aqui. Mesmo que eu ainda fique receosa com Bruce perto dele.
- O quê aconteceu foi horrível, eu não posso negar. Mas, o Bruce tem um bom coração, e sei que ele deve estar arrependido... Não anula o que ele fez, jamais. Mas, eu acredito que as coisas ainda vão melhorar. Enquanto isso, garantiremos o bem do gatinho - A Kyle disse, sorrindo para a moça. Surpreendeu-se ao sentir um abraço vindo desta vez de Vicki, que pôde soltar um suspiro aliviado.
- Muito obrigada, de verdade - A Vale soltou, agradecida, sentindo a socialite retribuir o abraço. Embora abalada, estava começando a se sentir mais confortável em deixar a cidade.
- Abraço em família! Também quero! - Logo, as duas mulheres sentiram um pequeno corpo se juntar ao abraço, e se depararam com o pequeno Dickie e seus bichinhos de pelúcia no meio delas. Riram com o garotinho, o abraçando e o protegendo daquele mundo cruel. Mesmo que soubessem as coisas nem sempre, sairiam como elas desejariam.
°°°°
Mansão Wayne
A noite já havia chego na cidade, indicando o quase fim do Natal. Agora, a neve estava mais fria e mais gélida, voltando a dar um ar de tristeza à cidade.
Bruce estava em seu quarto, deitado em sua cama, dando uma pequena mexida em seu telefone. Havia tomado um banho e dormido um pouco, tentando manter a sanidade, enquanto o mordomo Alfred mal trocou palavras com ele. Bruce sabia que havia destruído muitas coisas naquele seu ato, sua confiança com Alfred, a relação com o filho, mas o qual ele dava ênfase no momento era o contato de seu, amante, que não queria mais vê-lo.
Claro, Bruce estava decepcionado consigo mesmo por muitas coisas, mas para ele, a pior sensação era sem dúvidas se sentir machucado por causa de Clark. Ouvir do homem que ele não queria mais vê-lo, e que se afastar dele foi a melhor coisa que ele havia feito havia machucado seu pobre coração de bilionário. Ele ainda tinha Selina, mas, não era bem ela que estava rondando os pensamentos de Bruce. Ele sentia falta de Clark, não só no desejo, mas também de sua doce presença em sua vida. Sua vida, que agora estava tão amarga.
- Patrão Bruce - Bruce foi cortado de seus pensamentos quando ouviu Alfred o chamar. Sentou-se na cama, percebendo o mordomo parado na porta, sem olhá-lo direito - O senhor tem visita, e ela não aceitará um 'não' como resposta, se me permite dizer.
- Deixe entrar, se é assim... - Bruce soltou, vendo Alfred assentir com a cabeça e sair de sua visão, ainda parecendo decepcionado. Logo, Bruce viu outra pessoa adentrar em seu quarto, outra que ele também sabia que estaria decepcionada com ele - Selina.
O homem arqueou as sobrancelhas, se levantando da cama e caminhando até a moça, que permanecia com seu olhar sério para o homem. Antes que pudesse perguntar algo, Bruce foi atingindo - mais uma vez - por um tapa no rosto, vindo da mulher, que continuava com sua postura. Ele a olhou, percebendo o olhar frio dela, de quem poderia esganá-lo ali mesmo.
- Já é o terceiro que levo hoje. - Murmurou o Wayne, passando a mão pela bochecha, onde havia levado o tapa.
- E merece muito mais - Selina empinou o nariz, adentrando no quarto do bilionário, indo se sentar na cama dele enquanto tirava seus sapatos. O olhou, percebendo seu olhar confuso - Pode entrar, Bruce, o quarto é seu. Se está pensando que vim aqui brigar com você ou te dar um sermão, está enganado - Ela avisou, se deitando na cama, cansada.
- Então, o quê veio fazer aqui? - Perguntou o Wayne, caminhando até a cama e se sentando ao lado da morena, que não o encarava.
- Eu não sei direito.... - Selina suspirou, se forçando a encarar o bilionário - Eu vim aqui ontem à noite para a ceia, e passei a madrugada aqui, ouvindo o Alfred chorando. Depois, eu pensei em ir te ver, mas logo me lembrei do gatinho, e fui até a casa da Vicki visitá-lo.
- E como ele está, o Dickie? - Perguntou Bruce, parecendo preocupado, ganhando um olhar confuso da Kyle - O Richard é meu filho, Selina, e eu estou preocupado com ele!
- 'Tá, tudo bem. Se acalme... - Selina se sentou na cama, arrumando os cabelos e olhando para Bruce - O gatinho está bem, na medida do possível. Ele ainda está muito assustado com tudo, ainda mais agora, que não terá a mãe por perto.
- Como assim, não a terá por perto?! - Bruce perguntou, assustado. E Selina arqueou as sobrancelhas ao perceber que havia falado demais - Do quê está falando, Selina?
- Bem, já que eu abri a boca... - Ela suspirou, se virando para de frente a Bruce - A Vicki conseguiu um emprego, mas é na França, e o Dickie não poderá ir com ela. Ela vai daqui há duas semanas, e ele está morrendo de medo de voltar para cá quando ela for embora.
- Céus, a Vicki não me contou nadam.. - Bruce bufou, cansado daquilo tudo, escondendo seu rosto - Se bem que, ela mal quis me ouvir, hoje. - Ele se virou para Selina, a encarando - Ela também descobriu da identidade secreta do Richard.
- Deve ser por isso que ela estava tão abatida. Céus, Bruce! - Selina se aproximou do namorado, segurando seu rosto, querendo que ele despertasse daquele transe - Você precisa se controlar! Tem que ficar bem 'pra esse garoto voltar para cá! Sem a mãe, ele vai precisar do pai dele, do pai de verdade!
- Eu sei, eu sei, Seli. - O Wayne segurou as mãos da mulher, querendo seu apoio - Eu amo meu filho, e estou disposto a acolhê-lo quando a Vicki for. Mas, sei que ele precisa de tempo, de tempo sem mim e mais com ela - Ele se virou, para encarar a vista na janela - É melhor que ele fique lá esse tempo, para que as coisas voltem a se amenizar por aqui.
- É uma boa ideia, Brucie - Selina sorriu, puxando o rosto do Wayne para que ele o encarasse - Sei que é um bom homem, Wayne. E não quero me arrepender de te dar esse voto de confiança.
- E você não vai, querida. Eu prometo.
Bruce se aproximou da morena, lhe roubando um beijo antes de puxá-la para se deitar com ele na cama com ele, ambos querendo um pouco de paz. Bruce apenas observava, a senhorita Kyle deitada em seu peito, abraçada a ele e lhe dando um voto de confiança em meio à tudo o quê estava acontecendo. Selina era uma boa pessoa, uma boa pessoa a ele, e Bruce estava começando a perceber que era ela quem merecia a sua atenção. E não, os demais.
Mas, o Wayne não queria pensar nisso - ou nele -, agora. Queria apenas se deitar e dormir um pouco na esperança que as coisas se amenizassem, que o filho voltasse a gostar dele e que aquela culpa maldita que sentia passasse, mesmo que ele soubesse que não passaria. Ele só queria um pouco de calma naquele feliz feliz Natal.
°°°°
Metrópolis
E por um momento, a neve finalmente parou de cair pelas cidades. Mostrando que já era meia-noite, que o Natal já havia acabado, e que toda sua magia já havia ido embora.
Clark estava em um bar da cidade, fazendo algo que não costumava, mas que viu necessidade naquele maldito dia. Estava se acabando de beber. Havia chego no bar há algumas horas e só estava enchendo a cara desde então, querendo esquecer as coisas. Jamais pensou que ele, Clark Kent de Smallville, veria necessidade de beber em plena noite de Natal. Mas, as coisas não andavam fáceis desde que ele se mudou para a cidade grande. Nem um pouco.
Não sabia pelo o quê estava mais abalado. Se era por ter descoberto a agressão contra seu afilhado, ter descoberto que foi o próprio pai que o agrediu, de ter dito a Bruce que não queria mais vê-lo. Eram muitas coisas ao super-homem, coisas que às vezes ele não conseguia aguentar totalmente. Não conseguia mais saber o quê sentia, por isso, só queria se afogar em bebidas e ver se esquecia as coisas um pouco. Pois amanhã era dia útil para o Superman.
- Eu não acredito - Clark saiu de transe quando ouviu uma voz familiar. Se virou, meio zonzo, e pôde ver Lois caminhando até ele. Poderia ser a bebida, mas ela parecia bem mais bonita naquela noite - Smallville, você no bar?!
- Pois é, Lois. As coisas não estão fáceis para ninguém... - Clark soluçou, percebendo a mulher vir se sentar ao seu lado - Eu não sou de beber, mas, desta vez eu não me aguentei. Eu ainda estou, muito abalado com o quê houve com meu afilhado.
- Ah, céus. O pequeno Richard... - Lois bufou, ganhando a atenção do colega - Eu fui na casa da Vicki, ontem. Ela está tão abalada, e o menino tão assustado... Você tinha de ver, Smallville, o tamanho da marca de mão no rosto do pequeno.
- Não, eu nem quero. Seria capaz de eu, acabar me descontrolando... - Clark passou a mão pelos cabelos, sentindo que logo teria uma forte de dor de cabeça - Eu estou decepcionado com o Bruce, Lois. O conheço há anos e saber que ele fez isso com o filho.
- O pior é que o ricaço se safou. Voltou 'pra casa como se nada tivesse acontecido... - Lois cruzou os braços, indignada. Mas, logo ela se inclinou para olhar melhor para Clark, percebendo o quão abalado ele estava - Que tal falarmos de outra coisa, Smallville? É Natal, querendo ou não, não é?
- É, isso não podemos negar... - Clark soluçou novamente, se virando para encarar Lois. Ele bufou, querendo que seu primeiro Natal na cidade fosse mais agradável - Sinto saudades dos Natais em Smallville. Eu e meus pais estaríamos juntos, agora, sentados debaixo da árvore.
- Ah, eu não sinto falta dos Natais da minha família - A Lane começou, ganhando a atenção do outro - Meu pai nunca sorria para as fotos, e eu e minha irmã vivíamos brigando pelos presentes. Sinceramente eu, prefiro estar aqui no bar com você, Clark.
Lois - num movimento super calculado -, esticou sua mão, tocando a de Clark. Deu um sorriso tímido para o amigo quando ele o encarou, mas se admitiu surpresa quando o Kent roubou um beijo dela num único segundo. Ela arregalou os olhos, chocada com o beijo porém, o retribuindo. Sentiu Clark se afastar dela, parecendo assustado com o próprio ato, enquanto ela ria da situação. Não pensava que o amigo pudesse ter aquele lado.
- C-Céus, Lois! E-Eu sinto muito, e-eu não queria- - Clark tentou se desculpar, mas foi interrompido quando Lois lhe deu um selinho, surpreendendo o homem, que a encarou.
- Ah, você queria sim. E eu também - A mulher sorriu, segurando o rosto do homem, o puxando para mais um beijo, que desta vez foi correspondido por ambos.Clark saiu do inferno ao céu quando sentiu os lábios da moça se colarem aos seus, realizando um desejo de meses atrás. Amava Lois, amava sua força, sua impulsividade, e como ela não era agressiva. Sabia da boa pessoa que ela era e acreditava que agora, deveria concentrar seus amores nela, mesmo que seu coração ainda batesse por Bruce. O Kent não queria mais proximidade com ele, e Lois poderia ser o seu amor, agora. Seu único amor.
E conforme a neve caía, os dois se esquentavam com o beijo. Mesmo com um dia cheio, Clark e Lois poderiam dizer que estavam tendo um feliz feliz Natal.
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