- O único som na sala de poções era de uma mão esquerda furiosa escrevendo com afinco em seu próprio livro de anotações. A luz das velas incidia apenas de um lado do rosto da morena, o que a fazia ganhar um ar sombrio. Sua pena parecia mexer-se sozinha nos pequenos intervalos que dava ao olhar para outro lugar ao invés do livro. Sua mente murmurava insistentemente para se controlar, e manter-se calma, mas até mesmo seu cabelo denunciava a irritação.
Severo havia percebido a mudança gradualmente, o cabelo de Maeve sempre tão liso havia começado a se enroscar criando cachos como se fossem pequenas cobras vivas se mexendo. Os olhos verdes haviam escurecido ficando em um tom profundo que mais parecia um abismo. Entretanto por mais irritada que estivesse não o havia dito nada em afronta quando ele pediu para refazer outras poções que tinham sido usadas.
Ela levantou-se pela quarta vez e enquanto mexia a poção levou a mão as costas alcançando o lugar onde ficaria a marca. Ardia irritantemente.
Assim como quase todas as noites, alguém bateu na porta. E ao Snape responder para que entrasse, uma figura amarela apareceu chamativa como sempre.
- O que traz você aqui a esta hora, professora Von Tassel? – O moreno fingiu ainda estar concentrado em suas poções com sua postura autoritária e centrada.
- Estava conversando com Dumbledore ainda agora, e ele me disse que você provavelmente teria um pouco de poção do sono para me dar. Ando preocupada demais nesses últimos dias, não se sabe a que horas vamos ser atacados de novo, e isso me dá dos nervos. – Aquela voz adocicada e melosa, tinha mais do que a finalidade de pedir alguma coisa.
Ela havia entrado enquanto falava. Estava com mais um de seus inúmeros robes amarelos, e seu cabelo que vivia sempre solto estava preso revelando um rosto fino que forçava a simpatia.
Snape observou bem aquele comportamento um tanto inusitado. Havia um olhar curioso dela que o olhava de cima abaixo, como se analisando-o. Em sua boca apresentou-se um sorriso malicioso, ao notar que o moreno havia percebido o que ela estava fazendo.
Ele por sua vez fechou a cara e foi até o armário de poções buscar a bendita. Melania caminhou observando tudo nos mínimos detalhes, inclusive a cara de quem não queria conversas de Maeve.
- Maeve, onde está sua expressão agradável?
- Não sei. – Retrucou seca, sem se desviar da poção.
- Soube que andou arrumando confusões, seu pai não irá gostar nada disso quando for informado. Além de outras coisas. – Ela parecia insinuar saber de algo.
- No dia que eu me preocupar com isso, eu lhe aviso. – Maeve voltou a se sentar e escrever ruidosamente no livro. Sua caligrafia que já era rebuscada, se rebuscava ainda mais quando estava irritada ficando um pouco mais complicada de entender.
- Aqui está.
- Agradeço. – Von Tassel pegou o frasco das mãos de Snape de um modo bem diferente do normal. Quase como se fosse uma provocação.
Saiu sorrindo até fechar a porta. Maeve levantou-se novamente para olhar a poção pois já estava pronta. Foi apenas Melania sair e a marca de Maeve parou de lhe perturbar. Geralmente a morena sabia quando tinha alguém que caçava dragões por perto exatamente pela marca, ela ardia e formigava como se a avisasse para prestar atenção.
Severo trancou a porta com um de seus feitiços, e andou lentamente até ficar perto das costas de Maeve. Não era necessário perguntar a ela o que tinha acontecido no clube de duelos. Sua legilimência tinha sido lapidada e bem treinada, apesar de quase nunca usar sem que fosse realmente necessário para ele. Tinha visto aquele olhar furioso e mesmo não estando perto para ouvir havia captado mentalmente o que havia se passado e o que significaria.
- Vai continuar irritada, Maeve?
- Vou.
- Exatamente pelo quê? – Ele ficou a poucos centímetros dela como um morcego alto e imponente.
- Porque? Porque Lockhart merecia levar uma surra, e se possível que ninguém o reconhecesse mais depois. – Murmurou baixo, mas ríspida o suficiente para parecer furiosa. – Um beijo, Tsc. Depois quando amanhece sem dentes não sabe o que foi.
- Onde está a sua máscara de impassível, senhorita Lesley. – Alfinetou.
Ela apenas respirou fundo.
- Não me irrite, senhor Severo Snape. – Virou-se.
Inesperadamente Snape a agarrou pela cintura com os braços e a colocou sentada em cima da bancada, não sem protestos. Ele segurou os braços dela com força a deixando indefesa.
- O que acha que vai fazer? Jogar em mim algum de seus feitiços desconhecidos? Não vai funcionar. – Havia um sorrisinho sádico em sua boca.
- Severo o que está tentando...
Maeve tentou responder, mas da mesma forma como já havia feito antes com ele, Snape a beijou. Ela retribuiu na mesma moeda. A briga verbal se desenrolava em forma de um beijo violento e intenso. Ele soltou os braços dela enterrando suas mãos longas em seu cabelo e por dentro do seu uniforme bem em cima da marca que ele sentia estar mais quente que o resto da pele. Maeve se arrepiou com o toque frio em suas costas, mas apenas apoiou as mãos na cintura do moreno dando-se por vencida, sabia que rejeitar aquele autoritarismo possessivo não daria em nada. Ela mesma não queria resistir.
- Eu ainda não terminei... – Maeve respirava fundo quando o beijo terminou.
- Calada. Já chega por hoje. Lockhart, em breve terá o que merece.
✥✥✥
- Uma aglomeração estranha acontecia no salão principal. Ainda era cedo demais para que os professores já tivessem chegado aos seus lugares na mesa.
- Eu sei que foi você, Luna. Como pode? – O garoto alto de cabelos espetados e castanhos parecia furioso. Sua pele estava completamente vermelha e havia alguns machucados provavelmente por ter coçado além da conta.
- Não fui eu Patrick, ficou louco? – Luna parecia assustada.
- Você sabe muito bem que foi você! Se não quisesse nada era só falar não aprontar comigo!
- Não fui eu seu idiota, quantas vezes eu tenho que dizer?
- Você vai me pagar!
- Sugiro não tocar nem um dos seus dedos imundos nela. Ou vai se dar mal, corvinho.
Draco passou pelos que estavam perto da mesa da Corvinal. A maioria se encolheu ou se afastou, mas Patrick continuou ali parado a frente de Luna com cara de quem explodiria qualquer um. O loiro puxou Luna para suas costas e o encarou.
- O que você vai fazer comensalzinho de merda? – Provocou.
- Marshall, não seja burro, ou vou acabar dizendo que você caiu na casa errada. – Draco deu um daqueles seus sorrisos debochados. – Não mexa com ela ou eu vou acabar com a sua raça mais rápido do que você consegue perceber com esse seu cérebro minúsculo de galinha.
- Ora, seu ridículo. Acha mesmo que tenho medo de você, Malfoy? – Marshall havia empunhado sua varinha.
Draco empunhou a sua também, estava bem preparado.
- Nem eu tenho medo de você, pardalzinho.
- Não faça isso, Draco. – Luna sussurrou pegando a mão dele. – Não vale a pena.
- Não vou deixar qualquer um importunar você e sair ileso. – Apertou a mão dela de volta o que a deixou corada.
Naquele momento Luna parecia iluminar as suas dúvidas. Draco, como Maeve disse, gostava mesmo dela.
- Seria de suma importância que vocês não procurassem briga. E principalmente você, Draco, que é da minha casa. – Snape apareceu imponente como sempre com sua capa esvoaçando. Vários alunos praticamente correram para longe. - Se tem algo a reportar contra a senhorita Lovegood, procure o diretor da Corvinal senhor Marshall, não fique fazendo arruaça em pleno início de manhã.
- Tenha certeza que vou reclamar ao professor Flitwick. – O garoto não falou ríspido mas pareceu petulante o bastante para irritar o professor de poções.
- Mais alguém gostaria de fazer alguma reclamação? – Snape perguntou com seu tom normalmente ríspido e pausado.
O grupo se desfez rapidamente.
- Malfoy. Pare de tentar arranjar confusão, está parecendo a sua melhor amiga. – Snape mesmo sem perceber havia suavizado ao fazer referência a Maeve.
- Tudo bem, padrinho. – Draco sorriu debochado.
Snape balançou a cabeça irritado e foi para a mesa dos professores.
- Obrigada, Draco. – Luna sorriu com seu jeito avoado.
- Não precisa. – O loiro piscou.
Acima deles dois corvos de cores opostas esperavam uma pessoa para entregar as correspondências daquele dia.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.