- Eu não vou dizer mais nada a você!
- Acho que vai sim, Cassandra.
- E por que eu diria? – A mulher revirava-se na cadeira tentando se mover.
- Por que eu não tenho mais tanta paciência assim. – A morena sentada a sua frente estava à vontade apesar da cara de quem não estava para brincadeiras. – Se você colaborar comigo não vai ter o mesmo fim do seu amiguinho. Mas caso contrário, eu sinto muito.
Storm parou de se mexer na cadeira ao ouvir a ameaça. Tinha visto ela jogar um Avada sem remorso algum no próprio primo. Ela não teria também a mesma sorte se continuasse se negando. Sabia que se por acaso escapasse estava frita, e se sabia que se continuasse relutante em ajuda-la pior ainda.
- O que quer tanto saber? – Cuspiu a pergunta.
- Qual é o seu verdadeiro objetivo desde o início? Qual a razão para ter se negado a pegar os comensais que mataram minha mãe e meu avô? Voldemort? Ou tem algo por trás disso que não está ligado a ele?
- Eu não trabalho para Voldemort, nem sou uma comensal se é o que está pensando. Mas trabalho para um de seus seguidores mais fiéis. – Havia sarcasmo na voz dela. Tentou novamente algum feitiço para abrir os cadeados que prendiam as correntes mais foi em vão.
- Meu pai, eu suponho.
- Exatamente. – Storm sorriu. – Ele queria não apenas a fortuna da sua família como ter um lugar especial ao lado do Lord das Trevas. E nada mais interessante para ele do que dar a chance de Voldemort ser eterno e o fazer um dos principais comensais a seu favor. Seu pai era discreto quanto a isso, e ainda é. Encontrava-se apenas com o Lord, temia ser descoberto antes que tudo o que planejasse se concluísse.
Maeve sorriu amarga.
- Eu já esperava por isso. Entretanto.... Eu tenho a leve impressão de que você vem da família Tassel. Sempre foi muito amiguinha da senhorita Katrina, da nossa outra amiguinha a senhorita Tetra. Amiguinha da senhorita Dolores Umbridge. Tudo da mesma laia, não é? – Debochou com desprezo.
- Sim. Eu sou uma prima distante.
- Bom saber. – Maeve se levantou e começou a caminhar de lá para cá. - Então quer dizer que foi você que repassou as coordenadas de todos os lugares onde eu ficava para Katrina, que repassava para Tetra que contava ao meu pai e logo estava nas mãos dos comensais de Voldemort?
- Sim.
A expressão de asco no rosto da morena era perceptível.
- Você não vale nada Cassandra. – Maeve andou até a frente dele a olhando de cima. - Me explica uma coisa, como é viver sabendo que estragou a minha vida de uma forma terrível e mesmo assim continuar rindo como se nada tivesse acontecido? É bom, não é? É satisfatório. Conseguir subir na vida utilizando a desgraça dos outros.
- Você só é mais uma garota mimada.
Maeve riu cínica.
- É, eu sou. E sabe o que você é? Sabe mesmo?
- Eu sou Cassandra Storm. Uma das melhores inspetoras do Ministério, quase o braço direito do Ministro atual. – A elevação do próprio ego fez ela esquecer que ninguém sabia que o Ministro havia sido mudado.
- Até exaltando o próprio ego você se entrega, não é mesmo? Repassarei isso a Dumbledore. Matando dois coelhos em uma cajadada só. Você é boa em abrir a boca.
- No fundo você é pior do que tudo. Eu sei quantas pessoas você teve que matar para conseguir escapar da morte, sei quantas pessoas você enganou, sei o quanto o jogo de sobrevivência que passou te transformou em alguém podre. As marcas estão ai dentro não é mesmo, Maeve? – Storm tentou virar o jogo.
- Sim. Eu sou podre. Mas ao contrário de você, eu sou apenas um produto do que você e os outros me forçaram a ser a partir de seus planos nojentos. Eu fui obrigada ao contrário de você e sua família que sempre viveu nas mordomias, sempre querendo mais e mais poder como se já não bastasse. Posso ser uma laranja podre, mas eu sei admitir tudo o que fiz. Ao contrário de certos covardes, que só admitem as coisas sobre pressão, quando estão de cara com a morte, não é mesmo?
- Você não vai me matar.
- Não, não sujo mais minhas mãos com o que pode se destruir sozinho. Quando eu sair daqui Dumbledore tomara todas as providências para que todos saibam que foi você a soltar para o mundo que o Ministro foi retirado e substituído por outro.
- Você não vai fazer isso! – Gritou.
- Vai fazer o que? Careta? – Zombou. – Vamos ver se valeu a pena ter feito tudo isso. Boa noite, e até mais.
Maeve deu meia volta e fez as velas se apagarem deixando a outra aos berros no escuro. Maddie rastejou lentamente passando pelos pés da Dona e se enroscando nas pernas amarradas da outra. Subiu até certo ponto, se alongando, crescendo, esticando-se. Quando Cassandra viu os pequenos olhinhos brilhando em frente ao seu rosto percebeu que já era tarde demais para pedir por clemência. Maddie avançou em seus olhos os furando. O veneno se espalhou rapidamente pelos seus olhos a cegando. A cobra desceu novamente para o chão voltando para perto de Maeve que a colocou em seus ombros, enquanto ela se enroscava em seu pescoço.
- Espero que aproveite o mundo no escuro. Vai desejar ver e não vai poder Cassandra. E isso vai ser o seu castigo. Aproveite, a morte é doce demais para o que te aguarda.
Storm continuou gritando, mas ninguém a ouviria até que fosse chegada a hora dela ser levada a julgamento. Maeve respirou fundo e continuou andando fazendo o caminho em direção a sala de Dumbledore. Sabia que seu pai a odiava, e também desconfiava que tudo aquilo era parte de um dos planos dele, mas nunca esperaria confirmar daquele modo. Desejou no fundo do seu coração que ele não aparecesse ali com sua mulher em seu aniversário. Ela não sabia se conseguiria segurar a vontade de mata-los por mais tempo, e se detestava por alimentar aquele ódio dentro de si. Queria ser como Inima lhe ensinara, alguém que conseguiria perdoar, e não guardar rancor. Mas aquilo era uma realidade muito diferente se fosse partir do ponto do qual ela viveu a vida inteira. Não havia chances de perdão quando não foi perdoada por apenas ser quem era.
✥✥✥
- Após falar com Dumbledore, Maeve ignorou suas aulas daquele dia, e voltou para as masmorras o mais rápido que pôde. Segurou-se até chegar aos aposentos de Snape e fechar a porta. Deixou Maddie em sua caixa que ficou quieta, como se pressentindo o que a dona estava sentindo. Maeve deitou-se no sofá e encolhendo-se deixou as lágrimas descerem silenciosas pelo seu rosto. Se pegou relembrando sua trajetória até ali, todas as suas percas, tudo o que havia sido feito contra ela sem que ela ao menos pensasse em saber o porquê real. Aquilo doía, mais do que todas as vezes que se machucou fisicamente. Era algo que a machucava desde que percebeu que sua vida se tornaria um inferno depois que sua mãe morreu. Passara a vida inteira tentando ser o que queria, alguém livre e que pudesse ter apenas o seu lado bom agindo a maior parte do tempo, mas fora roubada de tudo aquilo que mais queria e de todos que amaram ela verdadeiramente. Cassandra estava certa ao dizer que era podre. Muitas vezes se pegava tendo um ódio imenso de si própria, e acabava percebendo que não sabia de onde vinha ou de onde nascia, mas sabia que se detestava por tudo o que havia feito, mesmo não tendo total culpa.
Ela deixou toda aquela mágoa consumir ela por um bom tempo. Havia segurado as lágrimas de uma vida inteira, e uma hora era necessário joga-las para fora, ou como sempre a avisavam, sufocaria. Voldemort não era nada diante tudo o que já havia passado por sua fome de eternidade. Seus demônios internos conseguiam ser piores do que a ideia de que se falhasse morreria em prol do próprio mal. Fechou os olhos e continuou ali, deixando sua mente vagar até que acabou se prendendo ao chiar de Maddie que parecia não estar gostando de vê-la daquele jeito.
Não percebeu quando Snape havia entrado com os braços cheios de pergaminhos para corrigir das primeiras turmas. Nem quando se aproximou sem entender o que estava acontecendo com ela. Ele a fez se sentar puxando-a para o círculo dos seus braços, tirando o cabelo que havia grudado do rosto dela e a apertando contra si. Não perguntou nada de imediato. Esperou pacientemente que ela parasse de soluçar. Sabia que estava se atrasando para as próximas aulas mas ignorou. Aos poucos quando viu que ela estava mais calma a afastou gentilmente.
- O que foi que aconteceu? Fizeram alguma coisa com você? – Era notável aquela rara preocupação em sua voz.
- Só me disseram algumas verdades. – Ele baixou o olhar tentando controlar as lágrimas que voltavam a querer rolar.
- Quem fez isso?
Maeve respirou fundo.
- Eu não... sei explicar apenas uma parte.... Se, eu te mostrar você não vai me olhar torto?
- Que tolice, Maeve. Mostre-me.
Ela levou as mãos ao rosto dele e mostrou toda a conversa que teve com Cassandra, passando por algumas memórias suas do passado que explicavam exatamente o por que ela havia lhe dito aquilo tudo. Lembranças dolorosas que a faziam querer chorar novamente, mas que ela segurou. Quando ela parou de mostrar aquelas memórias e retirou as mãos do seu rosto, teve um medo irracional e súbito. Talvez ele preferisse se distanciar depois de ver aquilo. E logo se arrependeu.
- Eu me odeio a maior parte do tempo. – Murmurou mais para si do que para ele.
- Não vai adiantar de nada. – Ele concluiu se levantando. – Experiência própria. Vamos. – Estendeu a mão.
Ela pegou a mão dele e sentiu aquele mesmo choque que sentia toda vez que fazia aquilo. Ela parecia confusa o que não precisou de palavras para que ele entendesse.
- Nada disso importa para mim. Não há nada aí dentro que me faça ter medo, ou qualquer coisa do tipo. Já vi muitas coisas parecidas, e também tive que fazer coisas que eu fui obrigado pelas situações em que estava. E não vejo erro algum. Algumas coisas são necessárias, mesmo que pareçam erradas. – Depois de dar ênfase a todas as palavras para que ela realmente percebesse o que ele estava querendo dizer, sorriu torto. – Agora, vamos. Vou lhe dar trabalho.
- Trabalho? – Perguntou sentindo-se profundamente aliviada.
- Está achando que vai me deixar aguentar esse cabeças ocas do primeiro ano sozinho? – Fingiu estar sendo ríspido. O que a fez sorrir.
- Não.
- Estamos atrasados.
Ele segurou a mão dela e com a outra equilibrou toda aquela pilha. Ela tentou ajuda-lo, mas ele não deixou. Os corredores das masmorras começavam a se encher de alunos que passavam por eles curiosos ou simplesmente assustados ao ver os dois. Snape voltou a sua máscara de frieza e expressão carrancuda o que fazia muitos se afastarem livrando o caminho deles. Maeve apenas se limitou a sorrir.
Também amava o Snape carrancudo e centrado que apertava a sua mão.
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