A guerra só começou. Kyung sabe muito bem disso. Ao tentar se esquentar em uma gruta de gelo, seus dentes rangem, seu hálito é frio, uma nuvem branca que escapa de seus lábios arroxeados. Ao olhar para suas mãos trêmulas, ele tenta imaginar o que se ativou dentro dele para parar naquele lugar.
Como controlar a força?
Ele se levanta, suas pernas ficam duras do frio, mas resistem, continuam a adentrar na caverna em passos mecânicos. Nos últimos dias, ele tinha se escondido mais em grutas úmidas e escuras com as criaturas, mas nada parece com aquele lugar. É banhada por uma leve luz azul turquesa, o ar é muito gelado, de roer os ossos, de ranger os dentes, ardido. Seu nariz e bochechas estão dormentes, como todas as extremidades de seu corpo.
Kyungsoo olha para as pontas dos dedos dos pés, muito vermelhos e formigando. Ficariam azulados em pouco tempo.
Meio sonolento por causa do frio, Kyungsoo adentra o quanto consegue, mesmo que o frio não diminuísse tanto dentro da gruta.
As linhas brancas passam pelo solo congelado, uma ou duas linhas da primeira vez. E Kyung imagina que não seja nada. Mas para, ao perceber que o pulsar que escuta em seus ouvidos, não é do seu coração.
Ele se arrasta, com mais firmeza e determinação que antes, se esgueirando nas paredes escorregadias. Quanto mais entra, menos sente seu corpo, que fica cada vez mais a mercê do frio congelante.
E então, ele escuta, o tinindo leve de correntes contra o chão de gelo. Com os olhos arregalados e assustados, ele anda mais devagar, cauteloso. O que quer esteja no fundo, é grande, está vivo, e sabe que ele está se aproximando.
Ele perde o ar, paralisado ao ver. As asas de quatro pontos, de couro azul escuro, os dedos longos e ligados por uma membrana, com afiadas unhas negras. Todo o corpo esguio coberto por escamas de todos os tons de azul mais escuros. A estrutura óssea enorme, mas parece não ser tão pesada. As cristas espinhosas nas costas descem até a longa causa enrolada. Os olhos são dois poços gelados. A respiração pelo focinho alongado sai fria, uma nuvem de gelo que abaixa a temperatura do local abruptamente. Os chifres na cabeça negros e terríveis.
-Xi-Xiumin?
Os olhos da cor de gelo continuam o encarando. A voz doce de Xiumin escapa no além. Chamando-o.
-Como isso é possível? -diz ele, incrédulo, erguendo a mão para tocar a couraça dura e escamosa. – Xiumin, você-Você está preso? Está preso em seu corpo como Suho estava?
Não é isso. Xiumin parece bastante consciente, mas há algo errado. Ele procura mais uma vez por correntes que o prendem.
-O que está acontecendo? -questiona Kyungsoo, o acariciando na mandíbula.
Alguém atrás dele encosta o cano gelado em suas costas. Ele escuta um clique de arma destravada e respira fundo, levantando os braços para se entregar.
-Xiumin. -ele o chama mais uma vez, mas o dragão azul não responde, continua parado, intacto, tão imóvel, como se estivesse... Os olhos multicoloridos de Kyungsoo olham ao redor. As correntes não parecem presas nas paredes, muito menos no chão. Então, o que prendia Xiumin?
-Vamos! -esbraveja o homem atrás dele.
Kyungsoo não obedece, continua parado, encara o focinho de Xiumin, os pequenos chifres de suas narinas. Os tons de azul se misturando em suas escamas.
-Xiumin, você me escuta?
-VAMOS!
Ouve outros pés correrem por onde ele entrou. São muitas botas que se aproximam. Ele está cercado, mas ele não quer lutar.
Ele olha por cima do ombro, contando quantos homens são:
-Por favor, não me apaguem. Eu vou cooperar. -avisa rapidamente, ao virar para eles, mostrando que não queria brigar. - Por favor.
Eles o levam, mas antes, o fazem vestir o uniforme totalmente branco. Uma jaqueta pesada, de puffer alongado. Calças de pano grosso, meias até os calcanhares, e claro, botas antiderrapante. Com os dedos, ele arrepia os cabelos para não atrapalhar sua visão. O forte vento carrega os flocos de neve por onde passam, para o outro lado. O caminho mede quase um quilômetro de distância até uma outra gruta, provavelmente a entrada.
Ele concordou em usar as algemas a frente do corpo. Kyung não sabe lutar como Kai, nem muito menos tem controle do que está dentro dele. Seus olhos encaram o céu, fechado, cinza, carregado das nuvens de uma tempestade próxima. Olha para trás, por cima do ombro, só por um segundo, para o caminho que está percorrendo até o outro lado.
Como sua mente o trouxe até ali? Justamente para onde Xiumin está?
Suas mãos estão trêmulas e estranhamente brancas pelo frio, quase duras. Como ele faz isso? Como seu corpo simplesmente pode se teletransportar para outro lugar?
Ele nunca conheceu este local, não sabe onde está, então, por quê? Por que parou ali?
Ao entrar dentro da caverna, eles passam por um túnel de quatrocentos metros de comprimento e entram em um hall, não necessariamente apertado, mas que fica pequeno ao juntar os doze soldados que acompanham Kyungsoo.
O ar condicionado é ligado gradativamente, para não chocá-los com a temperatura morna. Suas algemas são retiradas e um balde de água é colocado para que ele ponha suas mãos, muito quente, mas não ao ponto de se queimar. Em seguida, ele repete o processo com seus pés, os principais afetados pelo extremo frio lá fora.
Seu corpo aguentou até demais. Quase dez minutos lá fora e ele deveria estar inconsciente, quase morto de tanto frio. Kyung está descalço, seus pés ainda sujos da terra. Sua camisa está furada e rasgada em muitos lugares, de manga curta, em uma temperatura tão baixa.
Um homem de terno aparece, saído das portas duplas da frente:
-Por favor, Sr. DO, me acompanhe.
Kyung seca os pés com a toalha que lhe foi dada e olha mais uma vez para a fileira de soldados bloqueando a porta da onde entraram, todos eles de máscaras brancas, toucas e óculos de proteção. São muitos. Muitos para protegê-lo do quê?
Kyung veste as botas, amarrando os cadarços. Ou será que estão protegendo alguém dele?
Soo o acompanha, quando as portas duplas se abrem, um mundo mágico se liberta.
Dezenas de cientistas estão espalhados pelo grande galpão, todos cuidando de algum experimento ou vários. Robôs, tecnologia avançada, armas de blasters, outros se preocupam com tubos de congelamento onde algumas espécies de animais estão, alguns se movem com a ajuda de diciclos elétricos.
-O que vocês fazem aqui? -questiona Kyungsoo de imediato, trocando olhares com um homem de feições estrangeiras. - qual é a principal pesquisa?
-Você faz perguntas de mais, Kyung Soo.
Ele fica estático. Escuta seu coração bater em seu peito, quase arrebentando a carne. Ele conhece aquela voz.
-Você..
-Sim, sou eu. Como vai, Kyung Soo? -pergunta a grossa voz. Ele se vira para olhá-lo. Seus olhares se cruzam e o frio lhe sobe à espinha. Ele continua corpulento, troncudo, a cicatriz e os olhos profundamente escarlates, poços vermelhos. O fogo do inferno. O caos. - Você está péssimo.
-O-o que...
-Está diferente. Creio que já tenha sido despertado, correto? Foi assim que parou até aqui, não é?
Seu mundo simplesmente não gira, é como se o tempo tivesse parado justamente ali, e apenas ambos estivessem se movimentando, se comunicando um com o outro.
-Eu não sei. -responde duramente, engolindo em seco em seguida.
-Vamos, preciso te mostrar uma coisa.
Dr. Zorkin vai primeiro, o homem de terno em seguida e Kyung os seguem. Seu olhar se encontra com a de um caixão de vidro, posto na horizontal. O rosto perfeitamente esculpido de Sehun, adormecido. Ao lado de onde repousa, algumas máquinas que controlam os batimentos corporais, computadores e muitos fios.
Eles entram em outro galpão, descem uma escada e depois outro lance, até um galpão completamente vazio, o teto é alto, quase vinte metros de altura. Tudo é de concreto, diferentemente dos outros andares de gelo. A temperatura é morna. Tudo está silencioso, mas o vazio do lugar produz ecos. Alguém bate à porta atrás deles, o som retumba fortemente pelos cantos.
O homem de terno fica ao lado da porta de aço, parece ser pesada e espessa. Dificilmente seria arrombada.
-O que você quer? -questiona Kyung, rouco.
-Quero muitas coisas, mas a principal delas já está comigo. - diz, sem olhar para ele, parece admirar o vazio do galpão com um sorrisinho estranhamente malicioso em seus lábios. - Você.
-Eu?
-Você, Kyung Soo. Eu quis tanto você, mas pensei que você não demoraria tanto para despertar.
-VÔ-você o quê? -engasga Kyung.
-O que você achou das minhas novas criaturas?
-Do... Do que você está falando? -fala em seu coreano carregado do sotaque de Busan.
-Das criaturas. Do seu grupo. Eles estão em perfeito estado, não é?
Kyung continua o encarando, as costas encorpadas, o terno azul marinho e veludo, brilhoso e luxuoso. Os cabelos ralos em sua cabeça, crescendo.
-Do que você está falando, seu desgraçado? -fala ele, sua voz alta ecoando no galpão.
-Você sabe do que estou falando, Kyungsoo, tudo isso foi por você. Tudo isso.
Os olhos escarlates cintilam por cima do ombro, o sorriso de escárnio abre só para ele:
-Você demorou demais. Mais do que eu esperava. -comenta ele, quase avoado em seus próprios pensamentos. - pensei que se lembraria de tudo quando visse Kai no laboratório. Por um breve momento, eu tinha pensado que havia errado. Mas, eu nunca erro. Era você desde o começo, tentando fugir de mim, de todos.
Alguma porta se abre. Kyungsoo tenta procurar com os olhos arregalados por uma saída.
-O que você quer?
-Você.
Os olhos quase totalmente multicoloridos se atraem para os felinos. Kai. Cabelos curtos e repicados, pretos, os olhos caídos e cansados, mas acesos para ele, surpresos. Os lábios se abrem:
-KYUNGSOO! CORRA! CORRA, FUJA, CORRAAA!
Soo olha novamente para Dr. Zorkin, apenas sentindo os batimentos violentos contra sua caixa torácica, a respiração arfante, o suor descendo pela testa. É o verdadeiro Kai. Entretanto, sente os clones em algum lugar do complexo.
-Eu não sou quem você pensa que eu sou. -diz Kyungsoo, dando um passo para trás, os joelhos trêmulos quase vacilando. -Eu não sou o Phoenix.
-Eu sinto o seu cheiro. -fala ele, olhando para frente, para Kai. - Agora, você é. Você se esconde muito bem, tentando disfarçar seu verdadeiro aroma no odor podre dos humanos, mas quando você despertou... Quando você despertou, Kyungsoo, seu cheiro chegou até mim como um raio.
Kyung volta a encarar Kai. Ele é jogado no chão de concreto de joelhos. Ele é exatamente como se lembra, grande, encorpado, musculoso, os olhos selvagens e exóticos, mas agora tão desesperados.
-O que você quer? -pergunta Soo, limpando a lágrima que desceu de seus cílios sem permissão.
-Eu já disse. -ele se vira para olhá-lo de frente. O sorriso perverso estampado em seu lábio cortado pela cicatriz que rasga seu rosto. - Eu demorei muito tempo para rastrear vocês. Tenho que admitir que você foi esperto demais se escondendo em corpos humanos em suas reencarnações. -ele lhe dá um sorriso forçado, percebendo o olhar fixo de Kyung Soo em Kai. - ele -aponta para trás com o polegar. – ele é seu ponto fraco, Phoenix. Mas você não sabe o que ele fez.
-Eu não sou o Phoenix. -rebate duramente.
-Tem certeza?
Ele não tem. Sente-se tonto, sua cabeça gira um pouco, mas não o suficiente para fazê-lo desmaiar. Não agora.
-Eu vou... Eu vou perguntar mais uma vez, Dr. Zorkin: O que você quer? -ele encara Kai mais uma vez. – O que você quer exatamente de mim?
-Seus poderes. Eu os quero. Quero me tornar o décimo segundo. O Doze. O Herdeiro. O último. O único.
-Não sei como posso te ajudar com isso. Não sei como eles funcionam.
-Ah, claro que sabe, Kyungsoo, não fique tímido. A força sempre esteve dentro de você.
O que é a força? O que ela faz com Kyung Soo? E por que está dentro dele?
Kyung Soo volta a encará-lo, sentindo o aperto na garganta o entalar por um instante, mesmo com a voz rouca e fraca, ele o rebate:
-Eu não sei. Nunca soube. Eu não sei de mais nada.
- Eu nunca soube como controlá-lo. - Dr. Zorkin fala, ignorando mais uma vez.
Ele fecha as mãos em punhos para tentar controlar a tremedeira. Kai é amordaçado pelo time de soldados. Ele está fraco, mas, mais do que isso, imobilizado por algo superior. Uma nuvem embaçada está ao seu redor, pálida, quase maciça, igual à que paralisa Xiumin. Os braços amarrados atrás das costas. Mas seus olhos não param de encará-lo. Kyung sabe que ele quer dizer alguma coisa.
Dr. Zorkin olha para o teto de concreto, pensativo:
-Eu os invejei, desde que nasceram.
Kyung volta a olhar para Dr. Zorkin:
-O que você disse?
Os lábios dele se entreabrem, mas ele não diz nada. Com os sapatos lustrosos, ele se afasta, caminhando até o meio do galpão. A cada passo barulhento no vazio, Kyungsoo estremecia.
-Vocês eram os prometidos para serem o melhores da raça, sempre se destacando desde pequenos. Os maiorais. No começo, achei que seriam bons serviçais. Bons soldados. Mas... você. -ele se vira, apontando para Kyungsoo com o indicador. -você era algo a mais. Você era a profecia. Foi quando eu te achei.
-Q-que... que profecia, do que você está... -os olhos completamente coloridos se desviam para Kai, de cabeça baixa. Por algum motivo, não quer olhá-lo. Por que Kai não quer encará-lo?
Ele morde o lábio inferior, parece pensar no que dizer, ainda relutante; enfia as mãos dentro dos bolsos da calça azul marinho.
-Eu vou te mostrar uma coisa.
Um apêndice se estende das costas de Dr.Zorkin, de repente, se alongando até formar uma cauda de escamas pretas:
-Eles escondem muita coisa de você, Phoenix, mas eu não farei isso. Porque não tenho medo de você como eles, eu te venero. -A voz se encorpa, se transformando em um terrível som monstruoso. – Eu quero que se revele, porque se eu o matar agora, você renascerá mais uma vez e eu tenho pressa. Não estou disposto a passar por tudo novamente para ter o que eu quero.
Os braços se incham, rasgando o paletó, as pernas crescem, se expandem:
-Você precisa lembrar quem você é e para fazer isso, eu machucarei quem for preciso para te transformar no seu verdadeiro eu.
Kyungsoo bate as costas contra o concreto. Kai grita em silêncio, tentando se soltar das cordas, mas algo a empurra para baixo. Uma força. A força poderosa quanto a dele. Atrás das portas, um alarme é disparado, o som abafado consegue chegar aos seus ouvidos potentes. O que quer que esteja acontecendo lá fora... É um perigo? Ou o perigo está lá dentro com ele?
Dr. Zorkin fica maior e maior, crescendo e ficando ainda mais robusto, sua mandíbula se abre em um sorriso de centenas de dentinhos afiados em fileiras, o rosto se deforma em escamas pretas e cinzas:
-Você. D.O Kyung Soo. Precisa morrer.
Kai é chutado para o chão. Uma arma é apontada para sua cabeça, carregada de energia vermelha. O corpo de Kyung reage espontaneamente. Ele corre. Mas algo o atinge bem no meio do peito, a cauda de Dr. Zorkin o joga para a parede com toda a força. Seu corpo voa e atinge o concreto. Cai no chão, sentado, perdendo o fôlego, sangue desce pelas suas narinas, chega em sua boca em coágulos.
-Vamos, D.O. Ou vou mata-lo.
O bicho que está a sua frente não é mais Dr. Zorkin. É maléfico, um monstro horroroso e bípede, de quase dez metros de altura. Uma criatura aterrorizante e de crânio cilíndrico, com chifres pontiagudos azuis abaixo da mandíbula. As pernas longas e musculosas, terminam em quatro dedos curtos;
O que aquela coisa é?
O monstro levanta um dos dedos, levitando Kai até a altura de seu peito.
-Eu vou explodi-lo com a minha mão. E você sabe... Você sabe, lá no fundo, que eu posso.
Os braços tremem, tremem tanto que pensa que está à beira de uma convulsão. Os olhos agitados e arregalados buscam por mais uma porta, olham para Kai, para os soldados de branco. O centro de seu peito arde.
-Eu-Eu... Eu não... Eu não sei. -gagueja ele, seus lábios rosados se colorindo com a cor vermelha de seu sangue. Ele sente frio. Respirar dói. A ardência quente se espalha pelo seu tórax. – Eu nãosei.
Ele engole o sangue goela abaixo.
-Eu não sei o que você quer.
Kyung Soo tenta se erguer, com dificuldade. Ele morreria senão fizesse alguma coisa. Kai morreria se ele... se ele não fizesse algo. Suas mãos formigam. Ele se arrasta até a porta de aço. A quentura dentro dele o deixa quente, pelando em fogo, o suor começa a brotar em sua pele, descendo em pingos pelo seu rosto sujo de terra.
-Por que ainda resiste, Kyung Soo? Por que resiste?
Então, escuta a voz de Kai, apavorada, histérica:
-FUJA! FUJA, KYUNG FUJA!
Ele não pode. Não pode deixar Kai, não pode abandoná-lo de novo.
Kyung se senta e tira o blusão de frio. Está abafado.
-O que você acha que eu sou? -pergunta ele ao encarar os olhos queimando em vermelho do monstrengo. – Eu não sou uma criatura.
-Não, claro que não. Você não é como eles. Você é melhor. Você é mais que um Deus. Você é o melhor de nós.
A mão do monstro sinaliza para o chão de concreto. Kai despenca. O som surdo de seu corpo ecoa pelo galpão. E enlouquece Soo.
Kyung Soo chora, porque realmente não sabe o que deve fazer para parar com aquilo, para escapar, para ajuda-los, para matar o bicho de dez metros de altura. Suas mãos trêmulas puxam as raízes dos cabelos, ele quer parar, quer que tudo pare.
O que ele é além de um humano patético e frágil? Ele não pode fazer nada.
Sua visão fica embaçada pelas lágrimas. O que querem dele? Por que estão torturando Kai para ter o que não existe dentro de Kyung Soo?
O formigamento de suas mãos sobe até os ombros. A quentura se espalha, queima por dentro, o deixa sonolento... Fraco.
Fraco.
Deus Fraco.
-O-O que... O que você é? -pergunta Kyungsoo, com a voz esmagada pela dormência, rouco.
-Eu quero ser mais do que eu sou.
Kyung olha mais uma vez para Kai. Seu coração aperta, as pupilas muito dilatadas, os olhos assustados sequer piscam. Todo o seu corpo está trêmulo, fraco. Está fraco. Mas a energia que sobe das pontas dos dedos até os braços o deixa confuso. O que está acontecendo?
-O que você acha que eu sou? -pergunta Kyung Soo, deixando a voz entrecortada no vácuo do galpão. Os olhos do monstro a sua frente nem piscaram, sequer se moveram. Familiares, como um gosto adocicado do deja vu em sua língua, eles se viraram para Kai.
-Você é o motivo que me impediu de conquistar tudo. -fala a voz pitoresca, quase uma caricatura.
Linhas queimam seu rosto, desenhando-se até os ombros, descem até as pontas dos dedos das mãos. Ao olhá-las, Kyung Soo sente a quentura no meio de seu peito virar a dor pungente; os ossos parecem se quebrar dentro dele, se estraçalhar como um simples e fino copo de vidro. De repente, seus sensores sentem tudo, o alarme alto de todo o complexo alertando todos para fugirem, os muitos passos rápidos e desesperados para fora, os caminhões que estão sendo preparados para leva-los em uma comitiva em segurança, as armas dos soldados sendo destravadas, ordens sendo dadas para atirar em tudo o que se mover, na respiração alta e arfante de Kai, nos batimentos em colapso em seu peito.
A dor.
Sua respiração se acelera em medo, tentando acompanhar o coração que explodia, batia tão rápido, tão sôfrego, tão desesperado...
-Sim, Kyung Soo... Esse é você. E quando eu terminar de te matar, finalmente, tudo o que é seu será meu.
Kai grita. O braço foi arrancado para fora do corpo. Kai está sendo torturado por causa dele. As linhas negras se acendem. Seu corpo atinge o pico de calor suportável. A energia de lava que circula as suas veias o deixa zonzo.
-Você resiste. -diz ele, se curvando com a boca cheia de dentes até Kyungsoo. - Não está pronto.
Sangue sobe quente pelo seu esôfago.
-Ainda não está pronto, Titã.
A consciência de Kyungsoo foge, um apagão o engole.
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