18.
★彡 Michiru narrando
[ Antes da Briga ]
Eu odeio isso, odeio, odeio… Eu simplesmente não consigo me soltar dele. É horrível essa sensação, mas também é tão bom. Como pode? Foi ele que me machucou dessa forma e agora é ele quem está me fazendo bem…
Ouvir o Shirou dizer que não vai me soltar só me faz querer permanecer em seus braços apesar de tudo em mim me dizer para empurrá-lo e voltar pro hospital. Eu odeio isso…
— Aí..! — Reclamei de dor, empurrando involuntariamente o Shirou e colocando as mãos em meu olho.
— Michiru?
— A-Ah! Caiu algo no meu olho! — Falei, debatendo as mãos no ar com um leve desespero.
Justo agora tinha que cair algo no meu olho, incrível. Eu não consigo fechar os olhos e nem abri-los. Que agonia!
— Aíí..! Meu.. Olho!!! — Disse um pouco mais alto, e logo senti o Shirou colocar as mãos em meu ombro.
— Calma, abre o olho. — Ele disse calmo, com aquela voz cansada dele.
— Num dá!
— Para de pular! Assim eu não consigo ver. — Assim que ele disse isso eu notei que estava dando pequenos saltinhos. Então parei de me mover, mordendo o lábio para conter a agonia. — Pronto… espera..
Ao dizer isso, Shirou colocou suavemente suas mãos em meu rosto, retirando minhas mãos da frente e então tentou abrir meus olhos.
— Aí…
— É em qual olho? — Eu apenas apontei para o meu lado esquerdo, soltando um pequeno ‘’esse ati’’. Pude ver o mesmo abrir um sorriso leve, ficando um pouco rosado. — Você parece um bebê.
— Tchun! Sai, quero mais tua ajuda não. — Reclamei, mas não me movi, continuei parada sentindo o toque dele sobre mim.
Shirou soltou uma risada nasalar e se aproximou, chegando seu rosto perto do meu enquanto mantém sua atenção em meu olho esquerdo.
— Olha pra baixo..
Assim que tentei olhar, parecia que algo estava furando meu globo ocular. Como reação eu pisquei várias vezes e empurrei o Shirou novamente, voltando a dar pulinhos enquanto balançava as mãos.
— Ai! Ai! Ai! Não dá! Tá doendo!
— Se você não me deixar ver, não tem como eu tirar.
— ....!
— Vai, abre o olho. — Ele disse novamente, voltando a chegar perto de mim e segurando meu rosto.
Como ele havia pedido, eu abri meus olhos, era nítido a dificuldade. Eu já não sei se estava chorando porque estava triste ou se era por causa da bendita coisinha no meu olho.
— Achei… — Ao falar isso, ele aproximou o dedo indicador do meu olho.
— NÃO! Que que você vai fazer! — Gritei, afastando a cabeça.
— Eu vou tirar! Ou você quer que isso fique ai?
— E-Eu não gosto que toquem no meu olho…
— É um pedaço quebrado de folha, eu tenho que tirar se não vai te machucar mais.
— …
Sem que eu desse permissão, ele segurou minha mandíbula com um pouco de força e com a outra mão, usou os dedos para abrir meu olho.
— PERA AEE! — Gritei tentando me afastar.
— Não se mexe!
— MEU OLHUU!
Tentei piscar, mas o Shirou estava me impedindo. O desespero em mim era claro, parecia que eu ia morrer. Misericórdia. Mal conseguia ver a cena, mas senti o dedo do Shirou tocar em meu olho. Na mesma hora meu corpo estremeceu todo, com certeza minha alma saiu do corpo e voltou.
— Pronto, tirei. — Ele dizia com uma plenitude incrível.
— Tilo…? — Perguntei imitando a voz de bebê enquanto fazia biquinho.
— Tirei, dramática.
Na mesma hora meu biquinho de bebê se desfez e deu espaço para uma cara emburrada.
— Dramática não. Talvez exagerada.. — Eu disse e ele riu.
— Deixa eu ver se tem mais alguma coisa..
— Não! Sai de perto do meu olho! — Disse, virando o rosto e dando um passo pra trás.
— Deixa eu ver logo! — Ele falou, segurando meu braço e virando meu rosto em sua direção.
— Eu vou gritar que tu tá me assediando. — Falei, já rindo da situação.
— Para de ser criança e deixa eu ver logo! — Ele disse, o mesmo também já estava rindo da situação.
Parecíamos dois idiotas na porta do hospital fazendo show.
— Nuuum tocaa no meu olhoooo!!!!
— Eu preciso ver se tem mais alguma coisa!
Quando me dei conta, o Shirou estava com a cara enfiada na minha. Meus olhos pararam encarando os seus. Ele, quando notou a nossa troca de olhares, parou de apertar o meu queixo e começou a segurá-lo com leveza, como se fosse a coisa mais delicada do mundo. Prendi a respiração na hora, sentindo minhas bochechas começarem a arder.
— Michiru.. — Ele me chamou baixo, com a voz rouca.
— Fala.. — Respondi no mesmo tom.
O olhar do Shirou estava alternando entre meus lábios e meus olhos. A forma como ele me encarava me deixava nervosa. Parecia que ele iria me beijar, já que ele estava se aproximando cada vez mais. A distância entre nossos lábios parecia que estava prestes a acabar. Por impulso, eu fechei meus olhos, segurando em seu sobretudo.
A respiração dele fazia meu corpo todo se arrepiar, cada vez que eu a sentia mais perto eu o apertava com mais força, puxando-o para minha direção. Mas, quando achei que finalmente o teria pra mim, pude ouvir a voz da Nazuna.
— É sério?! — Ela gritou. — A Nina tá bem.
Ao ouvir isso, eu virei rapidamente meu corpo, empurrando o Shirou para trás. Encarei a Nazuna nos olhos mas ela parecia irritada com algo e saiu batendo a porta. Todos que estavam na rua olharam espantados, já que com aquela batida parecia que a mesma iria quebrar.
— Nina..
★彡 Nina narrando
— Nina..! .. Nina! .. Niinaa!
— Para de ficar chamando a garota. Deixe-a dormir.
— Mas e se ela não acordar?
— Exatamente, se acorda uma pessoa chamando ela.
— Nina! Ei, Ninaa..
— Eu vou tirar vocês do quarto!
— Poxa tia Melissa.. A gente tá preocupado.
— Mas ficar perturbando ela não vai ajudar.
— Hm.. — Resmunguei baixo, sentindo a luz branca me incomodar.
— NINA!!!! — Ouvi algumas vozes gritarem meu nome.
— Sem gritar! Nina.. Filha, você está bem?
Pisquei meus olhos algumas vezes, tentando me adaptar à luz enquanto via os rostos em um quarto branco, que, aliás, não era o meu. Onde eu- a.. Em um hospital, provavelmente…
— Nina.. você tá bem? — Jackie perguntou, me olhando preocupado.
— A gente acordou ela, viu. Fizemos um bom trabalho. — Um dos garotos do Baseball falou.
— Não era pra ninguém ter acordado ela! — Melissa repreendeu. — Filha, como está se sentindo..?
— Eu… — Tentei responder, mas a real é que eu não sei como estou.
Suspirei cansada, tentando puxar o braço para me abraçar, mas vi que ele estava no soro. Fechei os olhos, esperando as lágrimas virem, mas meu corpo já não sentia mais nenhuma vontade de chorar, era como se eu estivesse vazia.
Olhei para os lados procurando por minhas amigas, mas nenhuma delas estava aqui.
‘’ Será que a Michiru não veio... ?’’ — Pensei, ignorando a pergunta da tia Me e me deitando de lado.
— A gente trouxe um presente! — Um dos meninos disse, e Jackie se aproximou de mim.
— É uma máquina de desejos! — Ele disse, estendendo a mão e revelando um dente-de-leão. — Ele só funciona uma vez, você faz o pedido e assopra. Daí seu desejo vai sair voando e ser levado para os céus, assim os deuses vão ouvir seu desejo e realizar!
Ao ouvir isso, abri um sorriso leve, pegando o presente. A plantinha era pequena, mas bem redondinha e branca.
— Depois eu faço um desejo.. está bem? — Disse, mantendo o sorriso amistoso.
— A gente fez vários pedindo pra você acordar bem! E funcionou! — O Jackie disse.
— Agora vamos vender as máquinas! — Outro garoto disse, e todos responderam com um sonoro ‘’Sim!”
— Certo.. certo! Porque agora não vamos lá pra fora e deixamos a Nina descansar um pouco? — A Me disse.
Logo os meninos se despediram de mim e saíram, me deixando sozinha no quarto.
Meu braço está formigando um pouco, mas não dói… Por que… que eu acordei? Eu devo ter feito algo errado, deveria ter cortado mais fundo.. Eu cansei de sentir dor no coração, é muito difícil.. E ela não cessa, não importa o quê.. Vocês sabem como é a sensação.. de desejar muito uma coisa, com todas as forças, e nada acontecer…?
Eu não consigo dormir direito, não consigo comer e as músicas tristes já não me preenchem mais.. não tem nada que se compare com a dor que eu tô sentindo, nada…
Fechei meus olhos e apertei a flor com força, aproximando-a de minha boca.
— Eu.. quero meu pai de volta… — Murmurei para a planta. Minha voz saiu abafada, acho que estou chorando.
Com uma certa dificuldade, me sentei na cama e coloquei os pés no chão. Segurei o suporte do soro que possui rodinhas e caminhei até a janela. Meus dois braços estavam enfaixados.
Assim que abri a janela a primeira vontade que eu tive foi de pular. Mas pra quê.. eu vou acordar viva de novo, e dessa vez, talvez, paraplégica. Isso não vale a pena…
— Eu… tô muito sozinha… — Sussurrei mais uma vez para a planta. — E-Eu não quero… mais me sentir assim…
Senti as lágrimas caírem em minha mão, molhando um pouco o dente-de-leão. E com a mão trêmula, eu o assoprei, mas como nada é perfeito um vento forte entrou pela janela e fez os pedacinhos voarem de volta e grudarem em meu rosto molhado.
— Ah cara… — Reclamei, apoiando a mão na janela.
Com raiva, joguei a planta pela janela. Não demorou muito para que o vento levasse ela para longe.
Eu não aguento mais… não dá, é muito difícil, o universo inteiro parece que conspira contra mim. Eu sinto que eles devem estar achando graça de toda essa situação. Porque não é possível… Por que comigo? Por que agora? Por que? … Eu nem sei quem foi, nem sei o porquê que fizeram isso com meu pai… e foi… se uma forma… tão…
— Por que…
Dói muito.. dói tudo, é uma dor tão real, que machuca, machuca muito, muito, e eu não quero mais, não aguento mais sentir essa dor, ela me sufoca de tantas.. tantas maneiras. Não parece real, mas eu sei que é porque dói....
— Você parece horrível. — A voz do Shirou ecoou pelo quarto.
— Bom, eu me sinto assim né.. — Respondi, forçando uma risada.
— O que é isso na sua cara?
— A-ah, é dente-de-leão, haha.. Você.. sabe onde está a Nazuna?
— Acho que ela está com a Michiru.
— A Michiru veio?! — Perguntei, me virando rápido para encará-lo.
— Claro que veio.
— Ah..
Involuntariamente, senti um sorriso se abrir em meu rosto.
— Que bom…
Ao dizer isso, vi um clarão se ascendendo atrás de mim pelo lado de fora da janela. Foi tudo muito rápido. Primeiro veio o clarão acompanhado de um forte vendo. Depois, um som ensurdecedor que fez meu corpo se contorcer de agonia.
— AAAAHHH!! — Berrei, tapando meus ouvidos.
Quando olhei para cima, meu corpo foi jogado para frente por uma forte rajada de vento quente. A janela atrás de mim havia quebrado, mas antes que os cacos caíssem em cima de mim o Shirou me protegeu, ficando atrás de mim e me envolvendo.
— O que está acontecendo?! — Perguntei desesperada, e na mesma hora que perguntei isso um alarme começou a soar forte pelos corredores do hospital.
Um cheiro de fumaça começou a invadir o quarto, gritos de desespero estavam ecoando por todas as direções.
— Eu vou te tirar daqui! — O Shirou disse, me pegando no colo e correndo até a janela quebrada.
Quando pulamos, tivemos a visão de um tumulto enorme vindo da rua. Várias pessoas saíram do hospital, correndo desesperadas. Uma parte do prédio pegava fogo. Pelo o que tudo indicava era uma explosão.
Vários alarmes de carro estavam tocando, era uma poluição sonora de desesperar qualquer um. Quando chegamos no chão, o desamparo de várias pessoas me assustou mais ainda. Pessoas correndo pra lá e pra cá, outras sangrando, umas soterradas por escombros da parede do hospital que havia caído.
Havia um grupo de pessoas que estavam tentando abrir a porta de um carro, eu acho que uma criança estava lá dentro, não sei dizer, mas o choro era de uma criança. A parte da frente do carro estava completamente afundada por uma coluna do hospital que caiu. Também tinha sangue escorrendo de dentro do carro, molhando todo o chão.
— Fica aí! — Shirou ordenou, me pondo no chão e logo ele sumiu no meio da multidão.
Eu não sabia o que fazer, não sabia o que pensar, minha mente estava sendo preenchida pelos gritos das pessoas pedindo por ajuda, socorro, ou apenas gritando de medo ou terror. Mas algo me tirou de meus devaneios, algo não, alguém. Uma criança coberta de sujeira e sangue estava chorando, sendo ignorada pela multidão.
Eu corri até ela e a peguei no colo, a abraçando.
— MAMÃE!! — A criança gritava.
— Calma! O que aconteceu?!
— E-EU PERDI MINHA MÃE!
— …!!
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