- Vamos estar juntos. Teremos uma vida juntos, eu te prometo isso, Elise.
Já se passou um mês e isso ainda ecoa em minha cabeça como se tivesse acontecido ontem.
Michael se foi. E como todo amor clichê, seria impossível não dizer que ele levou uma parte de mim com ele. Vivo minha vida totalmente monótona, na mesma rotina, mas como se estivesse ligada no “automático”. Faço tudo automaticamente, sem soltar uma palavra sequer, apenas quando é necessário.
O que me conforta é que meu pai está bem. Michael cumpriu tudo que me prometeu. Quer dizer, quase tudo. Eu ainda espero pela vida que ele me prometeu.
Uma outra visão que me faz ter mais esperança na vida é que Rose, minha irmã, vai ter um bebê. Mas sempre como nada é perfeito, seu namorado simplesmente negou a criança. Fugiu, sumiu. E deixou tudo nas mãos de Rose. Na maioria dos dias tento confortá-la dizendo que não será necessário uma figura masculina tomando conta de seu bebê. Rose, meu pai e eu cuidaremos e iremos criar esta criança com todo nosso amor. Mas ela ainda teme o futuro.
Rose se mudou para nossa casa e às vezes vejo-a sentada na varanda conversando com o bebê mesmo ainda estando em sua barriga e me pergunto como é essa sensação de amar alguém que nem mesmo sabemos seu rosto. Mas de alguma maneira, eu tenho um grande amor e apreciação pelo bebê de Rose. Os problemas do dia-a-dia parecem irem embora quando estamos reunidos na sala e o assunto é o bebê.
- O que você acha que é, Elise? – perguntou Rose para mim, acariciando sua barriga por cima de seu vestido longo e largo.
- Eu não sei...
Rose sorriu para mim e voltou a olhar sua barriga que agora já estava bem grande e com poucas semanas para dar a luz.
- A vovó costumava dizer que se a barriga estivesse bem redonda, que era um menino. E se mais “espalhada”, que era uma menina. – continuou Rose, sentada no sofá à minha frente.
Cruzei meus braços e sorri brevemente.
- Você sabe o sexo do bebê. Não sabe? – perguntei.
- Não tecnicamente. Pedi “surpresa” para o médico. Que me revelasse apenas no parto. Mas... Eu sinto que é um garotinho.
- E se for menino? Qual será seu nome?
- Eu não sei. Não consegui decidir ainda. – ela suspirou. – Saberei seu nome quando olhar o rosto do bebê.
Murmurei.
- Mal posso esperar para conhece-lo. – abri um sorriso e me levantei, indo em sua direção. – Eu vou dormir agora, Rose. Precisa de alguma coisa?
- Não... Está tudo bem. Estou sem sono.
- Certo. Boa noite. – me despedi, passando a mão em sua barriga. Depois subi as escadas em direção ao meu quarto.
Os dias passaram muito rápido desde quando Rose ficou grávida. Eu só conseguia pensar em Rose e seu bebê. Era o que me motivava e me fazia me sentir bem, feliz...
Não demorou para que eu pegasse no sono. E como tem sido nestes últimos dias, tenho sonhado diversas vezes com o bebê. Coisas abstratas, sem sentido. Queria ver seu rosto. E todos os sonhos eram calmos e suaves. Diferente de um mês atrás. As cores nos meus sonhos eram mais nítidas mas mesmo me transparecendo tranquilidade, me sentia culpada por me sentir feliz. Michael havia morrido. Por mim. Eu deveria estar em luto. Mas meu outro lado dizia que seguir em frente era o que eu deveria fazer.
E os dias passaram. Rápidos. Como sempre.
- Pai?! Elise?! – ouvi Rose gritar da cozinha.
Não sei quem chegou primeiro, mas sei que nunca corri tão rápido na minha vida ao ouvir seu grito em angústia.
- O quê? O que houve? – meu pai apareceu do outro lado da cozinha com seus olhos extremamente abertos.
- Ela está em trabalho de parto, pai! – retruquei, correndo em direção a Rose que já se encontrava no chão. – Ligue o carro e pegue as coisas dela e do bebê!
Meu pai apenas ouvia, muito nervoso e corria pela casa atrás das chaves.
Rose inspirava e expirava frequentemente. Ela dava alguns sorrisos de canto ao perceber nosso desespero.
- Vai dar tudo certo. – ela sussurrou.
Logo já nos encontrávamos em direção ao hospital. O caminho nunca pareceu tão longe como agora. Já era de noite quando Rose deu entrada no hospital. Ela não parecia muito bem. Suava frio e sua respiração estava irregular.
Meu pai preferiu ficar do lado de fora pois ele estava mais nervoso do que Rose. Eu não hesitei e entrei na sala para acompanhar os médicos e o parto.
- O que você é dela? – me perguntou uma enfermeira.
- Irmã.
Eu não conseguia tirar meus olhos de Rose. Eu não estava nervosa mas meu coração palpitava muito forte por ansiedade e medo. Não sei!
- Tudo bem. Fique um pouco afastada para dar espaço para os médicos, por favor.
Não havia reparado, mas eu estava tentando cruzar os médicos e praticamente eu mesma fazer aquele parto. Piquei algumas vezes e me afastei. A enfermeira se virou e começou o procedimento. Eles conversavam entre si e um deles também conversava com Rose, na intenção de deixá-la acordada já que sua pressão estava muito baixa. Aquilo me assustava.
Em poucos minutos, observei uma movimentação entre os médicos e Rose começara a fechar seus olhos.
- O que está havendo? – exalei, indo em direção a Rose. A mesma enfermeira me bloqueou.
- Por favor, senhorita Iver. Recomendo que se acalme ou espere lá fora.
- O QUE ESTÁ HAVENDO?!
Os batimentos cardíacos de Rose iam diminuindo e o barulho do aparelho irritavam minha audição.
A enfermeira se virou e assentiu para dois enfermeiros. Eles me seguraram pelos braços e me tiraram da sala a força.
- É melhor você ficar aqui. – disse um deles.
Meu pai se levantou e veio por trás de mim.
- Rose está bem? – ele perguntou, preocupado.
- Estamos fazendo o possível, senhor. – respondeu o outro.
- Como?! – perguntou meu pai, outra vez. Ele se virou para mim. – Elise, o que está acontecendo?!
- E-eu não sei! Rose começou a perder seus batimentos cardíacos e no mesmo instante me retirara de lá!
Uma médica apareceu no corredor e veio em nossa direção. Ela começou a conversar com nós e suas palavras nos acalmaram mais. Finalmente conseguimos nos sentar e respirar.
Logo pude ouvir os gritos de Rose de volta. Ela dizia algo, mas não conseguíamos ouvir. Disparei em direção ao quarto onde ela estava e abri a porta.
- Salvem o meu filho primeiro! Ele primeiro! – ele gritava, colocava para fora toda a força que havia lhe sobrado.
Um dos médicos em volta dela veio em minha direção.
- Rose está tendo delírios e sua pressão que está comprimindo a bolsa onde está o bebê e neste caso, optamos para a mãe.
- Para a mãe? O que você quer dizer?
- Entre a mãe e o filo, salvamos a mãe.
Eu não poderia perder Rose. Ela e meu pai era tudo o que eu tinha e sem um deles, não sei o que seria de mim.
Assenti com a cabeça, friamente.
Rose me olhou e decifrou minha expressão.
- Não! Elise! Não deixem que eles façam isso! – sua voz falhava. – O bebê primeiro!
Me permitiram minha aproximação. Rose estava pálida, sem cor e com os lábios roxos. Sua mão suava frio e seu cabelo já estava úmido.
- Não podemos perder você, Rose. – falei.
- Se você me quer fazer feliz, Elise, então por favor, faça-os salvar meu filho primeiro. – ela falava baixo, sua voz um tanto tremida.
- Eu não posso...
Saí do quarto e deixei que o destino escolhesse. Eu não podia mais ficar ali.
Passaram-se alguns minutos – longos – e logo o médico responsável saiu do quarto.
- Vocês são os parentes de Rose Iver? – perguntou, com a voz clínica.
- Sim. Como está Rose? – meu pai se levantou.
O médico inspirou e balançou sua cabeça, como um lamento.
- Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance... Eu sinto muito.
- Como?! – meu pai o olhava sem entender.
- Rose não resistiu, senhor Iver.
Aquele momento congelou entre nós. O tempo parou e tudo se desabou. Eu não conseguia sentir absolutamente nada. Meu pai se desmanchava em lágrimas enquanto o médico tentava, de alguma forma, confortá-lo.
Me aproximei.
- E quanto ao bebê? – perguntei, em quase um sussurro.
- Saudável. Ele sobreviveu.
Eu não podia acreditar. Rose morrera por seu filho. Minha face se paralisou e meus olhos mal se moviam.
- Onde está o bebê?
- No berçário. – disse o médico.
Eu estava tão furiosa por dentro. Incrivelmente, eu afeto pelo o bebê sumiu no ar e eu caminhava pelo corredor como se estivesse em uma missão. Eu queria vê-lo. Queria ver o rosto que havia tirado um dos meus bens mais preciosos. Queria conhecer este amor tão incondicional que vivia em Rose para fazê-la escolher a vida de um feto.
Encontrei o berçário e vi uma enfermeira colocando um bebê em seu berço. Inspirei. Observava através do vidro. A enfermeira lá dentro percebeu minha presença e abriu um sorriso. Abriu a porta e me chamou com seu dedo indicador.
- Você pode vê-lo agora se desejar.
Assenti com a cabeça e entrei no quarto, andando devagar até o berço.
Então eu o vi. Ele se mexia inquieto, envolvo por um macacão macio azul que eu havia dado de presente.
O bebê se mexia ainda inquieto e suas expressões eram serenas. Me inclinei um pouco para olhá-lo e no mesmo instante, ele abriu seus olhos e os direcionou para mim. Senti uma apunhalada em meu peito ao ver seus olhos. Azuis, como um cristal... Ele me olhava, como se já me conhecia, algo muito familiar entre nós.
flashback
- Você vai quebrar sua promessa comigo? Vai me deixar sozinha? – perguntei, em uma tentativa de chantagem. De ligar suas emoções de volta e fazê-lo fugir. Nem que fosse sozinho, eu só queria Michael bem.
- Eu sei o que te prometi. Eu sei. – sussurrou, me olhando nos olhos desta vez. – E não vou quebrar minha promessa. Estarei com você.
- Como?! – minha voz saiu tremida. – Eu quero poder vê-lo, senti-lo... Termos uma vida juntos, Michael!
Ele se aproximou e segurou meu rosto. Pude sentir sua respiração um pouco forte e suas mãos quentes. Ele não sentia medo.
- Vamos estar juntos. Teremos uma vida juntos, eu te prometo isso, Elise.
Ele... havia voltado. Para mim. Da maneira mais doce e certa. Era ele. Me olhando como da primeira vez. Assustado, mas familiar.
- Qual é o nome dele? – me perguntou a enfermeira, com a voz suave.
- Michael. – meus olhos fitavam os olhos azuis. – Seu nome é Michael.
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